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Wittwer F & Noro M. COMPÊNDIO DE PATOLOGIA CLÍNICA VETERINÁRIA. Versão em Revisão. Tradução Miller, I.

Material divulgado com fim didático da disciplina de Patologia Clínica Veterinária, UNIPAMPA, 2º semestre 2014.

2. HEMATOLOGIA CLÍNICA

2.1. INTRODUÇÃO
A hematologia é o ramo da ciência médica encarrega-
• Eritrócitos: 5.000.000 /µL
da do estudo dos elementos figurados (celulares) do
• Leucócitos: 10.000 /µL
sangue e seus precursores, assim como os transtornos
o Basófilos 50 /µL
estruturais e bioquímicos destes elementos, que po-
o Eosinófilos 500 /µL
dem conduzir a uma enfermidade.
o Neutrófilos 6.000 /µL
Como área da Patologia Clínica, a Hematologia aborda
o Monócitos 500 /µL
os conhecimentos necessários para o uso das análises
o Linfócitos 3.000 /µL
dos constituintes figurados, e da capacidade de he-
mostasia sanguínea na prática da clínica veterinária. • Plaquetas: 200.000 /µL
Ela está destinada a avaliar a condição fisiológica do
paciente e contribuir ao conhecimento das enfermi-
dades dos animais domésticos. Nos Anexo 7.3, Anexo 7.4 e Anexo 7.5 encontram-se
As análises hematológicas efetuam-se em amostras os valores de referência de variáveis hematológicos
biológicas provenientes de indivíduos em avaliação mais utilizados na prática da clínica veterinária.
clínica obtidas no exercício da medicina veterinária. O
hemograma é o exame de sangue mais solicitado na
2.1.2. Hemopoiese
rotina clínica devido a sua praticidade e relação custo
benefício. A hemopoiese é o processo contínuo ao longo de todo
vida do indivíduo onde são formadas as células que
2.1.1. Sangue constituem o sangue. Este processo que permite man-
ter o equilíbrio entre a produção das células e a sua
O sangue é um tecido constituído por uma matriz utilização ou destruição, de modo que em um animal
líquida, o plasma, no qual estão suspensos os consti- o número das células sanguíneas mantém-se relativa-
tuintes celulares e solutos orgânicos, como minerais, mente constante. A hematopoiese se divide em
1
enzimas, hormônios, etc. A principal função do sangue eritropoiese que é o processo de síntese de eritróci-
2
é transportar substâncias vitais para o organismo, tos; granulopoiese, que é o processo de síntese dos
3
como o oxigênio, nutrientes orgânicos e inorgânicos, granulócitos e linfopoiese que é o processo de síntese
hormônios, dióxido de carbono e resíduos metabólicos de linfócitos.
para excreção em outros órgãos. Nos mamíferos, a hemopoiese normalmente ocorre
O volume de sangue nos animais domésticos flutua extravascularmente na medula óssea. Entretanto,
entre 6 a 11% do peso corporal, sendo maior nos ani- durante o desenvolvimento fetal e neonatal outros
mais jovens. Em bovinos, ovinos, felinos, equinos de órgãos como o saco vitelínico, fígado e baço partici-
tração, é de 6-7%, em caninos de 8-9% e em equinos pam na hemopoiese. Nas aves e peixes a granulopoi-
de esporte é de 10-11%. Sendo assim, um vaca de 500 ese ocorre extravascular e intravascularmente. Em
kg possui entre 30 a 35 L de sangue com um conteúdo animais jovens, em fase de expansão do volume san-
celular (hematócrito) de 28 a 38%, diferente de um guíneo, a medula óssea de todos os ossos contribui
cavalo de salto de 400 kg que contém entre 40 a 44L com a hemopoiese. A maturidade e a diminuição da
de sangue com conteúdo celular de 38 a 50%. O plas- demanda de eritrócitos, esta função limita-se aos
ma representa 50 a 75% do sangue, sendo formado ossos planos e epífises de ossos longos (esterno, crâ-
principalmente por água (91%) na qual se encontram nio, ílio, costelas, extremidades do fêmur e do úmero)
em solução diversos substratos, tais como glicose, (Figura 0.13). Com o avanço da idade diminui a ativi-
proteínas e lipídios, minerais como o Ca, P, Mg, Na, K, dade hematopoiética, e a medula vermelha ativa é
Cu, Zn, enzimas, hormônios e vitaminas. substituída por tecido adiposo, constituindo a medula
amarela inativa, condição que pode ser revertida em
Os componentes celulares do sangue dos mamíferos situações de alta demanda por células sanguíneas. Nos
são os eritrócitos, leucócitos e trombócitos ou plaque- animais senis a medula amarela é substituída por
tas, que representam entre 25 a 50% do volume do tecido fibroso e responde lentamente a quadros anê-
sangue. Sua distribuição apresenta diferenças entre micos.
espécies, porém mantém como similaridade a predo-
minância dos eritrócitos, com uma relação de eritróci-
tos:leucócitos de 500:1 e de eritrócitos:plaquetas de
25:1; nos mamíferos estas últimas correspondem a
fragmentos celulares. Como exemplo, a distribuição
numérica das células sanguíneas de um equino é:

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guíneas alteradas ou envelhecidas, degrada a hemo-
globina a grupo HEM (Fe e bilirrubina livre ou não
conjugada) e globina, secreta macromoléculas como
fatores estimulante de colônia e complemento

As células sanguíneas tem uma origem em comum a


partir de uma célula pluripotencial (célula-tronco ou
stem cell pluripotencial), que se diferencia em uma
célula monopotencial originando as linhas celulares: as
Unidades formadoras de colônia (UFC) mielóide e
linfóide (Figura 0.14). Essas células, conhecidas como
blastos, são estimuladas por fatores específicos (fator
estimulados de colônia, FEC) originando os diferentes
Figura 0.13. Hematopoise durante o desenvolvimento
tipos celulares, mediante um processo de proliferação
uterino e após o nascimento.
e maturação. Assim a UFC mielóide originará mediante
1
diferenciação a UFC eritróide que se diferenciará em
2
Na hemopoiese participam diversos órgãos e tecidos: rubriblasto, originado os eritrócitos; UFC granulocítica
• Medula óssea: produz os eritrócitos, granulócitos, que se diferenciará em mieloblasto originando neutró-
3
monócitos, plaquetas e alguns linfócitos filos, eosinófilos, basófilos e monócitos; e UFC mega-
cariocítica, originará o megacariócito que dará origem
• Linfonodos e outros tecidos linfóides: produzem os as plaquetas. Por outro lado, a UFC linfóide originará
linfócitos T e B, e células plasmáticas mediante estí- os linfócitos.
mulo antigênico
2.1.2.1. Eritropoiese
• Baço: produz linfócitos e plasmócitos, faz parte da
maturação e armazenamento dos eritrócitos, destrói O processo de eritrogênese, que conduz à liberação de
plaquetas e eritrócitos alterados ou envelhecidos eritrócitos maduros na circulação sanguínea é conhe-
(hemocaterese), degrada a hemoglobina e armazena o cido como eritropoiese, a qual leva entre sete a oito
ferro (Fe). dias. Os eritrócitos são células encarregas de transpor-
tar o oxigênio dos pulmões ao tecidos, e o dióxido de
• Rim: produz a trombopoetina e a eritrogenina carbono dos tecidos aos pulmões.
(fator eritropoético renal), que junto ao fator hepático A eritropoiese é realizada na medula óssea a partir de
produz a eritropoietina (EPO) uma célula pluripotente conhecida como célula-
tronco, a qual é estimulada a proliferar e diferenciar-
• Fígado: produz o eritropoetinogênio (fator eritro- se na unidade formado de colônia eritróide (UFC-E)
poiético hepático) e armazena vitamina B12, ferro e pela interleucina 3 (IL-3) e pelo fator estimulador de
ácido fólico, produz fatores da coagulação, conjuga a colônia granulocítico-monocítico (FEC-GM) na presen-
bilirrubina livre excretando-a na bile, participa na ça da eritropoietina (EPO) (Figura 0.14). Esta diferen-
circulação enterro-hepática do urobilinogênio, produz ciação ocorre sobre influência local e por citocinas
a α-globulina da EPO produzidas por macrófagos e linfócitos T ativados. A
• Timo: é o órgão linfóide principal, responsável pela EPO é o fator de crescimento primário envolvido na
produção e diferenciação dos linfócitos T, imunologi- proliferação e diferenciação da UFC-E em rubriblasto,
camente competentes, envolvido na resposta celular e que é a primeira célula morfologicamente reconhecida
produção de linfocinas como célula eritróide. Posteriormente a ela, segue a
subdivisão e maturação na qual se formam o pró-
• Estômago: produz HCl que atua na liberação de Fe rubricito, rubricito, metarrubricito, reticulócito e fi-
das moléculas orgânicas facilitando sua absorção, e nalmente o eritrócito (Figura 0.15).
produz o fator intrínseco que facilita a absorção da
vitamina B12. As principais alterações morfológicas associadas ao
processo de maturação são a condensação e perda do
núcleo, a diminuição do tamanho da célula e mudança
• Mucosa intestinal: envolvida na absorção da vita-
na afinidade do citoplasma a corantes do tipo Roma-
mina B12 e do ácido fólico, além de controlar a absor-
novsky (basófilo = celeste; acidófilo = rosado). Nos
ção de Fe.
mamíferos os eritrócitos sofre uma enucleação duran-
te o processo de desenvolvimento, sendo o núcleo
• Sistema monócito/macrófago: também conhecido
fagocitado por macrófagos locais. Em peixes, aves,
como sistema monocítico-fagocitário ou sistema reti-
anfíbios e répteis os eritrócitos são nucleados.
culoendotelial (SRE), é o maior sistema fagocitário do
organismo, sendo encarregado da defesa celular em
quadros infecciosos bacterianos, destrói células san-

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A eritropoiese envolve um mínimo de quatro mitoses, como a de reticulócito, Por sua vez, este último pode
uma na fase de rubriblasto, outra na fase de pró- ser encontrado no sangue periférico em algumas es-
rubricito e duas na fase de rubricito basofílico. O ru- pécies domésticas, como em cães e gatos. Contudo,
bricito basofílico amadurece transformando-se em em condições de saúde não se observam no sangue
rubricito policromático, o qual se transformará em periférico de equinos, bovinos, pequenos ruminantes
metarrubricito. Ocasionalmente, o rubricito policro- e suínos. A etapa de proliferação, compreendida entre
mático pode se dividir. A perda do núcleo do metarru- a célula pluripotente até metarrubricito, leva aproxi-
bricito forma o reticulócito, que maduro forma o eri- madamente dois a três dias; a etapa de maturação
trócito (Figura 0.15). As células eritróides permane- leva aproximadamente cinco dias.
cem na medula óssea até a etapa final da maturação,

Figura 0.14. Hematopoiese em mamíferos.

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indicadores de regeneração
medular

Figura 0.15. Eritropoise nos mamíferos.

larmente; neste último caso, com aumento da hemo-


No sangue circulante somente são observados eritró-
globina livre no plasma.
citos maduros, de modo que a presença de eritrócitos
nucleados ou com restos nucleares (Howell Jolly), 2.1.3. Análises Hematológicas
reticulócitos (reticulocitose), eritrócitos grandes (ma-
As análises hematológicas permitem estudar as carac-
crocitose) e basofílicos (policromasia) indica resposta
terísticas e variações presentes em condições de saú-
medular frente a um estímulo hipóxico, como ocorre
de e doenças dos componentes celulares ou figurados
posteriormente a hemorragias e hemólise, em que
do sangue.
estas características permitem definir uma anemia
regenerativa. O tempo de resposta medular necessá- O hemograma é uma analise clínica que entrega in-
rio para observar eritrócitos imaturos circulantes é de formações sobre o número, morfologia e característi-
três dias. cas dos eritrócitos (eritrograma), dos leucócitos (leu-
cograma) e das plaquetas em uma amostra fresca de
A magnitude da eritropoiese é regulada pelo transpor-
sangue livre de coágulos. Constitui umas das análises
te tecidual de oxigênio. Quando diminuído se produz
laboratoriais mais frequentemente solicitada pelos
hipóxia renal que aumenta a eritropoiese estimulada
clínicos veterinários.
pela EPO. Os elementos necessários para a formação
dos eritrócitos são a globina, vitaminas B2, B6 B12 e os O sangue participa direta ou indiretamente em quase
minerais Fe, Cu e Co. A vida média dos eritrócitos varia todos os processos bioquímicos do corpo, de modo
de acordo a espécie (70 dias nos felinos, 70-150 dias que suas alterações no estado de enfermidade ajudam
nos ovinos, 115 dias nos caninos, 140 dias nos equinos a detectar lesões existentes. A facilidade com que
e 160 dias nos bovinos). pode ser obtido faz de seu exame um elemento diag-
nóstico de rotina. Contudo, no sangue existe a predis-
Uma vez que o eritrócito cumpriu seu período normal
posição de promover um ambiente interno estável e
de vida é destruído extravascularmente mediante
muitas respostas são uniformes e não específicas, de
fagocitose no SRE. A hemoglobina é catabolizada,
modo que diferentes mudanças patológicas podem
recuperando-se o Fe e a globina, enquanto que a pro-
provocar a mesma resposta.
toporfirina é metabolizada a bilirrubina. Em situações
patológicas, como a hemólise, os eritrócitos são des- A seguir serão apresentados as análises laboratoriais
truídos tanto extravascularmente como intravascu- utilizadas o estudo dos eritrócitos, leucócitos e da
hemostasia sanguínea utilizadas na rotina clínica.

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2.2. ANÁLISES CLÍNICAS DOS ERITRÓCITOS 2.2.2.1. Contagem de eritrócitos
2.2.1. Características dos Eritrócitos Determina o número de eritrócitos por unidade de
Os eritrócitos de mamíferos (Figura 0.16, à esquerda) volume de sangue. A maioria dos animais tem entre
6
são células redondas, bicôncavas, sem núcleo, de 4 a 8 5,0 a 10,0 x 10 eritrócitos/µL.
µ de diâmetro, que possuem 60% de água 35% de O método mais utilizado para a contagem é a câmara
hemoglobina e 5% de matriz orgânica. Sua função de Neubauer, método que possui como limitação sua
principal é proteger, transportar e otimizar a ação das baixa precisão (CV ± 8%). Atualmente utilizam-se os
moléculas de hemoglobina. O eritrócito dos camelí- analisadores hematológicos, que realizam a contagem
deos como a alpaca, lhama e vicunha possuem forma- mediante impedância ou citometria defluxo, entre-
to elíptico, enquanto que os das aves, répteis e peixes gando maior precisão, rapidez e informação sobre a
(Figura 0.16, à direita) possuem também forma elíp- distribuição da população de eritrócitos segundo seu
tica e mantém o núcleo. tamanho.
Um aumento no número de eritrócitos sobre o limite
superior de referência é visto em casos de eritrocitose
absoluta ou relativa, e uma diminuição em casos de
anemia.

2.2.2.2. Hemoglobina (Hb)

Figura 0.16. Eritrócitos de mamíferos (izquierda) y de A Hb é formada por proteínas, sendo 96% globulinas e
aves (derecha). 1.000x 4% pelo grupo prostético de cor vermelha (HEM), que
por sua vez é formado por Fe e grupos porfirínicos. No
eritrograma se expressa a concentração de Hb presen-
2.2.2. Exames dos Eritrócitos para uso Clínico te na amostra de sangue, que na maioria dos mamífe-
ros é de 9,0 a 15,0 g/dL.
O eritrograma entrega informações de interesse clíni-
co sobre os eritrócitos circulantes de um animal. Para Existem diversas técnicas de determinação da hemo-
sua execução requer-se uma amostra de sangue de globina. A mais utilizada por sua rapidez, exatidão e
0,5 a 5 mL com anticoagulante (EDTA), realizando-se facilidade é a colorimetria. Para seu uso é necessário
as análises indicadas na Tabela 0.4. A determinação um fotocolorímetro ou espectrofotômetro e o rea-
da concentração plasmáticas de proteínas e fibrinogê- gente de Drabkin (cianometahemoglobina), que está
nio é incorporada rotineiramente como parte do eri- sendo substituído por reativos não contaminantes do
trograma, para a adequada interpretação dos valores ambiente.
eritrocitários em função do estado de hidratação do A concentração de Hb aumenta na eritrocitose e dimi-
paciente e presença de processos inflamatórios, res- nui nas anemias. Uma formação deficiente de hemo-
pectivamente; tendo a determinação do fibrinogênio globina pode ser observada em dietas carentes em Fe,
maior valor diagnóstico em grandes animais. baixa absorção de Fe, atividade alterada por substân-
cias tóxicas (metais), toxemias, neoplasias, nefrites e
Tabela 0.4. Análises que compõem o eritrograma. alterações da formação da EPO.
Análise Resultado
Contagem de eritrócitos Nº x µL 2.2.2.3. Hematócrito (Ht) ou volume globular aglome-
Hemoglobina (Hb) g/dL rado (VGA)
Hematócrito ou VGA %
Índices de Wintrobe: Corresponde ao volume porcentual ocupado pelos
VCM fL eritrócitos no sangue. Nos mamíferos flutua entre 0,28
CHCM g/L a 0,50 (28 a 50%), valor que depende diretamente do
IA % número de eritrócitos e de seu tamanho.
Morfologia ao esfregaço Ausente, N
(mudanças de distribuição, Presente: Determina-se mediante a técnica do micro-
forma, cor, tamanho, outros) Escasso, +
hematócrito, centrifugando durante cinco minutos a
Moderado, ++
Abundante, +++ 12.000 x g um volume de sangue com anticoagulante
Proteínas plasmáticas g/dL depositado em um tubo capilar, com o objetivo de
separar o sangue em três capas (Figura 0.17).

• Hematócrito (Ht): constituído pela massa de eri-


trócitos no fundo do tubo

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• Capa flogística: uma capa branca acinzentada de • Plasma sanguíneo: sobre as anteriores, incolor a
leucócitos e plaquetas sobre a massa de eritrócitos amarelado tênue em caninos e felinos, e amarelado
nos herbívoros.

Figura 0.17. Tubo de micro-hematócrito e leitor de hematócrito com tubo de micro-hematócrito (Ht=40%).

O hematócrito aumenta em caso de eritrocitose, e 2.2.2.4. Índices eritrocitários de Wintrobe


diminui nas anemias, constituindo a prova isolada Correspondem aos valores obtidos mediante cálculos
mais útil e rotineiramente usada na hematologia, pela matemáticos utilizando-se os resultados da contagem
informação que entrega, e pela sua facilidade, custo, de eritrócitos, hemoglobina e o hematócrito. Os índi-
precisão e exatidão. Complementarmente, o hemató- ces de maior uso na clínica são o VCM e o CHCM, que
crito entrega informações referentes à cor do plasma. permitem deduzir as características para a classifica-
O plasma normal é límpido e incolor em caninos e ção das anemias.
felinos; em bovinos e equinos em pastoreio é de cor
amarelada devido a ingestão de carotenos e xantofilas • Volume Corpuscular Médio (VCM)
do pasto. Ocasionalmente carnívoros que ingiram
Corresponde ao volume médio das hemácias, sendo
legumes com carotenos podem apresentar plasma
uma forma de conhecer o tamanho dos eritrócitos. A
amarelado. Pode-se observar:
unidade em que se expressa é o femtolitro, que cor-
3 -15
responde a 1 micra cúbica (1 fL = 1µ = 10 L); sendo
• Plasma ictérico: de cor amarelado esverdeado e
pequeno nos ovinos (20 fL) e grandes nos cães (70 fL).
límpido, visto em quadros hemolíticos e em transtor-
nos hepáticos crônicos;  ó  
Matematicamente,    10.
º    ó  

• Plasma avermelhado ou hemoglobinêmico: aver-


melhado e límpido, visto em casos de hemólise intra- Exemplo: Se o hematócrito é igual a 35% e o número
vascular (in vivo) ou em hemólise in vitro. Também 6
de eritrócitos é de 6,0 x10 /µL, então  
pode ser observado quando o sangue apresenta lep- 
 10  58 .
tócitos, que são mais leves e ficam suspensos no ,
plasma. O VCM indica se os eritrócitos são de tamanho normal
(normocíticos), grandes (macrocíticos) ou pequenos
• Plasma lipêmico: branco leitoso e turvo, visto na (microcíticos).
lipemia pós-prandial ou patológica secundária a diabe-
tes, hipotireoidismo ou pancreatite aguda.
• Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média
Além disso, o hematócrito permite estimar o número (CHCM)
de leucócitos considerando a espessura da capa flogís-
tica (1% ± 8.000 leucócitos/µL). Com o plasma tam- Indica a concentração de hemoglobina presente nos
bém se pode determinar as concentrações de proteí- eritrócitos, ou expressa de outra forma, a massa de
nas e fibrinogênio mediante refratometria. No exame eritrócitos que corresponde a hemoglobina. Seu valor
microscópico (250x) do micro-hematócrito pode ser nos mamíferos é de 30,0 a 36,0 g/dL.
observado a presença de microfilarias e tripanossomas "#$%
Matematicamente, !   10.
sobre a capa flogística.  ó  

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Exemplo: se a hemoglobina é igual a 12,0 g/dL e o senta a variedade de tamanho dos eritrócitos, sendo
&',
hematócrito é de 35%, então !   10  estabelecida por um analisador hematológico a partir

34,0 */, do VCM e seu desvio padrão. Seu valor em caninos é
de 12 a 14,2%.
O CHCM indica se os eritrócitos possuem uma quanti- /0  123
dade normal de Hb (normocrômicos) ou se a hemo- Matematicamente, -.   100
123
globina eritrocitária esta diminuída (hipocrômicos).
Fisiologicamente não existe um aumento do CHCM.
Assim que um CHCM sobre o limite superior de refe- 2.2.2.5. Características morfológicas dos eritrócitos
rencia indica um erro de análise Entretanto deve ser
considerado que em quadros de hemólise intravascu- Os eritrócitos são examinados ao microscópio (1.000
lar aguda a hemoglobina livre no plasma pode ocasio- x) a partir de um esfregaço sanguíneo corado com
nar valores de CHCM elevados. corante tipo Romanoxsky (Giemsa, Wrigth, Rapid-Diff,
outros), observando suas características de distribui-
ção e morfologia, que são reportadas indicando sua
• Índice de Anisocitose (IA ou RDW) presença e quantidade (+ escassos, ++ regular, +++
abundante) (Tabela 0.5).
Indica a distribuição da população de eritrócitos de
uma amostra de acordo com seu tamanho, entregan-
do um valor objetivo do grau de anisocitose. Repre-

Tabela 0.5. Características dos eritrócitos em condições de saúde normal e alterada.


Característica Normalidade Alteração
Distribuição ao azar Aglutinação, em Rouleaux (normal em equinos)
Cor Laranja Policromasia, hipocromasia,
Tamanho 6 –7 µ diâmetro Macrocitose, microcitose, anisocitose intensas
Forma redonda Poiquilócito, leptócito, esferócito, equinócito (crenado)
Estruturas anormais ausente Presença de núcleo, restos nucleares (Howell-Jolly)
Hemoparasitas, inclusões (viral)

O esfregaço sanguíneo é realizado em lâmina ou la- • Tamanho:


mínula. Para a primeira coloca-se uma gota de sangue Anisocitose: eritrócitos de diferentes tamanhos. Indica
homogeneizado próxima a uma das extremidades gravidade das anemias, quanto mais severa a anemia
lâmina limpa e desengordurada. Um extensor, ou maior é a magnitude da anisocitose.
outra lâmina, é colocado antes da gota, em um ângulo
de 60º, aproximando-se da gota até que o sangue Macrocitose: predominância de eritrócitos grandes,
adira e se distribua por sua largura, imediatamente se normalmente jovens (como reticulócitos), também
movimenta suave e uniformemente para obter-se observada no hipertireoidismo, carência de fatores de
uma extensão que termina próxima ao outro extremo multiplicação (vitamina B12[Co], ácido fólico).
da lâmina formando uma cauda parelha, que é a parte
usada para a observação ao microscópio (Figura 0.18). Microcitose: predominância de eritrócitos pequenos.
Ocorre com frequência em anemias ferropênicos;
fisiológica em animais geriátricos e da raça Akita.

• Policromasia: eritrócitos com coloração basofílica.


Indica presença de eritrócitos imaduros, frequente-
mente observada em respostas regenerativas à he-
morragia ou hemólise.

• Ponteado basofílico: eritrócitos com grânulos baso-


fílicos de ácido ribonucleico no citoplasma (RNA resi-
dual). São vistos de forma intensa na intoxicação por
chumbo.

• Corpos de Howell-Jolly (HJ): eritrócitos com restos


Figura 0.18. Esquema de confecção de um esfregaço
nucleares puntiformes, compatível com uma resposta
em lâmina.
medular as anemias, ou por reduzida função esplêni-
ca, assim como por uso de glicocorticoides.
Algumas alterações morfológicas que são observadas:

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• Eritrócitos nucleados: eritrócitos em fase de matu- Brassicas. Sua observação é facilitada com corantes
ração em que persiste o núcleo (metarrubricito). Esta supra vitais como o novo azul de metileno. Nos gatos
característica indica a presença de eritrócitos com encontram-se habitualmente como corpos refráteis
diferentes graus de maturação no sangue circulante, (até 50%), sendo mais comum na intoxicação por ace-
observadas nas anemias regenerativas, doenças mi- toaminofeno. Podem ser observados em animais es-
eloproliferativas ou hemagiossarcomas. plenectomizados e em terapia com glicocorticoides.

• Rouleaux: eritrócitos empilhados como em uma • Aglutinação: quando é espontânea indica doenças
pilha de moedas, por aglomeração eritrocitária rever- autoimunes ou transfusões incompatíveis.
sível. Ocorre devido à carga elétrica dos eritrócitos
que se atraem. É normal em equinos, porém nas ou- • Hemoparasitas: presença de hemoprotozoários
tras espécies domésticas esta associada a uma alta nos eritrócitos. Podem localizar-se dentro ou na
velocidade de hemossedimentação, observada em membrana dos eritrócitos. Entre os mais frequentes
processos inflamatórios. Deve ser diferenciada da estão o Haemobartonella felis, H. canis, Anaplasma
aglutinação por reações entre antígenos e anticorpos, marginale, Babesia equi, B. caballi, B. bovis,
a qual é irreversível. Em equinos com anemia severa Eperythrozoon felis, E. suis e Cytauxzoon felis.
ou com desnutrição crônica pode estar ausente.
2.2.2.6. Proteínas plasmáticas
• Poiquilocitose (pecilocitose): aberrações na morfo-
logia por alterações na eritrogênese. A determinação da concentração das proteínas plas-
máticas (albuminas + globulinas) é realizada facilmen-
o Eliptócitos (leptócitos): eritrócitos alongados te colocando-se em um refratômetro uma gota de
e delgados observados como “alvo”, indicando alte- plasma obtida ao quebrar-se a parte superior do tubo
ração crônica na eritrogênese. São mais leves que os de micro-hematócrito. Seu valor é associado ao grau
eritrócitos, de modo que se localizam sobre a massa de hidratação do paciente e deve ser interpretado
eritrocitária e tendem a deixar uma coloração aver- junto com os valores de hemoglobina e hematócrito. A
melhada no plasma. interpretação em conjunto desses analitos está apre-
o Esferócitos: eritrócitos de forma esférica (glo- sentada na Tabela 0.6.
bosa) de cor intensa, presentes em anemias autoi-
munes. Tabela 0.6. Interpretação clínica do hematócrito (Ht)
o Codócitos: são células em alvo, com sua área associado a concentração de proteínas plasmáticas
central corada intensamente pela condensação da (PPT).
hemoglobina, circundada por um anel claro e um Ht PPT Interpretação
anel periférico também corado. Alteração adquirida ⇑ ⇑ Desidratação
pelo aumento da superfície de membrana, resultado
do acumulo de colesterol e fosfolipídeos.W E obser- ⇑ N Eritrocitose absoluta, contração esplênica
(especialmente em equinos excitados)
vada em anemia ferropênica, doenças hepáticas
⇓ ⇑ Infecção crônica, enfermidade linfoprolifera-
obstrutivas e após esplenectomia. tiva
⇓ ⇓ Proteinúria, hepatopatia crônica, hemorragia
• Equinócitos (eritrócito crenado): são eritrócitos digestiva, hidratação excessiva
observados ao esfregaço com suas bordas dentadas N ⇓ Hipoproteinemia
pela crenação. Correspondem a uma alteração morfo- N= normal, ⇓= diminuído, ⇑= aumentado
lógica in vitro, não havendo alteração nos eritrócitos
circulantes. São encontrados quando os eritrócitos são
expostos na amostra de sangue a soluções hipertôni- Outras análises clínicas realizadas de maneira ocasio-
cas (excesso de anticoagulante) ou em amostras enve- nal para estabelecer características dos eritrócitos são
lhecidas. a contagem de reticulócitos e a velocidade de sedi-
mentação (hemossedimentação).
• Esquistócitos: são eritrócitos deformados ou frag-
2.2.2.7. Contagem de reticulócitos
mentos, observados em quadros de defeito na produ-
ção eritróide, ou destruição acelerada, como na vascu-
Os reticulócitos são eritrócitos imaturos que possuem
lite, coagulação intravascular disseminada, doenças
um lapso de vida no sangue circulante de 24 a 48 ho-
renais ou esplênicas crônicas e também nas anemias
ras, antes de terminar a sua maturação. A contagem
ferroprivas.
de reticulócitos no sangue reflete a liberação medular
recente das células eritróides; por este motivo que a
• Corpos de Heinz: inclusões redondas na membrana
sua quantificação constitui o melhor indicador da
interna dos eritrócitos por desnaturação da hemoglo-
resposta regenerativa eritróide por parte da medula
bina por agentes que condicionam a uma dano oxida-
óssea.
tivo, como os fenotiazínicos ou o consumo elevado de

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A contagem de reticulócitos é realizada incubando trar-se uma baixa porcentagem, de modo que deve
uma gota de sangue com um corante supra vital (azul ser calculada sua porcentagem de reticulócitos corri-
de cresil brilhante ou novo azul de metileno), para em gida pelo hematócrito (PRC) (PRC=
seguida realizar um esfregaço e lâmina. A lâmina co- > ó    ? % 
% 56789:;ó987<=  ). Nos caninos
> ó   é  AB
corada ou não com um corante tipo Romanowsky
considera-se normal um PRC <1,5%, enquanto que
deve ser examinada ao microscópio (1.000 x) para
valores de 2 a 4% indicam resposta medular leve; 5 a
estabelecer a porcentagem de reticulócitos em 100
20% uma resposta moderada, e > 50% uma resposta
eritrócitos. Os reticulócitos são diferenciados dos
intensa. Gatos uma resposta leve é de 0,5 a 2% e
eritrócitos maduros, porque o corante supravital cora
moderada de 3 a 4 %.
seus ribossomos, mitocôndrias e outras organelas com
Exemplo: um cão com hematócrito de 26%, com 3,3
tons azulados, constituindo os reticulócitos agregados 6
x10 /µL de eritrócitos e 20% de reticulócitos, sua PRC
ou dispersos. Nos ruminantes e equinos com adequa-
é de 11,8% [(20 x 26)/44], considerada intensa.
da resposta medular não se observam reticulócitos,
enquanto que nos caninos e felinos é normal encon-

Figura 0.19. A. Corpúsculos Howell-Jolly; B. Macrocitose; C. Eritrócitos nucleados (metarubricitos); D. Rouleaux; E.


Reticulócitos (corante supra vital: azul de cresil brilhante); F. Esquistóitos.

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Figura 0.20. A. Hemobartonella felis; B. Corpos de Heinz; C. Puntillado basofílico; D. codócitos; E. Haemoproteus em
sangue de uma coruja; F. Plasmodium relictum no sangue de um pinguim.

2.2.2.8. Velocidade de sedimentação (VS) de 10 minutos é possível se observar a sedimentação


dos eritrócitos no fundo do tubo da amostra.
Mede a distância percorrida pelos eritrócitos em uma A velocidade de sedimentação aumenta em quadros
unidade de tempo ao se deixar sedimentar uma amos- de infecção aguda generalizada, inflamações com
tra de sangue colocada em um tubo em posição verti- destruição tissular, nas afecções supurativas, nas neo-
cal. A VS depende da tendência de aglomeração dos plasias e na gestação. A VS pode estar diminuída
eritrócitos, a qual varia entre espécie. Nos caninos a quando há um aumento dos eritrócitos imaturos (reti-
VS normal em uma hora é de 5-25 mm; nos ruminan- culócitos) circulantes, que descem lentamente para
tes a VS é muito lenta ou quase nula; e pelo contrário, formar uma sedimentação bifásica, fenômeno que
a VS dos equinos é muito rápida sendo que em menos ocorre nas anemias.

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2.2.3. Interpretação Clínica do Eritrograma
Plasma
2.2.3.1. Eritrocitose

Hematócrito (%)
Eritrócitos

Também denominada policitemia ou poliglobulia,


corresponde ao aumento patológico dos eritrócitos no
sangue circulante. No eritrograma vê-se um aumento
sobre o intervalo de referência do número de eritróci-
tos, da hemoglobina e do hematócrito. 40 40 40 55
25
A eritrocitose pode ser relativa ou absoluta. Normal Anemia Anemia Eritrocitose Eritrocitose
relativa absoluta relativa absoluta

Eritrocitose relativa: é produzida por hemoconcentra-


ção, ou seja, quando o aumento do volume de eritró- Figura 0.21. Variação da quantidade de eritrócitos e
citos deve-se a uma diminuição do volume de plasma de plasma em quadros de anemias eritrocitose.
como consequência da perda de água por desidrata-
ção. Também ocorre em situações de choque, contra-
ção esplênica (equinos) ou endotoxemia, sendo esta a Tabela 0.7. Classificação da eritrocitose, em base a
forma mais comum de eritrocitose, já que é vista em pressão de oxigênio (PO2), concentração de
todas as enfermidades que cursam com desidratação. eritropoietina (EPO), proteínas plasmáticas (PPT) e de
resposta a fluidoterapia.
Eritrocitose absoluta: é observada pelo aumento do PO2 Resposta a
Eritrocitose EPO PPT
arterial fluidoterapia
volume de eritrócitos consequente ao aumento da
eritropoiese, com uma massa de eritrócitos superior a Relativa Normal Normal ⇑ Sim
normal para a espécie. Pode ser fisiológica ou patoló-
Absoluta
gica:
Primária Normal ⇓ Normal Não
• Fisiológica: ocorre em consequência da hipóxia
Secundária
tecidual em indivíduos que vivem em alturas com
baixa tensão de oxigênio. É uma resposta medular Hipóxia ⇓ ⇑ Normal Não
adequada para suprir o déficit de oxigenação.
Prod.
Normal ⇑ Normal Não
EPO
• Patológica pode ser primária ou secundária:
o Primária: conhecida como policitemia vera, a
qual corresponde a um transtorno mieloprolifera- 2.2.3.2. Anemia
tivo idiopático de tipo neoplásico, com estímulo
persistente e descontrolado da eritropoiese carac- É uma diminuição patológica da quantidade de eritró-
terizada por uma excessiva proliferação de ele- citos circulante. Também é definida como a diminui-
mentos eritróides, mielóides e magacariocíticos. ção do hematócrito ou da concentração de hemoglo-
Neste tipo de eritrocitose a resposta medular é bina abaixo dos limites de referência. Raramente é
inadequada, visto que a PO2 esta normal. uma afecção primária, sendo em geral uma conse-
quência de uma doença generalizada. Pode ser abso-
o Secundária: ocorre associada a um aumento luta (verdadeira) ou relativa. Está última é vista em
da EPO que estimula a eritropoiese. Pode ser de fêmeas gestantes, animais em expansão do volume
resposta adequada ou inadequada: plasmático (neonatos) ou por fluidoterapia.

 Resposta adequada: observada em doenças que A anemia verdadeira é classificada etiologicamente


reduzem a PO2, como problemas respiratórios como hemorrágica, hemolítica ou displástica.
obstrutivos, defeitos cardíacos congênitos (cone-
xões arteriovenosas, tetralogia de Fallot) e hiper- Anemia hemorrágica: ocorre por perda de sangue
tiroidismo, os quais levam a um aumento na pro- (plasma e eritrócitos) do leito vascular a uma cavidade
dução de eritropoietina. ou tecido (hemorragia interna), ou ao meio externo
(hemorragia externa). Pode ser aguda ou crônica, de
 Resposta inadequada: observada em alguns tu- acordo com a velocidade e intensidade da perda de
mores hepáticos ou renais que aumentam a pro- sangue. As hemorragias agudas ocorrem em perdas
dução de EPO. Neste tipo de eritrocitose a PO2 rápidas de sangue, comuns em todas as espécies,
esta normal. posteriormente a traumatismos, intoxicação por ro-
denticidas, pós-cirurgias ou em coagulopatias. As he-
morragias externas são imediatamente evidenciadas,

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diferentemente das internas para cavidades que pas- da piruvato quinase ou fosfofrutoquinase, e venenos
sam despercebidas, como na ruptura espontânea da ofídicos.
artéria uterina média, ruptura esplênica resultante de
trauma ou erosão de um vaso principal por abscesso, Anemia displástica: pode ser hipoprolifetativa ou hi-
aneurisma ou neoplasia. Por outro lado, as hemorragi- perproliferativa.
as crônicas, que habitualmente passam despercebidas • Hipoproliferativa: produzida por uma eritropoiese
até a presença dos sinais clínicos de anemia, estão reduzida por dano na medula óssea. Ocorrem por
relacionadas com perdas crônicas de sangue associa- alterações orgânicas (doença renal crônica [↓
das a hemorragias por lesões gastrointestinais (neo- DEF], nefrite, hipotireoidismo, hepatopatias), ca-
plasias, úlceras, parasitismo), algumas doenças renais rências nutricionais (proteínas, niacina, vitaminas
(hematúrias), disfunções hemostáticas (angiopatias, A, E, B12, B1, ácido ascórbico, ácido fólico, piridoxi-
trombopatias, coagulopatias), ectoparasitas hemató- na), doenças infecciosas ou não infecciosas crôni-
fagos (carrapatos, pulgas) e neoplasias com hemorra- cas (processos supurativos crônicos, ex.: tubercu-
gias cavitárias (hemangiosarcomas). A hemorragia lose, parasitismo por estrogilose, ostertagiose, tri-
gastrointestinal geralmente é causada por parasitis- coestrngilose em terneiros e ovelhas, Ehrlichia sp e
mo, neoplasmas (carcinoma de células escamosas vírus da leucemia felina), dano citotóxico da medu-
gástricas em equinos e linfossarcoma de abomaso em la óssea por agentes físicos (radiações), agentes
bovinos), ulceração de mucosa (úlceras de abomaso químicos (metais como arsênio, antibióticos como
em bovinos e toxicidade por anti-inflamatórios não cloranfenicol, trimetroprim-sulfadiazina, intoxica-
esteroides, AINES, em equinos). Todas as espécies çao por Pteridium aquilinum (samambaia) e anti-
cursam com hemorragia na trombocitopenia induzida inflamatórios como fenilbutazona, uso de drogas
por fármacos ou toxinas que induzem depressão na citotóxicas, estrógenos, neoplasias e mielopatias
medula óssea ou destruição prematura das plaquetas (leucemia mielóide, leucemia linfóide, mieloma
circulantes. As manifestações clínicas e de laboratório múltiplo, linfoma metastático e mastocitoma).
são distintas entre hemorragias agudas e crônicas
porque ocorre uma adaptação fisiológica no estado • Hiperproliferativa: associada a uma eritropoiese
crônico. ineficaz (maior produção de eritrócitos de reduzida
vida média por uma alteração na síntese de hemo-
Anemia hemolítica: pode ser intravascular ou extra- globina). Ocorre por uma carência de ferro, cobre,
vascular. cobalto, vitamina B12 e folato. A deficiência de co-
• Intravascular: ocorre pela destruição acelerada de bre e cobalto produzem anemia clínica em rumi-
eritrócitos acontece dentro dos vasos sanguíneos nantes; a carência de ferro produz animais em por-
(leptospirose, C. hemoliticum, babesiose, intoxica- cos, terneiros jovens e cavalos de corrida.
ção por cobre, consumo de brassicas, outros)
Classificação Morfológica das Anemias
• Extravascular: ocorre quando a hemólise acontece
O eritrograma permite classificar as anemias em base
no SRE (hemoparasitas, imuno-mediada)
ao VCM (macro, normo ou microcítica) e ao CHCM
(normo ou hipocrômica) (Tabela 0.8). Normalmente as
Em ruminantes, as causas mais comuns de anemias
anemias normocíticas são observadas durante uma
hemolíticas são a babesiose, anaplasmose, hemoglo-
maturação medular eritróide adequada; as anemias
binúria bacilar, leptospirose (L. interrogans serovar
macrocíticas são observadas em animais jovens ou
Pomona), hemoglobinúria pós-parto, consumo de
com maturação defeituosa; e as anemias microcíticas
brassicas, intoxicação por cebolas, alhos, produtos
são observadas em mitose aumentada durante a ma-
como fenotiazinas, guaiafenosina, intoxicação crônica
turação eritróide. Por outro lado, as anemias normo-
por cobre, isoelitrólise em terneiros, tratamento com
crômicas são observadas durante uma síntese de he-
oxitetraciclina de ação prolongada e intoxicação por
moglobina adequada, e as hipocrômicas quando a
água nos terneiros. Em equinos, observa-se a anemia
síntese de hemoglobina é incompleta, em animais
hemolítica na anemia infecciosa equina, babesiose,
jovens ou síntese defeituosa.
intoxicação por fenotiazina, isoeritrólise em potros,
anemia hemolítica autoimune, síndrome de Evans As características morfológicas observadas no esfrega-
(anemia hemolítica e trombocitopenia mediadas imu- ço sanguíneo permitem determinar se a resposta
nomediadas), anemia hemolítica induzida por penicili- medular frente a uma anemia é regenerativa ou dege-
nas, trimetropin-sulfametazol e por venenos ofídicos. nerativa (arregenerativa), e outras que ajudam a iden-
Em pequenos animais por Mycoplasmas (Haemobar- tificar sua causa. Deve-se considerar que essa classifi-
tonella, Eperythrozoon), Ehrlichia sp. Clostridium sp, cação não define a causa de uma anemia, mas é útil
Cytauxzon felis, fármacos e químicos oxidantes como para inferir sua origem, mecanismo fisiopatológico e
fenotiazina, acetominofeno, azul de metileno, vitami- tratamento.
na K, intoxicação por cobre, chumbo e zinco, lúpus
eritrematoso, alterações eritrocitárias por deficiência

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A anemia macrocítica normocrômica (VCM ↑; CHCM hemorrágicas observam-se sinais de regeneração, que
normal) é causada pela assincronia da eritropoiese na não são observados nas anemias displásticas.
etapa de maturação do pró-rubricito, produzindo
eritrócitos megaloblásticos na medula óssea. É vista O eritrograma das anemias regenerativas apresenta
em bovinos com deficiência de vitamina B12, por ca- indicadores de regeneração – ou resposta medular –
rência de cobre, ou pastoreio em pastagens com alto como anisocitose, policromasia e reticulocitose em
conteúdo de molibdênio. Os cães da raça Poodle pos- intensidades moderada a intensa. Em pequenos ani-
suem eritrócitos macrocíticos e normocrômicos, sem mais podem ser encontrados metarrubricitos e Ho-
apresentar anemia. well-Jolly. São necessários dois ou três dias para que
uma resposta regenerativa seja evidente no sangue
A anemia macrocítica hipocrômica (VCM ↑; CHCM ↓) circulante.
é observada durante a etapa de estabilização em he-
morragia ou hemólise agudas. O grau de macrocitose As anemias não regenerativas são normocíticas e
e hipocromia depende da severidade da anemia asso- normocrômicas, com ausência de sinais de regenera-
ciada com a magnitude da resposta medular, culmi- ção como policromasia ou reticulocitose. São causadas
nando em reticulocitose. por alterações na medula óssea ou pela ausência de
elementos necessários para a produção dos eritróci-
A anemia normocítica normocrômica (VCM e CHCM tos. Normalmente são resultantes de um quadro de
normais) é produzida pela diminuição da eritropoiese curso crônico, de inicio lento e acompanhada de neu-
nas enfermidades crônicas, como infecções, doença tropenia e trombocitopenia. Podem ser causadas por
renal crônica, transtornos endócrinos e certas doenças eritropoiese reduzida na ausência de eritropoietina
malignas. Nestes casos, a resposta de reticulócitos é (hipoproliferativa). Por exemplo, na insuficiência renal
ausente ou baixa. crônica, doenças endócrinas (hipoadrenocorticismo,
hipoandrogenismo, hiperestrogenismo), na inflamação
A anemia microcítica hipocrômica (VCM ↓; CHCM ↓) crônica, toxicidade medular (radiação, produtos quí-
é resultante da carência de ferro na síntese da hemo- micos, intoxicação por Pteridium aquilinum, infecções
globina. Na anemia microcítica a divisão celular é por vírus e rickettsias como Ehrlichia canis).
normal, mas a síntese de hemoglobina é lenta por
alterações na síntese do grupo heme, produzindo-se Entre as espécies domésticas existem particularidades
uma ou mais divisões adicionais. É vista em doenças que devem ser conhecidas para a correta interpreta-
inflamatórias onde os medidores da inflamação dimi- ção dos resultados hematológicos. Dentro delas, os
nuem o Fe sérico, nas carências de piridoxina e cobre equinos apresentam um hematócrito instável associa-
que conduz a uma deficiência funcional de Fe devido a do a um baço grande e altamente inervado, que pode
menor mobilização de suas reversas, e pela toxicidade conter até 1/3 dos eritrócitos circulantes. Durante o
de agentes que bloqueiam a síntese de heme, como estímulo adrenérgico (normalmente observado pós-
drogas (cloranfenicol) ou químicos (chumbo). exercício, excitação ou perda sanguínea) o baço se
contrai e libera sua reserva de eritrócitos na circulação
Tabela 0.8. Classificação morfológica das anemias. periférica, aumentando em até 50% o hematócrito.
Normocítica Normocrômica Inicio de todas as anemias (hemor- Além disso, a resposta do baço à hemorragia severa
ragia ou hemólise aguda inicial < 3 impossibilita durante as primeiras 24 horas o uso do
dias)
Anemias displásticas não regenera-
hematócrito como um estimador da perda sanguínea.
tivas em processo inflamatório e Por outro lado, os sinais de regeneração eritrocitária
neoplásico crônico, alteração endó- na circulação periférica são escassos nesta espécie, já
crina que são retidos na medula óssea até que sua matura-
Microcítica Normocrômica Carência inicial de Fe e hepatopatias
ção se complete, sendo necessário o uso da citologia
de medula óssea para determinar a presença e grau
Hipocrômica Carência de Fe por perda crônica de
sangue de resposta medular a quadros anêmicos. Deste mo-
Macrocítica Normocrômica Anemias displástica nao regenerati-
do, os eritrócitos macrocíticos podem ser vistos du-
va por carência de Co, ácido fólico, rante a “anemia regenerativa” nesta espécie, porém
vitamina B12, em gatos com FeLV na maioria do equinos a regeneração eritróide ocorre
Hipocrômica Fase regenerativa da anemia he- sem macrocitose. Outros sinais de regeneração como
morrágica e hemolítica aguda
os corpúsculos de Howell-Jolly são observados em
uma pequena quantidade no sangue dos equinos.
Além disso, sua presença não indica anemia regenera-
Classificação baseada na resposta da medula óssea
tiva como em outras espécies. Outra característica do
As anemias podem ser classificadas como regenerati-
sangue equino é a tendência acentuada a formação de
vas ou não regenerativas (degenerativa), consideran-
Rouleaux, que ao esfregaço sanguíneo é visto como
do-se a resposta eritropoéitica da medula óssea, evi-
pilhas de moedas, de modo que as células se separam
denciada no sangue periférico das espécies domésti-
rapidamente do plasma, associada a rápida taxa de
cas, exceto nos equinos. Nas anemias hemolíticas e

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sedimentação eritrocitária. Esta característica deve ser Tabela 0.9. Graus das anemias de acordo com o valor
diferenciada da auto-aglutinação, e considerada na do hematócrito.
interpretação das provas de compatibilidade em es- Hematócrito (%)
fregações. Grau de anemia* Caninos Felinos
Normal 37- 55% 24 - 45%
As principais características observáveis ao eritrogra-
Leve 30 – 36% 20 -24%
ma nos diferentes tipos de anemias são:
Moderada 18 – 29% 15- 19%
Intensa < 18% < 14%
• Anemia hemorrágica aguda: *A magnitude da anemia frequentemente esta correlacionada com a sua
patogenia, curso e evolução da mesma.
Hematócrito e hemoglobina normais nos primeiros
minutos devido a contração esplênica, em seguida
estes diminuem. Macrocítica, hipocrômica, regenera-
tiva. Aumento de neutrófilos e plaquetas. Proteínas 2.3. ANÁLISE CLÍNICA DOS LEUCÓCITOS
diminuídas (não nas primeiras horas). Sinais de rege- 2.3.1. Características dos Leucócitos
neração aos dois ou três dias. Retorna a normalidade Os leucócitos correspondem as diferentes células
em uma a duas semanas. brancas nucleadas do sangue, que incluem: os neutró-
filos, monócitos, eosinófilos, basófilos e linfócitos.
• Anemia hemorrágica crônica: Todos participam em mecanismos de defesa do orga-
Hematócrito e hemoglobina diminuídos. Microcítica, nismo, contudo são cinética, morfológica e funcional-
regenerativa, hipoproteinemia. Sinais de regeneração mente diferentes. Realizam suas funções participando
leves. nos mecanismos imunes específicos e inespecíficos,
onde ocorre uma estreita interação celular. Os neutró-
• Anemia hemolítica intravascular: filos e monócitos são células eminentemente fagocitá-
Macrocítica, normo ou hipercrômica, regenerativa. rias, cumprindo um papel importante no processo
Hematócrito e hemoglobina diminuídos. Hemoglobi- inflamatório; enquanto que os linfócitos atuam de
nemia e hemoglobinúria. Hiperbilirrubinemia e icterí- forma específica na resposta imune celular e humoral.
cia. Neutrofilia e regeneração. Proteínas normais. Assim como os eritrócitos, os leucócitos (exceto linfó-
Ocasionalmente o agente que provoca a hemólise citos) são produzidos na medula óssea a partir de uma
pode ser observado nos eritrócitos, como hemoparasi- célula pluripotencial, mediante estímulos apropriados
tas. de hormônios estimuladores da leucopoiese.

• Anemia hemolítica extravascular:


2.3.1.1. Classificação, quantidade e morfologia dos
Hematócrito e hemoglobina diminuídos. Normocítica,
leucócitos
normocrômica, não regenerativa. Eritrócitos com
Os leucócitos são classificados como polimorfonuclea-
morfologia alterada.
res ou mononucleares. Os neutrófilos, eosinófilos e
basófilos são denominados polimorfonucleares por
• Anemia displástica hipoproliferativa: possuírem núcleos condensados e segmentados entre
Normocítica. Não regenerativa.
dois ou quatro lóbulos. Também são denominados
granulócitos por apresentarem grânulos no citoplasma
• Anemia displásticas hiperproliferativa com diferentes afinidades a corantes do tipo Roma-
Hematócrito e hemoglobina diminuídos. Macro, nor- novsky (azul = basófilico, alaranjado = eosinofílico), o
mo ou microcítica. Sinais de regeneração. Alterações que permite a diferenciação. Nos mamíferos, os grâ-
morfológicas. Proteínas normais. nulos dos neutrófilos não são corados ou então apare-
cem levemente rosados, diferentes das aves, reptéis e
As características citadas não são absolutas, já que peixes (além de alguns mamíferos como os coelhos)
podem variar de acordo com a gravidade e duração do nas quais observam-se grânulos vermelhos, sendo
quadro. Deve-se ter em mente que a medula reage então denominados “heterófilos”. Os grânulos dos
ante uma hemorragia ou hemólise aumentando a eosinófilos coram-se com uma cor rosada por sua
produção de plaquetas, leucócitos e eritrócitos, que afinidade com a eosina, apresentando diferenças no
são liberados no sangue depois de 72 horas de produ- tamanho e quantidade de grânulos entre as espécies
zido o estímulo, muito destes ainda imaturos. E de (abundante e pequenos nos bovinos, numerosos e
modo inverso, quando há uma alteração medular, são grandes nos equinos, e escassos e de tamanhos varia-
produzidos poucos eritrócitos (anemia com leucope- dos nos caninos). Os grânulos dos basófilos coram-se
nia, e trombocitopenia) ou sua formação está altera- azul intenso. Os grânulos são lisossomas que contêm
da, liberando-se eritrócitos com alterações (leptocitos, enzimas hidrolíticas, agentes antibacterianos e outros
microcitos). compostos.

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Os mononucleares correspondem aos leucócitos com locítica-monocítica (UFC-GM), que logo após sua ati-
núcleo não segmentado, são os linfócitos (com núcleo vação por um fator estimulador de colônias diferencia-
redondo e escasso citoplasma celeste) e os monócitos se na linha monocítica ou neutrofilíca. Similarmente,
(que são identificados por seu maior tamanho e nú- existem progenitores celulares para eosinófilos (UFE) e
cleo arredondando ou pleomórfico, e com citoplasma basófilos (UFB). As células unipotentes seguem um
cinza) (Figura 0.22). Os monócitos devido sua origem e processo de proliferação, maturação e armazenamen-
função também podem ser considerados granulócitos, to na medula óssea, que no caso dos bovinos e cani-
junto com os neutrófilos. nos demora entre três a cinco dias (Figura 0.14).

Na cinética dos neutrófilos são reconhecidas cinco


fases ou compartimentos: de proliferação (ou mitóti-
ca), maturação, armazenamento, circulante e tecidual.
As três primeiras estão presentes na medula óssea, a
quarta nos vasos sanguíneos e a última nos tecidos
(Figura 0.23).

Compartimento de proliferação: constituída por célu-


las em divisão ativa, geralmente com quatro divisões
mitóticas (mieloblasto, promielócito e mielócito).

Compartimento de maturação: constituída por células


em sua fase de maturação citoplasmática e condensa-
ção nuclear (metamielócitos e bastões).
Figura 0.22. Leucócitos no esfregaço sanguíneo de um
canino (Giemsa, 800x). Compartimento de armazenamento: de quatro a oito
Bas= basófilo, Eos= eosinófilo; N= neutrófilo; B= Neutrófilo bastão;
dias no canino, composta por células maduras e alguns
L= linfócito; M=monócito. bastões capazes de cumprir a demanda tecidual. Du-
rante a liberação da medula óssea ao sangue, as célu-
O número de leucócitos circulante em um animal las maduras se liberam primeiro, de modo que somen-
sadio varia consideravelmente entre as espécies do- te frente uma demanda elevada aparecem no sangue
mésticas, sendo mais elevado nos suínos (16.000/µL) e circulante os neutrófilos imaturos (bastões: devido sua
mais baixo nos bovinos (6.500/µL). Ademais apresenta forma nuclear como ferradura do núcleo; e juvenis),
uma elevada variação entre indivíduos de uma mesma situação denominada desvio à esquerda. As células
espécie (ex.: bovinos de 5.000 a 9.500 /µL). Os neutró- deste compartimento podem ser rapidamente mobili-
filos e linfócitos predominam no sangue circulante, ± zadas pela demanda, e a depleção de suas reversas
90%, com uma relação neutrófilo:linfócito maior a 1 gera neutropenia e desvio à esquerda na medula ós-
nos caninos, felinos e equinos, e menor a 1 nos bovi- sea e sangue periférico. A expansão do compartimen-
nos, ovinos e suínos. Os monócitos e eosinófilos são to de proliferação com aumento da granulopoiese
encontrados em baixa quantidade e os basófilos rara- efetiva ocorre na resposta a demanda gerando neu-
mente são observados (Tabela 0.10). trofilia, isto demora três a quatro dias nos caninos e
um pouco mais nos bovinos.
Tabela 0.10. Número médio referencial de
leucócitos/µL e sua distribuição porcentual nos Compartimento circulante: corresponde a presença no
caninos, equinos e bovinos. sangue de neutrófilos maduros procedentes da medu-
la óssea para serem transportados aos diversos teci-
Canino Equino Bovino
Leucócitos (Nº/µL) 12.000 8.000 7.000
dos. Distingue-se em duas sub-fases ou sub-
Basófilos (%) 0,5 0,5 0,5 compartimentos:
Eosinófilos (%) 5 5 5
Neutrófilos (%) 65 45 30 • Periférico ou marginal: composto pelos neutrófi-
N bastões (%) 1 1 1 los aderidos transitoriamente ao endotélio de
Linfócitos (%) 24 44 60 capilares, vasos de diâmetro pequeno, baço e
Monócitos (%) 5 5 4 pulmões.

2.3.1.2. Cinética e funções dos leucócitos • Circulante: circulam no sangue.


A granulopoiese corresponde ao processo de forma-
ção dos granulócitos e monócitos, que se realiza na Ambos compartimentos mantêm em um equilíbrio
medula óssea a partir de uma célula-tronco. A célula dinâmico, aonde o sub-compartimento marginal pode
com potencial de produção de neutrófilos e monócitos ser mobilizado rapidamente sob a influência fisiológi-
é denominada unidade formadora de colônias granu- ca, patológicos ou iatrogênica, da adrenalina e corti-

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coides, como por estresse, exercício, trauma, infec- por dois a três dias em processos patológicos, exceto
ções, terapias. A capacidade do compartimento mar- os neutrófilos leucêmicos.
ginal varia nas espécies,representando a metade dos
neutrófilos circulantes nos caninos, bovinos e equinos, Os neutrófilos tem como função primária a fagocitose
e nos felinos 2,5 vezes o compartimento circulante. É e destruição de microrganismos, mediante ação bac-
importante sinalizar que a informação entregada no tericida, além da secreção de pirógenos endógenos
leucograma corresponde ao compartimento circulan- quando são expostos a bactérias. Os neutrófilos tam-
te. bém podem causar danos aos tecidos e exercem um
efeito citotóxico, como a atividade parasiticida e tu-
Os neutrófilos permanecem no sangue somente de moricida mediada por anticorpos. Os neutrófilos
sete a quatorze horas, saindo para os tecidos median- quando ativados secretam citocinas, tais como o fator
te diapedese, devido ao efeito de fatores quimiotáti- de necrose tumoral (TNF), fator estimulador de colô-
cos, sem retornar ao sangue. nias granulocíticas (FEC-G) e monocíticas (FEC-M).
Compartimento tecidual: Esta fase é onde os neutrófi-
los cumprem suas funções biológicas, permanecendo

Figura 0.23. Cinética de neutrófilos desde sua formação na medula óssea até seu destino nos tecidos.

Os eosinófilos são produzidos na medula óssea num Os monócitos encontram-se em baixo número na
lapso de dois a seis dias. Podem originar-se em menor medula óssea. Seu tempo de liberação médio é de
grau no baço, timo e linfonodos cervicais. Sua vida dois a três dias. Contudo, monócitos jovens podem ser
média no sangue é menor que uma hora em caninos, liberados em um período de até seis horas. Posterior-
saindo aos tecidos quando atraídos por fatores qui- mente, permanecem no sangue circulante por 8 a 71
miotáticos locais específicos (histamina, complexo A- horas para então ingressar nos tecidos constituindo os
Ac, outros) onde permanecem somente quatro a seis macrófagos.
horas, e não voltam a circulação. A ativação do com- Os macrófagos são mais numerosos que os monócitos
plemento gerada no sítio da infecção parasitária gera circulantes, numa proporção aproximada de 50:1. As
uma eosinofilia tecidual como resposta quimiotática a funções dos monócitos e macrófagos são fagocítica e
histamina. Suas principais funções são a atividade microbicida, regulação da resposta imune, eliminação
fagocítica, bactericida, parasiticida, a regulação das fagocítica dos detritos celulares, secreção de monoci-
respostas alérgicas e inflamatórias e dano tecidual. nas, regulação da inflamação e reparação de tecidos.

Os basófilos são raros, sendo difíceis de serem encon- Os linfócitos representam um grupo heterogêneo de
trados no sangue e na medula óssea. Possuem grânu- células, tanto morfológica como funcionalmente,
los ricos em aminas vasoativas que iniciam o processo produzidos pelo tecido linfóide do baço, timo, nódulos
inflamatório, liberando fatores quimiotáticos para linfáticos, incluindo as placas de Peyer, amigdalas e
neutrófilos e eosinófilos. A composição dos grânulos apêndice. Mesmo quando a medula óssea dos mamí-
difere entre as espécies, sendo ricos em histamina, feros ainda é o maior órgão linfopoiético sua produção
heparina, e em algumas espécies, serotonina. São linfocitária é ineficaz. Os linfócitos são originados dos
comparados aos mastócitos por sua similaridade mor- linfoblastos, que passam a pró-linfócitos e depois a
fofuncional. linfócitos, que podem ser diferenciados morfologica-
mente no esfregaço corado, contudo nesta técnica,
Os monócitos também são originados da célula proge- não se pode diferenciar suas subpopulações, T e B. O
nitora bipotencial UFC-GM, que pode produzir tanto tempo de produção dos linfócitos varia entre seis a
neutrófilos como monócitos, estimulada por FEC-M. oito horas. A linfopoiese é estimulada pela exposição

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antigênica e deprimida pela exposição a corticoides, Tabela 0.11. Análises que constituem o leucograma.
hormônios sexuais e desnutrição. Os linfócitos perma- Exame Resultado
necem no sangue desde duas semanas a meses, ou Contagem de leucócitos Nº / µL
até anos recirculando entre o sangue e o tecido linfoi- Fórmula leucocitária
de, constituindo o compartimento circulante somente relativa % de cada tipo de leucócito
em 10% do total. Os linfócitos recirculam do baço, absoluta Nº de cada tipo de leucócito x µL
Morfologia ao esfregaço: Ausente, N
timo e medula óssea ao sangue periférico, e logo de-
alterações morfológicas Presente:
pois aos tecidos, tecido linfático, gânglios linfáticos e Escasso, +
assim sucessivamente. Sua recirculação permite dis- Moderado, ++
tribuir as células linfoides relacionadas com a resposta Abundante, +++
imune sistêmica, objetivando-se expô-las a antígenos
localizados nos tecidos. Posteriormente, estas células 2.3.2.1. Contagem de leucócitos
podem ser transportadas a diversos lugares e montar Determina o número de leucócitos totais por volume
uma vigorosa resposta imune. A população total de de sangue. Pode ser determinado por método manual
linfócitos no sangue da maioria das espécies animais é ou automatizado. A determinação manual é realizada
ao redor de 70% de células T, 20% de células B. Entre mediante a contagem em câmara de Neubauer, mé-
os tecidos linfoides as células T predominam no timo, todo que tem como limitação sua baixa precisão (CV ±
gânglios linfáticos e linfa do conduto torácico. Os lin- 15%). Os analisadores hematológicos determinam o
fócitos B predominam na medula óssea e baço. número de leucócitos na amostra de sangue mediante
impedância ou citometria. Ainda que o custo do equi-
Existe uma terceira população de linfócitos que não pamento limite seu uso, sua maior precisão, rapidez e
expressam receptores de antígenos em suas membra- menor consumo de tempo do analista tem generaliza-
nas, conhecidos como “células assassinas naturais” ou do sua utilização. É necessário que sejam calibrados de
“Natural Killer”, derivadas da medula óssea e funcio- acordo com a espécie animal, já que não podem ser
nalmente distintas de células T e B, por sua capacida- usados sem uma adequada validação. Os equipamen-
de para lisar certas linhas de células tumorais sem tos hematológicos de mamíferos não permitem análi-
sensibilização prévia. Desde o ponto de vista morfoló- ses em amostras de aves, répteis ou peixes.
gico, estas células são os linfócitos grandes que possu- Pode-se estimar o número de leucócitos determinan-
em grânulos no citoplasma que são lisossomas primá- do sua média por campo ao exame microscópio do
rios. esfregaço sanguíneo corado, multiplicando-se por 150
ou 500, ao utilizar um aumento de 100 ou 200x, res-
pectivamente. Quando se utiliza contadores automáti-
cos e são observados eritrócitos nucleados ao esfrega-
ço é necessário corrigir os valores da contagem leuco-
citária.

2.3.2.2. Fórmula leucocitária relativa


Entrega a distribuição percentual dos diferentes tipos
de leucócitos em uma amostra de sangue. É realizada
ao microscópio (400-500x) para a diferenciação mor-
fológica dos leucócitos de um esfregaço sanguíneo
corado com Romanovsky (Giemsa, Wrigth, Corsap,
outro), e depois a 1.000x para observar sua morfologia
(Tabela 0.11, Tabela 0.12, Figura 0.25, Figura 0.26).
Devem ser diferenciados ao menos 100 leucócitos
Figura 0.24. Cinética dos linfócitos.
para estabelecer a porcentagem de cada tipo. Nos
caninos predominam os neutrófilos e nos bovinos os
linfócitos; os eosinófilos e monócitos encontram-se
2.3.2. Exames dos Leucócitos para uso Clínico
entre 1 a 10%, e os basófilos ocasionalmente são vis-
O leucograma é a parte do hemograma que entrega
tos (Tabela 0.13).
informações de interesse clínico sobre o número,
distribuição e morfologia dos leucócitos circulantes de
Atualmente, encontram-se analisadores eletrônicos
um animal (Tabela 0.11). Para sua realização é neces-
baseados na citometria de fluxo óptico, que entregam
sária uma amostra de sangue de 0,5 a 3,0 mL com
o número total de leucócitos e a fórmula diferencial.
anticoagulante (EDTA).
Esta técnica diferencia milhares de células, diferente
do método microscópico, diminuindo ao mínimo o
erro da amostra. Contudo, é espécie-específica e pou-
co confiável quando se encontram células atípicas.

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Tabela 0.12. Características morfológicas diferenciais dos leucócitos de mamíferos.


Leucócito Tamanho Núcleo Citoplasma
Diâmetro µ Cor Forma Grânulos e matriz
Basófilo 12-13 Púrpura 2-3 lóbulos Azul escuro, tamanhos variáveis
Eosinófilo 12-13 Púrpura 2-3 lóbulos Laranja, de número e tamanho variável por
espécie
Neutrófilo segmentado 12-13 Púrpura 2-3 lóbulos Cinza tênue a incolor com escassos grânulos
rosados pálidos
Neutrófilo bastão 13-14 Púrpura Em ferradura, não Cinza tênue a incolor com escassos grânulos
segmentado rosados pálidos
Linfócito 8-9 pequenos Púrpura uniforme Redondo, excêntrico Celeste uniforme alguns com escassos grânulos
12-13 grandes azuis
Monócito 14-17 Azul púrpura Redondeado irregular Azul acinzentado, pequenos grânulos y alguns
irregular com vacúolos

Superior: monócitos; inferior:linfócitos. Pintura H Molina

Figura 0.26. Imagens de monócitos e linfócitos.


2.3.2.3. Fórmula leucocitária absoluta
Entrega o número de células/µL dos diferentes tipos
de leucócitos de uma amostra de sangue. É obtida
mediante regra de três simples, empregando os valo-
res do número total de leucócitos e a porcentagem de
cada tipo obtido na fórmula relativa. Ex.: para um
canino com 20.000 leucócitos/µL, com 65% de neutró-
filos, o número de neutrófilos circulantes é de 13.000
Superior: neutrófilos; centro: eosinófilos; inferior: basófilos. Pintura H Molina µL (20.000x 65/100) (Tabela 0.13).
Figura 0.25. Imagens de polimorfonucleares nas
espécies domésticas. Tabela 0.13. Fórmula leucocitária relativa e absoluta
de um canino com contagem de 20.000 leucócitos /µL.
Fórmula
Relativa (%) Absoluta (/µL)
Basófilos 0 0
Eosinófilos 5 1.000
Neutrófilos segmentados 65 13.000
Neutrófilos bastões 1 200
Linfócitos 25 5.000
Monócitos 4 800

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O aumento ou diminuição de um tipo de leucócitos
pode corresponder ao valor porcentual, e neste caso As variações leucocitárias são classificadas em quatro
de denomina “relativo”; ou também a seu número no grupos:
qual se denomina “absoluto”. Por exemplo, a amostra
de sangue de um cão com uma porcentagem de neu- a. Individuais: existem diferenças associadas ao
trófilos de 95% (IR = 55 a 75%) indica uma neutrofilia indivíduo (como a raça, sexo, idade) que influem no
relativa. No mesmo caso, um número de neutrófilos número de leucócitos. A contagem total dos leucócitos
de 20.000 µL (IR = 3.300 – 10.000/µL) indica uma neu- é elevada ao nascimento e diminui progressivamente
trofilia absoluta. O valor absoluto entrega a contagem com a idade.
real de cada tipo de leucócito que o paciente possui
no sangue circulante, de modo que deve prevalecer b. Fisiológicas: condições fisiológicas como a inges-
seu uso na interpretação clínica do leucograma. tão de alimentos, exercício físico, emoções, gestação,
parto, que afetam a fórmula leucocitária. Como a
2.3.2.4. Características morfológicas dos leucócitos neutrofilia fisiológica associada aos exemplos citados.
São visualizadas as alterações morfológicas de interes-
se clínico nos leucócitos de uma amostra sanguínea, a c. Patológicas: uma variedade de alterações na saúde
partir do exame ao microscópio de um esfregaço san- dos animais cursa com mudanças nos leucócitos. Po-
guíneo corado com Romanovsky, observando-se a dem ser:
morfologia dos leucócitos. São observadas as caracte- • Proliferativa: causada por uma proliferação
rísticas de forma, tamanho de núcleo e granulação do anormal, fora dos mecanismos de controle, na pro-
citoplasma de acordo com a espécie e tipo celular. dução de um tipo de leucócito, como em uma neo-
Entre as características alteradas descrevem-se: a plasia hemopoiética.
presença de corpúsculos, grânulos e vacúolos; neutró-
filos com degeneração tóxica, hipersegmentados ou • Reativa: corresponde a resposta imune do orga-
pleiocariócitos; linfócitos imaturos, reativos; hemopa- nismo com aumento ou diminuição de um ou vários
rasitas. Estas últimas correspondem a leucócitos com tipos de leucócitos no sangue. No estresse vemos
sua morfologia alterada (material nuclear desagregado uma eosinopenia, neutrofilia e linfopenia.
em forma de malha no citoplasma) dificultado ou
tornando impossível sua diferenciação. Frequente- d. Iatrogênica: a administração de algumas drogas,
mente são observadas alterações morfológicas em como corticoides, induz variações na composição
neutrófilos e monócitos em amostras mal preservadas sanguínea, que devem ser consideradas na interpreta-
e envelhecidas. ção do leucograma.

As alterações associadas às mudanças na fórmula


2.3.3. Interpretação Clínica do Leucograma
As variações dos leucócitos circulantes ocorrem rapi- leucocitária relacionam-se com as funções que cum-
damente, de modo que um exame de sangue repre- prem os leucócitos.
senta a situação existente no momento da coleta da
amostra. Deve-se ter em mente que o sangue é so- 2.3.3.1. Leucopenia e leucocitose
mente um meio de transporte dos leucócitos até os • Leucopenia
tecidos, aonde estes cumprem sua função, sendo A diminuição do número dos leucócitos circulantes
assim, a execução de exames seriados é a forma mais abaixo ao limite de referência para a espécie denomi-
precisa de avaliar suas variações. Além disso, é impor- na-se leucopenia. Pode afetar a um tipo celular, como
tante considerar na interpretação os resultados do nos casos de neutropenia por sobredemanda em in-
eritrograma, proteinemia e fibrinogenemia, ou outra fecções sobreagudas, hipoplasia medular ou destrui-
proteína de fase aguda. ção, ou a vários tipos celulares situação que se deno-
Um dos aspectos de maior interesse para o clínico é mina panleucopenia. A neutropenia é a causa principal
detectar um aumento ou diminuição na contagem da leucopenia em animais com uma relação neutrófi-
absoluta ou relativa dos leucócitos. O aumento sobre lo:linfócito maior que 1, e a linfopenia nos animais que
o limite superior de referência na porcentagem ou esta relação é menor que 1.
número de um tipo de leucócito denomina-se com o
nome do leucócito alterado mais o sufixo de “citose” • Leucocitose
ou “filia” (basofilia, eosinofilia, neutrofilia, linfocitose, É o aumento do número de leucócitos circulantes
monocitose). A diminuição abaixo o limite inferior de sobre o limite de referência para a espécie. Seu au-
referência na porcentagem ou número de um tipo de mento está associado a um aumento no número de
leucócito é denominada com o nome do leucócito neutrófilos ou, em alguns casos, dos linfócitos. A leu-
alterado mais o sufixo “penia” (eosinopenia, neutro- cocitose é mais frequente que a leucopenia, e indica a
penia ou linfopenia). Basopenia e monocitopenia não capacidade de defesa do animal, não sendo assim um
são descritas clinicamente.

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sinal de mal prognóstico, como na leucopenia. Apre- turos. E ao contrário, no desvio à esquerda degenera-
senta-se na forma fisiológica, reativa ou proliferativa. tivo a quantidade de neutrófilos imaturos supera os
maduros. O grau do desvio a esquerda indica a gravi-
A leucocitose fisiológica é produzida como resposta dade da enfermidade. A magnitude da contagem de
adrenérgica em casos de excitação, exercício e pós- neutrófilos reflete a capacidade da medula óssea para
prandial, onde é mobilizado o compartimento margi- satisfazer a demanda. A neutrofilia regenerativa indica
nal dos neutrófilos ou linfócitos na circulação geral, uma resposta imune adequada frente a uma situação
aumentando o número total de leucócitos. Uma neu- de demanda tecidual por neutrófilos, sinal que os
trofilia ou linfocitose transitória, ou ambas, podem se mecanismos de defesa do organismo respondem ade-
manifestar. Esta condição é comum em animais jo- quadamente, usualmente três a cinco dias como res-
vens, sendo provocada por alterações emocionais e posta a uma demanda aumentada. Inversamente a
físicas. A liberação de glicocorticoides endógenos ou a neutrofilia degenerativa indica uma capacidade redu-
sua administração terapêutica induz uma leucocitose zida de resposta medular, insuficiente à demanda
neutrofílica acompanhada de linfopenia e eosinope- tecidual frente a uma infecção, situação em que os
nia. mecanismos de defesa estão sendo excedidos, e con-
sequentemente tem prognóstico reservado ou desfa-
A leucocitose reativa é produzida em resposta a en- vorável.
fermidades reativas, que induzem uma resposta espe-
cífica, mas não diferenciada no leucograma. Pode
ocorrer com ou sem desvio a esquerda. O grau da
leucocitose varia segundo a espécie animal e conse-
quentemente com a razão neutrófilo:linfócito. Animais
com razão neutrófilo:linfócito alta, como nos caninos
e felinos, possuem uma resposta maior que os animais
com razão neutrófilos:linfócitos baixa, como cavalos e
bovinos. Uma leucocitose induzida por corticoesteroi-
des ou por adrenalina pode ser vista simultaneamente
com uma leucocitose reativa, diferenciando-se porque
a reativa cursa com desvio a esquerda moderado a
intensa, hiperfibrinogenemia, monocitose, e ausência
de linfopenia ou eosinopenia.
Figura 0.27. Esfregaço sanguíneo de um canino com
A leucocitose proliferativa é vista em neoplasias san- neutrofilia e desvio a esquerda.
guíneas como a leucemia linfocítica mielóide, monocí-
tica e mielomonocítica. Contudo, diversas leucemias Por outro lado, um desvio à direita é visto quando no
não cursam com leucocitose, assim sendo, a contagem sangue circulante há a presença de neutrófilos hiper-
de leucócitos pode estar normal ou até diminuída. segmentados, com mais de cinco lóbulos, que é pro-
duzido na presença de corticoides endógenos ou exó-
2.3.3.2. Neutrofilia genos, por aumentar a vida média dos neutrófilos no
Corresponde ao aumento no número de neutrófilos sangue. A insuficiência renal crônica também pode
do compartimento circulante sobre o intervalo de conduzir a uma hipersegmentação de neutrófilos.
referência, é resultado de alterações entre a quanti-
dade que ingressa da medula óssea ao sangue, sua A magnitude da neutrofilia é mais intensa nos animais
distribuição no sangue, e sua migração aos tecidos. É a que possuem uma elevada razão neutrófilos: linfóci-
alteração de maior utilidade clínica do leucograma. tos, e vice-versa. Sendo assim, nos caninos e felinos é
A neutrofilia (heterofilia em aves, répteis e peixes) que mais marcada, nos equinos moderada, e nos bovinos e
é representada com o aumento dos neutrófilos imatu- ovinos muito leve passando clinicamente despercebi-
ros (bastões, juvenis) no sangue circulante é denomi- da em muitos casos.
nada “com desvio à esquerda”, situação que indica
uma liberação acelerada de neutrófilos ao sangue A neutrofilia é a alteração mais frequente observada
desde o compartimento de maturação medular, pro- na clínica veterinária. Para obter-se uma conclusão
duzido devido a uma elevada demanda em infecções valida deve-se relacionar com a quantidade de linfóci-
agudas (Figura 0.27). tos e a presença do desvio à esquerda, segundo de-
monstrado na Tabela 0.14.
A neutrofilia com desvio à esquerda pode ser ”regene-
rativa” ou “degenerativa”. A regenerativa é caracteri-
zada por um aumento da quantidade de neutrófilos 2.3.3.3. Neutropenia
maduros e imaturos no compartimento circulante em Corresponde a uma diminuição abaixo do intervalo de
que os maduros estão em maior número que os ima- referência do número de neutrófilos do compartimen-

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to circulante, produto de alterações entre a quantida- que esgota rapidamente o compartimento dos neutró-
de que ingressa da medula óssea ao sangue, sua dis- filos circulantes. Ocorre em vacas com mastite por
tribuição no sangue, e sua migração aos tecidos. Escherichia coli, ou cavalos com salmonelose. Nestes
casos é associado com um desvio à esquerda degene-
rativo produzido por uma resposta compensatória do
Tabela 0.14. Achados esperados em diferentes tipos compartimento de reservas. Também é observado em
de neutrofilia. algumas infecções virais, como hepatite, cinomose,
Tipo Desvio à esquer- Nº de linfócitos parvovirose, panleucopenia, acompanhada de lin-
da fopenia. Normalmente transitório com resposta em
Fisiológica Ausente Normal ou aumento leve
Estresse Ausente ou leve Linfopenia leve ou dois a quatro dias.
moderada
Inflamação aguda Moderada a Linfopenia leve ou • Depleção por demanda excessiva de neutrófilos,
intensa moderada que gera um esgotamento da medula óssea, superan-
Inflamação crônica Leve a ausente Normal ou linfopenia
leve do a produção e resultando em um desvio à esquerda
Anemia regenera- Ausente ou leve Normal ou linfopenia degenerativo. Algumas vezes a contagem absoluta de
tiva leve neutrófilos pode estar normal ou diminuída.

Os mecanismos de neutropenia são vistos com menor


frequência e tem sido menos estudados. As principais • Depressão por redução na capacidade de prolife-
causas de neutropenia são apresentadas na Figura ração de neutrófilos na medula óssea associada a
0.29): degeneração, displasia ou hipoplasia medular, ou em
quadros que cursam com doenças crônicas. Outras
linhas celulares também podem estar afetadas. Nestes
• Sequestro ou por redução na sobrevivência dos
neutrófilos maduros: é observado em quadros de casos a neutropenia não está acompanhada com o
choque ou endotoxemia, onde os neutrófilos do com- desvio à esquerda. Entre as causas conhecidas se en-
partimento circulante se marginalizam. Situação ob- contram as infecções (Parvovirus canino e felino, Ehrli-
servada na etapa inicial da endotoxemia por bactérias chia, o vírus da leucemia felina, vírus imunossupresso-
Gram-negativas e no choque anafilático. res felinos), drogas (Griseofulvina, fenilbutazona, tri-
metoprin, estrógenos, agentes quimioterápicos) ou de
• Sobre demanda por parte de um tecido com au-
natureza genéticas (neutropenia cíclica do Collie Cin-
mento da saída dos neutrófilos do sangue para o sitio
za).
inflamatório, produto de uma infecção sobreaguda
com elevado requerimento de neutrófilos. É produzi-
do frente a uma demanda tecidual aguda e massiva,

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segmentado (maduro)
bastão 2% no vaso

+/- 5 dias até


aparecer a res_
posta

Proliferação Maturação Reserva 7-14 horas na circulação não recirculam


hipersegmantado
2,5 dias 2,5 dias velho
Neutrófilos circulantes e marginais (endotélio, baço, pulmões)
SN simpático vasoconstrição
transitória

adrenalina

libera da marginal

vasoconstrição menos marcada


chega menos aos tecidos

hiperadreno_
corticismo
Síndrome de
Cushing
aumenta saída da reserva desvio esquerda - bastões
libera da marginal
reg: seg > bastões
hipersegmentados deg: seg < bastões mais severo
desvio direita

bacteriano

saída da reserva presença de bastões


desvio esquerda

manifesta anemia
monocitose

piometra
abcessos

desvio esquerda reg.

Figura 0.28. Mecanismos de neutrofilia.


aumento dos 3 compartimentos

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choque - vasodilatação

retidos no compartimento marginal

proc. inflamatório bacteriano agudo


(severa)

ATB amplo espectro saem da reserva por saem os que estão retidos na marginal
alta demanda
chega mais nos tecidos
aplasia ou displasia medular

leucemia
tóxicos
estrógenos
vírus
imunossupressão

produz muito pouco

Figura 0.29. Mecanismos de neutropenia.

2.3.3.4. Eosinopenia e eosinofilia ticismo, estro em cadelas, predisposição racial e pro-


cessos purulentos.
Eosinofilia é observada em animais com afecções
crônicas de tecidos que possuem grande quantidade Eosinopenia é vista frequentemente associada a do-
de mastócitos como a pele, pulmões, intestino, útero enças que condicionam ao estresse agudo (adrenalina)
que liberam histamina, que é quimiotática para os ou crônico (cortisol) nos animais. Também é observa-
eosinófilos. É vista em alergias, e parasitismos como do no hiperadrenocorticismo, administração de corti-
filariose, ascaridiase, triquinose, distomatose, sendo coides, e em processos inflamatórios e infecciosos
fator desencadeante a sensibilização da proteína es- agudos.
tranha, com liberação de histamina. Também é vista
em dermatites crônicas, infecções do trato respirató- 2.3.3.5. Basofilia
rio e digestivo, perda tecidual crônica, hipoadrenocor- A basofilia é descrita somente quando é persistente
ou muito manifestada pela imprecisão em defini-la,

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considerando baixa a quantidade habitualmente pre- ças infecciosas crônicas, e posterior a vacinação, hi-
sente no sangue dos animais. Pode ser observada em persensibilidade, doenças autoimunes e hipoadre-
casos de hipersensibilidade associada a eosinofilia nocorticismo. A linfocitose proliferativa de caráter
como alergias, parasitismos e em alterações no meta- permanente é vista associada à neoplasia linfóide
bolismo das lipoproteínas. A resposta dos basófilos a (Figura 0.30). Além disso deve-se considerar que ani-
corticoesteroides é similar a dos eosinofilos, mas ge- mais jovens apresentam uma maior quantidade de
ralmente não é reconhecido, já que só basófilos são linfócitos circulantes. Os mecanismos de linfocitose
raros no sangue. são apresentados na Figura 0.31.

2.3.3.6. Monocitose

Monocitose reativa é vista em enfermidades subagu-


das ou crônicas com necrose tecidual, como piometra,
pneumonia, endocardite bacteriana ou doenças pio-
granulomatosas (como a tuberculose bovina) em res-
posta a demanda de macrófagos pelos tecidos infla-
mados. Também é vista na listeriose e outras bacte-
remias, no hiperadrenocorticismo, administração de
esteroides, estresse intenso, enfermidades imunome-
diadas, e em animais geriátricos.

2.3.3.7. Linfocitose e Linfopenia


Figura 0.30. Esfregaço de uma vaca com leucose
Linfocitose ser pode fisiológica como resposta adre-
bovina (severa linfocitose =66.000 µL).
nérgica em animais excitados, com medo e submeti-
dos a esforço físico. A linfocitose reativa ocorre rara-
mente, produzida por estímulos antigênicos de doen-

neutrofila
monocitose
linfocitose
anemia displástica
trombocitose

proliferação
efeito da adrenalina
aumento de linfoblasto
transitória

Figura 0.31. Mecanismos de linfocitose.

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Linfopenia é vista frequentemente associada ao es- (como a imunodeficiência felina). Algumas doenças
tresse, produzida pela liberação de corticoides (hipe- virais agudas (como cinomose, hepatite e panleuco-
radrenocorticismo, estresse severo) ou uso de corti- penia) cursam com linfopenia por sequestro. Doenças
coesteróides ou ACTH. Processos inflamatórios agudos crônicas com presença de uremia cursam com lin-
podem induzir a linfopenia por sequetro a os tecidos. fopenia por depressão do tecido linfóide. Ruptura de
A linfopenia por diminuição da linfopoiese é observa- ducto linfáticos podem ocasionar lifopenia por deple-
da na administração de drogas imunossupressoras, ção. Os mecanismos das linfopenias são apresentados
irradiações, quimioterapia e em imunodeficiências na Figura 0.32.

saem da circulação neutrofilia


diminui a produção linfopenia
neutrofilia
diminui em tudo

Diminui no sangue, no tecido


linfoide, estimula a resposta imune

rara
associada à vírus

parvovirose
- leucopenia severa

estrógenos
samambaia - diminui produção
medular

Figura 0.32. Mecanismos de linfopenia.

2.3.3.8. Alterações morfológicas base a eles. A basofilia é o resultado da retenção dos


ribossomos e do retículo endoplasmático rugoso.
• Neutrófilos com degeneração tóxica. São vistos no
sangue como reflexo de um quadro tóxico com severo • Corpúsculos Döhle. São áreas de liquefação do
compromisso da saúde do animal, como pacientes retículo endoplasmático, de ocorrência rara. Refletem
com infecção bacteriana grave, sepse, doença inflama- infecção sistêmica grave, sendo mais frequentes em
tória aguda e destruição de tecido. O efeito “tóxico” gatos que em outras espécies animais.
durante a granulopoiese é refletido com basofilia
citoplasmática, presença de grânulos tóxicos e corpús- • Neutrófilos hipersegmentados ou Pleiocariócitos.
culos de Döhle, produção de neutrófilos hipersegmen- São neutrófilos envelhecidos caracterizados por seu
tados, e ocasionalmente vacúolos. Os grânulos primá- núcleo segmentado mais de cinco, por um tempo de
rios são ricos em enzimas e coram-se de marrom escu- sobrevivência intravascular prolongado, caracterizan-
ro com corantes de rotina, impropriamente chamados do um desvio à direita. Ocorre em tratamentos de
grânulos tóxicos. A presença destes grânulos expressa longo prazo com corticoesteroides ou estresse crôni-
à duração e severidade do processo inflamatório, co, insuficiência renal crônica e raramente em defeitos
sendo inapropriado expressar um prognóstico em genéticos ou transtornos mieloproliferativos.

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• Corpúsculo de Baar. É uma extensão do núcleo dos são os vasos sanguíneos, a atividade das plaquetas, os
neutrófilos pela cromatina sexual feminina, e sua fatores da coagulação e os fatores fibrinolíticos.
presença é considerada fisiológica.
As alterações hemostáticas podem conduzir a uma
• Linfócitos imaturos. São vistos no sangue circulan- hipercoagulabilidade, acompanhada com uma ten-
te de animais com leucemia linfocítica aguda em que dência a trombose. Contudo, na veterinária a hipoco-
são observados linfócitos com nucléolos ou em mito- agulabilidade com tendência a hemorragia é descrita
se. com maior frequência, alteração oposta a anterior. A
hipocoagulabilidade é causada pela redução da ativi-
• Linfócitos reativos. São vistos no sangue circulante dade de um fator da coagulação, uma diminuição na
de animais com uma resposta imune marcada, frente quantidade das plaquetas circulantes (trombocitope-
ao estímulo de um agente infeccioso ou vacina. Ob- nia) ou por sua disfunção (trombopatia). Em certos
servam-se citoplasma abundante de caráter basofílico casos, este processo está associado a uma hiperfibri-
(cor azul intensa). nólise, como o que ocorre na coagulação intravascular
disseminada (CID). As alterações hemostáticas na
• Organismos no interior de leucócitos. Tais como: veterinária são principalmente de origem adquirida,
mórulas em infecções por Ehrilichia sp (mórula basofí- como na intoxicação por cumarínicos, a coagulopatia
lica); outras bactérias em casos de bacteremia ou hepatógena, a trombocitopenia imunomediada e a
contaminação da amostra; gametócitos de Hepatozo- CID. Raramente se descrevem alterações de origem
on canis, Toxoplasma, Leishmania, Histoplasma. genética, como a hemofilia A e B ou a doença de Von
Willebrand.
2.4. HEMOSTASIA
A hemostasia é o conjunto de mecanismos pelo qual o
1 2 2.4.1. Hemostasia primária
organismo animal coíbe uma hemorragia, impede
3
que o sangue coagule, e produz a dissolução do coá- Os vasos sanguíneos desempenham um papel na pri-
gulo, mediante procedimentos mecânicos e bioquími- meira fase da hemostasia, devido a sua capacidade de
cos. Em outras palavras, é a capacidade que tem o vasoconstrição, inibição da aderência de plaquetas e
organismo de fazer com que o sangue permanece leucócitos, e de ativar os mecanismos da coagulação.
circulando nos vasos sanguíneos no estado líquido e, Alterações hemostáticas são vistas em vasculites asso-
quando um vaso é danificado, formar um coágulo para ciada a lesão endotelial, produzida por processo in-
coibir a hemorragia, reparar o dano e finalmente dis- flamatórios ou degenerativos, infecções virais ou en-
solver o coágulo. fermidades septicêmicas que cursam com petéquias e
A hemostasia envolve três “fases”, que se inter- equimoses, mais evidentes nas mucosas da boca,
relacionam: vulva, conjuntiva e esclera.

Hemostasia primária: primeira fase que consiste na As plaquetas ou trombócitos são fragmentos cito-
vasoconstrição local, a adesão e agregação plaquetária plasmáticos, discóides, de dois a quatro micrômetros,
e a consequente formação do tampão plaquetário que se formam na medula óssea a partir de células
inicial. pluripotentes que originam a linha megacariocítica,
produção controlada pela trombopoetina e também
Hemostasia secundária: segunda fase compreende pela eritropoietina. Depois da estimulação, as plaque-
uma série de reações em cascata, denominada cascata tas aparecem no sangue entre três a cinco dias, per-
da coagulação, que tem como resultado a formação manecendo durante ± 10 dias, aproximadamente um
de um coágulo de fibrina a partir do fibrinogênio, que terço das plaquetas são sequestradas pelo baço. Sua
confere estabilidade ao coágulo. contagem no sangue circulante varia entre 200.000 a
600.000/µL. Valores <100.000/µL indicam tromboci-
Hemostasia terciária: terceira fase conhecida como topenia e, com valores inferiores a 30.000/µL podem
fibrinólise, consiste na degradação do coágulo medi- ocorrer hemorragias espontâneas.
ante a degradação da fibrina, fase que ocorre junta-
mente com a reparação da lesão. A principal função das plaquetas é manter a integrida-
de do endotélio vascular, e produzir e armazenar os
A hemostasia desempenha um papel fundamental fatores da coagulação. A adesão e agregação plaque-
quando um vaso é lesionado. Primeiramente se induz tária são eventos que podem ocorrer simultaneamen-
a vasoconstrição, minimizando assim a hemorragia, te ou separadas, dependendo da condição do estímulo
seguida imediatamente da formação do tampão pla- e suas circunstâncias. Para que ocorra a adesão e
quetário e do coágulo que a coíbe, para finalmente agregação plaquetária, e a consequente formação do
restaurar sua integridade favorecendo assim a repara- tampão plaquetário inicial, é necessária a presença do
ção da lesão. Os elementos associados a este processo Fator de Von Willebrand (FVW). Qualquer transtorno
nestes processos causa alteração na coagulação. A

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adesão das plaquetas ao endotélio é realizada através salicilínco, ibuprofeno, indometacina e a fenilbutazo-
de seus receptores de superfície para o colágeno e o na). A síndrome de Chediak-Higashi se manifesta pela
FVW, que se une ao colágeno subendotelial liberando presença de grânulos lisossomais gigantes e agregação
aminas vasoativas que promovem a vasoconstrição plaquetária diminuída, observada com maior frequên-
local com liberação de ADP. A agregação plaquetária é cia em bovinos e gatos.
produzida em reposta a liberação de ADP na presença
de íons de cálcio, e é mediada pelo fibrinogênio plas- A trombocitose é o aumento sobre o intervalo de
mático, formando a primeira capa de plaquetas, finali- referência no número de plaquetas circulantes. Ocorre
zando a primeira fase da hemostasia. As plaquetas raramente por uma maior produção de origem primá-
também são importantes na segunda fase da hemos- ria (neoplasia), sendo mais comum sua forma secun-
tasia, fornecendo fosfolipídios de plaquetas necessá- dária devido a infecções crônicas, hemorragias ou
rios para o processo de coagulação sanguínea (Fator deficiência de ferro, distribuição alterada por exercí-
Plaquetário 3, FP3). cio, adrenalina, esplenectomia e hiperadrenocorticis-
mo.
Entre as alterações plaquetárias descrevem-se a
trombocitopenia ou trombopenia, que é a diminuição
2.4.2. Hemostasia secundária
abaixo do intervalo de referência de plaquetas circu-
É a segunda fase da coagulação. Nela a coagulação é o
lante com propensão a hemorragia, especialmente
processo fisiológico que modifica o sangue do estado
diátese hemorrágica. Sua origem é associada a:
líquido para o estado sólido. O processo de coagulação
possui uma cascata, ou passos sequenciais, de eventos
1. Diminuição da produção de plaquetas: relaciona-
que envolvem uma via intrínseca, extrínseca e comum
da com alteração na medula óssea, vista na pancito-
(Figura 0.33), que finaliza com a formação do tampão
penia, neoplasias, mielofibrose, administração de
de fibrina polimerizada.
drogas (quimioterapia, estrógenos, antibióticos e
antifúngicos), e nas fases crônicas de doenças infecci-
Os fatores da coagulação correspondem ao fibrinogê-
osas, como infecção por Ehlichia canis e causas congê- ++
nio (F1), a protrombina (F2), Ca e uma série de com-
nitas.
postos de natureza enzimática, sintetizados no fígado,
que circulam como precursores inativos e atuam ati-
2. Destruição das plaquetas: é a diminuição das pla-
vando-se sequencialmente (Fatores VII, IX, X, XII, XIII,
quetas na circulação, devido sua eliminação acelerada.
HMWK e PK). Os fatores da coagulação são ativados
Ocorre em doenças virais e bacterianas, endotoxemi-
principalmente pela exposição à tromboplastina teci-
as, tumores (hemangioma e hemangiossarcoma),
dual. Depois da ativação inicial, os fatores se estimu-
reações autoimunes ou imunomediadas, e utilização
lam de forma sequencial e se amplificam por retroali-
de drogas.
mentação. A cascata da coagulação é dividida tradici-
onalmente em via intrínseca, via extrínseca e via co-
3. Consumo de plaquetas: que ocorre na CID, condi-
mum (Figura 0.33). A via intrínseca é ativada pelo
ção que também interfere com a função plaquetária e
contato do sangue com o colágeno subendotelial da
cascata de coagulação.
parede vascular traumatizada, com ativação plaquetá-
ria e do fator XII, que posteriormente ativa o fator X. A
4. Sequestro de plaquetas: ou distribuição anormal
via extrínseca é iniciada por uma lesão vascular ou
das plaquetas, devido a esplenomegalia, hepatomega-
contato com o tecido extravascular que contem uma
lia, hipotermia, endotoxemia, neoplasias.
proteína de membrana chamada fator tecidual. O
tecido danificado libera tromboplastina que ativa o
5. Perda de plaquetas: devido à perda massiva de
fator VII. A ativação destes fatores, além da presença
sangue total ou um transfusão incompatível.
dos fosfolipídios plaquetários e Ca, inicia a via comum
com a ativação do fator X, que estimula a protrombina
A trombastenia é o transtorno qualitativo das plaque-
(fator II) que se transforma em trombina, que conver-
tas com diminuição de sua capacidade funcional, situ-
te o fibrinogênio em fibrina. Posteriormente, o fator
ação que pode ser de origem hereditária (Chediak
XIII estabiliza a fibrina com o endotélio lesionado e o
Higashi) ou adquirida pela administração de drogas
tampão plaquetário. Na cascata da coagulação a pre-
(anestésicos, anti-inflamatórios, antibióticos como
sença da vitamina K é essencial na formação dos fato-
penicilina e cefalosporinas), alteração hepática, renal,
res da coagulação dependentes desta (Fatores II, VII,
e nos produtos de degradação de fibrina. As trombas-
IX e X), os que estão nas três vias da coagulação.
tenias são produzidas por uma deficiência no meca-
nismo de adesão, liberação dos componentes intrace-
Os distúrbios da hemostasia secundária, com defeitos
lulares ou da agregação plaquetária. Ocorrem em
em um ou mais fatores da coagulação, são denomina-
doenças renais que cursam com uremia, disproteine-
dos coagulopatias, que podem ser de origem hereditá-
mias (macroglobulinemia ou mieloma múltiplo), ad-
ria (deficiência de fatores da coagulação), tóxica (con-
ministração de fármacos como os AINEs (ácido acetil

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sumo de warfarina, micotoxinas) ou metabólica (hepa- A deficiência de vitamina K e a doença hepática consti-
topatias). tuem as causas mais frequentes das coagulopatias
adquiridas. A vitamina K é essencial para a formação
Os defeitos da coagulação de origem hereditária des- de fatores da coagulação, como II, VII, IX e X. Sua defi-
critos em animais são: ciência ocorre pela ingestão de rodenticidas anticoa-
gulantes (ex.: warfarina, cumarina), afetando as três
Hemofilia A: produzida por déficit do fator VIII (anti- vias da coagulação ao inibir a enzima epóxido redu-
hemofílico). Ocorre principalmente em animais jovens tase, que participa na reciclagem da vitamina K con-
(cães, gatos, cavalos puro sangue, bovinos e ovelhas), vertendo-a em sua forma ativa. A diminuição do pa-
associada a um traço recessivo ligado ao sexo, locali- rênquima hepático funcional afeta as três vias da coa-
zado em um gene defeituoso do cromossomo X. O gulação, que são produzidos pelo fígado. Além disso, a
diagnóstico inclui o tempo de sangramento normal deficiência de sais biliares no intestino impede a ab-
(diferencial com a doença de von Willebrand), TP sorção da vitamina K. Nestes casos o TP e o TTPA es-
normal e TTPA aumentado. tão aumentados.

Hemofilia B: ou doença de Christmas, é caracterizada 2.4.3. Hemostasia terciária


pela ausência do fator IX. Como na hemofilia A, está
ligada ao sexo, afetando machos com aparecimento A fibrinólise constitui a terceira fase da hemostasia, é
pouco frequente em cães e gatos. O diagnóstico labo- o processo enzimático pelo qual a fibrina é degradada,
ratorial é a partir do tempo de sangramento normal, eliminando o coágulo formado como resposta a uma
TP normal e TTPA aumentado, para então ser diferen- lesão vascular, e considera três etapas: a) formação de
ciada mediante provas específicas. ativadores do plasminogênio; b) transformação do
plasminogênio em plasmina; e c) fibrinólise com for-
Doença de von Willebrand: é o transtorno da coagu- mação de produtos de degradação de fibrina (PDFs). A
lação hereditário mais frequente nas diferentes espé- fibrinólise se ativa simultaneamente ao processo de
cies animais, sendo reconhecido em mais de 54 raças coagulação, mantendo um equilíbrio entre eles. A
de cães por deficiência do fator VIII. Existem três tipos plasmina atua localmente degradando o coágulo de
da doença de acordo com o tipo de molécula ou defei- fibrina, produzindo os PDFs que são eliminados por
to na função. macrófagos.

Deficiência do Fator X: afeta Cocker Spaniels e Jack O distúrbio da hemostasia terciária mais frequente e
Russell Terrier. O TP e TTPA estão aumentados. que afeta todas as espécies domésticas é a coagulação
intravascular disseminada (CID), quadro caracterizado
Deficiência do Fator XI: descrita em bovinos Holande- por uma etapa inicial de hipercoagulabilidade, com
ses-Friesian, cães e cabras. Transmitida por um gene formação de trombina com microtrombos, oclusão
autossômico recessivo. O TP está normal e o TTPA está microvascular, disfunção de órgãos como rim e fígado,
aumentado. seguido de uma etapa de hipocoagulabilidade sanguí-
nea causada pelo consumo das plaquetas e dos fato-
Deficiência do Fator VII: descrita em cães, especial- res de coagulação, com aumento da plasmina e dos
mente Beagles. No diagnóstico vê-se TP aumentado e PDFs, desencadeando hemorragias. Ocorre como um
TTPA normal. evento secundário a doenças que cursam com dano
tecidual, hemólise, septicemia, toxemia, endotoxemia
Deficiência do Fator XII: descrita em cães, como Po- (cólica), infecção local ou disseminada (arterite viral
odle, Pointer alemão e Sharpei, e em gatos. O TP é equina), vírus com tropismo endotelial, insuficiência
normal e o TTPA aumentado. hepática (hepatite), doença renal, destruição traumá-
Dentro das coagulopatias de origem tóxica descre- tica ou cirúrgica de tecidos, distocia, e queimaduras
vem-se: a) venenos ofídicos que apresentam atividade extensas. Na CID, além do aumento dos tempos de
proteolítica, vasculotóxica, pró-coagulante ou anticoa- sangramento e coagulação, estão aumentados o TP e
gulante, produzindo defeitos na coagulação ao estimu- TTPA, e no esfregaço sanguíneo podem ser vistos
lar a ativação, consumo e esgotamento da protrombi- esquistócitos.
na e do fibrinogênio; e b) as toxinas de fungos como
aflatoxinas que podem causar um aumento do tempo
de protrombina nos bovinos, suínos e equinos.

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Tabela 0.15. Fatores da coagulação, vida média e vía a que correspondem.
Fator Nome Vida média Via
I Fibrinogênio 1,5-6 dias Comum
II Protrombina 2,0-4,5 dias Comum
III Tromboplastina tissular _ Extrínseca
IV Cálcio _ Todas
V Pró-acelerina 15-24 horas Comum
VII Pró-convertina 1-6 horas Extrínseca
VIII:C Fator anti-hemofílico 3 dias Intrínseca
IX Fator de Christmas 24 horas Intrínseca
X Fator de Stuard-Prower 32-48 horas Comum
XI Antecessor da tromboplastina 30 horas Intrínseca
XII Fator de Hageman 18-52 horas Intrínseca
XIII Estabilizador da fibrina 4,5 -7,0 horas Comum
PK/Pré-calicreína Fator de Fletcher 35 horas Intrínseca
HMWK/Cininogênio Fator de Fitzgerald 6,5 dias Intrínseca
PF3 Fator plaquetário 3 _ Intrínseca e comum

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Figura 0.33. Esquema simplificado da cascata da coagulação.


TTPA= tempo de tromboplastina ativada; TP= tempo de protrombina; T= tromboplastina. a= indica fator ativado.

2.4.4. Avaliação da Hemostasia mostáticas primárias (vasos e plaquetas) são superfici-


A avaliação da presença de alterações na hemostasia é ais, disseminadas, com petéquias e equimoses que
indicada em casos de hemorragia externa, interna ou ocorrem espontaneamente, enquanto que as secun-
hematomas de origem desconhecida. Da mesma for- dárias se manifestam por hemorragias e hematomas
ma, recomenda-se sua avaliação no controle pré- localizados, que são induzidos por traumas.
operatório de animais e naqueles submetidos à tera- Os exames utilizados para avaliação da hemostasia
pia com anticoagulantes e fibrinolíticos. Também se estão destinados a estabelecer alguma alteração nas
deve considerar no controle de animais que cursam plaquetas, nos fatores da coagulação ou na fibrinólise
com doenças que produzem alterações inaparentes na (Tabela 0.16).
hemostasia, como as hepatopatias. As alterações he-

Tabela 0.16. Achados laboratoriais nos trastornos da coagulação.


Transtorno CP TS TC o TCA TP TTPA PDFs
Trombocitopenia (aumento no consumo ou destruição) ⇓ ⇑ - N N N
Trombopatia (vonWillebrand) N ⇑ N N N N
Deficiência via intrínseca (fatores VIII ou IX) N N ou ⇑ ⇑ N ⇑ N
Deficiência via extrínseca (fator VII) N N N ⇑ N N
Deficiência via comum (fator X) N N ou ⇑ N ou ⇑ ⇑ ⇑ N
Deficiência Vitamina K (intoxicação warfarina) N N ou ⇑ N ou ⇑ ⇑ ⇑ N
Coagulação intravascular disseminada (CID) ⇓ ⇑ ⇑ ⇑ ⇑ ⇑
Disfunção hepática N N ou ⇑ N ou ⇑ ⇑ ⇑ N
CP= Contagem plaquetas; TS= tempo de sangria; TC: tempo de coagulação; TCA: tempo de coagulação ativada; TP= tempo de protrombina; TTPA=
tempo de tromboplastina parcialmente ativada; PDFs= Produtos de degradação de fibrina. N= sem mudança; ⇑= aumentado; ⇓= diminuído.

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2.4.4.1. Contagem de plaquetas coagula em menos que 120 segundos em cães e cava-
A contagem entrega o número de plaquetas por volu- los, e menos que 65 segundos em gatos.
me de sangue circulante, considerando-se adequado O TC e o TCA estão aumentados em alterações do
um número de 200.000 a 600.000/µL. Sua determina- sistema intrínseco e comum, como hemofilia, CID,
ção é realizada mediante a contagem em câmara de intoxicação por cumarínicos, deficiência de vitamina K
Neubauer (método de Rees e Ecker que tem um erro ou disfunção hepática. Contaminação com anticoagu-
de 15 a 20%) ou com analisadores hematológicos que lantes, o uso de alguns antibióticos, salicilatos e barbi-
a determinam por impedância ou citometria. É neces- túricos podem prolongar o tempo da prova.
sária uma amostra de sangue com anticoagulante
(idealmente seringa heparinizada) coletada de manei- 2.4.4.4. Tempo de protrombina (TP)
ra não traumática, já que facilmente se produz agre- Determina o tempo necessário para coagular o plasma
gação plaquetária, que induz um valor falsamente citratado logo após a adição de tromboplastina e cál-
diminuído. cio. É uma técnica utilizada para avaliar a atividade do
complexo protrombina (sistemas extrínseco e co-
Também pode estimar-se o número de plaquetas mum). Encontra-se aumentado quando maior a 9
contando aquelas observadas no esfregaço sanguíneo, segundos em cães e 15 segundos em cavalos. Entre-
devendo-se encontrar uma média de 10 a 20 por cam- tanto devem-se considerar informações do fabricante
po de visão ao microscópico com aumento de 1.000x. em kits comerciais e o uso de animais controles. Além
Um valor médio <5 plaquetas/campo sinaliza trombo- disso, os valores variam na literatura. Encontram-se
citopenia. Normalmente em cães devem ser observa- valores aumentados em animais com CID, deficiência
das entre 12 a 15 plaquetas por campo e nos gatos de do fator VII, fibrinogênio, vitamina K, intoxicação por
10 a 12 por campo. Cada plaqueta por campo corres- cumarina e hepatopatias severas.
ponde entre 12.000 a 15.000 plaquetas por µL de
sangue. 2.4.4.5. Tempo de tromboplastina parcial ativada
(TTPA)
2.4.4.2. Tempo de sangramento (TS) Determina o tempo necessário para coagular o plasma
É realizado para avaliar a função plaquetária, de modo citratado logo após a adição de cefalina (tromboplas-
que o animal deve ter >75.000/µL para que o teste tina parcial), caulinita e calcio. A cefalina é um substi-
tenha utilidade. Determina o tempo necessário para tuo para o fator plaquetário. É um técnica utilizada
deter o sangramento produzido por uma lesão induzi- para avaliar os sistemas intrínseco e comum. Encon-
da por uma lanceta de cerca de 0,5 cm, realizada na tra-se aumentado quando maior que 16 segundos em
mucosa (lábio) ou pele desprovida de pelos. O sangue caninos, e maior a 45 segundos em equinos, em casos
da ferida deve ser seco a cada 30 segundos, esperando de deficiência dos fatores XII, XI, IX, VIII, V, II, I ou CID,
que o sangramento cesse em menos de 6 minutos. deficiência do fator VII, fibrinogênio, vitamina K, into-
Um tempo aumentado é observado em trombastení- xicação por cumarínicos. Devem-se considerar infor-
as. Também aparece aumentado em casos de trombo- mações do fabricante em kits comerciais, e o uso de
citopenia e lesão de endotélios (vasculite). Em coagu- animais controles.
lopatias o TS estará normal, mas podem ocorrer he-
morragias posteriores à formação do tampão plaque- Para a realização do TP e do TTPA é necessário uma
tário. amostra de plasma fresco (menos de uma hora) reti-
rado de uma amostra de sangue com citrato de sódio
2.4.4.3. Tempo de coagulação (TC) e tempo de coagu- (3,8% em relação 9:1) e não contaminada com trom-
lação ativada (TCA) boplastina tecidual. Idealmente deve-se realizar a
O TC é um método rápido e de fácil execução, mas prova em paralelo com um plasma controle, conside-
pouco sensível, que determina o tempo transcorrido rando como valores anormais aumentos maior a 4
entre a obtenção do sangue e sua coagulação em um segundos em relação ao controle. Pode existir um
tubo de vidro mantido a 37°C. Realiza-se em três tubos alongamento das provas por excesso de citrato e de-
de ensaio (método de Lee-White) nos quais se deposi- ve-se considerar que os fatores V, VII e VIII perdem
ta 1mL de sangue, e se deixa repousando a 37°C. Esta- atividade em cinco a oito horas após a extração.
belece-se o tempo médio para a coagulação dos três
tubos. O tempo normal de coagulação é menor a 13 2.4.4.6. Produtos de degradação de fibrina (PDFs)
minutos. A atividade dos produtos de degradação da fibrina
evidencia o grau de fibrinólise in vivo. Determina um
Um método mais preciso é o TCA, que determina o aumento de PDFs circulante gerados durante a fibrinó-
tempo transcorrido entre o esvaziamento do sangue lise. Um método simples é a prova de aglutinação em
em tubo de vidro que contem um ativador (terra de látex, cujo resultado positivo indica um aumento de
diatomáceas) e sua coagulação. O tubo é mantido a trombos ou coágulos por fibrinólise em casos de CID,
37°C e logo após um minuto se observa a amostra a também pode ser maior depois de cirurgias. Sua con-
cada 10 segundos. Em condições normais o sangue

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centração plasmática é variável entre espécies, no cão 2º. Definir a magnitude do aumento ou diminuição. A
<40 µg/mL; gato <8 mg/mL, e no equino <16 µg/mL. alteração pode ser leve, moderada ou severa, em base
na magnitude da alteração, a variação do analito, a
espécie e o critério clínico.
2.5. CONSIDERAÇÕE PARA A INTERPRETAÇÃO DO
HEMOGRAMA
3º. Considerar todos os fatores individuais, fisiológi-
As informações obtidas do hemograma (eritrograma,
cos, patológicos e iatrogênicos que podem estar pro-
leucograma e plaquetas), devem ser usadas de forma
duzindo a alteração (Tabela 0.17).
ordenada e sequencial para obterem-se conclusões
clínicas válidas:
4º. Concluir se a mudança corresponde a uma respos-
ta patológica e a importância que representa.
1º. Observar os valores e comparar com os intervalos
de referência (IR) entregues pelo mesmo laboratório.
Na Tabela 0.17 apresentam-se os principais analitos
Em geral, é recomendado utilizar os valores absolutos
incorporados no hemograma, às alterações que po-
e não relativos.
dem ser encontradas, e as alterações mais frequentes
observadas nas espécies domésticas.

Tabela 0.17. Interpretação do hemograma.


Exame Mudança Denominação Alteração
Contagem eritrocitária, concentração de ↑ Eritrocitose Desidratação: Hemoconcentração
Hemoglobina e hematócrito ↓ Anemia Hemorrágica: proteínas ↓
Hemolítica: bilirrubina ↑
Aplastica: parasitismo, desnutrição
VCM ↑ Macrocítica Anemia regenerativa
↓ Microcítica Deficiência Fe, Cu
CHCM ↓ Hipocrômica Deficiência Fe, Cu
Eritrócitos imaduros (HJ, nucleados, etc.) ↑ Regeneração Hemorragia aguda
Hemólise aguda
Contagem leucócitos ↑ Leucocitose Contagem diferencial
↓ Leucopenia Contagem diferencial
Fórmula: ↑ Neutrofilia Resposta adrenérgica
Neutrófilos segmentados ↑ Estresse, corticoides
Inflamação: Infecção bacteriana
Necrose tecidual
2ª a hemorragias
↓ Neutropenia Infecção bacteriana sobre aguda
Toxemia, Infecção viral aguda
Bastões ↑ Desvio a esquerda Infecção bacteriana aguda ou subaguda
Linfócitos ↑ Linfocitose Estímulo sistema Imune
Linfossarcoma
Hipoadrenocorticismo
↓ Linfopenia Estresse, Imunodeficiência
Monócitos ↑ Monocitose Inflamação com destruição de tecidos
Eosinófilos ↑ Eosinofilia Alergia, parasitismo
Necrose de tecidos
Hipoadrenocorticismo
↓ Eosinopenia Estresse ou corticoides
Plaquetas ↓ Trombopenia Depressão medular o u↑ consumo ou destrui-
ção
Proteínas ↑ Hiperproteinemia Desidratação
↓ Hipoproteinemia Perda pela urina, fezes, hemorragia
↑ = Aumento ↓ = Diminuição

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2.6. EXERCÍCIOS b) O cão apresenta anemia moderada a intensa, ma-
crocítica, normocrômica, regenerativa com hipopro-
2.6.1.1. Caso 7
teinemia.
Você é requisitado para interpretar o seguinte eritro-
c) Conclui-se que o paciente cursa com anemia mo-
grama pertencente a um equino que apresenta um
derada a intensa, regenerativa e de caráter subagudo
quadro agudo de cólica. Sua condição cardiovascular
que poderia ser resultado de uma hemorragia, presu-
indica taquicardia (80 batimentos/min), aumento do
midamente associada a uma úlcera gástrica.
tempo de preenchimento capilar (3 segundos), muco-
sas congestas e pulso débil.
Análise Resultado IR
2.6.1.3. Caso 9
Eritrócitos 12,5 x 106/µL 6,0 – 9,5 Você é consultado para interpretar o seguinte eritro-
Hematócrito 57% 35 – 47 grama pertencente a um gato que está sendo subme-
Hemoglobina 20,5 g/dL 12,2 – 16,4 tido a uma quimioterapia por leucemia e que atual-
VCM 44 fL 40 – 61 mente apresenta debilidade.
CHCM 37,0 g/dL 32,0 – 39,0 Análise Resultado IR
Eritrócitos nucleados 0 x 100 leucócitos 0 Eritrócitos 2,8 x 106/µL 5,0 – 10,0
Anisocitose Negativo Escasso Hematócrito 20% 24 – 45
Policromasia Negativo Negativo Hemoglobina 53 g/dL 8,0 – 15,0
Howell-Jolly Negativo Negativo VCM 71 fL 39 – 55
Outro: Proteínas 9,8 g/dL 6,8 – 8,4 CHCM 26,0 g/dL 30,0 – 35,0
Eritrócitos nucleados 0 x 100 leucócitos 0
Anisocitose Escasso Escasso
Pergunta-se: Policromasia Negativo Escasso
a) Indicar as variáveis alteradas nos resultados. Howell-Jolly Negativo Escasso
b) Nomeie as alterações encontradas. Outro: Proteínas 6,6 g/dL 5,4 – 7,8
c) Como você interpreta o resultado?
Pergunta-se:
Respostas:
a) Identifique as variáveis alteradas nos resultados.
a) Contagem de eritrócitos, hemoglobina, hematócri-
b) Nomeie as alterações encontradas.
to aumentados; proteínas plasmáticas elevadas.
c) Como você interpreta o resultado?
b) O equino apresenta eritrocitose com hiperprotei-
nemia.
Respostas:
c) Conclui-se que o paciente cursa com eritrocitose
a) Contagem de eritrócitos, hematócrito e hemoglo-
relativa de prognóstico reservado.
bina diminuídos; eritrócitos sem alterações morfológi-
cas; proteínas plasmáticas dentro do intervalo de
2.6.1.2. Caso 8
referência.
Você é consultado para interpretar o seguinte eritro-
b) O gato apresenta anemia macrocítica, hipocrômi-
grama pertencente a um cão adulto que apresenta um
ca, não regenerativa com normoproteinemia.
quadro de gastrite com vômitos frequentes, perda de
c) Conclui-se que o paciente cursa com anemia mo-
condição corporal e decaimento progressivo.
Análise Resultado IR
derada, não regenerativa, resultado de uma displasia
Eritrócitos 2,0 x 106/µL 5,50 – 8,50 eritropoiética associada à quimioterapia.
Hematócrito 18% 37 – 50
Hemoglobina 6,0 g/dL 12,0 – 18,0 2.6.1.4. Caso 10
VCM 90 fL 60 – 77 Você é consultado para interpretar o seguinte leuco-
CHCM 33,0 g/dL 32,0 – 37,0
grama pertencente a uma cadela de cinco anos de
Eritrócitos nucleados 2 x 100 leucócitos 0
Anisocitose Abundante Escasso idade que apresentou estro um mês atrás e cursa com
Policromasia Abundante Escasso depressão. Anorexia, febre, vômitos, desidratação,
Howell-Jolly Moderado Escasso abdômen distendido e secreção vaginal.
Outro: Proteínas 4,5 g/dL 5,5 – 7,5 Análise Resultado
Fórmula IR % Fórmula IR /µL
relativa Absoluta
Pergunta-se: Leucócitos 100% - 40.800 8.000 – 14.000
a) Identifique as variáveis alteradas nos resultados. Basófilos 0 0–1 0 0 – 200
b) Nomeie as alterações encontradas. Eosinófilos 0 1 – 10 0 100 – 1.500
Neutr seg- 59 55 – 75 24.072 3.300 – 10.000
c) Como você interpreta o resultado?
mentados
Neutrófilos 19 0–3 7.752 0 – 300
Respostas: bastões
a) Contagem de eritrócitos, hematócrito e hemoglo- Neutrófilos 3 0 1.224 0
bina diminuídos; VCM elevado com CHCM normal; juvenis
Linfócitos 5 12 – 30 2.040 1.000 – 4.500
metarubricitos, e eritrócitos com sinais de imaturida- Monócitos 14 1–7 5.712 100 – 700
de; proteínas plasmáticas normais. Morfologia Abundantes neutrófilos com citoplasma basofílico e
com vacúolos

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Pergunta-se: Você é consultado para interpretar o seguinte leuco-
a) Nomeie as principais alterações encontradas. grama pertencente a uma vaca de cinco anos de idade
b) Como você interpreta o resultado? que apresenta adenopatia crônica acompanhada de
c) Qual é sua conclusão clínica? anorexia e baixa produção de leite.
Análise Resultado
Respostas: Fórmula IR % Fórmula IR /µL
relativa Absoluta
a) Leucocitose intensa com neutrofilia relativa e abso- Leucócitos 100% - 94.000 5.000 – 9.500
luta com desvio à esquerda regenerativo e com dege- Basófilos 0 0–2 0 0 – 200
neração tóxica. Além disso, encontra-se monocitose Eosinófilos 0 2 – 12 0 200 – 1.000
relativa e absoluta, e eosinopenia relativa e absoluta. Neutrófilos 2 15 – 45 1.880 1.100 – 4.000
b) A cadela está cursando com um processo inflama- segmentados
Neutrófilos 0 0–2 0 0 – 100
tório supurativo localizado, de caráter subagudo que bastões
se associa a uma toxemia e estresse. Neutrófilos 0 0 0 0
c) Conclui-se que o leucograma é compatível a um juvenis
quadro de piometra. Linfócitos 97 40 – 70 91.180 2.200 – 5.800
Monócitos 1 2–8 940 0 – 700
Morfologia Abundantes linfócitos grandes com nucléolo, e em
2.6.1.5. Caso 11 mitose
Você é consultado para interpretar o seguinte leuco-
grama pertencente a um potro de um ano de idade,
que apresenta uma diarreia severa por 24 horas Pergunta-se:
acompanhada por depressão, anorexia e febre. a) Nomeie as principais alterações encontradas.
Análise Resultado b) Como você interpreta o resultado?
Fórmula IR % Fórmula IR /µL c) Qual é sua conclusão clínica?
relativa Absoluta
100% - 2.500 5.000 – 11.000
Leucócitos Respostas:
Basófilos
0 0–3 0 0 – 300 a) Leucocitose intensa com severa linfocitose relativa
0 1–8 0 100 – 800 e absoluta, alguns imaturos. Neutropenia relativa
Eosinófilos secundária a intensa linfocitose.
20 33 – 70 500 2.200 – 6.100
Neutr seg- b) A resposta hematológica é própria de um quadro
mentados proliferativo crônico de tecido linfoide.
35 0–3 875 0 – 200 c) A vaca está cursando com uma leucemia compatí-
Neutrófilos
bastões vel com uma leucose enzoótica bovina.
5 0 125 0
Neutrófilos
juvenis 2.6.1.7. Caso 13
35 24 – 60 875 1.500 – 6.500 Você é consultado para interpretar o seguinte leuco-
Linfócitos
5 0–7 125 0 – 600 grama pertencente a uma vaca de três anos de idade
Monócitos que apresenta febre, timpanismo recidivante, anore-
Escassos neutrófilos com granulação basofilica
Morfologia xia e queda brusca na produção de leite.
Análise Resultado
Fórmula IR % Fórmula IR /µL
Pergunta-se: relativa Absoluta
a) Nomeie as principais alterações encontradas 100% - 13.500 5.000 – 9.500
Leucócitos
b) Como você interpreta o resultado? 0 0–2 0 0 – 200
Basófilos
c) Qual é sua conclusão clínica?
1 2 – 12 135 200 – 1.000
Eosinófilos
Respostas: 64 15 – 8.640 1.100 – 4.000
Neutr seg- 45
a) Leucopenia moderada com neutropenia absoluta e mentados
desvio à esquerda degenerativo. Além de monocitose, 5 0–2 675 0 – 100
Neutrófilos
eosinopenia relativa e absoluta. bastões
b) A resposta hematológica é própria de um quadro 0 0 0 0
Neutrófilos
inflamatório peragudo, com neutropenia por depleção juvenis
resultado de uma rápida migração ao foco inflamató- 20 40 – 2.700 2.200 – 5.800
Linfócitos
rio, acompanhada da liberação medular de bastões. 70
c) O potro está cursando com um processo inflama- 10 2–8 1.350 0 – 700
Monócitos
tório agudo com uma resposta medular ainda insufici-
Morfologia
ente, associada à toxemia e estresse, leucograma
compatível como uma enterite por salmonelose.

Pergunta-se:
2.6.1.6. Caso 12 a) Nomeia as principais alterações encontradas.

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Material divulgado com fim didático da disciplina de Patologia Clínica Veterinária, UNIPAMPA, 2º semestre 2014.
b) Como você interpreta o resultado? b) A reposta hematológica é própria de uma resposta
c) Como é sua conclusão clínica? a um processo inflamatório supurativo localizado de
caráter subagudo.
Respostas: c) A vaca está cursando com uma infecção bacteriana
a) Leucocitose com moderada neutrofilia e leve des- compatível com reticulopericardite traumática.
vio à esquerda regenerativo. Monocitose e leve eosi-
nopenia.

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