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💉 MÓDULO V - MECANISMOS DE AGRESSÃO E DEFESA 💉

TUTORIA 1

HEMATOPOESE

O processo pelo qual os elementos figurados Eritrócitos - Hemácias


do sangue se desenvolvem é chamado de Também conhecidas como glóbulos
hemopoese, eritropoese ou hematopoese. vermelhos, são células sanguíneas
Antes do nascimento, a hemopoese ocorre especializadas que desempenham um papel
primeiramente no saco vitelino do embrião e, fundamental no transporte de oxigênio dos
depois, no fígado, no baço, no timo e nos pulmões para os tecidos e na remoção do
linfonodos do feto. A medula óssea vermelha dióxido de carbono resultante do metabolismo
se torna o principal local de hemopoese nos celular.
últimos 3 meses da gravidez e continua sendo As hemácias têm uma forma bicôncava, o que
a fonte de células sanguíneas depois do significa que elas são achatadas no centro,
nascimento e ao longo da vida. parecendo um disco côncavo em ambas as
A fim de formar células sanguíneas, as faces. Essa forma aumenta a superfície
células-tronco pluripotentes na medula óssea disponível para a troca gasosa, e a
vermelha produzem mais dois tipos de biconcavidade também permite que elas se
células-tronco, que possuem a capacidade de deformem facilmente para passar através dos
se desenvolver em vários tipos celulares. Essas capilares estreitos, facilitando a circulação
células-tronco são chamadas de células-tronco sanguínea.
mieloides e células-tronco linfoides. As hemácias maduras humanas perdem seu
núcleo e muitas organelas durante o
Células Mieloides desenvolvimento, o que proporciona mais
As células-tronco mieloides começam o seu espaço para a hemoglobina, a molécula
desenvolvimento na medula óssea vermelha e responsável pelo transporte de oxigênio. A
dão origem a hemácias, plaquetas, monócitos, hemoglobina é uma proteína contida nas
neutrófilos, eosinófilos, basófilos e mastócitos. hemácias, sendo responsável pela ligação e
transporte de oxigênio. Cada hemácia possui
Células Linfoides cerca de 250 milhões de moléculas de
As células-tronco linfoides, que dão origem hemoglobina, e cada molécula da proteína
aos linfócitos, começam o seu liga-se a quatro moléculas de O2. Portanto,
desenvolvimento na medula óssea vermelha, cada hemácia é capaz de transportar
porém o completam nos tecidos linfáticos. As aproximadamente 1 bilhão de moléculas de
células-tronco linfoides também originam as O2.
células natural killer (NK). A função primordial das hemácias é
transportar oxigênio dos pulmões para os
tecidos periféricos do corpo. A hemoglobina
nas hemácias se liga ao oxigênio nos pulmões
e o libera nos tecidos onde é necessário para o
metabolismo celular. As hemácias também
desempenham um papel na remoção do
dióxido de carbono, um produto residual do
metabolismo celular, transportando-o dos
tecidos de volta para os pulmões, onde é
expirado, assim, contribuem na manutenção do
pH corporal.

Yeza Figueiredo - Medicina: II Período 🩺


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Apesar de não terem núcleo e organelas, as desempenhando um papel na resposta
hemácias podem circular na corrente imunológica e na defesa do organismo contra
sanguínea por cerca de 120 dias antes de serem infecções.
removidas pelo sistema reticuloendotelial,
principalmente no baço e no fígado. Leucócitos - Glóbulos Brancos
Os homens têm cerca de 5 400 000 eritrócitos Diferentemente das hemácias, os leucócitos
por milímetro cúbico de sangue, enquanto as possuem núcleos e um complemento total de
mulheres têm cerca de 4 500 000. Quando um outras organelas, porém não contêm
exame de sangue é realizado e os valores de hemoglobina.
eritrocitários estão longe desses parâmetros, o Os leucócitos são classificados como
resultado anormal pode revelar a presença de granulócitos ou agranulares agranulócitos,
uma doença ou algum tipo de distúrbio. dependendo se contêm notáveis grânulos
Quando uma pessoa tem baixo nível de citoplasmáticos cheios de substâncias
eritrócitos no sangue, ela tem anemia. Essa químicas.
patologia pode ser um sinal de um problema Os leucócitos granulócitos englobam os
gastrointestinal, hipertireoidismo, neutrófilos, os eosinófilos e os basófilos; os
hipotireoidismo, insuficiência renal ou leucócitos agranulócitos abarcam os linfócitos
desnutrição, por exemplo. Se o nível de e os monócitos. Os monócitos e os leucócitos
eritrócitos estiver alto, por outro lado, é granulócitos se desenvolvem a partir de
denominado policitemia, que pode indicar células-tronco mieloides. Em contrapartida, os
distúrbios renais, obesidade, doenças linfócitos evoluem a partir de células-tronco
pulmonares e cardíacas, tumores e outros. linfoides. Eles são formados, em parte, na
medula óssea (granulócitos, monócitos e
Trombócitos - Plaquetas alguns linfócitos) e, em outra, no tecido
São fragmentos celulares pequenos e linfático (linfócitos e plasmócitos). Após sua
anucleados que desempenham um papel formação, eles são transportados pelo sangue
crucial na coagulação sanguínea. para diversas partes do corpo, onde forem
As plaquetas são células muito pequenas, em necessários.
comparação com os glóbulos vermelhos e os Eles são especificamente transportados para
glóbulos brancos, e não possuem núcleo. Elas áreas de infecção e inflamação graves,
são fragmentos celulares derivados dos promovendo a rápida e potente defesa contra
megacariócitos, têm uma forma irregular e agentes infecciosos.
podem variar em tamanho e forma, mas
geralmente são discoides ou esféricas. Leucócitos Granulócitos
A função primária das plaquetas é participar
do processo de coagulação sanguínea. Quando Neutrófilos
ocorre uma lesão nos vasos sanguíneos, as Os neutrófilos são leucócitos granulócitos. São
plaquetas são atraídas para o local da lesão, um tipo de fagócito muito importante na
aderem à superfície danificada e liberam imunidade inata. A principal função dos
substâncias químicas que estimulam a neutrófilos é fagocitar microrganismos,
formação de um coágulo sanguíneo, o que especialmente os microrganismos
ajuda a interromper o sangramento. opsonizados, e produtos de células necróticas,
Além de seu papel na coagulação, as plaquetas bem como destruir esse material nos
também liberam fatores de crescimento que fagolisossomos.
estimulam a regeneração e reparo dos tecidos Os neutrófilos constituem a população mais
danificados. abundante de leucócitos circulantes e o
As plaquetas também interagem com outras principal tipo celular nas reações inflamatórias
células sanguíneas, como os leucócitos, agudas. Devido à sua morfologia nuclear, os

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neutrófilos também são chamados leucócitos Leucócitos Agranulócitos
polimorfonucleares. O citoplasma contém dois
tipos de grânulos ligados à membrana. A Linfócitos
maioria desses grânulos, chamados grânulos O núcleo de um linfócito possui uma
específicos, estão repletos de enzimas, como coloração escura e é redondo ou discretamente
lisozima, colagenase e elastase. endentado.
Podem migrar rapidamente para sítios de São classificados de acordo com o diâmetro
infecção após a entrada de microrganismos. celular como linfócitos grandes (10 a 14 μm)
Após entrarem nos tecidos, os neutrófilos ou pequenos (6 a 9 μm). Embora a importância
atuam apenas durante 1-2 dias e, então, funcional da diferença de tamanho entre os
morrem; a resposta do neutrófilo é rápida, e a linfócitos pequenos e grandes não seja
expectativa de vida dessas células é curta, conhecida, a distinção é útil do ponto de vista
usando rearranjos do citoesqueleto e clínico porque a elevação da contagem de
montagem de enzimas para gerar respostas linfócitos grandes tem importância diagnóstica
rápidas e transientes. nas infecções virais agudas e em algumas
doenças causadas por imunodeficiência.
Eosinófilos Células ímpares da imunidade adaptativa, são
Os grânulos grandes e de tamanho uniforme as únicas células no corpo que expressam
dentro de um eosinófilo são eosinofílicos receptores antigênicos clonalmente
(atraídos pela eosina) – eles se coram de distribuídos, cada um dos quais específico para
vermelho-alaranjado com corantes ácidos. um determinante antigênico diferente.
Desempenham um papel crucial na resposta Experimentos realizados com camundongos e
imune contra parasitas, especialmente ratos mostraram que a depleção de linfócitos
helmintos (vermes parasitas). Eles se comprometia as respostas às imunizações, e
acumulam em áreas afetadas por infecções que os linfócitos são o único tipo celular capaz
parasitárias para destruir e eliminar os de transferir imunidade específica a
parasitas. Eosinófilos estão frequentemente microrganismos de animais imunizados para
associados a reações alérgicas e atuam na animais naive, os receptores
regulação da resposta imune relacionada a antígeno-específicos clonalmente distribuídos
alergias. Eles liberam substâncias químicas e altamente diversificados são produzidos
que ajudam a modular a resposta inflamatória. unicamente por linfócitos, e por nenhum outro
tipo de célula.
Basófilos O repertório extremamente diversificado de
Os grânulos redondos e de tamanho variado de receptores antigênicos com diferentes
um basófilo são basofílicos (atraídos pela especificidades é gerado a partir de um
base) – eles se coram de azul-arroxeado com pequeno número de genes codificadores desses
corantes básicos. Os basófilos desempenham receptores, presentes na linhagem germinativa.
um papel importante nas reações alérgicas. Hoje, sabe-se que os genes codificadores de
Eles liberam histamina e outras substâncias receptores antigênicos de linfócitos são
químicas que contribuem para os sintomas formados pela recombinação de segmentos de
alérgicos, como vasodilatação, aumento da DNA durante a maturação dessas células.
permeabilidade capilar e contração dos Existe um aspecto aleatório nesses eventos de
músculos lisos. recombinação somática que resulta na geração
de milhões de diferentes genes de receptor
recombinados e em um repertório altamente
diverso de especificidades antigênicas entre
diferentes clones de linfócitos.

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Linfócitos B Os macrófagos teciduais desempenham várias
Os linfócitos B são células produtoras de funções importantes na imunidade inata e na
anticorpos; foram assim chamados por terem imunidade adaptativa. Uma das principais
sido encontrados em processo de funções dos macrófagos na defesa do
amadurecimento em um órgão chamado bursa hospedeiro é ingerir microrganismos por meio
(bolsa) de Fabricius encontrado em aves. Em do processo de fagocitose e, então, destruir os
mamíferos, não há equivalente anatômico da microrganismos ingeridos. Os mecanismos de
fagocitose e killing, incluem a formação de
bursa, e os estágios iniciais da maturação da
organelas citoplasmáticas ligadas à membrana
célula B ocorrem na medula óssea.
que contêm os microrganismos; a fusão dessas
organelas com os lisossomos; a geração de
Linfócitos T espécies reativas de oxigênio e nitrogênio no
Os linfócitos T, mediadores da imunidade lisossomo que são tóxicas para os
celular, surgem a partir de células precursoras microrganismos; e a digestão das proteínas
na medula óssea que migram e amadurecem microbianas por enzimas proteolíticas.
no timo; portanto, linfócitos T se refere aos Além de ingerir microrganismos, os
linfócitos derivados do timo. macrófagos ingerem células necróticas do
hospedeiro, incluindo as células que morrem
Monócitos e Macrófagos nos tecidos em consequência dos efeitos de
O núcleo de um monócito normalmente tem toxinas, traumatismo ou interrupção do
forma de rim ou de ferradura e o citoplasma é suprimento sanguíneo, e também os
azul-acinzentado e possui uma aparência neutrófilos que morrem após se acumularem
espumosa. em sítios de infecção.
Os macrófagos também reconhecem e
O sangue é meramente um conduto para os
englobam células apoptóticas antes de estas
monócitos, que migram do sangue para os
poderem liberar seus conteúdos e induzir
tecidos, onde crescem e se diferenciam em
respostas inflamatórias. No decorrer da vida
macrófagos, essas células estão amplamente inteira de um indivíduo, as células indesejadas
distribuídas em todos os órgãos e no tecido morrem por apoptose como parte de muitos
conectivo. Alguns se tornam macrófagos fixos processos fisiológicos, como desenvolvimento,
(tecido), o que quer dizer que residem em um crescimento e renovação de tecidos sadios,
tecido particular; os macrófagos alveolares nos sendo que as células mortas são eliminadas
pulmões ou macrófagos no baço são alguns pelos macrófagos.
exemplos. Outros se tornam macrófagos Os macrófagos são ativados por substâncias
nômades, que vagam pelos tecidos e se reúnem microbianas e secretam diferentes citocinas
em locais de infecção ou inflamação. que atuam sobre as células endoteliais do
Os monócitos ao se transformarem em revestimento dos vasos sanguíneos,
macrófagos nos tecidos, podem viver por intensificando o recrutamento de mais
longos períodos e, desse modo, sua resposta monócitos e outros leucócitos do sangue para
os sítios de infecção, amplificando assim a
pode ter duração prolongada, se dando
resposta protetora contra os microrganismos.
principalmente pela transcrição de novos
Os macrófagos atuam como células
genes.
apresentadoras de antígeno (APCs, do inglês,
antigen-presenting cells) que exibem
fragmentos de antígenos proteicos e ativam
linfócitos T. Esta função é importante na fase
efetora das respostas imunes mediadas pela
célula T.

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SISTEMA IMUNE 3. Proteger o corpo de invasores que causam
doenças, conhecidos como patógenos. Os
Imunidade significa proteção contra doença e, microrganismos (micróbios) que agem como
mais especificamente, doença infecciosa. As patógenos incluem bactérias, vírus, fungos e
células e moléculas responsáveis pela protozoários unicelulares. Patógenos maiores
imunidade constituem o sistema imune, e sua incluem parasitos multicelulares, como
resposta coletiva e coordenada à entrada de ancilóstomos e tênias. Quase todas as
substâncias estranhas é denominada resposta moléculas ou células exógenas têm o potencial
imune. O sistema imune humano é constituído de desencadear uma resposta imune.
pelos tecidos linfáticos do corpo, pelas células
imunes e pelas substâncias químicas (tanto as Autoimunidade
intracelulares quanto as secretadas) que Mecanismos que normalmente protegem os
coordenam e executam as funções imunes. indivíduos contra uma infecção e eliminam
substâncias estranhas também são capazes de
Funções causar lesão tecidual e doença em algumas
A função fisiológica do sistema imune é a situações.
defesa contra microrganismos infecciosos; Portanto, uma definição mais inclusiva de
prevenindo e erradicando infecções. resposta imune é uma reação aos
Entretanto, mesmo substâncias estranhas não microrganismos, assim como às moléculas,
infecciosas e produtos de células danificadas que são reconhecidas como estranhas,
podem elicitar respostas imunes. independentemente da consequência
A principal função do sistema imune é fisiológica ou patológica de tal reação. Sob
reconhecer o “próprio” e o “não próprio”. certas situações, mesmo moléculas próprias
“Não próprio” inclui vírus, bactérias, parasitos podem elicitar respostas imunes (as chamadas
e outras entidades causadoras de doenças, bem doenças autoimunes).
como nossas próprias células que tenham se
tornado defeituosas e ameacem fazer mal, Início da Imunologia
como as que se tornam câncer. As principais O primeiro exemplo claro dessa manipulação,
funções são: foi a vacinação bem-sucedida realizada por
1. Tentar reconhecer e remover células Edward Jenner contra a varíola. Jenner, um
“próprias” anormais criadas quando o médico inglês, percebeu que ordenhadoras que
crescimento celular normal e o tinham se recuperado da varíola bovina nunca
desenvolvimento dão errado. Por exemplo, as contraíam a varíola humana, forma mais grave
doenças que chamamos de câncer resultam de da doença. Com base nessa observação, ele
células normais que se multiplicam injetou o material de uma pústula de varíola
descontroladamente, distanciando-se de bovina no braço de um menino de 8 anos.
células normais e perdendo as suas funções. Quando esse menino foi posteriormente
Os cientistas acreditam que as células inoculado com a varíola humana, a doença não
cancerígenas são regularmente formadas, mas se desenvolveu.
são geralmente detectadas e destruídas pelo O tratado de Jenner, um marco sobre
sistema imune antes que fiquem fora de vacinação (do latim vaccinus, ou derivado de
controle. vacas) foi publicado em 1798. O tratado levou
2. Remover células mortas ou danificadas, à aceitação geral desse método para a indução
como os eritrócitos. Células scavenger do da imunidade contra doenças infecciosas, e a
sistema imune, como macrófagos, patrulham o vacinação permanece o método mais efetivo
compartimento extracelular, englobando e para a prevenção de infecções. Esta
digerindo células mortas ou que estão abordagem levou à erradicação mundial da
morrendo.

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varíola, a única doença que foi eliminada da positivo é importante para capacitar o pequeno
civilização pela intervenção humana. número de linfócitos, que são específicos para
qualquer microrganismo, a gerarem a ampla
Disfunções do Sistema Imune resposta necessária à erradicação daquela
infecção.
Respostas Incorretas
Se os mecanismos para diferenciar o próprio Os Três Níveis da Defesa Imune
do não próprio falham e o sistema imune ataca O sistema imune dos vertebrados compreende
as células normais do corpo, isso resulta em três níveis de defesa. Em primeiro lugar, existe
uma doença autoimune. O diabetes mellitus uma barreira física à infecção, que é
tipo 1, no qual proteínas produzidas pelo proporcionada pela pele nas superfícies mais
sistema imune destroem as células do externas do corpo, juntamente com as
pâncreas, é um exemplo de uma doença secreções mucosas que recobrem as camadas
autoimune humana. epidérmicas das superfícies internas dos
sistemas respiratório, digestório e genital.
Respostas Exageradas Qualquer agente infeccioso que tente penetrar
Alergias são condições nas quais o sistema no corpo precisa em primeiro lugar atravessar
imune gera uma resposta que é fora de essas superfícies, que são, em grande parte,
proporção em relação à ameaça representada impermeáveis aos microrganismos; isso
pelo antígeno. Em casos extremos, os efeitos explica por que cortes e arranhões que
sistêmicos das respostas alérgicas podem rompem essas barreiras físicas são
ameaçar a vida. frequentemente seguidos por infecção.
O segundo nível de defesa é proporcionado
Falta de Resposta pelo sistema imune inato, um sistema de
As doenças por imunodeficiência ocorrem defesa de ação relativamente amplo, porém
quando componentes do sistema imune não altamente efetivo, encarregado, em grande
funcionam adequadamente. As parte, de tentar destruir os agentes infecciosos
imunodeficiências primárias são uma família a partir do momento em que eles penetram no
de distúrbios geneticamente herdados que corpo.
variam de leves a graves. As As ações do sistema imune inato também são
imunodeficiências adquiridas podem ocorrer responsáveis por alertar as células que atuam
como resultado de infecção, como a síndrome no terceiro nível de defesa, o sistema imune
da imunodeficiência adquirida (AIDS), adaptativo (ou adquirido). Essas últimas
causada pelo vírus da imunodeficiência células representam as tropas de elite do
humana (HIV). As imunodeficiências sistema imune e podem desencadear um
adquiridas também podem surgir como efeito ataque que foi especificamente adaptado à
colateral de tratamentos medicamentosos ou natureza do agente infeccioso, utilizando
com radiação, como os utilizados no defesas sofisticadas, como os anticorpos.
tratamento do câncer.

Regulação
As respostas imunes são reguladas por um
sistema de alças de feedback positivo que
amplificam a reação e por mecanismos de
controle que previnem reações inapropriadas
ou patológicas. Quando ativados, os linfócitos
disparam mecanismos que aumentam ainda
mais a magnitude da resposta. Esse feedback

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IMUNIDADE INATA próprio e ignorar o próprio). Todavia, é
também uma fraqueza no sentido de que a
A imunidade inata (também chamada de especificidade de determinado PRR para um
imunidade natural ou imunidade nativa) é patógeno isolado é insatisfatória, visto que
essencial para a defesa contra microrganismos esses receptores não apresentam qualquer taxa
nas primeiras horas ou dias após a infecção, apreciável de mutação.
antes que as respostas imunes adaptativas
tenham se desenvolvido. A imunidade inata é Componentes
mediada por mecanismos que já existem antes
da ocorrência de uma infeção (por isso inata) e Barreiras Epiteliais
que facilitam rápidas respostas contra As superfícies epiteliais intactas formam
microrganismos invasores. barreiras físicas entre os microrganismos
Para a maioria das respostas inatas aos presentes no meio externo e o tecido do
microrganismos, não há alteração considerável hospedeiro, e as células epiteliais produzem
na qualidade ou magnitude da resposta após compostos químicos antimicrobianos que
repetidas exposições — ou seja, há pouca ou impedem adicionalmente a entrada dos
nenhuma memória. microrganismos.
A resposta imune inata é ativada pelo As principais interfaces entre o ambiente e o
reconhecimento de um conjunto relativamente hospedeiro mamífero são a pele e as
limitado de estruturas moleculares que são superfícies de mucosa dos tratos
produtos de microrganismos ou são expressas gastrintestinal, respiratório e geniturinário.
por células lesadas ou mortas do hospedeiro. Essas interfaces são revestidas por camadas
Estima-se que o sistema imune inato contínuas de células epiteliais especializadas
reconheça apenas cerca de 1.000 produtos de que desempenham muitas funções fisiológicas,
microrganismos e células danificadas. incluindo a prevenção da entrada de
Com a entrada de uma entidade estranha no microrganismos. A perda da integridade dessas
corpo, a resposta imune inata ocorre quase camadas epiteliais por traumatismo ou outras
imediatamente. As respostas imunes inatas não causas predispõe um indivíduo às infecções.
se intensificam (pelo menos em grau notável) As células epiteliais, bem como alguns
com encontros frequentes com o mesmo leucócitos, produzem peptídeos dotados de
agente infeccioso. O sistema imune inato propriedades antimicrobianas. Duas famílias
reconhece componentes amplamente estruturalmente distintas de peptídeos
conservados dos agentes infecciosos, os antimicrobianos são as defensinas e as
PAMPs (padrões moleculares associados a catelicidinas.
patógenos), que não existem no corpo em
condições normais. As moléculas e receptores Defensinas
usados pelo sistema imune inato para detectar Defensinas são pequenos peptídeos, com
os PAMPs são programados e respondem a 29-34 aminoácidos, que contêm regiões
categorias amplas de moléculas estranhas, que catiônicas e hidrofóbicas, além de três ligações
são comumente expressas nos microrganismos. dissulfeto intra-cadeia. Duas famílias de
Natureza relativamente invariável dos PRR defensinas humanas denominadas α e β, são
(receptores de reconhecimento de padrões) é distinguidas pela localização dessas ligações.
um ponto forte e, ao mesmo tempo, uma São produzidas por células epiteliais de
fraqueza do sistema imune inato. É um ponto superfícies mucosas e por leucócitos contendo
forte no sentido de discriminar de modo muito grânulos, incluindo neutrófilos, células natural
confiável o próprio do não próprio (visto que killer e linfócitos T citotóxicos.
os PRR evoluíram ao longo de milhões de Algumas defensinas são constitutivamente
anos para serem capazes de detectar o não produzidas por alguns tipos celulares, mas sua

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secreção pode ser intensificada por citocinas e infeccionados em resposta aos microrganismos
produtos microbianos. ou aos sinais gerados pelas células sentinelas.
As ações protetoras das defensinas incluem
ambos, toxicidade direta aos microrganismos, Células Dendríticas
incluindo bactérias, fungos e vírus As DCs (dendritic cells) detectam de forma
envelopados, e a ativação de células rápida e eficiente os microrganismos
envolvidas na resposta inflamatória aos invasores, devido à sua localização nos tecidos
microrganismos. As defensinas matam e expressão de numerosos receptores de
microrganismos por meio de vários reconhecimento de padrão para PAMPs e
mecanismos, muitos dos quais dependem de DAMPs (danger associated molecular
sua habilidade de se inserir e desorganizar as patterns). As DCs expressam tipos mais
funções das membranas microbianas. diversificados de TLRs (receptores
semelhantes a toll) e receptores de
Catelicidinas reconhecimento de padrão citoplasmáticos do
Produzida por neutrófilos e células epiteliais que qualquer outro tipo celular, e isso as torna
de barreira na pele, trato gastrointestinal e trato mais versáteis como sensores de PAMPs e
respiratório, é sintetizada como uma proteína DAMPs entre todos os tipos celulares
precursora de dois domínios de 18 kDa, e existentes no corpo. Em resposta aos
proteoliticamente clivada em dois peptídeos, microrganismos invasores, secretam citocinas
ambos com funções protetoras. Tanto a síntese inflamatórias que promovem o recrutamento
do precursor quanto a clivagem proteolítica de leucócitos adicionais oriundos do sangue.
podem ser estimuladas por citocinas
inflamatórias e produtos microbianos. Células Linfóides Inatas
As catelicidinas ativas conferem proteção As células linfoides inatas (ILC, innate
contra infecções por múltiplos mecanismos, lymphoid cells), são células derivadas da
incluindo toxicidade direta a uma ampla gama medula óssea com morfologia de linfócito que
de microrganismos, e ativação de várias foram descobertas como células produtoras de
respostas em leucócitos e outros tipos celulares citocinas similares àquelas produzidas pelas
que promovem a erradicação de células T, porém desprovidas de TCRs
microrganismos. O fragmento C-terminal, (receptores de células T). Chamamos essas
chamado LL-37, pode se ligar e neutralizar células de “células linfoides” e não de
LPS, o componente tóxico da parede externa “linfócitos”, porque não expressam receptores
de bactérias gram-negativas reconhecido por antigênicos diversificados clonalmente
TLR4. distribuídos como se observa nos linfócitos T
com os quais se assemelham.
Fagócitos Existem diferentes subpopulações de ILCs que
Células dotadas de funções fagocíticas surgem a partir do mesmo precursor linfoide
especializadas, primariamente macrófagos e que dá origem às células B e T, contudo as
neutrófilos. O papel essencial exercido pelos etapas precisas no desenvolvimento da ILC
fagócitos na defesa imune inata contra ainda não são totalmente conhecidas.
microrganismos é demonstrado pela alta Três subpopulações de células linfoides inatas,
frequência de infecções fúngicas e bacterianas chamadas ILC1, ILC2 e ILC3, produzem
letais em pacientes com baixas contagens de diferentes citocinas e expressam diferentes
neutrófilos no sangue. Alguns macrófagos fatores de transcrição.
estão sempre presentes na maioria dos tecidos Subpopulações de ILC podem participar da
e atuam como sentinelas de infecção, enquanto defesa do hospedeiro contra patógenos
outros fagócitos, incluindo monócitos e distintos, e também podem estar envolvidas
neutrófilos, são recrutados para os tecidos em distúrbios inflamatórios. As ILC1 tendem a

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ser importantes para a defesa contra proteínas contidas nos grânulos, as chamadas
microrganismos intracelulares. As ILC2 são granzimas, no citosol das células-alvo. As
importantes na defesa contra parasitas granzimas são enzimas proteolíticas que
helmintos e também contribuem para as iniciam uma sequência de eventos de
doenças alérgicas. As ILC3 são encontradas sinalização que causam a morte das
em sítios de mucosa e participam na defesa células-alvo por apoptose. Matando as células
contra fungos e bactérias extracelulares, bem infectadas por vírus e bactérias intracelulares,
como na manutenção da integridade das as células NK eliminam os reservatórios de
barreiras epiteliais. infecção. No início do curso de uma infecção
viral, as células NK são expandidas e ativadas
Células NK pelo reconhecimento de ligantes ativadores
As NK (natural killers) são células citotóxicas presentes nas células infectadas, bem como
que exercem papéis importantes nas respostas pelas citocinas IL-12 e IL-15, e então matam
imunes inatas, principalmente contra vírus e as células infectadas antes de as CTLs
bactérias intracelulares. A designação “natural antígeno-específicas poderem se tornar
killer” deriva do fato de sua principal função totalmente ativas, o que em geral demora 5-7
ser o killing de células infectadas, dias.
similarmente às células killer do sistema
imune adaptativo, os linfócitos T citotóxicos IFN-y
(CTLs), além disso, estão sempre prontas para O Interferon é uma proteína produzida pelos
agir, uma vez desenvolvidas, na ausência de leucócitos e fibroblastos para interferir na
diferenciação adicional (portanto, natural). replicação de fungos, vírus, bactérias e células
As células NK também secretam IFN-γ e às de tumores e estimular a atividade de defesa de
vezes são referidas como um tipo de ILC1. As outras células. Existem três tipos de interferon,
células NK constituem 5-15% das células classificados de acordo com o receptor celular
mononucleares presentes no sangue e no baço. e resposta que ativam. São um tipo de citocina
São raras em outros órgãos linfoides, porém produzida por todos os animais vertebrados e
são mais abundantes em certos órgãos como o alguns invertebrados.
fígado e a placenta. No sangue aparecem como O IFN-γ derivado das células NK aumenta a
linfócitos grandes, contendo numerosos capacidade dos macrófagos de matar bactérias
grânulos citoplasmáticos. fagocitadas, de modo similar ao IFN-γ
As células NK não expressam os receptores produzido pelas células T (Capítulo 10). Essa
antigênicos diversificados e clonalmente interação célula NK-macrófago dependente de
distribuídos típicos das células B e T. Em vez IFN-γ pode controlar uma infecção por
disso, usam receptores codificados por DNA bactérias intracelulares.
de linhagem germinativa para distinguir entre
células infectadas por patógeno e células Receptores de Ativação e Inibição das NK
sadias. Podem ser identificadas no sangue pela As células NK distinguem as células
expressão de CD56 e ausência do marcador de infectadas das células sadias, e sua função é
célula T CD3. A maioria das células NK regulada pelo equilíbrio entre os sinais gerados
sanguíneas humanas também expressam a partir dos receptores de ativação e dos
CD16, que está envolvido no reconhecimento receptores de inibição. Esses receptores
de células recobertas por anticorpos. reconhecem moléculas presentes na superfície
Quando as células NK são ativadas, a de outras células e geram sinais ativadores ou
exocitose dos grânulos libera essas proteínas inibidores que promovem ou inibem as
nas adjacências das células-alvo. Uma das respostas NK.
proteínas contidas nos grânulos da célula NK, Os receptores ativadores reconhecem ligantes
chamada perforina, facilita a entrada de outras em células infectadas e lesadas, enquanto os

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receptores inibidores reconhecem ligantes em estimulam a imunidade inata são
células sadias normais. Quando uma célula frequentemente compartilhadas por classes de
NK interage com outra célula, o resultado é microrganismos (PAMPs).
determinado pela integração de sinais gerados Essas estruturas incluem ácidos nucleicos que
a partir de uma gama de receptores de inibição são exclusivos ou mais abundantes em
e de ativação expressos pela célula NK e que microrganismos do que nas células do
interagem com ligantes presentes na outra hospedeiro, como o RNA de fita dupla
célula. O engajamento dos receptores encontrado em vírus replicantes, carboidratos e
ativadores estimula a atividade de killing das lipídeos complexos sintetizados por
células NK, resultando na destruição das microrganismos e não pelas células de
células estressadas ou infectadas. Em mamíferos, como o lipopolissacarídeo (LPS)
contraste, o engajamento dos receptores em bactérias Gram-negativas, o ácido
inibidores “desliga” a atividade da célula NK e lipoteicoico em bactérias Gram-positivas, e
previne a destruição das células sadias. oligossacarídeos com resíduos de manose
terminais encontrados em glicoproteínas
Mastócitos microbianas.
Os mastócitos são células sentinelas presentes O sistema imune inato também reconhece
na pele, epitélio de mucosa e tecidos moléculas endógenas que são produzidas ou
conectivos que rapidamente secretam citocinas liberadas por células danificadas ou que estão
pró-inflamatórias e mediadores lipídicos em morrendo. Essas substâncias são chamadas
resposta à infecção e outros estímulos. Essas padrões moleculares associados ao dano
células contêm grânulos citoplasmáticos (DAMPs, damage-associated molecular
abundantes repletos de vários mediadores patterns).
inflamatórios que são liberados quando as Os DAMPs podem ser produzidos como
células são ativadas, seja por produtos resultado de dano celular causado por
microbianos ou por um mecanismo especial infecções, mas também podem indicar lesão
dependente de anticorpos. estéril causada por uma dentre inúmeras
Os conteúdos dos grânulos incluem aminas possibilidades, como toxinas químicas,
vasoativas (como a histamina) causadoras de queimaduras, traumatismo ou perda do
vasodilatação e permeabilidade capilar suprimento sanguíneo. Os DAMPs geralmente
aumentada, bem como enzimas proteolíticas não são liberados pelas células em processo de
capazes de matar bactérias ou inativar toxinas morte por apoptose.
microbianas. Os mastócitos também sintetizam Os receptores celulares de padrões
e secretam mediadores lipídicos (como as moleculares associados ao patógeno e ao dano
prostaglandinas) e citocinas (como o TNF). também são denominados receptores de
Como os mastócitos geralmente estão reconhecimento de padrão. Esses receptores
localizados nas adjacências dos vasos são expressos na superfície, em vesículas
sanguíneos, seus conteúdos de grânulos fagocíticas e no citosol de vários tipos
liberados rapidamente induzem alterações nos celulares — todas localizações onde
vasos sanguíneos que promovem inflamação microrganismos podem estar presentes.
aguda. Quando esses receptores de reconhecimento de
padrão célula-associados se ligam aos PAMPs
O PROCESSO DE RECONHECIMENTO e DAMPs, ativam vias de transdução de sinal
DA IMUNIDADE INATA que promovem as funções antimicrobianas e
pró-inflamatórias das células que os
O sistema imune inato reconhece estruturas expressam. Adicionalmente, há muitas
moleculares produzidas por patógenos proteínas presentes no sangue e nos fluidos
microbianos. As substâncias microbianas que extracelulares que reconhecem PAMPs.

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Receptores do Tipo NOD
Os receptores do tipo NOD (NLRs, do inglês,
NOD-like receptors) constituem uma família
de mais de 20 proteínas citosólicas diferentes,
algumas das quais reconhecem PAMPs e
DAMPs, além de recrutarem outras proteínas
para formar complexos de sinalização
promotores de inflamação.

Via Sting
A via STING (do inglês, stimulator of IFN
genes) é um mecanismo importante de
ativação dsDNA-induzida das respostas de
Receptores do Tipo Toll
interferon do tipo I. Nessa via, o dsDNA
Os receptores do tipo Toll (TLRs, toll-like
citosólico, geralmente de origem microbiana,
receptors) constituem uma família ativa a enzima cGAS (sintase de GMP-AMP
evolutivamente conservada de receptores de cíclico) e isso gera uma molécula de
reconhecimento de padrão expressos em sinalização chamada cGAMP (GMP-AMP
muitos tipos celulares, que reconhecem cíclico). STING é uma proteína adaptadora
produtos de uma ampla gama de transmembrana localizada no retículo
microrganismos, bem como moléculas endoplasmático que se liga ao cGAMP e ativa
expressas ou liberadas por células estressadas a TBK1 quinase, que fosforila e ativa o fator
e em processo de morte. de transcrição IRF3, levando à expressão do
gene de IFN do tipo I. STING também
responde a outros sensores de DNA citosólico
além de cGAS.
Além de induzir a produção de IFN, estimula a
autofagia, um mecanismo pelo qual as células
degradam suas próprias organelas, como as
mitocôndrias, sequestrando-as em vesículas
ligadas à membrana e fundindo essas vesículas
aos lisossomos.

Os TLR vão ter a capacidade de reconhecer


PAMPs bacterianos que vão ativar o dímero
gerando uma ação no domínio TIR , esse
domínio vai ativar uma proteína adaptadora, a
MyD88, que vai ativar o fator de transcrição
NFKB, que aumenta a expressão de genes
Receptores do Tipo RIG
inflamatórios, que vão sinalizar a necessidade
Os receptores do tipo RIG (RLRs, do inglês,
de mais células de defesa naquele local de
RIG-like receptors) são sensores citosólicos de
infecção para agirem, atuando na inflamação,
estimulando a imunidade adaptativa. RNA viral que respondem induzindo a
produção de interferons do tipo I antivirais. Os
RLRs podem reconhecer RNA de fita dupla e

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heterocomplexos RNA-DNA, os quais Além disso, o sistema imune adaptativo
incluem os genomas de vírus de RNA e consegue reconhecer milhões de antígenos
transcritos de RNA de vírus de RNA e de microbianos diferentes, além de também poder
DNA. reconhecer antígenos ambientais não
microbianos e autoantígenos normalmente
Inflamassomos presentes nos tecidos sadios. As principais
Os inflamassomos são complexos características da imunidade adaptativa são;
multiproteicos que se formam no citosol em especificidade, diversidade, memória,
resposta aos PAMPs e DAMPs citosólicos, autotolerância (não reatividade ao próprio),
cuja função é gerar formas ativas das citocinas especialização, expansão clonal e contração +
inflamatórias IL-1β e IL-18. homeostasia. Essas características são
explicadas a seguir:
TUTORIA 2 Os receptores do sistema imune adaptativo que
detectam patógenos (como os anticorpos)
IMUNIDADE ADAPTATIVA alcançaram a sua alta especificidade, isso
envolve o rearranjo de um número
A imunidade adaptativa/adquirida ocorre após relativamente pequeno de precursores
a exposição a um agente, melhora depois de receptores que, por meio do poder da
repetidas exposições e é específica. Ela é recombinação genética aleatória, são capazes
mediada por anticorpos produzidos por de produzir um número verdadeiramente
linfócitos B e por dois tipos de linfócitos T – espetacular de receptores de antígenos
as células T auxiliares e células T citotóxicas. específicos (na faixa de dezenas de milhões).
As células responsáveis pela imunidade A principal desvantagem desse processo de
adaptativa possuem memória de longa duração recombinação genética é que ela é propensa a
para um antígeno específico. A imunidade produzir receptores que reconhecem o próprio.
adaptativa pode ser ativa ou passiva. Entretanto, o sistema imune adaptativo
Embora muitos patógenos tenham evoluído de desenvolveu métodos de lidar com esse
maneira a resistir à resposta imune inata, as problema, a autotolerância.
respostas imunes adaptativas, sendo mais A tolerância aos antígenos próprios é mantida
fortes e mais especializadas, são capazes de por diversos mecanismos. Estes incluem a
erradicar até mesmo essas infecções. Também eliminação de linfócitos que expressam
existem numerosas conexões entre as respostas receptores específicos para alguns
imunes inata e adaptativa. A resposta imune autoantígenos, inativando os linfócitos
inata aos microrganismos fornece os primeiros autorreativos ou suprimindo essas células pela
sinais de perigo que estimulam as respostas ação de outras células (reguladoras).
imunes adaptativas, que só podem ser ativadas Anormalidades na indução ou manutenção da
após o primeiro contato da imunidade inata. autotolerância levam a respostas imunes contra
Por outro lado, as respostas imunes adaptativas os autoantígenos (antígenos autólogos), as
frequentemente trabalham intensificando os quais podem resultar em distúrbios
mecanismos protetores da imunidade inata, denominados doenças autoimunes.
tornando-os mais capazes de combater Em contraste à imunidade inata, a exposição
efetivamente os microrganismos. repetida a um microrganismo intensifica a
As respostas imunes adaptativas efetivas a um rapidez, a magnitude e a efetividade das
microrganismo recém-introduzido se respostas imunes adaptativas. Os receptores de
desenvolvem no decorrer de vários dias, à antígenos do sistema imune adaptativo são
medida que os clones de linfócitos produzidos sob medida para reconhecer
antígeno-específicos se expandem e se patógenos específicos, e essas respostas
diferenciam em células efetoras funcionais. aumentam a cada encontro com determinado

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agente infeccioso, uma característica
denominada memória imunológica, que
sustenta o conceito de vacinação. As respostas
a uma segunda exposição ou exposições
subsequentes ao mesmo antígeno, chamadas
respostas imunes secundárias, são
normalmente mais rápidas, de maior
magnitude e, com frequência,
quantitativamente diferentes da primeira
resposta imune (ou primária) àquele antígeno.
A memória imunológica ocorre porque cada Antígenos X e Y induzem a produção de diferentes
anticorpos (especificidade). A resposta secundária ao
exposição a um antígeno gera células de
antígeno X é mais rápida e maior do que a resposta
memória de vida longa específicas para o primária (memória). Os níveis de anticorpos declinam
antígeno. com o tempo após cada imunização (contração, o
Respostas imunes são específicas para processo que mantém a homeostasia).

antígenos distintos e, frequentemente, para


diferentes porções de um único complexo DESENVOLVIMENTO DAS RESPOSTAS
proteico, polissacarídico ou de outra IMUNES ADAPTATIVAS
macromolécula. As porções de antígenos
complexos especificamente reconhecidas por A iniciação das respostas imunes adaptativas
requer que os antígenos sejam capturados e
linfócitos individuais são denominadas
expostos aos linfócitos específicos. As células
determinantes ou epítopos. Essa especificidade
que realizam essa função são chamadas células
fina existe porque os linfócitos individuais
apresentadoras de antígeno (APCs,
expressam receptores de membrana que antigen-presenting cells). As APCs mais
podem distinguir diferenças sutis na estrutura especializadas são as células dendríticas, as
de epítopos distintos. Clones de linfócitos com quais capturam antígenos microbianos que
diferentes especificidades estão presentes em entram no organismo a partir do ambiente
indivíduos não imunizados e são capazes de externo, transportam esses antígenos aos
reconhecer e responder aos antígenos órgãos linfoides e os apresentam aos linfócitos
estranhos. Esse conceito fundamental é T naive para iniciar as respostas imunes.
denominado seleção clonal; um antígeno Os linfócitos que nunca responderam a um
introduzido se liga (seleciona) às células do antígeno são chamados naive. A ativação
clone antígeno-específico preexistente e as desses linfócitos pelo antígeno leva à
ativa. Como resultado, as células específicas proliferação dessas células, resultando em um
para o antígeno proliferam para gerar milhares aumento no número de clones
antígeno-específicos, denominado expansão
de descendentes com a mesma especificidade,
clonal. Esse processo é seguido pela
um processo chamado expansão clonal.
diferenciação dos linfócitos ativados em
O número total de especificidades antigênicas
células capazes de eliminar o antígeno, as
dos linfócitos em um indivíduo, chamado quais são chamadas células efetoras porque
repertório dos linfócitos, é extremamente medeiam o efeito final da resposta imune, e
grande. Estima-se que o sistema imune de um em células de memória, que sobrevivem por
indivíduo possa discriminar 10 na 7 a 10 na 9 longos períodos e montam fortes respostas
determinantes antigênicos distintos. Essa após encontros repetidos com o antígeno. A
capacidade do repertório de linfócitos para eliminação do antígeno frequentemente requer
reconhecer um grande número de antígenos a participação de outras células não linfoides,
(diversidade) é resultado da variabilidade nas tais como macrófagos e neutrófilos. Esses
estruturas dos sítios de ligação ao antígeno dos passos da ativação dos linfócitos tipicamente
receptores antigênicos dos linfócitos. demoram alguns dias, o que explica porque a

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resposta imune adaptativa desenvolve-se de Entre as muitas funções das citocinas estão a
maneira lenta e há a necessidade de a promoção de crescimento e diferenciação das
imunidade inata inicialmente conferir células imunes, ativação das funções efetoras
proteção. de linfócitos e fagócitos, e estimulação de
Uma vez que a resposta imune adaptativa movimento direcionado das células imunes a
tenha erradicado a infecção, o estímulo para a partir do sangue para os tecidos e dentro dos
ativação dos linfócitos se dissipa e a maior tecidos.
parte das células efetoras morrem, resultando
Um grande subgrupo de citocinas
no declínio da resposta. As células de memória
estruturalmente relacionadas que regulam a
permanecem prontas para responder
migração e o movimento celular são
vigorosamente se a mesma infecção se repetir.
conhecidas como quimiocinas. Alguns dos
fármacos mais efetivos desenvolvidos para
tratar doenças imunológicas têm como alvo as
citocinas, o que reflete a importância dessas
proteínas nas respostas imunes.

APCs - Células Apresentadoras de


Antígenos
Capturam microrganismos e outros antígenos,
apresentam-nos aos linfócitos e fornecem
sinais que estimulam a proliferação e
diferenciação dos linfócitos.
As respostas imunes adaptativas consistem em passos Por convenção, APC normalmente se refere à
distintos, sendo os três primeiros o reconhecimento do
antígeno, a ativação dos linfócitos e a eliminação do
célula que apresenta antígenos aos linfócitos T.
antígeno (fase efetora). A resposta se contrai (declina) à O principal tipo de APC que está envolvido na
medida que os linfócitos estimulados pelos antígenos iniciação das respostas da célula T é a célula
morrem por apoptose, restaurando a homeostasia, e as
dendrítica. Os macrófagos e células B
células antígeno-específicas que sobrevivem são
responsáveis pela memória. A duração de cada fase pode apresentam os antígenos aos linfócitos T nas
variar em diferentes respostas imunes. O eixo y respostas imunes mediadas por células e
representa uma medida arbitrária da magnitude da humorais, respectivamente.
resposta.
Muitas APCs, tais como células dendríticas e
Citocinas macrófagos, também reconhecem e respondem
As células do sistema imune interagem umas aos microrganismos durante as reações imunes
com as outras e com outras células do inatas e, assim, ligam as reações imunes inatas
hospedeiro durante os estágios de iniciação e às respostas do sistema imune adaptativo.
efetor das respostas imunes inata e adaptativa.
Muitas dessas interações são mediadas pelas
citocinas.
As citocinas constituem um amplo grupo de
proteínas secretadas com diversas estruturas e
funções, as quais regulam e coordenam muitas
atividades das células da imunidade inata e
adaptativa. Todas as células do sistema imune
secretam pelo menos algumas citocinas e
expressam receptores de sinalização
específicos para diversas citocinas.

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Linfócitos na Imunidade Adaptativa Os linfócitos efetores T possuem vida curta e
morrem conforme o antígeno é eliminado. As
Linfócitos B células de memória, também geradas da
Os linfócitos B são as únicas células capazes progênie de linfócitos estimulados pelo
de produzir anticorpos; consequentemente, são antígeno, sobrevivem por muito tempo na
responsáveis pela imunidade humoral. As ausência do antígeno.
células B expressam anticorpos nas suas
membranas, que servem de receptores para
reconhecer antígenos e iniciam o processo de
ativação das células. Antígenos solúveis e
antígenos na superfície de patógenos e outras
células se ligam a esses receptores antigênicos
dos linfócitos B, iniciando o processo de
ativação de células B. Isto leva à secreção de
formas solúveis de anticorpos com a mesma
especificidade para o antígeno dos receptores
de membrana.

Linfócitos T
Os linfócitos T são responsáveis pela IMUNIDADE CELULAR E HUMORAL
imunidade celular. Os receptores de antígenos
dos linfócitos T reconhecem apenas Existem dois tipos de respostas imunes
fragmentos peptídicos de proteínas antigênicas adaptativas, denominadas imunidade humoral
que são ligados a moléculas de apresentação e imunidade mediada por células, as quais são
especializadas, chamadas de moléculas do induzidas por diferentes tipos de linfócitos e
complexo principal de histocompatibilidade atuam para eliminar diferentes tipos de
(MHC, major histocompatibility complex), na microrganismos.
superfície de células especializadas,
conhecidas como células apresentadoras de Imunidade Humoral
antígenos. A imunidade humoral é mediada por
Entre os linfócitos T, as células T CD4+ são moléculas no sangue e em secreções mucosas,
chamadas de células T auxiliares, porque denominadas anticorpos, os quais são
ajudam os linfócitos B a produzir anticorpos e produzidos pelos linfócitos B.
as células fagocitárias a ingerir os Os anticorpos reconhecem antígenos
microrganismos e produzem proteínas, microbianos, neutralizam a infectividade dos
chamadas citocinas, que ativam as células B, microrganismos e marcam microrganismos
os macrófagos e outros tipos de células, para sua eliminação pelos fagócitos e pelo
mediando assim a função auxiliar dessa sistema complemento.
linhagem. Os linfócitos T CD8+ são chamados A imunidade humoral é o principal mecanismo
de linfócitos T citotóxicos (CTL, cytotoxic T de defesa contra os microrganismos e suas
lymphocytes), possuem as engrenagens para toxinas, localizados fora das células (p. ex.: no
destruir as células do hospedeiro que estão lúmen dos tratos gastrintestinal e respiratório,
infectadas por microrganismos intracelulares. e no sangue), uma vez que os anticorpos
Algumas células T CD4+ pertencem a uma secretados podem se ligar a esses
subclasse especial que funciona para prevenir microrganismos e toxinas, neutralizando-os,
ou limitar a resposta imune; essas células são além de auxiliar na sua eliminação.
chamadas de linfócitos T reguladores.

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Imunidade Mediada por Células IMUNIZAÇÃO ATIVA E PASSIVA
A imunidade mediada por células, também
denominada imunidade celular, é mediada A imunidade ativa é conferida pela resposta do
pelos linfócitos T. Muitos microrganismos são hospedeiro a um microrganismo ou antígeno
ingeridos, mas sobrevivem dentro dos microbiano, enquanto a imunidade passiva é
fagócitos, e alguns, particularmente os vírus, conferida pela transferência adotiva de
infectam e se replicam em diversas células do anticorpos ou de linfócitos T específicos para
hospedeiro. Nesses locais, os microrganismos o microrganismo.
são inacessíveis aos anticorpos circulantes. A Ambas as formas de imunidade conferem
defesa contra tais infecções é uma função da resistência à infecção e são específicas para
imunidade mediada por células, a qual antígenos microbianos, mas somente as
promove a destruição de microrganismos respostas imunes ativas geram memória
dentro dos fagócitos e a morte das células imunológica. A transferência terapêutica
infectadas para eliminar os reservatórios da passiva de anticorpos, mas não de linfócitos, é
infecção. realizada rotineiramente e também ocorre
durante a gravidez (da mãe para o feto).

ANTÍGENOS

Um antígeno é qualquer substância que pode


ser especificamente ligada por uma molécula
de anticorpo ou receptor de célula T. Os
anticorpos podem reconhecer como antígenos
praticamente todos os tipos de moléculas
biológicas, incluindo metabólitos
intermediários simples, açúcares, lipídeos,
autacoides e hormônios, bem como
macromoléculas tais como carboidratos
complexos, fosfolipídeos, ácidos nucleicos e
proteínas. Isso contrasta com as células T, as
Na imunidade humoral, os linfócitos B secretam quais reconhecem principalmente peptídeos.
anticorpos que previnem as infecções e eliminam os
Nem todos os antígenos reconhecidos por
microrganismos extracelulares. Na imunidade mediada
por células, os linfócitos T auxiliares ativam macrófagos linfócitos específicos ou por anticorpos
e neutrófilos para matar microrganismos fagocitados, ou secretados são capazes de ativar os linfócitos.
linfócitos T citotóxicos destroem diretamente as células Moléculas que estimulam as respostas imunes
infectadas. são chamadas de imunógenos.
Macromoléculas, tais como proteínas,
polissacarídeos e ácidos nucleicos, são
normalmente muito maiores do que a região de

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ligação ao antígeno de uma molécula de geral, pequenos compostos com peso
anticorpo. Dessa maneira, qualquer anticorpo molecular inferior a 1.000 Da (como
se liga somente a uma porção da penicilina, progesterona, aspirina) não são
macromolécula, a qual é chamada imunogênicos; aqueles com peso molecular
determinante ou epítopo. entre 1.000 e 6.000 Da (como insulina e
Macromoléculas tipicamente contêm múltiplos ACTH), podem ou não ser imunogênicos; e
determinantes, alguns dos quais podem ser aqueles com peso molecular superior a 6.000
repetidos e cada um deles, por definição, pode Da (como, por exemplo, albumina, toxina
ser ligado por um anticorpo. A presença de tetânica) geralmente são imunogênicos.
múltiplos determinantes idênticos em um Substâncias de peso molecular relativamente
antígeno é referida como polivalência ou baixo possuem imunogenicidade diminuída,
multivalência. enquanto as substâncias com mais peso têm a
imunogenicidade aumentada.
Imunogenicidade
Para ser imunogênica, uma substância deve Complexidade Química
possuir as seguintes características: Quanto mais complexa é a estrutura molecular
(1) estranheza; de um antígeno, maior é a probabilidade de
(2) alto peso molecular; desencadear uma resposta imunológica
(3) complexidade química; robusta. Proteínas, por exemplo, são
(4) e degradabilidade e interação com o MHC macromoléculas com uma estrutura
do hospedeiro. tridimensional complexa. A diversidade nas
sequências de aminoácidos que compõem as
Estranheza proteínas pode levar a uma ampla gama de
Em condições normais os animais não conformações estruturais, aumentando assim a
respondem imunologicamente a si próprios. probabilidade de serem reconhecidas pelo
Assim, por exemplo, se um coelho for sistema imunológico. A relação entre
inoculado com sua própria albumina sérica, imunogenicidade e complexidade química
não se desencadeará uma resposta reside no fato de que moléculas mais
imunológica, porque ele irá reconhecer a complexas têm maior probabilidade de conter
albumina como própria. Em contrapartida, se a epítopos imunogênicos.
albumina do coelho for inoculada em uma
cobaia (porquinho-da-índia), ela reconhecerá a Degradabilidade e MHC
albumina do coelho como estranha e Para antígenos que ativam as células T no
desencadeará uma resposta imunológica. Desta estímulo à resposta imunológica, devem
forma, a primeira exigência para um composto ocorrer interações com as moléculas de MHC
ser imunogênico é a estranheza. Quanto mais expressas nas APC. Antes que elas possam
estranha for a substância, mais imunogênica expressar epítopos antigênicos (pequenos
ela será. Em geral, compostos que fazem parte fragmentos do imunógeno) na sua superfície,
do próprio indivíduo não são imunogênicos as APCs devem primeiro degradar o antígeno
para ele. Entretanto, existem casos através de um processo conhecido como
excepcionais nos quais um indivíduo processamento do antígeno (degradação
desencadeia uma resposta imunológica contra enzimática do antígeno). Uma vez degradado e
seus próprios tecidos, esta condição é ligado não covalentemente ao MHC, os
denominada autoimunidade. epítopos estimulam a ativação e expansão
clonal das células T efetoras
Alto Peso Molecular antígeno-específicas.
A segunda exigência para a imunogenicidade é
um determinado peso molecular mínimo. Em

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ANTICORPOS neutrófilos e células natural killer, e
desencadeia várias respostas imunológicas,
Anticorpos ou imunoglobulinas (Ig) são como a fagocitose. A porção variável das
proteínas circulantes produzidas em imunoglobulinas, chamada Fab (fragmento de
vertebrados em resposta à exposição a ligação ao antígeno), é altamente específica
estruturas estranhas conhecidas como para se ligar a antígenos, como bactérias, vírus
antígenos, e são os mediadores da imunidade e outras substâncias estranhas. Essa
humoral contra todas as classes de especificidade é crucial para o papel dos
microrganismos. São diversos e específicos em anticorpos em reconhecer e neutralizar
sua capacidade de reconhecer estruturas ameaças à saúde.
moleculares estranhas. Os anticorpos são
sintetizados somente pelas células da linhagem
de linfócitos B e existem em duas formas:
anticorpos ligados à membrana na superfície
dos linfócitos B que atuam como receptores
antigênicos, e anticorpos secretados que atuam
na proteção contra microrganismos. O
reconhecimento dos antígenos pelos anticorpos
ligados à membrana nas células B naive ativa
esses linfócitos e inicia a resposta imune
humoral. As células B ativadas se diferenciam
em plasmócitos que secretam anticorpos com a
mesma especificidade do receptor antigênico.
As formas secretadas dos anticorpos estão
Classes de Anticorpos
presentes no plasma (a porção fluida do As moléculas de anticorpo podem ser
sangue), nas secreções mucosas e no fluido divididas em classes e subclasses distintas com
intersticial dos tecidos. Na fase efetora da base em diferenças na estrutura de suas regiões
imunidade humoral, esses anticorpos C da cadeia pesada. As classes das moléculas
secretados neutralizam toxinas microbianas, de anticorpo são também chamadas de isotipos
previnem a entrada e disseminação dos e são nomeadas IgA, IgD, IgE, IgG e IgM.
patógenos e desencadeiam vários mecanismos As regiões C da cadeia pesada de todas as
efetores que eliminam os microrganismos. A moléculas de anticorpo de um isotipo ou
eliminação dos antígenos frequentemente subtipo têm essencialmente a mesma
requer a interação do anticorpo com outros sequência de aminoácidos. Essa sequência é
componentes do sistema imune, incluindo diferente nos anticorpos de outros isotipos ou
moléculas como proteínas do complemento, e subtipos.
células como fagócitos e mastócitos.
Isotipos
Estrutura
IgA
As imunoglobulinas são proteínas globulares Subtipos (Cadeia Pesada): IgA1,2 (α1 ou α2).
que desempenham um papel fundamental na Concentrações Plasmáticas (mg/mL): 3,5.
resposta imunológica do corpo. Elas têm uma Meia-vida (Dias): 6. Forma Secretada:
estrutura em forma de Y com duas regiões Principalmente dímero; também monômero,
leves (cadeias leves) e duas regiões pesadas trímero. Funções: Imunidade de mucosa,
(cadeias pesadas). Uma parte da molécula de secreção de IgA para o lúmen dos tratos
imunoglobulina, a região Fc (fragmento gastrointestinal e respiratório. Neutralização
cristalizável), é a que se liga aos receptores de de microrganismos e toxinas no lúmen de
células imunológicas, como os macrófagos, órgãos de mucosa.

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VÍRUS
IgD
Subtipos (Cadeia Pesada): Nenhum (δ). Os vírus são partículas compostas por um
Concentrações Plasmáticas (mg/mL): Traço. cerne interno contendo DNA ou RNA (mas
Meia-vida (Dias): 3. Forma Secretada: não ambos) coberto por um capsídeo proteico
Monômero. Funções: Sua função exata não é protetor. Alguns vírus possuem uma
completamente compreendida, mas acredita-se membrana lipoproteica externa, chamada
que esteja envolvido na ativação das células B. envelope, externa ao capsídeo. Os vírus não
possuem núcleo, citoplasma, mitocôndrias
IgE
nem ribossomos. Vírus não são células; eles
Subtipos (Cadeia Pesada): Nenhum (ɛ).
não são capazes de replicação independente,
Concentrações Plasmáticas (mg/mL): 0,05.
Meia-vida (Dias): 2. Forma Secretada: não sintetizam nem sua própria energia nem
Monômero. Funções: Defesa contra parasitas suas próprias proteínas, e são muito pequenos
helmínticos mediada por eosinófilos, para serem vistos em microscópios ópticos.
hipersensibilidade imediata, desgranulação de Os vírus precisam se reproduzir (se replicar)
mastócitos e reações alérgicas. Ela se liga a no interior de células, pelo fato de serem
células mastocitárias e basófilos, incapazes de gerar energia ou sintetizar
desencadeando a liberação de histaminas e proteínas. Como eles só se reproduzem no
outras substâncias envolvidas em reações interior de células, vírus são parasitas
alérgicas. intracelulares obrigatórios. O diâmetro dos
vírus varia de 20 a 300 nm; isso corresponde
IgG aproximadamente a uma faixa de tamanhos
Subtipos (Cadeia Pesada): IgG1-4 (γ1, γ2, γ3
que vai da maior proteína até a menor célula.
ou γ4). Concentrações Plasmáticas (mg/mL):
Suas formas são frequentemente denominadas
13,5. Meia-vida (Dias): 23. Forma Secretada:
por termos coloquiais (p. ex., esferas, bastões,
Monômero. Funções: Opsonização de
antígenos para fagocitose por macrófagos e balas ou tijolos), mas na realidade são
neutrófilos, ativação da via clássica do estruturas complexas de simetria geométrica
complemento, citotoxicidade celular precisa.
dependente de anticorpo mediada por células
natural killer, imunidade neonatal, inibição
por feedback das células B, imunidade
neonatal: transferência de anticorpos maternos
através da placenta e do intestino,
neutralização de microrganismos e toxinas. É a
classe mais abundante de anticorpos no sangue
e é produzida após uma exposição inicial a um
patógeno. Ela desempenha um papel
importante na defesa a longo prazo contra
infecções, pois pode persistir no organismo por
um período prolongado.

IgM
Subtipos (Cadeia Pesada): Nenhum (μ).
Concentrações Plasmáticas (mg/mL): 1,5.
Meia-vida (Dias): 5. Forma Secretada: Capsídeo Viral
Pentâmero. Funções: Receptor antigênico da O ácido nucleico é cercado por uma cobertura
célula B naive (forma monomérica), ativação proteica, denominada capsídeo, composta por
do complemento. subunidades denominadas capsômeros. A
estrutura composta pelo genoma de ácido

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nucleico e pelas proteínas do capsídeo é mais de 100 sorotipos. Isso ocorre porque
denominada nucleocapsídeo. O arranjo dos todos os vírus do sarampo possuem apenas um
capsômeros fornece à estrutura viral sua determinante antigênico na sua proteína de
simetria geométrica. superfície que induz anticorpos neutralizantes
capazes de prevenir infecções. Em
Proteínas Virais contrapartida, os poliovírus possuem três
As proteínas virais possuem várias funções. As diferentes determinantes antigênicos em suas
proteínas do capsídeo protegem o genoma de proteínas de superfície, ou seja, o poliovírus
DNA ou RNA de degradação por nucleases. tipo 1 possui um determinante antigênico, o
As proteínas na superfície dos vírus medeiam poliovírus tipo 2 possui um determinante
a ligação deles a receptores específicos antigênico diferente, e o poliovírus tipo 3
presentes na superfície da célula hospedeira. A possui um determinante antigênico diferente
interação de proteínas virais com o receptor dos tipos 1 e 2. Uma pessoa pode ser imune
celular é um importante determinante de (possuir anticorpos) contra poliovírus do tipo 1
especificidade para espécies e orgãos. e ainda assim contrair a doença, a poliomielite
Proteínas virais externas são também causada por poliovírus dos tipos 2 e 3. Por
antígenos importantes que induzem anticorpos isso, a vacina contra poliomielite deve conter
neutralizantes e ativam células T citotóxicas todos os três sorotipos para poder ser
para matar células infectadas por vírus. Essas completamente protetora.
proteínas externas não apenas induzem
anticorpos, mas também são alvos deles. Os Envelope Viral
anticorpos ligam-se a essas proteínas virais e O envelope é uma membrana lipoproteica
impedem o vírus de entrar na célula e composta por lipídeos derivados da membrana
replicar-se. As proteínas externas induzem celular do hospedeiro e por proteínas que são
essas respostas imunes após infecção natural e vírus-específicas. O envelope viral é adquirido
imunização. enquanto o vírus sai da célula por meio de um
Algumas das proteínas internas virais são processo denominado brotamento. O envelope
estruturais (p. ex., as proteínas do capsídeo de da maioria dos vírus é derivado da membrana
vírus envelopados), enquanto outras são externa celular, com a notável exceção dos
enzimas (p. ex., as polimerases que sintetizam herpes-vírus, que obtêm seu envelope a partir
o mRNA viral). da membrana nuclear da célula. Em geral, a
Alguns vírus produzem proteínas que atuam presença de um envelope confere instabilidade
como superantígenos. Vírus conhecidos por ao vírus. Vírus envelopados são mais sensíveis
produzir superantígenos incluem dois ao calor, dessecamento, detergentes e
membros da família dos herpes-vírus, solventes lipídicos, como álcool e éter, do que
denominados vírus Epstein-Barr e os vírus com nucleocapsídeo não envelopado,
citomegalovírus. A hipótese atual fornecida que são compostos apenas por ácido nucleico e
para explicar porque esses vírus produzem um proteínas do capsídeo.
superantígeno é que a ativação de células T
CD4-positivas é necessária para que a Replicação Viral - Ciclo Lítico
replicação deles ocorra.
Curva de Crescimento Viral
Sorotipos A curva de crescimento representada mostra
O termo “sorotipo” é usado para descrever que quando um vírion (uma partícula viral)
uma subcategoria de vírus com base em seus infecta uma célula, ele pode replicar-se em
antígenos de superfície. Por exemplo, o vírus aproximadamente 10 horas para produzir
do sarampo possui um sorotipo, o poliovírus centenas de vírions no interior dessa célula.
possuem três sorotipos, e o rinovírus possui Essa notável amplificação explica como os

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vírus se espalham rapidamente de célula a Estágios do Ciclo Viral
célula. O tempo necessário para os ciclos de (1) Eventos precoces ( adsorção, penetração e
crescimento variam; de minutos para alguns desnudamento);
vírus de bactérias, a horas para alguns vírus de (2) eventos intermediários (expressão gênica e
seres humanos. replicação do genoma); e
O vírus desaparece, como representado pela (3) eventos tardios (montagem e liberação).
linha contínua que decai até o eixo x. Apesar
de a partícula viral não estar mais presente, o Eventos Precoces
ácido nucleico viral continua a funcionar e
começa a se acumular no interior da célula, Adsorção
como indicado pela linha tracejada. O tempo A adsorção viral é a primeira etapa de um
no qual nenhum vírus é encontrado no interior vírus durante uma infecção em uma célula
da célula é conhecido como período de eclipse. hospedeira. Consiste na ligação específica de
O período de eclipse termina com o uma glicoproteína viral a um receptor celular.
aparecimento do vírus (linha contínua). O As proteínas da superfície do vírion ligam-se a
período de latência, em contrapartida, é receptores proteicos específicos na superfície
definido pelo tempo do início da infecção até o da célula por meio de ligações fracas não
aparecimento do vírus extracelularmente. covalentes. A especificidade dessa ligação
Observe que a infecção inicia com uma determina o espectro de hospedeiro do vírus.
partícula viral e termina com várias centenas Alguns vírus possuem um espectro limitado,
de partículas virais sendo produzidas; esse tipo ao passo que outros possuem um espectro
de reprodução é exclusivo dos vírus. amplo. Por exemplo, os poliovírus podem
Alterações da morfologia celular entrar somente em células de seres humanos e
acompanhadas por pronunciadas perturbações outros primatas, ao passo que o vírus da raiva
de funções celulares começam perto do fim do pode entrar em todas as células de mamíferos.
período de latência. Este efeito citopático
(ECP - mudanças estruturais nas células Penetração
hospedeiras que são causadas pela invasão A partícula viral penetra por meio de seu
viral) culmina na lise e morte das células. O englobamento por uma vesícula pinocitótica,
ECP pode ser visto em microscopia óptica e, dentro da qual o processo de desnudamento se
quando observado, é um passo inicial inicia.
importante no diagnóstico de infecções virais.
Nem todos os vírus causam ECP; alguns Desnudamento
podem replicar-se causando poucas mudanças Desnudamento viral é o processo em que o
morfológicas e funcionais nas células. ácido nucleico de um vírus é liberado e fica
exposto no interior de uma célula hospedeira.
Quando o genoma viral está desnudo, ele está
pronto agora para começar a produzir as
proteínas que vão fazer parte do vírus. Esse
processo pode tanto receber o nome de
desnudamento viral ou decapsidação. Processo
no qual o capsídeo viral é totalmente
desmontado e o genoma viral vai então para
um local específico na célula, que pode ser
tanto no citoplasma, quanto no núcleo celular.

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Eventos Intermediários codificada pelo vírus (uma replicase) que
replica o genoma (faz muitas cópias do
Expressão Gênica genoma parental que se tornará o genoma dos
Dentro da célula hospedeira, o material vírions da progênie). A replicação do genoma
genético viral assume o controle da maquinaria viral é controlada pelo princípio da
celular para iniciar a expressão gênica. Isso complementaridade, que requer a síntese de
envolve a produção de proteínas virais, muitas uma fita com sequência de bases
vezes usando as enzimas e organelas da célula complementares; essa fita serve, então, de
hospedeira. As proteínas virais desempenham molde para a síntese do verdadeiro genoma
papéis cruciais na replicação e montagem do viral.
vírus.
O primeiro passo na expressão gênica viral é a Eventos Tardios
síntese do mRNA. É nesse ponto que os vírus
seguem caminhos diferentes dependendo da Montagem
natureza de seu ácido nucleico e da parte da As partículas da progênie são montadas pelo
célula onde eles se replicam. empacotamento do ácido nucleico viral dentro
Os vírus de DNA, replicam-se no núcleo e das proteínas do capsídeo. Isso geralmente
usam a RNA-polimerase dependente de DNA ocorre no núcleo ou no citoplasma da célula
do hospedeiro para sintetizar seu próprio hospedeira, dependendo do tipo de vírus. As
mRNA. O genoma de quase todos os vírus de proteínas virais e os genomas
DNA consiste em DNA de dupla-fita. recém-replicados se unem para formar novas
A maior parte dos vírus de RNA realiza seu partículas virais completas.
ciclo replicativo inteiramente no citoplasma. O
genoma de todos os vírus de RNA consiste em Liberação
RNA de fita simples, exceto para os membros As partículas virais são liberadas da célula por
da família dos reovírus, que possuem um um dos dois processos descritos a seguir. Isso
genoma de RNA de dupla-fita. pode ocorrer por meio da lise celular, onde a
Depois que o mRNA dos vírus de DNA ou célula se rompe, liberando as partículas virais,
RNA é sintetizado, ele é traduzido pelos ou por brotamento, onde as partículas virais
ribossomos da célula hospedeira em proteínas são liberadas lentamente sem destruir a célula
virais, sendo algumas proteínas precoces hospedeira.
(enzimas necessárias para a replicação do
genoma viral) e outras proteínas tardias
(proteínas estruturais) da progênie viral. (O
termo precoce é definido como o que ocorre
antes da replicação do genoma, e tardio é
definido como o que ocorre após a replicação
do genoma.) Das proteínas precoces, a mais
importante para os vírus de RNA é a
polimerase que sintetizará muitas cópias do
material genético viral para as partículas da
progênie viral.

Replicação do Genoma
Durante a expressão gênica, o genoma viral é
replicado para produzir cópias adicionais do Ciclo Lisogênico
material genético do vírus. Isso pode envolver O ciclo de replicação típico, descrito
a síntese de novas moléculas de DNA ou anteriormente, ocorre na maioria das vezes em
RNA, dependendo do tipo de vírus. que o vírus infecta uma célula. Entretanto,
Não importa como o vírus produz seu mRNA, alguns vírus podem usar uma via alternativa,
a maioria dos vírus produz uma polimerase chamada de ciclo lisogênico, na qual o DNA

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viral se torna integrado no cromossomo da Imunidade Inata
célula hospedeira e nenhuma partícula viral da
progênie é produzida nesse momento. O ácido Interferons do Tipo 1
nucleico viral continua a funcionar em seu A principal forma pela qual o sistema imune
estado integrado de várias maneiras. inato bloqueia as infecções virais é a indução
No ciclo lisogênico, o vírus incorpora seu da expressão de interferons do tipo I, cuja
material genético ao genoma da célula função mais importante é inibir a replicação
hospedeira sem causar imediatamente a lise viral. Vários receptores de reconhecimento de
celular. O genoma viral integrado é chamado padrão, incluindo alguns TLRs, NLRs, RLRs e
de profago quando se integra ao DNA da CDSs, geram sinais que estimulam a expressão
célula hospedeira. Neste estágio, o vírus é dos genes de IFN-α e IFN-β em muitos tipos
chamado de profago, e a célula hospedeira é celulares diferentes. Esses interferons do tipo I
chamada de lisogênica. A célula hospedeira secretados pelas células atuam em outras
replica normalmente, incluindo o material células prevenindo a disseminação da infecção
genético viral presente no profago. Em viral.
resposta a certos estímulos ambientais ou
internos, o profago pode ser induzido a sair do
genoma da célula hospedeira e entrar no ciclo
lítico, resultando na produção de novas
partículas virais e eventual lise celular. O ciclo
lisogênico permite que o vírus persista dentro
da célula hospedeira por longos períodos, sem
causar a morte imediata da célula.

AÇÃO DA IMUNIDADE NO VÍRUS

Os vírus podem causar lesão tecidual e doença


por diversos mecanismos. A replicação viral
interfere na síntese proteica e na função celular
normal, leva à lesão e, por fim, à morte da Os interferons do tipo I constituem uma ampla
célula infectada. As respostas imunes inata e família de citocinas estruturalmente
adaptativa aos vírus são destinadas a bloquear relacionadas que medeiam a resposta imune
a infecção e a eliminar células infectadas. inata inicial às infecções virais. O termo
“interferon” deriva da habilidade destas
citocinas de interferir na infecção viral.
Os estímulos mais potentes para a síntese de
interferon do tipo I são os ácidos nucleicos
virais. Receptores do tipo RIG e os sensores
de DNA presentes no citosol, bem como os
TLRs 3, 7, 8 e 9 presentes nas vesículas
endossômicas, reconhecem ácidos nucleicos
virais e iniciam as vias de sinalização que
ativam a família IRF de fatores de transcrição,
os quais induzem expressão do gene de
interferon do tipo I.
Os IFN tipo 1 ativam a transcrição de vários
genes que conferem às células uma resistência
à infecção viral denominada estado antiviral

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A ação antiviral do interferon do tipo I é microrganismos. Os vírus podem ser
primariamente uma ação parácrina, no sentido extracelulares antes de infectarem as células
de que uma célula viralmente infectada secreta hospedeiras, ou quando são liberados das
interferon para atuar e proteger as células células infectadas por brotamento viral ou com
vizinhas ainda não infectadas. O interferon a morte das células infectadas. Os anticorpos
secretado por uma célula infectada também antivirais se ligam ao envelope viral ou aos
pode agir de maneira autócrina, inibindo a antígenos do capsídeo e atuam principalmente
replicação viral na própria célula que o secreta. como anticorpos neutralizadores, para prevenir
Eles também causam o sequestro de linfócitos a fixação e entrada dos vírus nas células
nos linfonodos, maximizando assim a hospedeiras. Assim, os anticorpos previnem
oportunidade de encontrar com os antígenos tanto a infecção inicial como a disseminação
microbianos. célula à célula. Os anticorpos secretados,
especialmente do isotipo IgA, são importantes
Células NK para neutralizar os vírus juntos aos tratos
As células NK matam células infectadas por respiratório e intestinal. Além da
vírus e constituem um importante mecanismo neutralização, os anticorpos podem opsonizar
de imunidade contra vírus no início do curso partículas virais e promover sua eliminação
da infecção. A expressão de MHC de classe I pelos fagócitos. A ativação do complemento
frequentemente é “desligada” nas células também pode participar na imunidade viral
infectadas por vírus, como um mecanismo mediada por anticorpo, principalmente via
para escapar dos CTLs. Isso permite que as promoção de fagocitose e, possivelmente, pela
células NK matem as células infectadas, uma lise direta dos vírus contendo envelopes
vez que a ausência de classe I libera as células lipídicos. A importância da imunidade
NK de um estado normal de inibição. A humoral na defesa contra infecções virais é
infecção viral também pode estimular a sustentada pela observação de que a resistência
expressão de ligantes de célula NK nas células a um vírus particular, induzida por infecção ou
infectadas. vacinação, costuma ser específica para o
sorotipo específico daquele vírus. Um exemplo
é o vírus influenza, em que a exposição a um
tipo sorológico não confere resistência aos
outros sorotipos. Os anticorpos neutralizantes
bloqueiam a infecção viral das células e a
disseminação viral célula à célula, entretanto,
depois que os vírus entram e passam a se
replicar no meio intracelular, tornam-se
inacessíveis aos anticorpos. Portanto, a
imunidade humoral induzida por infecção
Os receptores de ativação estimulam proteínas quinases
prévia ou vacinação é capaz de conferir
que fosforilam substratos de sinalização downstream, proteção aos indivíduos a partir da infecção
enquanto os receptores de inibição estimulam fosfatases viral, mas por si só não consegue erradicar
que contrapõem as quinases. uma infecção estabelecida.

Imunidade Adquirida
CTLs
A principal função fisiológica dos CTLs
Anticorpos
(linfócitos T citotóxicos) é a vigilância contra
Os anticorpos, efetores da imunidade humoral,
a infecção viral. A maioria dos CTLs
são efetivos contra os vírus somente durante o
vírus-específicos são células T CD8+ que
estágio extracelular das vidas desses
reconhecem peptídeos virais citosólicos, em

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geral sintetizados endogenamente, nas células hospedeiras, e esses vírus
apresentados por moléculas de MHC classe I. recombinados podem diferir de forma bastante
as células T CD8+ sofrem uma intensa drástica das cepas prevalentes. A
proliferação durante a infecção viral, e a recombinação de genes virais resulta em
maioria das células que proliferaram são alterações significativas na estrutura
específicas para alguns peptídeos virais. antigênica, chamadas variação antigênica, que
Algumas células T ativadas se diferenciam em cria vírus distintos como o da gripe aviária ou
CTLs efetores capazes de destruir qualquer o da gripe suína. Devido à variação antigênica,
célula nucleada infectada. Os efeitos antivirais um vírus pode se tornar resistente à imunidade
dos CTLs são devidos principalmente ao gerada na população por infecções prévias.
killing das células infectadas, porém outros Alguns vírus inibem a apresentação de
mecanismos são a ativação de nucleases nas antígenos proteicos citosólicos associada ao
células infectadas, as quais degradam os MHC de classe I. Os vírus produzem várias
genomas virais, e também à secreção de proteínas que bloqueiam diferentes etapas no
citocinas, como o IFN-γ, que ativa fagócitos e processamento, transporte e apresentação do
pode ter alguma atividade antiviral. Muitas antígeno. A inibição da apresentação
linhas de evidência experimentais e clínicas antigênica bloqueia a montagem e expressão
sustentam a importância dos CTLs na defesa de moléculas de MHC de classe I e a exibição
contra a infecção viral. A suscetibilidade a de peptídeos virais. Como resultado, as células
essas infecções é aumentada em pacientes e infectadas por esses vírus não podem ser
animais deficientes de linfócitos T. reconhecidas nem mortas por CTLs CD8+.
Alguns vírus podem produzir proteínas que
IMUNOEVASÃO VIRAL atuam como ligantes de receptores de inibição
das células NK e, assim, inibem a ativação
Os vírus desenvolveram numerosos dessas células.
mecanismos para evadir a imunidade do Alguns vírus produzem moléculas que inibem
hospedeiro. a resposta imune. Os poxvírus codificam
Eles podem alterar seus antígenos e, portanto, moléculas que são secretadas por células
deixarem de ser alvos das respostas imunes. infectadas e se ligam a várias citocinas,
Os antígenos afetados são mais comumente incluindo IFN-γ, TNF, IL-1, IL-18 e
glicoproteínas de superfície reconhecidas por quimiocinas. As proteínas ligantes de citocinas
anticorpos, porém os epítopos da célula T podem atuar como antagonistas competitivos
também podem sofrer variação. Os principais das citocinas. O vírus Epstein-Barr produz
mecanismos de variação antigênica são as uma proteína homóloga à citocina IL-10, que
mutações pontuais e o rearranjo dos genomas inibe a ativação de macrófagos e células
de RNA (em vírus de RNA), que levam à dendríticas, podendo assim suprimir a
deriva antigênica e à variação antigênica. imunidade mediada por células.
Esses processos são de grande importância na
disseminação do vírus influenza. Os dois
antígenos principais desse vírus são a
hemaglutinina viral trimérica e a
neuraminidase. Os genomas virais sofrem
mutações nos genes codificadores dessas
proteínas de superfície, e a variação resultante
é chamada deriva antigênica. Os genomas de
RNA segmentado de várias cepas de vírus
influenza que normalmente habitam diferentes A figura mostra a via de apresentação do antígeno
espécies de hospedeiros podem se recombinar associado ao MHC de classe I, com exemplos de vírus

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que bloqueiam diferentes etapas dessa via. Além de organismos capazes de existir fora de um
interferir no reconhecimento de células T CD8+, alguns
hospedeiro. As bactérias bacilares mais longas
produzem moléculas de MHC isca que engajam
receptores de inibição das células NK. CVM, exibem tamanho similar ao de algumas
citomegalovírus; EBV, vírus Epstein-Barr; RE, retículo leveduras e hemácias humanas (7 μm).
endoplasmático; HSV, vírus herpes simples; TAP,
transportador associado com o processamento antigênico.

TUTORIA 3

BACTÉRIAS

As bactérias são organismos unicelulares e


microscópicos que pertencem ao reino
Monera. Elas são um tipo de micro-organismo
procariótico, o que significa que não têm um
núcleo verdadeiro envolto por uma membrana
nuclear. Em vez disso, o material genético das
bactérias está disperso no citoplasma em uma Componentes das Bactérias
região chamada nucleoide.
Cada bactéria, que é constituída por uma única Parede Celular
célula diminuta, busca produzir mais células A parede celular é o componente mais externo,
semelhantes a si mesma, e, desde que água e sendo comum a quase todas as bactérias.
suprimento nutricional adequado estejam Algumas bactérias exibem propriedades
disponíveis, a reprodução acontece em níveis superficiais externas à parede celular, como
alarmantes. As bactérias são, na sua grande uma cápsula, flagelos e pili, que correspondem
maioria, heterotróficas. a componentes menos comuns. A parede
São classificadas em três grupos básicos, de celular é uma estrutura em multicamadas
acordo com a forma: cocos, bacilos e situada externamente à membrana
citoplasmática. É composta por uma camada
espiroquetas. Os cocos são esféricos, os
interna de peptideoglicano e uma membrana
bacilos exibem forma de bastonete, e os
externa que varia quanto à espessura e à
espiroquetas são espiralados. Algumas
composição química, dependendo do tipo de
bactérias variam quanto à forma, sendo bactéria. O peptideoglicano confere
referidas como pleomórficas. A forma de uma sustentação estrutural e mantém a forma
bactéria é determinada por sua parede celular característica da célula.
rígida. O aspecto microscópico de uma
bactéria corresponde a um dos critérios mais A estrutura, composição química e espessura
importantes utilizados em sua identificação. da parede celular diferem em bactérias
gram-positivas e gram-negativas.
Além de suas formas características, o arranjo
(1) A camada de peptideoglicano é muito mais
das bactérias é importante. Por exemplo,
espessa em bactérias gram-positivas que em
alguns cocos organizam-se em pares
gram-negativas. Algumas bactérias
(diplococos), alguns em cadeias gram-positivas também apresentam fibras de
(estreptococos), e outros, em agrupamentos ácido teicoico que se projetam para fora do
semelhantes a um cacho de uvas peptideoglicano, fato não observado em
(estafilococos). bactérias gram-negativas.
As bactérias variam em tamanho desde até (2) Contrariamente, os organismos
cerca de 0,2 a 7 μm (Figura 2-2). As menores gram-negativos possuem uma camada externa
bactérias (Mycoplasma) exibem tamanho complexa, consistindo em polissacarídeos,
aproximadamente equivalente aos maiores lipoproteínas e fosfolipídeos. Situado entre a
vírus (poxvírus) e correspondem aos menores camada da membrana externa e a membrana

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citoplasmática encontra-se o espaço clivar o arcabouço de peptideoglicano,
periplasmático, que, em algumas espécies, rompendo suas ligações glicosil, contribuindo,
corresponde ao sítio de enzimas denominadas assim, para a resistência do hospedeiro à
β-lactamases, as quais degradam penicilinas e infecção microbiana.
outros fármacos β-lactâmicos.
A parede celular exibe várias outras Lipopolissacarídeo
propriedades importantes: O lipopolissacarídeo (LPS) da membrana
(1) Em organismos gram-negativos, esta externa da parede celular de bactérias
contém a endotoxina, um lipopolissacarídeo. gram-negativas é uma endotoxina. É
(2) Seus polissacarídeos e proteínas são responsável por várias características das
antígenos úteis na identificação laboratorial. doenças, como febre e choque (especialmente
(3) Suas proteínas porinas desempenham papel hipotensão), causadas por esses organismos. É
na regulação da passagem de moléculas denominado endotoxina porque consiste em
pequenas e hidrofílicas ao interior da célula. uma porção integral da parede celular,
As porinas da membrana externa formam um contrariamente às exotoxinas, as quais são
trímero que atua, geralmente de modo livremente liberadas pelas bactérias.
inespecífico, como um canal que permite a O LPS é composto por três unidades distintas:
entrada de substâncias essenciais, como (1) Um fosfolipídeo denominado lipídeo A,
açúcares, aminoácidos e metais, assim como responsável pelos efeitos tóxicos;
vários fármacos antimicrobianos, como as (2) Um polissacarídeo cerne de cinco açúcares
penicilinas. ligados ao lipídeo A por meio de
cetodesoxioctulonato (CDO);
(3) Um polissacarídeo externo consistindo em
até 25 unidades repetidas de três a cinco
açúcares. Esse polímero externo corresponde
ao importante antígeno somático de várias
bactérias gram-negativas, utilizado na
identificação de certos organismos no
Peptideoglicano laboratório clínico.
O peptideoglicano é uma rede complexa e
entrelaçada que envolve toda a célula, sendo
composto por uma única macromolécula
ligada covalentemente. É observado apenas
nas paredes celulares bacterianas. Confere uma
sustentação rígida à célula, é importante para a
manutenção da forma característica da célula e
permite que a célula resista a meios de baixa
pressão osmótica, como a água.
Por estar presente em bactérias, mas não em
células humanas, o peptideoglicano Ácido teicoico
corresponde a um alvo adequado para Alguns polímeros de ácido teicoico contendo
fármacos antibacterianos. Vários desses glicerol penetram na camada de
fármacos, como penicilinas, cefalosporinas e peptideoglicano, ligando-se covalentemente ao
vancomicina, inibem a síntese de lipídeo da membrana citoplasmática e, nesse
caso, recebem a denominação ácido
peptideoglicano por inibirem a transpeptidase
lipoteicoico; outros são ancorados ao ácido
responsável pelas ligações cruzadas entre os
murâmico do peptideoglicano.
dois tetrapeptídeos adjacentes.
A importância médica dos ácidos teicoicos
A enzima lisozima, presente na lágrima, no reside em sua capacidade de induzir o choque
muco e na saliva de humanos, é capaz de séptico quando causado por determinadas

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bactérias gram-positivas; isto é, os ácidos modo característico com determinados
teicoicos ativam as mesmas vias que a corantes. Por exemplo, a volutina corresponde
endotoxina (LPS) de bactérias gram-negativas. a uma reserva da alta energia, armazenada na
Os ácidos teicoicos também medeiam a forma de metafosfato polimerizado. Esse
ligação de estafilococos às células mucosas. grânulo mostra-se “metacromático”, uma vez
quese cora em vermelho pelo corante azul de
Membrana Plasmática metileno, ao invés de azul, como seria
A membrana citoplasmática bacteriana é esperado. Os grânulos metacromáticos são
composta principalmente por fosfolipídios, uma propriedade característica de
que formam uma bicamada lipídica. A Corynebacterium diphtheriae, o causador da
membrana desempenha quatro funções difteria.
importantes:
(1) transporte ativo de moléculas para o Nucleiode
interior da célula, O nucleoide corresponde à região do
(2) geração de energia pela fosforilação citoplasma onde o DNA está localizado. O
oxidativa, DNA de procariotos é uma única molécula
(3) síntese de precursores da parede celular e circular, com massa molecular (MM) de
(4) secreção de enzimas e toxinas. aproximadamente 2 x 109 , contendo cerca de
2.000 genes. (Como comparação, o DNA
Mesossomo humano contém aproximadamente 100.000
Esta invaginação da membrana citoplasmática genes.)
é importante durante a divisão celular, quando
atua como a origem do septo transverso que Plasmídeo
divide a célula pela metade, e como sítio de Os plasmídeos são moléculas de DNA de fita
ligação do DNA que se tornará o material dupla, circulares e extracromossomais, capazes
genético de cada célula-filha. de replicar-se independentemente do
cromossomo bacteriano. Embora sejam
Citoplasma geralmente extracromossomais, os plasmídeos
O citoplasma exibe duas áreas distintas quando podem integrar-se ao cromossomo bacteriano.
observado ao microscópio eletrônico: Os plasmídeos estão presentes tanto em
(1) Uma matriz amorfa que contém bactérias gram-positivas como gram-negativas.
ribossomos, grânulos de nutrientes, Os plasmídeos carreiam os genes envolvidos
metabólitos e plasmídeos; nas seguintes funções e estruturas de
(2) Uma região nucleoide interna composta importância médica:
por DNA. (1) Resistência a antibióticos, a qual é mediada
por uma variedade de enzimas;
Ribossomos (2) Resistência a metais pesados, como
Os ribossomos bacterianos são o sítio da mercúrio (o componente ativo de alguns
síntese proteica, como nas células eucarióticas, antissépticos, como Merthiolate e
porém diferem dos ribossomos eucarióticos Mercúrio-cromo) e prata, sendo mediada por
em relação ao tamanho e à composição uma enzima redutase;
química. As diferenças nas proteínas e RNAs (3) Resistência à luz ultravioleta, mediada por
ribossomais constituem a base para a ação enzimas de reparo de DNA;
seletiva de vários antibióticos que inibem a (4) Pili (fímbrias), que medeiam a adesão das
síntese proteica de bactérias, mas não de bactérias às células epiteliais;
humanos. (5) Exotoxinas, incluindo diversas
enterotoxinas.
Grânulos
O citoplasma contém vários tipos diferentes de Transposons
grânulos que atuam como áreas de Os transposons são segmentos de DNA que se
armazenamento de nutrientes e coram-se de deslocam prontamente de um sítio a outro,

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tanto no interior, como entre os DNAs de direção aos nutrientes e outros fatores
bactérias, plasmídeos e bacteriófagos. Em atrativos, processo denominado quimiotaxia. O
virtude de sua capacidade incomum de longo filamento que atua como um propulsor é
movimentar-se, estes são apelidados de genes composto por várias subunidades de uma única
saltadores. Esses elementos podem codificar proteína, a flagelina, organizadas em diversas
enzimas de resistência a fármacos, toxinas, ou cadeias entrelaçadas. A energia para a
uma variedade de enzimas metabólicas, bem movimentação, a força próton motiva, é
como podem causar mutações no gene onde fornecida pela adenosina trifosfato (ATP),
estão inseridos, ou alterar a expressão de genes derivada da passagem de íons através da
próximos. membrana.

Estruturas Externas à Parede Celular Pili - Fímbrias


Os pili são filamentos semelhantes a pelos, que
Cápsulas se estendem a partir da superfície celular. São
A cápsula é uma camada gelatinosa que mais curtos e lineares que os flagelos, sendo
reveste toda a bactéria. É usualmente compostos por subunidades de uma proteína, a
composta por polissacarídeos. Os açúcares que pilina, organizadas em fitas helicoidais. São
compõem o polissacarídeo variam de uma encontrados principalmente em organismos
espécie bacteriana a outra, e, frequentemente, gram-negativos. Medeiam a ligação das
determinam o tipo sorológico de uma espécie. bactérias a receptores específicos da superfície
A cápsula é importante por quatro razões: de células humanas, etapa necessária à
(1) É um determinante da virulência de iniciação da infecção por alguns organismos.
diversas bactérias, uma vez que limita a Mutantes de Neisseria gonorrhoeae que não
capacidade de fagócitos engolfarem as formam pili não são patogênicos. Um tipo
bactérias. Variantes de bactérias capsuladas especializado de pilus, o pilus sexual,
que perderam a capacidade de produzir uma estabelece a ligação entre as bactérias macho
cápsula geralmente não são patogênicas. (doadora) e fêmea (receptora) durante a
(2) A identificação específica de um conjugação.
organismo pode ser realizada pelo uso de um
antissoro contra o polissacarídeo capsular. Na Glicocálix
presença do anticorpo homólogo, a cápsula O glicocálix consiste em um revestimento
sofrerá um intumescimento expressivo. Esse polissacarídico secretado por muitas bactérias.
fenômeno de intumescimento, utilizado no Ele reveste as superfícies como um filme e
laboratório clínico para identificar certos possibilita a firme aderência das bactérias a
organismos, é denominado reação de estruturas variadas, por exemplo, pele,
Quellung. válvulas cardíacas e cateteres. Também medeia
(3) Os polissacarídeos capsulares são a adesão de certas bactérias, como
utilizados como antígenos em determinadas Streptococcus mutans, à superfície dos dentes.
vacinas, uma vez que são capazes de elicitar Isso desempenha papel importante na
anticorpos protetores. Por exemplo, os formação da placa dental, o precursor da cárie
polissacarídeos capsulares purificados de 23 dental.
tipos de S. pneumoniae estão presentes na
vacina atual. Esporos Bacterianos
(4) A cápsula pode desempenhar um papel na Estas estruturas altamente resistentes são
adesão das bactérias aos tecidos humanos, a formadas em resposta às condições adversas
qual consiste em uma etapa inicial importante por dois gêneros de bacilos gram-positivos de
da infecção. importância médica: o gênero Bacillus, que
inclui o agente do antraz, e o gênero
Flagelos Clostridium, que inclui os agentes do tétano e
Os flagelos são apêndices longos, semelhantes botulismo. A formação de esporos
a um chicote, que deslocam as bactérias em (esporulação) ocorre quando os nutrientes,

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como fontes de carbono e nitrogênio, são oxigênio, uma vez que são desprovidas de
depletados. superóxido dismutase ou catalase, ou ambos.
O esporo é formado no interior da célula e Anaeróbios obrigatórios variam em sua
contém DNA bacteriano, uma pequena resposta à exposição ao oxigênio; alguns
quantidade de citoplasma, membrana celular, podem sobreviver, mas são incapazes de se
peptideoglicano, pouquíssima água e, o mais multiplicar, enquanto outros são rapidamente
importante, um revestimento espesso mortos.
semelhante à queratina, responsável pela
acentuada resistência do esporo ao calor, à Fermentação de Açúcares
desidratação, à radiação e a compostos No laboratório clínico, a identificação de
químicos. Essa resistência pode ser mediada vários patógenos importantes de humanos
pelo ácido dipicolínico, um quelante de íons baseia-se na fermentação de determinados
cálcio, encontrado apenas em esporos. açúcares. Por exemplo, Neisseria gonorrhoeae
Uma vez formado, o esporo não exibe e Neisseria meningitidis podem ser
qualquer atividade metabólica, podendo diferenciadas entre si com base na fermentação
permanecer dormente por muitos anos. de glicose ou maltose, assim como E. coli
Quando exposto à água e a nutrientes pode ser diferenciada de Salmonella e Shigella
apropriados, enzimas específicas degradam o com base na fermentação da lactose.
revestimento, a água e os nutrientes penetram, O termo fermentação refere-se à clivagem de
e ocorre a germinação em uma célula um açúcar (como glicose ou maltose) a ácido
bacteriana potencialmente patogênica. Observe pirúvico e, em seguida, a ácido láctico. A
que esse processo de diferenciação não fermentação é também denominada ciclo
corresponde a uma forma de reprodução, uma glicolítico (glico = açúcar, lítico = quebra),
vez que uma célula produz um esporo que sendo este o processo pelo qual as bactérias
germina, originando uma célula. facultativas geram ATP na ausência de
A importância médica dos esporos reside em oxigênio.
sua extraordinária resistência ao calor e a
compostos químicos. Como resultado de sua Metabolismo do Ferro
resistência ao calor, a esterilização não é O ferro, sob a forma de íon férrico, é requerido
obtida por meio da fervura. O aquecimento por para o crescimento das bactérias por ser um
vapor sob pressão (autoclave) a 121ºC, componente essencial dos citocromos e de
geralmente por 30 minutos, é necessário para outras enzimas. A quantidade de ferro
garantir a esterilidade de produtos de uso disponível no corpo humano para as bactérias
médico. é muito baixa, uma vez que o ferro é
sequestrado por proteínas ligantes de ferro,
Crescimento Aeróbio e Anaeróbio como a transferrina. Para obter o ferro
(1) Algumas bactérias, como M. tuberculosis, necessário para o crescimento, as bactérias
são aeróbias obrigatórias; isto é, requerem produzem compostos ligantes de ferro
oxigênio para o crescimento, uma vez que seu denominados sideróforos. Os sideróforos,
sistema de geração de ATP depende do como a enterobactina produzida por E. coli,
oxigênio como aceptor final de hidrogênio. são secretados pelas bactérias, quelam o ferro
(2) Outras bactérias, como E. coli, são disponível e assim o capturam, e por fim se
anaeróbias facultativas; elas utilizam o ligam a receptores específicos localizados na
oxigênio para gerar energia por meio da superfície das bactérias, sendo ativamente
respiração, caso este se encontre presente; transportados para o interior da célula. O fato
contudo, são capazes de utilizar a via da de as bactérias apresentarem esse mecanismo
fermentação para sintetizar ATP na ausência descrito reforça a importância do ferro para o
de oxigênio suficiente. crescimento e metabolismo bacterianos.
(3) O terceiro grupo de bactérias consiste nas Isso pode ser observado em exames
anaeróbias obrigatórias, como Clostridium laboratoriais, como os que medem os níveis
tetani, incapazes de crescer na presença de séricos de ferro, ferritina, transferrina e

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saturação de transferrina. Se houver uma Indivíduos malnutridos, quando submetidos ao
resposta inflamatória significativa, como a tratamento com antibióticos orais, podem
observada em infecções, os níveis de ferritina apresentar deficiências vitamínicas como
podem aumentar. resultado da redução da microbiota normal.

Fatores que Afetam o Crescimento Microbiota Normal da Pele


Microbiano O organismo predominante é o Staphylococcus
O crescimento microbiano é afetado por epidermidis, que não é patogênico quando
inúmeros fatores ambientais, incluindo situado na pele, porém pode causar doenças
disponibilidade de nutrientes, umidade, quando atinge determinados sítios, como
temperatura, pH, pressão osmótica, pressão válvulas cardíacas artificiais ou articulações
barométrica e composição da atmosfera. Esses prostéticas. É encontrado na pele com
fatores ambientais afetam os microrganismos frequência muito superior que o organismo
em nosso cotidiano e desempenham patogênico relacionado, Staphylococcus
importantes papéis no controle dos aureus. Há cerca de 103 -104 organismos/cm2
microrganismos em laboratórios, indústrias e de pele. A maioria localiza-se superficialmente
hospitais. no estrato córneo, porém alguns encontram-se
nos folículos pilosos e atuam como
MICROBIOTA NORMAL reservatório para substituir a microbiota
superficial após a lavagem das mãos.
Termo utilizado para descrever as várias A levedura Candida albicans é também um
bactérias e fungos que são residentes membro da microbiota normal da pele. Pode
permanentes de determinados sítios corporais, atingir a corrente sanguínea de um indivíduo
especialmente a pele, a orofaringe, o cólon e a quando a pele é perfurada por agulhas. Ela é
vagina. Embora a microbiota normal seja uma importante causa de infecções sistêmicas
encontrada povoando intensamente várias em pacientes que apresentam baixa imunidade
regiões do corpo, os órgãos internos mediada por células.
habitualmente são estéreis.
Os membros da microbiota normal Microbiota Normal do Trato Respiratório
desempenham papel na manutenção da saúde, O nariz é colonizado por uma variedade de
bem como na promoção de doenças, de três espécies estreptocóccicas e estafilocóccicas,
maneiras significativas: das quais a mais importante corresponde ao
(1) Podem causar doenças, especialmente em patógeno S. aureus.
indivíduos imunocomprometidos ou A garganta contém uma variedade de
debilitados. Embora esses organismos não estreptococos do grupo viridans, espécies de
sejam patogênicos em sua localização Neisseria e S. epidermidis. Esses organismos
anatômica usual, podem ser patogênicos em não patogênicos ocupam os sítios de adesão da
outras regiões do corpo. mucosa da faringe, impedindo o crescimento
(2) Constituem um mecanismo de defesa dos patógenos Streptococcus pyogenes,
protetor. As bactérias residentes não Neisseria meningitidis e S. aureus,
patogênicas ocupam sítios de adesão na pele e respectivamente.
mucosa, podendo interferir na colonização por
bactérias patogênicas. A capacidade dos Microbiota Normal do Trato Intestinal
membros da microbiota normal limitarem o Em indivíduos com dieta normal, o estômago
crescimento de patógenos é denominada contém poucos organismos devido a seu baixo
resistência à colonização. Quando a microbiota pH e suas enzimas. O intestino delgado
normal é suprimida, os patógenos podem habitualmente contém pequeno número de
crescer e causar doenças. estreptococos, lactobacilos e leveduras,
(3) Podem desempenhar uma função particularmente C. albicans. Grandes números
nutricional. As bactérias intestinais produzem
grande quantidade de vitamina B e vitamina K.

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destes organismos são encontrados na porção
terminal do íleo. MECANISMOS BACTERIANOS
A microbiota normal do trato intestinal
desempenha importante papel nas doenças Tipos de Infecções Bacterianas
extraintestinais. Por exemplo, Escherichia coli O termo infecção apresenta mais de um
corresponde à principal causa de infecções do significado. Um dos significados é observado
trato urinário, enquanto Bacteroides fragilis é quando um microrganismo infecta uma pessoa
(i.e., ele entrou no corpo dessa pessoa). Por
uma importante causa de peritonite associada à
exemplo, uma pessoa pode ser infectada por
perfuração da parede intestinal por trauma,
um microrganismo de baixa patogenicidade e
apendicite ou diverticulite.
não desenvolver sintomas da doença. Outro
significado do termo infecção está relacionado
Microbiota Normal do Trato à descrição de uma doença infecciosa, como
Genitourinário quando alguém diz “eu tenho uma infecção”.
A microbiota vaginal de mulheres adultas Nesse contexto, nota-se um intercâmbio entre
contém principalmente espécies de as palavras infecção e doença, embora seja
Lactobacillus. Os lactobacilos são importante perceber que, de acordo com as
responsáveis pela produção do ácido que definições iniciais, a palavra infecção não deve
mantém baixo o pH da vagina da mulher ser equiparada à condição de doença.
adulta. Antes da puberdade e após a Bactérias provocam doenças por meio de dois
menopausa, quando os níveis de estrógeno são mecanismos principais: (1) produção de
baixos, os lactobacilos são raros e o pH toxinas e (2) invasão e inflamação.
vaginal é alto. Toxinas se enquadram em duas categorias
gerais: exotoxinas e endotoxinas. Exotoxinas
A vagina situa-se próximo ao ânus, podendo
são polipeptídeos liberados pela célula
ser colonizada por membros da microbiota
bacteriana, enquanto endotoxinas são
fecal. Por exemplo, mulheres propensas a
lipopolissacarídeos, componentes integrais da
infecções recorrentes do trato urinário
parede celular. Endotoxinas são encontradas
albergam organismos como E. coli e
apenas em bacilos e cocos gram-negativos,
Enterobacter no introito. Cerca de 15-20% das
não são liberadas ativamente pela célula
mulheres em idade fértil apresentam
bacteriana e provocam febre e choque, entre
estreptococos do grupo B na vagina. Esse
outras manifestações sistêmicas. Exotoxinas e
organismo é uma importante causa de sépsis e
endotoxinas podem provocar sintomas por si
meningite em recém-nascidos, sendo adquirido
só; a presença da bactéria no hospedeiro não é
durante a passagem pelo canal de parto. Em
necessária. Bactérias invasivas, entretanto,
aproximadamente 5% das mulheres, a vagina é
multiplicam-se de forma intensiva e
colonizada por S. aureus, implicando em uma
localizada, induzindo uma resposta
predisposição à síndrome do choque tóxico.
inflamatória caracterizada pela presença de
Em indivíduos sadios, a urina, quando na
eritema, edema, hipertermia e dor.
bexiga, é estéril. Contudo, durante a passagem
Muitas infecções bacterianas são
pelas porções mais distais da uretra, a urina
transmissíveis ou comunicantes (i.e., são
sofre contaminação por S. epidermidis,
passadas de um hospedeiro ao outro), mas não
coliformes, difteroides e estreptococos não
todas. A tuberculose, por exemplo, é
hemolíticos. A região ao redor da uretra
transmissível (i.e., disseminada de pessoa a
feminina e de homens não circuncisados
pessoa por meio de perdigotos contaminados
contêm secreções que apresentam
produzidos durante a tosse de pessoas
Mycobacterium smegmatis, um organismo
infectadas); o botulismo, entretanto, não é
acidorresistente. A pele que reveste o trato
transmissível, uma vez que a exotoxina
genitourinário corresponde ao sítio de
produzida pelo microrganismo presente no
Staphylococcus saprophyticus, uma causa de
alimento contaminado afetará apenas os que se
infecções do trato urinário em mulheres.
alimentarem desse alimento.

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Algumas infecções resultam em um estado contaminação fecal de fontes de alimento e
latente, após o qual a reativação da água. Microrganismos também podem ser
multiplicação do microrganismo e a posterior transmitidos por contato sexual, urina, contato
recorrência dos sintomas podem ser cutâneo, transfusão sanguínea, seringas
observadas. Certas infecções podem produzir contaminadas ou picada de artrópodes.
um estado de portador crônico, no qual o Bactérias, vírus e outros microrganismos
microrganismo continua a multiplicar-se com também podem ser transmitidos da mãe para a
ou sem a produção de manifestações clínicas
prole por um processo conhecido como
no hospedeiro.
transmissão vertical. Os modos de transmissão
Determinar se um microrganismo isolado de
por meio dos quais os microrganismos são
um paciente é, de fato, a causa da doença
envolve o conhecimento sobre dois transmitidos verticalmente ocorrem através da
fenômenos: a microbiota normal e a placenta, pelo contato com o canal vaginal
colonização. Membros da microbiota normal durante o parto e pela amamentação.
são residentes permanentes do corpo e variam Animais também são importantes como fonte
conforme o local anatômico que ocupam. de infecção de diversos microrganismos que
Quando um microrganismo é obtido a partir do infectam o homem. Os animais podem
espécime clínico, o conhecimento sobre a representar tanto a fonte (reservatórios) quanto
participação dele na microbiota normal do o modo de transmissão (vetores) de
paciente é fundamental para a interpretação do determinados microrganismos. Doenças para
achado. A colonização refere-se à presença de as quais os animais são reservatórios são
um novo organismo que não está presente na denominadas zoonoses.
microbiota normal e também não representa a
causa dos sintomas. A distinção entre um
Aderência às Superfícies Celulares
patógeno e um colonizador pode tornar-se um
Certas bactérias têm estruturas especializadas
dilema clínico difícil, especialmente quando os
(p. ex., pili) ou produzem substâncias (p. ex.,
espécimes clínicos são obtidos a partir do trato
respiratório, como culturas de garganta ou de cápsulas ou glicocálices) que as permitem
escarro. aderir a superfícies de células humanas,
aumentando sua capacidade de causar doenças.
Transmissão Esses mecanismos de aderência são essenciais
O entendimento do modo de transmissão das aos microrganismos que se prendem às
bactérias e de outros agentes infecciosos é membranas mucosas; mutantes desprovidos
extremamente importante sob a perspectiva da desses mecanismos são frequentemente não
saúde pública, uma vez que interromper a patogênicos. As inúmeras moléculas que
cadeia de transmissão representa uma permitem a aderência às superfícies celulares
excelente maneira de prevenir doenças são denominadas adesinas.
infeciosas. O modo de transmissão de Após a adesão, as bactérias frequentemente
inúmeras doenças infecciosas ocorre entre formam uma matriz protetora denominado
humanos, mas doenças infecciosas também biofilme, constituída por diversos tipos de
são adquiridas de fontes não humanas como o polissacarídeos e proteínas. Os biofilmes
solo, a água e os animais. Fômites são objetos formam-se especialmente em corpos estranhos
inanimados, como toalhas, que servem como como próteses de articulações, válvulas
fonte de microrganismos que podem provocar cardíacas e cateteres endovenosos, mas
doenças infecciosas. também podem ocorrer em estruturas nativas,
Os patógenos são normalmente eliminados dos como válvulas cardíacas naturais. Os biofilmes
pacientes pelos tratos respiratório e protegem as bactérias tanto de antibióticos
gastrintestinal; a transmissão ao novo quanto das defesas imunológicas do
hospedeiro, portanto, ocorre normalmente por hospedeiro, como anticorpos e neutrófilos.
meio de aerossóis respiratórios ou Tais estruturas também retardam a cura da

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ferida, gerando processos infecciosos crônicos, fagócito à bactéria; anticorpos anticapsulares
principalmente em diabéticos. Os biofilmes permitem que a fagocitose ocorra de maneira
desempenham papéis importantes na mais eficiente (processo denominado
persistência de Pseudomonas no pulmão de opsonização). As vacinas contra S.
pacientes com fibrose cística e na formação da pneumoniae, H. influenzae e N. meningitidis
placa dental, precursora das cáries. apresentam polissacarídeos capsulares que
induzem a formação de anticorpos
Invasão anticapsulares protetores.
Um dos principais mecanismos pelo qual Um segundo grupo de fatores antifagocitários
bactérias provocam doença é a invasão do é constituído pelas proteínas de parede celular
tecido seguida de inflamação. Inúmeras dos cocos gram-positivos, como a proteína M
enzimas secretadas por bactérias invasivas dos estreptococos do grupo A (S. pyogenes) e
desempenham papéis na patogênese. Entre as a proteína A do S. aureus. A proteína M é
mais proeminentes estão: antifagocitária e a proteína A liga-se à IgG,
Colagenase e hialuronidase, que degradam o impedindo a ativação do complemento.
colágeno e o ácido hialurônico,
respectivamente, permitindo a disseminação Inflamação
do microrganismo para o tecido subcutâneo; Bactérias podem causar dois tipos de
ambas são especialmente importantes na inflamação: piogênica e granulomatosa.
celulite provocada pelo Streptococcus A inflamação piogênica é uma resposta
pyogenes. inflamatória caracterizada pela formação de
Coagulase, produzida pelo Staphylococcus pus. O pus é uma mistura de células mortas,
aureus, que acelera a formação do coágulo de fluido inflamatório e bactérias mortas. Quando
fibrina a partir de seu precursor, o fibrinogênio ocorre uma infecção bacteriana, o sistema
(esse coágulo protege a bactéria da fagocitose imunológico responde liberando células de
por meio do isolamento da área infectada e por defesa, como neutrófilos, para o local da
envolver o microrganismo em uma camada de infecção. Os neutrófilos são células que
fibrina). A coagulase também é produzida pela fagocitam (ingerem) as bactérias, formando o
Yersinia pestis, causadora da peste bubônica. pus como resultado da destruição das células
Protease de imunoglobulina A (IgA), capaz de bacterianas e do tecido circundante.
degradar IgA, permitindo a adesão do A inflamação granulomatosa é caracterizada
microrganismo às membranas mucosas. É pela formação de granulomas, estruturas
produzida principalmente pela N. gonorrhoeae, compostas por células do sistema imunológico,
Haemophilus influenzae e Streptococcus como macrófagos e linfócitos, que cercam e
pneumoniae. isolam materiais estranhos, incluindo
Leucocidinas, capazes de destruir neutrófilos e bactérias. Quando as células do sistema
macrófagos. imunológico não conseguem eliminar
Além dessas enzimas, inúmeros fatores de completamente as bactérias, elas podem
virulência contribuem para o processo de formar granulomas para encapsular os agentes
invasão por meio da limitação dos mecanismos infecciosos. Os granulomas ajudam a evitar
de defesa do hospedeiro, principalmente da que a infecção se espalhe, mas também podem
fagocitose, para que possam operar contribuir para a inflamação crônica.
efetivamente.
O mais importante dos fatores antifagocitários Sobrevivência Intracelular
é a cápsula externa à parede celular presente A sobrevivência intracelular é um atributo
em inúmeros patógenos importantes, como S. importante de certas bactérias, uma vez que
pneumoniae e Neisseria meningitidis. A aumenta a sua capacidade de provocar doença.
cápsula polissacarídica previne a aderência do Essas bactérias são denominadas patógenos

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intracelulares e comumente provocam lesões subunidade B (ou de ligação) é responsável
granulomatosas. Essas bactérias têm inúmeros pela ligação da exotoxina aos receptores de
mecanismos diferentes que as permitem superfície celular específicos.
sobreviver e crescer no meio intracelular, Exotoxinas são liberadas da bactéria por meio
como inibição da fusão do fagossomo com o de estruturas especializadas conhecidas como
lisossomo, para evitar as enzimas de sistemas de secreção. Alguns sistemas de
degradação do lisossomo; inibição da secreção transportam as exotoxinas para o
espaço extracelular, enquanto outros as levam
acidificação do fagossomo, que diminui a
diretamente ao interior das células dos
atividade das enzimas de degradação do
mamíferos. Os sistemas que as levam
lisossomo; escape do fagossomo para o
diretamente ao espaço intracelular são
citoplasma, onde não há enzimas de considerados mais eficientes, uma vez que as
degradação. exotoxinas não são expostas aos anticorpos
A invasão celular por bactérias depende da presentes no meio extracelular.
interação de proteínas de superfície
bacterianas específicas, denominadas Mecanismos de Toxicidade
invasinas, com receptores celulares específicos Algumas exotoxinas são enzimas que podem
pertencentes à família das integrinas de adesão desempenhar funções específicas dentro das
transmembrana. O movimento das bactérias células hospedeiras. Por exemplo, a toxina
para dentro da célula é uma função diftérica produzida por Corynebacterium
desempenhada por microfilamentos de actina. diphtheriae inibe a síntese de proteínas nas
Uma vez dentro das células, essas bactérias células e pode causar danos às membranas
residem geralmente dentro de vacúolos celulares.
celulares como fagossomos. Algumas exotoxinas têm a capacidade de
danificar as membranas celulares. Por
Exotoxinas exemplo, as toxinas de Clostridium
Exotoxinas são produzidas por inúmeras perfringens podem causar danos à membrana
bactérias gram-positivas e gram-negativas, celular, levando à morte celular.
diferentemente das endotoxinas, presentes Outras exotoxinas agem como superantígenas,
apenas em bactérias gram-negativas. estimulando uma resposta imunológica intensa
A diferença essencial consiste no fato de que ao se ligarem a células imunes e
exotoxinas são secretadas pelas bactérias, desencadeando uma liberação massiva de
enquanto endotoxinas são componentes da
citocinas. Isso pode levar a uma resposta
parede celular.
inflamatória sistêmica e, em casos extremos,
ao choque tóxico.
Certas exotoxinas podem interferir com os
sinais regulatórios das células hospedeiras,
levando a efeitos diversos. Um exemplo é a
toxina colérica, que atua aumentando a
produção de AMP cíclico nas células epiteliais
intestinais, resultando em desequilíbrios
iônicos e secreção excessiva de água,
Exotoxinas encontram-se entre as substâncias causando diarreia.
mais tóxicas já conhecidas. Por exemplo, Assim, as principais consequências geradas
estima-se que a dose fatal de toxina do tétano pelas exotoxinas são morte celular, disfunção
para humanos seja inferior a 1 mg. celular e resposta inflamatória intensa.
Muitas exotoxinas apresentam subunidades A
e B em suas estruturas. A subunidade A (ou
ativa) possui a atividade tóxica, enquanto a

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Endotoxinas antibióticos eliminam a bactéria presente no
Endotoxinas são parte integral da parede sangue (i.e., as amostras de sangue tornam-se
celular de bacilos e cocos gram-negativo. negativas). Isso ocorre porque o choque é
Endotoxinas são lipopolissacarídeos, enzimas mediado por citocinas como o TNF e a
envolvidas na síntese de LPS são codificadas interleucina (IL)-1, que continuam agindo
pelo cromossomo bacteriano. A toxicidade das mesmo depois que as bactérias responsáveis
endotoxinas é baixa quando comparada à por suas induções não estão mais presentes no
toxicidade das exotoxinas. Todas as sangue.
endotoxinas produzem sintomas sistêmicos de
febre e choque, embora endotoxinas de alguns
DEFESA CONTRA BACTÉRIAS
microrganismos sejam mais eficientes. São
EXTRACELULARES
pouco antigênicas; a produção de anticorpos As bactérias extracelulares são capazes de se
protetores é tão baixa que inúmeros episódios replicar fora das células hospedeiras. Muitas
de toxicidade podem ocorrer. Toxoides nunca espécies diferentes de bactérias extracelulares
foram produzidos a partir de endotoxinas e, são patogênicas, e a doença é causada por
portanto, endotoxinas não estão presentes em meio de dois mecanismos principais. Primeiro,
nenhuma vacina disponível. essas bactérias induzem inflamação que resulta
Os achados de febre e hipotensão são em destruição tecidual no sítio de infecção.
características evidentes do choque séptico. Em segundo lugar, as bactérias produzem
Outras manifestações clínicas incluem toxinas que produzem diversos efeitos
taquicardia, taquipneia e leucocitose (aumento patológicos.
de leucócitos, principalmente de neutrófilos).
O choque séptico é uma das principais causas Imunidade Inata
de óbitos em unidades de tratamento intensivo, Os principais mecanismos de imunidade inata
apresentando taxa de mortalidade de 30 a 50%. a bactérias extracelulares são a ativação do
complemento, a fagocitose e a resposta
inflamatória.

Ativação do Complemento
Os peptidoglicanos presentes nas paredes
celulares de bactérias Gram-positivas e o LPS
encontrado em bactérias Gram-negativas
ativam o complemento pela via alternativa
(Capítulo 13). As bactérias que expressam
Choque Séptico manose em sua superfície podem se ligar à
As endotoxinas de bactérias gram-negativas lectina ligante de manose, a qual ativa o
representam a causa melhor estabelecida do complemento pela via da lectina. Um resultado
choque séptico. O choque séptico é diferente da ativação do complemento é a opsonização e
do choque tóxico. No choque séptico, a a aumentada fagocitose das bactérias.
bactéria está presente na corrente sanguínea, Somando-se a isso, o complexo de ataque à
enquanto no choque tóxico a toxina está membrana gerado pela ativação do
presente no sangue. A importância dessa complemento lisa as bactérias, em especial as
observação reside no fato de que no choque espécies de Neisseria que são particularmente
séptico, culturas bacterianas de sangue são suscetíveis à lise devido a suas finas paredes
normalmente positivas, enquanto no choque celulares; e os subprodutos do complemento
tóxico são normalmente negativas. O choque estimulam respostas inflamatórias via
séptico pode levar ao óbito mesmo quando recrutamento e ativação de leucócitos.

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Ativação de Fagócitos e Inflamação infecção, eliminando os microrganismos e
Os fagócitos (neutrófilos e macrófagos) usam neutralizando suas toxinas. As respostas de
receptores de superfície, incluindo receptores anticorpo contra bactérias extracelulares são
de manose e receptores scavenger, para dirigidas contra os antígenos da parede celular
reconhecer bactérias extracelulares, e e as toxinas, que podem ser polissacarídeos ou
receptores Fc e de complemento para proteínas.
reconhecer bactérias opsonizadas com Os polissacarídeos são antígenos
anticorpos e proteínas do complemento, T-independentes que induzem respostas de
respectivamente. Os produtos microbianos anticorpo sem, contudo, ativar células T. Dessa
forma, a imunidade humoral é o principal
ativam receptores do tipo Toll (TLRs, do
mecanismo de defesa contra bactérias
inglês, Toll-like receptors), além de diversos encapsuladas ricas em polissacarídeos.
sensores presentes em fagócitos e outras Os antígenos proteicos, presentes ou
células. Alguns destes receptores atuam secretados pela maioria das bactérias, induzem
principalmente promovendo a fagocitose dos anticorpos mais potentes, bem como
microrganismos (p. ex.: receptores de manose, imunidade mediada por células. Os
receptores scavenger); outros estimulam as mecanismos efetores usados pelos anticorpos
atividades microbicidas dos fagócitos para combater as infecções incluem
(principalmente TLRs); e ainda outros neutralização, opsonização e fagocitose, e
promovem tanto fagocitose como ativação de ativação do complemento pela via clássica
fagócitos (receptores Fc e do complemento) (Capítulo 13). A neutralização é mediada pelos
(Capítulo 4). Em adição, as células dendríticas isotipos de alta afinidade IgG, IgM e IgA, com
e os fagócitos ativados pelos microrganismos este último atuando principalmente nos lúmens
secretam citocinas que induzem infiltração de de órgãos revestidos por mucosa. A
leucócitos em sítios de infecção (inflamação). opsonização é mediada pelas subclasses IgG1
Os leucócitos recrutados ingerem e destroem e IgG3 da IgG, enquanto a ativação do
as bactérias. A maioria das bactérias complemento é iniciada pela IgM, IgG1 e
extracelulares são suscetíveis ao killing pelos IgG3.
fagócitos, uma vez que os microrganismos não Os antígenos proteicos de bactérias
se adaptaram à sobrevivência no interior extracelulares também ativam células T
dessas células. auxiliares CD4+, as quais produzem citocinas
e expressam moléculas de superfície celular
Células Linfoides Inatas que induzem inflamação local, intensificam as
ILCs também podem atuar na defesa inicial atividades fagocítica e microbicida de
contra estes microrganismos. As ILCs do macrófagos e neutrófilos, e estimulam a
grupo 3 (ILC3s) podem ser ativadas pelas produção de anticorpo
citocinas produzidas em resposta aos
microrganismos e ao dano celular, sendo que
as ILCs secretam interleucina-17 (IL-17),
IL-22 e GM-CSF. Essas citocinas intensificam
a função de barreira epitelial e recrutam
neutrófilos para os sítios de infecção
extracelular, em especial com bactérias e
fungos.

Imunidade Adaptativa
A imunidade humoral constitui uma das
principais respostas imunes protetoras contra As respostas imunes adaptativas a microrganismos
bactérias extracelulares, e atua bloqueando a extracelulares, como bactérias e suas toxinas, consistem

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na produção de anticorpo (A) e na ativação de células T
auxiliares CD4+, que atuam via citocinas secretadas (B)
e ligante de CD40 (não mostrado). Os anticorpos
neutralizam e eliminam microrganismos e toxinas por
meio de vários mecanismos. As células T auxiliares
produzem citocinas que estimulam inflamação, ativação
de macrófagos e respostas de célula B. DC, célula
dendrítica.
Ativação policlonal de células T por superantígenos
Efeitos Lesivos bacterianos.
As principais consequências lesivas das A Antígenos de célula T microbianos convencionais,
respostas do hospedeiro às bactérias compostos por um peptídeo ligado à fenda de ligação de
extracelulares são inflamação e sepse. peptídeo de uma molécula de MHC, são reconhecidos
As mesmas reações dos neutrófilos e por uma fração muito pequena de células T em um
macrófagos que atuam erradicando a infecção indivíduo qualquer, e apenas essas células T são ativadas
para se tornarem células T efetoras que protegem contra
também causam dano tecidual pela produção
o microrganismo.
local de espécies reativas do oxigênio e
B Em contraste, um superantígeno se liga a moléculas de
enzimas lisossômicas. Essas reações
MHC de classe II fora da fenda de ligação ao peptídeo e,
inflamatórias geralmente são autolimitadas e simultaneamente, liga-se à região variável de muitas
controladas. As citocinas secretadas pelos cadeias de TCR β diferentes, independentemente da
leucócitos em resposta aos produtos especificidade peptídica do TCR. Os superantígenos
bacterianos também estimulam a produção de podem ativar um amplo número de células T.
proteínas de fase aguda e acarretam as
manifestações sistêmicas da infecção.
DEFESA CONTRA BACTÉRIAS
A sepse é uma consequência patológica de
infecção grave causada por algumas bactérias INTRACELULARES
Gram-negativas e Gram-positivas (bem como Uma característica das bactérias intracelulares
alguns fungos), em que microrganismos facultativas é sua habilidade de sobreviver e
viáveis ou produtos microbianos estão até replicar dentro dos fagócitos. Como esses
presentes no sangue. Isso causa distúrbios microrganismos conseguem encontrar um
sistêmicos de perfusão tecidual, coagulação, nicho onde se tornam inacessíveis aos
metabolismo e função orgânica. O choque
anticorpos circulantes, sua eliminação requer
séptico é a forma mais grave e frequentemente
fatal de sepse, caracterizada pelo colapso os mecanismos de imunidade mediada por
circulatório (choque) e coagulação células.
intravascular disseminada.

Superantígenos
Certas toxinas bacterianas estimulam todas as
células T que expressam membros de uma
família particular de genes Vβ do receptor de
célula T. Essas toxinas são chamadas
superantígenos porque, assim como os
antígenos típicos reconhecidos pelas células T,
ligam-se aos TCRs e a moléculas do MHC de
A resposta imune inata a bactérias intracelulares consiste
classe II e ativam um número muito maior de em fagócitos e células NK, com as interações entre
clones de células T do que aquele induzido ambos mediadas por citocinas (IL-12 e IFN-γ). A
resposta imune adaptativa típica a esses microrganismos
pelos antígenos peptídicos convencionais. Sua é a imunidade celular.
importância reside em sua habilidade de ativar
muitas células T, com subsequente produção Imunidade Inata
de grandes quantidades de citocinas que A resposta imune inata a bactérias
também podem causar uma síndrome intracelulares é mediada principalmente por
inflamatória sistêmica. fagócitos e células natural killer (NK). Os
fagócitos — inicialmente neutrófilos e depois

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macrófagos — ingerem e tentam destruir esses que escapam dos mecanismos de killing dos
microrganismos, porém as bactérias fagócitos.
intracelulares patogênicas são resistentes à
degradação no interior dos fagócitos.
Os produtos dessas bactérias são reconhecidos
por TLRs e proteínas citoplasmáticas da
família de receptores do tipo NOD , resultando
na ativação dos fagócitos. O DNA bacteriano
no citosol estimula respostas de interferon do
tipo I através da via STING.
As bactérias intracelulares ativam células NK
por meio da indução da expressão de ligantes
ativadores de células NK nas células
infectadas, e também estimulando a produção
Cooperação de células T CD4+ e CD8+ na defesa contra
por células dendríticas e macrófagos de IL-12 microrganismos intracelulares. Bactérias intracelulares
e IL-15, que são citocinas ativadoras de células como L. monocytogenes são fagocitadas por macrófagos
e podem sobreviver em fagossomos e escapar dentro do
NK. As células NK produzem IFN-γ que, por
citoplasma. As células T CD4+ respondem a antígenos
sua vez, ativa macrófagos e promove o killing peptídicos associados ao MHC de classe II derivados de
das bactérias fagocitadas. bactérias intravesiculares. Essas células T produzem
IFN-γ e expressam ligante de CD40, que ativa
As ILCs do tipo I também defendem contra macrófagos para a destruição dos microrganismos no
bactérias intracelulares. Essas células não interior dos fagossomos. As células T CD8+ respondem
a peptídeos associados à classe I derivados de antígenos
citotóxicas que expressam T-bet respondem à
citosólicos, e matam células infectadas.
IL-12, IL-15 e IL-18 produzida por outras
células durante a resposta inata a bactérias e, MECANISMOS BACTERIANOS DE
então, secretam IFN-γ e TNF que ativam EVASÃO IMUNOLÓGICA
macrófagos e ajudam a eliminar os patógenos
intracelulares. Como as ILCs residem nos Bactérias Extracelulares
tecidos, podem conferir a defesa inicial contra Bactérias com cápsulas ricas em
infecções nesses locais. polissacarídeos resistem à fagocitose e são,
portanto, mais virulentas do que as cepas
Imunidade Adaptativa homólogas desprovidas de cápsula. As
A principal resposta imune protetora contra cápsulas de muitas bactérias Gram-positivas e
bactérias intracelulares é o recrutamento e Gram-negativas contêm resíduos de ácido
ativação de fagócitos mediados pela célula T siálico que inibem a ativação do complemento
(efetoras da imunidade celular). Indivíduos pela via alternativa.
com imunidade celular deficiente, como Um mecanismo usado pelas bactérias para
pacientes com AIDS, são extremamente evadir a imunidade humoral é a variação dos
suscetíveis a infecções com bactérias antígenos de superfície. Alguns antígenos de
intracelulares. superfície de bactérias como gonococos e
As células T conferem defesa contra infecções Escherichia coli estão contidos em suas
por meio de dois tipos de reações: ativação de fímbrias. Essas são as estruturas responsáveis
fagócitos pelas células T CD4+, por meio das pela adesão bacteriana às células hospedeiras.
ações do ligante de CD40 e do IFN-γ, O principal antígeno das fímbrias (ou pili) é
resultando no killing de microrganismos uma proteína chamada pilina. Os genes de
ingeridos que sobrevivem dentro dos pilina de gonococos sofrem uma extensiva
fagolisossomos dos fagócitos e destruição de conversão gênica que permite à progênie de
células infectadas por linfócitos T citotóxicos um único organismo produzir até 106
(CTLs) CD8+, eliminando os microrganismos moléculas de pilina antigenicamente distintas.

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A habilidade de alterar antígenos ajuda as crônicas que podem durar anos, muitas vezes
bactérias a evadirem o ataque por anticorpos recorrentes após uma cura aparente e difíceis
pilina-específicos, embora sua principal de erradicar.
importância para as bactérias possa ser a
seleção de fímbrias mais aderentes às células TUTORIA 4
do hospedeiro, de modo que as bactérias sejam
mais virulentas. FUNGOS
Alterações na produção de glicosidases levam Fungos podem ser classificados como
a alterações químicas no LPS de superfície e leveduras, fungos filamentosos (bolores) ou
em outros polissacarídeos, permitindo, assim, fungos dimórficos com base em suas
que as bactérias evadam as respostas imunes características morfológicas e
humorais contra estes antígenos. comportamentais. O termo "dimórfico" destaca
As bactérias também liberam antígenos de a capacidade de alguns fungos de alternar
superfície em blebs de membrana, as quais entre formas leveduriformes e filamentosas.
podem desviar os anticorpos afastando-os dos Fungos são organismos eucarióticos, e a
próprios microrganismos. parede celular fúngica consiste principalmente
em quitina (e não peptideoglicano, como nas
bactérias); assim, os fungos são insensíveis a
antibióticos que inibem a síntese de
peptideoglicano. Quitina é um polissacarídeo
composto por longas cadeias de
N-acetilglicosamina. A parede celular fúngica
contém também outros polissacarídeos, dos
quais o mais importante é o β-glicano, um
longo polímero de D-glicose. A importância
médica do β-glicano é o fato de este
corresponder ao sítio de ação do fármaco
antifúngico, caspofungina. A membrana da
célula fúngica contém ergosterol,
contrariamente à membrana da célula humana,
que contém colesterol. A ação seletiva da
Bactérias Intracelulares anfotericina B e de azóis, como fluconazol e
As bactérias intracelulares desenvolveram cetoconazol, sobre os fungos é baseada nessa
diversas estratégias para resistir à eliminação diferença entre os esteróis da membrana.
pelos fagócitos. Entre estas, estão a inibição da Em sua maioria, os fungos são aeróbios
fusão do fagolisossomo ou o escape para o obrigatórios; alguns são anaeróbios
citosol, que permite se esconder dos facultativos; porém nenhum é anaeróbio
mecanismos microbicidas dos lisossomos; e obrigatório. Todos os fungos requerem uma
também a remoção ou inativação direta das fonte orgânica de carbono pré-formada – fato
substâncias microbicidas, como as espécies que justifica sua frequente associação à
reativas do oxigênio. O desfecho da infecção matéria em decomposição. O hábitat natural da
por esses organismos muitas vezes varia maioria dos fungos, portanto, é o meio
conforme prevaleçam os mecanismos ambiente. Candida albicans, membro da
antimicrobianos de macrófagos estimulados microbiota normal de humanos, é uma
por células T ou a resistência microbiana ao importante exceção.
killing. A resistência à eliminação Os fungos representam um diverso grupo de
fagócito-mediada também é a razão pela qual organismos ubíquos (que podem ser
esse tipo de bactéria tende a causar infecções encontrados em uma ampla variedade de

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ambientes e condições) que tem como (1) Artrósporos, formados pela fragmentação
principal objetivo degradar a matéria orgânica. das extremidades das hifas e o modo de
Todos os fungos podem existir como transmissão de Coccidioides immitis.
heterotróficos ou saprófitas (organismos que se (2) Clamidósporos, esféricos, de parede
nutrem de materiais mortos ou em espessa e bastante resistentes (os
decomposição), simbiontes (organismos que clamidósporos terminais de C. albicans
vivem em conjunto com benefício mútuo), auxiliam em sua identificação).
comensais (quando vivem em estreita relação (3) Blastósporos, formados pelo processo de
em que apenas um organismo é beneficiado e brotamento pelo qual as leveduras se
o outro não é prejudicado), ou como parasitas reproduzem assexuadamente (algumas
(organismos que vivem à custa de outro e esta leveduras, por exemplo, C. albicans, podem
relação é prejudicial ao hospedeiro). formar múltiplos brotos que não se destacam,
Os fungos emergiram nas últimas décadas produzindo, assim, cadeias similares a
como a principal causa de doenças em salsichas, denominadas pseudo-hifas, que
humanos, especialmente entre indivíduos podem ser utilizadas para a identificação).
imunossuprimidos ou hospitalizados com (4) Esporangiósporos, formados no interior de
doenças de base graves. Entre esses pacientes, um saco (esporângio) em um pedúnculo, por
os fungos atuam como patógenos oportunistas, bolores como Rhizopus e Mucor.
causando infecções de altas morbidade e
mortalidade. Em resumo, não existem fungos
não patogênicos. Este aumento das infecções
fúngicas pode ser atribuído ao crescente
aumento do número de pacientes
imunossuprimidos, incluindo transplantados,
portadores da AIDS, pacientes com câncer sob
uso de quimioterapia e aqueles com doença de
base grave submetidos a procedimentos
invasivos.
Estrutura
Os fungos são classificados em seu próprio
Reprodução
reino, o reino Fungi. Eles são organismos
Alguns fungos reproduzem sexualmente por
eucariotas que se distinguem dos demais por
acasalamento e formação de esporos sexuados,
terem uma parede celular rígida composta de
por exemplo, zigósporos, ascósporos e
quitina, glicana e uma membrana plasmática
basidiósporos. Zigósporos são grandes esporos
em que o ergosterol (esterol).
individuais com paredes espessas, ascósporos
são formados em um saco denominado asco e
basidiósporos são formados externamente na
extremidade de um pedestal denominado
basídio. A classificação desses fungos
baseia-se em seus esporos sexuados. Fungos
que não formam esporos sexuados são
classificados como “imperfeitos”.
A maioria dos fungos de importância médica
propaga-se assexuadamente pela formação de
conídios (esporos assexuados). A morfologia,
a coloração e o arranjo dos conídios auxiliam
na identificação dos fungos. Alguns conídios
importantes são:

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Os fungos podem ser “uni-” ou multicelulares.
O agrupamento mais simples baseado em sua
morfologia são leveduras e fungos
filamentosos.
A levedura pode ser definida
morfologicamente como uma célula que se
reproduz por brotamento ou fissão, em que a
célula progenitora, ou “célula-mãe”, se
modifica e dá origem a uma descendência, ou
“célula-filha”. As células-filhas podem
alongar-se e formar estruturas com formato de
salsicha chamadas pseudo-hifas. As leveduras
são geralmente unicelulares e produzem
colônias redondas, pastosas ou mucoides em
ágar.

Os fungos filamentosos ou bolores, por outro


lado, são organismos multicelulares
constituídos de estruturas tubulares, chamadas
de hifas, que se alongam na extremidade em
um processo conhecido como extensão apical.
As hifas podem ser cenocíticas (asseptadas ou
com poucos septos) ou septadas (divididas por
paredes transversais). As hifas se mantêm
unidas para produzir uma estrutura semelhante
a um tapete chamada de micélio. As colônias
dos fungos filamentosos são frequentemente
descritas como filamentosas, aveludadas ou
algodonosas. Quando se desenvolvem em ágar
ou outras superfícies sólidas, os fungos
filamentosos produzem estruturas Os fungos se diferem bastante das bactérias
denominadas hifas vegetativas, que crescem em alguns pontos. Crescem melhor em
sobre ou entre a superfície do meio de cultura, ambientes em que o pH é próximo a 5, que é
e também hifas que se projetam acima da muito ácido para o crescimento da maioria das
superfície do meio, chamadas de hifas aéreas. bactérias comuns. Quase todos os fungos são
As hifas aéreas podem produzir estruturas aeróbicos, e a maioria das leveduras é
especializadas conhecidas como conídios anaeróbica facultativa. A maioria dos fungos é
(estrutura de reprodução assexuada). mais resistente à pressão osmótica que as
bactérias; muitos, consequentemente, podem
crescer em concentrações relativamente altas
de açúcar ou sal. Podem crescer em
substâncias com baixo grau de umidade, em
geral tão baixo que impede o crescimento de

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bactérias. Necessitam de menos nitrogênio O processo pelo qual um fungo passa de um
para um crescimento equivalente ao das estado unicelular na forma de levedura
bactérias. Com frequência são capazes de (levaduriforme) para um estado multicelular
metabolizar carboidratos complexos, como a de hifas ou micélio é chamado de transição de
lignina (um dos componentes da madeira), que fase. O fungo patogênico recebe sinais com
a maioria das bactérias não pode utilizar como informações do ambiente circundante e,
nutriente. Essas características permitem que conforme sua conveniência, responde
os fungos se desenvolvam em substratos
transformando-o em uma das duas fases. Por
diversos como paredes de banheiro, couro de
exemplo, existem fungos que mudam de
sapatos e jornais velhos.
estado dependendo da temperatura do
Dimorfismo Fúngico ambiente e dependem do calor .
O dimorfismo é a capacidade que alguns É o caso de fungos que crescem no solo a uma
fungos apresentam de alterar a sua morfologia, temperatura de 22 a 26 ° C, mantendo-se em
mediante condições específicas de um estado micelial. Esses micélios podem
temperatura, bem como nutrientes, fragmentar-se e tornar-se suspensões no ar ou
osmolaridade e estresse causados por drogas. aerossóis devido a alterações como desastres
O crescimento na fase leveduriforme ocorre naturais ou intervenção humana. Quando
em temperaturas em torno de 35-37°C. Os inalados por um hospedeiro mamífero, os
fungos dimórficos patogênicos são fungos transportados pelo ar colonizam os
considerados fungos de crescimento lento, pulmões, onde a temperatura é mantida a 37 °
com período de incubação em torno de 15 dias C. Nessa temperatura, as hifas do micélio
ou mais. A identificação é feita após atuam como propágulos infecciosos, tornam-se
comprovação do dimorfismo, entre outros leveduras patogênicas e causam pneumonia.
métodos, e pelo aspecto microscópico Uma vez que a infecção é estabelecida nos
apresentado, que é característico de cada fase. pulmões, as leveduras podem se espalhar para
A capacidade de fungos patogênicos outros órgãos, como pele, ossos e cérebro.
modificarem sua morfologia durante o seu
ciclo de vida é bastante comum. Diferentes MECANISMOS FÚNGICOS DE
fatores podem influenciar as alterações AGRESSÃO
morfológicas tais como temperatura, presença
e quantidade de dióxido de carbono e Embora os fungos causem doenças, eles não
nutrientes. Portanto, os fungos podem ser possuem um conjunto de fatores de virulência
classificados em dimórficos térmicos ou não bem definido. Alguns fungos possuem
térmicos. Sendo que estes últimos sofrem as produtos metabólicos que são tóxicos ao
alterações morfológicas mediante hospedeiro humano. Nesses casos, entretanto,
disponibilidade de CO2 e nutrientes. Os a toxina é apenas uma causa indireta da
fungos termalmente dimórficos causam por doença, uma vez que o fungo já está crescendo
ano milhões de infecções em seres humanos no hospedeiro ou sobre ele. Infecções fúngicas
em todo o mundo, além de ser um importante crônicas, como o pé de atleta, também podem
fitopatógeno, causando, assim, grande impacto provocar uma resposta alérgica no hospedeiro.
nas regiões agrícolas. A transição morfológica Tricotecenos são toxinas fúngicas que inibem
de hifa para levedura é crucial para garantir a a síntese proteica em células eucarióticas. A
patogenicidade, virulência, e ciclo de vida dos ingestão dessas toxinas causa cefaleias,
fungos dimórficos, uma vez que o dimorfismo calafrios, náuseas graves, vômito e distúrbios
ajuda o fungo a evadir do sistema imune, pois visuais. Essas toxinas são produzidas pelos
altera os antígenos presentes na superfície fungos Fusarium e Stachybotrys, que crescem
destes fungos. em grãos e no revestimento de gesso utilizado
nas paredes de casas.

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Existem evidências de que alguns fungos Alergias a esporos fúngicos podem causar
possuem fatores de virulência. Dois fungos sintomas semelhantes à febre do feno, como
que podem causar infecções cutâneas, Candida espirros, coriza, coceira nos olhos e tosse.
albicans e Trichophyton, secretam proteases. Fungos como Alternaria, Cladosporium e
Essas enzimas podem modificar as membranas Aspergillus são frequentemente associados a
celulares do hospedeiro, permitindo a alergias.
aderência do fungo.
Infecções Oportunistas
Patogênese O estado do hospedeiro é de fundamental
A resposta à infecção por diversos fungos importância na determinação da
consiste na formação de granulomas. A patogenicidade de patógenos fúngicos
supuração aguda, caracterizada pela presença oportunistas, como Candida spp., C.
de neutrófilos no exsudato, também ocorre em neoformans e Aspergillus spp. Na maioria dos
certas doenças fúngicas, como aspergilose e casos, esses organismos podem existir como
esporotricose. Os fungos não apresentam colonizadores benignos ou saprófitas
endotoxinas em sua parede celular e não ambientais, só causando infecções sérias
produzem exotoxinas similares às bacterianas. quando há uma diminuição das defesas do
hospedeiro.
Infecções Micóticas As micoses oportunistas são infecções
São causadas por fungos que invadem tecidos atribuídas aos fungos que são por via de regra
do hospedeiro, resultando em uma resposta encontrados como comensais humanos ou no
imune e sintomas associados. Essas infecções ambiente. Com exceção de Cryptococcus
podem ocorrer em diferentes partes do corpo, neoformans, estes organismos exibem uma
como pele, unhas, pulmões, sistema virulência inerentemente baixa ou limitada, e
gastrointestinal, entre outros. Candidíase, causam infecções em indivíduos que estão
aspergilose, micoses superficiais, como pé de debilitados, imunossuprimidos, ou são
atleta são exemplos de infecções micóticas. portadores de aparelhos protéticos implantados
ou cateteres vasculares. Praticamente, qualquer
Micotoxicoses fungo pode atuar como um patógeno
São condições causadas pela ingestão de oportunista.
toxinas produzidas por fungos, conhecidas
como micotoxinas. Essas toxinas podem Candida
contaminar alimentos e ração animal, Candida spp. são os mais comuns dos
causando doenças em humanos e animais. patógenos fúngicos oportunistas. Atualmente,
Aflatoxinas produzidas por espécies de está bem estabelecido o fato de que Candida
Aspergillus em grãos e amendoins podem spp. colonizam a mucosa gastrointestinal e
causar micotoxicose. Essas toxinas têm atingem a corrente sanguínea por translocação
potencial carcinogênico e podem afetar o gastrointestinal, ou através de cateteres
fígado. vasculares contaminados, interagem com
defesas do hospedeiro e deixam o
Alergia à Esporos Fúngicos compartimento intravascular invadindo tecidos
Alergias a esporos fúngicos são reações profundos de órgãos-alvo como fígado, baço,
alérgicas do sistema imunológico a esporos rins, coração e cérebro. Acredita-se que as
liberados por fungos. Esses esporos podem ser características do micro-organismo que
inalados e desencadear sintomas alérgicos em contribuem para sua patogenicidade incluam
algumas pessoas, especialmente aquelas com sua capacidade de aderir a tecidos, o
predisposição a alergias respiratórias. dimorfismo entre as formas de levedura e hifa,
a hidrofobicidade de sua superfície celular, a

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secreção de proteinases e as mudanças Microsporum. As infecções da pele que
fenotípicas. a capacidade de Candida spp. envolvem estes organismos são chamadas de
secretar diversas enzimas pode também dermatofitoses. Tinea unguium se refere a
influenciar a patogenicidade do organismo. infecções nas unhas que envolvem estes
Diversas espécies de Candida secretam aspartil agentes. As onicomicoses incluem infecções
proteinases que hidrolisam as proteínas do das unhas causadas pelos dermatófitos, assim
hospedeiro envolvidas em defesas contra a como também fungos não dermatófitos.
infecção, permitindo que as leveduras rompam
barreiras de tecido conjuntivo. Da mesma Micoses Subcutâneas
maneira, a maioria das espécies de Candida As micoses subcutâneas envolvem as camadas
que causam infecção em humanos produz mais profundas da pele, incluindo a córnea, os
fosfolipases. Tais enzimas lesam as células do músculos e o tecido conjuntivo, e são causadas
hospedeiro, sendo consideradas importantes na por um largo espectro de fungos
invasão tecidual. taxonomicamente diversos. Os fungos ganham
acesso aos tecidos mais profundos em geral
MICOSES por inoculação traumática e permanecem
localizados, causando a formação de abscessos
Micoses Superficiais e úlceras que não cicatrizam. O sistema
As micoses superficiais são bastante comuns, e imunológico do hospedeiro reconhece os
a maioria das pessoas apresenta estas infecções fungos, resultando em destruição tecidual
em algum momento de sua vida. São aquelas variável e frequentemente em uma hiperplasia
infecções que estão limitadas às superfícies da epiteliomatosa. As infecções podem ser
pele e dos pelos. Elas não são destrutivas e são causadas por fungos filamentosos hialinos, tais
apenas de importância cosmética. A infecção como Acremonium spp. e Fusarium spp., e por
clínica denominada de pitiríase versicolor é fungos pigmentados ou dematiáceos, tais como
caracterizada pela descoloração ou Alternaria spp., Cladosporium spp., e
despigmentação e descamação da pele. Tinea Exophiala spp. As micoses subcutâneas
nigra se refere a manchas pigmentadas em tendem a permanecer localizadas e raras vezes
castanho ou negro localizadas principalmente se disseminam sistemicamente.
nas palmas das mãos. As entidades clínicas da
pedra negra e da pedra branca envolvem os Micoses Sistêmicas
pelos e são caracterizadas por nódulos Fungos patogênicos sistêmicos normalmente
compostos por hifas que envolvem as hastes vivem no solo, e os seres humanos se tornam
dos pelos. Os fungos associados a estas infectados por meio da inalação de esporos
infecções superficiais incluem Malassezia carreados pelo ar que mais tarde germinam e
spp., Hortae weneckii, Piedraia hortae e crescem nos pulmões. De lá o organismo
Trichosporon spp. migra para todo o corpo, causando infecções
profundas nos pulmões e em outros órgãos,
Micoses Cutâneas assim como na pele. Nos Estados Unidos, as
As micoses cutâneas são infecções da camada três principais micoses sistêmicas em ordem
queratinizada da pele, pelos e unhas. Essas de incidência são: a histoplasmose, a
infecções podem provocar uma resposta do coccidiomicose e a blastomicose. A
hospedeiro e se tornar sintomáticas. Os sinais e mortalidade nestas infecções é alta, em torno
sintomas incluem prurido, descamação, pelos de 10%.
tonsurados, lesões arredondadas na pele e
unhas espessadas e opacas. Os dermatófitos
são fungos classificados nos gêneros
Trichophyton, Epidermophyton e

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DEFESA CONTRA OS FUNGOS liberarem citocinas, principalmente IL-17, as quais
recrutam neutrófilos e induzem produção de peptídeos
antimicrobianos que protegem contra a infecção. As
A imunidade comprometida é o fator citocinas também podem recrutar diretamente
predisponente mais importante para as neutrófilos. As células dendríticas também estimulam a
diferenciação de células T CD4+ antígeno
infecções fúngicas clinicamente significativas. fúngico-específicas naive em células Th17 nos
A deficiência de neutrófilos como resultado de linfonodos drenantes, e as células Th17 migram de volta
para o sítio de infecção. O GM-CSF produzido pelas
dano ou supressão da medula óssea com ILCs (e, talvez, pelas células Th17) podem contribuir
frequência está associada a estas infecções. As para o recrutamento de neutrófilos. CLR, do inglês
infecções fúngicas oportunistas também estão C-type lectin receptor (p. ex.: dectina-1); TLR, do inglês,
Toll-like receptor.
associadas à imunodeficiência causada pelo
HIV e pela terapia para o câncer disseminado e Imunidade Adaptativa
a rejeição de transplantes. Uma grave infecção As células T CD4+ podem se diferenciar em
fúngica oportunista associada a AIDS não subtipos como Th1 e Th17, que desempenham
tratada é a pneumonia por Pneumocystis papéis importantes na resposta antifúngica. As
jiroveci, no entanto muitas outras contribuem células T CD8+ podem destruir células
para a morbidade e mortalidade causadas pelas infectadas por fungos. As células B produzem
imunodeficiências. anticorpos específicos contra antígenos
fúngicos. Os anticorpos, especialmente do tipo
Imunidade Inata IgG e IgM, podem neutralizar os fungos,
Macrófagos e neutrófilos são células marcando-os para fagocitose ou ativação do
fagocíticas que podem englobar e digerir sistema complemento. A resposta adaptativa
fungos invasores. O sistema complemento gera memória imunológica, permitindo uma
pode ser ativado para destruir fungos por meio resposta mais rápida e eficaz em infecções
de opsonização e lise celular. Citocinas como subsequentes. Algumas citocinas, como IL-10,
interleucinas e TNF-alfa são liberadas para desempenham um papel regulatório para evitar
recrutar células imunes e intensificar a danos excessivos aos tecidos durante a
resposta inflamatória. resposta antifúngica. As células NK podem
destruir células infectadas por fungos e
secretar citocinas que ajudam a modular a
resposta imune adaptativa.
A imunidade mediada por células é o principal
mecanismo da imunidade adaptativa contra as
infecções por fungos intracelulares.
Histoplasma capsulatum, um parasita
intracelular facultativo que vive em
macrófagos, é eliminado pelos mesmos
mecanismos celulares que são efetivos contra
bactérias intracelulares. As células T CD4+ e
CD8+ cooperam para eliminar as formas de
levedura de C. neoformans, as quais tendem a
colonizar os pulmões e o cérebro em
hospedeiros imunodeficientes.

MECANISMOS FÚNGICOS DE EVASÃO


Papel da imunidade inata e das células Th17 na defesa IMUNOLÓGICA
contra a infecção fúngica. Células dendríticas e
macrófagos (não mostrado) reconhecem as glucanas
fúngicas e liberam citocinas que estimulam células Cryptococcus neoformans produz uma cápsula
linfoides inatas (ILC3s) residentes nos tecidos a de polissacarídeo, que inibe a fagocitose

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(semelhantemente, em princípio, ao observado mais, ele perde sua capacidade lítica. Essa
em bactérias encapsuladas), embora isso possa perda não se deve ao decaimento da atividade
ser superado pelos efeitos opsônicos do dos anticorpos, porque as moléculas são
complemento e anticorpos. relativamente estáveis ao calor, e mesmo o
Candida, de maneira semelhante, esconde as soro aquecido é capaz de aglutinar bactérias.
β-glicanas da sua parede celular, a qual, de Bordet concluiu que o soro deve conter algum
outra maneira, seria eficientemente outro componente termolábil que auxilia, ou
reconhecida pela dectina-1 do hospedeiro, sob complementa, a função lítica dos anticorpos, e
uma cobertura externa de manana, uma esse componente recebeu posteriormente o
molécula que é consideravelmente menos nome complemento.
imunorreativa. As β-glicanas também são O sistema complemento consiste em um
diferencialmente expressas na levedura versus conjunto de proteínas séricas e de superfície
formas filamentosas de alguns fungos, celular que interagem umas com as outras e
contribuindo para as diferenças na resposta com outras moléculas do sistema imune de
imune a estas duas fases distintas da infecção. maneira altamente regulada, para gerar
Histoplasma capsulatum é um patógeno produtos que atuam na eliminação dos
intracelular obrigatório que evade a eliminação microrganismos.
O sistema complemento é ativado por
por macrófagos através de sua entrada na
microrganismos e por anticorpos que estão
célula via CR3 e então alterando as vias
ligados aos microrganismos e outros
normais de maturação de fagossomos, em
antígenos. Dessa maneira, o complemento
paralelo às estratégias das bactérias direciona o ataque imune às superfícies
intracelulares, tais como M. tuberculosis. microbianas.
Dermatófitos suprimem as respostas de A ativação do complemento envolve a
linfócitos T para atrasar a destruição mediada proteólise sequencial de proteínas para gerar
por célula. complexos enzimáticos com atividade
As evasões fúngicas dos fungos são, portanto, proteolítica. As proteínas que adquirem
tão complexas quanto aquelas contra bactérias, atividade enzimática proteolítica pela ação de
sendo então capazes de realizar mimetismo outras proteases são chamadas zimógenos. O
molecular, produção de urease e proteinases processo de ativação sequencial dos
extracelulares, estimular respostas imunes zimógenos é uma característica que define
ineficientes entre outros. uma cascata enzimática proteolítica. As
cascatas proteolíticas permitem enorme e
rápida amplificação porque cada molécula de
TUTORIA 5
enzima ativada em uma etapa pode gerar
múltiplas moléculas de enzima ativada na
SISTEMA COMPLEMENTO
etapa seguinte.
Muitos produtos de clivagem biologicamente
O sistema complemento é um dos principais ativos resultantes da ativação do complemento
mecanismos efetores da imunidade humoral e se tornam covalentemente ligados às
é também um importante mecanismo efetor da superfícies celulares microbianas, aos
imunidade inata. anticorpos ligados a microrganismos e outros
O nome complemento é derivado de antígenos, e aos corpos apoptóticos. As
experimentos realizados por Jules Bordet logo proteínas do complemento se tornam ativadas
após a descoberta de anticorpos. Ele de maneira estável uma vez que estejam
demonstrou que se um soro fresco contendo ligadas a microrganismos, anticorpos ou
anticorpo antibacteriano for adicionado a uma células em processo de morte. Assim, a
cultura de bactérias mantida a temperatura ativação completa e, consequentemente, as
fisiológica (37 °C), as bactérias são lisadas. Se, funções biológicas do sistema complemento,
são limitadas às superfícies celulares
no entanto, o soro for aquecido a 56 °C ou

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microbianas ou a sítios dos anticorpos ligados MAC (complexo de ataque à membrana e
aos antígenos, mas não ocorrem no sangue. subsequentes eventos na cascata do sistema
Os subprodutos da ativação do complemento complemento.
estimulam reações inflamatórias. O
recrutamento de neutrófilos e monócitos
estabelece um ambiente inflamatório ao redor
dos microrganismos que ajuda a eliminar os
patógenos.
A ativação do complemento é inibida por
proteínas reguladoras que estão presentes em
células normais do hospedeiro e ausentes nos
microrganismos.
MHC de Classe I e II
Em todos os mamíferos, o lócus do MHC
contém dois conjuntos de genes altamente
polimórficos, chamados de genes do MHC de
classe I e classe II. Tais genes codificam as
moléculas do MHC de classe I e classe II que
apresentam os peptídeos para as células T.
Além dos genes polimórficos, o lócus do MHC
contém muitos genes não polimórficos, alguns
dos quais codificam proteínas envolvidas na
apresentação dos antígenos.
➡️
Via Alternativa
A ativação da via alternativa ocorre
espontaneamente devido à hidrólise constante
As moléculas do MHC de classe I e classe II e lenta do componente C3 na circulação
são proteínas de membrana, cada uma sanguínea. Isso gera C3(H2O), que serve como
contendo uma fenda de ligação de peptídeos
na porção aminoterminal. Embora as duas
classes de moléculas difiram na composição de
➡️
ponto de partida para a ativação.
As proteínas reguladoras, como o fator H,
ajudam a estabilizar e prevenir a ativação não
subunidades, elas são muito semelhantes em específica da via alternativa nas células
sua estrutura global. próprias do organismo. Essas proteínas
Cada molécula do MHC de classe I é reguladoras inibem a formação do complexo
constituída por uma cadeia α associada de
forma não covalente a uma proteína chamada ➡️
C3 convertase desnecessário.
A C3 convertase na via alternativa é
formada pela ligação de C3b (gerado pela
β2-microglobulina que é codificada por um
gene fora do MHC. hidrólise espontânea de C3) a fator B, seguido
pela clivagem de fator B por uma serina
Cada molécula de MHC de classe II consiste
protease do plasma. Esse processo forma a C3
em duas correntes transmembranares,
convertase alternativa, conhecida como
chamadas de α e β. Cada cadeia tem dois
domínios extracelulares, seguidas pelas
regiões transmembranar e citoplasmática.
➡️
C3bBb.
A C3bBb é capaz de clivar mais moléculas
de C3, gerando mais C3b e amplificando a
resposta. Isso amplifica a sinalização para o
Vias do Sistema Complemento
O sistema complemento possui 3 vias:
(1) Via Alternativa;
➡️
sistema imunológico de que há uma ameaça.
A C3bBb se associa a uma molécula de
C3b para formar a C5 convertase (C3bBb3b) e
(2) Via Clássica;
(3) Via das Lectinas.
Todas as vias terminam no mesmo ponto; a
➡️
iniciar a ativação do componente C5.
A C5 convertase cliva o componente C5
em C5a e C5b.
clivagem de C5a e C5b para a formação do

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➡️
Via Clássica
A via clássica é iniciada quando anticorpos
IgG ou IgM se ligam a antígenos em uma
superfície estranha, formando complexos

➡️
antígeno-anticorpo.
O primeiro componente da via clássica,
C1, é uma proteína complexa composta por
três subunidades: C1q, C1r e C1s. A ligação
dos anticorpos ao antígeno induz uma
mudança conformacional em C1q, ativando
C1r. C1r, por sua vez, ativa C1s. Esse
complexo ativado de C1 (C1q-C1r-C1s) é

➡️
chamado de C1.
A ativação de C1 leva à clivagem do
componente C4 e C2 do complemento. C1s
cliva C4 em C4a e C4b, enquanto C2 é clivado
em C2a e C2b. Os fragmentos C4b e C2a se
combinam para formar o complexo de

➡️
clivagem C3 convertase (C4b2a).
O complexo de clivagem C4b2a atua como
uma enzima e cliva o componente C3 em C3a
e C3b. O fragmento C3b se liga à superfície do
antígeno, marcando-o para fagocitose pelos

➡️
macrófagos ou neutrófilos.
A ligação de C3b à superfície do antígeno
permite a formação da C5 convertase. Isso
ocorre quando C3b se associa a C4b2a ou
C3bBb, gerando C5 convertase (C4b2a3b ou

➡️
C3bBb3b).
A C5 convertase cliva o componente C5
em C5a e C5b.

A fase fluída refere-se ao estado líquido do


sangue, quando os componentes do sistema
complemento estão em circulação, não
associados a células ou superfícies específicas
e a hidrólise é uma reação química na qual
uma molécula é dividida pela adição de uma
molécula de água. Portanto, na fase fluída do
sangue, o C3b é sujeito a hidrólise, resultando
na sua inativação. A hidrólise pode quebrar o
C3b em fragmentos menores, interferindo nas
suas atividades biológicas. Essa regulação é
essencial para evitar uma ativação
descontrolada do sistema complemento na
corrente sanguínea, que poderia levar a danos
nas células próprias do organismo.

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➡️
Via das Lectinas
A via das lectinas é iniciada quando as
➡️ A ativação do componente C5 é uma etapa
chave para iniciar a formação do MAC. Isso
moléculas de lectina, como a manose-ligante ocorre quando a C5 convertase (C4b2a3b ou
(MBL) ou ficolinas, reconhecem padrões de C3bBb3b) cliva o C5 em C5a e C5b em
carboidratos, como manose, em superfícies de
patógenos. A MBL também pode se associar
ao complexo MASPs (proteínas associadas à
➡️
alguma das 3 vias do sistema complemento.
O fragmento C5b é liberado e se liga à
superfície da célula alvo, onde se torna o ponto

➡️
MBL e à ficolina).
A ligação das moléculas de lectina aos ➡️
de ancoragem para a montagem do MAC.
A C6 é recrutada e se liga à C5b na
padrões de carboidratos induz a ativação das
proteínas associadas à MBL e à ficolina
(MASPs), que são serina proteases. As MASPs
➡️
membrana da célula alvo.
O C7 se associa ao complexo C5b6,
formando uma estrutura mais estável e

➡️
são ativadas e formam complexos ativos.
As MASPs ativadas clivam o componente
C4 em C4a e C4b, e o C2 em C2a e C2b,
➡️
ancorando o complexo à membrana da célula.
O C8 é recrutado e se liga ao complexo
C5b67, facilitando a polimerização de
formando o complexo C4b2a, que é uma C3 múltiplas moléculas de C9. O C9 polimerizado

➡️
convertase semelhante à via clássica.
A C3 convertase (C4b2a) cliva o
componente C3 em C3a e C3b. O C3b se liga
forma um cilindro hidrofóbico que se insere na

➡️
membrana da célula alvo.
Com a polimerização de C9, o complexo
à superfície do patógeno, marcando-o para resultante forma o MAC, que cria um poro na
fagocitose ou participando na formação da C5 membrana da célula alvo. Esse poro permite a

➡️
convertase.
A ligação de C3b à superfície do patógeno
permite a formação da C5 convertase,
entrada de íons e outras moléculas, levando à
lise celular e à morte da célula.

➡️
semelhante às vias clássica e alternativa.
A C5 convertase cliva o componente C5
em C5a e C5b.
Funções do Sistema Complemento
As principais funções do sistema do
complemento na imunidade inata e na
imunidade adaptativa humoral são: promover a
MAC - Complexo de Ataque à Membrana fagocitose de microrganismos sobre os quais o
O MAC é uma estrutura multi-subunidade que complemento é ativado, estimular a
age na membrana das células-alvo, formando inflamação e induzir a lise desses
poros e levando à lise celular. microrganismos. Além disso, os produtos de
ativação do complemento facilitam a ativação
dos linfócitos B e a produção de anticorpos. A
fagocitose, a inflamação e a estimulação da
imunidade humoral são todas mediadas pela
ligação de fragmentos proteolíticos de
proteínas do complemento a vários receptores
da superfície celular, enquanto a lise celular é
mediada pelo MAC.

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TRANSPLANTES Um enxerto transplantado de um indivíduo
para o mesmo indivíduo é chamado enxerto
O transplante é amplamente utilizado para a autólogo. Um enxerto transplantado entre dois
substituição de órgãos e tecidos não funcionais indivíduos geneticamente idênticos é
por órgãos ou tecidos saudáveis. O transplante denominado enxerto singênico. Um enxerto
é o processo de remoção de células, tecidos ou transplantado entre dois indivíduos
órgãos, chamados enxertos, de um indivíduo e geneticamente diferentes da mesma espécie é
chamado enxerto alogênico (ou aloenxerto).
sua transferência para um indivíduo
Um enxerto transplantado entre indivíduos de
(geralmente) diferente. O indivíduo que
espécies diferentes é chamado enxerto
fornece o enxerto é chamado doador, e o
xenogênico (ou xenoenxerto). As moléculas
indivíduo que o recebe é o receptor ou reconhecidas como estranhas em enxertos são
hospedeiro. Se o enxerto é colocado em sua chamadas aloantígenos e aquelas presentes nos
localização anatômica normal, o procedimento xenoenxertos são chamadas xenoantígenos. Os
é chamado transplante ortotópico; se o enxerto linfócitos e anticorpos que reagem com os
é colocado em local diferente, o procedimento aloantígenos ou xenoantígenos são descritos
é chamado transplante heterotópico. como alorreativos ou xenorreativos,
O transplante de células ou tecidos de um respectivamente.
indivíduo para outro geneticamente não Além das respostas imunes adaptativas
idêntico leva invariavelmente à rejeição do específicas para as diferenças alogênicas entre
transplante devido a uma resposta imune doador e receptor, a imunidade inata tem um
adaptativa. A rejeição após o primeiro papel no resultado do transplante. A
transplante entre um doador e um receptor não interrupção do suprimento sanguíneo para o
tecido e órgãos durante o período entre a
idêntico (chamada rejeição de primeira fase)
remoção de um doador e a transferência para
ocorre entre 10 e 14 dias. Já o segundo
um receptor normalmente causa algum dano
transplante do mesmo doador para esse
isquêmico. Isso pode resultar na expressão de
receptor (chamada rejeição de segunda fase) DAMPs no enxerto, estimulando respostas
ocorre mais rapidamente, indicando que o inatas mediadas tanto por células inatas do
receptor desenvolveu memória para tecido hospedeiro no interior do enxerto quanto pelo
enxertado. Indivíduos que rejeitaram um sistema imune inato do doador.
enxerto de um doador apresentam rejeição Adicionalmente, as NK do hospedeiro podem
acelerada a outro enxerto proveniente do responder à ausência de moléculas de
mesmo doador, mas não de um doador histocompatibilidade singênicas nas células do
diferente, demonstrando que o processo de enxerto doado e, portanto, contribuir para a
rejeição é imunologicamente específico. rejeição do enxerto. Essas respostas inatas
podem diretamente causar lesão ao enxerto,
mas também acredita-se que amplifiquem
respostas adaptativas pela ativação de APCs,
como é o caso das respostas imunes aos
microrganismos.

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TIPOS DE REJEIÇÃO vasculares. Conforme as lesões arteriais de
arteriosclerose do enxerto progridem, o fluxo
Rejeição Hiperaguda - Direta sanguíneo para o parênquima do enxerto é
É caracterizada pela oclusão trombótica da comprometido e o parênquima é lentamente
vasculatura do enxerto que se inicia dentro de substituído por tecido fibrótico não funcional.
minutos a horas após os vasos sanguíneos do
hospedeiro serem anastomosados aos vasos do TOLERÂNCIA CENTRAL E
enxerto, e é mediada por anticorpos PERIFÉRICA
preexistentes na circulação do hospedeiro que
se ligam aos antígenos endoteliais do doador. Tolerância Central
A ligação do anticorpo ao endotélio ativa o Ocorre no timo (para células T) e na medula
complemento e, juntos, os produtos do óssea (para células B). As células envolvidas
anticorpo e do complemento induzem uma são linfócitos T e B em desenvolvimento.
série de mudanças no endotélio do enxerto, as Durante o desenvolvimento, células T e B que
quais promovem trombose intravascular. reconhecem antígenos próprios são eliminadas
ou tornadas inativas para evitar que linfócitos
Rejeição Aguda - Direta auto-reativos amadureçam e entrem na
processo de lesão do parênquima e dos vasos periferia.
sanguíneos do enxerto mediada por células T
alorreativas e anticorpos. Antes dos fármacos Tolerância Periférica
imunossupressores modernos, a rejeição aguda Ocorre nos tecidos periféricos (fora do timo e
frequentemente se iniciava vários dias a da medula óssea). As células envolvidas são
poucas semanas após o transplante. O tempo linfócitos T e B maduros. Quando linfócitos T
para o início da rejeição aguda reflete o ou B reconhecem antígenos próprios nos
período necessário para geração de células T tecidos periféricos, mas não recebem os sinais
efetoras alorreativas e anticorpos em resposta de coestimulação necessários para uma
ao enxerto. Na prática clínica atual, os ativação completa, podem tornar-se inativos.
episódios de rejeição aguda podem ocorrer A ausência de coestimulação é interpretada
muito mais tarde, mesmo anos depois do como um sinal de que a resposta imunológica
transplante, se a imunossupressão for reduzida não é necessária ou é prejudicial. Os Tregs
por qualquer motivo. desempenham um papel crucial na supressão
da resposta autoimune. Eles são uma
Rejeição Crônica - Indireta subpopulação de células T CD4+ com a
A rejeição crônica desenvolve-se capacidade de suprimir a ativação de outras
insidiosamente durante meses ou anos e pode células T. Tregs secretam citocinas
ou não ser precedida por episódios anti-inflamatórias, como o fator de
clinicamente reconhecidos de rejeição aguda. crescimento transformador beta (TGF-β), e
A lesão dominante da rejeição crônica em expressam moléculas coibidoras que suprimem
enxertos vascularizados é a oclusão arterial, diretamente as respostas imunológicas.
como resultado da proliferação de células Se linfócitos T ou B reconhecem fortemente
musculares lisas da íntima, e os enxertos antígenos próprios, eles podem passar por
eventualmente falham principalmente por apoptose (morte celular programada).
causa do dano isquêmico resultante. Os Além dos Tregs, outras células, como células
prováveis mecanismos subjacentes às lesões B reguladoras, também podem desempenhar
vasculares oclusivas da rejeição crônica são a um papel na supressão de respostas
ativação de células T alorreativas e a secreção autoimunes.
de IFN-γ e outras citocinas que estimulam a
proliferação de células musculares lisas

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DEFICIÊNCIAS DO SISTEMA IMUNE doença subjacente ou intencionalmente
induzida por drogas com o propósito de
Imunodepressão prevenir ou tratar a rejeição do enxerto ou a
A imunodepressão refere-se a uma condição doença autoimune.
em que o sistema imunológico do corpo está “A imunossupressão, seja intencional ou não,
enfraquecido, o que pode aumentar a leva a um estado de imunodepressão.” - Vozes
suscetibilidade a infecções e outros problemas da minha cabeça depois de discutir a diferença
de saúde. Existem diferentes tipos de entre esses termos com o Isaac por meia hora
imunodepressão, incluindo primária, na tutoria.
secundária e adquirida.
A imunodepressão primária é geralmente Imunossupressão Iatrogênica
causada por defeitos genéticos ou congênitos Mais frequentemente causada por terapias com
no sistema imunológico. Indivíduos com fármacos que eliminam ou inativam
imunodeficiências primárias muitas vezes funcionalmente os linfócitos, ou bloqueiam a
nascem com sistemas imunológicos função de citocinas produzidas pelas células
comprometidos. Essas condições podem afetar imunes inatas e pelos linfócitos. Alguns
várias partes do sistema imunológico, fármacos são administrados intencionalmente
incluindo células brancas do sangue, para imunossuprimir os pacientes, seja para o
anticorpos e outras células envolvidas na tratamento de doenças inflamatórias ou para
resposta imunológica. prevenir a rejeição de aloenxertos de órgãos.
A imunodepressão secundária ocorre como Os fármacos anti-inflamatórios e
resultado de condições ou fatores externos que imunossupressores mais comumente usados
comprometem o sistema imunológico. Pode são os corticosteroides e a ciclosporina,
ser causada por várias condições, como respectivamente, mas muitos outros, incluindo
infecções virais, certos tratamentos médicos anticorpos anticitocinas, são amplamente
(quimioterapia, radiação), desnutrição severa e utilizados agora. Vários fármacos
algumas doenças autoimunes. Diferentemente quimioterápicos são administrados a pacientes
da imunodepressão primária, a secundária se com câncer, e esses medicamentos geralmente
desenvolve ao longo da vida e não é resultado são citotóxicos para células em proliferação,
de uma predisposição genética. incluindo linfócitos maduros e em
A imunodepressão adquirida é a desenvolvimento, bem como para outros
imunossupressão que ocorre como resultado precursores de leucócitos. Assim, a
de fatores externos, como medicamentos ou quimioterapia para o câncer é quase sempre
infecções. Por exemplo, pacientes que passam acompanhada por um período de
por transplantes de órgãos muitas vezes imunossupressão e risco de infecção.
recebem medicamentos imunossupressores
para evitar a rejeição do órgão transplantado. DOENÇAS AUTOIMUNES
Esses medicamentos comprometem
temporariamente o sistema imunológico. Além Os fatores que contribuem para o
disso, algumas infecções, como o HIV, podem desenvolvimento da autoimunidade são a
levar a uma imunodepressão adquirida, suscetibilidade genética e os desencadeadores
enfraquecendo progressivamente o sistema ambientais, como infecções e lesão tecidual
imunológico ao longo do tempo. local. Genes de suscetibilidade podem quebrar
os mecanismos de autotolerância, enquanto a
Imunossupressão infecção ou necrose nos tecidos promovem o
A imunossupressão consiste na inibição de um influxo de linfócitos autorreativos e a ativação
ou mais componentes do sistema imune dessas células, resultando em lesão tecidual.
adaptativo ou inato como resultado de uma As doenças autoimunes podem ser

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órgão-específicas ou sistêmicas. As
órgão-específicas geralmente têm
manifestações mais focadas em um órgão
específico, enquanto as doenças autoimunes
sistêmicas podem afetar vários órgãos e
sistemas. Os sintomas e complicações das
doenças autoimunes sistêmicas podem ser
mais amplos e variados, envolvendo uma
gama mais extensa de sintomas e órgãos.

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