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Doenças Pericárdicas APG 09 – “PRECE MAMOMETANA” 1

Objetivos pode se tornar prolongada e se autoperpetuar (ABBAS,


9ª ed.).
1- Abordar o papel do sistema imunológico nas
doenças autoimunes; FATORES QUE CONTRIBUEM PARA AS DOENÇAS AUTOIMUNES
2- Discutir a etiologia e a epidemiologia das doenças
↠ Os fatores que contribuem para o desenvolvimento
pericárdicas;
da autoimunidade são a suscetibilidade genética e os
3- Debater sobre a fisiopatologia e as
desencadeadores ambientais, como infecções e lesão
manifestações clínicas das doenças pericárdicas;
tecidual local (ABBAS, 9ª ed.).
4- Explicar como é feito o diagnóstico das doenças
pericárdicas. ↠ Genes de suscetibilidade podem quebrar os
mecanismos de autotolerância, enquanto a infecção ou
Doenças autoimunes
necrose nos tecidos promovem o influxo de linfócitos
OBS.: Em todos os indivíduos, existe um certo grau de reconhecimento autorreativos e a ativação dessas células, resultando em
do próprio. Na verdade, é necessário que as células T sejam lesão tecidual (ABBAS, 9ª ed.).
selecionadas positivamente no timo para o reconhecimento do MHC
próprio. Além disso (exceto em indivíduos com imunodeficiência
profunda), as células B autorreativas e as células T reativas aos
peptídios + MHC próprios são detectáveis na circulação de todos os
seres humanos, assim como os autoanticorpos (ROITT, 13ª ed.).

↠ As doenças autoimunes podem ser sistêmicas ou


órgão-específicas dependendo da distribuição dos
autoantígenos que são reconhecidos. Por exemplo, a
formação de imunocomplexos circulantes compostos de
autoantígenos e anticorpos específicos tipicamente produz doenças
sistêmicas, como o lúpus eritematoso sistêmico (LES). Ao contrário,
respostas de autoanticorpos ou de células T contra autoantígenos
com distribuição tecidual restrita levam a doenças órgão-específicas,
como a miastenia grave, diabetes tipo 1 (T1D, do inglês, type 1 diabetes)
e esclerose múltipla (ABBAS, 9ª ed.).

↠ Vários mecanismos efetores são responsáveis pela


lesão tecidual em diferentes doenças autoimunes. Esses
mecanismos incluem imunocomplexos, autoanticorpos
circulantes e linfócitos T autorreativos. As características
clínicas e patológicas da doença geralmente são
determinadas pela natureza da resposta autoimune
dominante (ABBAS, 9ª ed.).

↠ Doenças autoimunes tendem a ser crônicas, A maioria das doenças autoimunes é decorrente de traços poligênicos
progressivas e de autoperpetuação. As razões para essas complexos nos quais os indivíduos afetados herdam polimorfismos
genéticos múltiplos que contribuem para a suscetibilidade à doença.
características são que os autoantígenos que Esses genes agem em conjunto com os fatores ambientais para
desencadeiam essas reações são persistentes e, uma vez causarem as doenças (ABBAS, 9ª ed.).
que a resposta imunológica se inicia, muitos mecanismos
de amplificação são ativados e perpetuam essa resposta ↠ Infecções e lesão tecidual também podem alterar a
(ABBAS, 9ª ed.). forma como os autoantígenos são exibidos para o
sistema imune, levando à falha da autotolerância e à
↠ Adicionalmente, uma resposta iniciada contra um ativação dos linfócitos autorreativos. Outros fatores como
autoantígeno que lesiona tecidos pode resultar na mudanças no microbioma do hospedeiro e alterações epigenéticas nas
liberação e alteração de outros antígenos teciduais, na células imunes podem desempenhar papéis importantes na
patogênese, mas os estudos sobre esses tópicos estão apenas no
ativação de linfócitos específicos para esses outros
início (ABBAS, 9ª ed.).
antígenos e na exacerbação da doença. Esse fenômeno,
conhecido como propagação do epítopo, pode explicar
por que, uma vez desenvolvida a doença autoimune, esta

Júlia Morbeck – @med.morbeck


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OUTROS FATORES NA AUTOIMUNIDADE • Defeitos na deleção (seleção negativa) de células T ou B


ou na edição de receptor em células B durante a
➢ Alterações anatômicas em tecidos, causadas por inflamação maturação dessas células nos órgãos linfoides geradores.
(possivelmente secundárias a infecções), lesão isquêmica • Defeitos nos números ou funções de linfócitos T
ou trauma, podem levar à exposição de autoantígenos que reguladores.
normalmente são ocultos ao sistema imunológico. Tais
• Apoptose defeituosa de linfócitos autorreativos maduros.
antígenos “sequestrados” podem não ter induzido
• Função inadequada de receptores de inibição.
autotolerância. Portanto, se forem liberados, esses
autoantígenos previamente ocultos podem interagir com
linfócitos imunocompetentes e induzir respostas imunes
específicas. Exemplos de antígenos anatomicamente
sequestrados, nos chamados tecidos “imunoprivilegiados”,
incluem proteínas intraoculares e do esperma. Acredita-se
que a uveíte e a orquite pós-traumáticas, as quais podem
ser bilaterais mesmo quando o trauma é unilateral, devem-
se a respostas autoimunes contra antígenos próprios que
são liberados de suas localizações normais pelo trauma.
➢ Influências hormonais desempenham um papel em algumas
doenças autoimunes. Muitas doenças autoimunes têm uma
incidência maior em mulheres do que em homens. Por
exemplo, o LES afeta mulheres com uma frequência 10
vezes maior do que os homens. A doença semelhante ao
lúpus em camundongos F1 (NZB × NZW) desenvolve-se
apenas em fêmeas e é retardada pelo tratamento com
hormônios andrógenos. Não se sabe se essa predominância
em fêmeas resulta da influência dos hormônios sexuais ou
de outros fatores relacionados com o gênero.
➢ Exibição anormal de autoantígenos: Esse tipo de
ANORMALIDADES IMUNOLÓGICAS QUE LEVAM À anormalidade pode incluir a expressão
AUTOIMUNIDADE aumentada e a persistência de autoantígenos
que são normalmente removidos, ou alterações
↠ As principais anormalidades desse tipo são: (ABBAS,
estruturais nesses antígenos resultantes de
9ª ed.).
modificações enzimáticas, de estresse ou lesão
➢ Autotolerância defeituosa: Eliminação ou celular. Se essas alterações levarem à exibição
regulação inadequadas das células T ou B, de epítopos antigênicos que normalmente não
levando ao desequilíbrio entre ativação e estão presentes, o sistema imune pode não ser
controle de linfócitos, é a causa subjacente a tolerante a esses “neoantígenos”, permitindo
todas as doenças autoimunes. O potencial para dessa forma o desenvolvimento de respostas
autoimunidade existe em todos os indivíduos, contra o próprio.
porque algumas das especificidades geradas ➢ Inflamação ou uma resposta imune inata inicial:
aleatoriamente nos clones de linfócitos podem A resposta imune inata é um forte estímulo para
ser para autoantígenos, e muitos autoantígenos a ativação subsequente de linfócitos e para a
estão prontamente acessíveis aos linfócitos. geração de respostas imunes adaptativas.
Infecções ou danos celulares podem elicitar
A tolerância a autoantígenos é normalmente mantida por meio de
reações imunes inatas locais com inflamação.
processos de seleção que previnem a maturação de alguns linfócitos
específicos para autoantígenos e de mecanismos que inativam ou Essas reações podem contribuir para o
deletam linfócitos autorreativos que amadurecem. A perda da desenvolvimento de doença autoimune, talvez
autotolerância pode ocorrer se os linfócitos autorreativos não forem pela ativação das APCs, a qual se sobrepõe aos
deletados ou inativados e se as APCs forem ativadas de tal maneira mecanismos reguladores e resulta em ativação
que autoantígenos sejam apresentados ao sistema imune de forma
imunogênica (ABBAS, 9ª ed.). excessiva da célula T.

Modelos experimentais e estudos limitados em humanos mostram que


qualquer um dos mecanismos a seguir pode contribuir para a falha da
autotolerância: (ABBAS, 9ª ed.).

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IMPORTANTE autoantígenos, de modo que respostas


Muito da atenção recente tem convergido para o papel das células T imunológicas a esses microrganismos podem
na autoimunidade, por duas razões principais: (ABBAS, 9ª ed.). resultar em reações contra autoantígenos. Esse
fenômeno chama-se mimetismo molecular,
• Primeiro, as células T auxiliares são os reguladores-chave
de todas as respostas imunes às proteínas, e muitos
porque os antígenos do microrganismo reagem
autoantígenos envolvidos nas doenças autoimunes são cruzadamente, ou mimetizam, os autoantígenos.
proteínas.
Um exemplo de reatividade imunológica cruzada entre antígenos
• Segundo, diversas doenças autoimunes estão
microbianos e autoantígenos é a febre reumática, que se desenvolve
geneticamente ligadas ao MHC (o complexo HLA em
após infecções estreptocócicas e é causada por anticorpos
humanos), e a função das moléculas do MHC é a
antiestreptocócicos que têm reatividade cruzada com proteínas do
apresentação de antígenos peptídicos para as células T.
miocárdio. Esses anticorpos são depositados no coração, causando
A falha da autotolerância em linfócitos T pode resultar em doenças miocardite. O sequenciamento do DNA revelou numerosos trechos
autoimunes, nas quais o dano tecidual é causado por reações imunes curtos de homologias entre as proteínas miocárdicas e proteínas
mediadas por células. Anormalidades nas células T auxiliares também estreptocócicas. Contudo, o significado de homologias limitadas entre
podem levar à produção de autoanticorpos, porque essas células são antígenos microbianos e autoantígenos em doenças autoimunes
necessárias para a produção de anticorpos de alta afinidade contra comuns ainda precisa ser estabelecida (ABBAS, 9ª ed.).
antígenos proteicos (ABBAS, 9ª ed.).

PAPEL DAS INFECÇÕES NA AUTOIMUNIDADE


↠ Infecções virais e bacterianas podem contribuir para o
desenvolvimento e exacerbação da autoimunidade. Em
pacientes e em alguns modelos animais, o surgimento das doenças
autoimunes está frequentemente associado a infecções ou é
precedido pelas mesmas. Na maioria desses casos, o
microrganismo infeccioso não está presente em lesões
nem mesmo é detectável no indivíduo quando a
autoimunidade se desenvolve. Portanto, as lesões da
autoimunidade não se devem ao agente infeccioso por si
só, mas resultam das respostas imunes do indivíduo, que
podem ser desencadeadas ou desreguladas pelo
microrganismo (ABBAS, 9ª ed.).

↠ As infecções podem promover o desenvolvimento da


autoimunidade por meio de dois mecanismos principais:
A, Normalmente, o encontro de uma célula T autorreativa madura com um autoantígeno apresentado
(ABBAS, 9ª ed.). por uma APC em repouso com deficiência de coestimuladores resulta em tolerância periférica por
anergia. (Outros mecanismos possíveis de autotolerância não são mostrados.) B, Microrganismos podem
ativar as APCs para que expressem coestimuladores e quando essas APCs apresentam autoantígenos, as
➢ Infecções de tecidos particulares podem induzir células T autorreativas são ativadas em vez de se tornarem tolerantes. C, Alguns antígenos microbianos
respostas imunológicas inatas locais que podem apresentar reação cruzada com autoantígenos (mimetismo molecular). Portanto, as respostas
imunológicas iniciadas por microrganismos podem ativar células T específicas para autoantígenos.
recrutam leucócitos para os tecidos e resultam
na ativação de APCs teciduais. Essas APCs Doenças Pericárdicas
passam a expressar coestimuladores e secretar
citocinas ativadoras de células T, resultando na ↠ O pericárdio, também denominado saco pericárdico,
quebra da tolerância da célula T. é uma membrana serosa de camada dupla que isola o
coração das outras estruturas torácicas e mantém sua
Assim, a infecção resulta na ativação de células T que não são
específicas para o patógeno infeccioso; esse tipo de resposta é posição no tórax, bem como previne o seu enchimento
denominada ativação bystander. A importância da expressão aberrante excessivo, além de servir de barreira contra infecções
de coestimuladores é sugerida pela evidência experimental de que a (PORTH, 10ª ed.)
imunização de camundongos com autoantígenos na presença de
adjuvantes fortes (que mimetizam microrganismos) resulta na quebra ↠ O pericárdio é composto por duas camadas: uma
da autotolerância e no desenvolvimento de doença autoimune. camada interna fina, denominada pericárdio visceral, que
(ABBAS, 9ª ed.).
está aderida ao epicárdio; e uma camada fibrosa externa,
➢ Microrganismos infecciosos podem conter denominada pericárdio parietal, que está unida aos
antígenos que reagem de maneira cruzada com

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grandes vasos que entram e saem do coração, do ANOMALIAS CONGÊNITAS


esterno e do diafragma (PORTH, 10ª ed.) Ausência parcial ou total do pericárdio parietal é anomalia muito rara e
O pericárdio visceral está intimamente ligado ao coração, à aorta, à geralmente assintomática. Quando o defeito é pequeno, pode levar à
artéria pulmonar e às veias cavas e permite a fixação do tecido herniação de uma aurícula ou de parte de um ventrículo. Divertículos
adiposo (cujo interior é onde se localizam vasos epicárdicos e fibras do pericárdio são herniações do folheto visceral ou seroso através de
nervosas autonômicas) ao miocárdio. O pericárdio parietal é constituído um defeito no folheto parietal (BOGLIOGO, 10ª ed.).
de colágenos tipos I e I I e elastina, de espessura que varia de 1 a 2
OBS.: A doença pericárdica pode incluir inflamação do pericárdio
mm, portanto mais resistente, e tem importante função de fixar o
(pericardite) ou quantidades anormais de liquido no espaço entre o
coração à cavidade torácica (SOCESP, 5ª ed.).
pericárdio visceral e parietal (derrame pericárdico) (HAMMER;
↠ Essas duas camadas do pericárdio são separadas por MCPHEE).
um espaço virtual, a cavidade pericárdica, que contém Pericardite
aproximadamente 50 mℓ de líquido seroso. Esse líquido
atua como um lubrificante, que evita o desenvolvimento ↠ A pericardite consiste em um processo inflamatório no
de forças de atrito conforme o coração contrai e relaxa. pericárdio. A pericardite aguda, definida por sinais e
Embora conte com um suprimento sanguíneo reduzido, sintomas que resultam de uma inflamação pericárdica
o pericárdio é bem inervado e sua inflamação pode com duração inferior a 2 semanas, pode ocorrer como
causar dor intensa (PORTH, 10ª ed.) uma doença isolada ou como resultado de uma doença
sistêmica (SOCESP, 5ª ed.).
Além disso, o líquido pericárdico teria a função de reservatório de
moduladores parácrinos como prostanoides, peptídeos natriuréticos e OBS.: O termo pericardite aguda é geralmente utilizado para o primeiro
endotelinas, que podem regular os tônus simpático e coronário, a episódio da doença, ao passo que pericardite recorrente refere-se
frequência cardíaca e a pressão arterial (PA), além do possível papel literalmente à recorrência após a remissão inicial, independentemente
imunológico (SOCESP, 5ª ed.). do intervalo de tempo de reaparecimento. Já o termo pericardite
crônica é muito usado para aqueles casos de pericardite de curso
OBS.: O pericárdio não é essencial para a função cardíaca, no entanto
prolongado, arbitrariamente definido como superior a 3 meses
grande acúmulo de líquido pericárdico ou espessamento dessa
(SOCESP, 5ª ed.).
membrana pode causar consequências clínicas significativas (SOCESP,
5ª ed.).
Etiologia da pericardite
↠ Os distúrbios pericárdicos com frequência estão
↠ Em geral, as causas de pericardite aguda podem ser
associados a ou resultam de outra doença no coração ou
subdivididas em infecciosas e não infecciosas. As de
em estruturas adjacentes (PORTH, 10ª ed.)
origem não infecciosa incluem etiologias autoimunes
CLASSIFICAÇÃO DOS DISTÚRBIOS DO PERICÁRDIO (relacionadas à lesão do pericárdio, doença do tecido
INFLAMAÇÃO conectivo e formas autorreativas), neoplásicas, desordens
Pericardite inflamatória aguda; metabólicas e pericardites traumáticas. Os agentes
Infecciosa; infecciosos capazes de causar pericardite incluem vírus,
Distúrbios imunes e do colágeno; bactérias, fungos e parasitas (SOCESP, 5ª ed.).
Febre reumática;
Infarto do miocárdio; ETIOLOGIA DAS PERICARDITES
Cirurgia cardíaca; PERICARDITE INFECCIOSA
Agentes físicos e químicos; Viral: echovírus e coxsackievírus (mais comuns), influenza,
Traumatismo torácico; Epsteins-Barr;
Reações colaterais a medicamentos, como hidralazina, Bacteriana: tuberculose (mais comum);
Fúngica (muito rara): cândida, histoplasma, aspergillus;
procainamida e anticoagulantes.
Parasitária (muito rara): toxoplasma, entamoeba histolytica.
DOENÇA NEOPLÁSICA PERICARDITE NÃO INFECCIOSA
Primária; Autoimune
Secundária (p. ex., carcinoma pulmonar ou mamário, Doenças autoimunes: lúpus eritematoso (mais comum), artrite
linfoma). reumatóide;
DISTÚRBIOS CONGÊNITOS Outras doenças inflamatórias sistêmicas: sarcoidose, doença
Ausência completa ou parcial do pericárdio; inflamatória intestinal;
Doença autoinflamatória: febre familiar do mediterrâneo.
Cistos pericárdicos congênitos. Neoplásica
PORTH, 10ª edição Tumores primários (raros): quase todo mesoteliomas do
pericárdio;
Tumores metastásicos (comuns): quase todos os do pulmão,
mama e linfomas.

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Metabólica: mais comuns são uremia e misedema. miocardite/pericardite por milhão no prazo de 21 dias após a vacinação
Traumática em indivíduos com idades compreendidas entre os 12 e 39 anos.
Início tardio
Síndrome de lesão do pericárdio (comum): síndrome pós-infarto O mecanismo fisiopatológico da reação adversa miocardite/pericardite
do miocárdio, síndrome pós-pericardiectomia. também não é totalmente conhecido. Entre os mecanismos propostos
Outras: relacionadas a drogas (raras) estão:
Síndrome lúpus-like: hidralazina, isoniazidaa, fenitoína;
Drogas antineoplásicas: doxorrubicina; ➢ o mRNA da vacina pode ser detectado como um antígeno
Hipersensibilidade com eosinofilia: penicilina, amiodarona, minoxidil. pelo sistema imunológico, o que pode promover a ativação
de células pró-inflamatórias. cascatas e vias imunológicas no
coração;
↠ As infecções virais (especialmente infecções por vírus ➢ reações cruzadas entre anticorpos direcionados a
Coxsackie e ecovírus) são a causa mais comum de glicoproteínas spike do SARS-CoV-2 e sequências de
proteínas humanas estruturalmente semelhantes (por
pericardite e, provavelmente, são responsáveis por
exemplo, cadeia pesada de α-miosina do miocárdio);
muitos casos classificados como idiopáticos (PORTH, 10ª ➢ a testosterona pode estar associada à inibição de células
ed.). imunes anti-inflamatórias e à promoção de respostas
imunes do tipo célula T helper 1 mais agressivas.
OBS.: A pericardite idiopática é a forma mais comum de apresentação
da pericardite aguda, podendo chegar a 85% dos casos. Sabe-se que A miocardite e a pericardite ocorreram até 10 dias após a vacinação,
na grande maioria desses casos a etiologia é viral e, habitualmente, não particularmente após a segunda dose de Comirnaty (Pfizer-BioNTech),
se faz pesquisa viral de rotina na prática clínica devido à relação custo- e mais frequentemente em homens mais jovens. De um modo
benefício (SOCESP, 5ª ed.). positivo, essas reações adversas cardíacas foram em geral transitórios
e desaparecem após o repouso, com apenas alguns doentes a
ARTIGO: Incidência de pericardite pós COVID-19 em pacientes de uma necessitar de tratamento hospitalar.
clínica cardiológica, no período de março a junho de 2020.

O acometimento cardíaco é uma característica proeminente na ↠ No Brasil, certamente a etiologia tuberculosa é muito
infecção por SARS-CoV-2 sendo associada a pior prognóstico. Até superior em relação aos países desenvolvidos,
30% dos pacientes internados infectados pelo vírus podem apresentar
manifestações miocárdicas, representadas principalmente por níveis
principalmente em portadores de imunodeficiência
elevados de troponina I. (SOCESP, 5ª ed.).
A fisiopatogenia da lesão provocada pelo SARS-CoV-2 no miocárdio ↠ As pericardites bacterianas são raras em adultos e
ainda não é completamente conhecida, contudo sabe-se que as células exibem taxa elevada de mortalidade, em torno de 40%.
cardíacas expressam altos níveis de receptor de ECA I , podendo
O acometimento do pericárdio, mais comumente, ocorre
explicar o dano tecidual ao miocárdio.
por extensão direta de uma pneumonia ou empiema.
Nesse contexto, a ocorrência de pericardite em 4 pacientes com Além disso, a via hematogênica durante uma bacteremia
diagnóstico prévio de COVID-19, em um período de 3 meses,
e contaminação após cirurgia torácica ou trauma também
determinando a incidência de 11,8%, representa importante achado no
contexto da pandemia são importantes. Os agentes etiológicos mais comuns são
os estafilococos, pneumococos e estreptococos
No presente estudo foi observado, maior frequência de pericardite no
(SOCESP, 5ª ed.).
sexo feminino A média de tempo decorrido entre a COVID-19 e o
diagnóstico de pericardite, em nosso estudo, foi de aproximadamente ↠ Pacientes com infarto agudo do miocárdio (IAM)
30 dias.
transmural frequentemente são acometidos por
CONCLUSÃO: Resultado de incidência de pericardite, como complicação diferentes formas de pericardite. Em geral, entre o
tardia relacionada à COVID-19. terceiro e o sétimo dia de evolução, quase metade dos
pacientes apresentam inflamação do pericárdio
subjacente à área infartada, podendo se traduzir por dor
ARTIGO: Reações adversas graves das vacinas COVID-19 em Portugal pleurítica ou surgimento de atrito pericárdico, mesmo em
até julho de 2021: síndrome de trombose com trombocitopenia,
miocardite/pericardite e síndrome de Guillain-Barré indivíduos assintomáticos (SOCESP, 5ª ed.).

No geral, a vacinação contra a COVID-19 reduz o risco relativo de ↠ Em pacientes com insuficiência renal, são descritas
miocardite e arritmia múltipla. No entanto, existe uma associação entre duas formas de pericardite: a urêmica e a dialítica. O
miocardite/pericardite e as vacinas de mRNA COVID-19 em crianças e termo pericardite urêmica é utilizado para pericardite que
adultos jovens (com os homens a serem aproximadamente 5-10 vezes
ocorre antes do início da diálise e até 8 semanas após. A
mais afetados do que as mulheres), que deve ser cuidadosamente
monitorizadas pelos profissionais de saúde. Com a segunda dose de incidência é de 6 a 10% em pacientes com insuficiência
vacina contra mRNA, foram notificados 12,6 casos de renal avançada, aguda ou crônica; sua ocorrência está

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correlacionada com os níveis de ureia e creatinina. Infecções bacterianas podem se iniciar como pericardite fibrinosa,
Metabólitos tóxicos, hipercalcemia, hiperuricemia e transformando-se posteriormente em purulentas. O líquido presente
no saco pericárdico é turvo e contém fibrina, células inflamatórias e
mecanismos hemorrágicos, virais e autoimunes têm sido células mesoteliais. Em geral, não se identifica o agente etiológico
propostos como fatores etiológicos (SOCESP, 5ª ed.). (BOGLIOGO, 10ª ed.)

Epidemiologia da pericardite

↠ Não existem dados epidemiológicos oficiais no Brasil


referentes ao comprometimento pericárdico. Mesmo os
disponíveis na literatura internacional são escassos e
certamente sofrem a influência das características de
cada centro. Os dados referentes a serviços de
emergência mostram que 5% dos pacientes com queixa
de dor torácica nos quais foi afastada insuficiência
coronariana aguda e 1% daqueles com supradesnível de
segmento ST tinham pericardite aguda (DIRETRIZ, 2014).

↠ Quanto ao derrame pericárdico, é mais frequente


quando o comprometimento é por tuberculose ou
neoplasia, e o mesmo acontece em relação ao
tamponamento cardíaco. Já nos casos em que outras
etiologias são responsáveis pelo quadro clínico, a
frequência é menor (DIRETRIZ, 2014).

Fisiopatologia da pericardite

↠ Assim como outras condições inflamatórias, a


pericardite aguda frequentemente está associada ao Pericardite fibrinopurulenta. Pericárdio recoberto difusamente por
exsudato branco-amarelado.
aumento da permeabilidade capilar. Os capilares que
suprem o pericárdio seroso tornam-se permeáveis, Macroscopicamente, o coração fica recoberto por material fibrinoso,
branco-amarelado e friável, que confere à superfície o aspecto de
possibilitando que proteínas plasmáticas, incluindo o
“pão com manteiga” (BOGLIOGO, 10ª ed.)
fibrinogênio, saiam dos capilares e entrem no espaço
pericárdico. Isso resulta em um exsudato que varia em Histologicamente, o pericárdio apresenta graus variados de
espessamento por edema, discreto infiltrado inflamatório e acúmulo de
tipo e quantidade, de acordo com o agente causal
fibrina na superfície. Dependendo da duração do processo, pode haver
(PORTH, 10ª ed.). reparação com deposição de colágeno a partir de tecido de
granulação. Muitas vezes, há proliferação exuberante de células
↠ A pericardite aguda com frequência está associada a mesoteliais reativas. A organização da pericardite pode levar a
um exsudato fibrinoso, o qual cicatriza por resolução ou aderências entre os dois folhetos; quando a fibrose é muito
progride para deposição de tecido cicatricial e formação desenvolvida, origina a pericardite constritiva (BOGLIOGO, 10ª ed.)
de aderências entre as camadas do pericárdio seroso. A Clinicamente, pericardite fibrinosa manifesta-se por dor torácica, febre,
inflamação também pode envolver o miocárdio superficial atrito pericárdico característico à ausculta e, às vezes, sinais de
e a pleura adjacente (PORTH, 10ª ed.). insuficiência cardíaca (BOGLIOGO, 10ª ed.)

↠ O quadro morfológico das pericardites varia de acordo Pericardite fibrinopurulenta ou purulentA


com a causa, mas pode ser agrupado segundo categorias É causada por microrganismos piogênicos, como estafilococos,
etiológicas (BOGLIOGO, 10ª ed.) estreptococos, pneumococos, meningococos e, mais raramente,
fungos (BOGLIOGO, 10ª ed.)
Pericardite fibrinosa ou serofibrinosa
Os agentes atingem o pericárdio por meio de: (BOGLIOGO, 10ª ed.)
É a forma mais frequente de pericardite. Pericardite fibrinosa é causada
sobretudo por infarto do miocárdio, uremia, radiação no tórax, doença ➢ propagação de infecções adjacentes (pneumonias,
reumática, colagenoses e traumatismos; além dessas, uma forma endocardite infecciosa etc.);
muito comum de pericardite fibrinosa é a idiopática, provavelmente de ➢ septicemia;
origem viral (BOGLIOGO, 10ª ed.) ➢ inoculação direta por meio de manipulação cardíaca.

Júlia Morbeck – @med.morbeck


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Macroscopicamente, o pericárdio fica recoberto por camada de normalmente é precedida de pródromos infecciosos,
material purulento, de aspecto granular. Microscopicamente, há como febre e mal-estar (SOCESP, 5ª ed.).
infiltrado de neutrófilos, por vezes formando abscessos, em meio a
fibrina e restos celulares na superfície serosa. O encontro do agente ↠ A dor é ventilatório-dependente podendo ser
etiológico é frequente (BOGLIOGO, 10ª ed.)
retroesternal, precordial ou epigástrica; piora em decúbito
PERICARDITE HEMORRÁGICA dorsal, e melhora quando está em pé ou em posição
reclinada para a frente (SOCESP, 5ª ed.).
Encontrada em associação com as pericardites agudas descritas
anteriormente, é aquela caracterizada por componente hemorrágico OBS.: A dor tipicamente piora com a respiração profunda, tosse,
expressivo. As principais causas são tuberculose e infiltração neoplásica. deglutição e alterações posturais, devido às alterações no retorno
Pode, também, ser complicação de cirurgia cardíaca (BOGLIOGO, 10ª venoso e ao enchimento cardíaco (PORTH, 10ª ed.).
ed.)
↠ Em razão da relação com o nervo frênico, a dor irradia
Pericardite granulomatosa
caracteristicamente para a região inferior do músculo
Sua causa principal é a tuberculose, mas pode ser provocada também trapézio. Outros locais de irradiação são ombros, braços
por micobactérias atípicas e fungos, como Histoplasma e Candida. Na
e mandíbula, podendo ser confundida com dor de
tuberculose, são comuns granulomas com necrose caseosa; material
caseoso pode recobrir todo o pericárdio. Também é comum o isquemia miocárdica (SOCESP, 5ª ed.).
encontro do agente infeccioso. Com frequência, evolui para pericardite
constritiva (BOGLIOGO, 10ª ed.) ATRITO PERICÁRDICO

Pericardite constritiva ↠ Ao exame físico, o ruído de atrito pericárdico é


patognomônico de pericardite (HAMMER; MCPHEE).
Pericardite constritiva resulta da cicatrização de uma pericardite prévia.
Caracteriza-se por espessamento fibroso acentuado e aderências
↠ O atrito pericárdico é o achado clássico da pericardite
entre os folhetos visceral e parietal, que restringem os movimentos
cardíacos, principalmente o relaxamento diastólico ventricular e o aguda, no entanto está presente somente em cerca de
esvaziamento das veias cavas nos átrios. Às vezes, coexiste um terço dos casos; é decorrente da fricção dos
calcificação extensa ou em placas. Em alguns casos, essa forma de pericárdios visceral e parietal. Trata-se de um rangido de
pericardite simula clinicamente a endomiocardiofibrose por alta frequência, mais audível ao final da expiração
comprometer o enchimento diastólico dos ventrículos e provocar
dilatação atrial. Praticamente todas as pericardites podem evoluir para
(SOCESP, 5ª ed.).
pericardite constritiva, mas sua causa mais comum é a tuberculose O atrito é descrito tradicionalmente como tendo três componentes,
(BOGLIOGO, 10ª ed.) cada um associado com movimento rápido de uma câmara cardíaca.
O componente sistólico, que provavelmente está relacionado com a
PERICARDITE PÓS-INFARTO DO MIOCÁRDIO E SÍNDROME DE DRESSLER
contração ventricular, é o mais comum e mais facilmente audível.
A proximidade com o miocárdio necrótico pode causar inflamação Durante a diástole, há dois componentes: um durante o início da
fibrinosa no pericárdio logo nos primeiros dias após o infarto do diástole, resultante do enchimento rápido do ventrículo, e outro
miocárdio. O desenvolvimento de pericardite com derrame e febre componente mais silencioso que corre no fim da diástole, podendo
tardiamente, cerca de 2 a 3 semanas após infarto do miocárdio, ser consequência da contração atrial (HAMMER; MCPHEE).
constitui a síndrome de Dressler. Sua patogênese não está
Os componentes diastólicos frequentemente se mesclam, de modo
completamente esclarecida, mas um dos mecanismos inclui reação
que um atrito com dois componentes, ou de “vai e vem”, é ouvido
autoimune contra antígenos miocárdicos (BOGLIOGO, 10ª ed.)
mais comumente (HAMMER; MCPHEE).
Manifestações clínicas da pericardite PERICARDITE CONSTRITIVA

↠ As manifestações da pericardite aguda incluem a tríade Ocasionalmente, a inflamação continua do pericárdio leva à fibrose e
de dor torácica, atrito pericárdico e alterações ao ao desenvolvimento de pericardite constritiva (HAMMER; MCPHEE).
eletrocardiograma (ECG) (PORTH, 10ª ed.). No paciente com pericardite constritiva, o enchimento diastólico inicial
do ventrículo ocorre normalmente, mas é interrompido subitamente
DOR TORÁCICA pelo pericárdio espesso inelástico. A pressão venosa sistêmica está
elevada, porque o fluxo de entrada no coração é limitado. Geralmente,
↠ A dor torácica provavelmente deve-se à inflamação com a inspiração, a diminuição da pressão intratorácica é transmitida
do pericárdio. A inflamação da pleura adjacente pode ser ao coração, e o enchimento do lado direito do coração aumenta com
responsável pela piora característica da dor com uma queda acompanhante na pressão venosa sistêmica. Em pacientes
com pericardite constritiva, essa resposta normal é impedida e o
inspiração profunda e tosse (HAMMER; MCPHEE). paciente desenvolve o sinal de Kussmaul (HAMMER; MCPHEE).
↠ A dor está quase sempre presente (em mais de 85% O exame da pulsação venosa jugular é essencial no paciente que pode
dos casos) com intensidade e duração variáveis e ter pericardite constritiva. A pressão venosa jugular está elevada

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(turgência jugular), e as formas de onda individuais com frequência são ↠ O derrame pericárdico pode ocorrer em resposta a
bastante proeminentes (HAMMER; MCPHEE). qualquer causa de pericardite (HAMMER; MCPHEE). O seu
A pressão venosa sistêmica elevada pode causar acúmulo de líquido desenvolvimento também pode resultar de neoplasias, cirurgia
no fígado e espaço intraperitoneal, levando à hepatomegalia e ascite cardíaca, traumatismo, ruptura cardíaca por infarto do miocárdio e
(HAMMER; MCPHEE). aneurisma aórtico dissecante (PORTH, 10ª ed.).

À ausculta do coração, um som de timbre alto chamado batida ↠ A cavidade pericárdica tem pouco volume de reserva.
pericárdica pode ser ouvido logo depois da segunda bulha cardíaca, A relação pressão-volume entre os volumes pericárdico
frequentemente imitando uma terceira bulha cardíaca (HAMMER; e cardíaco normais pode ser drasticamente afetada até
MCPHEE).
por pequenas quantidades de líquido, na presença de
níveis críticos de derrame. Como as pressões de
enchimento do coração direito são inferiores àquelas do
coração esquerdo, os aumentos na pressão normalmente
se refletem em sinais e sintomas de insuficiência cardíaca
direita que antecedem a equalização das pressões
(PORTH, 10ª ed.).

Fisiopatologia do Derrame Pericárdico e do


Pressões na artéria braquial e no átrio direito mostrando pulso Tamponamento Cardíaco
paradoxal em um paciente com pericardite constritiva e um aumento
na pressão atrial direita à inspiração (sinal de Kussmaul). Tanto a
pressão atrial sistólica quanto a diastólica se eleva com a inspiração. ↠ A quantidade de líquido, a rapidez com que ele se
acumula e a elasticidade do pericárdio determinam o
Derrame Pericárdico e Tamponamento Cardíaco efeito do derrame sobre a função cardíaca (PORTH, 10ª
ed.).
Normalmente, o saco pericárdico contém 20 a 50 mL de líquido
límpido e claro (BOGLIOGO, 10ª ed.). Pequenos derrames pericárdicos podem não produzir sintomas, ou
produzir achados clínicos anormais. Até mesmo um grande derrame
CONCEITOS que se desenvolve lentamente pode causar poucos ou nenhum
sintoma, desde que o pericárdio consiga se distender e evitar a
Hidropericárdio ou derrame seroso é o acúmulo de líquido claro, compressão do coração (PORTH, 10ª ed.).
seroso e rico em albumina provocado por condições que causam
edema; a mais comum é a insuficiência cardíaca. Quando o acúmulo é ↠ Contudo, um acúmulo súbito de até mesmo 200 mℓ
rápido, pode haver tamponamento cardíaco. Contudo, quase sempre
de líquido pode elevar a pressão intracardíaca a níveis
o derrame seroso se forma lentamente, levando à distensão gradual
do saco pericárdico (BOGLIOGO, 10ª ed.). que limitam seriamente o retorno venoso para o coração.
Os sintomas de compressão cardíaca também podem
Efusão quilosa ocorre por obstrução dos vasos linfáticos, geralmente
ocorrer com acúmulos relativamente pequenos de líquido
secundária à invasão neoplásica, resultando em acúmulo de líquido rico
em gotículas de lipídeos. A efusão de colesterol é rara e associa-se em um pericárdio que tenha sofrido espessamento
geralmente a mixedema (BOGLIOGO, 10ª ed.). resultante de formação de tecido cicatricial ou infiltração
neoplásica (PORTH, 10ª ed.).
Hemopericárdio é a coleção de sangue no saco pericárdico. As
principais causas são ruptura da parede ventricular após infarto agudo ↠ O derrame pericárdico pode levar a uma condição
do miocárdio, ruptura da aorta com dissecção para o espaço
pericárdico ou ruptura do coração ou da aorta por traumatismos
denominada tamponamento cardíaco, no qual ocorre
torácicos abertos ou fechados; todas essas condições podem levar ao compressão do coração em consequência do acúmulo
tamponamento cardíaco e, na grande maioria das vezes, ao óbito. de líquido, pus ou sangue no saco pericárdico (PORTH,
Nesses casos, drenagem rápida e cirurgia se fazem necessárias. 10ª ed.).
Quantidades menores de líquido hemorrágico podem acumular-se no
saco pericárdico em diátese hemorrágica ou pericardites (BOGLIOGO, ↠ Quando uma quantidade significativa de líquido se
10ª ed.). acumula e ultrapassa a capacidade de distensão do tecido
Pneumopericárdio é o acúmulo de ar no saco pericárdico. Trata-se de fibroelástico pericárdico, ocorre progressiva compressão
complicação de pneumotórax, caverna tuberculosa ou fístula esofágica de todas as câmaras cardíacas decorrente do aumento
que se abrem no saco pericárdico (BOGLIOGO, 10ª ed.). da pressão intrapericárdica, redução do volume de
↠ O derrame pericárdico se refere ao acúmulo de líquido enchimento cardíaco e maior interdependência
na cavidade pericárdica, normalmente como resultado de ventricular (DIRETRIZ, 2014).
um processo inflamatório ou infeccioso (PORTH, 10ª ed.).

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↠ O desenvolvimento do tamponamento depende da


velocidade de instalação e do fator causal: (DIRETRIZ,
2014).
➢ o tamponamento cardíaco agudo ocorre em
minutos, devido ao trauma, ruptura do coração
e aorta, ou como complicação de
procedimentos diagnósticos e terapêuticos
(biópsias cardíacas, estudo eletrofisiológico,
oclusão de apêndice atrial, oclusores de septo
interatrial etc.), resultando num quadro de
choque;
➢ o tamponamento cardíaco subagudo ocorre
entre dias e semanas e poder estar associado
com dispneia e fadiga.
➢ tamponamento de baixa pressão (oculto) ocorre
em pacientes que estão hipovolêmicos, com
consequente redução da pressão intracardíaca,
favorecendo a compressão extrínseca do
derrame pericárdico.
➢ tamponamento cardíaco regional ocorre quando
um derrame localizado ou um hematoma
produz compressão regional em uma única
câmara.
No tamponamento cardíaco, o ventrículo esquerdo (VE) é comprimido
a partir do seu interior, pelo movimento do septo interventricular, e
↠ A gravidade da condição depende da quantidade de
do seu exterior, pelo líquido no pericárdio. Isso produz uma diminuição
líquido presente e da velocidade com que ele se acumula acentuada no enchimento ventricular esquerdo e no volume sistólico
(PORTH, 10ª ed.). ventricular esquerdo (PORTH, 10ª ed.).

Manifestações Clínicas ↠ Um achado diagnóstico importante é o pulso paradoxal,


ou uma intensificação na variação normal do volume do
↠ Um acúmulo significativo de líquido no pericárdio pulso arterial sistêmico com a respiração. Com o pulso
resulta em aumento do estímulo adrenérgico, que leva à paradoxal, o pulso arterial palpado na artéria carótida ou
taquicardia e ao aumento da contratilidade cardíaca femoral é fraco ou ausente durante a inspiração e se
(PORTH, 10ª ed.). torna mais forte durante a expiração. (PORTH, 10ª ed.).
↠ Ocorre elevação da pressão venosa central (PVC), ↠ Essa estimativa é mais sensível com o uso de um
distensão das veias jugulares, queda da pressão arterial manguito de pressão arterial para comparar os sons de
sistólica, estreitamento da pressão de pulso, abafamento Korotkoff durante a inspiração e a expiração – um
das bulhas cardíacas e sinais de choque circulatório declínio superior a 10 mmHg na pressão sistólica durante
(PORTH, 10ª ed.). a inspiração é sugestivo de tamponamento. O
Normalmente, a diminuição na pressão intratorácica durante a monitoramento da pressão arterial possibilita a
inspiração acelera o fluxo venoso, aumentando o enchimento atrial e visualização da forma da onda da pressão arterial e a
ventricular direito. Isso ocasiona um abaulamento do septo aferição da queda da pressão arterial durante a inspiração
interventricular à esquerda, produzindo uma discreta diminuição no (PORTH, 10ª ed.).
enchimento ventricular esquerdo, na saída do volume sistólico e na
pressão arterial sistólica (PORTH, 10ª ed.). ↠ O tamponamento pericárdico é acompanhado por
sinais físicos característicos que surgem do enchimento
limitado do ventrículo. Os três sinais clássicos de
tamponamento pericárdico são chamados de tríade de
Beck, em homenagem ao cirurgião que os descreveu
em 1935: (HAMMER; MCPHEE).

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➢ hipotensão,
➢ pressão venosa jugular elevada;
➢ bulhas cardíacas hipofonéticas.

Diagnóstico das Doenças Pericárdicas

↠ Baseia-se nas manifestações clínicas, no ECG, na


radiografia torácica e no ecocardiograma (PORTH, 10ª ed.).

ELETROCARDIOGRAMA
↠ Os pacientes com pericardite aguda frequentemente
exibem alterações eletrocardiográficas compatíveis com
inflamação do tecido epicárdico (SOCESP, 5ª ed.).

↠ A intensidade dessas alterações depende de


características próprias do paciente, do agente etiológico,
do miocárdico associado e da resposta ao tratamento
efetuado (SOCESP, 5ª ed.). ➢ Estágio II (primeira semana): retorno dos
segmentos ST e PR aos padrões normais.
↠ As arritmias cardíacas, principalmente atriais, podem ➢ Estágio III (após normalização do segmento ST):
ocorrer em qualquer momento do curso da doença ocorre inversão difusa da onda T.
↠ A presença de complexos QRS de baixa amplitude
sugere DP, ao passo que a alternância elétrica de
morfologia e amplitude do QRS sinaliza DP volumoso e
está associada a tamponamento cardíaco (SOCESP, 5ª
ed.).

↠ As alterações eletrocardiográficas (difusas) podem ser


caracterizadas em estágios de evolução de acordo com
o tempo de apresentação: (SOCESP, 5ª ed.).
➢ Estágio I (primeiras horas a dias): caracteriza-se
por supradesnivelamento côncavo difuso do
segmento ST e por infradesnivelamento do
segmento PR. Diferencia-se do padrão isquêmico que
apresenta supradesnivelamento convexo, de maior
magnitude, limitado às derivações correspondentes a área
do infarto, sem surgimento de ondas Q .
➢ Estágio IV: retorno da onda T ao padrão normal.

ECOCARDIOGRAMA
↠ Trata-se de um exame indicado como parte da
avaliação diagnóstica de rotina. Quando ocorre
acometimento concomitante do miocárdio, pode revelar
alterações de função e contratilidade cardíacas. Possibilita
a avaliação de comorbidades, como doença isquêmica
cardíaca, derrame pleural, dissecção de aorta e pericardite
constritiva (SOCESP, 5ª ed.).

↠ O ecocardiograma permite avaliar características do


pericárdio como a presença de espessamento (maior que
3 mm) ou aumento de ecogenicidade, que pode ser

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relacionada a fibrose ou depósito de cálcio (SOCESP, 5ª EXAMES LABORATORIAIS


ed.).
↠ O hemograma pode revelar leucocitose com
↠ A detecção do DP por ecocardiografia é relativamente predomínio de linfócitos. Elevações acentuadas podem
simples e permite a confirmação diagnóstica na suspeita indicar infecção bacteriana ou malignidade, ao passo que
de pericardite. Sua ausência, entretanto, não permite leucopenia indica a necessidade de pesquisar doenças
excluir o diagnóstico. O derrame, geralmente leve, está autoimunes (SOCESP, 5ª ed.).
presente em cerca de 60% dos casos (SOCESP, 5ª ed.).
↠ A elevação da velocidade de hemossedimentação e
da proteína C-reativa é achado comum na pericardite,
embora não seja sensível ou específico. Essas alterações
podem ser identificadas no acompanhamento do paciente
para predizer o risco de recorrência e avaliar a remissão
da doença e orientar o tratamento (SOCESP, 5ª ed.).
A elevação discreta de biomarcadores cardíacos, como a fração MB
da creatinoquinase e da troponina, é comum e não parece apresentar
correlação prognóstica. Nesta situação, deve-se suspeitar da presença
de miopericardite (SOCESP, 5ª ed.).

Referências

↠ O derrame pode ser classificado como leve (espaço MONTERA et. al. I Diretriz Brasileira de Miocardites e
livre de eco na diástole menor que 10 mm), moderado (10 Pericardites. Arquivos Brasileiros de Cardiologia, 2014.
a 20 mm) e grande (maior que 20 mm). As características
do derrame podem denunciar possível etiologia como a HAMMER, Gary D.; MCPHEE, Stephen J. Fisiopatologia da
presença de fibrina na tuberculose ou coágulos no doença. Grupo A, 2015.
hemopericárdio (SOCESP, 5ª ed.). FILHO, Geraldo B. Bogliolo – Patologia, 10ª edição. Grupo
↠ A avaliação de comprometimento hemodinâmico ou GEN, 2021.
tamponamento cardíaco associado ao DP constitui outra NORRIS, Tommie L. Porth - Fisiopatologia, 10ª edição.
importante ferramenta da ecocardiografia. Desta forma, o Grupo GEN, 202.
colapso do átrio direito é sinal sensível de tamponamento
cardíaco, ao passo que o colapso do ventrículo direito por JATENE, Ieda B.; FERREIRA, João Fernando M.; DRAGER,
tempo maior que um terço da diástole constitui um sinal Luciano F.; et al. Tratado de cardiologia SOCESP, 5ª
mais específico (SOCESP, 5ª ed.). edição. Editora Manole, 2022

RADIOGRAFIA DE TÓRAX ABBAS, Abul K. Imunologia Celular e Molecular. Grupo


GEN, 2019.
↠ O aumento da silhueta cardíaca na radiografia de tórax
pode indicar a presença de DP e colaborar com a suspeita DELVES, Peter J. ROITT - Fundamentos de Imunologia,
de pericardite (SOCESP, 5ª ed.). 13ª edição. Grupo GEN, 2018.

↠ Entretanto, apenas derrames com volume acima de PIRES, C. Reações adversas graves das vacinas COVID-19
200 mL são geralmente identificados pela radiografia. A em Portugal até julho de 2021: síndrome de trombose
presença de derrame pleural, alterações concomitantes com trombocitopenia, miocardite/pericardite e síndrome
nos campos pulmonares ou no mediastino podem ser de Guillain-Barré. Biopharmaceutical Sciences, 2022.
auxiliar no diagnóstico etiológico, como, por exemplo, a BENTES et. al. Incidência de pericardite pós COVID-19 em
observação de cavitações tuberculosas (SOCESP, 5ª ed.). pacientes de uma clínica cardiológica, no período de
↠ De outro modo, a radiografia de tórax na maioria dos março a junho de 2020. Revista Eletrônica Acervo Saúde,
casos de pericardite viral não exibe alterações (SOCESP, 2021.
5ª ed.).

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