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Exame semiológico do sistema digestório de pequenos animais

O sistema digestório tem basicamente três funções:


● Captação de nutrientes
● Digestão
● Absorção
Todas essas três funções cooperam para manutenção da homeostase corporal.
Esse sistema também faz integração com o sistema nervoso, é de lá que vem os comandos
para sede e apetite, uso da visão e olfato para localizar alimentos, e faz o controle dos
movimentos peristálticos.
E faz integração também com o sistema musculoesquelético, responsável pela preensão,
dilaceração, mastigação e deglutição.

Componentes:
● Boca
● Esôfago
● Estômago
● Alças intestinais (intestino delgado e grosso)
● Estruturas anexas ( glândulas salivares, pâncreas, fígado e vesícula biliar)

Exame clínico geral


● Identificação
● Sexo
● Idade
● Raça
● Procedência
● Anamnese( queixa principal, quando começou, tempo, grau de intensidade,
características, aspecto, tratamentos, manejo sanitário, vacinação, vermífugo,
contato com lixo, produtos de limpeza e etc)
● Características de defecação (postura, dor, frequência, aspecto das fezes )
● Vômitos( aspecto, intensidade, frequência)
● Alimentação ( o que come normalmente, mudança na dieta, perda de peso ou ganho
de peso, mudança no apetite)

Apetite
● Normorexia, quando o apetite está normal
● Polifagia, quando o apetite está aumentado
● Hiporexia ou inapetência, quando o apetite reduziu
● Anorexia, ausência de apetite
● Parorexia, um apetite depravado, pervertido
● Coprofagia, hábito de ingerir fezes

Ingestão de água
A ingestão da água é controlada pelo sistema nervoso, mais precisamente pelo centro da
sede localizado na região do hipotálamo.
Depende de:
● Temperatura do ambiente, da espécie de animal, do grau de atividade, da idade e da
quantidade de água presente nos alimentos da dieta do animal

Normodipsia, quando a ingestão tá normal


Polidipsia, quando a ingestão está aumentada
Oligodipsia ou hipodipsia, quando a ingestão está diminuída
Adipsia, quando o animal não está ingerindo água

Preensão, mastigação e deglutição


● Avaliar dentes e membros torácicos
● Os carnívoros quase não mastigam os alimentos, eles têm o hábito de lacerar,
fracionar e engolir
● Na deglutição, observar a boca, faringe, e esôfago

Sinais clínicos de alterações relacionadas ao sistema digestório

Halitose
É a presença de odor alterado desagradável ou fétido no ar expirado pelo animal.
Principais causa são:
● Doenças da faringe, esôfago ou estômago
● Doenças periodontais
● Coprofagia
● Doença renal por conta do hálito urêmico
● Diabetes por conta do hálito cetônico

Disfagia
Se refere a maior dificuldade ou impossibilidade de deglutição quando associada ou não,
quando tem dor associada chamamos de odinofagia.
Sinais de disfagia são:
● Dificuldade de preensão, engasgos, sialorréia, vocalização, apetite voraz
Causas da disfagia:
● Fratura em mandíbula, processos dolorosos nos dentes, problemas obstrutivos etc

Deve-se sempre avaliar a deglutição, fornecendo alimento ao animal e observando.

Regurgitação
Se refere à eliminação retrógrada e passiva ou seja sem esforços abdominais do conteúdo
esofágico. Nesse tipo de alteração o conteúdo eliminado não está digerido e apresenta
aspecto tubular.
Principais causas são:
● Megaesôfago, obstrução esofágica, alteração de motilidade etc.

Vômito ou emese
É o processo de expulsão ativa do conteúdo gástrico ou duodenal pela boca. É uma
alteração controlada pelo centro do vômito no SNC.
Nesse caso, o alimento pode estar ou não digerido, e tem participação do sistema muscular,
do TGI, respiração e neurológica.
Aspecto
● Conteúdo alimentar
● Aquoso
● Biliar
● Fecaloide
● Sanguinolento (hematêmese)
● Purulento

Mímica do vômito
O animal apresenta alguns sinais prodrômicos no momento do vômito.
● Inquietação e ansiedade, alguns sons característicos, náuseas, salivação
,lambedura dos lábios e deglutição repetidas, aumento da frequência respiratória,
movimentos respiratórios superficiais contrações abdominais rítmicas e repetidas,
extensão do pescoço, abertura da boca e expulsão do conteúdo.

Vômito agudo x Vômito crônico


O vômito agudo é caracterizado por uma duração menor ou igual a duas semanas, já o
vômito crônico tem duração maior que duas semanas ou até anos.
Causas de vômito agudo geralmente são indiscrições alimentares, mudança na dieta,
gastroenterite viral, pancreatite, obstrução por corpos.
Causas de vômito crônico geralmente é por doenças metabólicas, degenerativas ou
inflamatórias crônicas.

Hematêmese
Se refere ao processo do vômito com a presença de sangue. Pode ser de origem
gastrointestinal ou da cavidade oral, por isso é importante fazer um bom exame físico e uma
boa anamnese.
Principais causas são:
● Gastrite aguda, gastroenterite hemorrágica, corpos estranhos, coagulopatias,
neoplasias e ulceração por doença renal.
Coloração
Avermelhada, indica presença de sangue vivo
Marrom, indica presença de sangue digerido

Constipação intestinal
É a defecação dificultada, em frequente ou ausente, levando ao processo de retenção fecal.
Obstipação é um quadro de retenção fecal intratável.
Na constipação intestinal se observa: esforço ao defecar, retenção de fezes secas e
endurecidas no cólon e reto.
As principais causas são:
● Obstrução, fármacos, comportamental (alteração de rotina, limpeza inadequada da
caixinha etc)

Incontinência fecal
É a incapacidade de controlar a eliminação das fezes, e acontece por conta de um
relaxamento do esfíncter anal e descarga de material fecal em intervalos não regulares.
As principais causas são:
● Doenças neuromusculares, danos ao esfíncter anal e proctite irritativa
Tenesmo
É a presença de esforços improdutivos e repetidos de defecação, o animal fica com a
postura característica para defecar e não consegue ou defeca em poucas quantidades.

Disquezia
É o quadro de dor ao defecar e costuma esta associado a tenesmo.
Geralmente causado por obstrução ou inflamação do retomou cólon.

Hematoquezia
Presença de sangue vivo nas fezes de origem do intestino grosso. Também relacionada
com tenesmo e disquezia.
Geralmente causada por lesões hemorragias no cólon distal, reto e região do períneo.

Melena
Fezes de coloração escura, com presença de sangue digerido.
Pode ser da cavidade oral, trato respiratório (sangue deglutido), estômago ou intestino
delgado.

Diarréia
Se refere ao aumento anormal de volume fecal, frequência de defecação e conteúdo de
líquidos nas fezes, esses sinais podem ser simultâneos ou isolados.
As causas podem ser:
● Doenças intestinal primária, doenças hepáticas, doenças pancreáticas, doenças
sistêmicas, fármacos (principalmente antibióticos)

Diarreia aguda x Diarréia crônica


Aguda é com um tempo menor ou igual que semanas e crônica é um tempo maior que 2
semanas.
Aguda geralmente é por doenças autolimitantes e responde bem ao tratamento.
Crônica é geralmente refratária ao tratamento.

Dor abdominal
Origem no sistema digestório ou não, pode ser por distensão de órgãos ocos, peritonite ou
ruptura de visceras.
Fazer um bom exame físico para saber a localização da dor.
Quadro de dor intensa o animal pode adotar a posição de prece.

Outras alterações fecais


Fezes acólicas, é quando se tem ausência de bilirrubina e assim as fezes apresenta
coloração acinzentada.
Esteatorreia, é a presença de gordura nas fezes, geralmente por obstrução biliar ou
pancreatopatias.

Icterícia
Nessa alteração a pele e a mucosa ficam com coloração amarelada por conta do acúmulo
de bilirrubina nos tecidos, geralmente é causada por alguma alteração na prática primária
ou secundária ou obstruções biliares.
Ascite
Quadro relacionado com hepatopatias crônicas, como hipertensão portal e
hipoalbuminemia.
Hipoproteinemia por deficiência nutricional, peristaltismo ou enteropatias com perda de
proteínas.
Para fazer a detecção do líquido, deve-se fazer o teste de balotamento.

Exame físico do sistema digestório


Pode usar os 5 métodos exploratórios.
● Inspeção, palpação, auscultação, percussão, olfação.

Inspeção geral
Observar locomoção, postura e comportamento (se tem sinais de alteração neurológica),
fornecer alimentos e observar a preensão, mastigação, deglutição, se tem pelame, estado
nutricional e escore corporal.

Cavidade oral
Lábios, dentição, mucosa,palato, língua, faringe, glândulas salivares( mucocele, sialocele ou
rânula).

Esôfago
Inspeção e palpação da porção cervical em busca de aumento de volume ou dor. A porção
torácica ou abdominal não pode ser papada por isso se recomenda exames de imagem
(radiografia ou endoscopia).

Abdômen
Inspeção em busca de aumento de volume, dilatação gástrica por gás, hepatomegalia,
ascite, retenção fecal etc.
Avaliar órgãos:
Tamanho, formato, consistência e sensibilidade.
Percussão
Dígito digital, observar os sons.

Auscultação
Ouvir os borborigmos intestinais, fisiologicamente normais com líquido e gás no processo
de digestão, se estão frequentes e altos indica motilidade intensa.

Região perineal
Fazer inspeção e palpação e observar se tem aumento de volume, hérnias, obstrução ou
inflamação dos sacos anais.
Buscar pólipos, tumores, corpo estranho, estenose, aumento de próstata, alteração de fezes
etc.

Exames complementares
Hemograma e bioquímica sérica :
A fim de descartar doenças ou complicações sistêmicas e metabólicas e avaliar o perfil
hepático e renal.
Análise fecal
Observar o aspecto macroscópico e fazer análise microscópica em busca de parasitas
intestinais.

Exames de imagem
Radiografia, Ultrassonografia, endoscopia

Laparotomia
Fazer inspeção direta de todos os órgãos coletar material e remover massas ou corpos
estranhos.

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