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Discussão de Casos Clínicos

Sistema Digestório
OBSTRUÇÃO INTESTINAL (DUODENO)

Histórico: Novilho de 9 meses de idade apresentando anorexia, depressão e distensão abdominal.

Exame clínico: distensão abdominal não indicava timpanismo (confirmada pelos exames
complementares); não possuía corpo estranho no esôfago; movimentos rumenais inexistentes.

Exames complementares:

 Hemograma – plaquetas normais; hematócrito (VG%) diminuído; CTCN, SEG, MONO,


BASTO, FIBRI aumentados.
 Perfil bioquímico – Ca, Na, K e Cl diminuídos; GLICO, BUN ( blood urea nitrogen), CREAT, P,
ALBU, GLOB, CK, BILIR aumentados.
 Hemogasometria – pH normal; PCO2 e HCO3 aumentados.

Interpretação: suspeita de anemia por possível úlcera de abomaso ou desidratação; neutrofilia,


monocitose e hiperfibrinogenemia decorrente de inflamação; hiperglicemia por ativação do
mecanismo simpático-adrenal liberando cortisol em resposta a dor e estresse (ativa mecanismos
envolvidos na glicogenólise e gliconeogênese) e/ou tratamento com glicose.

Hiperglobulinemia causada por estimulação antigênica ou desidratação; azotemia pré-renal


(aumento de ureia e creatinina) e hiperalbuminemia por desidratação; hiperbilirrubinemia
indicando colestase; CK e AST altos por possível miopatia; hipocalcemia compatível com obstrução
no TGI; hipocloremia por possível secreção ácida no abomaso (estresse ou alcalose metabólica);
hiponatremia por diurese osmótica causada pela hiperglicemia.

Alcalose metabólica por possível obstrução abomasal (impede o intercâmbio de cloro e


bicabornato, importantes tampões); acidose respiratória em resposta dos mecanismos
compensatórios para diminuir alcalose metabólica (respiração tende a ser mais lenta) pH no limite
superior influenciado pela acidose respiratória.

Necrópsia: A principal alteração causada pela obstrução intestinal ocorre na região pilórica, no
duodeno proximal ou no duodeno médio. No local da obstrução nota-se aumento da espessura
da parede, hiperemia e edema mural; a mucosa fica friável com uma linha demarcatória
hiperêmico-hemorrágica separando a mucosa normal da friável. O rúmen, abomaso e duodeno,
nas porções proximais ao local da obstrução, ficam repletos de conteúdo líquido esverdeado, e no
intestino, nas porções distais ao local de obstrução, há ausência de conteúdo. Quantidade
moderada de conteúdo mucoso na ampola retal e escassa quantidade de fezes.

Histopatologia: necrose difusa, edema, infiltrado neutrofílico, intensa deposição de fibrina, e na


submucosa, necrose aleatória de fibras musculares lisas e marcada congestão e hemorragia. Na
superfície apical do epitélio intestinal, grande quantidade de bactérias bacilares basofílicas. Os
demais órgãos não apresentam alterações significativas.
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Sinais e sintomas: prostração, isolamento do rebanho, cólica abdominal aguda caracterizado por
apatia, anorexia, desidratação, retração do globo ocular, queda de temperatura, taquicardia,
inquietação, desconforto, sudorese e vocalização, seguido por episódios de diarreia esverdeada ou
diminuição da produção fecal, desidratação, hipomotilidade gastrintestinal, aumento do volume
abdominal, decúbito esternal ou lateral com a cabeça voltada para o flanco e morte. Outros
fatores decorrentes da obstrução intestinal também podem ser alcalose metabólica e aumento de
cloretos séricos e ureia. Alguns animais podem morrer pela ruptura do intestino e consequente
peritonite.

Curso: 3 a 7 dias.

Causas: parasitose intensa, corpo estranho, bezoares, enterólitos, areia, volvo, torção,
intussuscepção, ingestão de Stylosanthes sp. (Fabaceae Papilionoideae - leguminosa; curso clínico
de 3 a 7 dias até a morte), Agave sisalana, Melia azedarach, Opuntia ficus-indica, Pennisetum
purpureum, Phleum pratense, Stipagrostis foliata e S. obtusa .

Tratamento: O abate pode ser a opção mais econômica para os animais de valor comercial. Se o
diagnóstico de obstrução intestinal que requer cirurgia for feito no início do aparecimento da
doença, o animal normalmente poderá passar por inspeção pré e pós-morte no matadouro.

Alguns bezoares podem ser tratados com medidas terapêuticas, por dissolução do bezoar com
enzimas, especialmente em casos de fitobezoares. Remédios tradicionais incluem a utilização de
parafina líquida e a utilização de enzimas papaína e bromelina. O tratamento realizado pela
administração de purgantes ou substâncias oleosas para tentar fazer os fitobezoares atravessarem
o trato digestivo. Não tendo obtido resultados satisfatórios, a conduta cirúrgica é indicada para
resolução da maioria dos casos. A abordagem mais comum é a celiotomia pela fossa paralombar
direita. A eficácia do procedimento está relacionada ao momento do diagnóstico e ao momento
da intervenção cirúrgica, que deve ser feita imediatamente após o início dos sintomas clínicos e o
diagnóstico de obstrução intestinal.

Prevenção: Retirar os animais do piquete com leguminosas. Mesmo após a retirada desses
animais do piquete, podem ocorrer mortes daqueles animais que ingeriram as plantas antes da
sua realocação. Realizar manejo de limpeza dos piquetes removendo as leguminosas e possíveis
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objetos que possam ser ingeridos pelos animais. Fornecer dieta com fibras de alta efetividade
física.

Bezoares são estruturas sólidas, cúbicas ou ovoides formadas no interior do sistema


gastrointestinal, a partir de resíduos vegetais ricos em fibras indigeríveis (fitobezoares), em pelos
(tricobezoares) ou em combinação entre materiais originários de plantas e de pelos
(tricofitobezoares), por minerais (litobezoários), por derivados do leite (lactobezoares) ou
medicamentos (farmacobezoares).

TIMPANISMO

Timpanismo espumoso/primário – é caracterizado pela formação de bolhas gasosas na indigesta


que impossibilita a eliminação dos gases pela eructação. Geralmente causado por alimentação a
base de leguminosas como alfafa e espécies do gênero Trifolium (trevos), e grande quantidade de
concentrado (>50% da dieta), que contém alta digestibilidade por possuir elevado teor de FDN
(animais confinados ou em pastagens ricas em leguminosas – principalmente na época das secas).

Timpanismo gasoso/secundário – é determinado pela distensão do rúmen ocasionada por excesso


de gás disponível como uma bolsa de gás livre no topo do conteúdo ruminal, e ocorre por falhas
físicas ou funcionais (disfunção da cárdia e/ou do orifício retículo-omasal, disfunção da motilidade
retículo-ruminal) que podem levar a obstrução do esôfago e/ou redução do seu lúmen (estenose),
interferindo na eructação. Dentre outras causas, incluem obstruções intramural que causam
pressão sobre o esôfago gerada pela presença de tumores, linfonodomegalia, abscessos e outras
variedades de crescimento, além de obstruções intraluminais causadas pela ingestão de frutos ou
corpos estranhos. Durante a obstrução por grandes objetos, como caroço de manga, esta é
denominada completa e o timpanismo ocorre instantaneamente. Já em casos onde a obstrução é
parcial, possui menor gravidade podendo até não o desenvolver.

Ambos são de caráter agudo e possuem sintomatologia semelhante, além de gerar grandes
prejuízos econômicos para o sistema. O animal pode morrer por anóxia caso não tenha
intervenção imediata após o aparecimento dos sinais clínicos. Minivacas ou minibois possuem
maior predisposição a apresentarem timpanismo gasoso uma vez que apresentam indigestão
vagal. Animais que apresentam síndrome vagal podem manifestar timpanismo crônico.

Sinais e sintomas: distensão da fossa paralombar esquerda, queda na produção de leite, agitação,
perda de apetite, mastigação excessiva, salivação (sialorreia), tosse, regurgitação, febre, apatia, dor,
extensão da cabeça, timpania ruminal, dispneia (pode evoluir para apneia e morte) e movimentos
ruminais aumentados no início e posteriormente hipomotilidade e atonia.

Diagnóstico: Com base na epidemiologia, sinais clínicos, passagem da sonda e análise do fluido
ruminal.

Tratamento: Tratamento conservativo – a utilização de agentes antiespumantes a base de


acetilbutileno (Exs.: Panzinol 100ml, VO; Ruminol 100ml, VO; Sedacol 20-50ml bezerros e novilhas
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e 100-200ml, VI) para diminuir a tensão superficial da espuma, não possui eficácia quando sozinha
ou em casos graves. O ideal é aliar com a remoção do agente espumante da dieta.

Passar a sonda imediatamente (urgência) para descomprimir o rúmen. Em caso de obstrução


intraluminal por corpo estranho, utilizar sonda específica para desobstrução. Em último caso, fazer
trocaterização ou punção devido ao risco de peritonite. Em animais com alta predisposição a
timpanismo gasoso, realizar a colocação de uma cânula fixa através de uma fístula ruminal (avaliar
viabilidade).

Tratamento cirúrgico – Em casos de ruminotomia, no transoperatório administrar oxitetraciclina


solução (10mg/Kg PV) na cavidade abdominal e posteriormente oxitetraciclina de longa ação
(10mg/Kg) a cada 72 horas IM, totalizando três aplicações e fenilbutazona (7mg/Kg) IM durante
três dias, com intervalo de 24 horas. Proceder com terapia de suporte: fluidoterapia oral ( drench),
aplicações de soluções de cálcio e administração de fluido ruminal (10-20L) obtido de animais
saudáveis, associado com soluções de cobalto e vitaminas do complexo B durante as primeiras 48
horas após a realização da cirurgia. Se possível, manter os animais em piquetes ofertando alimento
de boa qualidade composto de forragem (capim-elefante e tifton) e água ad libitum.

Profilaxia: uso de antibióticos ionóforos como a monensina sódica; ofertar quantidades


adequadas de fibra de qualidade; administrar gradativamente (3-4 semanas) a quantidade de
concentrados na dieta.

Dieta pobre em volumoso predispõe à multiplicação de bactérias como Streptococcus bovis,


que produzem mucopolissacarídeo responsável pelo aumento da viscosidade do fluido ruminal,
originando a espuma característica do timpanismo primário.

RUMENOTOMIA

A laparotomia exploratória no flanco esquerdo ocorre mediante abertura do rúmen para fins
diagnósticos e terapêuticos. O lado de acesso permite a avaliação de pontos importantes do
interior do rúmen e de áreas adjacentes.

Indicações: diagnóstico de indigestões, ruminites, paraqueratose, neoplasia, remoção de corpos


estranhos, identificação de abcessos, bezoares, evacuação do conteúdo rumenal e outras causas
como pesquisas.

Técnicas:

 Fixação rumenal à pele – ideal quando o rúmen está repleto de líquido. O rúmen é fixado
na pele com suturas de Connell ou em Zig-zag, com a mucosa sobreposta à pele (pra fora
da cavidade). A dificuldade está em perfurar a pele, sendo uma técnica demorada, mas
muito eficaz para a exploração do rúmen. Para garantir que o conteúdo rumenal não
contaminará a cavidade abdominal, é recomendado que um plástico limpo (existem
materiais emborrachados próprios, mas de difícil acesso no país) seja colocado sobre a
incisão de modo que cubra todo a área da pele/pano de campo em torno.
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 Técnica de Weingarth – técnica que utilizada o aparelho de Weingarth, um anel de aço inox
que é fixado na comissura dorsal e ventral da borda da mucosa rumenal (incisão) e com
auxílio de ganchos, é feita a abertura da incisão para expor o conteúdo. Também é utilizado
um plástico para isolar o campo cirúrgico.

 Quadrado para ruminotomia – É um aro quadrado fixado na pele com fios de sutura que
passam por anéis presos a este aro. Também é utilizado um plástico para isolar o campo
cirúrgico.

 Fixação por Clamps à pele – a mucosa rumenal é fixada a pele com pinças. É importante
garantir uma boa fixação, pois uma vez que essas pinças se soltarem, a cavidade abdominal
pode ser contaminada com conteúdo.
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 Fixação à pele por Sutura de Ancoragem – é a técnica que mais tem chance de ocorrer
contaminação, uma vez que as bordas da incisão da mucosa rumenal ficam fixadas apenas
em quatro pontos, dorsal, ventral, lateral direito e esquerdo, a pele.

Pré-operatório: primeiramente é necessário realizar uma boa avaliação clínica do animal para
analisar seu estado clínico, fechar diagnóstico e traçar estratégias para o procedimento cirúrgico. É
recomendado manter o animal em jejum alimentar 12-24 horas antes do procedimento, mas em
casos graves e de emergência, o animal deve ser descomprimido imediatamente. É importante
fazer correção hídrica, uma vez que possivelmente estará desidratado e que durante o
procedimento haverá perdas de líquidos corporais. Além disso, uma boa contenção deve ser feita
para impedir que o animal se deite durante o procedimento cirúrgico. Normalmente são passadas
cordas em torno do tórax do animal para evitar a situação anterior. Em alguns casos, que o animal
está impossibilitado de se levantar, ele é colocado em decúbito “esterno-lateral” direito com os
membros anteriores e posteriores estendidos, e é apoiado com sacos cheios ou outros objetos
mais pesados pelas costas para não se deitar totalmente. Essa técnica possui grande risco de
contaminação abdominal, uma vez que o animal pode se debater durante o procedimento.

A sedação é feita com cloridato de Xilazina a 2% na dose de 0,02 a 0,1 mg/Kg de PV. Evitar
administrar doses máximas para o animal não deitar. Se o animal tiver temperamento dócil e
tranquilo, não precisa fazer. Fazer tricotomia e antissepsia do campo operatório como demanda a
técnica. A anestesia em L invertido ou em linha é feita com cloridrato de lidocaína a 2% s/v, cerca
de 50-60ml.

Técnica cirúrgica da laparotomia: fazer incisão paralombar esquerda com aproximadamente


20cm na pele e músculos (OAE, OBI e TA) tomando cuidado com o peritônio para não perfurar e
ter acesso ao rúmen antes do momento correto. Em seguida proceder com a fixação do quadro
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(neste caso) à comissura dorsal da incisão da pele, seguida da exposição de um segmento dorsal
do rúmen e fixação dorsal, ventral e lateral ao quadro metálico por meio de sutura temporária
seromuscular (pode fazer em mais camadas musculares para evitar rompimento durante o
manuseio) em padrão simples com fio de algodão. Segue o esvaziamento parcial do rúmen (caso
seja necessário esvaziamento completo, é necessário fazer transfaunação após o procedimento),
analisando a indigesta, o aspecto da mucosa ruminal e palpação minuciosa das estruturas internas
do rúmen e retículo. Concluída a exploração (pode usar imas para capturar possíveis corpos
estranhos metálicos) e efetuada as intervenções necessárias conforme o diagnóstico, a ferida
ruminal deve ser lavada com soro fisiológico, removendo as suturas de fixação temporária laterais.
A ferida é então reparada por um padrão de sutura contínua invaginante seromuscular (Lembert
ou Cushing) com fios categute cromado n°1. Desfaz-se as suturas de fixação dorsal e ventral, lava-
se novamente a serosa ruminal com soro fisiológico e/ou iodo povidine, e libera o rúmen para a
cavidade abdominal.

Suturas: invaginante na serosa do rúmen (nylon/categute cromado); simples contínua no peritônio


(nylon/categute cromado); simples contínua nos músculos (nylon/categute cromado); simples
contínua no subcutâneo (nylon/categute cromado); festonada/Riverdin ou simples interrompida
na pele (nylon/categute cromado/algodão).

Pós-operatório: antibioticoterapia por 7 dias e antiinflamatório não esteroidal. A remoção dos


pontos deve ser feita entre 7 e 10 dias após a cirurgia. Fazer fluidoterapia e tratamento tópico da
ferida cirúrgica até sua completa cicatrização. Fornecer volumoso de boa qualidade até
recuperação do animal e gradativamente introduzir o concentrado na dieta ao longo das dias-
semanas.

Principais complicações: impossibilidade de correção, deiscência dos pontos, necrose, enfisemas,


edemas, eventração, hérnia, abcesso, tétano, clostridioses, peritonite, aderências de órgãos e óbito.

Em casos de peritonite focal, fazer drenagem. Em caso de peritonite generalizada, dificilmente é


controlada, mas é possível fazer drenagem e lavagem com antibiótico.

*A entrada de O2 no rúmen durante a cirurgia não interfere na microbiota rumenal, uma vez que
os microrganismos ali presentes fazem oxirredução do O2.

Sistema Linfático
LEUCOSE ENZOÓTICA BOVINA (LEB)

A leucose enzoótica bovina (LEB) é uma doença viral infecciosa altamente contagiosa de
evolução crônica que acomete bovinos principalmente o rebanho leiteiro, causando prejuízos
econômicos consideráveis com capacidade de ocasionar, após longos períodos (1 a 8 anos), uma
proliferação de linfócitos infectados com a formação de linfossarcomas. Cerca de 30% dos
animais infectados por este vírus desenvolvem uma linfocitose persistente (LP) e apenas 0,1 a 0,5%
dos animais infectados, com idade entre 4 e 8 anos desenvolvem linfossarcomas caracterizando a
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forma clínica da doença. O agente causador é um retrovírus pertencente ao gênero


Deltaretrovírus e à família Retroviridae, subfamília Oncovirinae, sendo, portanto, um vírus RNA
tumoral. Infecta preferencialmente os linfócitos do tipo B embora o DNA pró-viral do VLB
também tenha sido detectado em células T, monócitos e granulócitos. Atua principalmente no
sistema linfoide, determinando a desorganização dos seus tecidos e órgãos principalmente os
linfonodos que perdem suas características primárias e são substituídos por um novo tecido de
natureza neoplásica formando os linfossarcomas, podendo acarretar em um processo leucêmico.

Transmissão: horizontal (principal via) – sangue e fluidos biológicos contaminados com linfócitos
infectados (iatrogênica) e ação de vetores tabanídeos; e vertical – transplacentária (menos de
10%).

Histórico: bovino da raça Jersey, fêmea, de três anos de idade, pertencente a um rebanho de 130
animais. Com o histórico de queda de produção, aumento de volume no flanco direito, dificuldade
de locomoção com paresia dos membros posteriores. O animal era vacinado contra Febre Aftosa,
Brucelose, Carbúnculo Sintomático, Raiva, Enterotoxemia e Leptospirose, vermifugado e
alimentava-se de silagem de milho, capim Cameroon e cana-de-açúcar.

Exame clínico: foram observados comportamento atento e curioso, estado nutricional ruim,
mucosas normocoradas, exolftalmia, cegueira unilateral direita, massa fibrosada na altura da
virilha esquerda estendendo-se até o linfonodo pré-crural, aumento da cadeia linfática na
ampola retal e uterina, bruxismo e fezes pastosas de coloração castanha e odor pútrido. No exame
ginecológico realizado, a mucosa genital estava levemente hipocorada e à palpação retal
detectou-se uma massa endurecida no corno uterino esquerdo.
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Exames complementares:

 Hemograma e Citologia do Líquor - leucocitose com pleomorfismo, monócitos com


citoplasma vacuolizado e presença de plasmócitos flamejantes (plasmócitos corados de
vermelho ou violeta), sugerindo o diagnóstico de Leucose Enzoótica Bovina.
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Interpretação: leucocitose indicativa de LEB; linfocitose evidencia caráter crônico; eosinofilia devido
as lesões pulmonares e gastrintestinais causadas pelos processos tumorais; e o aumento absoluto
das demais células brancas é típico de processos infecciosos.

Bilirrubinemia por uma provável insuficiência hepática associada ao aumento de GGT e AST
indicativas de colestase e lesão hepática com fibrose, respectivamente. Diminuição da ureia devido
à baixa ingestão de proteínas (inapetência) e disfunção hepática. Queda da albumina devido as
lesões nos hepatócitos e ao aumento das imunoglobulinas. Além disso, os baixos valores de
glicose encontrados podem ser explicados pelo fato de que os vírus consomem glicose para o seu
metabolismo.

Evolução: Com a evolução dos sinais clínicos, a paresia dos membros posteriores progrediu para
tetraparesia em um período de três semanas. O animal parou de se alimentar e apresentava-se
muito apático. Dessa forma, optou-se pela eutanásia.

Necrópsia: Foram observadas massas esbranquiçadas de consistência firme a macia com


formações nodulares ou difusas nos diferentes órgãos como, coração, rúmen, útero, pulmão,
medula, cadeia de linfonodos mesentéricos, rins e tecido retro bulbar do globo ocular direito.

Tratamento: Não existe tratamento específico para a LEB por se tratar de uma doença virótica e
seu prognóstico é desfavorável. A administração de Acetato de Isoflupredona (corticoide) explica a
piora do quadro clínico, uma vez que este medicamento é imunossupressor. O que se institui é a
terapia de suporte com intuito de melhorar o quadro geral do animal, para que seu sistema imune
possa ser capaz de combater a doença. Mas no caso de neoplasias essa terapia se torna
insatisfatória, culminado na morte do paciente.

Controle e Prevenção: O controle e erradicação da LEB consiste na adoção de rígidas medidas de


vigilância sanitária animal, através da identificação, isolamento e eliminação (eutanásia) dos
animais reagentes, em conjunto com práticas de manejo capazes de diminuir as possibilidades de
transmissão da infecção. O emprego frequente de testes sorológicos nos animais com idade
superior a 6 meses, e repetição semestral, permite identificar os animais positivos e auxiliar no
controle da doença. Uso de agulhas, seringas e luvas de palpação descartáveis, assepsia dos
instrumentos cirúrgicos e aqueles utilizados para identificação do animal. Recomenda-se também
analisar a procedência de embriões para transferência e fazer avaliação de novos animais antes da
compra.
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ENUCLEAÇÃO

Enucleação é a remoção do bulbo do olho e da terceira pálpebra. Deve ser diferenciada de


evisceração, em que se retiram as estruturas intraoculares, preservando-se a túnica fibrosa do olho
(córnea e esclera) e de exenteração. Na exenteração, além do bulbo ocular, retiram-se também os
conteúdos periorbitários e anexos oculares.

Indicações: É indicada para alguns casos de cegueira, olhos dolorosos (severo trauma ocular e
glaucoma intratável), endoftalmite incontrolável e neoplasias intraoculares não responsivas a
outras terapias.

Protocolo anestésico:

 Tranquilização com cloridato de Xilazina a 2% na dose de 0,02 a 0,1 mg/Kg de PV se o


animal estiver agitado (evitar dose máxima para o animal não deitar).
 Bloqueio palpebral com cloridrato de Lidocaína...

Nervos: Auriculo-palpebral (B), Infra-orbital (C) Ramo cornual do nervo zigomático-temporal (D)
Técnicas de anestesia regional cabeça de bovino Nervo cornual Nervo auriculo-palpebral.

Técnicas de anestesia do globo ocular Técnica de Peterson: Agulha 14G x 2,5 cm (cânula) + 18Gx
12 cm. Local inserção: espaço limitado por apófise supraorbital, arco zigomático e apófise
coronóide da mandíbula. 15 ml anestésico. Técnicas de anestesia regional - Cabeça Bovino:
anestesia das narinas Indicações: inserção de arganéis, reparação de lacerações nasais. Agulha 18G
x 3,75 cm. Infiltração com ml de lidocaína a 2% sobre o nervo infra-orbital, à saída do respectivo
canal (C).

a. Anestesia do nervo auriculopalpebral – indicada em cirurgias das pálpebras, também


utilizada como complementar na enucleacão do globo ocular e tumores da terceira
pálpebra. Deve-se utilizar a lidocaína 2% ou bupivacaína 0,5%. Também se pode
utilizar lidocaína diluída em solução fisiológica a 0,25%, a 0,5% ou a 1%, em alguns
casos com acréscimo de epinefrina para prolongar seu efeito. Essas diluições são
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menos irritantes e não provocam edemas no campo cirúrgicos, administradas


solução a 2%. A dose varia de 10 a 20 ml e consiste em injetar por via subcutâneo
sobre arco zigomático pela frente do pavilhão auricular. Caso queira remover a 3ª
pálpebra, complementar com a infiltração local de sua base com injeção de mais 5
ml.
b.

1. Acesso subconjuntival: é o mais utilizado, mas é contraindicada em casos de neoplasias.

Objetivo: remoção do bulbo do olho, da terceira pálpebra e das margens palpebrais. Deixar a
máxima quantidade de tecido possível para facilitar a sutura de aproximação e minimizar a
depressão orbitária.

Técnica cirúrgica:

 Tricotomia da pele periorbitária e pálpebras, antissepsia e lavagem da superfície ocular e


saco conjuntival com PVPI diluído em solução salina a 50%;
 Cantotomia lateral de 1-2 cm de extensão;
 Iniciar no quadrante dorsal; incisão na conjuntiva
aproximadamente a 5mm posterior ao limbo (dissecção
romba com tesoura de enucleação);
 Identificação e secção dos músculos extraoculares,
permitindo a mobilidade do bulbo do olho;
 Rotação medial do bulbo do olho para expor o nervo
óptico;
 Clampear o nervo óptico com pinça hemostática curva;
seccioná-lo atrás do bulbo do olho (aproximadamente a 5
mm);
 Remoção do bulbo do olho;
 Preencher a órbita com gaze;
 Remoção da terceira pálpebra na sua base;
 Remoção das margens palpebrais (3-5mm) com tesoura;
 Remoção da gaze;
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 Sutura da conjuntiva (Vicryl 3 a 4-0) e pele (fio 4-0 não absorvível).

OBS: o diâmetro do fio é proporcional ao tamanho do animal.

2. Acesso transpalpebral

Objetivo: remoção do bulbo do olho, da terceira pálpebra e das margens palpebrais. As pálpebras
são fechados para evitar a contaminação orbital com sutura simples contínua que auxiliará na
tração do globo.

Técnica cirúrgica:

 Sutura das pálpebras (padrão simples contínuo);


 Realizar duas incisões elípticas posterior às margens
palpebrais (a aproximadamente 5 mm) superior e inferior,
unindo-as próximas aos cantos medial e lateral;
 Dissecção profunda; tracionar as pálpebras ajuda a sua
realização;
 Os demais procedimentos são iguais à técnica
subconjuntival.

Pós-operatório: Limpeza da ferida cirúrgica até que esteja completamente seca; como analgésico
e antiinflamatório, administrar flunixim meglumine IM 1x por dia por 3 dias consecutivos;
antibioticoterapia a base de penicilina a cada 48 horas, perfazendo 3 aplicações. Remover pontos
após 10-14 dias.

OBS: Pode ocorrer uma possível presença de secreção sanguinolenta nos primeiros dias de pós-
operatório, inclusive na narina ipsilateral, até que o canalículo nasolacrimal esteja obliterado.

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