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ATENÇÃO BÁSICA INICIAL DO PACIENTE QUEIMADO

ÍNDICE

CAPÍTULO 1: Introdução às queimaduras 04


CAPÍTULO 2: Atendimento inicial 10
CAPÍTULO 3: Queimaduras de vias aéreas e lesão por inalação 16
CAPÍTULO 4: Choque e ressuscitação hídrica 22
CAPÍTULO 5: Peculiaridades da criança queimada 30
CAPÍTULO 6: Manejo da dor 36
CAPÍTULO 7: Cuidados com as queimaduras-feridas 40
CAPÍTULO 8: Queimaduras elétricas 48
CAPÍTULO 9: Queimaduras químicas 54
CAPÍTULO 10: Queimadura por radiação 58
CAPÍTULO 11: Cirurgias de urgência 64
CAPÍTULO 12: Estabilização, translado e transporte 69
CAPÍTULO 13: Atendimento em catástrofe 73
CAPÍTULO 14: Prevenção de queimaduras 82
CAPÍTULO 15: Equipe interdisciplinar 87
CAPÍTULO 16: Atuação da enfermagem no CTQ 93
CAPÍTULO 17: Atuação da fisioterapia no CTQ 102
CAPÍTULO 18: Atuação da nutrição no CTQ 108
CAPÍTULO 19: Atuação da fonoaudiologia no CTQ 116
CAPÍTULO 20: Atuação da psicologia no CTQ 120
CAPÍTULO 21: Atuação do serviço social no CTQ 123

APÊNDICES

I - Lesões por frio 127


II - Hipertermia 128
III - Abuso infantil 130
IV - Paciente grávida queimada 132
Bibliografia 133

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INTRODUÇÃO

A resposta fisiológica às lesões por queimadura é complexa. Os resultados


são influenciados pela pronta e adequada estabilização e ressuscitação do
paciente.
O volume hídrico necessário nas primeiras 24 horas é expressivo.
Na presença de uma lesão por inalação, é necessário que se estabeleça um
diagnóstico precoce, e as medidas de ressuscitação devem ser modificadas
e adaptadas. Queimaduras químicas e elétricas exigem medidas especiais
por parte da equipe médica.
Este curso está destinado a médicos, enfermeiros e assistentes que lidam
com pacientes com queimaduras químicas, elétrica ou térmica nas
primeiras 24 horas.
Não se destina a formar especialistas em queimados.
Serão apresentados casos e efetuadas simulações clínicas baseadas em
situações reais de forma a demonstrar a aplicação prática dos princípios
aqui discutidos.
O curso terminará com uma avaliação do aproveitamento dos
participantes.

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CAPÍTULO 1: INTRODUÇÃO ÀS QUEIMADURAS

OBJETIVOS

Ao final deste capítulo, o participante deve estar em condições de:

✔ Identificar os componentes primários e secundários do


tratamento do paciente queimado.
✔ Distinguir entre queimadura de espessura parcial e total.
✔ Calcular a superfície atingida e a aplicar a regra dos nove.
✔ Identificar gravidade da queimadura.

INTRODUÇÃO

Para a melhor compreensão das queimaduras, direcionar o


atendimento, fazer o tratamento e dar o seu prognóstico, há necessidade
de saber classificá-las pela sua profundidade, extensão, agente causal e
circunstância da ocorrência das mesmas, pois estes são fatores
importantes que definem as queimaduras. Queimadura é a lesão
resultante da exposição a chamas, líquidos quentes, contato com objetos
quentes, exposição a produtos químicos cáusticos, radiação, ou por
descarga de corrente elétrica.
Os seguintes itens são importantes para o tratamento inicial de
pacientes queimados.

✔ Estrutura e funções da pele.


✔ Definições quanto à profundidade e extensão da queimadura.
✔ Classificação das queimaduras.

ANATOMIA E FISIOLOGIA DA PELE

A- Estrutura

A pele é composta por duas camadas: epiderme, a mais superficial, e


derme, a mais profunda.
A epiderme é composta apenas por células dispostas em várias camadas,
98% de queratinócitos e o 2% restante de melanócitos, células de
Merkel e de Langherans. Funciona como barreira protetora.
A derme tem como célula representativa o fibroblasto, e contém os
anexos (glândulas sebáceas, folículos pilosos, glândulas sudoríparas) e
terminações nervosas sensoriais para dor, tato, pressão e temperatura.
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Existem dois plexos arteriovenosos, um superficial em contato com a
epiderme e outro mais profundo em contato com o tecido celular
subcutâneo.

B- Funções

A pele possui quatro funções essenciais para a vida.

✔ Proteção contra infecções.


✔ Proteção quanto à perda de fluidos.
✔ Regulação da temperatura corporal.
✔ Contato sensorial com o meio ambiente.

DETERMINAÇÃO DA GRAVIDADE DA QUEIMADURA

Queimaduras de grande magnitude, que afetem as funções descritas,


podem comprometer a vida.
A gravidade quanto à vida, depende da profundidade e da extensão.
A profundidade da queimadura vai depender do agente causador, da
temperatura, do tempo de exposição e da espessura da pele atingida.
Quanto mais agressivo o agente, maior a temperatura, o tempo de
exposição e a fragilidade do tecido atingido, a queimadura será mais
profunda.
A gravidade quanto à sequela, depende da profundidade e localização.

PROFUNDIDADE

A profundidade da queimadura depende da temperatura e do tempo de


exposição à fonte de calor. Também é importante considerar a
espessura da pele afetada, devemos ter em conta que crianças e idosos
têm pele mais fina.
Em geral. Nessas faixas etárias, as queimaduras podem ser mais
profundas que aparentam inicialmente.

Queimaduras de 1º grau: comprometem apenas a epiderme, lesão


hiperemiada com dor e edema. Não deixa cicatriz e nem entra no cálculo
de hidratação.

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Queimaduras de 2º grau: Estão divididas em 2º grau superficial e 2º
grau profundo, comprometem a epiderme e parte da derme. A
queimadura de 2º grau superficial afeta a epiderme e parte
superficial da derme (derme papilar), aparece a flictena e o edema, lesão
com cor avermelhada e úmida. Por afetar as terminações sensitivas são
muito dolorosas. Tem a recuperação total com a reepitelização em
menos de 3 semanas. A queimadura de 2º grau profundo envolve a
até a derme reticular preservando parcialmente os anexos epidérmicos
profundos, sendo lesões cero-esbranquiçadas, com sensibilidade
variável, quanto mais profunda há maior hipoalgesia no local e cicatriza-
se em mais de 3 semanas. A regeneração do epitélio a partir de anexos
cutâneos ainda viáveis e pode resultar em cicatriz hipertrófica.

Queimaduras de 3º grau: Destruição de todas as camadas da pele


(derme e epiderme) de forma completa. Pode se apresentar
esbranquiçada ou marmórea, branca, negra ou marrom, com
consistência endurecida, inelástica, seca semelhante a couro e com
vasos trombosados. Ocorre a destruição das terminações nervosas
sensoriais com consequente analgesia. A queimadura profunda da pele
forma uma escara (tecido necrótico) que deverá ser eliminada antes da
cobertura com auto enxerto.

EXTENSÃO DA QUEIMADURA

Para estimativa da extensão ou da superfície corporal queimada utiliza-


se a “regra dos nove”, com 11 áreas anatômicas em adultos de 9% (1-
pescoço e cabeça, 2- membro superior direito, 3- membro superior
esquerdo, 4 e 5- duas metades da face anterior do tronco, 6 e 7- duas
metades da face posterior do tronco, 8, 9, 10 e 11- duas faces anteriores
doa membros inferiores e duas faces posteriores dos membros
inferiores, sendo então 11 vezes 9% igual a 99%, sendo o 1% que falta
referente a períneo e genitália. Considerando-se que a palma da mão do
paciente corresponde a aproximadamente 1% de sua superfície
corporal. Nas crianças há uma adaptação desta regra, porque a SC da
cabeça é maior em relação ao adulto e a dos membros inferiores são
menores.

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CIRCUNSTÂNCIAS DA LESÃO: ESCALDADURA

Queimadura por líquidos aquecidos, sendo que a profundidade da


queimadura depende da temperatura, tipo do líquido, da duração do
contato e da espessura da pele envolvida.
Geralmente são queimaduras de segundo grau superficial, pelas
temperaturas mais baixas, com padrão da lesão que afeta
principalmente as regiões anteriores da cabeça, pescoço e tronco. É a
principal etiologia de queimaduras em crianças abaixo dos 3 anos de
idade.
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CIRCUNSTÂNCIAS DA LESÃO: CHAMA

Queimadura causada por calor da combustão de sólidos, líquidos, gases


e pastosos. A queimadura pode ser pelo calor irradiado ou pela própria
chama. A profundidade da queimadura depende da temperatura, do
tempo de exposição e da espessura da pele envolvida, geralmente são
queimaduras profundas pelas altas temperaturas. Em ambientes
fechados pode haver inalação de fumaça, intoxicação por CO, gases
tóxicos e queimadura inalatória.

CIRCUNSTÂNCIAS DA LESÃO: QUÍMICO

Queimadura causada por substâncias corrosivas, como ácidos, bases e


compostos orgânicos. A gravidade depende da natureza do produto, de
sua concentração, do volume, do tempo de exposição e da fragilidade e
importância do tecido atingido. As substâncias químicas podem ser
absorvidas e causar complicações sistêmicas. Geralmente são
queimaduras profundas, sendo as causadas por álcalis mais agressivas.

CIRCUNSTÂNCIAS DA LESÃO: ELÉTRICA

Queimadura pode ser causada pela corrente elétrica de baixa ou alta


voltagem, arco voltaico, flash, fogo na roupa.

INTERNAÇÃO EM CENTRO DE QUEIMADOS

Características de um Centro de Queimados

Deve contar com a infraestrutura necessária para o tratamento de


pacientes críticos com queimaduras graves, assim como possuir um
grupo interdisciplinar de profissionais especialmente treinados para
lidar com queimados.

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CRITÉRIOS DE GRAVIDADE E TRANSFERÊNCIA

A SBQ identifica maior gravidade de alguns casos e preconiza a


transferência para centros de tratamento de queimaduras, porém o
avaliador, sempre, deve utilizar bom senso e fazer a individualização de
cada caso, nas seguintes condições com risco maior de complicações
importantes:

✔ Queimaduras de 2º grau SCQT>10%


✔ Queimaduras de áreas especiais: face, mãos, pés, genitais, períneo,
grandes articulações e circulares em membros, tórax, abdome ou
pescoço
✔ Queimaduras de 3º grau
✔ Queimaduras elétricas (inclusive as causadas por raios)
✔ Queimaduras químicas e radioativas
✔ Lesões por inalação ou suspeitas
✔ Queimaduras acompanhadas de enfermidades pré-existentes
✔ Queimaduras acompanhadas por trauma onde a queimadura
apresenta risco de vida
✔ Queimaduras em crianças nos hospitais sem serviço pediátrico
✔ Pacientes com necessidades sociais, emocionais ou de reabilitação

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CAPÍTULO 2: ATENDIMENTO INICIAL

OBJETIVOS

✔ Identificar os componentes principais dos exames primários e


secundários segundo ATLS/ABLS
✔ Fazer anamnese e exames físicos dirigidos
✔ Planejar e executar condutas iniciais
✔ Estabelecer critérios de transferência para centro de queimados
de acordo com normas da SBQ

INTRODUÇÃO

O tratamento adequado das queimaduras graves está diretamente


relacionado ao prognóstico.
A maior parte do cuidado inicial é realizada longe do Centro de
Queimados.
Todos os membros da equipe de atendimento devem estar protegidos
para evitar a contaminação com secreções produzidas no paciente
queimado.
A abordagem inicial deve ser feita seguindo o ABCDE do trauma-
ATLS/ABLS.

INVESTIGAÇÃO PRIMÁRIA

✔ A -VIAS AÉREAS COM CONTROLE DE COLUNA CERVICAL

✔ B - BOA RESPIRAÇÃO

✔ C - CIRCULAÇÃO

✔ D - DISFUNÇÕES NEUROLÓGICAS (Traumas Associados)

✔ E - EXPOSIÇÃO DO PACIENTE

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A – VIAS AÉREAS E COLUNA CERVICAL

Controle das vias aéreas:

Avaliar permeabilidade de vias aéreas, presença de secreções,


sangramento ou obstruções
Se o paciente fala e conversa, as vias aéreas estão pérvias!

Se inconsciente: elevar o mento, interiorizar a mandíbula, inserir cânula


oral (Guedel) e avaliar a indicação de intubação oro traqueal.
Estabilizar a coluna cervical antes de realizar qualquer movimento de
flexão e/ou extensão e manter a imobilização cervical se houver algum
risco de lesão e fazer a avaliação Imediata.

B – RESPIRAÇÃO E VENTILAÇÃO

Auscultar o tórax: verifique os ruídos respiratórios e avalie a


expansibilidade torácica e a frequência respiratória.
Administre O2 úmido com máscara de alto fluxo.

Observar presença de queimaduras circunferenciais e profundas que


podem diminuir a amplitude dos movimentos do tórax e possível
insuficiência respiratória restritiva para realização da escarotomia
torácica imediata visando a melhora na expansão torácica.

C – CIRCULAÇÃO

Avaliar a cor da pele, sensibilidade, estado de consciência, pulsos


periféricos e enchimento capilar, tanto nos membros superiores como
inferiores.
Observe ritmo e frequência do pulso, aferir pressão arterial.
Estabeleça acesso venoso, preferencialmente, periférico, por punção em
área sem queimadura e em cintura escapular e iniciar a infusão de ringer
lactato aquecido, principalmente, nos adultos com queimaduras a partir
de 20% SC e crianças 10% SC. Uma fórmula útil para cálculo da
hidratação para a primeira hora é de 2 a 4 ml de lactato de Ringe por Kg
de peso, por % de área de superfície corporal queimada.

Avalie a perfusão das extremidades com queimaduras circunferenciais,


nas queimaduras profundas, pode se tornar necessário escarotomia
precoce (antes de 3 horas).
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D - DISFUNÇÃO - DÉFICIT NEUROLÓGICO

Tipicamente alerta e orientado - Caso contrário, considerar:


✔ Lesões associadas, como Traumatismo crânio encefálico
✔ Intoxicação por monóxido de carbono ou cianeto
✔ Abuso de álcool ou outras substâncias
✔ Hipóxia
✔ Investigar uma outra condição médica preexistente

Determinar o grau de consciência com o teste AVDI para avaliação


rápida:

A - ALERTA
V - RESPONDE A ESTÍMULO VERBAL
D - RESPONDE A ESTÍMULO DOLOROSO
I - IRRESPONSIVO

E - EXPOSIÇÃO E CONTROLE AMBIENTAL

Remova todas as roupas e acessórios (brincos, pulseiras, anéis, piercing,


colares e etc..), fazer ectoscopia completa- existem outros traumas?
Mantenha a temperatura do paciente.
Manter o quarto aquecido.
Cobrir com lençóis ou mantas Líquidos intravenosos mornos. Aquecer o
frasco de soro 500ml no forno de micro-ondas, devendo ser
individualizado para cada aparelho e ambiente.

INVESTIGAÇÃO SECUNDÁRIA

Após haver feito uma adequada reanimação, fazer uma avaliação


completa e minuciosa da cabeça aos pés para determinar a presença de
lesões associadas. A queimadura é a mais facilmente visível. Não
esquecer fraturas, luxações, grandes hematomas que podem ser
formados por lesão arterial.
Sempre que possível obter uma história e o exame físico completos e se
forem necessários exames de laboratórios e de imagem.
Sempre investigar as condições da ocorrência das queimaduras
relacionadas ao agente causador.

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CIRCUNSTÂNCIAS DA QUEIMADURA:

COMO OCORREU QUEIMADURA POR CHAMA?


Ambiente fechado ou aberto?
Como apagaram a chama?
Foi acidente automobilístico?
Teve perda de consciência?
Causado por gasolina ou inflamável?
Ocorreu explosão? O paciente foi lançado?

COMO OCORREU QUEIMADURA POR ESCALDADURA?


Qual foi o líquido envolvido?
Estava fervendo?
Teve outro traumatismo associado?
O local queimado foi resfriado com água corrente?
Foram realizados primeiros socorros?
Há possibilidade de abuso ou negligência?

COMO OCORREU QUEIMADURA QUÍMICA?


Qual foi o agente?
Como ocorreu a exposição?
Quanto tempo durou o contato?
Que tipo de limpeza foi realizada?
Houve explosão?
Qual é a toxicidade do agente?
Acidente de trabalho ou criminoso? (feminicídio – Lei 13.104 - 2015)

COMO OCORREU QUEIMADURA ELÉTRICA?


Que tipo de eletricidade foi envolvida?
Qual foi a duração do contato?
O paciente foi lançado ou caiu?
Qual foi a voltagem calculada?
Houve perda de consciência?
Foi realizado REANIMAÇÃO CAREDIO-PULMONAR?

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INVESTIGAR O HISTÓRICO MÉDICO

Pode-se usar o recurso mnemônico “ARDEU?”, pois a queimadura


ARDE!

A - Alergias, antitetânica?
R - Remédios e drogas
D - Doenças prévias, gravidez
E - Evento relacionado com lesão
U - Última refeição ou bebida

EXAME MÉDICO COMPLETO DA CABEÇA AOS PÉS


✔ Cabeça
✔ Coluna cervical e pescoço
✔ Tórax
✔ Abdômen
✔ Períneo, genitais
✔ Dorso e glúteos
✔ Membros
✔ Vascular
✔ Neurológico

DETERMINAR A SEVERIDADE DA QUEIMADURA


✔ Extensão da queimadura
✔ Profundidade da queimadura
✔ Queimaduras em áreas especiais
✔ Idade
✔ Doenças pré-existentes
✔ Trauma associado

PRINCÍPIOS DA MANIPULAÇÃO INICIAL


Procedimentos de Estabilização:
✔ Pré-hospitalar ou Sala de Emergências
✔ Sinais vitais
✔ Precauções Universais- EPI
✔ Iniciar a Reposição de Líquidos
✔ Avaliar necessidade de procedimentos invasivos- SNG, SVD e
hidratação venosa
✔ Necessidade de monitorização
✔ Cubra com lençóis ou similares limpos e secos
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✔ Não colocar gelo ou soro gelado
✔ Avaliar o estado da ventilação
✔ Manejo da analgesia

ESTUDOS INICIAIS DE LABORATÓRIO


✔ Hematócrito, hemoglobina
✔ Eletrólitos
✔ Ureia, creatinina, glicose
✔ Tipagem sanguínea
✔ Análise de urina
✔ Radiografia do tórax
✔ Gasometria
✔ Carboxihemoglobina
✔ ECG (lesão elétrica)

CRITÉRIOS DE GRAVIDADE E TRANSFERÊNCIA

A SBQ identifica maior gravidade de alguns casos e preconiza a


transferência para centros de tratamento de queimaduras, porém o
avaliador, sempre, deve utilizar bom senso e fazer a individualização de
cada caso, nas seguintes condições com risco maior de complicações
importantes:

✔ Queimaduras de 2º grau SCQT > 10%


✔ Queimaduras de áreas especiais: face, mãos, pés, genitais, períneo,
grandes articulações e circulares em membros, tórax, abdome ou
pescoço
✔ Queimaduras de 3º grau
✔ Queimaduras elétricas (inclusive as causadas por raios)
✔ Queimaduras químicas e radioativas
✔ Lesões por inalação ou suspeitas
✔ Queimaduras acompanhadas de enfermidades pré-existentes
✔ Queimaduras acompanhadas por trauma onde a queimadura
apresenta risco de vida
✔ Queimaduras em crianças nos hospitais sem serviço pediátrico
✔ Pacientes com necessidades sociais, emocionais ou de reabilitação

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CAPÍTULO 3: QUEIMADURAS DE VIAS AÉREAS E LESÃO POR
INALAÇÃO

OBJETIVOS

✔ Discutir a fisiopatologia da lesão por inalação das vias aéreas


✔ Enumerar três tipos de lesão por inalação
✔ Descrever as indicações de intervenções precoces das VA
✔ Discutir os princípios do tratamento inicial
✔ Analisar considerações especiais para crianças com lesão por
inalação

INTRODUÇÃO

A lesão inalatória se manifesta pela patologia e disfunção das vias aéreas


e do sistema respiratório que podem aparecer nos primeiros 5 dias após
a inalação de fumaça e produtos irritantes de combustão incompleta.
10 a 20% dos pacientes grandes queimados apresentam lesão das vias
aéreas
A presença de queimaduras de vias aéreas aumenta a mortalidade
Geralmente ocorre em queimadura por chama em ambiente fechado

TIPOS DE LESÃO POR INALAÇÃO

✔ Envenenamento com monóxido de carbono


✔ Lesão acima da glote
✔ Lesão abaixo da glote

A - VIAS AÉREAS - INTOXICAÇÃO POR CO

A maioria das vítimas de incêndio sofrem asfixia ou intoxicação por


monóxido de carbono.
A hemoglobina tem uma afinidade pelo CO 200 vezes maior que pelo
oxigênio, resultando em hipóxia tecidual. Esta hipóxia pode causar
danos não apenas ao parênquima pulmonar, mas também ao cérebro, e
esta situação é a mais urgente. Valores Carboxihemoglobina entre 50-
70% ou mais são encontrados nas vítimas fatais.

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Intoxicação por monóxido de carbono de acordo com a porcentagem de
garboxihemoglobina e sintomas associados:

Pacientes com níveis elevados de carboxihemoglobina (> 30%) a pele as


mucosas se apresentam com coloração rosada ou é vermelha cereja, são
hipóxicos sem cianose ou taquipneia, PaO2 e SaO2 provavelmente são
normais.
Dada a variedade da sintomatologia, é útil dosar a
Carboxihemoglobinemia ante a suspeita de envenenamento por CO.

LESÃO INALATÓRIA ACIMA DA GLOTE (SUPRA GLÓTICA)

Exceto em raras ocasiões (ingestão de líquidos quentes ou explosões em


câmara hiperbárica), lesões térmicas são sempre apenas das vias aéreas
superiores.

A maioria das lesões causadas por calor ocorre acima das cordas vocais.
As vias aéreas superiores são capazes de modificar a temperatura do ar
inspirado, protegendo o trato respiratório inferior, com exceção do
vapor, que armazena 400x mais calor.
O edema severo pode obstruir as vias aéreas superiores em qualquer
momento da reanimação.
Em pacientes hipovolêmicos edema supra glótico geralmente só aparece
após o início da hidratação.
Evitar hiperidratação, pois esta aumenta muito a formação do edema!
Nos casos de queimaduras de face e VAS é importante manter a
cabeceira elevada de 30 a 45º e vigilância constante, pois a obstrução
das VAS pode progredir.

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LESÃO INALATÓRIA ABAIXO DA GLOTE (INFRA GLÓTICA)

Quase sempre causada por lesão química, por aldeídos, óxidos de azufre,
fosfenos aderentes às superfícies das partículas da fumaça, que causam
danos direto ao epitélio das vias aéreas inferiores e incluem:

✔ Redução da atividade ciliar


✔ Eritema
✔ Hipersecreção
✔ Edema
✔ Inflamação
✔ Ulceração da mucosa
✔ Incremento do fluxo sanguíneo
✔ Espasmo de brônquios e bronquíolos

A resposta do tecido abaixo da glote está relacionada com a quantidade


e tipo de substâncias voláteis inalados, e a evolução clínica não é
previsível, o desconforto respiratório é habitual. Os produtos que
produzem esta lesão são: amônio, cloreto de hidrogênio, fosgênio,
aldeídos, óxido de enxofre e de óxido nítrico.
Durante os primeiros minutos aparece traqueobronquite e espasmo.
A seriedade da lesão por inalação e a extensão do dano são clinicamente
imprevisíveis baseados na história e exame inicial.
Diagnóstico é feito por broncofibroscopia, que também faz parte do
tratamento com a limpeza da árvore respiratória, com a retirada de
resíduos de fumaça, substâncias químicas e muco espesso.
A presença de queimadura infra glótica piora o prognóstico da
queimadura, assim como a reposição volêmica inadequada.
Qualquer paciente suspeito de lesão inalatória sub glótica requer ao
menos 24 horas de internação para observação.
Embora a profilaxia com antibióticos não seja justificada para pacientes
queimados, o diagnóstico precoce de lesão inalatória e o tratamento de
uma bronquite bacteriana a indicam.

Os achados no exame broncofibroscópico são:

✔ Eritema
✔ Edema
✔ Ulceração
✔ Vasodilatação

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HISTÓRIA SUGESTIVA DE QUEIMADURA INALATÓRIA:

✔ Vítima de incêndio
✔ Queimadura em ambiente fechado com fumaça
✔ Inalação de substâncias químicas nocivas
✔ Paciente teve perda de consciência

ACHADOS DE EXAME FÍSICO SUGESTIVOS DE QUEIMADURA


INALATÓRIA:

✔ Escarro carbonáceo ou fuliginoso


✔ Queimadura facial, de boca e nariz, pelos do nariz chamuscados
✔ Agitação (hipóxia)
✔ Taquipnéia, retração intercostal
✔ Rouquidão, estridor laríngeo
✔ Tosse rouca
✔ Rouquidão progressiva
✔ Desorientação e rebaixamento do nível de consciência
✔ Roncos e/ou sibilos à ausculta
✔ MV diminuído
✔ Eritema oronasofaríngeo
✔ Queimaduras em orofaringe, língua, palato e laringe
✔ Disfagia

EVOLUÇÃO E MANEJO

Conduta inicial

Administrar O2 100% umidificado por máscara não reinalante.


Manter a cabeceira elevada de 30º a 45º

É indicada intubação endotraqueal se:

- A obstrução das vias aéreas for iminente (rouquidão progressiva


e estridor);
- O nível de consciência está comprometido (os reflexos protetores
das vias aéreas ficam danificados);
- Houver insuficiência respiratória não tratável;
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- O emprego da ventilação mecânica implica em riscos próprios,
devendo sua indicação ser prudente, criteriosa e sua aplicação
cercada por cuidados específicos.

Quando intubar?

OXIGÊNIO 100%- sob máscara não reinalante com reservatório com 15


l/min
APÓS TRATAMENTO DE OUTRAS CAUSAS, INTUBAÇÃO se:
✔ PaO2 < 60 mmHg
✔ PaCO2 > 50 mmHg
✔ Insuficiência respiratória
✔ Obstrução das VAS

INTUBAÇÃO

A pessoa mais experiente deverá realizar a manobra, com a melhor


técnica e que tenha mais prática.

O tubo deve ficar firme e seguro!


Pode ser impossível substituir devido ao edema.
Firme-o com uma tira em volta da cabeça.

TRATAMENTO – INTOXICAÇÃO POR MONÓXIDO DE CARBONO (CO)

Envenenamento com Monóxido de Carbono.


A carboxihemoglobina tem a vida média de 4 horas respirando ar do
ambiente e 1 hora respirando oxigênio a 100%
Os pacientes com níveis altos de carboxihemoglobina deverão receber
100% O2 até que os níveis sejam menores aos 10%. Raramente se indica
uma terapia de oxigênio hiperbárico.

TRATAMENTO – LESÃO ACIMA DO GLOTE

Manter cabeceira elevada de 30º a 45º, para reduzir a formação do


edema.
Paciente deverá ficar sob vigilância contínua e monitorização.
Ficar atento a eventual obstrução das vias aéreas superiores.

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A presença de edema ou queimadura da faringe e estridor há
possibilidade de obstrução das vias aéreas.
A vigilância dos gases no sangue não.

TRATAMENTO - LESÃO POR INALAÇÃO DE FUMAÇA

Manter hidratação adequada.


Uso de bronco dilatadores inalatórios com - Nebulização de 2/2 h e
Nebulização com heparina 5000 U em 3 ml SF de 4/4 h, alternando com
acetilcisteína.
Submeter a broncofibroscopia para diagnóstico e limpeza.
Não se indica a administração de esteroides.
Fazer a remoção para Centro de Queimados.

TRATAMENTO - LESÃO POR INALAÇÃO EM PACIENTES


PEDIÁTRICOS

Como as crianças têm vias aéreas de menor calibre, o surgimento de


edema faz com que a obstrução ocorra de forma mais rápida que em
adultos.
É necessária maior vigilância e cuidados.
Se for intubar, fazer a seleção rigorosa do tamanho do tubo.
Os tubos pequenos sem balão saem mais facilmente.
Firme o tubo e a posição da cabeça.
A caixa torácica da criança é mais flexível que a do adulto, então, em
queimaduras torácicas circulares profundas, a escarotomia deve ser
feita muito precocemente.

TRATAMENTO - QUEIMADURA DE PAREDE TORÁCICA

Fazer escarotomia na parede do tórax nas queimaduras circunferenciais


profundas do tronco e insuficiência respiratória restritiva.

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CAPÍTULO 4: CHOQUE E RESSUSCITAÇÃO HÍDRICA

OBJETIVOS

✔ Compreender as alterações hemodinâmicas após a queimadura


✔ Identificar a necessidade de líquidos
✔ Descrever a monitoração volêmica
✔ Entender as complicações da lesão por queimadura e a terapia de
reposição
✔ Identificar pacientes que requerem reposição volêmica especial

INTRODUÇÃO

A ressuscitação hídrica em todo paciente queimado, deve procurar


manter a função vital de todos os órgãos e prevenir complicações, tanto
de uma hidratação insuficiente como excessiva. Um bom conhecimento
dos efeitos locais e sistêmicos ocasionados por queimaduras facilita a
delicada gestão do paciente nesse período inicial. A reposição volêmica
adequada é fundamental para a sobrevivência do paciente queimado.

Efeitos locais e sistêmicos da lesão por queimadura

Resposta sistêmica

O acentuado aumento na resistência vascular periférica, acompanhado


por uma diminuição no débito cardíaco, é uma das primeiras
manifestações dos efeitos sistêmicos que ocorrem em pacientes
gravemente queimados. Estas mudanças iniciais não parecem estar
relacionadas à hipovolemia, e são atribuídas aos efeitos humorais e
neurogênicos. A formação de edema no local da lesão leva a redução do
volume plasmático e à redução do débito cardíaco. Há queda da pressão
arterial e o hematócrito sobe por hemoconcentração. A magnitude e
duração da resposta sistêmica é proporcional à extensão e profundidade
da lesão.
Nas primeiras 12 a 24 horas após a lesão, existe uma alteração da
permeabilidade capilar, que passa ser permeável às proteínas como a
albumina, com extravasamento do plasma dos pequenos vasos para o
interstício, formando o edema. Este edema formado no tecido
danificado e necrosado atinge seu pico em 24 horas pós queimadura.
Com uma reposição hídrica adequada, se resolve pela perda de água pela
ferida e pela eliminação renal.

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Reposição hídrica excessiva (hiperhidratação) leva a um aumento do
edema.
Reposição hídrica insuficiente (hipohidratação) com a consequente
hipovolemia, pode levar ao choque e a insuficiência de múltiplos órgãos
(mais frequentemente insuficiência renal).

Resposta hemodinâmica à hidratação

A consequência destas alterações fisiopatológicas é a redução e


redistribuição do fluxo sanguíneo tecidual. A administração de
quantidades adequadas de fluidos restaura o débito cardíaco e a
circulação adequada nos tecidos não queimados.

Resposta celular

A temperatura à qual os tecidos são expostos, e a duração da exposição,


são os fatores determinantes da severidade da lesão.
Em áreas de queimaduras mais profundas, a coagulação das proteínas
causa morte celular com trombose de pequenos vasos e necrose de
terminações nervosas.
Em áreas com queimaduras menos profundas, existe uma "zona de
estase" com lesão celular e redução da circulação. A recuperação e
sobrevivência destas células lesadas depende de uma pronta e
adequada reidratação visando a correção da hipovolemia.

Reposição hídrica

Nas primeiras 12 a 24 horas após a lesão, existe uma alteração da


permeabilidade capilar, com extravasamento do plasma dos pequenos
vasos para o interstício. A perda hídrica tem relação com a extensão da
queimadura e o tamanho do corpo e é influenciada pela idade do
paciente, visto que a criança tem maior área de superfície proporcional
a massa corporal.
A reposição hídrica é calculada se usando o peso do paciente e a
porcentagem total da superfície queimada.
Indicada reposição venosa nos adultos com queimaduras ≥ 20%SCQ e
nas crianças ≥ 10%SCQ.
A meta da reposição é a manutenção da perfusão dos tecidos e função
dos órgãos, evitando a hiper-hidratação e hipohidratação.
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Reposição hídrica excessiva (hiperhidratação) aumenta a formação do
edema periférico e visceral, compromete o fornecimento local de
sangue, predispõe à formação de síndrome compartimental periférica e
abdominal e agrava a síndrome de desconforto respiratório agudo.
Reposição hídrica insuficiente (hipohidratação) com a consequente
hipovolemia, pode levar ao choque e a insuficiência de múltiplos órgãos,
mais frequentemente a insuficiência renal.

Estimativa das necessidades hídricas nas primeiras 48 horas

As necessidades hídricas estão diretamente relacionadas à extensão da


queimadura, ao peso corporal do paciente e à etiologia da queimadura.
A idade influi na relação entre a necessidade hídrica e o tamanho do
corpo. As crianças têm maior área de superfície corporal por unidade de
massa.
O cálculo da necessidade de líquidos é uma APROXIMAÇÃO.
A resposta individual do paciente indica a terapia.

Situações nas quais aumentam a necessidade de líquidos:

✔ Lesões associadas
✔ Lesão elétrica
✔ Lesão por inalação
✔ Demora na reanimação
✔ Alcoolismo ou consumo de drogas
✔ Queimadura muito profunda
✔ Crianças pequenas

Para o cálculo é necessário pesar o paciente ou estimar seu peso pela


informação do próprio ou de familiares. É importante um rápido e
acurado cálculo da extensão da lesão mediante acurado exame físico.
Quando possível providenciar acesso venoso periférico de grosso
calibre, preferencialmente em área não queimada, por punção em
cintura escapular, se não tiver opção pode-se utilizar a punção em área
queimada, em cintura pélvica, como a via femoral.
Pode-se utilizar a via intraóssea.
Uma rápida e adequada reposição hídrica permite uma modesta
diminuição no volume de sangue e plasma, restabelece o volume do
plasma nas segundas 24 horas após a queimadura.

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Cálculo de líquidos para as primeiras 24 horas

Inicie a reanimação nos adultos com queimaduras ≥ 20%SCQ e nas


crianças ≥ 10%SCQ usando os seguintes cálculos para as necessidades
de líquidos, ajustada pela resposta do paciente:

⮚ Adultos: Ringer-Lactato de 2 a 4 ml x Kg de peso x % SCQT


⮚ Crianças: Ringer-Lactato de 3 a 4 ml x Kg de peso x % SCQT +
perdas básicas

Metade do volume calculado deve administrado nas primeiras 8 horas,


após a queimadura, período em que a permeabilidade capilar está mais
aumentada. A metade remanescente é dada nas 16 horas subsequentes.
Regule a velocidade dos líquidos de acordo com a resposta do paciente
nas horas subsequentes.

Composição do líquido a administrar

Primeiras 24 horas

Administrar apenas cristaloides isotônicos, como o Ringer lactato,


preferencialmente. Deve-se evitar qualquer coloide antes de 18 horas,
pois com a permeabilidade capilar aumentada, este passa para o
interstício e atrai mais líquido para fora do sistema vascular acentuando
o edema.

Segundas 24 horas

A permeabilidade capilar começa a se normalizar 18 horas após a


queimadura, quando a administração de coloides pode ser iniciada.
A administração de grandes volumes de Ringer Lactato causa depressão
nos valores de sódio plasmático a níveis de 130 meq / l.
Adultos e crianças: 0,3 a 0,5 ml de coloides líquidos x kg de peso x
SCQT%.

Monitorização da ressuscitação

Cada paciente responde de forma diferente à ressuscitação, que tem que


ser adaptada conforme a diurese e outros parâmetros clínicos.

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Diurese horária

A colocação de uma sonda de cateter urinário permite melhor controle


da diurese, utiliza-se os parâmetros para monitorização da diurese
horária:

Adultos e crianças com mais de 30 kg: 0,5 a 1 ml/Kg/hora


Crianças (peso inferior a 30 kg): 1 ml/Kg/hora

Aumente ou diminua o ritmo de infusão venosa de líquidos de acordo


com a diurese horária.

Oligúria

Oligúria associada com aumento da resistência vascular periférica e


redução no débito cardíaco está geralmente associada a reposição
hídrica e requer administração mais rápida de líquidos. Nestes casos, os
diuréticos são contraindicados e a oligúria, geralmente, responde bem
ao aumento na reposição hídrica.

Mioglobinúria e hemoglobinúria

Pacientes com queimaduras elétricas de alta voltagem (mais de 1000


volts) e pacientes com severas lesões por trauma mecânico, têm
frequentemente, quantidades significativas de mioglobina e
hemoglobina na urina (Pigmentação Vermelha na Urina), o que requer
uma ressuscitação hídrica mais agressiva, visando um débito urinário
de 2ml/kg.
Se não for suficiente, adicionar 12,5g de manitol por litro de infusão.
Quando a diurese normal for restaurada, suspender os diuréticos.
Como os pigmentos hemáticos são solúveis em meio alcalino, adicionar
bicarbonato de sódio para manter a urina alcalinizada.

Condições gerais do paciente

São reflexo da resposta à terapia de hidratação. Ansiedade e palidez são


sinais iniciais de hipovolemia e hipóxia. Um maior volume de líquido e
suporte ventilatório podem ser necessários.
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⮚ Pressão arterial

Tecnicamente a aferição de pressão arterial poderá ser difícil pela


formação do edema e curativos.
Não é fidedigna para avaliação de volemia.
Não deve ser utilizada como medida única para referência de
ritmo de infusão intravenosa.
A medida da PA deve ser feita em membro não queimado, caso
contrário o crescente edema dificulta progressivamente a medida
e fornece valores inferiores da PA que podem ser mal
interpretados, levando a uma administração excessiva de líquidos
e sobrecarga cardíaca.

⮚ Frequência cardíaca

Tem importância relativa no acompanhamento de reanimação.


É uso limitado.
A taquicardia é comum nos adultos reanimados adequadamente,
esta pode estar relacionada com a dor, ansiedade ou com a
hipovolemia.
São considerados valores normais entre 100 e 120 batimentos por
minuto.
Neste caso, administrar hemácias e manter hematócrito entre 30-
35%.

ESTUDO DE LABORATÓRIO

Para obtenção de informação básica nas queimaduras graves, lesões por


inalação, lesões renais, queimaduras especiais e doenças prévias.

Hemoglobina e Hematócrito

Não são referências confiáveis para a reanimação, porém observa-se


elevação dos mesmos em desidratação. Se ocorrer uma queda súbita do
hematócrito nas primeiras 24h pode haver uma lesão hemorrágica
associada.

Bioquímica sanguínea básica

Dosagem de eletrólitos, ureia, creatinina, glicose, proteínas totais e


frações, gasometria arterial, dosagem de carboxihemoglobina, enzimas
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como DLH, CPK, CKMB e outros conforme o agente causal e
circunstâncias da queimadura.
Repita dependendo da resposta do paciente Bioquímica e sangue
arterial.

Radiografias

Radiografia de tórax inicial deve ser feita nos pacientes grandes


queimados e com suspeita de queimadura inalatória, para se ter um
exame basal do paciente para posteriores comparações ou
identificações de complicações.

Eletrocardiograma

Pacientes com queimaduras elétricas de alta tensão, deve-se investigar


a existência de arritmias. Todos os pacientes com histórico cardíaco
requerem monitorização permanente.

Complicações da fluidoterapia

Edema agudo de pulmão


Em pacientes com reposição adequada de líquidos, não é frequente nas
primeiras 48 horas pós-queimadura. Pode ocorrer em pacientes com
limitada reserva miocárdica. Administrar medicação inotrópica e
reduzir a reposição hídrica.

Acidose
A causa mais comum de acidose no queimado, é o aumento dos teores
de ácido lático devido a perfusão inadequada dos tecidos. Esta situação
geralmente reverte com a correta reposição hídrica. Geralmente não é
necessário a utilização de bicarbonato, a não ser quando a acidose não
reverter com hidratação correta.

Hipercalemia
Durante a ressuscitação só administrar Ringer Lactato contendo pouco
"K". Os glóbulos vermelhos lesados pelo calor liberam potássio elevando
sua concentração sérica. A manutenção da função renal geralmente é
suficiente para normalizar os valores séricos.
Em alguns casos, com a destruição maciça de tecidos, a excreção urinária
de potássio é insuficiente, causando hiperpotassemia, que deverá ser
tratada.

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Hiponatremia
A utilização de Ringer Lactato geralmente causa uma queda dos valores
de Na plasmático para níveis de 130 mEq/l nas primeiras 24 horas de
tratamento.
Esta queda não representa déficit salino, não sendo necessário a
administração de Na adicional.
O tratamento hídrico adequado, a evaporação e a normalização da
função renal normalizam os níveis de Na plasmático.

Pacientes que requerem suporte hídrico especial

As fórmulas existentes servem como guia para a reposição inicial, que


deve ser adaptada para as necessidades individuais de cada paciente. As
necessidades podem ser podem ser maiores nos seguintes casos:
✔ Pacientes com lesão elétrica por alta voltagem.
✔ Pacientes com lesão inalatória.
✔ Pacientes com início tardio da ressuscitação hídrica.
✔ Pacientes com desidratação prévia.
✔ Pacientes com queimaduras químicas por ingestão.

Atenção especial com pacientes sensíveis a hiper-hidratação, pois


podem sofrer sobrecarga cardíaca.

✔ Pacientes com patologias cardiopulmonares prévias.


✔ Pacientes acima de 50 anos.
✔ Crianças menores de 2 anos.

Considerações sobre a hidratação em crianças

A maior área de superfície por unidade de peso, que caracteriza as


crianças, requer a administração de maiores volumes de líquidos.
Hipoglicemia é frequente, a reserva de glicose cai drasticamente em
crianças devido aos altos níveis de catecolaminas circulantes e
esteroides nas primeiras horas pós-queimadura. Se isso acontecer,
administrar solução de glicose com eletrólitos.
A obnubilação progressiva, convulsões ou outros sinais de irritação do
sistema nervoso central, devem sugerir edema cerebral por oferta
excessiva de líquido, nestes pacientes devemos reduzir a administração
de líquidos, iniciar um diurético e instalar hiperventilação para reduzir
os níveis de CO2 entre 25 e 30 Torr.

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CAPÍTULO 5: PECULIARIDADES DA CRIANÇA QUEIMADA

OBJETIVOS

✔ Entender porque uma criança é diferente de um adulto:


▪ Tamanho
▪ Superfície corporal
▪ Controle da temperatura
▪ Espessura da pele
▪ Ritmo metabólico
✔ Entender as características de desenvolvimento
✔ Discutir o tratamento inicial das queimaduras térmicas, elétricas
e químicas em crianças.

INTRODUÇÃO

Estima-se que no Brasil ocorram em torno de 1.000.000 de


acidentes/ano, sendo que 100.000 pacientes procurarão atendimento
hospitalar e destes cerca de 2.500 pacientes irão falecer direta ou
indiretamente de suas lesões.
Dois terços dos acidentes com queimaduras acontecem em casa,
atingindo na sua maioria adolescentes e crianças.
90% das queimaduras em crianças ocorrem no lar.
É a segunda causa principal de mortes acidentais intradomiciliar com
crianças.
Causa grande impacto psicológico.

EPIDEMIOLOGIA

Queimadura por escaldadura

É a queimadura térmica mais comum em crianças com menos de 3 anos


Muito frequente em abuso infantil.

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Ambiente mais frequente

As queimaduras podem ser prevenidas.


Queimaduras por líquidos aquecidos continuam sendo um trauma
frequente, em crianças menores de 3 anos e causada por fogo direto
acima desta idade.
90% das queimaduras em crianças ocorrem no lar.

Queimadura por chama

Cerca de 64% das queimaduras por chama em crianças são causadas


pela combustão de álcool, sendo as demais por outros agentes como
combustão de madeira e papel, gasolina, gás e outros.

Álcool em tempos de covid-19

Houve aumento dos casos de queimaduras por combustão de álcool


após a liberação 20/03 (SBQ).
Em março de 2020, diante do aumento do número dos casos de COVID-
19 no Brasil, a Anvisa revogou essa restrição da comercialização do
álcool etílico líquido 70%, por 180 dias, que permanece por mais de dois
anos.

Fisiopatologia

Características fisiopatológicas da criança.

As crianças têm uma circulação periférica débil, principalmente nos


menores de 1 ano, podendo evoluir rapidamente para o choque, desta
forma deve-se iniciar o tratamento precocemente e fazer vigilância
constante.

Superfície corporal

As crianças têm maior superfície corporal por quilo de peso que os


adultos, tendo maior perda de água e calor, podendo entrar em choque
com uma SCQ > 10%. Uma criança de 7 quilos, tem 10% do peso de um
adulto de 70kg, mas tem um terço da superfície do corpo desse adulto.
Como consequência, uma criança tem maior perda por evaporação e
requer uma maior quantidade de líquido na fase de ressuscitação.

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Crianças com menos de 2 anos de idade têm pele mais fina e menos
queratinizada, o que resulta que para uma mesma temperatura e mesmo
tempo de exposição, a queimadura seja mais profunda.
Queimaduras que inicialmente aparecem como intermediárias
geralmente acabam sendo profundas.

Controle da temperatura

Também relacionado com a maior superfície corporal; a criança perde


mais temperatura, e também por ter menos massa muscular, tem menor
geração de calor. As crianças menores de 6 meses dependem do controle
da temperatura corporal e ambiental, são altamente suscetíveis ao
desenvolvimento de hipotermia, desta forma é necessário manter uma
temperatura ambiental adequada de 36° a 37° C para evitar a perda de
calor.
As crianças maiores podem produzir calor ao tremer.
A SCT em proporção ao peso, compromete a conservação do calor
corporal.

Espessura da pele

As crianças, com menos de 2 anos, têm a pele muito fina, isso causa
queimaduras mais profundas com o mesmo tempo de exposição ao
agente térmico, quando comparado com pacientes de mais idade.
Queimaduras que inicialmente aparentam ser superficiais, podem ser
profundas.
Em adultos, a exposição durante 30 segundos a 54° C produz
queimaduras. Em uma criança à mesma temperatura, basta apenas uma
exposição de 10 segundos.
A 60° C, que é a temperatura usual de líquidos quentes em ambiente
doméstico, uma lesão infantil ocorre em apenas 5 segundos.

Avaliação inicial

Os antecedentes são importantes, não podemos deixar de pensar na


possibilidade de abuso infantil, principalmente em crianças menores de
4 anos, devendo se suspeitar de abuso quando o padrão da queimadura
não for compatível com a história, as linhas de demarcação entre a pele
queimada e a pele sã forem retas (padrão de “luva” ou “meia”), busca
tardia de ajuda médica e lesão não acidental.

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Extensão
Observar a diferença cefalopodálica em relação ao adulto; a regra dos
nove modificada ou a regra de Pulansky e Tennison, são muitas vezes
úteis.

Via aérea

As crianças podem apresentar sinais de lesão por inalação mais cedo do


que os adultos. Intubação endotraqueal está indicada quando houver
suspeita de comprometimento supra glótico. A intubação deve ser
realizada por alguém com bom treinamento (anestesista pediátrico).
Laringe da criança fica mais proximal que a do adulto, o que exige um
maior ângulo de cânula. Esta diferença anatômica requer um
especialista infantil.
O diâmetro das narinas pode ser usado para escolher o tubo a ser
colocado. Repetidas tentativas de intubação fracassadas produzem mais
edema nas vias aéreas superiores. A traqueostomia nunca esta indicada,
é preferível colocar uma agulha percutânea temporária de grosso
calibre.
Qualquer criança com suspeita de lesão por inalação deve ser
transferida o mais rapidamente possível para uma unidade de
tratamento de queimados infantil.

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Circulação

Toda criança com queimaduras maiores de 10% da superfície corporal,


não importando a profundidade, deve ser internada, pois requer acesso
venoso.
Como as crianças engolem muito ar com o choro, pode ser necessário
colocar sonda nasogástrica.
A fórmula para hidratação nas primeiras 24 horas é:
3-4 ml x kg x SCQ de Ringer Lactato, metade administrado nas primeiras
8 horas e a metade restante nas 16 horas posteriores.
A hipoglicemia é possível e no dia 2º dia recomenda-se adicionar 5% de
glicose ao Ringer Lactato.
Os requisitos de manutenção são:
100 ml x Kg x os primeiros 10 quilos de peso corporal +
50 ml x Kg x nos 11 a 20 quilos +
20 ml x Kg acima de 20 quilos.

Exemplo em uma criança de 23 Kg com 20% de queimadura profunda

Reanimação (Ringer Lactato)


✔ 3 ml X 23 Kg X 20% de queimadura = 1.380 ml
● ½ nas primeiras 8 h após queimadura = 86 ml/h
● ½ nas 16 h restantes = 43 ml/h

Manutenção (LR)
✔ Primeiros 10 Kg:100 ml /Kg/ 24h = 1.000ml / 24h
✔ Segundos 10 Kg: 50 ml /Kg/ 24h = 500ml / 24h
✔ Restante 3 Kg: 20 ml / Kg / 24h = 60ml / 24 h
✔ Total de: 1.560 ml / 24 h (65 ml / h)
● Volume de infusão nas 1ª 8h: (86+65) ml/h RL
● Nas 16 horas restantes: (43+65) ml/h RL

Lembrar sempre que as fórmulas são apenas estimativas

Quando não se consegue um acesso venoso, a via intraóssea é uma


alternativa válida para tentar salvar a vida, e é feita na tuberosidade
anterior da tíbia com uma cânula grossa.
Diurese em crianças com peso inferior a 30 quilos deve ser de
1ml/Kg/hora. Acima de 30 quilos deve ser entre 0,5 a 1ml/Kg/hora.
Reanimação tardia ou subestimação dos líquidos necessários podem
aumentar a mortalidade.
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Sempre lembrar da possibilidade de hipoglicemia em Lactentes,
devendo-se monitorar glicemia, principalmente nas crianças que não
receberem alimentação por via oral ou enteral.

Alívio da dor

Usar analgésicos, preferencialmente intravenosos, por exemplo:


Dipirona IV 30 mg/kg/dose.
Avaliar necessidade de opióides venosos, administrar sempre após o
início da reposição volêmica, por exemplo: Morfina 0,05 a 0,1 mg/kg/IV
a cada 20 minutos, se necessário avaliar a necessidade de associar
sedativo.
Deve-se utilizar recursos não farmacológicos, com técnicas para reduzir
a sensação da dor junto com os analgésicos, potencializando sua
eficácia, como ofertas com substâncias doces, sem a sucção destes eficaz
para RN e lactentes, importante o contato físico com carícias e voz
suaves, música, desenhos animados no celular, permitir que a criança
tenha um certo controle sobre o que está acontecendo, como ajudar a
remover seus próprios curativos e que essa ajuda seja enfatizada e
elogiada, pois a contenção física durante os curativos provoca sensação
de impotência, aumentando o medo e a antecipação da dor.

Terapia nutricional

Deve ser iniciada nas primeiras 6 horas.


Em crianças com SCQ ≤ 20% iniciar dieta via oral conforme aceitação e
oferta generosa de líquidos
Nas crianças intubadas e SCQ> 20% usar dieta enteral e quando possível
associar oral.

Escarotomia

O mesmo que no adulto, mas lembrando sempre que a criança fica


exausta, do ponto de vista respiratório, mais facilmente que o adulto, e
queimaduras profundas e circunferenciais do tórax e abdominais
sempre requerem escarotomia.
Para determinar a circulação nos membros, é necessário dispor de um
Doppler.
Um Doppler é necessário para determinar a circulação nos membros.

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CAPÍTULO 6: MANEJO DA DOR

OBJETIVOS

✔ Aprender como avaliar a dor do paciente queimado


✔ Saber aplicar o tratamento farmacológico e não farmacológico
✔ Aprender formas de analgesia durante os curativos

INTRODUÇÃO

As queimaduras são dolorosas por vários fatores como estimulação dos


receptores dolorosos das terminações nervosas da pele por irritação,
compressão, reação inflamatória dos tecidos, estase sanguínea e
hiperemia, estímulos mecânicos dos curativos e variação da
temperatura. As queimaduras de segundo grau superficial são as que
mais doem por haver exposição das terminações nervosas, por outro
lado as queimaduras de terceiro grau são indolores por destruição total
das terminações nervosas, porém as zonas de 2º grau que a rodeiam são
muito dolorosas.

AVALIAÇÃO INICIAL

Toda a equipe deve estar atenta para a severidade da dor produzida por
uma queimadura e sofrimento emocional. Fazem parte desta equipe a
equipe multiprofissional (Médicos clínicos, pediatras, anestesistas,
cirurgiões plásticos e intensivista, enfermeiros, psicólogos, assistentes
sociais, terapeutas ocupacionais, nutricionistas e fonoaudiólogos.
(Herndon, 2008). A dor é uma sensação subjetiva influenciada por
vários fatores.

Deve-se quantificar a sensação álgica e fazer a avaliação dos Sinais


Clínicos:
✔ Comportamentos que mostrem o grau de sofrimento
✔ Alteração do humor
✔ Midríase, agitação
✔ Aumento da PA, pulso, FR, sudorese
(Herndon, Total Burn Care 2007)

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Avaliação da dor é considerada como o 5º SINAL VITAL
Com a dor há aumento da PA, do pulso, da FR, presença de sudores,
midríase e agitação.

TÉCNICAS PARA MEDIR A DOR

Utilizar sempre o mesmo método com regularidade.


A escala numérica é mais simples e mais usada para avaliar a dor.

Antes de aplicar o analgésico e depois de uma ou duas horas de


administrado.
Na realização de procedimentos deve-se medir a dor antes, durante e
depois do término dos mesmos.

RECURSOS NÃO FARMACOLÓGICOS

TRATAMENTO DA DOR

Paciente queimado sofre transtornos físicos e psicológicos, sendo a dor


um componente importante de ambos.
Tratamento agressivo deve ser feito para evitar a dor crônica.
Existem 3 modalidades e três fases:
✔ Recursos não farmacológicos
✔ Cirúrgico
✔ Farmacológico
✔ A - Fase Emergencial
✔ B - Fase Aguda
✔ C - Fase Crônica
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RECURSOS NÃO FARMACOLÓGICOS

Técnicas para reduzir a sensação da dor junto com os analgésicos,


potencializando sua eficácia como, música, desenhos animados no
celular, a administração de substâncias doces para crianças pequenas
(RN e lactentes), o contato físico com carícias e voz suaves. A maioria
dos pacientes se beneficiam com explicações simples e honestas sobre o
que podem esperar durante o período de internação e principalmente
dos curativos.
A contenção física durante os curativos provoca sensação de
impotência, aumentando o medo e a antecipação da dor.
É importante permitir que a criança tenha um certo controle sobre o que
está acontecendo, como ajudar a remover seus próprios curativos e que
essa ajuda seja enfatizada e elogiada.

TRATAMENTO DA DOR - CIRÚRGICO

A dor é mais presente nas feridas abertas, o melhor tratamento de


qualquer dor é o tratamento de sua causa, como o fechamento da ferida
por auto enxertos. O uso de Aloenxertos e coberturas sintéticas têm
demonstrado serem eficazes no controle da dor, conseguindo uma
redução significativa nas escalas de dor.

TRATAMENTO FARMACOLÓGICO

As medicações devem ser prescritas de uso em horários regulares. É


desaconselhável o uso de SOS devido a super-analgesia em um plantão
e analgesia ineficaz no plantão seguinte.
As medicações não devem ser administradas pela via intramuscular, por
ser dolorosa e na fase inicial não serão absorvidas.
Dose e tipo de medicação devem ser constantemente reavaliados.
Na fase inicial pode-se usar Dipirona, morfina, Tramadol ou outros
opioides por via endovenosa.
Após 48 horas pode-se usar opióides como Tramadol ou Morfina por via
endovenosa e Dipirona se necessário.
Na fase 3 utiliza-se Tramadol (1 a 2 mg/kg/dose) ou Metadona
(0,1mg/kg/dose)por via oral ou Fentanil transdérmico, outras
medicações como antidepressivos Amitriptilina (1mg/kg/dia),
anticonvulsivantes como Gabapentina (10mg/kg/dia)e Pregabalina ou
Dipirona/ paracetamol. Avaliar a necessidade de se associar
antidepressivo, anti-histamínico e/ou sedativo.

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Durante procedimentos sabidamente dolorosos, utilizar
concomitantemente 2 ou 3 drogas que tenha mais experiência

✔ Midazolan - 0,1 mg/kg/dose


✔ Cetamina – 0,5 a 1 mg/kg/dose
✔ Fentanil - 0,5 a 1 mg/kg/dose
✔ Dexmedetomidina – 0,5 Micrograma /kg/dose
✔ Propofol - 1 a 2 mg/kg/dose
✔ Morfina – o,1 mg/kg/h
✔ Dipirona – 25 a 30 mg/kg/dose

Observação: Doses retiradas do Black book de pediatria, 5ª edição,


2019.
Os pais devem estar presentes até se conseguir a sedação.

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CAPÍTULO 7: CUIDADOS COM AS QUEIMADURAS-FERIDAS

OBJETIVOS

✔ Diferenciar uma queimadura de espessura parcial de uma de


espessura total
✔ Diferenciar os cuidados de queimaduras especiais
✔ Descrever o procedimento das escaratomias
✔ Discutir o tratamento dos pacientes com queimaduras em áreas
especiais
✔ Identificar as suas possíveis complicações
✔ Descrever a técnica de escarotomia em membros superiores,
inferiores e tórax

INTRODUÇÃO

O resultado final de uma queimadura depende do tratamento inicial


correto, do trauma causado pela queimadura, da severidade da lesão,
que depende da profundidade e extensão da ferida.
A reposição volêmica adequada é fundamental para a sobrevivência do
paciente e da boa evolução da ferida.
As funções cruciais da pele para a sobrevivência são a proteção de
infecção e lesão, prevenção da perda de líquidos corporais e de contato
sensorial com o meio ambiente.

Fisiopatologia da lesão local

Dano celular

A pele humana pode tolerar sem danos temperaturas de até 44° C.


Temperaturas acima deste valor produzirão diferentes lesões. O grau da
lesão está diretamente relacionado com a temperatura e o tempo de
exposição. Quanto maior a temperatura da fonte de calor menor o tempo
para produzir uma lesão. Quanto maior o tempo de exposição à fonte de
calor, mais profunda é a lesão dos tecidos. A área central da lesão, que
teve um contato máximo com a fonte de calor, esta coagulada com
necrose celular, esta é a chamada zona de coagulação.

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Perifericamente à área necrosada, há uma área de células danificadas
que podem sobreviver sob condições ideais, mas em geral esta área se
torna necrótica após as primeiras 24 horas, é a chamada zona de estase.
Na periferia da zona de estase, há uma área com lesões mínimas que
tende a se recuperar em cerca de 7 a 10 dias, é a chamada zona de
hiperemia.
A profundidade da queimadura determina o tipo de tratamento, a
necessidade ou não do enxerto e, finalmente, os resultados funcionais e
estéticos, sendo assim há grande importância no correto diagnóstico da
profundidade.

Queimadura de primeiro grau


Lesão apenas da epiderme, apresenta-se com dor e hiperemia e se cura
em poucos dias, quando as células epiteliais lesionadas são eliminadas
Raramente tem importância clínica. O exemplo clássico da queimadura
solar.

Queimadura de segundo grau superficial


Destruição de toda a epiderme e parcialmente da derme papilar.
Apresenta-se com dor intensa, bolhas ou flictena, edema, lesão com cor
avermelhada e úmida. Geralmente por escaldadura.
Cicatriza em até 3 semanas, sem sequelas.

Queimadura de segundo grau profunda


Lesão de toda a epiderme, derme papilar e chegando até a derme
reticular preservando parcialmente os anexos epidérmicos profundos,
sendo lesões cero-esbranquiçadas, com sensibilidade variável, quanto
mais profunda há maior hipoalgesia no local e cicatriza-se em mais de 3
semanas. A regeneração do epitélio a partir de anexos cutâneos ainda
viáveis e pode resultar em cicatriz hipertrófica. O enxerto pode
melhorar o resultado funcional e estético.

Queimadura de terceiro grau


Destruição completa da pele chegando até o tecido celular subcutâneo,
apresenta-se branca nacarada, carbonácea, vermelho cereja e vasos
trombosados, lesão seca, dura e indolor ao toque. Necessita de enxerto
de pele, quando cicatriza, espontaneamente, gera cicatrizes
hipertróficas e retrações.

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Cuidados iniciais

A avaliação (ABCDE) e tratamento inicial são sempre prioridade em


relação ao tratamento da ferida. O objetivo principal é salvar a vida.
Na fisiopatologia das queimaduras há aumento da permeabilidade
capilar, perda de líquidos com a formação de edema e choque
hipovolêmico. Além dos danos celulares, a clássica reação inflamatória
gerada pela queimadura se caracteriza pela acumulação de fluidos,
eletrólitos e proteínas na área ferida. Na ressuscitação hídrica
inadequada com hipohidratação pode se complicar com choque
hipovolêmico, isquemias, lesões de órgãos alvos (rins) e
aprofundamento das queimaduras, na hiper-hidratação com formação
de edema acentuado, pulmão úmido, síndrome compartimental e
diminuição de oxigenação da ferida com aprofundamento das lesões.

Cuidado com as feridas

Nos casos em que a remoção para uma unidade de queimados ocorra


antes das 6 horas após lesão, não se deve atrasar a remoção para
realização de curativos. Deve-se cobrir as feridas com lençóis limpos e
secos, proteger da perda de calor e se possível usar lençol térmico
isolante. Não use bandagens ou lençóis molhados!
Nos casos em que a remoção para uma unidade de queimados ocorra
após as 6 horas da lesão, deve-se iniciar os cuidados com as feridas:
✔ Limpar a ferida com água morna ou soro aquecido e sabão líquido
– Clorexidine
✔ Não agredir a lesão, pois será transferido
✔ Fazer um curativo oclusivo frouxo com creme de sulfadiazina de
prata a 1%
✔ Avaliar a necessidade de realização de escarotomia

Escarotomia

As queimaduras de terceiro grau são inelásticas e quando


circunferenciais não se expandem com o edema, aumentando a pressão
no ambiente abaixo da ferida, gerando síndrome compartimental ou
síndrome restritiva de expansibilidade tóraco-abdominal. As
escarotomias são incisões nas lesões inelásticas até os tecidos elásticos,
pela profundidade e pela extensão, permitindo a expansão do edema
com subsequente redução da pressão do ambiente e expansão da parede
tóraco-abdominal.

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As escarotomias, raramente, são feitas antes da remoção ou do
transporte.

Escarotomia das extremidades

O acúmulo de líquido sob o tecido necrótico, não extensível, provoca


uma compressão dos vasos sanguíneos e dos nervos.
Todos os anéis, relógios e outras joias devem ser removidos do membro
afetado, para evitar uma possível isquemia distal. A cor da pele dos
dedos, dormência e enchimento capilar retardado, assim como a
ausência de pulsos periféricos nos fazem pensar na necessidade de
escarotomia descompressiva.

Qualquer dos seguintes sinais e sintomas que indicam a necessidade de


uma escarotomia:

✔ Queimaduras de terceiro grau circunferenciais no membro


✔ Cianose da pele ou extremidade distal sem queimadura
✔ Dor intensa do tecido profundo
✔ Parestesia progressiva
✔ Diminuição progressiva ou ausência de pulso

O uso de um medidor de fluxo por ultrassom é o método mais seguro


para determinar mudanças no fluxo sanguíneo e verificar a eficácia da
escarotomia.
A escarotomia pode ser realizada à beira do leito, mas com boa técnica
cirúrgica, escovação com antisséptico e campos cirúrgicos estéreis. Não
é necessário o uso de anestesia pois a ferida não é sensível.
Baixas doses de morfina por via intravenosa são úteis para controlar a
ansiedade.

É sempre útil executar duas escarotomias, uma em cada lado do


membro afetado, devendo-se alcançar a fáscia para permitir boa
liberação do tecido necrótico que produz a constrição. Evitar lesões em
estruturas nobres como tendões, artérias e nervos, portanto um cuidado
especial deve ser tomado nas seguintes regiões:

⮚ Membro superior: passar pela frente do epicôndilo medial para


evitar lesão do nervo cubital.

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⮚ Membro inferior: passar pela frente do maléolo medial para
evitar lesão tibial posterior. Passar pela frente da fíbula para
evitar lesão do nervo ciático poplíteo externo.
⮚ Em dedos: fazer incisão longitudinal e bilateral, na união do
começo das pregas Inter falangianas, para evitar a lesão vascular.

Escarotomia do tórax

A frequência respiratória e a profundidade das inspirações requerem


monitoramento constante durante a reanimação. Quando houver uma
queimadura profunda circunferencial que impeça a expansão do tórax
ou abdome, deve ser realizada uma escarotomia longitudinalmente a
partir da linha axilar anterior, bilateralmente até a fáscia, sem abri-la, se
não for suficiente, conectar com incisões as duas linhas.

Queimaduras em regiões especiais

Por terem tratamento específico, é recomendável contato com o médico


do centro de referência nos casos de queimaduras no rosto, olhos,
pescoço, axilas, cotovelos, mãos, períneo, joelhos e pés.

Queimaduras faciais

São sempre consideradas lesões graves, que requerem hospitalização, e


deve ser considerada a possibilidade de lesão inalatória. São
acompanhadas por um edema significativo devido à alta vascularização
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da face, para minimizar esse edema, e na ausência de choque, o paciente
deve ser sempre mantido com a cabeça elevada de 30° a 45° em relação
ao tronco. Sempre deve-se avaliar as vias aéreas
O rosto sempre deve ser lavado com água destilada ou solução salina,
para evitar irritação das membranas mucosas (olhos, nariz ou boca)
pelos agentes antissépticos. Fazer curativo aberto com sulfadiazina de
prata 1%, podendo ser usada máscara úmida renovável a cada 2 horas.

Queimaduras oculares

Pré hospitalar: O tratamento imediato das queimaduras químicas


consiste na irrigação abundante do olho, usando a fonte de água que
estiver mais disponível (torneira, bebedouro). Quanto maior o
intervalo de tempo entre o acidente e a irrigação com água, pior o
prognóstico.
No hospital o exame de olho deve ser rápido, pois quando ocorre o
edema, torna-se muito difícil.
A fluorescência pode ser realizada para identificação da lesão de córnea.
Queimaduras químicas devem ser continuamente lavadas com solução
salina. Colírios ou cremes com antibióticos podem ser utilizados quando
se detecta úlcera de córnea. Não utilizar colírios contendo
corticosteroides. A tarsorrafia (sutura das pálpebras) nunca é indicada
na fase aguda. Se houver disponibilidade a descontaminação ATIVA com
solução anfotérica (Diphoterine).

Queimaduras no pavilhão auricular

Exigem um teste para verificar a desobstrução do canal auditivo


externo. É importante verificar a presença de otite externa ou média,
principalmente em crianças.
Evitar a pressão sobre a orelha, não utilizar ataduras compressivas, ou
de descanso sobre o travesseiro, os curativos devem ser frouxos ou com
proteção para não haver compressão das orelhas.
Cuidado com compressões por curativo ou fixação do tubo oro traqueal
ou SNG.

Queimadura nas extremidades

Retire todos os acessórios: anéis, relógios e pulseiras, mantenha a


elevação e mobilização dos membros. Avaliar a necessidade de
escarotomia ou fasciotomias e possibilidade de síndrome
compartimental. A escarotomia, em geral, é suficiente para manter a
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perfusão dos tecidos, frequentemente não há necessidade de
fasciotomia, estas, geralmente, é necessária nas queimaduras por alta
voltagem. A indicação de fasciotomia no comprometimento muscular,
quando tiver edema dentro (abaixo) da fáscia muscular profunda,
geralmente é resultado de lesão elétrica de alta voltagem, infusão
massiva de líquidos EV e lesão por esmagamento.

Para a manutenção da circulação periférica deve-se fazer intervenções


cirúrgicas:

Escarotomia - se o comprometimento estiver relacionado com


queimadura cutânea circunferencial
Fasciotomia - se houver elevação da pressão no compartimento
muscular.

Queimaduras das mãos

As mãos, quando não tratadas adequadamente, podem desenvolver


importantes sequelas funcionais, especialmente quando envolvem a
palma da mão. O mais importante é a determinação da vascularização,
para realizar ou não a escarotomia. A presença de pulso radial não exclui
a síndrome compartimental. Lento enchimento capilar indica a
descompressão. Avaliar o estado da perfusão vascular e da sensibilidade
(nervos periféricos).

Manter as mãos acima do nível do coração ajuda a reduzir o edema,


assim como a mobilização ativa, por 5 minutos a cada hora. Curativos
muito fechados não são aconselháveis nas primeiras 24 horas, quando
houver a suspeita de comprometimento vascular, pois eles impedem a
observação. Fazer os curativos com individualização dos dedos.

Queimaduras dos pés

Avaliar com frequência a vascularização. Evitar curativos muito


fechados e compressivos. Manter os pés elevados. E fazer mobilização
frequente.

Queimaduras nos genitais e períneo

Queimaduras no pênis podem exigir a colocação imediata da sonda de


Foley para manter a uretra desobstruída. A sonda deve ser fixada de
forma a minimizar o trauma mecânico na parede da uretra.
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Fazer curativo aberto com aplicação de sulfadiazina de prata 1%,
podendo ser fechado na genitália sondada.
Não é indicada colostomia de desvio.
Não se requer tratamento do edema na bolsa testicular.
Em queimaduras circunferenciais profundas, pode-se precisar de
escarotomia dorsal do pênis, somente após consultar o centro de
queimaduras ou urologista.

Queimaduras elétricas

São lesões progressivas e profundas, com local de entrada e de saída das


correntes contínuas. Pode haver lesões por onde a corrente elétrica
passou. Necessita de avaliação seriada, desbridamentos frequentes e
avaliação de necessidade de escarotomia ou fasciotomia.

Queimaduras químicas

Nunca subestime o aspecto da lesão em uma abordagem inicial, pois a


aparência inicial pode enganar.
Não se indica a neutralização do agente porque existe a possibilidade de
gerar calor.
Retire a roupa molhada.
Remova os agentes em pó.
Irrigue continuamente a área com água abundante.
Continue a irrigação até que diminua a dor ou até que seja avaliado em
um centro de queimados. Se houver disponibilidade a descontaminação
ATIVA com solução anfotérica (Diphoterine).

Queimaduras por piche ou alcatrão (breu)

São sempre por contato, o composto betuminoso não é absorvido e não


é tóxico. O tratamento de emergência consiste no resfriamento do
alcatrão com água fria.
A remoção do alcatrão não é emergencial, e a água fria está indicada para
interromper o processo de queimadura. O alcatrão aderido deve ser
coberto com vaselina e gaze para promover a emulsificação. A adição de
óleo de girassol ajuda este processo.

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CAPÍTULO 8: QUEIMADURAS ELÉTRICAS

OBJETIVOS

✔ Descrever as alterações fisiopatológicas que ocorrem nas


queimaduras por eletricidade
✔ Discutir as técnicas especializadas de avaliação em pacientes
vítimas de queimadura elétrica
✔ Destacar os princípios do manejo de pacientes vítimas de
queimadura elétrica

INTRODUÇÃO

A queimadura elétrica é considerada “a grande mascarada”, pois pode


se apresentar com áreas de lesão pequenas na pele e associar-se com
lesões internas devastadoras. Responsável por mais de 100 (mil) mortes
por ano. Frequentemente, acidentes relacionados com o trabalho
produzem grande impacto socioeconômico.
Estas são arbitrariamente divididas em alta e baixa tensão, se ocorrem
acima ou abaixo de 1000 volts respectivamente.
Lesões de alta tensão são geralmente entre 7.200 e 19.000 volts, mas
pode ocorrer em taxas maiores do que 100.000 a 1.000.000 de volts.
Lesões domésticas no Brasil são geralmente por corrente de 120 a 220
volts quando residenciais e 380 volts industriais.

Fisiopatologia

A lesão produzida pela eletricidade é o resultado da conversão de


energia elétrica em calor. As lesões de entrada nas mãos e punhos e de
saída nos pés, são as portas mais comuns.
Os tecidos têm resistências diferentes para a transmissão da corrente. O
nervo é aquele com menor resistência, a pele é muito resistente sendo a
epiderme mais resistente que a derme e o osso o de maior resistência.
Conforme a lei de Joule, o calor dissipado pela energia elétrica aumenta
conforme a resistência do meio, portanto, o fluxo de corrente em um
tecido de alta resistência, tal como o osso, aumenta a sua temperatura
provocando queimaduras sobre as estruturas vizinhas.
Fórmula de Joule: Calor = 0,24 Ampere² x Resistência x Tempo
Lei de OHM: Amperagem = Voltagem / Resistência

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A passagem de corrente de alta tensão pelas células produz o fenômeno
da eletroporação (produção de poros na membrana celular) e conduz à
morte celular em curto prazo.
A passagem de corrente elétrica através de um membro resulta na
necrose muscular abaixo do tecido saudável. Podendo causar lesões
vasculares.
Estas lesões são extremamente difíceis de avaliar clinicamente, pode
haver uma lesão muscular grave e grave lesão do tecido ao redor do
osso, sem apresentar lesão evidente na pele, que pode estar saudável.
O mecanismo da queimadura pela eletricidade pode ser pela passagem
da corrente elétrica diretamente do cabo condutor, por arco voltaico,
que é a corrente elétrica que está no ar, passando da fonte para um
objeto causando desprendimento de calor de até 4.000 Volts e formando
o “flash” fogo com liberação de calor ou pelo fogo nas vestes, estes dois
últimos não necessariamente passam a corrente elétrica.
Há dois tipos de corrente elétrica, a alternada e a contínua. A alternada
(CA) por reversão de fluxo de elétricos a cada meio ciclo, a eletricidade
vai e volta da fonte de energia ao ponto de contato anatômico, utilizadas
em aplicações comerciais, é a mais perigosa causa tetania, morte por
fibrilação cardíaca e paralisia dos músculos respiratórios e a corrente
contínua ou direta (CD) - Segue numa só direção, é possível ver o local
de entrada e saída, como os raios, a eletricidade de baterias de
automóveis e aparelhos médicos.

Tipos de lesão dos tecidos

Com o contado da corrente elétrica com o corpo, este se converte em


parte do circuito elétrico, a extensão da lesão é determinada pela força
e tipo da corrente, da duração do contato, resistência do tecido e do local
da passagem da corrente.
O corpo atua como condutor de volume e a corrente flui através das
partes envolvidas do corpo, há maior geração de calor, que é o causador
da queimadura.

1) Queimadura cutânea sem lesão de tecidos profundos. Ocorre


quando há fogo nas roupas, sem passagem de corrente elétrica
através do paciente.
2) Queimadura cutânea mais lesão profunda de tecidos como
camada gordurosa; fáscia; músculo e osso. A lesão muscular está
associada à liberação de mioglobina, que deve ser excretar pelo
rim. Dependendo da quantidade de pigmentos liberados, a urina
pode ser rosa, vermelha ou marrom. É difícil e não é necessário
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diferenciar entre a mioglobina e hemoglobina. Ambos são
indicativos de danos nos tecidos e constituem um risco para o rim.

Além das lesões causadas pela eletricidade, chama e calor pode haver
muitos outros tipos de lesões associadas ao acidente como queda de
altura de um poste, trauma de deslocamento brusco em explosão,
fraturas em contrações vigorosas e outros.

Lesões causadas por raios

Este tipo de lesão não é excepcional, mata de 20 a 30 pessoas por ano no


Brasil. O risco é de 1 em 280.000 habitantes, com sobrevida de 70%.
É uma corrente elétrica de milhões de volts e altíssima amperagem e
pode atuar através de dois mecanismos diferentes e tem quadro clínico
com ampla apresentação.

Ação direta

A corrente gerada por um raio, com frequência passa pela superfície do


corpo e não através deste. As queimaduras cutâneas são superficiais,
apresentando um padrão convencionalmente chamado de padrão em
árvore. Com a passagem da corrente elétrica pelo corpo pode causar
alterações cardíacas e neurológica, podendo causar parada cardíaca e
respiratória, por despolarização miocárdica imediata ou alterações dos
centros respiratórios com paralisia respiratória.

Explosão e chama

O mecanismo de explosão ocorre quando a corrente não atinge


diretamente a vítima, mas pode causar fogo na atmosfera ao redor dela,
ou o calor liberado pela descarga atinge a vítima.

Manuseio da queimadura elétrica

Estabelecer o tipo de lesão

Obter informações sobre o acidente: Onde e como aconteceu; o paciente


perdeu a consciência ou teve amnésia?; existe algum trauma adicional?;
sofreu uma parada cardíaca ou arritmia?

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Atendimento inicial

Seguir o ABCDE do trauma.


Fazer a investigação secundária

Exame físico

✔ Exame dos pés a cabeça


✔ Retirar todas as roupas e acessórios
✔ Identificar os pontos de contato: entradas e saídas
✔ Examinar atentamente pés e mãos
✔ Raspar a cabeça se apresentar pontos de contato
✔ Estimar a extensão da queimadura
✔ Efetuar exame neurológico central e periférico
✔ Verificar presença de e as lesões internas ocultas, lesões
medulares, fraturas de ossos longos, luxações e outras alterações
ortopédicas
✔ Busque evidências de Síndrome compartimental
✔ Registre as alterações ao passar do tempo

Manter a via aérea permeável

Colocar tubo endotraqueal, quando indicado.

Ressuscitação

Obter um ou mais acessos venosos profundos e calibrosos. Calcule a


superfície queimada (muitas vezes, em casos de acometimento de
tecidos profundos, haverá dificuldade). O controle de diurese é, ainda,
mais importante. Inicie os cálculos de demanda de líquidos com 2000 ml
rápido, sendo o líquido de escolha o Ringer-lactato, sabendo que em
geral, a exigência é maior do que o previsto. Manter uma diurese mais
elevada (criança 2ml/kg/hora e 1 ml/kg/hora) se paciente apresentar
pigmento na urina. Para melhor controle recomenda-se a colocação de
sonda de vesical de demora.

Exame da urina

Em caso de pigmentos na urina, a diurese deve ser mantida entre 75 a


100 ml por hora, até que a cor da urina seja clara. Uma ampola de
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bicarbonato de sódio (50 mEq) por litro de Ringer-lactato, pode ser
administrado por via intravenosa, para manter o pH do sangue dentro
de valores aceitáveis e/ou o uso de manitol venoso contínua, isto deve
ser continuado até que a urina esteja clara.

Monitorização eletrocardiográfica

Eletrocardiograma completo na admissão do paciente e monitorização


cardíaca durante as primeiras 24 horas. Dosagem de CKMB, CPK,
troponina e DLH. Fazer a vigilância cardíaca para arritmias ou ectopia
com monitorização cardíaca contínua.

Manutenção da circulação periférica

Qualquer membro comprometido deve ser monitorado de hora em hora


os pulsos periféricos; o enchimento capilar; a sensibilidade e a cor da
pele. Caso algum destes sinais denotem a presença de
comprometimento vascular, a descompressão é realizada
imediatamente.

Fasciotomia

Queimaduras por alta tensão, mesmo sem queimaduras circunferenciais


profundas, podem desenvolver a síndrome compartimental, pois o
músculo afetado edemacia abaixo da fáscia. Clinicamente se manifesta
como um músculo sem função e muito túrgido há palpação. As
intervenções cirúrgicas através de comprometimento vascular são a
escarotomia se o comprometimento estiver relacionado com
queimadura cutânea circunferencial e fasciotomia se houver elevação
da pressão no compartimento muscular.

1) Membro superior

A musculatura do antebraço é muito suscetível à isquemia. Em


caso de fasciotomia, cuidado para não lesar o nervo ulnar. Deve
ser realizada em centro cirúrgico. Se realiza com eletrocautério,
incidindo a pele, o celular subcutâneo e a fáscia. Atenção
especial ao local onde estavam o relógio, pulseiras e anéis.
Muitas vezes, é necessária a liberação do túnel do carpo, se a
vascularização não melhorar com a fasciotomia.
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2) Membro inferior

Os quatro compartimentos são susceptíveis a isquemia pelo


edema. A fasciotomia deve ser feita por duas incisões. A externa
deve começar na frente da cabeça fibular e seguir por de cerca
de 25 cm sobre a diáfise do mesmo. Abrir a fáscia tomando
cuidado para não lesar o nervo ciático poplíteo externo. A
inserção interna começa na inserção da panturrilha e continua
distalmente, até a borda interior do tendão de Aquiles. Cuidado
para não atingir a veia safena.
A perda de sangue pode ser considerável e é controlada com
eletrocauterização. Quando a fasciotomia é realizada
precocemente, pode não haver sangramento devido à
hipovolemia a vasoconstrição periférica e ao choque, mas pode
ocorrer quando o paciente sair do choque.

Queimaduras elétricas em pacientes pediátricos

Em crianças são comuns as lesões elétricas de baixa voltagem por


acidentes domésticos. Normalmente, um cabo colocado na boca, a
introdução de objetos metálicos na tomada, o isolamento elétrico
inadequado, aparelhos elétricos defeituosos ou fiação elétrica
desgastada. Em geral ocorrem lesões pequenas na pele, mas profundas.
Lesões em ambos os cantos da boca e da língua, que não podem ser
tratados cirurgicamente nas primeiras 72 horas e podem apresentar
sangramento tardio.
Antes de uma intervenção cirúrgica é necessário esperar a redução do
edema.

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CAPITULO 9: QUEIMADURAS QUÍMICAS

OBJETIVOS

✔ Mencionar 3 classes de químicos prejudiciais e seus mecanismos


de ação
✔ Enfatizar o tratamento inicial
✔ Enumerar os fatores que contribuem à severidade de uma
queimadura química
✔ Identificar e descrever o tratamento de lesões por químicos
especiais (ácido fluorídrico)
✔ Abordar o tratamento inicial de lesões químicas nos olhos

INTRODUÇÃO

A qualquer momento da vida diária, uma pessoa pode ser exposta ao


contato com produtos químicos em casa, no trabalho ou no lazer. A
probabilidade de exposição ao perigo químico está em todo lugar,
existem cerca de 11 milhões de substâncias químicas no mundo, sendo
65 mil com usos comuns e são descobertas milhares de novas
substâncias a cada ano.
Os produtos químicos são classificados como ácidos, álcalis ou
componentes orgânicos e são usados na indústria, agricultura, em casa
e para tratamentos médicos.

CLASSIFICAÇÃO

Álcalis: incluem hidróxidos, carbonatos ou soda cáustica, como o sódio,


potássio, amónio bório, lítio e cálcio. A maioria são encontrados em
produtos de limpeza e de cimento.
Ácidos: a parte clorídrica de quase todos os elementos da limpeza. O
ácido oxálico é utilizado como um removedor. Ácido muriático é usado
como acidificante em piscinas. O ácido sulfúrico é utilizado como um
purificador na indústria.
Compostos orgânicos: incluem fenóis, cresóis e derivados do petróleo;
produzem lesões de contato e apresentam efeitos sistêmicos. Os fenóis
são utilizados como desinfetantes, cresóis e óleo são utilizados em casa
e na indústria.
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FATORES QUE DETERMINAM A GRAVIDADE

✔ Agente causal
✔ Concentração (profundidade da ferida)
✔ Volume (extensão)
✔ Duração de contato
✔ Mecanismo de ação do agente
✔ Poder de penetração
✔ A não irrigação imediata da ferida para diminuição da
concentração e duração de contato

O tratamento tardio aumenta a permanência do químico nos tecidos e


piora da queimadura

QUEIMADURA QUÍMICA – ÁLCALI (pH > 11.5)

A presença de substâncias alcalinas no tecido causa necrose por


liquefação ou desnaturação das proteínas, este tem maior poder de
difusão em profundidade dos tecidos, com grande capacidade de
penetração, de destruição tecidual por saponificação das gorduras e tem
necessidade de excisão tangencial precoce e várias escarotomias.
(Herndon, Total Burn Care 2007).
Nunca subestime o aspecto da lesão em uma abordagem inicial.
Agentes frequentes são o hidróxido de sódio, potássio (soda cáustica),
Carbonato de cálcio (cal), produtos para limpeza de forno,
encanamentos, fertilizantes, produtos de limpeza industriais e cimento
ou concreto (o pH do cimento molhado é igual a 12).

QUEIMADURA QUÍMICA – ÁCIDO (pH < 2)

Os ácidos causam necrose coagulação e precipitação das proteínas,


formando uma escara protetora, que impede a penetração em camadas
mais profundas.
São produtos que frequentemente estão em casa como o ácido clorídrico
em muitos produtos de limpeza de banheiros, o ácido oxálico e
clorídrico encontrado em tira-mofo e ácido clorídrico concentrado e
muriático nos produtos para limpeza de piso e a piscina, e na indústria
como o ácido Dodecilbenzeno Sulfônico, ácido Sulfúrico e ácido
fluorídrico.

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QUEIMADURA QUÍMICA – COMPOSTOS ORGÂNICOS

Causa dano cutâneo devido à ação de gorduras com ação solvente sobre
a membrana celular. Tem efeito sistêmico no fígado e nos rins.
Fenóis: desinfetantes químicos
Petróleo: creosoto, naftas

TRATAMENTO

Antes de ter contato com o paciente, faz-se necessário o uso de EPI como
luvas, capotes impermeável e proteção para os olhos, caso não sejam
seguidas precauções simples como estas, lesões podem ocorrer na
equipe de tratamento
O tratamento inicial consiste em retirar as roupas saturadas pelo agente,
incluindo as roupas íntimas, meias e sapatos, com destino adequado
para as roupas e pertences do paciente contaminados com as
substâncias.
Escovar a pele do paciente se o agente for em pó e, em seguida, irrigar
continuamente com abundância de água (chuveiro, banheira), nunca
por imersão. Não existe nenhum agente superior à água.
Não se deve tentar neutralizar o agente químico, isto pode ocasionar
uma reação exotérmica, com aumento da temperatura local e
aprofundamento da lesão. A irrigação deve continuar até que o paciente
tenha sensação de alívio com a diminuição da dor ou até que seja
avaliado em um centro de queimados. Se houver disponibilidade a
descontaminação ATIVA com solução anfotérica (Diphoterine).

Queimaduras químicas específicas

Lesões oculares por álcalis


As lesões por álcalis são mais comuns que as lesões por ácidos. Os álcalis
se unem às proteínas do tecido e requerem uma irrigação prolongada,
que deve ser iniciada no lugar do acidente, até se conseguir a diluição e
parar a progressão da lesão. Podendo ser feita com água ou solução
salina. O paciente pode apresentar edema e espasmos palpebrais.
Coloque cateter nos sulcos médio e irrigue continuamente com solução
salina ou água, podem ser úteis os anestésicos oftálmicos. Realize
irrigações prolongadas de forma que não caia água no outro olho. Se
necessário, forçar a abertura do olho para efetuar uma irrigação eficaz.

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Manter um gotejamento ocular contínuo com soro fisiológico até o
encaminhar o paciente para uma unidade de queimados. (Dispositivo
ocular de Morgan para irrigação contínua). Consulte o oftalmologista.

Queimadura química – ácido fluorídrico


O ácido fluorídrico é um ácido inorgânico mais reativo nos tecidos e o
que causa as lesões mais profundas.
É um produto de uso Industrial, sendo um ácido fraco, mas o íon de flúor
é muito tóxico, comporta-se como álcali causando necrose por
liquefação nos tecidos moles, com necrose tecidual, esta destruição
tecidual ocorre quando os íons flúor se combinam com as proteínas,
causando dor severa de 6 a 18 horas. Elimina o cálcio do plasma levando
à hipocalcemia, com descalcificação e corrosão dos ossos, a sua
atividade cessa quando o íon flúor se combina com íons de cálcio ou
magnésio obtendo-se o fluoreto de Ca ou Mg, que não são agressivos.
Altas concentrações colocam a vida em risco. O tratamento imediato é
uma abundante lavagem com água ou água com cloreto de benzalcônio.
Aplicar gel de gluconato de cálcio (1 ampola de gluconato de cálcio em
100g de creme ou gel lubrificante) e uma solução de gluconato de cálcio
a 10% injetada por via subcutânea e intralesional. Isso alivia a dor de
forma imediata. Alguns pacientes necessitam de infusão intra-arterial
de cálcio ou injeção subcutânea de gluconato de cálcio (abaixo da
escara), estas lesões ocorrem frequentemente nas mãos e dedos.
Ter sempre em mente que uma lesão de 2% da superfície corporal
não tratada nas primeiras 3 horas, pode ser fatal.
Consultar o centro de queimaduras.

Lesões por petróleo e derivados


Gasolina e diesel são produtos petrolíferos que causam danos aos
tecidos.
O contato prolongado com estes produtos, pelo processo conhecido
como "saponificação" pode causar uma queimadura química de
diferentes profundidades.
Caso absorvido de forma exagerada, estes hidrocarbonetos podem
causar insuficiência do órgão ou morte.
Essa insuficiência se manifesta entre 6 e 24 horas, com sinais de
insuficiência respiratória, hepática e finalmente renal.
Enzimas hepáticas se elevam após 24 horas.
Pode também ocorrer intoxicação por chumbo, caso o composto
contenha chumbo tetraetílico.

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CAPÍTULO 10: QUEIMADURA POR RADIAÇÃO

OBJETIVOS

✔ Explicar os fundamentos da radiação ionizante


✔ Descrever a patologia da queimadura por radiação ionizante
✔ Identificar queimaduras por radiação com ou sem contaminação
✔ Assinalar os princípios do manejo de pacientes vítimas de
queimadura por radiação com contaminação ou não

INTRODUÇÃO

A Radiação é a propagação da energia através do vácuo ou qualquer


meio material, podendo ser não ionizante, que a transferência de
energia não produz ions- como ondas de rádio, TV, micro-ondas e
infravermelho ou ionizante, que a transferência de energia retira
elétron de órbita e produz ions - como Raio –X, raio γ, β e α e nêutrons.
Na radiação ionizante energia retira elétron de órbita e produz íons,
podendo ser radiação eletromagnética, como os Raio –X e raio γ ou
radiação com partículas, como os Raio β e α e nêutrons.
A radioatividade é utilizada com uso médicos em diagnóstico e
terapêutico, uso industrial porá esterilização, fonte de energia e outros
e uso bélico ou terrorismo.
As radiações ionizantes podem ser de dois tipos: as de alta massa (alfa,
beta e prótons) e aquelas que são apenas energia (gama e raios-X). As
que não tem massa e não tem carga.
As partículas alfas têm alta carga, mas pouca penetração nos tecidos
(poucos microns). São produzidas por elementos de alto número
atômico.
As partículas betas são de duas classes: positivas ou negativas,
dependendo se a carga é positiva ou negativa. Estas radiações penetrar
cerca de 1 cm de tecido.
As partículas gama e os raios-X não têm massa nem carga, penetram
profundamente nos tecidos. Quando a vítima é retirada da fonte de
contaminação, a atividade cessa sem risco de contaminação secundária.
Prótons, nêutrons e mésons, são produzidos por aceleradores e outros
equipamentos de uso industrial ou médico. Reatores nucleares são os
principais produtores de nêutrons. Essas radiações podem penetrar
muito profundamente. Indivíduos expostos a altas doses de nêutrons,
tornam-se radioativos e a equipe de socorro deve ser protegida.

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FISIOPATOLOGIA

Os efeitos biológicos são causados por reações químicas induzidas pela


ionização ou excitação de átomos após a passagem de radiação pelo
tecido, causando danos por transferência de energia nas membranas
celulares e nucleares e DNA (ruptura de sua cadeia). Podendo causar
lesão direta ou indireta por radicais livres.
Os efeitos da radiação dependem:

✔ Da dose
✔ Do tempo de exposição
✔ Do tecido atingido (mais sensíveis são os que as células sofrem
mitoses frequentes e divisão celular, células menos diferenciadas
e mitoticamente ativas, como as células da medula óssea, pele e
mucosas).

Órgãos e tecidos submetidos a irradiação alteram o seu DNA celular. As


células podem ser: células troncos (células imaturas), células em
diferenciação e células maduras. As células maduras são as que menos
vulneráveis, ao contrário das células imaturas, que por sua grande
atividade mitótica são as mais vulneráveis a danos no aparelho de
reprodução celular.

A incapacidade de reprodução acaba por extinguir um grupo ou um tipo


de células. Logicamente, as células maduras de vida mais curta, em
órgãos que requerem frequentes mudanças, são aquelas que
apresentam manifestações clínicas mais precoces.
As células do sangue e da mucosa intestinal têm vida curta,
manifestações clínicas são a queda na contagem de células sanguíneas e
a presença de úlceras intestinais, mais evidentes quanto maior a dose de
radiação recebida. Em contraste, células musculares e nervosas são
muito mais resistentes à radiação, porém altas doses, superiores a 2000
RAD (20Gy), podem levar à morte por danos neurológicos.
Os efeitos biológicos são medidos pela dose de radiação absorvida (rad)
e pelo poder de penetração nos tecidos pela transferência linear de
energia (LET) que varia com cada tipo de radiação.
1gray(Gy)=100rad. O efeito biológico de 1gray (Gy) varia com cada tipo
de radiação sendo medido por Rem, que individualiza a capacidade de
transmissão linear de energia. Rem = dose em rad multiplicado pelo
fator de qualidade da radiação.

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Medidas do sistema internacional de medidas padronizam os efeitos
1 Sievert (sv)= 100 Rem; 1 Rem = 10msv
Sendo assim o efeito de 1 sv de raio γ = 1sv de raio X.

Tipos de reações da radiação ionizante:


✔ Aguda - Horas e semanas
✔ Tardia - Meses e anos
✔ Localizada
✔ Sistêmica
✔ Queimadura por lesão térmica
✔ Efeitos da radiação ionizante

Lesão localizada dos tecidos


Na pele:
Esta pode ter crises de reagudização, se a incidência for de:
✔ < 5Gy causa queimadura de 1º grau em duas fases- 1ª fase eritema
logo após ou horas por 2 a 3 dias- 2ª fase eritema após 2 a 3
semanas seguida de descamação.
✔ < 5Gy epilação temporária após 7 dias de radiação e permanente
com doses maiores.
✔ De 12 a 20 Gy causa queimadura de 2º grau após 3 semanas
✔ ≥ 25 Gy causa queimadura de 3º grau após semanas ou meses
Outras localidades: catarata, esterilidade e hipotireoidismo

Lesão sistêmica dos tecidos


✔ Síndrome de radiação aguda- após a irradiação de corpo inteiro
depois de horas da exposição, o paciente apresenta náuseas,
vômitos, cefaleia, fadiga, diarreia e febre.
✔ Síndrome hematopoiética- após exposição de 1 a 2 Gy,
apresentando pancitopenia, manifestações de infecção, anemia e
sangramento
✔ Síndrome gastrointestinal- após exposição de 10 a 12 Gy,
manifestando-se com náuseas, vômitos, cólica sangramento e
translocação bacteriana.
✔ Síndrome neurovascular após exposição de 15 a 30 Gy, com
colapso vascular imediato, vários sintomas neurológicos,
insuficiência respiratória e cardíaca e morte.
✔ Lesões por radiação

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O quadro resume as diferentes respostas orgânicas a diferentes doses
de radiação:

DOSE TOTAL RECEBIDA RESPOSTA


20 a 100 Rads.(0,2 a 1Gy) Diminuição de leucócitos circulantes.
Severa redução de leucócitos circulantes;
200 a 400 Rads (2 a 4 Gy) náuseas; vômitos e possível morte em 2 meses.
600 a 1.000 Rads (6 a 10 Destruição da medula óssea; diarreia e 30% de
Gy) mortalidade ao mês.
1.000 a 2.000 Rads (10 a Ulcerações gastrointestinais. Morte em 2
20 GY) semanas.
Morte em horas por lesão do sistema nervoso
>2.000 Rads (>20Gy) central.

Atendimento inicial

Deve-se identificar na triagem se houve exposição à radiação ionizante


com contaminante (Prótons, nêutrons e mésons) ou não (partículas
gama e os raios-X). Quando há suspeita de contaminação, o corpo inteiro
é examinado com um contador Geiger-Muller de janela delgada
conectado a um medidor de radiação (contador Geiger) para identificar
a localização e a extensão da contaminação externa.
Comunicar equipe de vigilância.
Utilizar equipamento de proteção individual antes do contato.
Nos casos de presença de contaminante, seguir o processo de
descontaminação e isolamento do paciente.
Se for possível determinar se o paciente recebeu menos de 100 Rads
(<1Gy), este deve ser avaliado e liberado.
Entre 100 e 200 Rads (1 a 2 Gy), requer hospitalização e observação por
2 ou 3 dias.
Se recebeu mais de 200 Rads (2Gy), deve ser tratado por alterações na
medula óssea.
Fazer o atendimento inicial do trauma ABCDE, pois as lesões por
radiação têm menor risco imediato que as outras lesões de trauma
Fazer exames hemograma para avaliação de função de medula óssea
As lesões de pele pela radiação são mais tardias, sendo as iniciais
decorrentes do trauma térmico associado.

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Tratamento

Nos casos de queimadura, deve-se seguir o tratamento habitual das


queimaduras
Fazer o suporte clínico conforme necessidade das queimaduras e nas
síndromes sistêmicas.
As queimaduras por radiação são geralmente lesões localizadas; em
geral são idênticas às queimaduras térmicas. A diferença está no tempo
entre a exposição e o surgimento das manifestações clínicas, que pode
ser de dias ou meses, dependendo da dose recebida.
Observar as particularidades das lesões de pele, feridas com
aparecimento de horas a meses, com períodos de reagudização, fazer o
manejo das feridas conforme necessidade (curativos, desbridamentos e
enxertia de pele)
As queimaduras por radiação não causam a contaminação das vítimas,
e não requerem proteções adicionais.

Desenvolvimento de um plano emergencial para vítimas por


radiação

Pessoal

A equipe de radiologia ou medicina nuclear de qualquer centro médico,


está familiarizada com a terminologia, e sistemas de detecção e
avaliação. Hospitais próximos a centros nucleares devem desenvolver
um plano emergencial.

Equipamento

Barato e fácil de preparar. O elemento mais caro é o detector de


radiação, o contador Geiger-Müller, mas é encontrado em qualquer
serviço de Medicina Nuclear.

Salas de descontaminação

Providenciar uma área para uso exclusivo do paciente contaminado,


com fácil acesso a partir do exterior, com pisos e paredes laváveis.
Todos os elementos utilizados devem ser descartados.

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As prioridades no tratamento de pacientes são:

✔ Salvar a vida.
✔ Prevenir lesões futuras.
✔ Descontaminar o paciente.
✔ Minimizar a exposição da equipe de atendimento.
✔ Evitar a disseminação dos elementos contaminantes.
✔ Prevenir danos ao equipamento hospitalar.

Contaminação externa

Suspeitamos de contaminação qualquer lesão presente na pele.


A descontaminação deve começar a partir das áreas queimadas em
direção às não queimadas. Realizada irrigando com água ou solução
fisiológica até a eliminação de todos os agentes contaminantes. Então
reavalie com um contador de radioatividade e caso não tenha sido
suficiente, é realizada a ressecção cirúrgica das áreas da pele envolvidas.
Isso requer uma unidade de queimados preparada para receber estes
tipos de pacientes.

O objetivo da descontaminação é prevenir os efeitos da radiação nos


tecidos e órgãos onde a mesma possa se acumular.

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CAPÍTULO 11: CIRURGIAS DE URGÊNCIA

OBJETIVOS

✔ Saber avaliar as queimaduras com indicação de tratamento


cirúrgico de urgência
✔ Saber indicar e técnica de escarotomias
✔ Saber indicar e técnica de fasciotomias

INTRODUÇÃO

Com a ocorrência de queimaduras de várias formas e profundidades, na


avaliação inicial a equipe deverá identificar as queimaduras que
necessitam de tratamento de urgência relacionadas à queimadura e ao
trauma. As cirurgias nas queimaduras agudas, preferencialmente,
devem ser realizadas por médico treinado das unidades de queimados.
As principais cirurgias iniciais são as escarotomias, as fasciotomias e
outras cirurgias relacionadas ao trauma. As queimaduras de terceiro
grau são inelásticas e quando circunferenciais não se expandem com o
edema, aumentando a pressão no ambiente abaixo da ferida, gerando
síndrome compartimental (redução da circulação vascular com
isquemia distal) ou síndrome restritiva de expansibilidade tóraco-
abdominal. As escarotomias são incisões nas lesões inelásticas até os
tecidos elásticos, pela profundidade e pela extensão, permitindo a
expansão do edema, com subsequente redução da pressão do ambiente
e expansão da parede toraco-abdominal. As fasciotomias são incisões
nas fáscias musculares, para reduzir a pressão do compartimento
muscular em decorrência do aumento da pressão pelo edema muscular
abaixo da fáscia, que é inelástica. Este aumento da pressão, geralmente,
é resultado de lesão elétrica de alta voltagem, infusão massiva de
líquidos endovenosos ou lesão por esmagamento.

Intervenções nas queimaduras nas extremidades

O acúmulo de líquido sob o tecido necrótico, não extensível, como


queimaduras de terceiro grau, provoca uma compressão dos vasos
sanguíneos e dos nervos.

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Para a manutenção da circulação periférica deve-se fazer intervenções
cirúrgicas:

Escarotomia - se o comprometimento estiver relacionado com


queimadura cutânea circunferencial
Fasciotomia - se houver elevação da pressão no compartimento
muscular

Todos os acessórios como anéis, relógios e pulseiras devem ser


retirados e se manter a elevação e mobilização dos membros, para
diminuir a formação do edema e evitar uma possível isquemia distal.
Deve-se avaliar a necessidade de escarotomia descompressiva, na
presença de qualquer dos seguintes sinais e sintomas:

✔ Queimaduras de terceiro grau circunferenciais no membro


✔ Cianose da pele ou extremidade distal não queimada, na presença
de uma queimadura profunda proximal
✔ Dor intensa do tecido profundo
✔ Parestesia progressiva ou déficit motor
✔ Diminuição da perfusão capilar ou perda de pulso, no paciente não
chocado

Fazer avaliações de hora em hora, O uso de um medidor de fluxo por


ultrassom doppler é o método mais seguro para determinar mudanças
no fluxo sanguíneo e verificar a eficácia da escarotomia. Medir o fluxo
arterial nas extremidades superiores (radial, cubital, arco palmar) e na
extremidade inferior (tibial posterior e pedioso). A diminuição
progressiva nos pulsos pelo Doppler pode indicar a necessidade de
escarotomia, mas deve-se verificar se a falta de pulso não é devido a
outra causa.
A escarotomia, em geral, é suficiente para manter a perfusão dos tecidos,
frequentemente, não se faz necessário fasciotomia, quando não se tem
comprometimento muscular.

A escarotomia pode ser realizada à beira do leito, mas com boa técnica
cirúrgica, escovação com antisséptico e campos cirúrgicos estéreis. Não
é necessário o uso de anestesia pois a queimadura de terceiro grau não
é sensível, porém a utilização de baixas doses de morfina por via
intravenosa é útil para controlar a ansiedade e dor.

Pode ser útil executar duas escarotomias, um em cada lado do membro


afetado, incisão médio medial e médio lateral, devendo-se atravessar a
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queimadura até o subcutâneo e estender no comprimento da
queimadura através das articulações envolvidas até áreas de
queimaduras elásticas, para permitir boa liberação do tecido necrótico,
que produz a constrição. Evitar lesões em estruturas nobres como
tendões, artérias e nervos, portanto um cuidado especial deve ser
tomado nas seguintes regiões:

⮚ Membro superior: passar pela frente do epicôndilo medial para


evitar lesão do nervo cubital.
⮚ Membro inferior: passar pela frente do maléolo medial para
evitar lesão tibial posterior. Passar pela frente da fíbula para
evitar lesão do nervo ciático poplíteo externo.
⮚ Em dedos: fazer incisão longitudinal e bilateral, na união do
começo das pregas Inter falangianas, para evitar a lesão vascular.

Revisar a efetividade da escarotomia com a abolição da dor profunda,


retorno do pulso e perfusão, podendo ser reavaliada pelo Doppler.

Nas queimaduras de mão e dedos

Indicação de escarotomia no dorso da mão:


✔ Perda do pulso do arco palmar
✔ Queimaduras de espessura total do dorso
✔ Pulsos cubitais e radiais intactos

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Indicação de escarotomia nos dedos, raramente são necessárias,
consulte um médico do centro de queimaduras.

Escarotomia do tórax

A frequência respiratória e a profundidade das inspirações requerem


monitoramento constante durante a reanimação. Quando houver uma
queimadura profunda circunferencial que impeça a expansão do tórax
ou abdome, deve ser realizada uma escarotomia longitudinalmente a
partir da linha axilar anterior, bilateralmente até a fáscia, sem abri-la, se
não for suficiente, conectar com incisões as duas linhas.

Escarotomia abdominal

As indicações das escarotomias abdominais são:

✔ Queimaduras profundas circunferenciais por todo o perímetro ou


quase todo o abdome
✔ Hipertensão intra-abdominal (HIA) presentes ou sinais
sugestivos de HIA, em decorrência das queimaduras abdominais.
✔ Síndrome compartimental abdominal
✔ Restrição respiratória, principalmente em crianças e mulheres

FASCIOTOMIA

Para a manutenção da circulação periférica, comprometida pela


elevação da pressão no compartimento muscular, deve-se fazer a
fasciotomia, que é um procedimento médico, feito por médicos
treinados e sob anestesia.

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A fasciotomia é feita através da incisão da pele, tecido celular
subcutâneo e fáscia subjacente, para descomprimir o músculo em
síndrome compartimental causado por:

✔ Lesão elétrica de alta voltagem


✔ Infusão massiva de líquidos IV
✔ Lesão por esmagamento
✔ Escarotomia tardia
✔ Lesão isquêmica com comprometimento muscular

Nas queimaduras de membros superiores poderá ser necessária a


liberação do túnel do carpo. Nas queimaduras dos membros inferiores
poderá haver comprometimento de quatro compartimentos.

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CAPÍTULO 12: ESTABILIZAÇÃO, ENCAMINHAMENTO E
TRANSPORTE

OBJETIVOS

✔ Aprender os critérios de transferência da SBQ


✔ Aplicar os protocolos de estabilização antes da transferência
✔ Conhecer os procedimentos apropriados para uma transferência

INTRODUÇÃO

Todos os pacientes com queimaduras térmicas, elétricas ou químicas


requerem avaliação em uma unidade de saúde, caso esta não possua
condições para o tratamento ou o paciente entre nos critérios de
internação em unidade de queimados, este deverá ser removido para
um hospital geral ou para uma unidade de queimados, a depender do
caso.
A equipe de saúde deve avaliar o paciente, e providenciar a
transferência, quando necessária.
O paciente deve sempre ser avaliado, com investigações primárias e
secundárias, visando a identificação de possíveis lesões associadas,
Todos os procedimentos efetuados devem ser registrados e informados
ao destino do paciente, enviar todas as informações possíveis sobre o
caso, como história, exame físico, exames laboratoriais e procedimentos
realizados.
Recomenda-se sempre saber qual o centro de queimados que é
referência para a região e ter um fluxo pré-determinado para os
pacientes queimados, que permita agilidade burocrática.
Sempre estabelecer o contato prévio com a Unidade de queimados.

CRITÉRIOS DE GRAVIDADE E TRANSFERÊNCIA

A SBQ identifica maior gravidade de alguns casos e preconiza a


transferência para centros de tratamento de queimaduras, porém o
avaliador, sempre, deve utilizar bom senso e fazer a individualização de
cada caso, nas seguintes condições com risco maior de complicações
importantes:

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✔ Queimaduras de 2º grau SCQT ≥ 10%
✔ Queimaduras de áreas especiais: face, mãos, pés, genitais, períneo,
grandes articulações e circulares em membros, tórax, abdome ou
pescoço
✔ Queimaduras de 3º grau
✔ Queimaduras elétricas (inclusive as causadas por raios)
✔ Queimaduras químicas e radioativas
✔ Lesões por inalação ou suspeitas
✔ Queimaduras acompanhadas de enfermidades pré-existentes
✔ Queimaduras acompanhadas por trauma onde a queimadura
apresenta risco de vida
✔ Queimaduras em crianças nos hospitais sem serviço pediátrico
✔ Pacientes com necessidades sociais, emocionais ou de reabilitação

Os pacientes que se encontram em ambas as extremidades de vida


apresentam maior risco.

Os centros de tratamento de queimados, que tem uma equipe


multiprofissional treinada, apresentam melhores resultados, obtendo
um menor tempo de internação, menos sequelas estéticas e funcionais,
e com uma reintegração social mais rápida e eficaz.

Estabilização e preparação para a transferência

Uma vez tomada a decisão de transferir o paciente, é essencial que o


paciente esteja clinicamente estável. O principal já foi descrito em
outros capítulos, mas vale a pena lembrar:

✔ Estabilização respiratória: manter permeabilidade das vias


aéreas superiores. Avaliar vias aéreas inferiores com possível
lesão inalatória. Administrar oxigênio umidificado a 100% em
caso de suspeita de intoxicação por monóxido de carbono (CO)
sob máscara facial não reinalante ou intubação se for indicada.

✔ Estabilização Hemodinâmica: Colocar acesso intravenoso de


grosso calibre, num local sem queimadura e iniciar infusão de
líquidos seguindo a fórmula. Instalar cateter urinário no grande
queimado e medir diurese horária no adulto de 0,5 a 1
ml/kg/hora e crianças com peso < 30kg : 1ml/kg/hora. Em caso
de lesão elétrica: manter uma diurese mais elevada de 75 – 100
ml/hora.
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✔ Estabilização Gastrointestinal: não administrar alimentos
antes nem durante a transferência. Utilizar sonda nasogástrica, se
o paciente estiver intubado. Administrar protetores gástricos e
antieméticos se a remoção for demorada.

✔ Cuidados com a Queimadura: Proteja as feridas para evitar a


perda de calor, use mantas térmicas isoladas, cubra com lençóis
limpos e secos. Não use lençóis ou bandagens molhadas.
Não atrase a remoção para se fazer desbridamentos ou
curativos oclusivos.

✔ Estabilização da Dor: Iniciar o tratamento da dor após início da


hidratação, sempre utilize analgésicos por via intravenosa
(Dipirona), se for necessário utilize pequenas doses de opióides
venosos, sempre com doses individualizadas e fazendo o controle
respiratório.

✔ Imunização Antitetânica: Fazer logo que o paciente estiver


hemodinamicamente estabilizado. Seguir protocolo do
Ministério da Saúde na profilaxia do tétano. Esta deverá ser feita
antes de 72h. Peça o comprovante de vacinação para evitar a
omissão de vacinas.

✔ Documentação: é recomendável encaminhar documentos e


relatório com história clínica detalhada com as circunstâncias da
lesão, agente causal, exame físico, reanimação, procedimentos e
exames feitos, tratamento e medicações administradas com as
doses e horários. Anexar os exames realizados. O paciente deve
ser acompanhado por um familiar adulto durante a transferência.

Processo de transferência

O contato telefônico médico a médico é essencial. Assim, o médico que


receberá o paciente terá as informações necessárias para dar
continuidade ao atendimento.
O médico que vai transferir, fornece informação, história e os resultados
dos exames primários
A decisão da transferência é uma colaboração entre os médicos que
estão atendendo, o paciente e a equipe médica do Centro de Queimados.
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Transporte

Escolher o meio de transporte mais adequado para cada situação,


podendo ser terrestre, aéreo, fluvial ou marítimo. Deve ser realizado por
pessoal treinado e preparado com a equipe, medicamentos, material e
equipamentos adequados à estimativa da duração e gravidade do
paciente.
O médico que transfere o paciente se responsabiliza pelo mesmo até que
chegue ao destino.
Em todos os casos pediátricos é necessária a presença de um familiar
adulto.
Encaminhar os dados da denúncia policial correspondente, nos casos de
violência.

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CAPÍTULO 13: ATENDIMENTO EM ACIDENTE COM MÚLTIPLAS
VÍTIMAS COM QUEIMADURAS/CATÁSTROFE

OBJETIVOS

✔ Identificar e classificar os acidentes com múltiplas vítimas com


queimaduras
✔ Familiarizar-se com as estratégias de abordagem de acidentes
com múltiplas vítimas
✔ Aprender formas de triagem nos acidentados
✔ Conscientizar-se da necessidade de se ter plano regional de
assistência a acidentes com múltiplas vítimas

INTRODUÇÃO

Os acidentes com múltiplas vítimas com queimaduras são situações que


podem acontecer em qualquer localidade, de forma acidental ou
intencional, pela natureza ou pelo homem.
O menor número de desfechos ruins dependerá da forma em que for
feita a abordagem da catástrofe, com identificação da situação, medidas
de segurança, resgate, triagem e remoção dos pacientes.
A maior parte do cuidado inicial é realizada longe do Centro de
Queimados.
Muitas vezes o número de vítimas excede o número de leitos disponíveis
na região.
Todos os serviços de saúde devem ter esquema para atuação em
acidentes com múltiplas vítimas e ser de conhecimento de todos

ACIDENTES COM MÚLTIPLAS VÍTIMAS

Muitas vezes as informações chegam às unidades de queimados ou aos


serviços de emergência, pelos acidentados ou parentes à procura destes,
pela equipe de resgate ou pela mídia.
No início há muita desinformação, informações imprecisas,
desencontradas e falsas.
A Resposta à uma comunicação de desastre deve ser seguida por
confirmação da ocorrência, início ao enfrentamento da catástrofe,
organização e coordenação da operação e encaminhamento para o
destino final das vítimas.
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Confirmação da ocorrência

Verificar a informação com autoridades responsáveis com os seguintes


dados:
✔ Quando aconteceu
✔ Local
✔ Como aconteceu (tipo do acidente)
✔ Gravidade das vítimas
✔ Possível contaminação e risco de contaminação da equipe
✔ Possíveis lesões associadas- politraumatismo, inalação de fumaça
ou gases tóxicos
✔ Estimativa de pessoas expostas
✔ Estimativa do número das vítimas

Início ao enfrentamento da catástrofe

Após confirmação das informações, classificar o desastre relacionando-


se o número de vítimas com a capacidade de assistência:

✔ Pequeno Porte- Quando a unidade de emergência local tem


condições de atender às emergências, sem alterar sua rotina
diária.
✔ Médio Porte- Quando o acidente obriga o hospital local a
desencadear um plano de mobilização e expansão de sua
capacidade de atendimento emergencial.
✔ Grande Porte- Quando o acidente exige a mobilização de mais de
uma instituição hospitalar e recursos de saúde na região de saúde
à qual pertence a área afetada.
✔ Muito Grande Porte- Quando é necessário que sejam agregados
reforços sanitários de outras regiões de saúde, do Estado, do país
ou recursos internacionais.

Organização e coordenação da operação

Deve ser criada uma central de coordenação dos trabalhos (com


bombeiros, equipes médicas, polícia, defesa civil, equipe técnica de
socorro) com:
✔ Comando geral
✔ Comando local

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✔ Estrutura de comunicação
Coordenando as ações das equipes, conforme o tipo de catástrofe:

✔ Resgate
✔ Segurança
✔ Força médica de socorro
✔ Equipe técnica de socorro

CENTRAL DE OPERAÇÕES

Resgate e segurança

Resgate - Retirar as vítimas das áreas de risco e levá-las para o local da


triagem, feito por bombeiros, equipes técnicas ou voluntários

Segurança - Garantir a segurança para o resgate e remoção, com:


✔ Avaliação de riscos
✔ Isolamento local
✔ Proteção das equipes
✔ Regulação de tráfego

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✔ Divisão de áreas para passagem de carros dos bombeiros,
ambulâncias e pouso e decolagem de helicópteros
✔ Designar área de descontaminação, de triagem, de tratamento, de
vítimas de menor gravidade e necrotério temporário
✔ Área de triagem com locais específicos para os pacientes triados
em cores

Força médica de socorro

A equipe médica de urgência deverá ser organizada e encaminhada para


o local do evento e as equipes médicas hospitalares deverão ser
acionadas e solicitado reforço da equipe, conforme a magnitude de
catástrofe.

Equipe local deverá fazer:

✔ Triagem das vítimas para início do tratamento e remoção.


✔ Iniciar tratamento e estabilização das vítimas e designar pacientes
para a remoção.

A equipe médica da emergência do hospital deve fazer o atendimento


primário, secundário e das unidades especializadas com queimados,
cirurgias de trauma, neurocirurgia e outras.

Equipe técnica de socorro

Equipe técnica é responsável por:


✔ Identificar fatores de risco local, que podem comprometer a
segurança das equipes (de resgate, triagem, tratamento e
remoção) e formas de proteção da equipe e acidentados.
✔ Avaliar a presença de contaminantes (químicos, radioativos e
outros) e de variáveis ambientais ameaçadoras (chuvas, vento,
lavas de vulcão, desabamentos, vulnerabilidade do local do
evento).
✔ Operacionalizar os fluxos de resgate e remoções (Informações
sobre trânsito, alternativas de rotas, mapeamento de destinos
etc.).

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Triagem

A triagem é importante para assegurar o funcionamento do sistema de


saúde e reduzir o número de mortes evitáveis.
É um processo contínuo até que o último paciente seja encaminhado e
atendido.
Sempre deve ser refeita periodicamente, conforme a evolução dos
pacientes.
Identificação dos pacientes triados por cor, conforme a gravidade e
viabilidade.

Triagem primária:
✔ Local do acidente
✔ Área de triagem local –pelo médico e equipe
✔ Triagem para prioridade de remoção.
Triagem secundária:
✔ No local
✔ No hospital de urgência
✔ Na Unidade de tratamento de queimados

Tipos de triagem

Métodos simples, objetivos, padronizados e rápidos.


Correlacionados com o estado geral dos pacientes e com o seu
prognóstico de evolução.
Facilmente aplicáveis por equipes treinadas.
Classificação conforme a prioridade de atendimento, em função da
gravidade e das expectativas de sobrevivência.

Métodos de triagem

Inicial na zona quente:


✔ Método S.T.A.R.T (Simple, Triage, And, Rapid, Treatment- Triagem
simples e tratamento rápido)
No Posto Médico Avançado e no intra hospitalar:
✔ Método C.R.A.M.P (Circulação, Respiração, Abdome, Motilidade,
Palavra)..
✔ Triagem médica- ABCDE- trauma e pela superfície corporal
queimada.
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Sistema de prioridades na triagem por cor

Prioridade 1 - Para os pacientes muito


graves, em situação de risco iminente, mas viáveis (pacientes de alto
risco).- IMEDIATA

Prioridade 2 - Para os pacientes graves e


viáveis, mas que não se encontram em situação de risco iminente
(feridos graves). URGENTE em até 4 horas

Prioridade 3 - Para os pacientes


extremamente graves, em situação de risco iminente e inviáveis
(moribundos) – EXPECTANTE

Prioridade 4 - Para os pacientes sem


gravidade, que não se encontram em situação de risco e que podem
aguardar seu atendimento, sem perigo de agravamento (feridos leves) –
PRIORIDADE MÍNIMA

Área de triagem

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Triagem múltiplas vítimas S.T.A.R.T.

Pode ser realizado por bombeiros e voluntários treinados.

Triagem pelas queimaduras

A triagem feita pelas queimaduras deve ser feita após a triagem inicial
pelo método S.T.A.R.T e leva em consideração o paciente com melhor
prognóstico, que se beneficia com o tratamento especializado em
unidades de queimados, que correlacionam a extensão da superfície
corporal queimada (SCQ) em porcentagem, a idade, presença de lesões
por inalação e condições clínicas gerais, que devem ser adequadas a
capacidade de resposta ao acidente com múltiplas vítimas.

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Triagem rápida de queimaduras

Sempre nas triagens deve-se pensar na capacidade de resposta do local


onde ocorreu o acidente com múltiplas vítimas com queimaduras, desta
forma existem alguns fluxos que devem ser adequados a cada situação,
sempre são considerados, pelas estatísticas os grupos de pacientes que
têm o menor risco de morte em relação a todos os grupos, se forem
atendidos em unidades de queimados ou em hospitais gerais. Estudos
mostram que, em condições normais, um paciente idoso, maior que 65
anos de idade, com queimaduras acima de 33% SCQ tem risco de morte
de 50%, quanto a um adulto jovem tem risco de 50% de morte quando
as queimaduras são superiores a 75% SCQ. Desta forma, em acidentes
com múltiplas vítimas de médio porte em diante, os idosos com
queimaduras acima de 40% SCQ similares a de um jovem, o jovem terá
menor risco de morte e deverá ser atendido antes do idoso.

FATORES A SEREM CONSIDERADOS PARA TRIAGEM COM PIOR


PROGNÓSTICO:

Idade:
- ≥70 anos
- 60 69 anos
- 50 59 anos
- 40 50 anos
- <40 anos
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Superfície corporal queimada:
- ≥ 80% SCQ
- 70 79% SCQ
- 60 69% SCQ
- 50 59% SCQ
- 40 49% SCQ
- 30 39% SCQ
- <30% SCQ
Queimadura inalatória
Associação com outros traumas:
-TCE, múltiplas fraturas, choque hemorrágico

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CAPÍTULO 14: PREVENÇÃO DE QUEIMADURAS

OBJETIVOS

✔ Identificar as queimaduras mais frequentes e suas incidências e


como preveni-las
✔ Familiarizar-se com as formas de prevenção de queimadura e
suas complicações
✔ Capacitar-se para disseminação das medidas preventivas das
queimaduras

INTRODUÇÃO

Em geral, no Brasil, 95% das queimaduras não são acidentais, sendo


relacionadas a negligência ou imperícia de terceiros ou do próprio
paciente, sendo altamente preveníveis. A população infantil é a mais
atingida. A maioria das queimaduras ocorrem nos domicílios ou no
trabalho, sendo as crianças, idosos, portadores de deficiências e pessoas
de baixo nível socioeconômico são as mais vulneráveis. A prevenção é a
melhor ferramenta de redução da incidência das queimaduras, pois a
queimadura pode matar e deixar marcas para sempre.
É fundamental o conhecimento das normas de segurança para se evitar
as queimaduras, como medidas simples podem ser tomadas em nosso
dia a dia para evitar grandes catástrofes.
A maioria das queimaduras são causadas por calor, como líquidos
superaquecidos e chamas.

Principais tipos de queimaduras:

✔ Queimaduras por líquidos quentes/escaldadura (água fervente,


chá, café, leite e etc).
✔ Queimaduras por fogo ou chamas (álcool, gasolina ou outro
líquido inflamável, fogos de artifício e incêndio).
✔ Queimaduras por superfícies quentes - objetos e/ou metais
quentes (utensílios de cozinha quentes ou ferros de passar).
✔ Queimaduras por eletricidade (fios elétricos de alta ou baixa
tensão, tomadas elétricas e descargas elétricas como raio).
✔ Queimaduras por produtos químicos (produtos de limpeza de
vaso sanitário domésticos, pesticidas e outros produtos
químicos).
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Perigos na cozinha

O agente que com maior frequência ocasiona queimadura nas crianças


pequenas é o líquido superaquecido responsável pela escaldadura. Esse
trauma geralmente ocorre dentro de casa, mais especificamente na
cozinha, onde as crianças ficam perto de suas mães durante o preparo
dos alimentos.

Cozinha é o local onde mais acontecem queimaduras com crianças, estas


não podem ficar na cozinha e nem mexer no fogão ou fornos.
A cozinha é um local cheio de armadilhas, como facas e produtos de
limpeza.

Cuidados na cozinha:
✔ Cozinhe nas bocas de trás do fogão e sempre com os cabos das
panelas virados para dentro.
✔ Prefira fogões que podem ser presos na parede, assim, não podem
virar.
✔ Dê preferência a fogões que tenham a tampa do forno dupla, para
não esquentar muito e queimar a mão.
✔ Muito cuidado com a panela de pressão, mantenha sempre a
válvula limpa, ela pode se transformar em uma bomba!

Cuidados com os botijões de gás:


✔ Jamais mexa com fogo próximo a um botijão de gás.
✔ Sempre desligue o gás quando sair de casa.
✔ Se sentir cheiro de gás: afaste-se imediatamente, não acenda a luz,
desligue o gás e ventile o ambiente.
✔ Não deixe crianças mexer em lampiões de gás, nem brincar perto
ou com um botijão de gás.
✔ Instale o botijão longe do fogão ou qualquer outra fonte de calor.
O ideal é que fique fora de casa, separado por uma parede.
✔ Para verificar vazamentos, use espuma de sabão ou detergente no
bico, caso haja vazamento formará bolhas!

Os líquidos inflamáveis são muito perigosos, sendo o álcool responsável


por matar muita gente ou deixar marcas terríveis pela vida toda!

Cuidados com os líquidos inflamáveis, principalmente como álcool:


✔ Não use álcool perto de crianças e ensine desde cedo que é
perigoso.
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✔ Nunca use álcool perto de algo que esteja ou tenha estado em
chamas, pois muitas vezes pensamos que o fogo acabou, mas não,
o vapor do álcool pode sair da garrafa e ir em direção ao fogo e
explodir.
✔ Nunca use álcool para acender churrasqueira, use sempre um
acendedor.
✔ Para a limpeza de casa, há sempre um produto melhor.
✔ Quando for utilizar o álcool para higienização das mãos, na
impossibilidade de lavá-las com água e sabão, sempre, utilize em
pequenos volumes e longe do fogo, apesar do álcool ter ajudado
no combate contra o COVID-19, este aumenta o risco de
queimaduras.
✔ Guarde líquidos inflamáveis e produtos de limpeza, em locais
limpos, arejados e altos, longe do alcance das crianças.

Lugar de criança é fora da cozinha!

Cuidados com as crianças:


✔ Mantenha as crianças longe da cozinha e do fogão, principalmente,
durante o preparo das refeições; sempre que possível, utilize uma
cancela ou grade, isolando a cozinha do resto da casa.
✔ Ensine e reforce sobre os perigos de queimaduras na cozinha.
✔ Use protetores de fogão para evitar que a criança tenha acesso às
panelas.
✔ Evite cuidar, ficar perto ou carregar as crianças no colo enquanto
mexe em panelas no fogão ou manipula líquidos quentes.
✔ Fique longe das crianças, quando estiver ingerindo ou segurando
líquidos quentes.
✔ Evite o uso de toalhas de mesa compridas, as crianças podem
puxar e derrubar alimentos quentes sobre si.
✔ Não deixe as crianças brincarem por perto quando você estiver
passando roupa ou utilizando outro aparelho que produza calor,
ao utilizá-los, desligue, tire da tomada e os guarde longe do
alcance das crianças.
✔ Não deixe objetos metálicos ou pontiagudos (facas, garfos, etc.) ao
alcance de crianças, pois elas podem utilizar para enfiar em
tomadas.
✔ Deixe as comidas e líquidos quentes no centro da mesa, longe do
alcance das crianças.

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✔ Evite brinquedos com elementos de aquecimento, como baterias
e tomadas elétricas, para crianças com menos de oito anos, pois
estes podem causar queimaduras.
✔ Proteger as tomadas com tampas apropriadas, esparadrapo, fita
isolante ou mesmo cobertas por móveis.
✔ Durante o banho do bebê, coloque primeiro a água fria e verifique
a temperatura da banheira, imergindo a mão inteira na água,
espalhando os dedos e movendo a mão por toda a extensão da
banheira, para ter certeza de que não há nenhum ponto muito
quente; teste a temperatura da água.

Cuidados com eletricidade:


✔ Verifique sempre o estado das instalações elétricas.
✔ Substitua as fiações antigas e desencapadas.
✔ Os fios devem ficar isolados em locais adequados, como canaletas
e conduítes e longe do alcance das crianças.
✔ Evite ligar vários aparelhos eletrônicos em uma mesma tomada.
✔ Evite usar benjamins ou extensões. Muitos aparelhos ligados no
mesmo dispositivo podem causar sobrecarga e curto-circuito na
fiação.
✔ Cuidado com eletrodomésticos em mau estado de conservação,
como ventiladores e geladeiras. Eles podem causar choque e
curto-circuito. Se possível, faça revisões ou a troca desses
produtos.
✔ Antes de consertos e reformas em sua casa, desligue a chave geral.
Dê preferência para os serviços de um eletricista.
✔ Considere a instalação de um dispositivo de proteção residual
(DR), no quadro de distribuição de energia elétrica, que tem a
função de cortar a vazão de corrente elétrica que causam choques.
✔ Siga as normas de segurança dos padrões de eletricidade
estabelecidos pela companhia de eletricidade de sua cidade. Não
realize alterações sem solicitar autorização da empresa.
✔ Nunca encostar, inclusive com objetos, nos fios de alta tensão.
✔ Orientar as crianças para não soltar pipa próximo da rede elétrica

Cuidados com substâncias químicas:


✔ As queimaduras químicas estão relacionadas à acidente de
trabalho ou uso inadequado de substâncias químicas, geralmente
produtos de limpeza;

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✔ Não misture produtos químicos ou de limpeza, esta nova mistura
pode ser nociva e mais tóxica do que os itens sozinhos.
✔ Evite o uso de produtos de limpeza sem qualquer garantia de
qualidade e segurança.
✔ Identifique os produtos de limpeza que você não utiliza mais e
descarte-os.

Cuidados nas festas juninas:


✔ Fogos de artifício devem ser manipulados por profissionais e
nunca por crianças. Lembre-se que não há fogos inocentes;
✔ Não permita brincadeiras com balões ou de saltar fogueira.
✔ Sempre apague o braseiro no fim da festa. Isto evitará que as
crianças queimem os pés no dia seguinte.
✔ Durante a festa junina, enquanto os adultos estão fora de casa,
cuide para que as crianças não tenham acesso livre à cozinha.
✔ Evite fogueiras altas, pois elas desmoronam, durante a queima,
podendo causar acidentes.
✔ Jamais tente pular fogueira, mantenha sempre distância para não
ter perigo das fagulhas e faíscas caírem na sua roupa.
✔ Não faça um fogo que não pode apagar, evite locais onde uma
fogueira pode começar um incêndio.
✔ Nunca acenda fogueiras usando álcool, use acendedor próprio e
nunca deixe produtos inflamáveis próximos das fogueiras.
✔ Nunca solte balões, eles são muito perigosos e proibidos por lei. É
crime, podendo causar grandes incêndios e ainda atrapalhar a
rota dos aviões.
✔ Não brinque com bombinhas e rojões.
✔ Mexer com pólvora é coisa de especialista, é um perigo. Além de
causar queimaduras, pode incendiar plantas, matas e casas.
✔ Fique longe de onde estão soltando os fogos de artifício.
✔ Não utilizar fogos de artifício, caso faça, siga as normas de
segurança e instruções do produto.

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MÓDULO 15: EQUIPE MULTIDISCIPLINAR (EMD)

OBJETIVOS

✔ Entender a importância do trabalho em equipe, para o tratamento


integral do paciente queimado
✔ Entender a importância de cada membro da equipe no tratamento
✔ Quais são os profissionais mínimos da equipe para as primeiras
24 horas
✔ Como deve atuar cada membro da equipe

INTRODUÇÃO

O fator isolado mais importante no tratamento do paciente queimado e


funcionamento de um centro de tratamento de queimados é a
organização de uma equipe interdisciplinar altamente treinada,
dedicada e que tenha especial atenção pelos pacientes queimados. A
interdisciplinaridade da equipe é fator decisivo na elaboração do
Projeto Terapêutico (PTS), pois propicia o diálogo nas discussões
clínicas-cirúrgicas, tomada de decisões, determinação das prioridades e
divisão do trabalho, centrado no paciente.
Na equipe interdisciplinar, que cuida do paciente queimado, todos
necessitam assumir um papel terapêutico que inclua o paciente
individualmente, como um indivíduo único, com sua história, suas
preferências, medos, limites e capacidade de superação (potencial de
vida) da situação na qual se encontra.
Tratamento com equipe interdisciplinar aumenta a sobrevida do
paciente.

Composição da equipe interdisciplinar:

✔ Equipe de enfermagem (enfermeiros e técnicos)


✔ Equipe médica (clínicos, pediatras, intensivistas, cirurgiões
plásticos, anestesiologistas e outros)
✔ Fisioterapia
✔ Fonoaudiologia
✔ Farmácia
✔ Nutrição
✔ Psicologia
✔ Assistência social
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✔ Professor ou pedagogo
✔ Terapia ocupacional

Relação com familiares/paciente

Os familiares devem ser vistos como parte da equipe para comunicação


de informações, compartilhamento de decisões terapêuticas, controle
de ansiedades. Desta maneira, o paciente se sentirá acolhido, com um
papel ativo, terá menos dúvidas sobre seu tratamento e será o
protagonista da sua recuperação como paciente proativo.

A equipe interdisciplinar usando as ferramentas de Qualidade e


Segurança:

✔ São de extrema importância as visitas e as discussões clínicas-


cirúrgicas diárias com participação de toda a equipe.
✔ Nas visitas, de forma prática, podemos usar o método mnemônico
“FAST HUG”.
✔ Deve ser realizado durante a visita médica e sempre que o
paciente seja visto por algum membro da equipe.

Método fast hug

Método simples, de fácil memorização de alguns aspectos fundamentais


dos cuidados gerais de todos os pacientes críticos “FAST HUG” - Dê um
Abraço Rápido no seu Paciente - Jean-Louis Vincent, MD
Devem ser realizados, pelo menos, uma vez por dia, durante a visita
médica ou sempre que o paciente seja visto por algum membro da
equipe.

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TRABALHO EM EQUIPE

ENFERMAGEM

✔ É o maior segmento da equipe do centro de queimaduras


✔ Responsável pelo cuidado diário do paciente
✔ Está envolvida com os pacientes e suas famílias e geralmente
formando um vínculo de confiança, melhorando a satisfação dos
pacientes e da equipe
✔ Costuma ser o primeiro a identificar e chamar a atenção para
alterações do paciente

Os primeiros cuidados

✔ Oxigenioterapia,
✔ Monitorização (SV)
✔ Cateterismo vesical
✔ Cateterismo venoso
✔ Medicações
✔ Curativo
✔ Prevenção da úlcera de pressão

EQUIPE MÉDICA

Composto por várias especialidades como:

✔ Cirurgia plástica: Acompanha o paciente da fase aguda ao


ambulatório
✔ Avaliação Inicial da queimadura
✔ Escarotomia
✔ Fasciotomia
✔ Desbridamento
✔ Eleição dos curativos
✔ Substituto Cutâneos
✔ Autoenxertia

Clínica médica: Tem o conhecimento e a experiência necessários para


lidar com os desafios apresentados pelas mudanças fisiopatológicas do

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paciente queimadura e a capacidade de compensar o estresse de
qualquer cirurgia.

✔ Reposição volêmica
✔ Monitorização hemodinâmico
✔ Suporte Ventilatório
✔ Controle do hipermetabolismo
✔ Alívio da dor e do prurido
✔ Prevenção das infecções
✔ Prescrição

Pediatria: As crianças, principalmente < 2 a, apresentam peculiaridades


na fisiologia que podem representar desvantagens significativas quando
sofrem uma queimadura.
Monitorização específica e prescrição individualizada.
Além dos médicos especialista em terapia intensiva adulta e pediátrica,
anestesiologia e especialidades de apoio como infectologia,
dermatologia, cirurgia vascular, nefrologia e outros.

✔ O médico é o chefe da equipe.


✔ Determina com a equipe a programação do tratamento clínico e
cirúrgico.
✔ Realiza os procedimentos específicos.

FISIOTERAPIA

✔ Fisioterapia motora com mobilização precoce, posicionamento,


fortalecimento e mobilização desde o primeiro dia da admissão do
paciente.
✔ Fisioterapia respiratória com assistência no manejo das vias
aéreas, avaliação da gasometria arterial, otimização das
configurações do ventilador mecânico.

TERAPIA OCUPACIONAL

✔ Trabalha em estreita colaboração com o paciente e sua família


para ajudar o paciente a se adaptar às atividades da vida diária,
maximizar sua independência.

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✔ É necessária uma habilidade técnica e criativa considerável para
construir e adaptar itens para atender às necessidades
particulares de um paciente.

NUTRIÇÃO

✔ Monitora as necessidades nutricionais do paciente.


✔ Fornece regime de alimentação para atender às demandas em
constante mudança.
✔ Faz avaliação nutricional das condições médicas pré-existentes,
desnutrição, má absorção, doenças dentárias, dependência de
drogas e alcoolismo, que podem afetar o estado nutricional.
✔ Implementa alimentação enteral precoce.

PSICOLOGIA

✔ Devido à natureza devastadora causada por queimaduras, é vital


que seja prestado apoio psicológico aos pacientes, muitos dos
quais experimentam uma reação de luto pela perda de sua
imagem corporal.
✔ Esse cuidado é essencial para facilitar a recuperação física de um
paciente.

ASSISTÊNCIA SOCIAL

✔ Atuação na intervenção na história social, acidentes de trabalho,


violência e maus tratos.
✔ Contato com escola, familiares.
✔ Participa dos rounds e reuniões de família.

PEDAGOGIA - PROFESSOR

✔ Faz acompanhamento pedagógico.


✔ Faz contato com a escola para adquirir informações escolares do
paciente e dar continuidade nas disciplinas.
✔ Estimula o paciente ao retorno de atividades escolares.
✔ Auxilia no retorno à escola após alta.
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FARMÁCIA

✔ Atuação na regulação de estoque de medicamentos e materiais.


✔ Dispensação de medicações.
✔ Aconselhamento medicamentoso.

FONOAUDIOLOGIA

✔ Atua nas queimaduras de face.


✔ Avalia, previne e trata alterações de mímica facial, fala e
deglutição.
✔ Acompanhamento após extubação.

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CAPÍTULO 16: ATUAÇÃO DA ENFERMAGEM NO CTQ

OBJETIVOS

✔ Destacar a Intervenção de enfermagem nos diversos tipos de


queimaduras, na sala de emergência
✔ Revisar as medidas fundamentais para o primeiro atendimento
intra-hospitalar enfatizando protocolos já existentes (TRAUMA)
✔ Apresentar técnicas de curativos adequados na fase aguda da
queimadura nas diferentes localizações do corpo
✔ Revisar conceitos básicos de gerenciamento do cuidado ao
paciente queimado

INTRODUÇÃO

A equipe de enfermagem é o maior segmento da equipe do centro de


queimaduras, responsável pelo cuidado diário do paciente.
Está envolvida com os pacientes e suas famílias e geralmente formando
um vínculo de confiança, melhorando a satisfação dos pacientes e da
equipe. Costuma ser o primeiro a identificar e chamar a atenção para
alterações do paciente.
Atua na sala de emergência fazendo avaliação primária e secundária dos
pacientes, executando procedimentos, fazendo a gestão do cuidado e
curativos.

AVALIAÇÃO PRIMÁRIA E SECUNDÁRIA

Assim como a equipe médica, a equipe de enfermagem segue o


protocolo do trauma com avaliação e intervenções no ABCDE.

A - VIAS AÉREAS
✔ Reconhecer os sinais de obstrução de VAS (estridor, uso de
musculatura respiratória acessória, dificuldade respiratória,
hipoventilação, dispneia)
✔ Administrar oxigênio por máscara facial com reservatório não
inalante
✔ Providenciar material para Intubação
✔ Preparar material para traqueostomia caso o paciente apresente
impossibilidade de ser entubado
✔ Fazer a montagem do ventilador mecânico (manutenção dos
parâmetros).
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O edema severo pode obstruir as vias aéreas em qualquer momento.

Cuidados:
✔ Manter posicionamento no leito (cabeceira elevada de 30 a 45
graus) atentando para imobilização cervical em caso de lesão
traumática associada.
✔ Aspirar secreções de VAS
✔ Nebulizar segundo prescrição médica
✔ Instalar monitores como oxímetro de pulso (monitorar a
saturação de O2)
✔ Providenciar gasometria

B – RESPIRAÇÃO (BREATH do inglês)


✔ Reconhecer os sintomas de envenenamento por inalação de
fumaça tóxica, como dor de cabeça, leve confusão, enrijecimento,
transtornos visuais, desorientação, náuseas, irritabilidade, enjoo,
vômitos, taquipnéia, taquicardia, convulsões ou coma.
✔ Reconhecer queimaduras circunferenciais profundas de tronco,
como dificuldade de expansão torácica, por compressão ou
queimaduras profundas circunferenciais.

Cuidados:
✔ Preparar material para escarotomia caso necessário
o Instrumental cortante
o Campos estéreis
o Lâminas de bisturi
o Eletrocautério
o Fio de sutura
o Compressas e gases
✔ Administrar oxigênio por máscara facial com reservatório não
inalante, quando houver suspeita de intoxicação por monócido de
carbono.
✔ Acompanhar Broncoscopia.
✔ Na intoxicação por cianeto: Providenciar o antídoto venoso a
Hidroxicobalamina.

C – CIRCULAÇÃO
✔ Verificar os sinais vitais (choque)
✔ Monitorizar o paciente
✔ Fazer o ECG, nas queimaduras elétricas ou quando necessário.
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✔ Iniciar Balanço hídrico, com medida de diurese horária.
✔ Observar a perfusão das extremidades nas queimaduras
circunferenciais.
✔ Observar ritmo e frequência do pulso
✔ Puncionar veia periférica (preferencialmente duas veias
calibrosas, com Jelco, em cintura escapular, em área não
queimada)
✔ Preparar material para punção venosa profunda
✔ Conhecer os parâmetros necessários para a hidratação (peso,
SCQ) iniciando com Ringer Lactato “morno”.
✔ Providenciar os analgésicos, é importante saber a ação dos
principais sedativos e analgésicos usados rotineiramente e saber
identificar seus principais efeitos colaterais.
✔ Administrar medicamentos injetáveis endovenosos prescritos e
assim como os medicamento intramuscular (vacina antitetânica)
✔ Passar cateter vesical de demora

D – DÉFICITS
✔ Avaliar e tratar traumas
✔ Avaliar alterações neurológicas
✔ Identificar sinais de abuso de álcool ou outras substâncias,
hipóxia ou intoxicação por CO, traumatismo crânio-encefálico e
condições médicas pré-existentes

E- EXPOSIÇÃO
✔ Fazer exposição completa do corpo com retirada de vestes e
acessórios, sempre com controle ambiental, pois o paciente tem
alto risco de hipotermia
✔ Todo o corpo deve ser examinado (frente e verso).
✔ Avaliar características das lesões|queimaduras (intencionais,
maus tratos)
✔ Avaliar áreas nobres comprometidas (olhos, orelhas, face,
pescoço, região genital e inguinal, mãos, pés, grandes articulações
como ombros, axilas, cotovelos, punhos, coxofemorais, joelhos e
tornozelos)
✔ Identificar queimaduras profundas, (osso, músculo, tendão, nervo
e/ou vaso desvitalizado)

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PROCEDIMENTOS NO PRIMEIRO ATENDIMENTO

As principais metas relacionadas com o manejo de queimaduras


consistem em:

✔ Avaliação rápida da gravidade da queimadura


✔ Instituição de medidas para salvar a vida do indivíduo
gravemente queimado
✔ Prevenção de incapacidade e desfiguração e reabilitação

Principais procedimentos:

Evolução de enfermagem
A evolução da enfermagem deverá conter:
✔ Data e hora do acidente
✔ Data e hora do atendimento
✔ Causa e mecanismo de lesão

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✔ Profundidade da queimadura
✔ Procedimentos realizados (Punção venosa, sondagem
nasogástrica, Cateterismo vesical, abordagens cirúrgicas, etc)
✔ Sinais vitais
✔ Profilaxia de tétano
✔ Diurese horária

O primeiro atendimento hospitalar em grandes queimados deve ser


pautado no protocolo do trauma, o ABCDE deve ser repetido. Sempre
atentar para o edema de face e sinais de insuficiência respiratória,
manter o check list de material necessário para intubação ou
traqueostomia. Prever procedimentos cirúrgicos de urgência.
O manejo da dor deve ser avaliado no sentido de alívio e diminuição da
ansiedade.
Após acesso venoso o objetivo é prevenir o choque, para isso manter
rigoroso controle da diurese como um dos parâmetros de tratamento.
Tratar os traumas associados.
Nas áreas nobres tomar precauções para evitar sequelas futuras
Durante a exposição das áreas queimadas, investigar a origem das
lesões (intencionais, acidente de trabalho, etc....).
Finalizar o atendimento fazendo registros e anotações no prontuário

GESTÃO DO CUIDADO

Gerenciamento do primeiro atendimento:

✔ Executar trabalho em equipe com engajamento de todos os


profissionais envolvidos.
✔ Utilizar ferramentas de gestão: Comunicação eficaz,
conhecimento e participação dos passos a serem dados.
✔ Instituir o plano terapêutico.
✔ Seguir rotinas adaptadas ao atendimento, focado nas
especificidades do paciente queimado.
✔ Todos devem seguir os protocolos: de Controle de infecção,
Acesso de pessoas, Uso adequado de EPI.
✔ Seguir os planos de contingência: Treinados e conhecidos por
todos.
✔ Seguir os planos de emergência para atendimento a múltiplas
vítimas com queimaduras: Triagem adequada, reconhecimento
dos riscos aos agentes contaminantes.
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✔ Manter a integração com o sistema regulador para providências
nas transferências cabíveis.

CURATIVOS

O cuidado local das queimaduras visa:


✔ Proteger a superfície da ferida
✔ Manter um ambiente úmido
✔ Promover a cicatrização da lesão
✔ Limitar a progressão da queimadura
✔ Minimizando o desconforto ao paciente

Seguir as rotinas com:


✔ Preparo do ambiente
✔ Preparo de material estéril
✔ Material cortante
✔ Preparo da equipe
✔ Preparo do paciente
✔ Providenciar soluções degermantes (PVPI, clorexidine ou PHMB)
e curativos e coberturas

Curativos e coberturas

O cuidado local nas queimaduras visa proteger a superfície da ferida,


manter um ambiente úmido, promover a cicatrização e limitar a
progressão da queimadura, minimizando o desconforto ao paciente
Uma variedade de agentes antimicrobianos pode ser aplicada na
superfície da queimadura visando a prevenção de infeção.
As trocas de curativo devem ser frequentes o suficiente para controlar
o exsudato, desde que não interfiram na reepitelização da ferida.
Queimaduras profundas (espessura parcial profunda, espessura total),
requerem excisão da lesão e cobertura com enxerto de pele.
O gerenciamento do cuidado do paciente queimado deve envolver todos
os profissionais de saúde nas diferentes especialidades, com foco nos
protocolos de segurança e qualidade para o êxito do tratamento e rotina
do setor.

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Controlar o crescimento bacteriano usando-se agente antimicrobiano
tópico.

A escolha das coberturas devem ser conforme tipo da ferida, quantidade


de transudação ou exudação, frequência de trocas, restrições dos
movimentos, conforto, o estado clínico do paciente, com estimativas de
manuseio e trocas, assim como disponibilidade, custos e benefícios.

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Fazer curativos secundários após a aplicação da cobertura escolhida,
que devem ser contensivos e frouxos, que permitam a expansão pelo
edema nas primeiras 24 horas.

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Cuidados com queimaduras na face:
✔ Avaliar possibilidade de queimadura de VAS
✔ Fazer a limpeza com lavagens suaves diárias
✔ Manter a cabeceira elevada de 30 a 45 graus
✔ Evitar a secagem excessiva ou dessecação da ferida
✔ Geralmente o curativo é o ABERTO com aplicação de cremes ou
outra cobertura individualizada para o paciente
✔ Manter a atenção na fixação de tubos

Cuidados com queimaduras nas orelhas:


✔ Fazer a limpeza diária
✔ Aplicar pomadas ou cremes
✔ Atenção com pressão externa no ouvido, evitar curativos
apertados sem proteção das orelhas e manter cuidados com
fixação de tubos, para não comprimir as orelhas

Cuidados com queimaduras nos olhos:


✔ A gravidade da queimadura ocular está diretamente relacionada
com a duração da exposição ao agente causador e a exposição da
córnea sem a proteção das pálpebras, frequentemente o edema
palpebral inclui naturalmente os olhos
✔ Fazer o acompanhamento e avaliação de oftalmologista
✔ Nas queimaduras químicas fazer lavagem abundante

Cuidados com queimaduras nas mãos:


✔ Curativos individualizando todos os dedos
✔ Quando indicados, os enxertos de pele total tem melhor resultado
estético e funcional
✔ Para melhor posicionamento algumas vezes é necessário o uso de
órteses
✔ Manter as mãos elevadas

Cuidados com queimaduras nos pés:


✔ Fazer a individualização dos dedos
✔ Avaliar frequentemente biomecânica do caminhar

Cuidados com queimaduras no períneo:


✔ Fazer limpezas diárias e curativos diários
✔ Avaliar utilização de Cateter vesical
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CAPÍTULO 17: ATUAÇÃO DA FISIOTERAPIA NO CTQ

OBJETIVOS

✔ Definir condutas na ocorrência de trauma direto de vias aéreas


✔ Definir condutas imediatas na suspeita/confirmação de lesão
inalatória
✔ Estabelecer parâmetros ventilatórios iniciais
✔ Recomendar posicionamento adequado e mobilização precoce

INTRODUÇÃO

A equipe de fisioterapia tem um papel importante, com decisões clínicas


e intervenções precoces, que evitam o agravamento do quadro clínico
Avaliação inicial. Desde o primeiro atendimento e na admissão do
paciente com mobilização precoce, posicionamento e fortalecimento,
dando assistência no manejo das vias aéreas, com avaliação da
gasometria arterial, otimização das configurações do ventilador
mecânico.
Pontos importantes no tratamento inicial:

✔ Avaliação inicial
✔ Oxigenioterapia
✔ Manutenção da permeabilidade de vias aéreas
✔ Estratégia de VM protetora
✔ Posicionamento e mobilidade

Avaliação inicial:

✔ Fazer a anamnese completa com história detalhada da


queimadura com identificação do agente causal, data e hora da
ocorrência, se houve inalação de fumaça se a queimadura
aconteceu em ambiente aberto ou fechado.
✔ Fazer o mapeamento topográfico das lesões
✔ Identificar se houve acometimento de áreas nobres, articulações,
vias aéreas, se houve lesão inalatória ou comprometimento da
expansibilidade torácica.

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Oxigenioterapia:

✔ Na suspeita ou confirmação de inalação de monóxido de carbono


ou cianeto, ofertar O2 com fluxo de 15l/min na máscara com
reservatório não reinalante nas primeiras 4h.
✔ Atenção para a oximetria de pulso.

Na intoxicação por monóxido de carbono (CO) deve-se instituir Oxigênio


(O2) em alta fração nas primeiras 4 horas, porque o CO tem 250 vezes
maior afinidade pela hemoglobina que o O2 e altas concentrações de O2
desvia a curva da oxihemoglobina. Reduzindo a meia vida da
carboxihemoglobina.

Manutenção das vias aéreas

As queimaduras extensas e profundas em face e pescoço têm maior risco


de formação de edema e evoluir para obstrução de vias aéreas
superiores. Deve-se identificar:
✔ Sinais e sintomas de edema e obstrução de vias aéreas como
estridor laríngeo, odinofagia, tosse ineficaz, rouquidão,
queimadura de vibrissas, sobrancelhas e cílios.
✔ Incapacidade de proteger vias aéreas.
Para manutenção das vias aéreas pode ser necessária a utilização de
ventilação não invasiva, com a progressão do edema das vias aéreas
poderá ser necessária a intubação oro traqueal.
Condutas após a intubação oro traqueal:
✔ Ausculta pulmonar
✔ Simetria da expansibilidade torácica
✔ Fixação protetora da COT e confirmação da RL
✔ Acoplamento ao VM: estratégia protetora e individualizada
✔ Gasometria arterial e RX
✔ Monitorização
Estratégia protetora:
✔ VC: 4 a 6 ml/Kg
✔ Peso predito:

✔ Inicie com o modo ventilatório que a equipe possui maior


expertise
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✔ Após as primeiras 6 horas, titule FIO2/SpO2
✔ Platô < 30 cmH20
✔ DP < 15 cmH20

Posicionamento e mobilidade:
✔ Elevação da cabeceira 30-45º (risco de edema de vas) após
exclusão de trauma em coluna vertebral.
✔ Elevação dos membros queimados acima da linha cardíaca.
✔ Extensão das grandes articulações.
✔ Posição funcional das mãos

Fluxograma da atuação do fisioterapeuta na sala de emergência

LESÃO INALATÓRIA

Alterações na presença de lesão inalatória:


✔ Broncoespasmo
✔ ↓ Complacência: colapso alveolar e alteração da V/Q
✔ ↑ Resistência
✔ Perda clearance mucociliar
✔ Hipoxemia < 60mmHg com FiO2 > 40%
✔ Hipercapnia > 45 mmHg

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Fisioterapia respiratória na lesão inalatória:
✔ Avaliação diária da mecânica ventilatória
✔ Avaliação diária de RX
✔ Avaliação diária da gasometria
✔ Alterações de parâmetros ventilatórios
✔ Condução da VM
✔ Despertar diário
✔ Desmame da VM
✔ Eliminação de toda fuligem e escarro carbonáceo com toalete
brônquica

A nebulização com Heparina 5000 U com N. Acetil-cisteína, de 4 em 4


horas por sete dias, reduz a gravidade da injúria pulmonar e a duração
do tempo de ventilação mecânica.
Na lesão inalatória em ventilação mecânica manter estratégia protetora
e individualizada com:

✔ VC: 4 a 6 ml/Kg – baseado no peso predito


✔ 6 primeiras horas pós inalação de fumaça, FiO2 a 100% e após 6
horas, titular FIO2/SpO2
✔ Pressão de platô < 30 cmH20
✔ DP < 15 cmH20
✔ Evite assincronias

Posicionamento

A manutenção do posicionamento do paciente queimado tem como


objetivo prevenir e tratar sequelas motoras e algumas complicações
como. Para a manutenção do posicionamento pode-se utilizar órteses,
talas, almofadas, colchões, cadeiras, estruturas para apoios, trações
dentre outros recursos individualizados a cada paciente e pela
disponibilidade do serviço de saúde.

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A figura a seguir detalha o posicionamento funcional para os pacientes
queimados:

Posicionamento cervical
✔ Hiperextensão, para prevenção de sequela mentotorácica por
retração fibrótica à flexão
✔ O uso do colar cervical favorece a diminuição de depósito de
fibrina e colágeno, com consequente diminuição da instalação de
cicatriz hipertrófica.

Posicionamento do membro superior


✔ Abdução de ombro
✔ Extensão de cotovelo
✔ Supinação de antebraço
✔ Extensão de 20º de punho

Posicionamento da mão
✔ Flexão de 60º das metacarpofalangeanas
✔ Extensão das interefalangeanas
✔ Adução e flexão de polegar
✔ Concha palmar com separação interdígitos
✔ Manter a funcionalidade com mobilização
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Posicionamento do membro inferior
✔ Leve abdução de quadril
✔ Joelho em extensão
✔ Posição neutra sem rotações
✔ Pés em dorsiflexão

Mobilização precoce
A mobilização precoce é a “atividade física realizada dentro dos
primeiros dois a cinco dias da doença crítica ou injúria”
Na UTQ é essencial pois os pacientes podem perder a função e a
flexibilidade rapidamente.

Objetivos da mobilização precoce


✔ Melhorar a função respiratória
✔ Aumentar os volumes pulmonares
✔ Melhorar a capacidade de remoção da secreção
✔ Reduzir os efeitos da imobilidade
✔ Aumentar a independência funcional ou minimizar sua perda
✔ Melhorar o condicionamento cardiovascular

Progressão das atividades


✔ Mudança de decúbito e posicionamento funcional
✔ Mobilização passiva
✔ Exercícios ativoassistidos e ativos
✔ Cicloergômetro
✔ Sedestação
✔ Ortostatismo
✔ Transferências
✔ Deambulação

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CAPÍTULO 18: ATUAÇÃO DA NUTRIÇÃO NO CTQ

OBJETIVOS

✔ Descrever as principais alterações metabólicas no paciente


queimado
✔ Identificar as vias de alimentação mais indicadas e o momento
adequado de início da alimentação
✔ Identificar possíveis ajustes de rotina que favorecem a nutrição do
paciente

INTRODUÇÃO

O trauma resultante de uma queimadura gera grandes alterações


metabólicas mediadas por hormônios, imunomediadores e várias
outras substâncias, que causam um ativação da cascata inflamatória,
com perda hídrica e nutrientes, hipermetabolismo, imunossupressão,
alterações no funcionamento do aparelho digestório, com redução de
motilidade gastrointestinal, da absorção de nutrientes, alteração da
flora intestinal dentre outras, que somados com fatores deletérios do
tratamento dos pacientes queimados, como hospitalização e períodos
de Jejum prolongados, submissão a procedimentos cirúrgicos,
anestésicos e curativos frequentes, uso de analgésicos, antibióticos e
hemocomponentes e hemoderivados, imobilizações no leito, que
favorecem ao desenvolvimento da desnutrição, A atuação da equipe de
nutrição na terapia nutricional mudou o prognóstico dos pacientes
grandes queimados nas últimas décadas, sendo esta atuação vital para
estes pacientes.

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Fisiopatologia resumida

Alterações metabólicas

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Avaliação inicial pelo nutricionista

Avaliar:
✔ Função respiratória, estado mental e sinais vitais
✔ Extensão da queimadura
✔ Idade do paciente
✔ Local e profundidade da queimadura
✔ Lesões associadas
✔ Doenças pré-existentes
✔ determinação do agente causal

Avaliação nutricional inicial


A avaliação deve ser feita nas primeiras 24-48h utilizando as
ferramentas viáveis no momento e ampliando a avaliação conforme
evolução do paciente, lembrando que o edema causado pelas
queimaduras pode alterar o peso, as pregas cutâneas, as circunferências
e a bioimpedância. Deve-se utilizar o peso usual do paciente antes da
queimadura.
Avaliar:
✔ Estatura
✔ Peso
✔ Dobras cutâneas
✔ Circunferências
✔ BIA- bioimpedância
✔ Alergia/intolerância alimentar
✔ Regularidade intestinal
✔ Capacidade de mastigação/deglutição
✔ albumina/pré-albumina/trasnferrina 🡪 alteradas pela demanda
metabólica
✔ Calorimetria indireta é padrão ouro (ESPEN, 2016)

Conforme ASPEN (2016):


Quando nutrir?
A nutrição deve ser iniciada nas 6-12 primeiras horas após o evento.
Como nutrir?
Se a ingestão pela via oral for inferior a 60% deve-se iniciar
imediatamente com a utilização da via por SNE, devendo ser iniciada em
baixo volume com preferência para fórmulas de alta densidade calórico-
proteica.
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Importante - A via oral deve ser mantida sempre que possível! Mesmo
que a ingesta seja apenas para estímulo da via e que sejam utilizados
recursos como auxílio da equipe de enfermagem, utilização de canudos,
adaptações de talheres, consistências modificadas dentre outras.

Necessidades nutricionais

O cálculo do valor Energético:


✔ ASPEN (2016) preconiza a calorimetria indireta apenas
✔ ESPEN (2013) preconiza calorimetria indireta como padrão ouro
✔ Utiliza-se as fórmulas para estimativa das necessidades

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Importante - Iniciar a nutrição mesmo que as metas nutricionais ainda
não tenham sido calculadas, considerando a tolerância do paciente!

Necessidade de proteínas
✔ ESPEN (2013)
1,5-2,0 g/kg em adultos
1,5-3,0g/kg em crianças
✔ ASPEN (2016)
Meta mais importante na terapia nutricional
✔ GLUTAMINA - Espen, 2013 0.3 -0,5 g/kg/dia
Se %SCQ ≥ 30% deve-se usar 0.5 g/kg, se a %SCQ <30% -0,3g/kg

Necessidade de carboidratos
✔ ESPEN (2013)
55-60% do total de calorias 7g/kg/dia, não exceder 5mg/Kg/min

Necessidade de lipídios
✔ ESPEN (2013)
Até 35%, pois os queimados não metabolizam bem excesso de
lipídios.

Necessidade de micronutrientes
ESPEN (2013) e ASPEN (2016)
Déficits nutricionais são observados ao final da primeira semana, por
isso o aporte já nos primeiros dias torna-se importante, os principais
nutrientes depletados são o zinco, cobre, selênio, vitaminas B1, C, D e E.
Necessidade de vitamina C é de 1,5- 3 vezes maior.
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Fibras
ESPEN (2013) e ASPEN (2016)
A suplementação de fibras deve ser iniciada o mais breve possível, na
dose de 20-30g/dia
As dietas laxativas, já no início da internação, podem ser benéficas
devido à alta incidência de constipação intestinal, principalmente pela
perda de líquidos para o interstício e uso de opioides, porém a função
intestinal deve ser avaliada diariamente.

Orientações importantes:
Na fase inicial há diminuição da peristalse e aumento de náuseas, com
consequente diminuição da aceitação, deve-se pensar na adição de
suplementos e avaliação de ajustes da consistência e volume conforme
a aceitação do paciente. Nos casos de disfagia deve-se ter uma avaliação
do fonoaudiólogo.
As consistências das dietas são classificadas por alterações físicas dos
alimentos.

Nomenclatura pode diferir segundo referências sendo as mais


utilizadas:
✔ Normal ou geral
✔ Branda
✔ Pastosa
✔ Semi-líquida
✔ Líquida
o Líquida completa
o Líquida restrita
o Líquida sem Resíduos
o Líquida de Prova

Exemplos de preparações das consistências mais utilizadas:


✔ Branda
o Folhosos cozidos
o Carnes assadas, cozidas ou grelhadas
o Legumes
o Frutas cozidas, assadas, em pasta ou sucos
o Pastelaria ao forno
o Bolo simples
o Sorvete de fruta ou cremosos, pudim,
o Sopas
o Feijão, arroz, macarrão

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o Chá, mate e água de côco
o Leite e derivados

✔ Pastosa
o Folhosos e legumes bem cozidos em forma de purê, creme
ou suflê
o Arroz “papa”
o Feijão liquidificado
o Carnes desfiadas ou moídas
o Frutas em forma purê ou sucos
o Pães e biscoitos macios
o Queijos cremosos, iogurte e leites enriquecidos
o Cereais e leguminosas bem cozidos e em forma de purê ou
creme

✔ Semi-líquida
o Sucos de frutas ou vegetais
o Caldo de carnes ou vegetais
o Chá, mate ou café
o Leite, mingau, iogurte ou coalhada
o Purê de legumes (mais dissolvido)
o Frutas em papas, purê ou liquidificadas
o Sopas espessas, liquidificadas ou cremes
o Sorvetes, pudins, cremes ou doces em pasta
o Feijão liquidificado
o Creme de arroz
o Carnes bem trituradas
Obs.: pode ser necessário espessantes

✔ Líquida Completa
o Sucos de frutas ou vegetais
o Caldos de carnes, legumes ou leguminosas
o Leites enriquecidos
o Gelatina, geléia de mocotó, iogurte natural, pudim, sorvetes
o Sopas liquidificadas
o Vitaminas, sucos, mingaus, iogurtes
o Sorvete, gelatina

Observações constantes:
✔ Avaliação diária da ingestão dietética contemplando todas as
etapas
✔ Avaliação diária de náusea, êmeses e distensão
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✔ Cuidado com a avaliação de PA, lembrar que a cetamina eleva PA
e os pacientes podem ter picos hipertensivos após balneoterapia.
Avaliar a necessidade de dieta hipossódica.
✔ Acompanhar sempre a dosagem de sódio, potássio, ureia,
creatinina, albumina, PCR, FC, FR e temperatura. Obs.: Na fase
inicial os resultados de alguns exames podem estar alterados
devido à hemoconcentração.

Jejum no paciente queimado


Causas mais comuns:
✔ Cirurgias
✔ Balneoterapia
✔ Exames
✔ Desvinculação de horários das refeições e despertar do paciente
✔ Náuseas
✔ Êmese
✔ Transferências longas

Possíveis consequências do jejum são hipoglicemias, desidratação,


desnutrição, pior resposta imunológica, dentre outras. Para se reduzir
pode seguir algumas orientações como:
✔ Ajustar os horários da rotina do setor
✔ Utilizar suplementos nutricionais em horários alternativos que
melhor se ajustem ao paciente.
✔ Optar por suplementos com maior densidade calórica e proteica.
✔ Utilizar módulos de nutrientes como, por exemplo, módulo de
proteína.
✔ Ajustar a consistência da dieta ao longo do dia.
✔ Utilizar protocolo de abreviação de jejum sempre que possível.

Nas transferências prolongadas dos pacientes enviar, sempre que


possível, junto ao paciente que recebe alimentação via oral, kit lanche
ajustado à consistência da alimentação que o paciente tolera para que
possa ser consumido durante a transferência. O kit deve ser composto
por alimentos que não necessitem de refrigeração, sejam de fácil
manuseio e não ofereçam alimentos que aumentem as chances de
náuseas. Para pacientes disfágicos, adaptar do kit deve ser feito junto à
fonoaudiologia.

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CAPÍTULO 19: ATUAÇÃO DA FONOAUDIOLOGIA NO CTQ

OBJETIVOS

✔ Entender sobre a intervenção fonoaudiológica no manejo da


disfagia
✔ Entender sobre a intervenção precoce na motricidade orofacial
✔ Saber identificar as alterações vocais e lesões inalatórias

INTRODUÇÃO

As alterações da motricidade orofacial, da deglutição e da voz, causadas


pela queimadura, por suas complicações e procedimentos, que os
pacientes queimados são submetidos, podem ser fatores importantes
para complicações aumentando a morbimortalidade das queimaduras,
com aumento do tempo de internação, podendo deixar sequelas graves.
Atuação da equipe de fonoaudiologia precoce, de forma preventiva e
com enfoque na reabilitação das sequelas funcionais do sistema
estomatognático e do aparelho fonador, melhoram o prognóstico dos
pacientes queimados, também contribuindo no aspecto da cicatrização
e promovendo uma melhora da qualidade de vida e da imagem corporal.

Alterações a serem abordadas pela equipe de fonoaudiologia

Os pacientes que têm maior risco de complicações e que a atuação do


fonoaudiólogo é fundamental são:
✔ Queimaduras de face, cervical e tórax
✔ Lesão por inalação ou ingestão
✔ Pacientes com traqueostomia
✔ Intubação orotraqueal por períodos >48h
✔ Idade avançada (maior risco de disfagia)

As áreas de atuação do fonoaudiólogo com pacientes queimados são:


✔ Disfagia
✔ Alteração da motricidade orofacial
✔ Alteração da voz

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Disfagia

A disfagia, frequentemente é decorrente de alteração na biomecânica da


deglutição, disfagia mecânica e disfagia neurogênica.

O fonoaudiólogo, sempre, deve fazer a avaliação clínica da deglutição,


nos pacientes com possibilidade de terem disfagia, como segue:

✔ 24h após extubação


✔ Paciente com lesões de face
✔ Suspeita de lesão inalatórias
✔ Traqueostomizados

A avaliação clínica da deglutição tem como objetivo:


✔ Minimizar risco de broncoaspiração
✔ Reintrodução segura da alimentação por via oral
✔ Retirada da SNE

O plano terapêutico:
✔ Fazer adequações de consistências dos alimentos
✔ Fazer manobras de proteção e limpeza
✔ Fazer e ensinar exercícios ativos de força e de coordenação da
deglutição
✔ Treinar a deglutição

Alteração da motricidade orofacial

As alterações da motricidade orofacial estão presentes nos casos de


diminuição da mímica facial, retração cicatricial faciais e cervicais e
alteração de articulação de fala.
Avaliação clínica da motricidade orofacial:
✔ Utilizar protocolo de avaliação da mímica facial
✔ Fazer a avaliação da fala
✔ Avaliar a mobilidade e extensão cervical

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Intervenção fonoaudiológica na motricidade orofacial
✔ Executar a regulação da musculatura orofacial
✔ Fazer alongamentos
✔ Fazer massagem cicatricial na ferida fechada, no sentido contrário
a cicatriz

Alterações da voz
As alterações da voz estão presentes nos casos de alterações
decorrentes da intubação orotraqueal (IOT), lesão inalatória e
traqueostomia.
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A avaliação da qualidade da voz deve ser nos pacientes com:
✔ Suspeita de lesão inalatória
✔ Ausência de fonação
✔ Qualidade vocal rouca
✔ Presença de traqueostomia

Intervenção vocal deve ser feita com:


✔ Solicitação de avaliação instrumental como laringoscopia,
nasofibroscopia ou broncoscopia
✔ Exercícios ativos para cooptação glótica
✔ Adaptação de válvula de fala e deglutição

CONSIDERAÇÕES FINAIS

A abordagem fonoaudiológica deve ser feita de forma individualizada e


precoce, com objetivo de diminuir o risco de broncoaspiração e
minimizar as sequelas das queimaduras nas regiões cervicais e faciais,
com avaliação e terapia baseada em evidências científicas, fazer a
reabilitação para minimizar as sequelas e sempre articulada com a
equipe multiprofissional e família, para melhores resultados.

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CAPÍTULO 20: ATUAÇÃO DA PSICOLOGIA NO CTQ

OBJETIVOS

✔ Familiarizar-se com a rotina de psicologia hospitalar nos centros


de queimaduras
✔ Entender os procedimentos adaptáveis à cada realidade
hospitalar, as rotinas e ações dos psicólogos nos centros de
queimaduras
✔ Entender a importância de equipe multiprofissional nos centros
de queimados

INTRODUÇÃO

Devido à natureza devastadora causada pelas queimaduras, o paciente


queimado é submetido a grandes sofrimentos, conflitos e incertezas,
com mudanças da imagem corporal, sofrimento físico e psíquico, em um
tratamento prolongado e doloroso, gerando ansiedade e incertezas
sobre seu futuro, inclusive uma reação de luto pela perda de sua imagem
corporal. A atuação da equipe de psicologia nos centros de tratamento
de queimaduras é fundamental e indispensável, gerenciando o estado
mental dos pacientes, ansiedade e tolerabilidade à dor, interação com
familiares e equipe de saúde envolvidos no tratamento e na reabilitação
psicológica, social e física destes pacientes.
Esse cuidado é essencial para facilitar a recuperação física de um
paciente.

“Psicóloga (o) hospitalar desenvolve sua prática voltada para atuação


com pacientes, familiares e equipes. No entanto, tem seu trabalho
permeado por uma instituição e, ao mesmo tempo, em que está
submetido a gestão institucional, também tem a função de gerir a
própria atuação do serviço de Psicologia. Nesse sentido, faz-se relevante
a sistematização dos serviços de Psicologia nos hospitais. ”
(Conselho Regional de Psicologia Hospitalar do Paraná- Considerações
sobre assistência, ensino, pesquisa e gestão de Psicologia,2016, p.64).

De acordo com Silveira (2010, p. 45), “a sistematização da assistência


diz respeito ao planejamento, organização e gerenciamento das rotinas,
ou seja, a forma como se realizam as atividades”

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(SILVEIRA, A. M. V. Estudo do campo da psicologia hospitalar calcado
nos fundamentos de gestão: estrutura, processos e resultados. -
Programa de Pós-Graduação em Psicologia, Pontifícia Universidade
Católica de Minas Gerais, 2010. p.45).

Atribuição do psicólogo

Atuar na frente assistencial da instituição hospitalar, oferecendo


assistência a todos os pacientes com Queimaduras, atuando, de forma
setorial e como integrante da equipe multiprofissional, buscando
promover a saúde mental do paciente e familiar, diante do episódio da
queimadura e hospitalização, exercendo acolhimento, tratamento e
encaminhamentos e discutindo propostas terapêuticas, se necessário.
Sistematizar e organizar os dados das atividades do setor, em relatórios
gerenciais, para informar os respectivos gestores, além de contribuir
para estudos longitudinais da prática da Psicologia Hospitalar.

Procedimentos adaptáveis a cada realidade hospitalar

Destaca-se que, devido à complexidade da queimadura e do tratamento


do paciente queimado, recomenda-se o acompanhamento psicológico
de todos os pacientes, tendo maior atenção aqueles que apresentam
alguma questão específica identificada pelo psicólogo ou equipe
multiprofissional ou vulnerabilidade.

Atividades assistenciais:
✔ Os atendimentos do psicólogo são realizados a partir da
solicitação da equipe multiprofissional e por identificação de
demanda, pelo psicólogo, os quais ocorrem individualmente ou
em grupo, com pacientes e/ou familiares.
✔ A evolução clínica da Psicologia Hospitalar é feita em prontuários
médicos e registro interno do setor, através de impressos
próprios, para este fim.

Registro das atividades assistenciais:


✔ O registro também deve ocorrer, através da realização de Visitas
e discussões Multiprofissionais, integrando as práticas e
identificando possíveis demandas da Psicologia Hospitalar, em
impresso próprio para esta atividade.
✔ Estes dados devem ser transformados em Indicadores seriados
para avaliação e planejamento.

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Rotinas do psicólogo no CTQ adaptáveis a cada realidade
hospitalar

Atividades do serviço de psicologia:

✔ Deve funcionar de segunda a sexta-feira. Nos finais de semana e


feriados, o trabalho da Psicologia Hospitalar, deve ficar
disponível, através de plantões, à distância e, se necessário for, o
plantonista deverá comparecer ao hospital.

As demandas do serviço de psicologia são classificadas como a


orientação familiar, a vulnerabilidade social, os conflitos e novos
vínculos familiares, a resistência e medo do tratamento, solicitação de
visita médica por angústia e ansiedade generalizada do
paciente/familiar, os lutos, o abandono, os conflitos conjugais,
ansiedade, a depressão, a baixa autoestima, os transtornos de
imagem/esquema corporal, a infantilização e superproteção, os
transtornos alimentares, os distúrbios do sono e de comportamento e as
culpas.

A tipificação das demandas segue a categorização destas conforme a


classificação, anteriormente mencionada, da doença, além da definição
do público-alvo, como criança, adolescente, adultos e idosos.

Ações do psicólogo no CTQ:

✔ Fazer escuta terapêutica


✔ Fazer encaminhamentos para equipe multiprofissional;
✔ Orientar familiares/responsável legal
✔ Fazer atendimento individual e/ou em grupo
✔ Fazer contato com outros profissionais e instituições, de origem
do paciente
✔ Buscar rede de apoio
✔ Elaborar documentos e relatórios, pertinentes ao prontuário
médico e multiprofissional
✔ Elaborar estatística mensal com indicadores.
✔ Avaliar as ações do departamento multiprofissional e fazer
levantamento de novas estratégias.

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CAPÍTULO 21: ATUAÇÃO DO SERVIÇO SOCIAL NO CTQ

OBJETIVOS

✔ Orientar abordagens que contribuam na amenização do impacto


da queimadura e internação;
✔ Capacitar a escuta para identificação de vulnerabilidades e
necessidade de ações específicas;
✔ Como identificar, contactar e interagir com os principais suportes
e membros do cotidiano do paciente.

INTRODUÇÃO

O profissional de Serviço Social apresenta um olhar diferenciado,


utilizando uma avaliação ampliada da situação social com o intuito de
identificar as condições de vida, contexto social e de trabalho que o
paciente vive.
A Assistente Social tem por objetivo intervir em até 48h após o primeiro
atendimento ao paciente queimado, avaliando as demandas
relacionadas aos critérios situacionais, tais como tentativa de
autoextermínio, vítimas de violência, acidentes de trabalho, pacientes
em situação de rua, desacompanhados ou sem identificação,
dependentes químicos e/ou outros transtornos mentais.
Assistente Social desempenhará o papel de mediador, mobilizador e
articulador das relações sociais entre paciente, família, equipe e
Instituição, assim garantindo o adequado acolhimento e integração dos
pacientes e familiares no Centro de Tratamento de Queimaduras.
Toda abordagem é pensada através do conceito de escuta ativa e
integralidade da saúde, onde o usuário (paciente, familiares e demais
núcleos) não pode ser visto isolado e sim como integrante de múltiplas
realidades complexas.
A partir da escuta ativa o profissional consegue identificar a dinâmica
familiar, social e profissional do paciente, bem como as circunstâncias
em que ocorreram a queimadura, de forma minimizar o impacto da
internação não só na vida do paciente como de seus familiares.

As abordagens e contatos iniciais visam intervir prontamente de forma


identificar:
✔ Quem é esse paciente;
✔ O que faz? (Não se resumindo a atividade laboral)
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✔ Com quem vive/ se relaciona?
✔ Como chegou, o que o levou até ali;

Entender o cotidiano do paciente de forma integral possibilita interagir


com ele, com seus familiares, empregadores e também mediar junto a
equipe de multidisciplinar para uma internação menos traumática e
buscando a dissolução das múltiplas questões envolvidas.

Abordagem inicial do atendimento ao paciente e seus familiares

Admissão social tem como objetivo conhecer o cotidiano complexo do


paciente (contexto social, familiar, socioeconômico e trabalhista) para
pautar a intervenção durante a internação;
Na abordagem, a assistente Social realiza o primeiro contato com
paciente e familiares (caso presentes) durante os trâmites para
internação, quando não for possível, abordagem no leito ou com
familiares o quanto antes e contacta familiares se necessário.
No momento da internação o profissional realiza anamnese junto ao
paciente e/ou familiar caso esteja presente visando saber estado civil,
suporte familiar, vínculo empregatício ou de benefício social, atividades
realizadas. A partir dessas informações é possível identificar
vulnerabilidades e se é necessária uma atenção maior durante a
internação.
São fornecidas orientações sobre rotina institucional e orientações
personalizadas que podem ser previdenciárias e trabalhistas, de acesso
a serviços ou benefícios sociais e até mesmo sobre necessidade de
notificações ou acionamento de outros órgãos.
Destaca-se que, devido à complexidade do tratamento do paciente
queimado, recomenda-se o acompanhamento a todos os pacientes,
tendo maior atenção àqueles que apresentam alguma questão ou
vulnerabilidade social.

Sobre o cuidado no trato das informações:

Em uma primeira anamnese é essencial praticar o distanciamento


técnico, em que as informações serão tratadas com suporte teórico
metodológico, visando não serem enviesadas por nossa experiência
individual e sim analisadas pelo viés profissional.
Toda informação exige cuidado, porém dispensa julgamento, os
conceitos de vida (higiene, liberdade, vínculo) são socialmente
produzidos, podendo diferenciar conforme o meio e experiência dos
indivíduos.
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É de suma importância que todos da equipe multidisciplinar registrem
e leiam os registros de todos os profissionais no prontuário/ ficha do
paciente, visando estar ciente dos usuários de forma integral.
As informações sobre o paciente não devem ser pauta da curiosidade
alheia, e sim base para atuação profissional. A lei e a ética preconizam
o sigilo do paciente, até mesmo para seus familiares caso seja de
sua vontade.

Exemplos:

✔ Bebê acidentou-se por estar deitado próximo do fogão: houve


negligência ou estamos lidando com uma situação de
precariedade extrema em que os ambientes são múltiplos e não é
possível determinados cuidados?
✔ Idoso queimou-se ao preparar sua refeição: o idoso reside só por
negligência dos familiares ou não aceita, não entende que precisa
ser cuidado?
✔ Criança se queimou quando estava sob os cuidados do irmão mais
velho adolescente: negligência dos responsáveis, falta de
instrumentos (creche e/ou escola) e necessidade e trabalho dos
genitores?
✔ Paciente adulta que recebe poucas visitas ou não se evidencia
suporte dos familiares: os familiares são ausentes ou têm
dificuldade econômica, ou de entendimento para participarem
mais ativamente da internação?

Algumas situações que necessitam maior atenção no


acompanhamento:

✔ Vítimas de violência, seja doméstica ou urbana.


✔ Situações de negligência ou maus tratos, principalmente se
tratando de criança e adolescente, mulheres, pessoas com
deficiência, idosos.
✔ Tentativas de autoextermínio e pacientes com questões de saúde
mental.
✔ Precariedade sócio econômica;
✔ Pacientes com vínculos familiares e sociais rompidos, como
pessoas em situação de rua.
✔ Vítimas de acidentes de trabalho ou com situação previdenciária
a resolver;

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Acompanhamento paciente em situação de vulnerabilidade social
No caso de pacientes em situação de vulnerabilidade, além do
acionamento e acompanhamento juntos aos respectivos órgãos
externos responsáveis, pode ser necessária a articulação da equipe para
ajuste da dinâmica de internação, preenchimento de formulários e
documentos, planejamento da alta e posterior acompanhamento.
Casos de vulnerabilidade socioeconômica são tão sensíveis quanto os de
violência, pois as condições de moradia, sobrevivência e suporte do
paciente interferem em sua recuperação e acompanhamento pós alta
hospitalar.
Pacientes com vínculos empregatícios, vítimas de acidente de trabalho,
acompanhantes inseridos no mercado de trabalho, entre outros,
precisam de declarações de internação/ laudo médico para
formalizarem seus afastamentos. A abordagem deve sempre orientar e
estimular que os usuários usufruam dos seus direitos.

ATENÇÃO:

✔ É normativa do Ministério da Saúde que em casos de violência


(violência doméstica, autoprovocada, contra pessoa vulnerável ou
incapaz) é compulsório o preenchimento e envio da Ficha de
Notificação do Sistema de Informação de Agravos de Notificação
(SINAN) .
✔ A ficha tem caráter estatístico e articulatório, pois a partir dela
serão acionados os órgãos de suporte no território do paciente.
✔ Deve ser preenchida mesmo em caso de suspeitas, pois não gera
registro policial ou notificação de crime.
✔ O preenchimento e envio da ficha não substitui o contato com
instituições/órgãos responsáveis nos respectivos casos de
violência (Conselho Tutelar, Vara da Infância de Juventude e do
Idoso, Ministério Público, etc.)
✔ Quando pensado nas primeiras horas de atendimento, deve ser
considerar principalmente as situações de violência, seja ela
autoprovocada ou por terceiros, caso o paciente não seja elegível
para internação.
✔ É mister acionar o suporte, seja ele familiar ou rede de amigos,
antes de liberar o paciente. Bem como acionar o serviço de
psicologia/saúde mental da unidade ou encaminhar para
acompanhamento quando este não estiver disponível no serviço.

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APÊNDICE I

LESÕES POR FRIO

Podem variar desde pequenas lesões até um quadro de hipotermia


generalizada.

Congelamento

Fisiopatologia: o efeito imediato é a formação de cristais de gelo no


líquido intersticial. As lesões ocorrem nas áreas corporais que mais
rapidamente perdem calor (pés; mãos e orelhas).
Podem ocorrer 3 graus de congelamento:

Primeiro grau: surge uma placa embranquecida e dolorosa.


Segundo grau: flictena com líquido claro ou leitoso e dolorosa.
Terceiro grau: flictena com líquida púrpura ou áreas de pele
descoloradas, sem dor.

Fatores ambientais, tais como a velocidade do vento, e individuais como


vasodilatação secundária ao consumo de álcool, aumentam a perda de
calor e predispõem a pessoa exposta a baixas temperaturas, ao
congelamento.

Tratamento

Consiste no aquecimento, assim que possível, com banho de água a 40


°C até que a temperatura central e periférica atingirem valores normais.
Não massagear ou andar sobre os pés congelados, isso acrescenta uma
lesão traumática.
Após o aquecimento, as áreas afetadas são avaliadas, cobertas com gaze
seca esterilizada e o paciente é mantido aquecido até a transferência.
Realizar profilaxia antibacteriana e, se necessário, escarotomias.

Hipotermia

Fisiopatologia: A hipotermia se define como a queda da temperatura


central abaixo de 34°C.
Lembrar que um termômetro standard (padrão) não registra essas
temperaturas.
A hipotermia muitas vezes se assemelha a outras condições tais como;
isquemia cerebral; alcoolismo; hipotireoidismo e coma diabético.
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Os pacientes idosos e mal nutridos são os mais suscetíveis.

Tratamento

Muitas vezes estes pacientes aparentam estar em assistolia, tentativas


de ressuscitação são inúteis se antes não for corrigida a hipotermia.
Vítimas com temperaturas abaixo dos 32 °C podem apresentar
fibrilação ventricular.
O banho de imersão a 40 °C é a forma de tratamento da hipotermia;
intubar o paciente e administrar ar a 40 °C e administrar uma dose
intravenosa de Ringer Lactato à mesma temperatura.
A acidose deve ser monitorizada através da gasometria arterial, e
quando necessário corrigida com a administração de bicarbonato de
sódio.
O doente deve ter monitorização cardíaca durante todas as manobras.
As arritmias ventriculares são tratadas com lidocaína, e o equipamento
de desfibrilação deve estar preparado para o tratamento de possível
fibrilação ventricular.
Em caso de assistolia ventricular, as manobras de reanimação e não
devem ser abandonadas antes que o paciente tenha atingido os 36 °C.
Muitas vezes estes pacientes aparentam estar em assistolia; o objetivo
de melhorar a temperatura não deve ser abandonado até que o paciente
atinja 36 C.

APÊNDICE II

HIPERTERMIA

A temperatura corporal é mantida por uma série de respostas


fisiológicas. No tempo quente, o organismo humano mantém uma
temperatura constante através de vários mecanismos de transpiração e
regulação circulatória. Quando, por alguma razão, os sistemas de
controle são alterados ocorre o quadro de hipertermia.

Fisiopatologia: a temperatura do corpo humano habitualmente excede


a do meio ambiente por uns 20°C ou mais. Isso permite os dois
mecanismos de perda de calor: vasoconstricção e radiação.
O calor residual é perdido por evaporação através da pele e dos
pulmões. A conservação de calor é efetuada pelo mecanismo de
vasoconstrição e de atividade muscular e tremores. Quando a

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temperatura ambiente é próxima à do corpo, essas alterações se
mantêm neutras.
O hipotálamo contribui para a regulação da temperatura ativando
impulsos autônomos que aumentam a vasodilatação periférica e a
transpiração.
A resposta imediata à vasodilatação é o aumento do fluxo sanguíneo
para a glândula sudorípara, que filtra mais rapidamente e aumenta a
transpiração. Essas mudanças são acompanhadas por taquicardia e
taquipnéia.

Síndromes clínicos

Desidratação leve: ocorre devido a excessiva perda de sal por


evaporação. O paciente está lúcido e apresenta dor muscular.

Desidratação moderada: consequência de resposta cardiovascular


inapropriada à ação do calor.
O desvio de sangue para a pele não é acompanhado de vasoconstricção
em outros órgãos.
O paciente apresenta palidez, sudorese profusa, hipotensão postural
com fotofobia, cefaleia e náuseas.
Requer sempre tratamento com solução fisiológica por via venosa e
ambiente fresco.

Desidratação grave: está associada com alta mortalidade em idosos. É


resultado da falha dos mecanismos fisiológicos de esfriamento.
Ocorre em pessoas idosas quando submetidas a temperatura de 40°C
por mais de 48 horas. É mais comum em pacientes em uso de diuréticos.
O paciente apresenta 41°C, não transpira, está letárgico ou em coma,
com sinais de choque e acidose sistêmica.
É necessário reduzir a temperatura o quanto antes; banho de imersão
em água fria (15°C) ou aplicando compressas frias até que a
temperatura atinja 37° C.
Obter acesso intravenoso, iniciar a hidratação, a correção da acidose, e
quando necessário, suporte ventilatório.
Uma complicação comum, muitas vezes a causa da morte, é a ocorrência
de coagulação intravascular disseminada.

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APÊNDICE III

ABUSO INFANTIL

Este estigma social ocorre em todas as sociedades e em todas as classes


sociais.
Queimaduras por abuso infantil são mais frequentemente vistas na
classe média alta. Os pais, que violentos entre si, tendem a ser mais
violentos com seus filhos. Os pais que sofreram abusos quando crianças,
serão muitas vezes abusadores de seus filhos. Também pode ocorrer
abuso por parte de irmãos e babás.
Abuso por queimaduras pode estar associado com o abuso psicológico e
sexual.
A maioria das vezes são queimaduras por contato (sólidos aquecidos)
ou imersão em líquidos quentes.

Antecedentes

É necessário correlacionar a história de como a lesão ocorreu com os


achados clínicos.
Por exemplo, uma queimadura na mão que compromete todos os dedos
e até mesmo a palma e articulações, significa que ela foi mantida na
superfície quente e pressionada na parte de trás. Lesões simétricas são
geralmente encontradas, as duas mãos ou os dois pés. Isso significa que
a criança foi forçada.
Geralmente são crianças que frequentam o hospital com alguma
regularidade por repetidas lesões.
Lesões simétricas em crianças menores de 4 anos sugerem abuso
infantil.
Pais que relatam que a criança caiu na banheira com água quente, e as
lesões são ao mesmo nível em ambos os membros inferiores, indica que
a criança foi submersa de forma proposital.
A demora na procura de atendimento médico, histórias que não
condizem com as lesões encontradas e histórias de traumas e
queimaduras repetidas são sugestivas de maus tratos e devem ser
investigadas.

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Observar na história:
(1) Demora injustificada entre o acidente e procura para o
tratamento (+12 h)
(2) História inconsistente e injustificada
(3) Queimadura atribuída ao irmão/irmã
(4) Procura por tratamento por vizinhos ou outros do que pais ou
responsável
(5) Falta de afeto dos pais ou o descaso para a criança no cuidado
pós-hospitalar
(6) Evidência de franca negligência (retardo de desenvolvimento,
falta de higiene,etc.)

Observar no exame físico:


(1) Lesão incompatível com o desenvolvimento da criança
(2) Lesão incompatível com a história relatada
(3) Queimaduras mais antiga do que sugerida pela história
(4) Queimaduras de distribuição simétrica (tipo luvas, meia, etc.
(5) Presença de lesões associadas (hematomas, fraturas, lesões
por cigarro etc.)
(6) Criança que tolera procedimentos dolorosos passivamente

Conduta

Suporte psicológico para a criança.


Descrição minuciosa das lesões para perícia médico-legal.
Avaliação familiar por Psicólogo e Assistente Social.
Notificação ao Conselho Tutelar.
Garantir a segurança do paciente tanto a nível hospitalar bem
como, quando da sua alta.

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APÊNDICE IV

PACIENTE GRÁVIDA QUEIMADA

A possibilidade de gravidez deve ser considerada em qualquer mulher


em idade fértil. Devemos considerar as complicações que podem sofrer
o feto e a mãe. Nos casos de gestação a paciente deverá ser
acompanhada com um obstetra, que deverá avaliar os prós e contras de
antecipação do parto.
Mãe e feto devem ser permanentemente monitorados.
Se a paciente não receber ressuscitação adequada com cristalóides e
ocorrer hipóxia, rapidamente aparece ameaça de aborto. Administrar
oxigênio a 100%.
Coagulação intravascular disseminada pode ocorrer, geralmente, no
terceiro trimestre da gravidez.

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