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OBJETIVOS
I-Introdução
A. Estrutura
A pele é composta de duas camadas, a epiderme e a derme. A epiderme é a camada externa,
mais fina, a derme é a camada mais grossa e profunda. A derme contém folículos pilosos,
glândulas sudoríparas, glândulas sebáceas, fibras sensoriais para dor, tato, pressão e
temperatura. O tecido subcutâneo fica embaixo da derme é uma camada de tecido
conjuntivo e gordura.
B. Funções
A pele supre no mínimo quatro funções cruciais a sobrevivência.
1. Proteção contra infecção e lesão
2. Prevenção de perda de líquidos corporais.
3. Ajuste da temperatura corporal.
4. Contato sensorial com o meio-ambiente.
As queimaduras são consideradas lesões sérias quando inibem ou alteram as funções dos
órgãos.
A "Regra dos Nove" é comumente usada para fazer uma avaliação inicial da extensão da
queimadura. Essa regra é baseada no fato de que, nos adultos, várias regiões anatômicas
representam 9% ou um múltiplo desse número da área de superfície corporal total (SCT).
Na criança, a "Regra" altera-se devido a grande superfície de área da cabeça e da menor
área dos membros inferiores.
REGRA DOS 9
Considera-se que a criança ao nascer tem superfície corporal da cabeça de 18%. e 14% em
cada membro inferior.
Para calcular a percentagem do corpo queimado na criança
· Subtrair 1 % da cabeça para cada ano acima de um ano de idade.
· Somar 1/2 % a cada membro inferior para cada ano acima de um ano de idade.
Exemplo: Uma criança de 2 anos teria 16% de superfície corporal na cabeça e 15% em cada
um dos membros inferiores.
B. Critério de Encaminhamento
· Queimaduras que envolvem face, mãos, pés, genitália, períneo e articulações importantes.
· Queimaduras químicas.
· Qualquer paciente com queimadura e trauma associados (tais como fraturas, TCE, trauma
em coluna, etc.), no qual a queimadura apresenta o maior risco de morbidade ou
mortalidade. Em casos em que o trauma apresenta o risco imediato maior, o paciente pode
ser inicialmente estabilizado em um centro traumatológico antes de ser transferido para
uma unidade de queimados. A decisão do medico será necessária em tais situações e deve
estar de acordo com o plano de controle médico regional e os protocolos de triagem.
Questões sobre pacientes específicos podem ser resolvidas através de consulta ao centro de
queimados.
A. Avaliação
Exame primário
A avaliação inicial do paciente queimado e como aquela de qualquer paciente com um
trauma. Um acesso conveniente ao exame básico e através da metolodogia do ABCDEF:
A. As vias aéreas?
B. Boa Respiração?
C. Circulação. Condição da coluna? Conter com colar? Condição cardíaca?
D. Dificuldades? Disfunções?
E. Expor e Examinar
F. Fluidos. Fornecer reposição hídrica.
C. Circulação
A avaliação da circulação inclui a avaliação da cor da pele, sensação, pulsos periféricos e
preenchimento capilar. A circulação do membro com queimaduras circunferenciais de
espessura total podem ser prejudicadas em conseqüência da formação de edema.
1 ) Queimaduras Circunferenciais de Terceiro Grau
Queimaduras circunferenciais de terceiro grau são aquelas que circundam completamente
determinada área do corpo em região que apresenta queimadura. Nesta situação,muito
freqüentemente é necessário se proceder a uma escarotomia com a finalidade de permitir o
restabelecimento da circulação sanguínea.
D. Dificuldades, Disfunções
Tipicamente, o paciente queimado deve estar inicialmente atento e orientado. Se não,
considere a possibilidade de lesão combinada, abuso de substâncias de qualquer origem,
hipoxia ou condições clínicas preexistentes.
Comece a avaliação determinando o nível de consciência do paciente considerando as
seguintes variáveis:
A. atento?
B. responde a estímulos verbais?
C. responde somente a estímulos de dor?
D. insensível?
E. Expor e examinar
Remover toda a roupa e jóias para completar a avaliação primária e secundária. Roupas que
aderiram à queimadura neste momento devem ser deixadas desse modo.
F. Reposição de líquido
Comece a infusão intravenosa com Solução de Ringer com lactato.
Exame secundário - Um exame secundário completo deve ser conduzido da “cabeça aos
pés” para determinar quaisquer lesões associadas. A queimadura normalmente é a lesão
mais evidente, mas outras lesões sérias e até mesmo lesões que ameaçam a vida do paciente
podem estar presentes. Uma avaliação completa é necessária para assegurar que todas as
lesões associadas sejam identificadas e devidamente controladas.
Todo esforço deve ser feito para obter as informações necessárias. O controle inicial como
também o cuidado definitivo é ditado pelo mecanismo, pela duração e pela seriedade da
lesão. Se possível, as seguintes informações devem ser obtidas:
a. Circunstâncias da lesão
· Causa da queimadura
· A lesão ocorreu em ambiente fechado?
· Existe a possibilidade de inalação de fumaça?
· Substancias químicas estavam envolvidas?
. Houve trauma associado?
B. Princípios de Controle
Controle inicial inclui a infusão intravenosa de Solução de Ringer com lactato através de
uma cânula larga, preferencialmente através da pele não queimada. Se as únicas veias
disponíveis estão dentro da área queimada, não hesite em usá-las. Líquidos intravenosos
devem ser iniciados sem demora. Logo que possível, o paciente deve ser pesado para
permitir uma determinação precisa das necessidades de reposição de líquido.
Nas primeiras oito horas após a lesão, ministrar metade do total calculado. Depois dar 25%
nas próximas oito horas, e 25% nas oito horas finais.
5. Inserção de sonda nasogástrica. Pacientes com queimaduras com mais de 20% ACQ
são sujeitos a distensão gástrica.
11. Controle do suicídio. Qualquer forma de eventual suicídio deve ser considerada,
quando uma explicação razoável da história da queimadura apresenta contradição. Após
uma tentativa de suicídio mal sucedida, o paciente pode estar lúcido, falante, negando a
tentativa ou voluntariamente fornecendo informações incorretas.
B. lesões por Eletricidade - Uma corrente elétrica passando através de um paciente pode
causar um dano interno extenso. Uma preocupação maior é o efeito que a corrente elétrica
tem na atividade elétrica cardíaca normal. Arritmias sérias podem ocorrer mesmo depois
que um ritmo cardíaco estável tenha sido obtido. Portanto, é necessária uma monitoração
cardíaca contínua durante as primeiras 24 horas após a lesão. Note que, mesmo se a
superfície visível da lesão não apresenta ser grave, pode haver uma lesão de modo não
aparente severa e profunda dos tecidos.
Considerações Especiais
· Gasometria arterial (se indicado)
· ECG
· Carboxihemoglobina (se indicada)
· Glicemia (em crianças e diabéticos)
VIII. Resumo
Uma queimadura de qualquer tamanho pode ser uma lesão séria. Os provedores de
assistência à saúde devem ser capazes de avaliar as lesões rapidamente e desenvolver um
plano de tratamento baseado na prioridade.
O plano de tratamento é determinado pelo tipo, extensão e grau da queimadura e também
pelos recursos disponíveis. Todo provedor de assistência a saúde deve saber como e quando
contatar o centro de tratamento de queimaduras mais próximo. Consultas com o medico no
centro de queimados determinará o melhor método de terapia. Se o médico que o assistir
determinar que o paciente deve ser tratado num centro de queimados, a extensão do
tratamento fornecida no hospital que o encaminhar e o meio de transporte ao centro de
queimados deve ser decidido mediante consulta com o médico do centro.
OBJETIVOS
Discutir considerações especiais a serem dadas a crianças com lesões por inalação.
Introdução
A lesão por inalação é manifestada pela patologia e disfunção que se torna evidente nas vias
respiratórias, pulmões e sistema respiratório dentro dos primeiros cinco dias depois de se
inalar fumaça e produtos irritantes de combustão incompleta. A lesão por inalação é um
importante determinante de mortalidade em vítimas de incêndio. Essas lesões estão presentes
em 20-50 porcento dos pacientes admitidos nos centros de queimados e 60-70 porcento dos
pacientes que morrem nesses centros.
Fisiopatologia
A maioria das fatalidades que ocorrem numa cena de incêndio são devidas a asfixia e/ou
envenenamento por monóxido de carbono. Níveis de carboxihemoglobina de 50-70 por cento
ou mais são normalmente encontrados em tais pacientes. Dentre os sobreviventes com lesão
por inalação séria, o envenenamento por monóxido de carbono pode ser a ameaça mais
imediata à vida. O monóxido de carbono une-se com a hemoglobina com uma afinidade
superior ao oxigênio, e, se hemoglobina suficiente for ligada ao monóxido de carbono,
ocorrerá hipóxia do tecido.
A hipóxia pode causar danos ao tecido pulmonar, contudo, a ameaça mais imediata de lesão é
aos órgãos sensíveis a hipoxia, tais como o cérebro. Níveis de 40-60 por cento de
carboxiemoglobina podem causar obtusão ou perda de consciência. Níveis de 15-40 por cento
podem causar disfunções de graus variados ao sistema nervoso central (CNS). Níveis de
carboxihemoglobina menores de 15 por cento são geralmente encontrados em fumantes ou em
motoristas de caminhão expostos ao tráfego intenso e são raramente sintomáticos.
Pacientes com altos níveis de carboxihemoglobina podem ter uma coloração vermelho-cereja
na sua pele e pacientes com envenenamento por monóxido de carbono podem ocasionalmente
estar seriamente hipóxicos sem nenhuma cianose aparente. Mais comumente, pacientes com
envenenamento sério por monóxido de carbono apresentam uma pele normal ou pálida e
coloração do lábio. Embora o teor de oxigênio do sangue esteja reduzido, o PaO2 não é
afetado pelo envenenamento por monóxido de carbono e tais pacientes freqüentemente não
são taquipnéicos. Devido a variabilidade de sintomas, é essencial determinar o nível de
carboxihemoglobina em pacientes expostos ao monóxido de carbono.
•Aspecto do paciente:
•-70% com queimaduras de face associada
-Coloração vermelho-cereja na sua pele
-Hipoxemia sem nenhuma cianose aparente
-Geralmente - pele normal e uma coloração pálida no lábio
-Concentração O2 no sangue reduzida
-PaO2 não é afetada pelo envenenamento
-Freqüentemente não são taquipneicos
2. Lesão por Inalação
Fase clínica:
•1ª Fase – Insuficiência Respiratória Aguda -Ocorre nas primeiras 36 horas após a inalação
-Asfixia, envenenamento por CO.
-Broncoespasmo, obstrução de vias aéreas.
-Lesão do parênquima pulmonar
- Raios X: hiperinsuflação
•2a. Fase – Edema pulmonar
-Em 5 a 30% dos pacientes - 48 a 96 horas da queimadura.
Raios X: edema pulmonar bilateral
3ª Fase - Broncopneumonia
-Obstrução inflamatória dos bronquíolos terminais
-Necrose da mucosa endobrônquica.
-Infecções 3 a 10 dias após a lesão.
-Raios X: consolidações alveolares
Exceto por raros acontecimentos (tais como inalação de vapor, aspiração de líquidos
escaldantes ou explosões ocorrendo enquanto o paciente está respirando concentrações muito
altas de oxigênio sob pressão), a lesão térmica ao tubo respiratório é limitada às vias
respiratórias superiores. A capacidade de troca de calor do tubo respiratório é tão eficiente
que a maioria da absorção e dano ocorre na faringe e na laringe acima das cordas vocais
verdadeiras. Dano por calor das vias respiratórias superiores é normalmente sério o bastante
para produzir obstrução das vias respiratórias superiores e pode causar obstrução em qualquer
momento durante a reposição. Em pacientes severamente hipovolêmico, o edema supraglótico
pode ser retardado no início até que a reposição de líquido esteja bem encaminhada.
No geral, a lesão por inalação acima da glote pode ser térmica ou química enquanto aquela
abaixo da glote é normalmente química. Mudanças fisiopatológicas associadas à lesão abaixo
da glote incluem:
atividade ciliar debilitada
eritema
edema
ulceração da membrana mucosa
circulação do sangue elevada
espasmo de brônquios e bronquíolos
A reação do tecido a lesão por inalação abaixo da glote é relacionada a quantidade e ao tipo
de substâncias voláteis inaladas e é clinicamente imprevisível. A angústia respiratória é
normalmente evidente durante à exposição a gases nocivos. Amônia, cloro, cloreto de
hidrogênio, cloreto de carbonila, aldeído, óxido sulfúrico e óxido de nitrogênio estão entre os
muitos produtos de combustão conhecidos por produzir lesão por inalação.
A traqueobronquite com espasmo severo e sibilos pode ocorrer nos primeiros minutos até
horas após a lesão. Embora existam exceções, quanto maior a dose de fumaça absorvida, mais
provável será que o paciente tenha um elevado nível de carboxihemoglobina, um raio-x
anormal do tórax na admissão, e angústia respiratória nas horas iniciais pós-queimadura.
Enquanto a lesão por inalação abaixo da glote sem queimaduras cutâneas significativas
combinadas tem um prognóstico relativamente bom, a presença de tais queimaduras somadas
à lesão por inalação piora marcadamente o prognóstico, especialmente se a queimadura é
grande e o início da angústia respiratória ocorre nas primeiras horas após a lesão. O começo
dos sintomas é tão imprevisível que o paciente com possível lesão por inalação deve ser
observado de perto por no mínimo 24 horas.
Aspectos Gerais
•Forma mais comum de lesão química
-Inalação de vapor
-Gases tóxicos, irritantes , cáusticos...
-Aspiração de líquidos escaldantes
-Explosões com concentrações muito altas de oxigênio sob pressão
•Mudanças fisiopatológicas
-Diminuição da atividade ciliar
-Eritema e edema
-Ulceração da membrana mucosa
-Circulação de sangue elevada.
-Espasmo de brônquios e bronquíolos
•Gravidade
-Relacionada a quantidade e ao tipo de substância volátil inalada
-Clinicamente imprevisível
-Gases nocivos - Amônia, cloro, cloreto de hidrogênio, cloreto de carbonila, aldeído, óxido
sulfúrico e óxido de nitrogênio
Controle Inicial
Qualquer paciente suspeito de envenenamento por monóxido de carbono e/ou lesão por
inalação devem receber oxigênio 100 por cento úmido através de máscara. Um julgamento
clínico apropriado deve ser usado em pacientes com doença crônica de pulmões, nos quais a
hipoxia é o estímulo respiratório primário.
Depois de determinar que o tubo endotraqueal está na posição correta através da ausculta e de
uma radiografia, a segurança requer que o tubo esteja firme no lugar. Pode ser impossível
repor um tubo endotraqueal “ expelido” devido a obstrução das vias respiratórias superiores
por edema. Fitas adesivas aderem imperfeitamente ao rosto queimado; portanto, fixe o tubo
com uma fita umbilical passada ao redor da cabeça.
Se a intubação endotraqueal não for bem sucedida, uma cricotireoidotomia deve ser efetuada
para manter uma via respiratória patente.
Avaliação e Controle
História
Achados Físicos
Catarro carbonáceo
Queimaduras faciais, pelos nasais chamuscados
Agitação, taquipnéia, ansiedade, letargia, cianose ou outras sinais gerais de hipoxemia
Frequência respiratória rápida, narinas alargadas ou retração intercostal, especialmente da
costela inferior
Voz rouca, tosse metálica, grunhidos ou sons respiratórios guturais
Roncos ou murmúrio vesicular distantes
Eritema ou dilatação da orofaringe ou nasofaringe
Pacientes com níveis altos de carboxihemoglobina devem receber oxigênio a 100% até que
níveis menores de 15 porcento sejam alcançados. O oxigênio hiperbárico para esses pacientes
é de valor incomprovado. A transferência para um centro de queimados não deve ser
retardada pelos esforços de se estabelecer uma terapia de oxigênio hiperbárico.
A obstrução das vias respiratórias superiores, quando ocorre, pode progredir muito
rapidamente. Pacientes com queimaduras faringeais, rouquidão ou estridor têm uma alta
probabilidade de desenvolverem obstrução das vias respiratórias superiores e devem ser
intubados antes de serem transferidos ao centro de queimados. A monitoração do oxigênio
sangüíneo não é útil nesse contexto. A confiança deve ser colocada nas descobertas físicas da
obstrução das vias respiratórias.
Às vezes, pacientes com lesão por inalação apresentam-se principalmente com sintomas de
lesão bronquial e bronquiolar – broncorréia e/ou expiração ruidosa.
Em outras ocasiões, a lesão por inalação ocorre principalmente no nível de troca de gás
respiratório. Essa forma de lesão é normalmente retardada no início, sua manifestação precoce
diminui mais a oxigenação arterial e é mais observada do que a radiografia anormal do tórax.
Esses pacientes devem ser transferidos para o centro de queimados. Se a transferência tiver
que ser retardada, o controle respiratório e a ventilação devem ser coordenados com o centro
de queimados. Uma monitoração cuidadosa é essencial para identificar a necessidade de
ventilação com um ventilador de volume se a condição do paciente piorar.
A caixa torácica de uma criança não é ossificada e , por isso, é mais flexível do que a de
adultos. As crianças se cansam rapidamente devido à diminuição na “compliance” pulmonar
associada com queimaduras circunferenciais constritivas de tórax. Uma escarotomia da parede
do tórax deve, portanto, ser realizada prontamente ao primeiro sinal de debilitação
respiratória.
Resumo
O início dos sintomas associados com todos os tipos de lesão por inalação é tão imprevisível
que o paciente deve ser observado rigorosamente. Qualquer paciente com a possibilidade de
lesão por inalação deve receber imediatamente oxigênio 100 por cento úmido através de uma
máscara. A intubação endotraqueal ou a cricotireoidotomia podem ser necessárias para manter
a via respiratória patente em pacientes com lesão por inalação severa. Pacientes queimados
com lesões por inalação necessitarão da assistência de um centro de queimados. Esse centro
deve ser contatado logo para assistir na coordenação de um plano de cuidado anterior à
transferência.
CAPÍTULO 3 - CHOQUE E REPOSIÇÃO VOLEMICA
Objetivos:
4- Saber das possíveis complicações que podem ocorrer durante a reposição de líquido
1- INTRODUÇÃO:
O médico que faz o primeiro atendimento de um paciente queimado, tem em suas mãos a
possibilidade de modificar a evolução final da lesão se agir com rapidez, precisão e bom
senso.
O princípio básico do atendimento é começar imediatamente pelo tratamento das condições
que colocam a vida em risco, para em seguida obter uma completa avaliação da área
queimada.
Equipes de emergência sem treinamento específico, que se preocupam muito mais com os
cuidados tópicos do que com o estabelecimento rápido de um acesso venoso para a reposição
volêmica estão cometendo um grave erro ao permitir que um organismo já tão lesado pelo
trauma térmico sofra as conseqüências danosas de um grave choque hipovolêmico.
2- FISIOPATOLOGIA DA QUEIMADURA:
A - Reações Orgânicas:
Se pudéssemos resumir toda a fisiopatologia das queimaduras em poucas palavras, estas
palavras, sem dúvida seriam – AUMENTO DA PERMEABILIDADE CAPILAR ( A.P.C. ) e
EDEMA. Na verdade os eventos no trauma térmico não ocorrem separadamente, porém para
facilitar didaticamente, os descreveremos separadamente.
Com o trauma térmico há exposição do colágeno no tecido afetado, e conseqüentemente
ativação e liberação de histamina pelos mastócitos, ativação do sistema cininas calicreina,
ativação do sistema fosfolipase - acido aracdônico, liberando prostaglandinas provocando o
aumento da permeabilidade capilar, que por sua vez permite a passagem de um filtrado
plasmático para o interstício dos tecidos afetados, provocando, por um lado, importante
edema tecidual e por outro, significativa hipovolemia.
Uma outra via ativada é a do tromboxane que junto da plasmina e trombina circulante
provoca um depósito nas paredes desses capilares, provocando um aumento da pressão
hidrostática de até 250 % contribuindo ainda mais para o edema tecidual.
Este aumento é passageiro, durando em média de 18 a 24 h. Tem seu início, alguns minutos
após a queimadura, atingindo o pico máximo em 8 h e regredindo progressivamente até voltar
ao normal.
A magnitude e a duração da reação orgânica são proporcionais à extensão da SCQ
B - Alterações Hemodinâmicas
No tecido normal, os poros capilares, permitem a passagem das soluções cristalóides, em
ambos os sentidos, contribuindo para o perfeito equilíbrio com o interstício tecidual. Estes
poros não permitem a passagem das soluções colóides, cujo peso molecular ultrapassa o
diâmetro dos poros capilares.
O aumento da permeabilidade capilar decorrente da queimadura, permite a passagem, através
de poros muito aumentados, não só das soluções cristalóides como também, das soluções
colóides. Conseqüentemente há importante edema dos tecidos afetados e a passagem dos
colóides ainda acarreta um aumento da pressão coloidosmótica destes tecidos, agravando a
retenção hídrica .
O conhecimento da fisiopatologia teve um impacto direto no aporte terapêutico de
ressuscitação do queimado, onde são utilizadas as soluções cristalóides e evitadas as soluções
colóides, enquanto perdurar o A.P.C., na tentativa de minimizar o edema da queimadura.
Após a metabolização das substâncias desencadeadoras do A.P.C., o que ocorre em torno de
18 a 24 h, o poro capilar retorna ao seu diâmetro original, aprisionando todo este colóide na
área queimada e sustentando o edema tecidual.
Se fizermos um corte em um tecido queimado, iremos observar três zonas distintas. A zona
mais próxima do agente térmico é denominada zona de coagulação ou necrose de coagulação,
local onde há coagulação intravascular. Na parte do tecido imediatamente adjacente a esta,
forma-se uma zona de estase, onde se observa depósitos nas paredes dos vasos. Na região
mais distal ao agente térmico, forma-se uma zona de hiperemia, onde se observa uma área de
vasodilatação .
A restauração e a sobrevivência das células atingidas e o restabelecimento da função do órgão
depende da reposição imediata e adequada para corrigir a hipovolemia e restaurar a circulação
sanguínea.
3- REPOSIÇÃO DE LÍQUIDOS:
2- Iniciar reposição volêmica com Ringer lactato (2000 ml em "bolus" para adultos e 20
ml/Kg para crianças). Instalar cateter vesical para avaliar a diurese. O débito urinário
deve ser mantido entre 30 e 50 ml/h para os adultos e 1 ml/kg/hora para as crianças. O
débito urinário é quem vai definir o aumento ou diminuição da velocidade de
hidratação.
Atualmente existe um consenso entre os diversos autores de que as inúmeras fórmulas para
reposição podem ser usadas apenas como uma base inicial, tendo em vista a reposição ser
variável de paciente para paciente.
Segundo Moncrief: "a adesão cega de uma fórmula hídrica específica e a administração de
manutenção rígida de volume nos esquemas, apesar das variações nas respostas de um
paciente, levam a um mau resultado e a alta taxa de mortalidade".
A modificação de um dado regime de reposição hídrica, deve ser feito após julgamento
clínico apropriado e de acordo com a resposta do paciente.
As fórmulas podem ser utilizadas apenas como um ponto de partida e roteiro através do qual
ajustes e variações podem e devem ser feitos.
Para que se tenha sucesso na ressuscitação é extremamente importante que se tenha em mente
que a fluidoterapia é um procedimento dinâmico por excelência, exigindo dessa forma
acompanhamento permanente, especialmente nas primeiras 24 a 48 horas após a queimadura.
Quando a reposição volêmica é iniciada correta e imediatamente após um trauma térmico,
impede uma grande redução de volume do plasma nas primeiras 24 h e restaura o volume do
plasma aos níveis normais no final do segundo dia após a lesão.
O débito cardíaco, que é inicialmente diminuído, retorna aos níveis normais entre a 12a e a 18a
h após o trauma térmico, durante um período de diminuição modesta e progressiva no
volume de sangue. Quando o rendimento cardíaco não responde desta forma, deve-se
suspeitar de um infarto do miocárdio ou algum grau de insuficiência miocárdica. Se tal for
confirmado, o tratamento deve ser modificado.
B. Composição do líquido de ressuscitação
As primeiras 24 Horas
As Segundas 24 Horas
Adultos
a) 0.3 – 0.5 ml de líquido contendo colóides x peso do corpo em Kg x % BSA queimada
b) líquidos sem eletrólitos para manter a produção de urina adequada.
• Albumina diluída à concentração fisiológica em salina normal.
Crianças
a) 0.3 – 0.5 ml de líquido contendo colóides x peso do corpo em Kg x % queimado.
b) Solução salina 0.45% para manter a produção de urina adequada.
• Albumina diluída à concentração fisiológica em soro fisiológico.
A- Débito Urinário
O débito urinário a cada hora, obtido pelo uso de uma sonda vesical de demora é o guia mais
prontamente disponível e geralmente confiável para a eficácia da ressuscitação.
• Adultos: 30 – 50 ml por hora
• Crianças pesando menos de 30 kg: 1 ml por Kg por hora
A quantidade de líquido administrado deve ser aumentada ou diminuída em um terço
proporcionalmente se a produção urinária cair ou exceder os limites acima, em mais de um
terço por duas a três horas.
1-Tratamento da oligúria
A . Alteração da velocidade de infusão do líquido.
1) a oligúria associada à elevação da resistência vascular sistêmica e à
redução do débito cardíaco, é mais freqüentemente o resultado da
administração inadequada de fluido. Em tal cenário, os diuréticos são
contra –indicados. Em oligúria comumente responde à infusão mais rápida
de fluido.
B . Uso de diuréticos
1) Em pacientes com queimaduras extensas que permanecem oligúricos
apesar da terapia de líquido, um diurético pode ser administrado para evitar
a ocorrência de insuficiência renal aguda, se eles receberam suas
necessidades de líquido calculado e não tem nenhuma outra evidência de
um déficit significativo e persistente do volume sangüíneo.
Pacientes com queimadura de alta voltagem e pacientes com lesão de tecido leve combinada a
trauma mecânico podem ter quantidades significativas de mioglobina e hemoglobina na sua
urina. Existe o risco de rabdomiólise com insuficiência renal por mioglobinúria ou
hemoglobinúria. A cor escura da urina nestes pacientes sinaliza presença de mioglobinuria. A
administração de grandes volumes de solução salina em proporção suficiente para manter a
produção urinária de 75 – 100 ml por hora no adulto normalmente produzirá a desobstrução
dos pigmentos heme com rapidez suficiente para eliminar a necessidade de um diurético.
Se a produção de urina e a desobstrução de pigmento não responder à vigorosa administração
de líquido, 12.5 g do diurético osmótico Manitol deve ser adicionado a cada litro de líquido
de reposição.
Quando a produção de urina adequada for estabelecida e a densidade de pigmento diminui, a
terapia é continuada sem adição do agente diurético ao líquido de reposição.
Já que os pigmentos heme são mais solúveis em um meio alcalino, o bicarbonato de sódio
pode ser adicionado aos líquidos de reposição conforme o necessário para manter a urina
levemente alcalina.
A administração de um diurético evita o uso subsequente da produção horária de urina como
um guia para a terapia de fluido; deve-se confiar em outros índices da adequação da reposição
de volume.
B - Condições Gerais
C - Pressão Arterial
D . Frequência Cardíaca
Exames laboratoriais e gasometria iniciais devem ser obtidos em pacientes com queimadura
envolvendo mais de 30% da superfície de corpo e em pacientes com lesão por inalação
importante. Avaliações subsequentes são realizadas de acordo com a reação do paciente ao
tratamento.
Se uma amostragem repetida do sangue arterial for necessária, como em pacientes com lesão
por inalação severa, deve-se inserir uma cânula em uma artéria do antebraço para se reduzir o
risco de uma lesão vascular e uma oclusão aguda combinada com a perfusão arterial
repetitiva.
G . Raio X do Tórax
Obtenha uma radiografia do tórax diariamente nos primeiros cinco a sete dias após a
queimadura em pacientes com queimaduras extensas e / ou lesão por inalação. Continue
conforme o indicado pela evolução respiratória do paciente. Uma radiografia normal ou sem
alterações na administração e nas primeiras 24 horas não elimina a possibilidade de uma lesão
por inalação.
H. ECG
O edema pulmonar agudo não é frequentemente nas primeiras 24 horas após a queimadura em
pacientes queimados sem complicações, mesmo naqueles que recebem líquido acima do
estimado. A perda de líquido através dos capilares pulmonares parece ser minimizada pela
persistência de uma elevação desproporcional da resistência vascular pulmonar em relação à
resistência vascular orgânica.
B . Acidose
A causa mais comum de acidose inicial pós – queimadura é a perfusão inadequada do tecido
conforme o indicado pelos níveis elevados de ácido lactico. Essa forma de acidose responde
caracteristicamente à administração de líquido aumentada. A administração de bicarbonato
pode ser requerida para contra – atacar os efeitos da acidose no miocárdio naqueles pacientes
que permanecem acidóticos seguindo outras manipulações terapêuticas. A solução de
bicarbonato de sódio também é usada para alcalinizar a urina a fim de aumentar a solubilidade
do hemocromogênio naqueles pacientes com altas concentrações urinárias de tais pigmentos.
O tratamento da acidose persistente deve ser feito em consulta com o pessoal do centro de
queimados.
C . Hiperpotassemia
A não ser o pequeno montante contido na solução de Ringer Lactato, o potássio não é
administrado durante a reposição. A liberação de potássio das células vermelhas e de outros
tecidos danificados com o calor eleva os níveis de circulação de potássio. A excreção urinária
de potássio é geralmente o suficiente para evitar que a elevação de potássio do soro atinja
níveis tóxicos.
Se, como pode ocorrer com a acidose inesperada ou em pacientes com lesão em redes de alta
voltagem, a liberação de potássio exceder a capacidade escretória renal e o potássio do soro
aproximar-se de níveis tóxicos, a hiperpotassemia deve ser tratada como em outros pacientes
pela administração de bicarbonato de sódio, glicose e insulina, e / ou resinas de troca de íon,
dependendo do nível e da taxa de elevação de potássio de soro. Para assegurar a continuidade
do tratamento e a segurança do paciente durante a transferência, o tratamento da
hiperpotassemia deve ser coordenado com os médicos do centro de queimados para o qual os
pacientes são encaminhados.
D . Hiponatremia
A área de superfície maior por unidade de massa corporal das crianças necessita da
administração de quantidades relativamente maiores de líquido de reposição. A relação área
de superfície/ massa corporal da criança também determina um volume intravascular menor
por unidade de área de superfície queimada, o que torna a criança queimada mais suscetível à
sobrecarga de líquido e à hemodiluição. A infusão intra-óssea pode ser usada em crianças.
A hipoglicemia pode ocorrer se os estoques limitados de glicogênio da criança forem
rapidamente esgotadas pela elevação imediata à queimadura, dos níveis circulantes de
esteróides e catecolaminas. Monitore os níveis de glicose do sangue e, se a hipoglicemia se
desenvolver, continue a reposição usando soluções de eletrólito contendo glicose.
Nos mais jovens, a infusão de líquidos sem eletrólitos nas segundas 24 horas pode causar
hiponatremia e deve ser evitada pelo uso de soro fisiológico 0.45% em vez de água sem
eletrólito.
Sonolência progressiva, convulsões ou outros sinais de irritabilidade do sistema nervoso
central alerta para a possibilidade de um edema cerebral devido à sobrecarga de líquido. Em
tais pacientes, diminua a velocidade da administração de líquidos, administre um diurético, e
estabeleça a hiperventilação para reduzir o paCo2 a níveis de 25 a 30 torr.
VIII. Resumo
O objetivo da reposição é manter as funções vitais dos órgãos enquanto evita as complicações
da hipohidratação ou hiperhidratação. Volumes excessivos de líquido de reposição podem
aumentar a formação de edema comprometendo, assim, o suprimento de sangue local. A
reposição volêmica insuficiente pode levar ao choque e falência de órgãos.
As fórmulas usadas para calcular líquidos para as primeiras 24 horas são:
• Adultos: 2 – 4 ml Ringer Lactato x Peso do corpo em Kg x % ACQ
• Crianças: 3 – 4 ml Ringer Lactato x Peso do corpo em Kg x % ACQ
A proporção da infusão é regulada de modo que metade do volume estimado será
administrado nas primeiras 8 horas após a queimadura, ou seja, o tempo durante o qual a
perda da permeabilidade capilar e de volume intravascular são os maiores. A metade restante
do volume de reposição estimado deve ser administrado durante as subsequentes 16 horas do
primeiro dia após a queimadura. A proporção da infusão de líquido deve ser aumentada ou
diminuida em um terço se a produção urinária cair abaixo de ou exceder o nível desejado em
mais de um terço por duas a três horas. O volume real de líquido infundido pode ser diferente
do volume calculado, de acordo com o indicado pela monitorização fisiológica da reação do
paciente.
OBJETIVOS
I. Introdução
Nos EUA, anualmente 2.500 crianças morrem devido a lesões térmicas. Aproximadamente
10.000 sofrem algum tipo de seqüela incapacitante.
A lesão derivada do escaldamento é mais comum em crianças com idade inferior a quatro
anos e as lesões provocadas por fogo são encontradas com maior freqüência em crianças
com idade superior a quatro anos.Também podem ser encontradas escaldaduras como
resultado de queimaduras intencionais, isso é, aquela lesão provocada pelo abuso infantil.
II. Fisiopatologia
Quando comparado ao adulto, a criança pequena e/ou o lactente tem uma área de superfície
corporal, por peso, relativamente maior. Para se ter uma idéia uma criança com 7 kg.,
representa apenas 1/10 de um peso de um adulto de 70 kg mas, apresenta uma superfície
corporal de 1/3 do adulto. Como conseqüência dessa área corporal relativamente grande, a
criança tem necessidades de reposição de líquidos relativamente maiores e perda de água
evaporativa maior em relação ao peso do que o adulto. As relações se tornam semelhantes
aos 15 anos.
Nas crianças abaixo de 2 anos de idade a pele é muito fina o que pode resultar em
queimaduras profundas, isso é, de espessura total (III grau) que inicialmente pareciam ser
de espessura parcial (II grau).
C. Sensibilidade à temperatura
A exposição ao calor em temperaturas abaixo de 44º C pode ser tolerada por períodos
relativamente longos em crianças e adultos. Acima dessa temperatura, a destruição dos
tecidos aumenta em escala logarítmica.
No adulto, é necessária uma exposição de 30 segundos a uma temperatura de 54º C para
produzir uma queimadura. Já nas crianças, nessa mesma temperatura, são necessários
apenas 10 segundos e uma queimadura bastante profunda será produzida. Isto ocorre
devido à espessura mais fina do derma nas crianças. Na temperatura de 60º C somente 5
segundos são necessários para produção de uma grave queimadura e em menos tempo nos
lactentes.
III.Avaliação Inicial
A. História
B. Extensão da Lesão
A. Vias Aéreas
Deve-se enfatizar que as crianças podem demonstrar poucos sinais físicos e mesmos
radiográficos de lesão pulmonar nas primeiras 24 horas pós-queimadura. A entubação
endotraqueal está indicada nos lactentes e crianças com estresse respiratório importante ou
comprometimento da via aérea por edema envolvendo a glote e via área superior.
A entubação deve ser realizada por profissional com experiência em entubação
endotraqueal em crianças. Nas crianças a laringe está localizada em posição mais cefálica
do que no adulto, resultando numa angulação mais acentuada da glote quando comparada
ao adulto. Essas diferenças anatômicas são importantes e podem resultar em lesões quando
realizada por profissionais inexperientes. O diâmetro das narinas ou dos dedos menores da
criança devem ser utilizados como parâmetro do calibre do tubo endotraqueal. Um tubo
endotraqueal sem balonete deve ser utilizado.
Tentativas de entubação sem sucesso podem criar edema adicional suficiente para obstruir a
via área. Após duas tentativas sem êxito de estabelecer uma via aérea patente, deve ser
consultado um médico do Centro de Queimado.
A traqueotomia ou cricotiroidotomia nunca está indicada para crianças ou lactentes. Uma
agulha de bom calibre puncionada através da membrana cricotireóidea pode ser usada como
recurso de uma via aérea. Todos os pacientes pediátricos com suspeita de lesão por inalação
devem ser preparados para transferência imediata para um Centro de Queimados.
B. Circulação
As crianças com queimaduras acima de 10% de Superfície Corporal Atingida devem ser
encaminhadas para um Centro de Queimados.Algumas medidas devem ser tomadas
anteriormente à transferência, e incluem, o estabelecimento de um acesso venoso, e a
administração de líquidos de reposição volêmica após a via aérea estar patente e garantida.
O cateter venoso pode ser inserido por punção percutânea ou dissecação. Nos pacientes
com queimaduras extensas, o acesso venoso pode ser obtido mesmo em aéreas queimadas.
O ringer lactato é a solução indicada para iniciar a reposição volêmica nos pacientes
queimados de todas as idades. Uma sonda vesical deve ser introduzida para monitorar a
eficiência da reposição de líquidos.
As crianças freqüentemente estão agitadas, chorando e ofegantes, isso faz com que grandes
quantidades de ar sejam deglutidas; portanto uma sonda nasogástrica deve ser introduzida.
A reposição de líquidos nas crianças e lactentes deve ser iniciada com 3-4 ml x KG x
percentual da área corporal atingida durante as primeiras 24 horas e o líquido de escolha é a
solução de ringer lactato. Não está incluído as perdas insensíveis e necessidades de
manutenção.
Pode ocorrer hipoglicemia nos lactentes por causa das limitadas reserva de glicogênio; a
glicose deve ser monitorada e se a hipoglicemia ocorrer, a reposição deve ser introduzida
com a solução de ringer lactato com glicose a 5%.
Para a necessidade de manutenção deve ser acrescido 100 ml por Kg para os primeiro 10
Kg de peso corporal, mais 50 ml por Kg para cada Kg de 11 a 20 Kg, mais 20 ml por Kg
para cada Kg acima de 20 Kg. Exemplificando, para uma criança de 23 Kg, as necessidades
de manutenção seria
1000 ml mais
500 ml mais
60 ml
----------------
1560 ml/ 24 horas de manutenção
A resposta de cada paciente é individual a essa reposição e determinará o volume e taxa de
administração.
A utilização da infusão intra-óssea pode salvar a vida de um lactente seriamente queimado.
Está indicado somente nos casos em que não se consegue a via intravenosa antes da
transferência para o hospital ou na probabilidade de uma parada cardíaca.
A diurese é uma resposta confiável do fluxo renal. Nas crianças com peso inferior a 30 Kg,
uma reposição considerada adequada produz uma diurese média de 1 ml x kg x hora. Nas
crianças acima de 30 Kg a reposição estará adequada com uma diurese entre 30-50 ml x
hora.
Uma resposta adequada à reposição pode também ser avaliada pela monitorização do
sensório, pH do sangue e circulação periférica.
C. Lesão tecidual
D. Escarotomia
A escarotomia nos pacientes pediátricos queimados pode ser necessário para favorecer a
circulação sangüínea ou ventilação torácica. O comprometimento da circulação sangüínea
pode ser produzido por queimaduras circunferênciais nos membros. Dor, parestesias,
palidez, ausência de pulsos são sintomas clássicos, mas freqüentemente surgem numa fase
mais tardia. Exames com ultra-som de fluxo são mais confiáveis para a monitorização do
fluxo sangüíneo em uma extremidade queimada de uma criança pequena.Quando a
escarotomia é necessária uma consulta ao centro de queimado deve ser considerada.
As paredes do tórax e os pulmões são menos rígidos que no adulto. Conseqüentemente a
criança pode rapidamente ficar extenuada pelo edema e os efeitos restritivos de uma
queimadura circunferencial sobre o tórax. Se isso ocorrer, uma escarotomia sobre a parede
torácica é necessária. As incisões devem ser ao longo das linhas axilares anteriores e
prolongar-se sobre o abdome e acompanhadas por uma margem costal transversal que
atravesse a incisão.
O tratamento de queimaduras elétricas e químicas nas crianças não difere dos adultos. A
queimadura de baixa voltagem na comissura labial, a qual a criança freqüentemente é
acometida por sugar ou mastigar fios elétricos ou extensão conectados a rede, pode causar
algum pânico. A hemorragia deve ser controlada se houver lesão da artéria labial. Se o
paciente está sendo acompanhado em regime ambulatorial os pais devem ser instruídos
sobre a possibilidade de hemorragia e orientados como controlar o sangramento através da
digito-pressão. O tratamento das lesões deve ser coordenado por um cirurgião do centro de
queimados.
F. Abuso Infantil
V.Resumo
Objetivos
I. Introdução
1. Lesão Celular
A pele humana tolera temperaturas de até 44ºC, sem produzir lesão celular. Temperaturas
acima deste nível, entretanto, produzem lesão tecidual. O grau de destruição celular e
portanto, da gravidade da queimadura, está correlacionado com a temperatura e a duração
da exposição ao agente térmico.
A área central da queimadura, que permaneceu em maior contato com a fonte de calor, é
caracterizada pela coagulação e necrose celular. Esta região é chamada de zona de
coagulação.
Estendendo-se perifericamente desta zona central, inicia-se uma área de lesão lábil, também
com lesão celular, mas que, em condições ideais pode sobreviver, embora usualmente
evoluam para necrose celular em período de 24 a 48 horas seguindo o contato com o agente
térmico. Esta região tem sido designada como zona de estase.
Perifericamente a zona de estase encontra-se ainda uma região de hiperemia que apresenta
lesão celular mínima e que usualmente se recupera em um período de sete a dez dias.
Clinicamente, a profundidade das camadas celulares da pele que são destruídas ou lesadas
se refletem em alterações na capacidade funcional da pele. Assim, a profundidade da
queimadura é determinante nos cuidados necessários para a sua cicatrização, desde a
reepitelização espontânea até a necessidade de enxertias de pele e, dessa forma, o resultado
estético e funcional final.
2. Profundidade da queimadura
3. Acúmulo de líquidos
A avaliação e o tratamento dos problemas que ameaçam a vida do paciente sempre têm
preferência em relação ao tratamento específico da queimadura. As mesmas prioridades de
tratamento estabelecidas para pacientes com lesões múltiplas, devem também ser aplicadas
igualmente em pacientes queimados.
Escarotomias do tórax:
A respiração adequada deve ser continuamente monitorada durante o processo de
ressuscitação. Se a dificuldade respiratória se inicia precocemente, ela pode ser devida a
queimaduras circunferenciais profundas do tórax, produzindo dificuldade de ventilação pela
limitação da expansão torácica. Quando presente, a descompressão com escarotomias está
indicada e pode ser um procedimento que salva a vida do paciente. Outras causas de
dificuldade respiratória, como inalação de fumaça, também devem ser consideradas.
Escarotomias para queimaduras circunferenciais do tórax são realizadas na linha axilar
anterior bilateralmente. Se existir uma extensão significante da queimadura do tórax até o
abdome, as incisões devem ser estendidas até esta área, com uma incisão no rebordo costal
separando estas duas unidades anatômicas.
Escarotomias de extremidades
A formação de edema nos tecidos sob a escara rígida e inelástica de uma queimadura
circunferencial de extremidades pode produzir importante comprometimento vascular dos
membros. Lesões graves, vasculares e neurológicas, podem ocorrer se este problema não
for reconhecido e tratado. Todos os anéis, pulseiras e outras jóias devem ser removidos dos
membros para evitar isquemia vascular distal. A elevação e mobilização ativa da
extremidade lesada podem aliviar mínimos graus de dificuldade circulatória. Mais
freqüentemente, entretanto, a descompressão cirúrgica é necessária para diminuir a
compressão e restaurar a circulação adequada.
A cor da pele, sensibilidade, enchimento capilar e pulsos periféricos devem ser obtidos a
cada hora em qualquer extremidade com uma queimadura circunferencial. A ocorrência de
algum dos seguintes sinais e sintomas pode indicar uma perfusão periférica diminuída na
extremidade distal:
• Cianose
• Dor tecidual profunda e parestesia progressiva (perda da sensibilidade)
• Diminuição progressiva ou ausência de pulso
• Sensação de frio nas extremidades.
O uso de fluxometria com ultra-som é o meio mais confiável de acessar o fluxo sanguíneo
arterial e a necessidade de escarotomia, além de também poder ser utilizado para avaliar a
circulação após a realização da escarotomia.
Esta situação é análoga a do paciente com curativo gessado ortopédico de extremidades
muito apertado ou justo. Da mesma forma que é obtida o alívio pela abertura do gesso, a
escarotomia é realizada para separar a escara e liberar a pressão causada pelo edema
tecidual contido.
O procedimento de escarotomia pode ser realizado na beira do leito utilizando um campo
esterilizado e bisturi. A anestesia local não é necessária porque as queimaduras de terceiro
grau são insensíveis, uma vez que as terminações nervosas também estão queimadas.
Entretanto, pequenas doses de narcóticos endovenosos podem ser necessários para
controlar a ansiedade. A incisão deve evitar o trajeto de nervos, vasos importantes e
tendões. Usualmente a incisão é feita na face lateral ou medial da extremidade, através da
escara até a gordura subcutânea, permitindo a separação adequada dos bordos da incisão
para descompressão.
A incisão deve ser feita por toda a extensão da queimadura de terceiro grau que provoca a
constrição, e particularmente, através das articulações envolvidas.
Uma simples incisão de escarotomia em uma extremidade, pode não resultar ainda em uma
perfusão tecidual adequada e, nestes casos, uma segunda incisão de escarotomia
contralateral da extremidade deve ser realizada.
Queimaduras de face
As queimaduras de face são consideradas lesões graves e usualmente requerem tratamento
hospitalar. Nestes casos a possibilidade de lesão da via aérea deve sempre ser considerada.
Devido ao grande suprimento sanguíneo e ao tecido aerolar frouxo, as queimaduras de face
são associadas com grandes formações de edema. Para minimizar a formação de edema, o
paciente deve ser mantido com o tórax elevado e a cabeça deve ser elevada cerca de 30o.
em relação ao tronco, desde que o paciente não esteja em choque. Em crianças e elevação
da cabeça pode diminuir o risco potencial de convulsões durante a reanimação.
Para evitar-se conjuntivites químicas, água ou solução salina devem ser usadas para lavar as
queimaduras de face e, os olhos, devem ser protegidos durante este procedimento.
Queimaduras oculares
Um cuidadoso exame dos olhos deve ser realizado tão cedo quanto possível devido à rápida
formação do edema palpebral, que pode tornar o exame ocular difícil após algumas horas.
A fluoresceína pode ser utilizada para identificar lesões de córnea. Queimaduras químicas
dos olhos devem ser copiosamente irrigadas com solução salina conforme indicado.
A instilação cuidadosa de soluções oftálmicas durante o período de edema palpebral
máximo está também indicada. Pomadas com antibióticos podem ser utilizados se foi
identificada a lesão de córnea, mas devem ser aplicados somente após consulta ao Centro
de Queimados. Já as soluções oftálmicas contendo corticóides podem ser perigosas e
devem ser evitadas. A tarsorrafia nunca está indicada na fase aguda da queimadura.
Queimaduras auriculares
As queimaduras no ouvido requerem o exame do canal auditivo externo e tímpano, antes do
edema ocorrer. Este exame é importante para determinar se existe a presença de otites
externas ou otite média, principalmente em crianças. Deve-se estar atento a traumas
adicionais ou pressões sobre os ouvidos. Os cuidados devem ser direcionados para evitar-se
curativos compressivos e travesseiros sob a cabeça.
Queimaduras de mãos
As queimaduras pequenas de mãos usualmente resultam apenas em incapacidade
temporária e incômodo, porem lesões mais extensas e profundas podem levar a perda
permanente da função.
O aspecto mais importante do exame físico da queimadura de mão é verificar a perfusão
periférica e a necessidade de escarotomias. A presença de pulso radial não exclui uma
síndrome compartimental. A monitorizaçao dos pulsos digitais e palmares com fluxometria
com ultra-som é o meio mais acurado de se avaliar a perfusão dos tecidos da mão.
Também, elevar a extremidade queimada acima do nível do coração pode minimizar a
formação de edema, bem como uma mobilização ativa por cinco minutos a cada hora.
Curativos oclusivos nesta fase devem ser evitados para permitir a avaliação constante da
circulação das extremidades das mãos.
Queimaduras especiais
Queimaduras por piche
Queimaduras por piche são usualmente queimaduras de contato. O betume não é absorvido
e não é tóxico. O tratamento de emergência consiste apenas no resfriamento do material
amolecido com água fria. A remoção do piche não é uma emergência . A urgência é em
parar o processo de queimadura com a aplicação de água ou compressas frias. Mais
tardiamente , o piche pode ser removido promovendo-se a sua emulsificação com óleos
derivados de petróleo, permitindo então, a avaliação da real extensão e profundidade da
queimadura.
RESUMO
O sucesso do tratamento do paciente com queimaduras térmicas requer atenção no
manuseio da ferida para promover a melhor cicatrização possível do tecido queimado.
Entretanto, o tratamento da queimadura não deve preceder o tratamento das lesões
imediatas ameaçadoras à vida, mas são um aspecto importante do tratamento do paciente
durante a fase aguda. Queimaduras em sítios anatômicos importantes necessitam de
cuidados mais específicos. O resultado funcional destes pacientes é geralmente relacionado
as medidas de manuseio inicial destas áreas específicas , pois queimaduras graves podem
resultar em importantes seqüelas estéticas e funcionais e freqüentemente devém ser
encaminhadas precocemente para um Centro de Queimados.
CAPÍTULO 6 - QUEIMADURAS QUÍMICAS
OBJETIVOS
INTRODUÇÃO
Queimaduras não térmicas – por exemplo, as químicas - diferem em vários aspectos das
queimaduras térmicas, porém determinam conseqüências semelhantes: dano tecidual. Os
agentes químicos podem ser classificados em álcalis, ácidos e compostos orgânicos. A
maior parte das queimaduras químicas deve-se ao manuseio de produtos domésticos.
Álcalis e ácidos são os princípios ativos de desinfetantes e desengordurantes (detergentes).
Diferem das queimaduras térmicas, que em geral acontecem após breve exposição, porque
o contato com as mesmas pode ser prolongado na ausência de tratamento apropriado.
CLASSIFICAÇÃO
Álcalis: hidróxidos, carbonatos, sodas cáusticas de sódio, potássio, amônia, lítio, bário e
cálcio. Provocam acidentes comuns em crianças por contato ocasional. O mecanismo de
ação compreende:
a- saponificação das gorduras determina perda de proteção ao calor gerado pela reação
química,
b- desidratação celular devido a extração da água pela natureza higroscópica do álcali,
c- dissolução da proteína tecidual e formação de produtos alcalinos solúveis que contém íon
hidróxido que favorece maior penetração nos tecidos.
Cimento (cal): óxido de cálcio. Em geral relacionados a acidentes de trabalho. Após contato
prolongado com a pele, combinam com a perspiração, geram reação exotérmica sendo o íon
hidroxila o agente responsável pela lesão.
GRAVIDADE DA LESÃO
A duração do contato deve ser minimizada ao máximo para assegurar boa evolução.
TRATAMENTO
1- álcali nos olhos: ligam-se a proteínas e requerem irrigação prolongada com água ou
soro fisiológico. Pode ser necessário irrigação continua através de sondas nos sulcos
laterais com mantenedor de pálpebras abertas. Mantenha a irrigação até que o
paciente seja transferido para um centro de queimados ou avaliado pela
oftalmologia.
2- Contato com derivados de petróleo: gasolina e diesel são agentes vesicantes que
promovem bolhas devido liberação de aminas nos tecidos. Inicialmente determinam
lesões de espessura parcial, porém freqüentemente evoluem para espessura total.
Quando absorvidos em quantidades significativas podem causar falência de órgãos e
até a morte. Sinais de intoxicação tornam-se evidentes entre 6 a 24 horas com
insuficiência pulmonar, hepática e renal. Se a gasolina contiver chumbo tetraetílico
pode ser observado intoxicação por este metal. Pacientes devem ser transferidos
imediatamente para centro de queimados.
3- No caso de queimaduras por acido hidrofluorídrico, após irrigação copiosa com
água corrente ou se prontamente disponível com uma solução de cloreto de
benzalconio – Zephiran -, deve-se cobrir a área queimada com gel de gluconato de
cálcio a 2,5%, trocado a cada 15 minutos até alívio da dor. Se não houver alívio
adequado da dor pode ser necessário a injeção intradérmica de gluconato de cálcio a
10%. A injeção deve ser realizada por pessoa treinada para evitar complicações
neurovasculares isquêmicas. Os pacientes devem ser internados e monitorizados
com especial atenção ao ECG e prolongamento do intervalo QT e eletrólitos séricos
em centro de queimados.
RESUMO
As queimaduras químicas constituem um grupo especial de lesões. Todo profissional
que prestar atendimento a pessoas expostas a estes agentes devem fazer uso das
precauções universais – roupas de proteção, luvas e óculos – para evitar lesões por
contato. Para melhores resultados, a rapidez é essencial – remova completamente as
roupas, escove os agentes em pó e lave abundantemente com água corrente. Lesões que
envolvam os olhos devem ser consideradas em especial – manter aberto e irrigar.
Derivados de petróleo freqüentemente determinam lesões que são subestimadas na
primeira avaliação. O acido hidrofluorídrico – mais comum nas lesões de mãos e dedos
– é praticamente o único agente químico que deve ser neutralizado. Queimaduras
químicas trazem perigo adicional de intoxicação orgânica exigindo observação rigorosa
por equipe treinada em centro de queimados.
CAPÍTULO 7. LESÃO POR ELETRICIDADE
OBJETIVOS:
I - Introdução
Lesões por eletricidade são arbitrariamente divididas em alta e baixa voltagem, a primeira
de 1.000 volts ou mais. Acidentes com alta tensão comumente variam de 7.200 a 19.000,
mas poder envolver de 100.000 a 1.000.000 volts.
A corrente doméstica no Brasil é geralmente uma corrente alternada de 60 ciclos (AC) com
voltagem de 110 ou 220 volts.
Acidentes elétricos envolvendo correntes diretas (DC) são incomuns. Embora a corrente
direta seja usada principalmente no meio industrial, fontes comuns de exposição são a
bateria do carro e aparelhos eletrocirúrgicos .
II. Fisiopatolologia
Carbonização comumente ocorre nos locais de contato e podem também ser produzidas
pelo arco da corrente através das superfícies flexoras das juntas. O maior dano ao tecido
ocorre diretamente sob e adjacente aos pontos de contato onde a carbonização é geralmente
severa.
Embora tecidos diversos tenham resistências diferentes à corrente elétrica (tecidos nervosos
a menor, e tecidos ósseos, a maior ), todos são condutores e, com a alta voltagem, o corpo
atua como um condutor de volume.
Após o fluxo da corrente cessar, o tecido aquecido atua como um radiador de volume com
o tecido superficial esfriando mais rápido do que o tecido mais profundo. Essas
características do tecido explicam a presença de tecidos periósteos não viáveis embaixo de
músculos mais superficiais, viáveis, num membro com lesão de alta voltagem.
Essas lesões são extremamente difíceis de avaliar clinicamente. Pode haver sérios danos do
músculo e do tecido em torno do osso num membro em que a pele, a não ser no ponto de
contato carbonizado, está intacta e não lesionada.
1.Uma queimadura cutânea sem nenhum dano ao tecido subjacente resulta quando
as roupas inflamam-se e não há nenhuma passagem de corrente através do
paciente.
As lesões por raio são únicas mas não incomuns. Os raios matam entre 150 a 300 pessoas
por ano no Brasil. O raio é uma corrente direta de 100.000.000 volts ou mais e acima de
200.000 amps. Golpes múltiplos podem ocorrer no mesmo local e a lesão pode resultar dos
seguintes mecanismos:
A. Um golpe direto
B. Um relâmpago indireto
O fluxo da corrente passa para a pessoa oriundo de um objeto contíguo atingido pelo
relâmpago.
A corrente gerada pelo relâmpago geralmente viaja na superfície do corpo e não através
dele. As queimaduras cutâneas são tipicamente superficiais, apresentando o que tem sido
chamado de “salpicado” aracnóideo ou com padrão arborescente.
IV. Tratamento
A. O exame básico começa com os ABC´s como com qualquer queimadura. As
funções vitais do paciente são avaliadas e o tratamento emergencial é iniciado
conforme o necessário.
B. Avaliação da Lesão
1. Obtenha a história
a. Onde e como ocorreu a lesão?
b. O paciente perdeu a consciência ou teve amnésia?
c. O paciente caiu ou sofreu outro trauma?
d. Houve parada cardíaca ou disritmia na cena?
e. Pergunte aos provedores de tratamento pré-hospitalar se o paciente não
puder transmitir a história.
2. Exame físico
a. Identifique todos os locais de contato.
1) Remova toda a roupa e jóias.
2) Verifique cuidadosamente os pés e as mãos.
3) Raspe a cabeça se há local de contato no couro cabeludo.
b. Estime a extensão da superfície do corpo queimada.
c. Realize um exame neurológico inicial para documentar déficits dos
nervos periféricos e da medula espinhal.
d. Verifique lesões na espinha, fraturas nos ossos longos e luxações.
D. Ressuscitação
E. Monitoração Eletrocardiográfica
2. Todos os anéis, relógios e outras jóias devem ser removidos dos membros
atingidos, do contrário, um efeito “torniquete” pode causar isquemia
vascular distal.
Acidentes com baixa voltagem são os mais comuns com crianças e geralmente ocorrem em
casa. Etiologias comuns incluem acidentes associados com isolamento defeituoso,
aparelhos elétricos, fios elétricos desfiados e até mesmo a inserção de metais em tomadas
na parede. Esse tipo de acidente gera uma lesão cutânea mínima e geralmente nenhum dano
profundo ao músculo.
Lesões envolvendo a comissura oral ou outras áreas faciais comumente parecem piores do
que realmente são e nenhum debridamento cirúrgico inicial deve ser realizado. Os cuidados
subsequentes devem ser coordenados com o médico do centro de queimados.
VI. Resumo
OBJETIVOS
I - INTRODUÇÃO
Uma unidade de queimados pode tratar adultos ou crianças ou ambos, portanto para
transferência deverá ser verificado as possibilidades de atendimento do CTQ.
A Sociedade Brasileira de Queimaduras orienta que após avaliação e estabilização inicial,
em um serviço de emergência, os pacientes que deverão ser transferidos para uma unidade
de queimados são aqueles que apresentarem:
• Queimaduras de espessura parcial maiores que 10% da superfície corporal
total (SCT);
• Queimaduras que atingem a face, as mãos, os pés, a genitália, o períneo e
grandes articulações;
• Queimaduras de III grau em qualquer idade, > 2% na criança e > 5% no
adulto;
• Queimaduras elétricas, inclusive queimaduras por raio;
• Queimaduras químicas;
• Lesões por inalação;
• Queimaduras em pacientes com doenças pré-existentes que poderiam
complicar o tratamento, prolongar a recuperação ou afetar a mortalidade;
• Qualquer paciente com queimaduras e trauma concomitante (tais como
fraturas, etc), nos quais a queimadura apresenta o maior risco de morbidade
ou mortalidade. Em casos em que o trauma apresenta o risco imediato, o
paciente deve ser primeiramente estabilizado num centro de trauma, antes
de ser transferido para uma unidade de queimados. O julgamento médico
será necessário em tais situações e deve estar de acordo como plano de
controle médico regional e os protocolos de triagem;
• Hospitais sem pessoal qualificado e/ou equipamento para atendimento de
crianças queimadas, deverão fazer a transferência para um CTQ que atenda
a esta necessidade;
• Pacientes queimados que necessitam atenção especial, tanto social,
emocional e/ou período de reabilitação prolongada como os casos
envolvendo suspeita de abuso infantil, agressões com substâncias, etc.
Uma vez tomada a decisão de transferir um paciente queimado é essencial que o paciente
esteja completamente estabilizado, antes do processo de transferência. Os princípios de
estabilização são executados durante a avaliação primária e secundária, da seguinte forma:
1. Suporte Respiratório
A via aérea superior deve ser avaliada devido a possíveis obstruções. Sinais de dificuldade
respiratória na via aérea inferior devem ser identificados.
As manifestações clínicas de queimaduras de vias aéreas são freqüentemente inaparentes
nas primeiras 24-36h após a lesão. Um importante edema de faringe pode se formar, sendo
necessário a entubação naso ou orotraqueal com ventilação mecânica.
Administrar oxigênio a 100%.
2. Suporte Circulatório
3. Gastrintestinal
Todos os pacientes devem estar em dieta oral zero até que a transferência tenha sido
realizada.
Uma sonda nasogástrica deve ser introduzida em todos os pacientes com queimaduras
maiores que 20% SCT.
5. Analgesia
A administração de qualquer analgésico, narcótico ou sedativo deve ser feita por via
endovenosa.As dosagens são dependentes das lesões co-existentes ou condições médicas
pré-existentes.
Uma queimadura severa causa mais ansiedade do que dor propriamente dita.
6. Imunização do Tétano
Avaliar o estado de imunização contra tétano é importantíssimo e não deve haver perda de
tempo.Caso haja algum retardamento desta imunização (quando necessário), deverá estar
especificamente anotado, assim a profilaxia não passará despercebida.
Em pacientes com imunização prévia completa, com última dose aplicada há mais de cinco
anos, administrar 0,5ml de Toxóide Tetânico.
Pacientes não imunizados, aplicar 250 UI de Gamaglobulina Hiperimune e 0,5ml de
Toxóide Tetânico.
7. Documentação
IV - PROCESSO DE TRANSFERÊNCIA
O contato entre médicos é essencial para assegurar que as necessidades do paciente sejam
garantidas através de cada aspecto da transferência. O médico transferidor deve
providenciar os dados demográficos e históricos como também os resultados de sua
avaliação primária e secundária.
Um acordo de transferência entre o hospital remetente e o centro de queimados é desejável
e deve incluir o comprometimento do centro em fornecer ao hospital remetente um apoio
apropriado. Indicadores de qualidade fornecerão instrução contínua sobre a estabilização e
tratamento de pacientes queimados.
O médico tem a responsabilidade de determinar os meios de transporte e as medidas de
estabilização necessárias. Esta decisão deverá ser tomada considerando-se a capacidade de
recursos da equipe de resgate, além de tempo-distância e o número de injúrias que a vítima
apresenta.
O transporte efetivo deve ser conduzido por uma equipe treinada em ressuscitação de
queimados.
Os veículos que poderão ser usados são:
V - RESUMO