Escolar Documentos
Profissional Documentos
Cultura Documentos
1
Farmacologia II João Pedro – 2016.2
A liberação de fatores de crescimento ocorre se houver algum prejuízo ou morte de células da mucosa. A
microcirculação distribui fatores de crescimento para que se reestruture a parede.
As prostaglandinas (PGE2 e PGI2 – duas principais prostaglandinas) são quem mantém a estrutura da barreira
mucosa gástrica. Na superfície do epitélio há receptores (EP3) de prostaglandinas e, quando ativados, eles aumentam
a secreção de muco e bicarbonato pela célula epitelial superficial e reduzem a atividade de secreção gástrica pela célula
parietal.
A infecção por H. pylori (90-95% dos casos de úlceras duodenais), o uso prolongado de AINEs, a secreção excessiva
de HCl (idiopáticas e o tumor secretor de gastrina (síndrome de Zollinger-Ellison) são os principais responsáveis pelo
aparecimento de úlceras pépticas. Há úlceras com hipocloridria, que surgem por causa de redução da barreira mucosa
gástrica.
O H. pylori está muito associado ao linfoma de tecido linfóide da mucosa gástrica e ao adenocarcinoma gástrico. A
bactéria se prolifera inicialmente na região do antro gástrico, na pequena curvatura (ainda no estômago) ou no bulbo
duodenal (intestino), gerando uma gastrite crônica ativa e provocando sinais e sintomas característicos. Devido à
gastrite crônica, ocorre a destruição das células D, reduzindo, portanto, a secreção de somatostatina e comprometendo
a regulação da secreção de gastrina. Assim, passa a haver uma secreção de quantidades elevadas de gastrina
(hipergastrinemia), com consequente ativação das células parietais ou das células enterocromafins (liberando
histamina) e, por isso, aumento da quantidade de ácido (hipercloridria). O excesso de ácido, que acaba, também,
chegando ao duodeno, leva à metaplasia (ilhas de epitélio metaplásico). A partir daí a H. pylori se prolifera ainda mais.
Essa bactéria produz urease, enzima que transforma uréia em amônia (tóxica para as células), apresenta capacidade
de aumentar o fator ativador plaquetário (PAF), provocando trombose da microcirculação que mantém a estrutura da
barreira mucosa gástrica, reduz a produção de bicarbonato, principalmente no duodeno, e estimula a liberação de IL-8,
atraindo neutrófilos para a região, que possuem enzimas proteolíticas, degradando mais proteínas da mucosa.
Esse quadro citado acompanha a maior parte das úlceras duodenais. No caso das gástricas, depende do tipo (há 4
tipos de úlceras gástricas). Assim, as úlceras 2 e 3 possuem essas características citadas, enquanto que a 1 (mais comum
dentre as 4) e a 4 surgem por meio da presença do H. pylori no corpo e fundo gástricos, produzindo a gastrite atrófica,
destruindo as células parietais (normo ou hipocloridria) e, ainda assim, levando ao surgimento de úlcera por quebra da
barreira mucosa em decorrência de outras propriedades da bactéria.
ANTIÁCIDOS NEUTRALIZADORES:
COMPOSIÇÃO QUÍMICA, MECANISMO DE AÇÃO E PROPRIEDADES: por meio das reações a seguir,
promovem o aumento do pH, e consequentemente, uma neutralização.
Al(OH)₃ + 3HCl AlCl₃ + 3H₂O (lenta)
Mg(OH)₂ + 2 HCl MgCl₂ + 2H₂O (moderada)
CaCO₃ + HCl CaCl₂ + H₂O + CO₂ (rápida)
NaHCO₃ + HCl NaCl + H₂O + CO₂ (rápida)
2
Farmacologia II João Pedro – 2016.2
FARMACOCINÉTICA: as formulações que liberam H₂O ao invés de CO₂ são mais desejáveis. A
composição com alumínio é mais lenta que a de magnésio. Formulações de suspensão apresentam
melhor capacidade neutralizadora que as formulações mastigáveis.
USO TERAPÊUTICO: dispepsia isolada ou dispepsia associada ao refluxo gastroesofágico.
EFEITOS ADVERSOS:
ANTIÁCIDO EFEITOS ADVERSOS
NaHCO₃ Absorção sistêmica:
- Alteração de pH (alcalose);
- Edema – hipertensão;
- Liberação de CO₂ - náuseas, distensão abdominal e flatulência.
CaCO₃ Absorção sistêmica:
- Hipercalcemia;
- Aumento da secreção de gastrina – rebote ácido;
- Liberação de CO₂ - náuseas, distensão abdominal e flatulência.
Al(OH)₃ Relaxamento do esvaziamento gástrico e constipação;
Aumento de fosfato no TGI – hipofosfatemia;
Insuficiência renal pode gerar acúmulo de Al³⁺ osteoporose,
encefalopatia e miopatia.
Mg(OH)₂ Diarreia;
Hipermagnesemia.
3
Farmacologia II João Pedro – 2016.2
A mucosa gástrica é continuamente exposta a substâncias nocivas, como o ácido clorídrico e a pepsina. Por outro
lado, a manutenção de sua integridade estrutural ocorre por meio de mecanismos de defesa. O epitélio gástrico secreta
uma barreira de proteção que consiste de água, glicoproteínas ou mucinas, bicarbonato, fosfolipídios, fatores trefoil,
prostaglandinas e proteínas do choque térmico. As junções intracelulares do epitélio gástrico e a microcirculação da
submucosa fornecem oxigênio, bicarbonato e nutrientes, enquanto removem toxinas e íons H⁺. A renovação celular
contínua promove uma linha adicional de defesa da mucosa.
A defesa da mucosa duodenal, similarmente, consiste em fatores como a secreção de bicarbonato, a prevenção da
acidificação intracelular, a ativação neuronal e o fluxo sanguíneo. Além disso, a defesa gastroduodenal envolve a
neutralização de espécies reativas de oxigênio, respostas imunes inata e adaptativa e inibição da apoptose.
4
Farmacologia II João Pedro – 2016.2
Pode-se chamar atenção para o mecanismo de defesa da mucosa gástrica envolvendo a barreira muco-bicarbonato,
uma vez que os fármacos protetores da mucosa disponíveis agem, principalmente, por meio desse mecanismo.
ANÁLOGOS DA PROSTAGLANDINA – misoprostol (venda proibida no Brasil pelo efeito abortivo. Sua indicação
clínica era prevenção da lesão da mucosa induzida pelos AINEs).
5
Farmacologia II João Pedro – 2016.2
MODULADORES DOS RECEPTORES DA 5-HT (AGONISTAS): alosetron, tegaserod, cisaprida, prucaloprida (nome
comercial é Resolor – único presente no mercado). Atuam aumentando a liberação de Ach no plexo mioentérico
por ativar receptores 5HT4 (via intrínseca) e aumento do peristaltismo por ativação sensorial vagal e neurônios
espinais extrínsecos (receptores 5HT3). A prucaloprida é específica para o receptor 5HT4.
OBS: Motilídeos: macrolídeos (claritromicina, azitromicina) – são análogos da motilina, por isso causam diarreia.
Não são utilizados como procinéticos, mas causam esse efeito.
6
Farmacologia II João Pedro – 2016.2
CONSTIPAÇÃO: é a evacuação com uma frequência inferior a 3x por semana. O “normal” é entre 3x/dia a 3x/semana.
A água constitui 70-85% da massa fecal, sendo que o intestino extrai água e minerais do conteúdo intraluminal. A
redução da motilidade e de líquidos gera fezes duras e impactadas.
TRATAMENTO NÃO FARMACOLÓGICO DA CONSTIPAÇÃO: dieta rica em fibras, ingestão adequada de líquidos,
exercício físico regular, atenção da necessidade natural e evitar fármacos favorecedores da constipação.
LAXANTES:
AGENTES MECANISMO
Expansores do bolo fecal: Efeito hidrofílico, acúmulo de líquido no lúmen
Farelo, preparações de psyllium, goma caraía, intestinal, aumento de volume e amolecimento
fibras dietéticas, resinas poliacrílicas hidrofílicas e do bolo fecal e aumento de peristaltismo.
derivados de celulose.
Amolecedores do bolo fecal: Alteração de permeabilidade celular, inibição da
Docusato de sódio, cálcio ou potássio absorção ou aumento de secreção de água ou
eletrólitos no jejuno e no cólon.
Lubrificante: Interferência com absorção intestinal de água –
Óleo mineral ação emoliente.
Salinos e osmóticos: Retenção osmótica de água no lúmen intestinal,
Lactulose, hidróxido de magnésio, citrato de estimulação da secreção de fluido e motilidade
magnésio, sorbitol, manitol, glicerina, PEG e induzida por aumento luminal de colecistocinina.
macrogol
Irritantes ou estimulantes: Retenção de água no lúmen intestinal, aumento
Óleo de rícino, derivados de difenilmetano de motilidade, estimulação de secreção de água
(fenolftaleína, bisacodil), derivados antracênicos ou eletrólitos para o lúmen intestinal.
(sene, cáscara sagrada, ruibarbo e dantrona).
OBS: A ingestão excessiva e crônica de laxantes irritantes leva ao intestino preguiçoso e perturba o equilíbrio
hidroeletrolítico
7
Farmacologia II João Pedro – 2016.2
ANTIDIARREICOS:
ANTIDIARREICOS QUE REDUZEM A MOTILIDADE INTESTINAL: loperamida (Imosec), difenoxilato (Lomotil,
Motofen).
MECANISMO DE AÇÃO: reduzem a motilidade intestinal, pois são opióides que atuam se ligando a seus
receptores da parede intestinal, causando constipação.
INDICAÇÕES: são usados no tratamento das diarreias moderadas de origem não bacteriana, sem febre
e sem sinais inflamatórios (induzidas por quimioterapia, tumores neuroendócrinos ou vagotomia).
EFEITOS ADVERSOS: a overdose de loperamida em crianças pode levar à depressão do SNC.
ANTIFLATULENTOS: análogos da simeticona, que agem por interações químicas, colapsando as bolhas de gás.
FÁRMACOS ANTIEMÉTICOS:
AGENTES: LOCAIS DE AÇÃO: MECANISMO DE AÇÃO:
Anticolinérgicos: escopolamina Zona de gatilho + núcleo do Diminuição da captação de estímulos na zona do
(Hioscina) trato solitário + aparelho gatilho. Diminuição da estimulação e condução
vestibular + TGI (receptores nas vias vestibulares. Indução da motilidade
muscarínicos). gastrintestinal.
Antihistamínico H₁: Centro do vômito + núcleo do Alteração das vias neurais originadas em
Buclizina, meclizina, dimenidrinato, trato solitário + aparelho labirinto.
ciclizina, hidroxizina, prometazina e vestibular (receptor H₁).
difenidramina
Antidopaminérgicos: Zona de gatilho + núcleo do Bloqueio dopaminérgico. Bloqueio direto da
Fenotiazinas (clorpromazina), trato solitário zona de gatilho. Aceleração do esvaziamento
butirofenonas (haloperidol e Zona de gatilho + periferia gástrico. Contração do EEI.
droperidol), metoclopramida, (receptores dopaminérgicos)
bromoprida e domperidona.
Antisserotoninérgicos: Zona de gatilho + núcleo do Bloqueio direto da zona de gatilho. Interferência
Ondansetrona, granisetrona, trato solitário + estômago e na transmissão de estímulos por vias aferentes
tropisetrona, dolasetrona, intestino delgado (receptores que partem do estômago e intestino delgado.
palonosetrona e ramosetrona 5HT). Ação anticolinérgica.
Antineurocinina-1: Inibição dos receptores da subtância P ou NK1.
Aprepitanto, fosaprepitanto e Aumento da atividade antiemética dos
dimeglumina antagonistas 5HT e corticoides.
Outros: canabinoides Córtex cerebral
8
Farmacologia II João Pedro – 2016.2