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Caso 8 – Icterícia
Icterícia é a coloração amarelo-alaranjada que pode ser observada nas mucosas
conjuntival e sublingual e na pele, em decorrência da elevação das concentrações
séricas de bilirrubina. Detectável a partir de 2,5 a 3,0 mg/dL, pode ser sutil ou bastante
evidente, a depender da coloração da pele, das condições de iluminação, da
sensibilidade do observador e da fração de bilirrubina que se encontra elevada.
Icterícia pode ocorrer tanto em situações de agressão direta ao fígado como em
condições sistêmicas, por exemplo, insuficiência cardíaca direita descompensada,
septicemia e tireoidopatias ou, ainda, nas alterações do metabolismo da bilirrubina em
níveis pré e pós-hepático.
METABOLISMO DA BILIRRUBINA
Existem três etapas principais do metabolismo das bilirrubinas: pré-hepática, intra-
hepática e pós-hepática.
1. Fase pré-hepática
A bilirrubina provém do heme liberado com a degradação da hemoglobina, proteína que
atua no transporte e no metabolismo do oxigênio das hemácias. A produção diária de
bilirrubina no adulto é de aproximadamente 4 mg/kg de massa corpórea, 70 a 90%
provenientes da reciclagem de hemácias senescentes degradadas em baço e fígado. O
restante provém de outras fontes, como mioglobina, citocromo P450, catalase e
peroxidase.
O produto final dessa destruição de hemácias idosas é a liberação de hemoglobina. A
hemoglobina, então, não é desperdiçada. Constantemente, o corpo produz novas
hemácias e, por isso, precisa-se reaproveitar o ferro que ela contém. Então, a
hemoglobina é quebrada em duas partes: globina e heme.
O pigmento heme, por sua vez, pode ser quebrado em duas partes: ferro e
protoporfirina. Agora que o corpo conseguiu reaproveitar o ferro, sobra a protoporfirina.
Ela será inicialmente transformada em biliverdina, que rapidamente é reduzida à
bilirrubina.
Essa bilirrubina se liberta no interior dos macrófagos e chega ao plasma. Por ser
insolúvel, liga-se à albumina (que é uma proteína solúvel). Essa bilirrubina que se não
se encontra diretamente no plasma por estar ligada à albumina, a chamamos de
bilirrubina indireta.
2. Fase intra-hepática
A bilirrubina indireta ainda passa por um longo caminho. Ela segue em direção ao
fígado, onde sofre três processos: captação, conjugação e excreção.
Em um primeiro momento, os hepatócitos irão captar a BI disponível no sangue. Em
seguida, já dentro do hepatócito, ela sofre a transformação em um composto solúvel
através da enzima glicuronil-transferase (UGT1A1), em um processo que chamamos de
conjugação.
Mas por que a bilirrubina precisa ser transformada de indireta em direta? No sangue, a
bilirrubina indireta (que é insolúvel) ganha solubilidade. Mas, na bile, não será excretada
albumina para manter a bilirrubina solúvel. Essa proteína é muito preciosa. Então o
fígado se encarrega de transformar a BI em um composto solúvel chamado bilirrubina
direta (BD), para então ser excretado.
A excreção biliar depende de uma ATPase transportadora de bilirrubina, conjugada
através da membrana do polo biliar do hepatócito, denominada MRP2 (proteína
JOÃO BATISTA NETO
ETIOLOGIA
1. Causas pré-hepáticas
A. Aumento da produção do heme
A hiperbilirrubinemia indireta resulta de um desbalanço entre a massa de bilirrubina
produzida a partir do heme e seu ritmo de conjugação em nível hepático.
Em situações de estresse, a eritropoiese (e, por conseguinte, a produção de bilirrubina
indireta) pode aumentar em até 10 vezes, mas a excreção de bilirrubina encontra
limitações na capacidade hepática de conjugação.
A icterícia é considerada pré-hepática quando o distúrbio antecede a entrada da
bilirrubina indireta no hepatócito, como nos pacientes com aumento da produção do
JOÃO BATISTA NETO
SÍNDROME DE GILBERT
Caracteriza-se por hiperbilirrubinemia não conjugada leve, valores normais nos exames
bioquímicos padronizados da função hepática e histologia hepática normal.
O espectro clínico da hiperbilirrubinemia passa gradualmente para o da CN-II, com
níveis séricos de bilirrubina na faixa de 5 a 8mg/dL. Na outra extremidade da escala, a
distinção entre casos leves de SG e um estado normal é, com frequência, indefinida. As
concentrações de bilirrubina podem oscilar substancialmente em determinado indivíduo
JOÃO BATISTA NETO
Embora a incidência de icterícia nuclear seja baixa na CN-II, já ocorreram casos não
apenas em lactentes como também em adolescentes e adultos, a maioria das vezes na
vigência de enfermidade intercorrente, jejum ou algum outro fator que eleve
transitoriamente a concentração de bilirrubina sérica acima do nível basal e reduza as
concentrações de albumina. Por essa razão, o tratamento com fenobarbital é
amplamente recomendado e, com frequência, é suficiente uma dose única ao deitar
para manter as concentrações séricas de bilirrubina clinicamente seguras.
O diagnóstico da tipo I é baseado nos níveis de bilirrubina indireta são maiores no tipo I
do que no tipo II, porém o diagnóstico diferencial pode ser difícil em casos em que há
sobreposição do tipo II com hemólise. Pacientes com tipo I possuem níveis de bilirrubina
direta no sangue em níveis indetectáveis, enquanto os níveis são detectáveis no tipo II.
O diagnóstico definitivo pode ser feito com a análise genética.
O diagnóstico da tipo II é feito em pessoas com níveis de BI menor que 20 mg/dl e
laboratório hepático normal. Mas cuidado, os níveis de bilirrubina podem chegar a 40
em casos de jejum ou infecções (por causa da menor afinidade com a bilirrubina só há
atividade enzimática em estados de hiperbilirrubinemia). Os níveis de BD são
detectáveis no sangue. Em caso de dúvida diagnóstica, pode-se realizar análise da bile
coletada por endoscopia ou então proceder a exames genéticos. A prova terapêutica
com fenobarbital também auxilia no diagnóstico, uma vez que há diminuição dos níveis
de bilirrubinas com o uso deste indutor enzimático.
O tratamento da tipo I é fototerapia e plasmaférese. Outras opções terapêuticas são
reposição de cálcio + fósforo associados ou não ao orlistate. O transplante é a única
opção curativa. O prognóstico é ruim.
O tratamento da tipo II não é necessário, mas pode ser feito com fenobarbital ou
clofibrato por motivos estéticos.