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UNIVERSIDADE FEDERAL DO CEARÁ – UFC

FACULDADE DE FARMÁCIA, ODONTOLOGIA E ENFERMAGEM –


FFOEDEPARTAMENTO DE ANÁLISES CLÍNICAS E TOXICOLÓGICAS –
DACT
MONITORIA DE BIOQUÍMICA CLÍNICA I
MONITORAS: ANA CAROLINE MORENO E STEPHANIE ALVES

BIOQUÍMICA DA FUNÇÃO HEPÁTICA E HEPATOPATIAS


INTRODUÇÃO
 O fígado é um órgão volumoso localizado no quadrante superior direito
do abdômen. Esse órgão apresenta um abundante suprimento
sanguíneo, sendo essencial para a manutenção da homeostase do
organismo, e tem como unidade funcional os hepatócitos, os quais
apresentam um sistema nutriente composto pela artéria hepática e
veia porta, responsáveis pelo transporte de oxigênio e nutrientes, bem
como um sistema de escoamento composto pelos canalículos biliares,
responsáveis pelo transporte da bile.
 O fígado tem papel principal no metabolismo e suas funções podem ser
divididas didaticamente em 3 grandes ações:
✓ Excretora;
✓ Síntese;
✓ Metabólica.

FUNÇÃO EXCRETORA FUNÇÃO DE SÍNTESE FUNÇÃO METABÓLICA


Ânions orgânicos Síntese de lipoproteínas Metabolismo dos
endógenos e exógenos plasmáticas e da e da Carboidratos - atua
são removidos do sangue conversão de acetil-CoA através dos processos de
pelos capilares em ácidos graxos, gliconeogênese
sinusóides, triglicerídios e colesterol; (conversão de
biotransformados e aminoácidos e outros
excretados na bile e na compostos não
urina. carboidratos em glicose),
glicogênese (conversão
de glicose em glicogênio)
e glicogenólise
(conversão de glicogênio
em glicose);
Conversão da amônia em Síntese de albumina e Biotransformação de
ureia para a eliminação. globulinas; xenobióticos;
Síntese dos fatores de Metabolismo da amônia.
coagulação.

OBS: é importante ressaltar que nenhuma dessas funções que o fígado exerce
ocorre de maneira isolada. É possível observar por exemplo no metabolismo
da amônia, que converte a amônia em ureia para que ocorra a eliminação.

SÍNTESE E METABOLISMO DOS ÁCIDOS BILIARES


 Quando a concentração de ácidos biliares é baixa ou quando a
concentração de colesterol é alta, a síntese da enzima 7alfa-hidroxilase
é estimulada. Sendo assim, o colesterol é convertido em 7alfa-
hidroxicolesterol, a partir da enzima 7alfa-hidroxilase. Uma vez
produzido, o 7alfa-hidroxicolesterol é convertido em ácido cólico e
ácido quenodesoxicólico, ácidos biliares primários chamados
popularmente de bile, os quais são armazenados na vesícula biliar e
após cada refeição são liberados no intestino para emulsificação de
gorduras.
 No intestino, os ácidos biliares primários, devido à ação da microbiota
intestinal, são convertidos em ácidos biliares secundários da seguinte
forma: o ácido cólico é convertido em ácido desoxicólico, que é
reabsorvido, atingindo a circulação portal e, dessa forma, retornando
ao fígado, enquanto o ácido quenodesoxicólico é convertido em ácido
litocólico, que é eliminado nas fezes.

SÍNTESE E METABOLISMO DA BILIRRUBINA


 A bilirrubina é um pigmento amarelo-alaranjado derivado do
catabolismo da hemoglobina. Em um primeiro momento, no sistema
retículo-endotelial, hemácias envelhecidas, ao serem fagocitadas por
macrófagos, são convertidas em heme e globina. O grupo heme, por sua
vez, através da ação da enzima heme oxigenase, é convertido em
biliverdina, que é convertida em bilirrubina pela ação da enzima
bilirrubina redutase. Essa bilirrubina é conhecida como bilirrubina
indireta ou não conjugada, um composto insolúvel em água, que é
transportado para o fígado, através da formação de um complexo com
a albumina.
 Em um segundo momento, no fígado, a bilirrubina indireta é dissociada
da albumina para sofrer a ação da enzima UDPGT (Uridina difosfato
glicuronil transferase), sendo convertida em monoglicuronídeo e
diglicuronídeo, também conhecidos como glicuronídeos de bilirrubina
ou bilirrubina direta, um composto solúvel em água, excretado pelos
hepatócitos para compor a bile, substância liberada no intestino a fim
de promover a emulsificação de gorduras.
 Em um terceiro momento, no intestino, a bilirrubina direta ou
conjugada, por ação da microbiota intestinal, através da produção de
beta-glicuronidades, é convertida em urobilinogênios. Uma vez
produzidos, uma parte dos urobilinogênios é reabsorvida pelo
intestino, sendo captada pelo fígado e reexcretada na bile, enquanto
uma outra parte é oxidada a pigmentos biliares, que serão excretados
em sua grande maioria nas fezes.

ICTERÍCIA
 A icterícia pode ser definida como a pigmentação amarelada da pele e
das mucosas resultante de um aumento dos níveis de bilirrubina no
sangue (>3,0 mg/dL), sendo considerada um sinal precoce do
surgimento de patologias hepatocelulares e/ou hepatobiliares.

✓ Icterícia pré-hepática: nas desordens pré-hepáticas, ocorre um


aumento dos níveis de bilirrubina indireta ou não conjugada na
circulação. Um exemplo é a anemia hemolítica, uma destruição
excessiva de hemácias circulantes que leva a um aumento dos
níveis de bilirrubina indireta no sangue. Nessa situação, os
hepatócitos não conseguem captar a bilirrubina não conjugada
em velocidade compatível com a sua produção. Sendo assim,
uma vez ligada a albumina, a bilirrubina indireta não pode ser
excretada na urina, porém consegue dissolver-se em ambientes
lipofílicos, atravessando a barreira hematoencefálica e levando
ao risco de lesão neurológica conhecida como síndrome de
Kernicterus, altamente prejudicial em recém-nascidos.
✓ Icterícia intra-hepática: nas desordens intra-hepáticas, ocorre
um problema relacionado ao metabolismo da enzima UDPGT.
Fisiologicamente, recém-nascidos apresentam um aumento nos
níveis de bilirrubina indireta ou não conjugada durante as
primeiras 48 horas de vida. Tal aumento se deve a pouca ou
nenhuma atividade da enzima UDPGT, o que acaba limitando o
processo de conjugação da bilirrubina. No entanto, tal condição
denominada de icterícia fisiológica do recém-nascido, resolve-se
espontaneamente. O problema ocorre nos casos de recém-
nascidos prematuros, os quais apresentam níveis bem mais
elevados de bilirrubina indireta na circulação, podendo levar à
síndrome de Kernicterus. OBS.: Uma das formas de tratamento
em recém-nascidos prematuros é a fototerapia - a luz converte a
bilirrubina, impregnada na pele e nas mucosas, em um isômero
solúvel capaz de ser eliminado através da urina. Existem
também síndromes hereditárias em que o indivíduo apresenta
defeitos na síntese ou na atividade da enzima UDPGT. Na
Síndrome de Crigler-Najjar, verifica-se deficiência total ou
parcial na síntese da enzima UDPGT enquanto, na síndrome de
Gilbert, observa-se uma redução na atividade da enzima UDPGT,
ambas com aumento dos níveis de bilirrubina indireta na
circulação.
✓ Icterícia pós-hepática: Nas desordens pós-hepáticas, ocorre
um aumento dos níveis de bilirrubina direta ou conjugada na
circulação devido a presença de obstruções intra ou extra-
hepáticas, também conhecidas como colestases. Nas colestases
verifica-se uma diminuição ou interrupção do fluxo biliar.
Quando esse bloqueio ocorre dentro do fígado, tem-se então
uma colestase intra-hepática, que pode ser causada por doença
hepática alcoólica, hepatite aguda, carcinoma hepático ou pelo
uso de alguns fármacos. Quando esse bloqueio ocorre fora do
fígado, tem-se então uma colestase extra-hepática, que pode ser
causada pela presença de cálculos biliares, pancreatite aguda ou
carcinoma pancreático. Existem também síndromes
hereditárias, como é o caso da síndrome de Dubin-Johnson, em
que se observa uma deficiência na excreção de bilirrubina dos
hepatócitos para os canalículos biliares, ocasionando um
aumento nos níveis de bilirrubina direta na circulação.

CIRROSE HEPÁTICA
 A cirrose hepática é uma doença crônica degenerativa em que o tecido
hepático normal é substituído por tecido fibroso, resultando em uma
perda de função do fígado.
 Principais causas:

✓ Doença hepática alcoólica;


✓ Hepatites virais;
✓ Hepatites autoimunes;
✓ Doença de Wilson;
✓ Hemocromatose;
✓ Deficiência de α1-antitripsina.

OBS: as principais complicações são edema, ascite, icterícia, prurido,


hemorragias, hipertensão portal, varizes esofagianas e encefalopatia.

AVALIAÇÃO LABORATORIAL
 Os testes de função hepática são utilizados com o intuito de detectar
anormalidades, determinar o tipo e o local da lesão, auxiliar no
prognóstico e facilitar o acompanhamento de pacientes com doença
hepática.
 Os principais parâmetros bioquímicos são:

✓ Bilirrubina (total, direta e indireta);


✓ TGO/AST;
✓ TGP/ALT;
✓ Fosfatase alcalina;
✓ Gama-glutamil transferase (GGT);
✓ Albumina;
✓ Tempo de protrombina (TAP).

 Na doença hepatocelular, observa-se um aumento nos níveis de


bilirrubina indireta (BI) ou não conjugada e das aminotransferases
AST/TGO e ALT/TGP;
 Na doença hepatobiliar, verifica-se um aumento nos níveis de
bilirrubina direta (BD) ou conjugada e nos níveis de fosfatase alcalina
e GGT;
 iii. A albumina é um indicador de cronicidade sendo assim, albumina
normal - cursa com lesões de caráter agudo, porém, albumina
diminuída - cursa com lesões de caráter crônico;
 iv. O tempo de protrombina ou TAP é um indicador de gravidade sendo
assim, tempo de protrombina normal - cursa com lesões de caráter
leve, porém, tempo de protrombina alargado ou aumentado - cursa
com lesões de caráter grave.

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