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Degenerações celulares

Patologia Geral (UNI


119)

Prof. João Paulo Machado


RELEMBRANDO CONCEITOS:

HOMEOSTASE

É a manutenção do pH celular, da concentração de


eletrólitos e de vários outros fatores que são
controlados pela célula quando essas condições
são compatíveis com a vida celular

Em outras palavras, pode ser definida como a


manutenção do equilíbrio celular
RELEMBRANDO CONCEITOS:

AGENTES AGRESSORES
OU AGENTES ETIOLÓGICOS

Agentes infecciosos: virais, bacterianos,


micológicos (fungos), parasitários (helmintos,
artrópodes e protozoários)

Agentes não infecciosos: mecânicos e químicos


(inclui os catabólitos)
Degenerações das Células

Conceito do Alemão Rudolf Virchow (1821-1902 - “o pai da Patologia”)

São Processos patológicos caracterizados


por modificações da morfologia das células
com diminuição de suas funções.
2 - REAÇÕES
CELULARES FRENTE ÀS
AGRESSÕES
DEGENERAÇÃO

É a “deterioração” celular

São lesões celulares REVERSÍVEIS decorrentes de


alterações bioquímicas que levam ao acúmulo
intracelular de substâncias.

Usa-se o sufíxo “OSE” para designar um processo


degenerativo

Se retirado o agente agressor


(etiológico), a célula volta à sua
morfologia normal
Degenerações
Conceito de Rudolf Virchow (“o pai da Patologia”):

São processos patológicos


caracterizados por modificações
da morfologia das células com
diminuição de suas
funções.
Lesões reversíveis
Dependendo da persistência do agente

Classificação de Letterer – De acordo com a natureza da


substância acumulada

• Acúmulo de água e eletrólitos (D.


HIDRÓPICA)
• Acúmulo de proteínas (D. HIALINA)
• Acúmulo de lípideos (D.
GORDUROSA/ESTEATOSE)
• Acúmulo de carboidratos (D.
GLICOGÊNICA)
O Acúmulo celular pode ocorrer no:

• Citoplasma

• Organelas
citoplasmáticas

• Núcleo
• Produção normal
Principais Vias de Acúmulo:
com baixa taxa
metabólica para
remoção.

• Acúmulo de
substâncias endógenas
devido a defeitos
genéticos ou
adquiridos.

• Substância exógena
por falta de enzimas de
degradação ou
Robbins and Cotran PATHOLOGIC BASIS OF DISEASE, 7a ed, 1999.
ESTEATOSE
Fígado normal Fígado com esteatose
ESTEATOSE
Também denominada:
Lipidose, degeneração pela gordura, degeneração
gordurosa ou metamorfose gordurosa
Qualquer acúmulo anormal de
triglicerídeos nas células do
parênquima.
Principais Órgãos Acometidos:
• Fígado
• Coração
• Músculo Esquelético
• Rins
Robbins and Cotran PATHOLOGIC BASIS OF DISEASE, 7a ed, 1
Via http://www.proximus.com.br

Os lipídios
Metabólica
obtidos na
da gordura:
dieta são
absorvidos no
intestino e
então
transportados
pelos
quilomicrons
para o fígado,
musculatura e
tecido adiposo.
As lipases
atuam nesses
quilomicrons
liberando o
ácido graxo.
OLOGIC BASIS of VETERINARY DISEASE, McGAVIN et al, 4a ed, 2007.
Via
Metabólica
da glicose:

O excesso
de glicose,
obtido da
dieta é
convertido
em glicerol-
3-P, na
glicólise.
Através da www.wikilearning.com
ação
enzimatica,
transforma
m-se em THE CELL, Alberts el atl, 4a ed, 20
Ácidos graxos livres

Via Metabólica
da glicose: Ácidos graxos
Oxidação em
corpos cetônicos

Fosfolipídeos
Nos hepatócitos,
Colesterol
esses AGL são
esterificados em
triglicerídeos,
convertidos em
colesterol e/ou
fosfolipídios ou
oxidados em
cetonas. Acúmulo de lipídios
Os triglicerídeos formados são complexados com
APOPROTEINAS, sendo convertidos em
LIPOPROTEÍNAS para serem liberados do fígado e
servir como uma fontePATHOLOGIC
rápida de
BASIS energia.
of VETERINARY DISEASE, McGAVIN et al, 4a ed, 200
Mecanismos para desenvolvimento da lipidose
A esteatose ocorre quando a taxa de acúmulo de
triglicerídeos nos hepatócitos excede a taxa de
degradação ou sua liberação como lipoproteína.
• ↑ AGL oriundos do intestino ou do tecido adiposo.

• ↓ β-oxidação dos AGL em cetonas por lesão


mitocondrial.
(toxinas ou hipóxia)

• ↓ Síntese de ApoPTN = ↓ produção e exportação de


lipoPTN.
(CCl4 e aflatoxina).

PATHOLOGIC BASIS of VETERINARY DISEASE, McGAVIN et al, 4a ed, 2


Mecanismos para desenvolvimento da lipidose:

• ↓ da lipoPTN por desnutrição calórico-protéica.

• ↑ da esterificação dos AG em triglicerídeos, devido ↑ [ ] de


glicose e insulina.

• ↑ dieta rica em carboidratos = ↑ síntese AG = ↑


triglicerídeos.

•↑ de AG hepático devido ao ↑ da demanda energética.

PATHOLOGIC BASIS of VETERINARY DISEASE, McGAVIN et al, 4a ed, 2


Principais Causas :

Ocorre devido à condições que promovem aumento


da mobilização da gordura no tecido adiposo,
principalmente quando há o aumento da demanda por
energia em um curto período de tempo.

Mas também pode ser observada em desordens


nutricionais (obesidade, desnutrição calórico-protéica,
inanição), em alterações genéticas (Doença do Acúmulo
de Glicogênio e Doença de Wilson) e em alterações
endócrinas (Diabetes Mellitus).

Alguns agentes químicos podem induzir a lipidose


devido a redução da oxidação de ácidos graxos livres.
Épocas de Alta Demanda Energética nos Animais:

• Ruminantes no pico de lactação ou prenhes


avançada

Refletindo o aumento de lipídeos no fígado devido a


mobilização do tecido adiposo, devido a demanda continua
por glicose e aminoácidos, causando Cetose; resultante do
prejuízo do metabolismo do carboidrato e dos ácidos graxos
voláteis, que são esterificados em acil-CoA no fígado, com
formação de corpos cetônicos pela oxidação nas
mitocôndrias.
Síndrome do Fígado Gorduroso Bovino :

Similar à Cetose; encontrada em vacas leiteiras


obesas no pós-parto e em casos de anorexia (retenção
de placenta, metrite, mastite, deslocamento de
abomaso).

Síndrome do Fígado Gorduroso Felino :

Síndrome idiopática que afeta gatos gordos e


anoréxicos sem doença hepática que cause lipidose;
desenvolvendo para insuficiência hepática, icterícia e
encefalopatia.
Causas Dietéticas:
• Dieta hiperlipídica e hipercolesterolêmica.
• Deficiência de cobalto e de vitamina B12
• Restrição alimentar aguda em indivíduos obesos

Causas Tóxicas e Anóxicas:


• Agentes químicos como tetracloreto de caborno
(CCl4)

Causas
Endócrinas:
• Diabetes Mellitus
• Hipotireoidismo
No alcoolismo, a esteatose é resultado do
catabolismo normal e da biossíntese de
substratos lipídicos, devido a:

1. Geração de excesso de nicotinamida-


adenina dinucleotídeo (NAD) reduzido pelas
duas principais enzimas do metabolismo do
álcool, álcool desidrogenase e acetaldeído
desidrogenase (geradora de acetato);
2. Síntese e secreção insuficiente de
lipoproteínas e
3. Aumento do catabolismo periférico das
gorduras.
Onde a degeneração ocorre no
fígado?
(aspéctos morfológicos)
Microarquitetura :

O fígado é dividido em lóbulos hexagonais de 1 a


2 mm de diâmetro, orientados em torno da veia
hepática, com o espaço portal na periferia do lóbulo.

Robbins and Cotran PATHOLOGIC BASIS OF DISEASE,


Microarquitetura :

O sangue da veia porta e artéria hepática viaja


através dos sinusóides do parênquima em direção
a veia hepática terminal. Podemos então definir o
fígado em 3 zonas: sendo a zona 1 mais próxima
do fornecimento de sangue e a zona 3 é a mais
distante; e podemos definir as regiões do
parênquima como periportal, intermediária
(midiazonal), e centrolobular.
Robbins and Cotran PATHOLOGIC BASIS OF DISEASE,
Macro:
Em estados graves
os fígados estão
aumentados,
amarelados, macios e
friáveis, com bordas
arredondadas e, ao
corte, apresentam-se
inchados com o
parênquima macio e
friável com textura
gordurosa.
Micro :

Os hepatócitos são vacuolizados e a extensão desta


vacuolização depende da severidade.
Em casos moderados, os hepatócitos acometidos
estão presentes nas zonas 2 ou 3 (região
centrolobular), mas em casos severos pode acometer
todas as zonas.
Em fígados extremamente afetados, podem
assemelhar-se a gordura, sendo identificados apenas
pelos espaços portais.
Em alguns casos, dependendo do tempo de lesão, a
presença de infiltrado inflamatório ou intensa reação
oxidativa, pode-se observar a presença de Corpúsculos
de Mallory.
PATHOLOGIC BASIS of VETERINARY DISEASE, McGAVIN et al, 4a ed, 200
Em alguns casos, dependendo do tempo de
lesão, há presença de infiltrado inflamatório ou
intensa reação oxidativa, pode-se observar a
Nos hepatócitos com grandes quantidades de gordura, o
núcleo pode estar deslocado para a periferia e a célula
pode parecer um adipócito.
Esteatose Microvesicular:
Pequenas gotas de gordura que podem ocupar todo o
citoplasma, mantendo o núcleo em seu lugar.
Diagnóstico Diferencial
Vacúolos nos hepatócitos podem ser devido ao
acúmulo de gordura, mas também podem ocorrer
devido ao acúmulo intracelular de glicogênio ou
água. Além disso, não deve ser confundida com a
presença de lipídios entre os cordões de
hepatócitos, como ocorre em casos de hiperplasia
das células estreladas/células de Ito devido a
hipervitaminose A.
A presença de lipídeos pode ser confirmada por
corantes como Sudan-3, Oil red-O ou o novo azul de
metileno em esfregaços não fixados e o glicogênio é
confirmado por PAS e reações PAS diástase.

Vacúolos que não se coram podem ser resultado de


acúmulo de água e degeneração hidrópica.
Esteatose Muscular
(músculo estriado esquelético ou cardíaco)

Macro:

Áreas pálidas nos músculos, especialmente nas


costas

Micro:

Fibras musculares substituídas por fibras de gordura.


Degeneração hidrópica
ou

Tumefação Celular
ou

Edema intracelular
Degeneração hidrópica

Lesão celular reversível caracterizada por acúmulo


de eletrólitos (principalmente Na+) e de água no interior da
célula, tornando-a tumefeita.

Quase todas as agressões são capazes de produzir


essa lesão.

Pode ocorrer em qualquer célula do organismo


(Neurônios, células epiteliais, fígado, rins, etc.).
Transtornos do equilíbrio hidroeletrolítico

Canais iônicos
Bombas eletrolíticas
(ATP 3 Na+ 2 K+)

Qualquer dano à integridade das proteínas que


formam o complexo enzimático de transporte de
eletrólitos
MECANISMOS DE FORMAÇÃO DA LESÃO
(PATOGENIA)

1- Despolarização 2- Polarização

ATP

Na K
Toda
K Na
tumefação
AGRESSÃO está associada
1- Despolarização 2- Polarização às
ATP Na Na anormalidade
Na Na Na
s na bomba
NaKATPASE
K Na Na
Danos às enzimas chaves, como
NaKATPase
Comprometimento da produção de ATP

Não funcionamento da bomba NaK

Retenção de Na+ intracelular


Lesão direta à
membrana
anóxi
citoplasmática ou
a
mitocondrial
(agentes
etiológicos)

Danos às enzimas chaves, como


NaKATPase

As proteínas plasmáticas podem exacerbar o quadro


porque aumentam a pressão osmótica intracelular

Modificações na atividade de uma ou mais


moléculas que formam a bomba
Causas: 1) Hipóxia
O2

Fosforilação oxidativa

Níveis de ATP

Causas de Hipóxia Tecidual


Placas ateroescleróticas
Anemia
Choque
Hipertermia exógena ou endógena -
Causas: 2) Danos às membranas
celulares

Pois a membrana é uma barreira de permeabilidade


seletiva. Ela retém proteínas e eletrólitos no citosol e
restringe a entrada de sódio, cálcio e água do meio
extracelular.

Exemplos de substancias que danificam a


membrana:
- Tetracloreto de carbono
- Reagente químico sintético extintor e refrigerante
Causas: 2) Danos às membranas celulare

Toxinas com atividade de fosfolipase

Agressões geradoras de radicais livres

Oaubaína (Inibidor de ATPase)

Vírus que se replicam e danificam a membrana


ASPÉCTOS MORFOLÓGICOS

Macroscopicamente: Aumento de peso


e volume

Células mais salientes na superfície de


corte

Coloração mais pálida – Compressão


de capilares
Lesões microscópicas da
degeneração gordurosa

Presença de vacúolos intracitoplasmáticos que


não coram para gordura nem glicogênio.

- Degeneração Balonar
Degeneração Hialina
Degeneração Hialina

Grego: hyálinos = vidro

Acúmulo de material acidófilo, vítreo, no interior


das células.

CAUSAS: (MATERIAL PROTÉICO)


− Condensação de filamentos intermediários e
proteínas associadas (reabsorção e reestruturação de sarcômeros
dos miócitos);

− Material de origem viral;


− Corpos apoptóticos;
− Proteínas endocitadas;
Degeneração Hialina

EXEMPLOS DE DOENÇAS:

− Reabsorção e reestruturação dos sarcômeros


dos miócitos (necrose hialina quando muito
extenso);
− Proteinúria (endocitose excessiva pelas células
do epitélio tubular renal);
− Corpúsculos de Russel nos plasmócitos;
1 – GOTAS HIALINAS

Constitui-se em um material proteináceo que se


acumula no citoplasma celular

Também podem ser chamadas de corpúsculos hialinos,


quando localizados na luz do túbulo renal
2 – INCLUSÕES VIRAIS

São corpúsculos de inclusões induzidos pela replicação


viral

São restos de proteína viral do vírion que podem ser


tanto intranucleares quanto intracitoplasmáticas, tanto
eosinofílico quanto basofílico

A inclusão pode ser única ou múltipla


Ex.: rhabdovírus, virus da cinomose, circovírus, herpesvírus
3 – INCLUSÕES NA INTOXICAÇÃO POR Pb

São inclusões presentes nos túbulos renais que,


dependendo da intensidade, pode ter sérias
consequências degenerativas.
5 – PSEUDOINCLUSÃO INTRANUCLEAR

É uma invaginação ou projeção citoplasmática para


dentro do núcleo celular

Ocorre na intoxicação por Senecio sp. (planta tóxica)


5 – PARASITAS INTRACELULARES

Babesia sp.

Anaplasma sp.

Ehrlichia canis

Hepatozoon canis

Toxoplasma sp.

Sarcocystis neurona
Plasmócitos - Corpúsculos de Russel
Degeneração Hialina
Degeneração Mucóide
Degeneração Mucóide

− Acúmulo de mucina (glicoproteína) em células


mucíparas (hiperprodução de muco)

− Síntese exagerada de mucinas em adenomas e


adenocarcinomas

É um processo agudo e reversível, sendo encontrado mais


freqüentemente nos ligamentos, tendões, meniscos, meninge
duramater espinhal, na mixomatose dos coelhos (causada por um
poxvírus, afetando principalmente o limite pele - mucosas e as
orelhas), no hiper e hipotireoidismo (com formação do
"Mixedema" na derme) e em algumas imunopatias.
Degeneração Mucóide
Neoplasia - Ependimoma

Degeneração mucosa - Acúmulo de mucina nos espaços


perivasculares
Degeneração Glicogênica
(glicogenose)

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