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Acúmulos Intracelulares

As células do nosso corpo podem acumular substâncias de forma endógena ou exógena por
diversos motivos. Normalmente essas substâncias se dividem em constituintes celulares
normais (água, lipídios, proteínas e carboidratos) e anormais, sendo elas endógenas (produto
de um metabolismo anormal) ou exógenas (mineral ou produtos de agentes infecciosos). O
acúmulo dessas substâncias é atribuído a três tipos principais de anormalidades.

 Metabolismo Anormal: Muitas vezes


substâncias endógenas normais têm a sua
produção dentro da célula de forma
aumentada. Se o metabolismo celular
necessário para a remoção desse excesso não
for eficiente, essas substâncias se acumulam
como na degeneração de gordura hepática
inadequada, e no acúmulo de proteínas nos
túbulos renais por excesso de filtração glomerular.

 Defeitos Proteicos (enzimáticos): Substâncias endógenas anormais que são oriundas de


genes mutados podem ter uma degradação ineficiente por conta de defeitos no
dobramento e transporte de proteínas responsáveis por catalisar esses compostos.
Normalmente essas enzimas não são capazes de metabolizar determinados lipídios e
carboidratos e acabam se acumulando nos lisossomos da célula.

 Acúmulo de Substâncias Exógenas: O acumulo de substâncias exógenas anormais deve-se


ao defeito da maquinaria enzimática responsável por degradar essas substâncias. Isso
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ocorre com a sílica, por exemplo, que não é metabolizável e acaba se acumulando no
citoplasma da célula.

PROTEÍNAS

O acúmulo dessas moléculas pode ocorrer por motivos genéticos, metabólicos e patológicos.
Abaixo se encontram alguns exemplos de acúmulo proteico no meio intracelular e extracelular.
Histologicamente, o acúmulo desses compostos pode ser notado como vesículas eosinófilas,
vacúolos e gotículas arredondadas.

 Epitélio tubular renal: Quando o


organismo apresenta algum problema
na filtração glomerular (proteinuria),
em que a filtração de proteínas é
maior, temos uma maior absorção
pelo túbulo proximal fazendo com que
essa proteína se acumule em formas
de vesículas hialinas, com a presença
de gotículas.

 Corpúsculos de Russel: Em situações de inflamações e


infecções, os plasmócitos que se encontram na célula
precisam produzir imunoglobulinas. Para que esses
compostos sejam formados, o RE dessas organelas secreta
uma quantidade de proteínas que às vezes pode ser capaz
de distendê-los ao ponto de formar vacúolos repleto de
proteínas.
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 Defeitos no Dobramento: Muitas vezes o dobramento de uma proteína não é adequado,


como no caso da α-1-tripsina. Com isso, a lentidão do dobramento delas faz com que as
mesmas se acumulem na forma de intermediários dobrados dentro do RE, ou seja, elas
não são secretadas e formam vacúolos repletos de proteínas defeituosas. Além disso,
temos o acúmulo de proteínas com o objetivo de concertar esse não dobramento, como
chaperonas e ubiquitinas. Dependendo do grau de acúmulo, essas proteínas podem ativas
as caspases e desencadear a apoptose celular.

 Proteínas do Citoesqueleto: Normalmente se


relacionam com as proteínas presentes nos
filamento intermediários, esses que são
divididos em várias classes. Algumas doenças
são capazes de causar lesões celulares ao
ponto de proporcionar o acúmulo de
filamentos de queratina e neurofilamentos,
como na doença hepática alcoólica e no
Alzheimer. Isso ocorre porque as proteínas
constituintes desses filamentos podem ser
produzidas de maneira incorreta, fazendo com
que as alterações na sua estrutura causem o acúmulo dessas proteínas.

LIPÍDIOS
O principal sinal para o acúmulo de lipídios no meio intracelular é a esteatose (degeneração
gordurosa). Esse acúmulo ocorre no coração, fígado, rins e músculos esqueléticos; sendo que o
acúmulo sempre ocorre nas células parenquimatosas desses órgãos. Histologicamente
notamos a presença de vários vacúolos brancos, sendo a coloração feita por Sudan IV.
Normalmente é causada por toxinas (álcool), desnutrição proteica, diabetes melitus,
obesidade e anóxia.
 Alcoolismo: É uma das causa de degeneração gordurosa no fígado. Os ácidos graxos livres
da alimentação ou tecidos adiposos são transportados ao fígado, local para sofrerem
transformação em triglicerídeos, fosfolipídios, corpos cetônicos ou colesterol. A liberação
dos triglicerídeos do fígado requer a associação com apoproteínas, sendo que defeito em
qualquer etapa deste processo pode levar ao acúmulo de gordura nos hepatócitos. O
álcool atua alterando funções mitocondriais, a desnutrição proteica reduz a produção de
apoproteína, anóxia inibe a oxidação de gorduras e desnutrição aumenta a mobilização de
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ácidos graxos. Quando a degeneração é leve pode não causar efeitos nas células. Já uma
degeneração mais grave pode afetar a função celular, chegando à morte celular.

COLESTEROL/ ÉSTERES DE COLESTEROL

O colesterol é utilizado na célula para compor as membranas celulares, mas não fica
acumulado na célula. Porém, em situações patológicas pode haver acúmulo.

 Aterosclerose: As células musculares lisas e


macrófagos da camada íntima da aorta
estão repletos de vacúolos lipídicos cheios
de colesterol e ésteres de colesterol. Essa
agregação forma as placas de ateroma, com
característica amarelada. Ainda, os ésteres
de colesterol podem se cristalizar em forma
de agulha, causando fendas nos tecidos.
Fatores de risco: idade, masculino, genética,
diabetes, hipertensão, tabagismo, síndrome
metabólica. Isto, além de diminuir o fluxo
sanguíneo a vasos subsequentes, causa turbilhonamento sanguíneo, podendo causar
lesão vascular, causar trombos.
 Xantomas: A hiperlipidemia hereditária ou adquirida pode causar acúmulo de colesterol e
seus ésteres nos macrófagos. Estas células agrupam-se em alguns tecidos, como
conjuntivo subepitelial da pele e tendões, produzindo massas tumorais chamados
xantomas. Estes macrófagos são chamados de células espumosas.
 Inflamação e necrose: Em locais de necrose e inflamação os macrófagos fazem fagocitose
dos lipídios de membrana das células lesionadas, eritrócitos e leucócitos. Assim, assumem
característica espumosa, repletos de colesterol e seus ésteres.
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 Colesterolose: Acúmulo de macrófagos repletos de colesterol na lâmina própria da


vesícula biliar.
 Doença de Niemann-Pick C: Doença que causa mutação em uma enzima envolvida no
transporte de colesterol, causando seu acúmulo em diversas células.

GLICOGÊNIO

As massas de glicogênio no citoplasma celular possuem coloração clara e estão presentem em


situações normais em diversos tecidos. Porém, problemas no metabolismo da glicose ou
glicogênio podem levar a um excesso do mesmo, podendo gerar lesões à célula ou até morte
celular, como na Diabetes Melitus (glicogênio encontrado nos túbulos renais, células
musculares cardíacas e ilhotas de langerhans).

Outros exemplos muito importantes se relacionam com o músculo e o fígado. Esses locais
armazenam muito glicogênio, causando problemas como o aumento do coração no caso do
músculo cardíaco e acumulação de glicogênio nos hepatócitos. Normalmente esse acúmulo se
dá por meio de problemas nas enzimas responsáveis pela degeneração do glicogênio como a
fosforilase.

OBS: Nas lâminas histológicas, o glicogênio é corado pelo PAS.

CÁLCIO

A calcificação é um evento patológico que pode ser metabólico ou não. Quando temos
calcificação em áreas de necrose denominamos de calcificação distrófica. Quando temos
calcificação em tecidos normais por conta de defeitos no metabolismo secundário
denominamos de calcificação metastática.

 Calcificação distrófica: a calcificação se caracteriza


por nódulos brancos como grânulos finos e é
decorrente da formação de cristais de cálcio. Os
cristais são formados nas mitocôndrias de células
moribundas por meio da doação de um grupo
fosfato (fosfolipídeo de membrana) para o cálcio,
resultando em hidroxiapatita.
 Calcificação Metastática: Resultado da
hipercalcemia causada pelo aumento de PTH,
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destruição óssea, distúrbios na formação da vitamina D e insuficiência renal.


Histologicamente a calcificação fica bem basofílica. Ela pode ocorrer em todo o corpo,
mas geralmente afeta tecidos da mucosa gástrica, rins, pulmões, artérias sistêmicas e
veias pulmonares. Por mais que tenham localizações bem distintas, estes tecidos perdem
ácidos e deixam o meio alcalino, propicio à formação dos cristais, muito semelhantes aos
cristais da calcificação distrófica. Comumente, estes depósitos só causam problemas
funcionais se o depósito de cálcio for muito grande.

PIGMENTOS

Os pigmentos são substâncias coloridas de origem endógena ou exógena podendo ser normal
ou anormal.

 Exógenos: O principal é o carbono (poeira de carvão), muito presente no ar devido a


poluição atmosférica. Ele é inalado, fagocitado por macrófagos e levado a linfonodos da
árvore traqueobrônquica. Se for acumulado, deixa o tecido pulmonar mais escuro
(antracnose). Ex: A doença pneumoconiose dos carvoeiros acontece por agregados de
poeira de carvão. A tatuagem é um tipo localizado de pigmentação, pois a tinta é
fagocitada por macrófagos da derme que se acumulam e permanecem ao resto da vida.
OBS: Geralmente os pigmentos não causam respostas inflamatórias.

 Endógenos:
 Lipofuscina (lipocromo): é um pigmento insolúvel composto de polímeros de lipídios
e fosfolipídios com proteínas, derivada da peroxidação lipídica de membranas. Ela não
é tóxica à célula, mas funciona como indicativo para lesão por radicais livres ou
peroxidação lipídica. As características da lipofuscina incluem cor marrom-amarelada,
localização perinuclear e vista em células sofrendo lentas alterações regressivas, como
no coração e fígado de idosos.
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 Melanina: é um pigmento marrom-escuro, localizada nos melanócitos e produzida a


partir de um resíduo de tirosina. Outro exemplo é o ácido homogentísico, pigmento
preto que aparece em pacientes com alcaptonúria, uma doença metabólica rara.
Nessa condição, o pigmento é depositado na pele, tecido conjuntivo e cartilagem.
 Hemossiderina: é pigmento derivado da hemoglobina de coloração que varia do
amarelo-ouro até o marrom, sendo a forma de armazenamento de ferro nas células. O
ferro é armazenado na célula conjugado à apoferritina, formando a ferritina. Porém,
quando há excesso de ferro nas células, as miscelas de ferritina se agrupam, formando
a hemossiderina. Em condições normais, pequenas quantidades são vistas nas células
fagocitárias da medula óssea, baço e fígado. O excesso local de ferro e hemossiderina
pode ser decorrência de uma grande hemorragia ou várias pequenas hemorragias
acompanhadas de congestão vascular. Um bom exemplo disto é o hematoma. Aqui, a
lise dos eritrócitos libera a hemoglobina, fagocitada pelos macrófagos. O passo
seguinte é com a ajuda de enzimas lisossomais, produzirem a hemossiderina. As
mudanças de cores do hematoma refletem as mudanças que ocorrem com a
hemoglobina (Vermelho-azulado, azul-esverdeado, amarelo...).

 Hemossiderose: Condição na qual há sobrecarga sistêmica de ferro, que pode ser


causada por aumento de sua absorção, diminuição de sua utilização, anemias
hemolíticas e transfusões sanguíneas.
 Bilirrubina: principal pigmento encontrado na bile é derivado da hemoglobina. A
icterícia é uma condição patológica na qual há excesso de bilirrubina nos tecidos.

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