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MORFOFUNCIONAL
CURSO DE MEDICINA
ORIENTADORES:
Prof.ª. Adriana Oliveira
Prof. Hudson Wallença
Prof.ª. Lyah Lamarck
Prof. Rômulo Dayan
AES 19 – DOENÇAS METABÓLICAS,
HORMONAIS E NUTRICIONAIS
DISLIPIDEMIA E OBESIDADE
OBJETIVOS:
- Descrever as diferenças e a formação das principais moléculas de lipídeos (HDL, LDL e TG);
01) O metabolismo dos lipídios e das lipoproteínas está subdividido em dois ciclos:
o exógeno e o endógeno. Utilizando a ilustração a seguir, explique esse mecanismo
destacando as estruturas anatômicas associadas aos eventos nos dois ciclos.
Via Intestinal
Os TG representam a maior parte das gorduras ingeridas. Após ingestão, as lipases pancreáticas
hidrolizam os TG em ácidos graxos livres, monoglicerídeos e diglicerídeos. Sais biliares liberados na luz
intestinal emulsificam estes e outros lípides oriundos da dieta e da circulação entero-hepática, com
formação de micelas. A solubilização dos lípides sob a forma de micelas facilita sua movimentação através
da borda em escova das células intestinais. A proteína Niemann-Pick C1-like 1 (NPC1-L1), parte de um
transportador de colesterol intestinal, está situada na membrana apical do enterócito e promove a
passagem do colesterol através da borda em escova desta célula, facilitando a absorção intestinal do
colesterol. A inibição da proteína NPC1-L1, com consequente inibição seletiva da absorção intestinal do
colesterol, tem sido reconhecida como importante alvo terapêutico no tratamento da hipercolesterolemia.
Após serem absorvidas pelas células intestinais, as diversas partículas lipídicas, particularmente os ácidos
graxos, são utilizadas na produção de quilomícrons, que também contêm ApoB48, o componente amino-
terminal da ApoB100. Os quilomícrons são, em seguida, secretados pelas células intestinais para o interior
do sistema linfático, de onde alcançam a circulação através do ducto torácico. Enquanto circulam, os
quilomícrons sofrem hidrólise pela Lipase Lipoproteica (LPL), uma enzima localizada na superfície
endotelial de capilares do tecido adiposo e músculos, com consequente liberação de ácidos graxos e
glicerol do core, e de colesterol não esterificado da superfície destas partículas. Após este processo de
lipólise, os ácidos graxos são capturados por células musculares e adipócitos − estes últimos importantes
reservatórios de TG elaborados a partir de ácidos graxos. Remanescentes de quilomícrons e ácidos graxos
também são capturados pelo fígado, onde são utilizados na formação de VLDL.
Via hepática
O transporte de lípides de origem hepática ocorre por meio das VLDL, IDL e LDL. As VLDL são lipoproteínas
ricas em TG e contêm a ApoB100 como sua Apo principal. As VLDL são montadas e secretadas pelo fígado,
sendo liberadas na circulação periférica. A montagem das partículas de VLDL no fígado requer a ação de
uma proteína intracelular, a chamada proteína de transferência de TG microssomal (MTP, do inglês
microsomal triglyceride transfer protein), responsável pela transferência dos TG para a ApoB, permitindo
a formação da VLDL. A montagem hepática da VLDL também tem sido reconhecida como foco terapêutico
no tratamento da hipercolesterolemia, seja pela inibição da síntese de Apolipoproteína B 100 (ApoB), ou
pela inibição da MTP.
Já na circulação, os TG das VLDL, assim como no caso dos quilomícrons, são então hidrolisados pela LPL,
enzima estimulada pela ApoC-II e inibida pela ApoC-III. Os ácidos graxos assim liberados são
redistribuídos para os tecidos, nos quais podem ser armazenados (como no tecido adiposo), ou
prontamente utilizados, como nos músculos esqueléticos. Por ação da LPL, as VLDL, progressivamente
depletadas de TG, transformam-se em remanescentes, também removidos pelo fígado por receptores
específicos. Uma parte das VLDL dá origem às IDL, que são removidas rapidamente do plasma. O processo
de catabolismo continua e inclui a ação da lipase hepática, resultando na formação das LDL.
Durante a hidrólise das VLDL, estas lipoproteínas também estão sujeitas a trocas lipídicas com as HDL e as
LDL. Por intermédio da ação da Proteína de Transferência de Ésteres de Colesterol (CETP, do inglês
cholesteryl ester transfer protein), as VLDL trocam TG por ésteres de colesterol com as HDL e LDL. A CETP
vem sendo testada como alvo terapêutico no tratamento de dislipidemias, em particular no tratamento da
HDL baixa, e na redução do risco cardiovascular.
LDL
A LDL tem um conteúdo apenas residual de TG e é composta principalmente de colesterol e uma única
apo, a ApoB100. As LDL são capturadas por células hepáticas ou periféricas pelos Receptores de LDL
(LDLR). No interior das células, o colesterol livre pode ser esterificado para depósito por ação da enzima
Acil-CoA:Colesteril Aciltransferase (ACAT).
A expressão dos LDLR nos hepatócitos é a principal responsável pelo nível de colesterol no sangue e
depende da atividade da enzima Hidroximetilglutaril Coenzima A (HMG-CoA) redutase, enzima-chave para
a síntese intracelular do colesterol hepático. A inibição da HMG-CoA redutase e, portanto, da síntese
intracelular do colesterol é um importante alvo terapêutico no tratamento da hipercolesterolemia. Com a
queda do conteúdo intracelular do colesterol, ocorrem o aumento da expressão de LDLR nos hepatócitos
e a maior captura de LDL, IDL e VLDL circulantes por estas células.
HDL
As partículas de HDL são formadas no fígado, no intestino e na circulação. Seu principal conteúdo proteico
é representado pelas apos AI e AII. O colesterol livre da HDL, recebido das membranas celulares, é
esterificado por ação da Lecitina-Colesterol Aciltransferase (LCAT). A ApoA-I, principal proteína da HDL, é
cofator desta enzima. O processo de esterificação do colesterol, que ocorre principalmente nas HDL, é
fundamental para sua estabilização e seu transporte no plasma, no centro desta partícula. A HDL transporta
o colesterol até o fígado, no qual ela é captada pelos receptores SR-B1.
O circuito de transporte do colesterol dos tecidos periféricos para o fígado é denominado transporte
reverso do colesterol. Neste transporte, é importante a ação do complexo ATP-Binding Cassette A1 (ABC-
A1) que facilita a extração do colesterol da célula pelas HDL. A HDL também tem outras ações que
contribuem para a proteção do leito vascular contra a aterogênese, como a remoção de lípides oxidados
da LDL, a inibição da fixação de moléculas de adesão e monócitos ao endotélio, e a estimulação da
liberação de óxido nítrico.
Além das diferenças em tamanho, densidade e composição química, as lipoproteínas podem diferir entre
si em relação à modificação in vivo por oxidação, glicação ou dessialização. Estas modificações influenciam
em seu papel no metabolismo lipídico e no processo aterogênico. Os ciclos exógeno e endógeno, e o
transporte reverso de colesterol são apresentados na Figura 1.
Como a cavidade abdominopélvica é grande e contém muitos órgãos, é útil dividi-la em áreas menores
para podermos estudá-la melhor. Para localizarmos os órgãos de maneira geral, o abdome é dividido em
quatro quadrantes (“quartos”), traçando-se um plano vertical e um horizontal através do umbigo (Figura
1.8a). Saber quais órgãos abdominais ficam em cada quadrante (Figura 1.8b) auxilia o médico no
diagnóstico de alterações ou lesões. Costuma-se considerar a caixa torácica como uma proteção para os
órgãos torácicos, mas ela também protege os órgãos situados na parte mais superior do abdome. O fígado
e o baço, dois órgãos ricos em sangue e particularmente vulneráveis a lesões, são protegidos pela caixa
torácica que os recobre parcialmente nos lados esquerdo e direito, respectivamente.
- Causas primárias: são aquelas nas quais o distúrbio lipídico é de origem genética.
- Causas secundárias: a dislipidemia é decorrente de estilo de vida inadequado, de certas condições
mórbidas, ou de medicamentos (Quadros 2 e 3).
Classificação Laboratorial
- Hipertrigliceridemia isolada: aumento isolado dos triglicérides (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175 mg/dL, se a
amostra for obtida sem jejum).
- Hiperlipidemia mista: aumento do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dL) e dos TG (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175 mg/
dL, se a amostra for obtida sem jejum). Se TG ≥ 400 mg/dL, o cálculo do LDL-c pela fórmula de Friedewald
é inadequado, devendo-se considerar a hiperlipidemia mista quando o não HDL-c ≥ 190 mg/dL.
- HDL-c baixo: redução do HDL-c (homens < 40 mg/dL e mulheres < 50 mg/dL) isolada ou em associação
ao aumento de LDL-c ou de TG.
Atualização da Diretriz brasileira de Dislipidemia e Prevenção de Ateros. (2017)
Xantomas tendinosos: Aspecto característico dos xantomas tendinosos (setas), quase patognomônicos
da hipercolesterolemia familiar.
Xantomas planares (ou palmares?): A presença de xantomas palmares é muito sugestiva de
disbetalipoproteinemia.
Xantomas eruptivos: Xantomas eruptivos na região glútea de paciente diabético com níveis de
triglicerídeos de 2.400 mg/dl.
Xantomas palpebrais: Xantelasma bilateral (setas) em um paciente com LDL-colesterol de 190 mg/d l.
Notar o arco corneano incompleto.
Arco senil/Arco córneo: Arco corneano bilateral em mulher de 28 anos de idade com hipercolesterolemia
familiar heterozigota (colesterol total = 340 mg/dl).
O sistema nervoso central (SNC), mais precisamente o hipotálamo, é o grande responsável pelo controle
da homeostase energética, sob a influência de sinais periféricos metabólicos e endócrinos. Isso resulta em
respostas que modulam não somente o comportamento alimentar, mas também o gasto energético.
Lesões do hipotálamo ventromedial provocam grande aumento na ingestão alimentar e causam
obesidade. Em contraste, lesões do hipotálamo lateral determinam hipofagia e perda de peso. Em
condições fisiológicas, o núcleo arqueado do hipotálamo, localizado na eminência mediana, detecta sinais
de nutrientes e hormônios a partir da periferia. Ele é o sítio primário de duas populações de neurônios que
formam parte do sistema central da melanocortina, um regulador-chave do balanço energético. A primeira
população, localizada lateralmente, expressa dois polipeptídeos com ação estimuladora do apetite (via
orexigênica): o neuropeptídeo Y (NPY) e a proteína (ou peptídeo) relacionada com o Agouti (AgRP), um
antagonista do receptor da melanocortina. A segunda população, localizada medialmente, contém a pró-
opiomelanocortina (POMC) e o transcrito regulado por cocaína e anfetamina (CART), componentes da via
anorexigênica. Expresso em diversas áreas do SNC, o CART atua antagonizando os efeitos do NPY, sendo,
assim, um potente anorexígeno. O hormônio estimulador dos melanócitos-alfa (α-MSH) é um dos produtos
de clivagem da POMC e age como agonista dos dois principais receptores de melanocortina (tipos 3 e 4)
relacionados com o controle da ingestão alimentar – MC3-R e MC4-R. A ação do α-MSH, antagonizada pela
AgRP, consiste na inibição da alimentação e no aumento do gasto energético.6 A privação de alimentos
aumenta a expressão dos genes da AgRP e do NPY, além de reduzir a expressão dos genes da POMC e
do CART. Portanto, o equilíbrio dos peptídeos hipotalâmicos orexigênicos e anorexigênicos é crucial para
um adequado controle da ingestão de alimentos. Superexpressão da AgRP e eliminação dos genes da
POMC, do CART e do MC4-R resultam em hiperfagia e obesidade. Em humanos, mutação no MC4-R
constitui a causa mais frequente de obesidade monogenética.
Produzida pelas células do epitélio gástrico, a ghrelina é conhecida como “hormônio da fome”. Ela atua no
hipotálamo estimulando a produção do NPY e da AgRP. Seus níveis séricos elevam-se com o jejum e
diminuem após a ingestão alimentar, sobretudo de carboidratos e proteínas.
O apetite hedônico refere-se ao consumo de alimentos apenas por prazer e não para manter a homeostase
energética. Nessa condição, o indivíduo também come, quando não está em um estado de esgotamento
de energia a curto prazo, e os alimentos são consumidos exclusivamente por causa de suas propriedades
gustativas recompensadoras. Os mecanismos fisiológicos subjacentes a esse comportamento alimentar
não são profundamente entendidos, mas provavelmente estão envolvidos com mediadores
recompensadores endógenos, como dopamina e endocanabinoides com ação no sistema mesolímbico
dopaminérgico, que tem conexões com o hipotálamo.
Figura 76.1 Regulação da ingestão calórica. CCK: colecistocinina; GLP-1: peptídeo similar ao glucagon-1; GSRH: receptor da ghrelina;
RLep: receptor da leptina; RGLP-1: receptor de GLP-1; NPY: neuropeptídeo Y; AgRP: proteína relacionada com o Agouti; NPV: núcleo
paraventricular; NVM: núcleo ventricular médio; MC4-R: receptor-4 da melanocortina; RY1: receptor Y-1; RY5: receptor Y-5; RY2:
receptor Y-2; m-OR: receptor opioide tipo m; 5-HT2c: receptor-2c da serotonina; POMC: pró-opiomelanocortina; CART: transcrito
regulado por cocaína e anfetamina; MCH: hormônio concentrador de melanina; MCH1R: receptor-1 do MCH; NTRK2: receptor
tirosinoquinase tipo 2 do fator neurotrófico cerebral; a-MSH: hormônio estimulador dos melanócitos-alfa. (Adaptada de Boughton e
Murphy, 2013;4 Sobrino Crespo et al., 2014;5 Asarian e Bächler, 2014.)
O fenótipo obesidade com peso normal é caracterizado pelo IMC na faixa de eutrofia (18,5 a 24,9 kg/m2)
e pelo percentual de gordura corporal elevado (homens, ≥ 23,5%, mulheres, ≥ 29,2%), acúmulo de
gordura visceral, bem como pela inflamação crônica de baixo grau acentuada, com risco de doença
cardiometabólica. Os indivíduos com tal fenótipo apresentam pressão arterial sistêmica significativamente
mais elevada, glicemia de jejum e perfil lipídico alterados, quando comparados a indivíduos eutróficos
(Goossens, 2017).
A literatura tem evidenciado três possíveis mecanismos para explicar a relação entre o fenótipo obesidade
com peso normal e aumento da mortalidade. O primeiro diz respeito ao fato de que o excesso de gordura
visceral abdominal favorece acúmulo de gordura nos órgãos da cavidade abdominal, aumentando a
inflamação crônica de baixo grau e a resistência à insulina. O segundo mecanismo trata da redução na
quantidade de gordura subcutânea armazenada nas pernas, quadris e nádegas, sendo por sua vez
estocado no compartimento visceral, o que favorece o risco do desenvolvimento do risco de doenças
cardiovasculares. O terceiro e último mecanismo se refere à limitação na quantidade de massa muscular,
o que torna o indivíduo mais suscetível ao desenvolvimento de sarcopenia (De Lorenzo et al., 2016).
O fenótipo peso normal metabolicamente obeso, descrito pela primeira vez por Ruderman, Schneider e
Berchtold (1981), trata de um subconjunto de indivíduos que possuem IMC dentro da faixa de eutrofia, no
entanto apresentam percentual de gordura visceral elevado, massa magra reduzida, baixa sensibilidade
insulínica e concentrações elevadas de triacilgliceróis, o que aumenta o risco de desenvolver síndrome
metabólica (De Lorenzo et al., 2016).
O fenótipo obesidade metabolicamente não saudável é caracterizado pela presença de tecido adiposo
disfuncional e de distúrbios metabólicos associados (Bray et al., 2018; Goossens, 2017; Huang et al., 2018).
Assim, a disfunção do tecido adiposo em obesos metabolicamente não saudáveis exerce papel importante
na gênese de desordens metabólicas importantes, a exemplo da inflamação crônica de baixo grau,
resistência à insulina e dislipidemia. Os mecanismos envolvidos incluem acúmulo ectópico de lipídios,
alterações na composição celular do tecido adiposo com infiltração de células imunes, aumento na
secreção de citocinas pró-inflamatórias e redução de adipocinas sensibilizadoras da insulina, como a
adiponectina (Figura 7) (Blüher, 2009, 2010; Bray et al., 2018; Denis; Obin, 2013).
A estratificação de indivíduos com obesidade baseada na saúde metabólica pode ser útil para melhor
entendimento da função do tecido adiposo e dos mecanismos envolvidos nas complicações relacionadas
à obesidade. Além disso, a compreensão de tais fenótipos poderá contribuir para definir estratégias de
prevenção e tratamento desse grupo populacional.
Ressalta-se que a disfunção do tecido adiposo em indivíduos com obesidade exerce papel importante na
gênese de desordens metabólicas associadas à obesidade, como inflamação crônica de baixo grau,
resistência à insulina, hipertrigliceridemia, redução na concentração sérica de HDL-colesterol e
hipertensão arterial sistêmica. Alguns estudos fundamentam mecanismos envolvidos em vias nas quais a
disfunção do tecido adiposo contribui para a manifestação de tais desordens metabólicas, dentre eles o
acúmulo ectópico de lipídios, alterações na composição celular do tecido adiposo com infiltração de
células imunes, aumento na secreção de citocinas pró-inflamatórias e redução de adipocinas
sensibilizadoras da insulina, como adiponectina (Blüher, 2009, 2010; Bray et al., 2018; Denis; Obin, 2013).
Sobre esse aspecto, destaca-se que o acúmulo ectópico de gordura inclui a expansão do tecido adiposo
intra-abdominal, visceral, omental, pericardial, perirrenal e retroperitoneal, assim como o aumento de
lipídios em tecidos periféricos como o hepático, musculoesquelético e cardíaco, o que caracteriza a
distribuição disfuncional do excesso de lipídios. O tecido adiposo visceral apresenta atividade lipolítica
elevada, portanto induz a liberação de ácidos graxos do tecido adiposo disfuncional, que resulta em
lipotoxicidade nos tecidos periféricos, contribuindo para a manifestação de resistência à insulina e de
doenças crônicas associadas à obesidade (Blüher, 2009; Huang et al., 2018).
Assim, a concentração plasmática elevada de ácidos graxos livres no tecido muscular esquelético promove
acúmulo de lipídios intramiocelulares, como as ceramidas e o diacilglicerol, e este último estimula a
fosforilação em resíduos serina do substrato 1 do receptor de insulina (IRS-1), inibindo sua capacidade de
transdução de sinal. As ceramidas, por sua vez, comprometem a ação da enzima AKT (proteína quinase B),
limitando a captação de glicose pela célula muscular esquelética (Boucher et al., 2014; Bray et al., 2018;
Huang et al., 2018; Yang et al., 2018).
Outro aspecto importante é que a oxidação excessiva de ácidos graxos nas mitocôndrias da célula
muscular aumenta a produção de metabólitos lipídicos e de espécies reativas de oxigênio, estresse
intracelular que induz quinases responsáveis pela inibição de IRS-1 e parece exercer efeitos na via
AKT/AS160, comprometendo a translocação do transportador de glicose tipo 4 (GLUT-4) e a utilização de
glicose pelo tecido. Dessa forma, o acúmulo de lipídios na fibra muscular induz a resistência à insulina em
indivíduos com obesidade (Huang et al., 2018).
O acúmulo ectópico de gordura no fígado favorece a oxidação excessiva de ácidos graxos nos hepatócitos,
aumentando o conteúdo de acetil-CoA, que ativa a enzima piruvato carboxilase, essencial para
gliconeogênese, além de aumentar a concentração de diacilgliceróis no fígado, o que limita a via
(fosfatidilinositol 3-quinase) PI3K/AKT e exacerba a resistência à insulina (Huang et al., 2018).
O excesso de ácidos graxos livres no fígado também estimula a síntese de partículas de VLDL-colesterol,
as quais, em excesso, comprometem a lipólise dos quilomícrons por meio de mecanismos de competição
pela lipase de lipoproteínas, acumulando triacilgliceróis remanescentes nos hepatócitos. Além disso,
quantidade elevada de VLDL-colesterol e de quilomícrons induz alterações no metabolismo da HDL-
colesterol, lipoproteína responsável pelo transporte reverso do colesterol, portanto a gordura corporal em
quantidade elevada associada a disfunção do tecido adiposo contribui para o desenvolvimento de
dislipidemias em indivíduos com obesidade (Clemente-Postigo et al., 2011; Ebbert; Jensen, 2013;
Franssen et al., 2011; Jung; Choi, 2014).
O acúmulo excessivo de gordura corporal também está associado à ativação de vias pró-inflamatórias,
como janus quinase (JNK) e quinase do inibidor do fator nuclear kappa-B (IKK), que estimulam a produção
de citocinas pró-inflamatórias pelos adipócitos. Os ácidos graxos saturados se ligam a receptores Toll-like
(TLR), em particular TLR-4, cuja expressão encontra-se elevada no tecido adiposo e musculoesquelético de
indivíduos obesos, ativando a via do fator de transcrição fator nuclear kappa-B (NF-kappa-B) e JNK, o que
aumenta a secreção de citocinas pró-inflamatórias (Boucher et al., 2014; Schrover et al., 2016; Shi et al.,
2006; Sinha et al., 2004).
A expansão disfuncional do tecido adiposo em indivíduos com obesidade aumenta ainda a infiltração de
células do sistema imune, como macrófagos, bem como favorece a troca de macrófagos M2 (anti-
inflamatórios) por M1 (pró-inflamatórios) nesse tecido, aumentando a secreção de citocinas inflamatórias
e, consequentemente, exacerbando a inflamação crônica de baixo grau e a resistência à insulina (Cancello;
Clément, 2006; Schrover et al., 2016; Smitka; Marešová, 2015).
Outro fator determinante das desordens metabólicas associadas a obesidade é a oxigenação do tecido
adiposo, que depende do equilíbrio local entre a oferta e o consumo de oxigênio. No entanto, a expansão
desse tecido, quando acompanhada de vascularização inadequada, pode induzir hipóxia, que contribui
para a disfunção do tecido adiposo, com infiltração de macrófagos e inflamação crônica. Vale mencionar
que o fator 1-alfa induzido por hipóxia (HIF-1-alfa) é superexpresso nos adipócitos de indivíduos com
obesidade e estimula a retenção de macrófagos nessas Células (BLÜHER, 2009; Cancello; Clément, 2006).
Pesquisas demonstram que o aumento da secreção de citocinas pró-inflamatórias, tanto por células do
sistema imune quanto por adipócitos de obesos, induz a resistência à insulina por meio de diversos
mecanismos, incluindo ativação de quinases serina/treonina, inibição do receptor de insulina, redução na
expressão e ativação do IRS-1, PI3K e AKT, bem como diminuição na expressão do GLUT-4 e de fatores
sinalizadores da insulina, a exemplo do PPAR-gama e da adiponectina (Akash et al., 2018; Akbari; Hassan-
Zadeh, 2018; Keane et al., 2015; Rehman; Akash, 2016; Zand et al., 2017).
O estresse oxidativo sistêmico constitui outra alteração presente na expansão disfuncional do tecido
adiposo, que ocorre em razão de um desequilíbrio entre a produção de espécies reativas de oxigênio e a
capacidade antioxidante, levando à interrupção da sinalização e ao controle redox e/ou dano molecular
(Ji; Yeo, 2021). Essa desordem induz danos no DNA, incluindo mutações pontuais e aberrações
cromossômicas, além de ativar vias de tradução de sinais, alterando a expressão de diversos genes. A
cronicidade desse processo promove a peroxidação dos lipídios da membrana e agressão às proteínas
teciduais, contribuindo para a patogênese de diversas doenças metabólicas (Tan et al., 2018).
Outra característica da disfunção do tecido adiposo trata de alterações no retículo endoplasmático (RE),
com consequente indução de estresse nessa organela, as quais envolvem a ativação de respostas de
proteínas Unfolded Protein Response (UPR), degradação de proteínas associada ao retículo
endoplasmático (Erad), bem como autofagia para restabelecer a homeostase metabólica (Kalhara et al.,
2021). Tais alterações no RE podem limitar funções celulares importantes, a exemplo do metabolismo
lipídico e glicídico, inflamação, sinalização de insulina e autofagia, comprometendo o equilíbrio
metabólico dos adipócitos (Ghemrawi et al., 2018).
Outro aspecto interessante é o fato de que tanto o estoque excessivo de lipídios quanto a inflamação
crônica de baixo grau contribuem para a peroxidação lipídica e para o estresse oxidativo, por meio do
aumento na atividade da enzima NADPH oxidase (NOX) e do desacoplamento da enzima óxido nítrico
sintase endotelial (eNOS), o que induz à disfunção mitocondrial, além da redução da expressão de enzimas
antioxidantes (Infante-Menéndez et al., 2020).
08) Nas últimas décadas tem havido interesse crescente na comunidade científica
pela definição de estratégias tanto para a perda de peso quanto para a manutenção
do peso perdido, ou seja, perder intencionalmente a partir de 10% do peso inicial e
mantê-lo por 1 ano ou mais. Nesse sentido, verifica-se a busca de conhecimentos
que possam fundamentar os mecanismos envolvidos na ciclicidade do peso,
também conhecido como “efeito sanfona”. Analise a imagem a seguir e comente
sobre as variáveis envolvidas nesse processo.
CICLICIDADE DO PESO
É importante destacar que o peso corporal, a massa magra e a massa gorda são regulados por vários
mecanismos fisiológicos complexos que não se resumem à ingestão voluntária de alimentos e à prática de
exercícios físicos. Além disso, evidências mostram a influência da perda de peso na ativação de
mecanismos biológicos que tendem a interromper o emagrecimento e restaurar o peso corporal (Bajerska
et al., 2021; Sumithran et al., 2011).
O estresse mecânico no tecido adiposo, por inibir a lipólise e induzir a liberação de ácidos graxos dos
adipócitos, favorece novo acúmulo de gordura nessas células, redução do gasto energético em repouso
em proporções elevadas, o que favorece o reganho de peso. Associado a isso, ocorre redução das
concentrações séricas de ácidos graxos livres após a ingestão alimentar em indivíduos que passaram pelo
processo de perda de peso, tendo seus efeitos supressores da alimentação minimizados (Busetto et al.,
2021; Van Baak; Mariman, 2019).
Outro mecanismo diz respeito à ação de hormônios intestinais, que participam da regulação da
homeostase energética, via circuitos cerebrais homeostáticos e hedônicos, impulsionando o
comportamento alimentar. Após a perda de peso induzida por dieta, ocorre aumento nas concentrações
dos hormônios orexígenos grelina e polipeptídeo inibidor gástrico, e redução dos hormônios
anorexígenos leptina, PYY, CCK, amilina e GLP-1, o que favorece o reganho do peso corporal (Busetto et
al., 2021).
As alterações nas concentrações séricas de leptina e insulina contribuem diretamente para aumentar a
expressão hipotalâmica do NPY e do AgRP, bem como para reduzir a expressão de POMC, alterações que
caracterizam o estado anabólico, promovendo balanço energético positivo e ganho de peso corporal
(Figura 9) (MacLean et al., 2011).
A adaptação metabólica também constitui fator responsável pelo reganho de peso após o emagrecimento.
Os mecanismos envolvidos no declínio do gasto energético após a perda de peso provavelmente estão
ligados à redução da massa corporal e ao aumento da eficiência metabólica. Destaca-se que a redução do
gasto energético provavelmente não é considerada impulso para o reganho de peso, desde que ocorra
em paralelo à redução da ingestão energética.
Outro aspecto que também influencia no reganho do peso trata das alterações que ocorrem no
metabolismo de nutrientes. Essa resposta metabólica aos nutrientes ingeridos é aumentada, em parte, em
razão do aumento na sensibilidade à insulina, que, embora benéfica, prepara o corpo para um ganho de
peso rápido durante a superalimentação crônica. Enquanto o indivíduo com peso reduzido restringe a
ingestão e permanece em equilíbrio energético, há pouco impacto da adaptação metabólica na oxidação
dos substratos dietéticos em 24 horas; no entanto, a rapidez e a eficiência da absorção de nutrientes
podem razoavelmente acelerar a transição para um estado pós-absortivo, o aumento da sensação de fome
e a persistência da adaptação metabólica (Van Baak; Mariman, 2019).
Sobre o apetite subjetivo, a literatura demonstra que pode ser avaliado por meio de uma escala visual
analógica, que utiliza como critérios alguns componentes, quais sejam: o desejo de comer, a fome e o
consumo alimentar prospectivo. Alguns estudos já evidenciaram que a perda de peso induzida pela dieta
em indivíduos com obesidade é acompanhada pelo aumento em todos esses componentes do apetite
(Sumithram et al., 2011; Vink et al., 2017). Além disso, o desejo de comer apresenta-se como componente
da resposta hedônica à comida, e, nesse sentido, tem-se demonstrado que fazer dieta ou comer com
moderação aumenta a probabilidade de desejo por comida, embora, a longo prazo, a dieta reduza o
desejo por alimentos ricos em gordura e carboidratos (Anton et al., 2012).
Portanto, o reganho de peso após o emagrecimento não pode ser atribuível apenas à perda de motivação
ou adesão do indivíduo à dieta, mas também envolve mecanismos biológicos que estimulam a ingestão
de alimentos e diminuem o gasto energético, que favorecem a ingestão alimentar em excesso, induzindo
o prazer e a recompensa pela comida. Nesse sentido, qualquer estratégia de perda de peso que não
considere tal influência metabólica certamente não terá redução do peso e sua manutenção sustentável
(Busetto et al., 2021; MacLean et al., 2011).
Os aspectos fisiológicos e biológicos envolvidos no reganho do peso perdido podem ser controlados por
meio de intervenções ambientais, comportamentais e farmacêuticas, e a composição da dieta e a prática
regular de exercícios físicos têm impacto significativo em vários aspectos dessa resposta homeostática. O
reconhecimento do surgimento desses impulsos biológicos que afetam a homeostase do peso corporal,
em situação de dietas de emagrecimento, permite o desenvolvimento e a implementação de estratégias
de prevenção da recuperação do peso perdido (MacLean et al., 2011).
16.8 Placas ateromatosas vulnerável e estável. Placas vulneráveis têm maior quantidade de lipídeos e de células
inflamatórias, além de capa fibrosa menos desenvolvida do que placas estáveis.
Com o passar do tempo, os ateromas podem sofrer várias modificações, podendo originar:
16.8
Placas Complicadas
As principais complicações nas placas são: (1) ruptura, erosão ou ulceração, mais comuns em placas
vulneráveis, que resulta em perda do revestimento endotelial e favorece trombose; (2) trombose, quase
sempre associada a ruptura da placa ou erosão/ulceração. Trombos em ateromas, oclusivos ou não, são a
condição mais associada à síndrome coronariana aguda; (3) hemorragia, em que o sangue penetra na
lesão a partir de ruptura de pequenos vasos neoformados ou na superfície do ateroma; (4) calcificação,
que pode atingir pequenas áreas ou grande parte da placa. Quando extensa, calcificação pode ser
reconhecida à radiografia ou à tomografia computadorizada, ajudando na avaliação da doença.
Os tipos citados – androide (ou em maçã) e ginóide (ou em pera) – correspondem a dois extremos de um
grande espectro, “classificando” a doença de acordo com a forma do corpo, ou melhor dizendo, de acordo
com a distribuição da gordura corporal. A presença de maior volume de gordura em região central (tronco
e abdômen) está relacionada a maiores riscos à saúde.
Circunferência Abdominal
A relação cintura quadril é um bom marcador da distribuição de gordura corporal, já que possibilita estimar
tantoagordura visceral (cintura) como a periférica (quadril). Não é utilizada no acompanhamento do trata
mento da obesidade, jáque pacientes que perdem grande quantidade de peso mantêm a relação cintura
quadril inalterada. Além disso, são usadas2 variáveis, o que torna mais trabalhosa a obtenção de um índic
e.
Tem sido considerada um bom preditor de doenças cardiovasculares. Valores acima de 0,5 associam-
se a aumento do risco metabólico.
Terapia Nutricional
Está bem demonstrado que o aumento do consumo de gorduras totais associa-se à elevação da
concentração plasmática de colesterol e à maior incidência de aterosclerose. A quantidade de gorduras
saturadas e de colesterol presentes nos alimentos influencia diferentemente os níveis lipídicos plasmáticos,
em especial a colesterolemia.
Para reduzir a ingestão de colesterol, deve-se diminuir o consumo de alimentos de origem animal, em
especial vísceras, leite integral e seus derivados, embutidos, frios, pele de aves e gema de ovos.
Para diminuir o consumo de ácidos graxos saturados, aconselha-se a redução da ingestão de gordura
animal (carnes gordurosas, leite e derivados), de polpa e leite de coco e de alguns óleos vegetais que
contêm quantidades significativas de ácidos graxos saturados, como os óleos de palma, de coco e de
dendê.
Para a hipertrigliceridemia, há duas condutas distintas, porém complementares. Para os pacientes com
hiperquilomicronemia (TG> 1.000 mg/dL, situação associada a aumento do risco de pancreatite),
recomenda-se reduzir a ingestão de gordura total da dieta (principalmente os óleos de cozinha e gorduras
visíveis), substituindo, quando necessário (para se poder manter o mínimo de calorias na dieta para
manutenção das atividades diárias), a utilização dos ácidos graxos de cadeia média que não entram na
composição das quilomicras.
Para os pacientes com hipertrigliceridemia secundária, com valores de triglicerídeos geralmente abaixo
de 1.000 mg/dL, comumente devido a excesso de ingestão de carboidratos, obesidade ou diabetes melito,
recomendam-se, respectivamente, restrição de carboidratos, dieta hipocalórica e hipoglicídica e
compensação do diabetes, além da redução das gorduras da dieta, como no caso acima, e da abstenção
do consumo de álcool.
Exercício Físico
SIBUTRAMINA
Mecanismo de ação: O mecanismo de ação da sibutramina é baseado no bloqueio dos receptores pré-
sinápticos de noradrenalina e serotonina nos centros da alimentação e saciedade do hipotálamo,
intensificando os efeitos anorexígenos desses neurotransmissores no sistema nervoso central, reduzindo,
assim, a fome.
FENTAMINA
ORLISTATE
É um inibidor da lipase.
Mecanismo de ação: O orlistate é um éster do ácido pentanoico que inibe as lipases gástricas e
pancreáticas, diminuindo, assim, a hidrólise da gordura da dieta em moléculas menores que possam ser
absorvidas. A administração do orlistate diminui a absorção de gorduras em cerca de 30%. A perda de
calorias devido à diminuição da absorção de gorduras é a principal causa da perda de peso. Contudo, os
graves efeitos GI associados com o fármaco também podem contribuir para a redução no consumo de
alimentos.
Farmacocinética: O orlistate é administrado por via oral com cada alimento que contém gordura. Ele tem
absorção sistêmica mínima e é excretado principalmente junto com as fezes. Nenhum ajuste de dosagem
precisa ser feito em pacientes com disfunção renal ou hepática.
LIRAGLUTIDA
O efeito sobre a obesidade resulta da ativação de receptores de GLP-1 encontrados nas regiões
hipotalâmicas que controlam a alimentação, como o hipotálamo paraventricular e o núcleo arqueado, e
em regiões que inibem o apetite e inibe o neuropeptídeo orexígeno Y e os neurônios peptídicos
relacionados a Agouti, resultando em redução da ingestão de alimentos e aumento da saciedade.
Farmacocinética: Sua apresentação injetável via subcutânea apresenta biodisponibilidade de 55% e, com
base em sua cinética farmacológica, os agonistas do receptor de GLP-1 são classificados como agentes de
ação curta ou longa. Os compostos de ação curta são caracterizados por períodos durante os quais os
pacientes são expostos a concentrações circulantes de drogas que duram algumas horas, seguidos por
períodos de inatividade do GLP-1. Pelo contrário, os compostos de ação prolongada produzem uma
concentração de fármaco circulante de longa duração com pequenas flutuações do fármaco.
BUPROPIONA
13) Após a leitura do texto 3, busque imagens que ilustram as técnicas cirúrgicas
apresentadas e destaque as estruturas anatômicas envolvidas em cada uma delas.
capacidade de 80 a 100 ml. Essa intervenção
provoca a perda de 40% a 60% do excesso de
RESTRITIVAS
peso.
Banda gástrica ajustável: Apesar de não
promover mudanças na produção de hormônios
como o bypass, essa técnica é bastante segura e
eficaz na redução de peso (25% a 40% do
excesso de peso). Nela, instala-se um anel de
silicone ajustável em volta do estômago, que
comprime o órgão tornando seu esvaziamento
mais lento. O anel é ligado a um botão que fica
embaixo da pele e pode ser alcançado por uma
agulha de injeção. Assim, é possível injetar água
destilada para apertar mais o estômago ou
esvaziá-lo para aliviar a restrição.
DISABSORTIVAS
Os inibidores da HMG-CoA redutase (mais conhecidos como estatinas) reduzem os níveis elevados de LDL-
C, resultando em redução substancial de eventos coronarianos e de morte por DCC. Eles são considerados
o tratamento de primeira escolha para pacientes com risco elevado de DCVAS. As vantagens terapêuticas
incluem estabilização das placas, melhora da função endotelial coronariana, inibição da formação do
trombo plaquetário e atividade anti-inflamatória. A importância de diminuir o LDL-C com estatinas foi
demonstrado em pacientes com e sem DCC estabelecida.
Mecanismo de ação: Os receptores ativados pelo proliferador de peroxissomo (RAPPs) são membros da
família de receptores nucleares que regulam o metabolismo lipídico. Os RAPPs funcionam como fatores
de transcrição ativados pelo ligante. Eles são ativados ao ligarem os seus ligandos naturais (ácidos graxos
ou eicosanoides) ou a anti-hiperlipêmicos. Então eles ligam a elementos de resposta proliferador de
peroxissoma, o que finalmente leva à diminuição da concentração de triglicerídeos por meio do aumento
da expressão da lipoproteína lipase e diminuindo a concentração de apo CII. O fenofibrato é mais eficaz
do que a genfibrozila na redução dos níveis de triglicerídeos. Os fibratos também aumentam o nível de
HDL-C pelo aumento da expressão de apo AI e apo AII.
Ezetimiba.
Ômega 3
Os ácidos graxos ômega-3, o ácido eicosapentaenoico (EPA) e o ácido docosaexaenoico (DHA), também
conhecidos como óleos de peixe, mostram-se efetivos na redução, em até 50%, dos níveis plasmáticos de
triglicerídeos nos pacientes que apresentam hipertrigliceridemia. O provável mecanismo de redução dos
triglicerídeos envolve a regulação de fatores de transcrição nucleares, incluindo SREBP-1c e PPARα,
produzindo uma redução na biossíntese de triglicerídeos e um aumento da oxidação de ácidos graxos no
fígado. Os ácidos graxos ômega-3 estão disponíveis na forma de suplementos nutricionais de venda livre,
como etil ésteres de ácidos graxos. A Lovaza, uma forma de ácidos graxos ômega-3, obtida com prescrição,
também se tornou disponível. A Lovaza ® é enriquecida (84%) com EPA e DHA, enquanto os suplementos
dietéticos contêm, em sua maioria, 13 a 63% de óleos de peixe. A dose recomendada de Lovaza ® é de 4
gramas, 1 vez/dia. Em geral, os ácidos graxos ômega-3 são acrescentados ao tratamento quando as
concentrações plasmáticas de triglicerídeos ultrapassam 500 mg/dℓ. A influência do uso de ácidos graxos
ômega-3 sobre os desfechos clínicos não está bem definida.
CUPPARI, LILIAN. Guia de Nutrição Clínica no Adulto. Disponível em: Minha Biblioteca,
(3ª edição). Editora Manole, 2014.
JOHN E. HALL. Guyton & Hall Tratado de Fisiologia Médica. 13 ed. Grupo GEN, 2017.