Você está na página 1de 19

Consenso Brasileiro Sobre Dislipidemias

Detecção, Avaliação e Tratamento consenso

I. LIPIDES, LIPOPROTEÍNAS, ENDOTELIO E Saciedade Brasileira de


SUAS RELAÇÕES COM A ATEROGÊNESE
Cardiologia
1. Tipos, Função Biológica e Principais Aspectos Metabólicos Sociedade Brasileira de
Lípides - São um grupo heterogêneo de compostos relacionados
direta ou indiretamente com ácidos graxos, que possuem a propriedade de
Endocrinologia e Metabologia
ser relativamente insolúveis em água e solúveis em solventes apolares. Os
seguintes lípides são importantes para o ser humano: ácidos graxos,
Sociedade Brasileira de
triglicérides (TG) e fosfolípides. O colesterol, considerado geralmente um Hipertensão
lípide, é um álcool monoídrico não saturado da classe dos esteróides.
Os ácidos graxos são constituídos por cadeias de carbono hidrocar- Sociedade Brasileira de
boxiladas, podendo se apresentar como saturadose insaturados. São exem- Geriatria e Gerontologia
plos de ácidos graxos saturados, os ácidos láurico, palmítico, mirístico e
esteárico e, de insaturados, os ácidos oléico, linoléico e os do grupo Depto de Nutrição da
ômega-3. Os ácidos graxos têm função energética e participam fundamen- SOCESP
talmente da síntese de lipoproteínas e prostaglandinas.
Os TG são formados pela estcrificação do glicerol por três molécu- Sociedade Brasileira de
las de ácidos graxos. Têm também papel energético, sendo usados de ime- Medicina de Família
diato ou armazenados para posterior utilização.
Os fosfolípides são compostos complexos, formados por glicerol, Sociedade Brasileira de
ácido graxo, base nitrogenada e fósforo. Patologia Clínica
O colesterol pode se apresentar sob a forma livre ou esterificada
(ésteres de colesterol), não sendo encontrado nos vegetais. Juntamente Sociedade Brasileira de
com os fosfolípides, possui função estrutural, formando a dupla camada
que constitui as membranas celulares e a camada única que reveste as
Clínica Médica
lipoproteínas. O colesterol desempenha ainda outros importantes papéis
no organismo, sendo precursor de ácidos biliares, hormônios esteróides e
Sociedade Brasileira de
vitamina D. Nefrologia
Lipoproteínas - Os lípides, por serem parcialmente insolúveis no
meio aquoso, são transportados no organismo sob a forma de partículas Sociedade Brasileira de
denominadas lipoproteínas (fig.1) que são formadas por uma capa Ginecologia e Obstetrícia
hidrofílica constituída por fosfolípides, colesterol livre e proteínas, envol-
vendo um núcleo hidrofóbico que contém TG e colesterol esterificado. As
proteínas são denominadas apolipoproteínas ou apoproteínas (apo). Estas, José Ernesto dos Santos
além da sua função estrutural, interagem com receptores da membrana Armênio Costa Guimarães
celular e/ou atuam como co-fatores enzimáticos. Jayme Diament,
As fontes de lípides no organismo são a síntese interna (endógena) Comissão de Redação
Ciclo exógeno - Tem início com a absorção de material lipídico
proveniente da alimentação e sua incorporação nos quilomícrons (Qm)
sintetizados pelas células intestinais. Caracterizam-se por transportar o co-
lesterol da dieta e ser ricos em TG, tendo como apo fundamental a B-48.
Os Qm entram na circulação linfática e ganham a corrente san-
güínea pelo dueto torácico, podendo receber diferentes apos (A, C e E) de
outras lipoproteínas. Nos capilares, os Qm entram em contato com a en-
Transporte reverso de colesterol - As HDL
nascentes captam colesterol não esterificado dos teci-
dos periféricos pela ação da enzima lecitina-colesterol-
acil-transferase (LCAT), formando as HDL maduras.
Estas levam o colesterol para o fígado por duas vias: 1)
diretamente e 2) transferindo os ésteres de colesterol
para outras lipoproteínas (principalmente as VLDL),
pela ação de uma proteína de transferência de ésteres
de colesterol (CETP cholesterol estertransferprotein).
Uma vez no fígado, o colesterol proveniente dos teci-
dos pode ser reaproveitado, participando de outras vias
metabólicas, ou execretado na bile (principal via de
eliminação), com reabsorção de cerca de dois terços do
mesmo (ciclo êntero-hepático).
zima lipase lipoprotéica (LLP) que, ativada pela apo C-
2. Lp(a), Lipoproteínas Modificadas e LDL
11, hidrolisa os TG, retira os ácidos graxos e torna-os
Densas
partículas de menor tamanho (remanescentes de
A Lp(a) é uma lipoproteína com estrutura básica se-
quilomícrons: R-Qm), Os R-Qm são removidos da
melhante à da LDL, com apo(a) ligada à apo B-100.
circulação pelos receptores localizados nas células he-
Esta apo(a) apresenta semelhança estrutural com a
páticas, sendo então metabolizados.
molécula do plasminogênio tecidual. Os níveis séricos
Ciclo endógeno - Tem início com a síntese he-
da Lp(a) são determinados geneticamente e não
pática das VLDL (very low density lipoproteins ou
sofrem influências ambientais significativas. Vários
lipoproteínas de muito baixa densidade), as quais con-
estudos têm sugerido que valores séricos elevados de
têm principalmente TG e as apos B -100, E e C. Na cir-
Lp(a) constituem fator de risco independente para
culação capilar, as VLDL entram em contato com a
doença aterosclerótíca (DA).
LLP, dando origem aos remanescentes de VLDL (R-
As partículas cie lipoproteínas podem sofrer
VLDL) ou IDL (intermediate density lipoproteins ou
modificações na sua estrutura e, conseqüentemente,
lipoproteínas de densidade intermediária). Essas partícu-
no seu comportamento biológico. Uma dessas modifi-
las seguem dois caminhos: cerca de dois terços das IDL
cações ocorre por oxidação. Nesse processo, os radicais
podem ser captados no fígado, pelos receptores de apo
livres decorrentes do metabolismo celular normal ou
B/E e degradados em seus componentes. O terço
produzidos em excesso em condições anormais,
restante sofre ação da lipase hepática, principalmente no
seqüestram radicais hidrogênio de ácidos graxos insa-
fígado, formando as LDL. Tanto as LDL como as IDL
turados das lipoproteínas, modificando seu arranjo
são retiradas da circulação pelos receptores celulares
molecular e sua função. As apoproteínas também
BIE, existentes principalmente no fígado. Vale salientar
podem sofrer o mesmo processo, com modificação da
que as LDL são as principais carreadoras de colesterol
sua estrutura e função.
para os te- cidos periféricos. Uma vez no interior das
Além de poder sofrer modificação na sua estru-
células, essas lipoproteínas são fragmentadas, liberando
tura, as lipoproteínas nativas podem apresentar hetero-
colesterol e aminoácidos. A síntese de colesterol e dos
gencidade numa mesma classe, com diferentes significa-
receptores B/E pela célula varia na razão inversa da con-
dos na fisiopatologia da aterogênese. As partículas de
centração de colesterol livre intracelular.
LDL parecem ser mais aterogênicas quanto menores e
Parte do material liberado pela ação da LLP
mais densas. Há estudos que sugerem que essas partícu-
sobre os Qm e as VLDL é utilizada na fabricação de
las de LDL pequenas e densas são mais suscetíveis à oxi-
outra lipoproteína: HDL (high density lipoproteins ou
dação do que as LDL maiores e menos densas.
lipoproteínas de alta densidade). As partículas de HDL
(sintetizadas no intestino e no fígado) têm como com-
3. Endotélio e aterogênese
ponentes principais a apo AI (adquirida principalmente
O endotélio participa ativamente no processo de
no fígado) e os fosfolípides. Essas partículas, na sua
aterogênese e suas complicações. Sofre ação direta de
forma inicial, apresentam formato de disco, sendo
fatores de risco, como hipercolesterolemia (elevação das
chamadas de HDL nascentes. As HDL têm grande
LDL), fumo e hipertensão arterial (HA), e sua suscetibi-
importância no transporte de colesterol dos tecidos pe-
lidade aos mesmos parece ter caráter hereditário.
riféricos para o fígado (transporte reverso de colesterol).
A disfunção endotelial caracteriza-se por crônicas debilitantes (por exemplo, câncer) e pós-
diminuição na resposta vasodilatadora ou pela respos- operatório de cirurgias de grande porte. Em condições
ta vasoconstritora à ação da acetilcolina. Isto tem sido clínicas reversíveis, o retorno aos valores habituais
observado em artérias sistêmicas de pacientes com pode ser lento, até cerca de 3 meses; b) variações
hipercolesterolemia, sem doença arterial coronariana metodológicas e/ou biológicas. Assim, admite-se em
(DAC) manifesta, e nas artérias coronárias (seguimen- até 5% a variação entre determinações simultâneas do
tos não obstruídos) de portadores de DAC. CT, sendo a ideal<3%. Para os TG, essa variação pode
Esta disfunção parece ser decorrente da redução chegar a 20% e para o HDL-c, até 10%.
na síntese de oxido nítrico (substância com ação Resultados anormais do perfil lipídico inicial ou
vasodilatadora) pelo endotélio ou pelo aumento na sua discordantes na seqüência de acompanhamento clínico,
degradação ou por outras causas. Esses efeitos se-riam recomendam a repetição da determinação dentro de 8 a
conseqüência da ação das LDL oxidadas 15 dias, tendo-se o cuidado de manter os mesmos hábitos
(LDL-o). A formação das LDL-o é etapa de vida. Caso esta segunda determinação difira das por-
importante para sua remoção eficiente por receptores centagens citadas, deve-se realizar uma terceira dosagem,
específicos (scavengers receptors, ou receptores de com intervalo idêntico. O valor a ser considerado será
remoção) dos macrófagos (monócitos atraídos da cor- representado pela média dos dois valores mais próximos.
rente sangüínea). A ação desses receptores permite Recomenda-se, sempre que possível, que as
acúmulo excessivo de ésteres de colesterol no interior determinações iniciais e as subseqüentes sejam feitas
dos macrófagos, levando à formação de "células no mesmo laboratório, evitando-se assim variações
espumosas", principais responsáveis pelo conteúdo de interlaboratoriais.
colesterol da placa de ateroma. A obtenção de valores confiáveis depende do
controle de qualidade praticado pelo laboratório, ates-
II. DETERMINAÇÕES LABORATORIAIS tado pelos "Programas de Excelência para Labo-
ratórios Clínicos" conduzidos por entidades nacionais
O perfil lipídico é definido pelas determinações do credenciadas.
colesterol total (CT), TG, HDL-c (colesterol contido
nas HDL) e cálculo do LDL-c (colesterol contido nas Valores de referência dos lípides plasmáticos e
LDL), utilizando-se a fórmula de Friedewald: LDL-c risco de DAC
= CT (HDL-c + TG/5). Esta fórmula não deve ser
empregada quando os valores dos TG forem 1. Valores de referência
>400mg/dL*. Adultos - Os valores de referência para CT, LDL-c e
Não há indicação para a solicitação dos lípides HDL-c no adulto (homens e mulheres com idade>20
totais. A eletroforese das lipoproteínas só se justifica anos), atualmente aceitos, são os recomendados pelas
quando houver suspeita de formas raras de dislipi- Sociedade Brasileira de Cardiologia (Departamento de
demias tipos I, III e V. Aterosclerose), de Patologia Clínica e de Análises
Para a obtenção da amostra sangüínea, recomen- Clínicas, e baseados no último Consenso do Programa
da-se coleta após jejum de 12 a 14h, Para a determinação Nacional de Colesterol do Estados Unidos 1993
de CT e HDL-c não é necessário jejum. Em virtude da (NCEP-National Cholesterol Education Pro-gram).
interferência de elevados níveis de TG na metodologia, Os valores para os TG são os recomendados pela
sugere-se evitar a coleta no período pós-prandial, manter Sociedade Européia de Aterosclerose (tabela 1).
a alimentação habitual, evitar a ingestão de bebidas Crianças e adolescentes - Os valores de refe-
alcoólicas na véspera, não praticar exercício físico imedi- rência para as frações lipídicas adotadas por este Con-
atamente antes da coleta, permanecer sentado ou deitado senso são os recomendados pelo NCEP e por
por 5min antes da punção venosa e evitar estase venosa Kwiterovich (tabela 2).
prolongada (manter torniquete por menos de 2min).
A interpretação dos resultados do perfil lipídico 2. Avaliação do perfil lipídico
deve levar em conta fatores como: a) condições que A presença de DAC ou de outras manifestações de DA
diminuem seus valores, como a fase aguda do infarto (cerebrovascular, carotídea e da aorta abdominal e/ou
agudo do miocárdio (IAM), enfermidades agudas ou seus ramos terminais) torna obrigatória a determinação
do perfil lipídico, independentemente de idade e sexo.
Adultos - O Consenso recomenda que todos os
* TG/5 = valor de VLDL-c (colesterol contido nas VLDL)
quando TG<400 mg/dl
adultos com idade >20 anos tenham seu perfil lipídico
mais elevado seu valor, menor o risco de DAC. HDL-
c >60mg/dL seria um "fator protetor" de DAC.
As evidências atuais indicam que a hiper-
trigliceridemia (>:200mg/dL) aumenta o risco de DAC,
quando associados HDL-c diminuído e/ou LDL-c
aumentado.
O risco individual de DAC sofre influência do
número, do grau de anormalidade, do potencial de
morbidade e mortalidade e da possibilidade do controle
efetivo dos fatores de risco presentes (quadro 1). A pre-
sença de manifestação de DAC ou de DA em outro ter-
ritório seleciona, por si só, uma população de alto risco,
mesmo que haja aparente ausência dos outros fatores de
risco conhecidos.
Até o momento, os mais importantes fatores de
risco são: hipercolesterolemia por aumento do LDL-c,
HA, tabagismo, diabetes melito e hereditariedade (DA
prematura).
Estresse, aumento dos valores de Lp(a), apo-B
e fibrinogênio, e diminuição de apo-AI são fatores de
risco cuja utilização clínica ainda depende de valor epi-
demiológico definido, facilidade de mensuração e/ou
padronização laboratorial uniformemente aceita.

III. DISLIPIDEMIAS: PRINCIPAIS TIPOS, DIAGNÓS-


TICO E IMPLICAÇÕES CLÍNICAS. ASSOCIAÇÃO
ENTRE LÍPIDES E ATEROSCLEROSE

1. Principais tipos
A apresentação laboratorial das dislipidemias com-
determinado (CT, TG, HDL-c e LDL-c). Nos indiví- preende quatro situações bem definidas: 1) hipercoles-
duos com perfil lipídico desejável e sem outros fatores terolemia isolada (valores aumentados do CT); 2) hiper-
de risco, as determinações laboratoriais devem ser trigliceridemia isolada (valores aumentados dos TG); 3)
repetidas a cada cinco anos, desde que as condições hiperlipidernia mista (valores aumentados do CT e dos
clínicas e hábitos de vida permaneçam estáveis. Este TG); 4) diminuição isolada do HDL-c ou em associação
intervalo poderá ser reduzido a critério médico. com aumento do LDL-c e/ou dos TG.
Crianças e adolescentes - A determinação sis- Esta classificação é válida para indivíduos em
temática do perfil lipídico na infância e adolescência não dieta livre e sem medicação hipolipemiante há pelo
é recomendável. Entretanto, deve ser realizada entre os menos três semanas.
2 e 19 anos de idade nas seguintes situações: a) avós,
pais, irmãos, tios e primos de primeiro grau com DA
manifesta (DAC e/ou doença cerebrovascular e/ou
periférica) antes dos 55 anos, para o sexo masculino, e
dos 65 anos, para o sexo feminino; b) pa-rentes próxi-
mos com CT>300mg/dL ou TG >400mg/dL; c) pre-
sença de pancreatite aguda, xantomatose, obesidade ou
outros fatores de risco de DAC.

3. Risco de DAC
O risco de DAC aumenta significativa e progressiva-
mente acima dos valores desejáveis de CT e LDL-c.
Para o HDL-c, a relação de risco é inversa: quanto
Outra situação diz respeito ao aumento de Dislipidemias primárias
Lp(a). Esta determinação é recomendada em coronar- Hiperlipidemias - Estão relacionadas no quadro 3,
iopatas jovens que apresentam perfil lipoprotéico nos salientando-se a maior freqüência do tipo poligênico.
limites desejáveis. Hipolipidemias - 1) Diminuição das LDL:
abetalipoproteinemia e hipobetalipoproteinemia; 2)
2. Classificação fenotípico, segundo a diminuição das HDL: hipoalfalipoproteinemia e defi-
expressão clínico laboratorial das dislipidemias ciência familiar de apo A (doença de Tangier).
Desde 1967, a classificação fenotípica de Fredrickson,
Lees e Levy (referendada pela OMS em 1970) vem Dislipidemias secundárias
sendo utilizada e teve o mérito de introduzir uma lin- São mostradas nos quadros 4 e 5. Os mecanismos
guagem universal. Embora não leve em conta a etiolo- envolvidos nestas dislipidemias são complexos e não
gia das dislipidemias, tem utilidade para o diagnóstico estão inteiramente elucidados. Causas menos freqüentes
inicial e a terapêutica das dislipidemias (quadro 2). incluem globulinopatias e hiperuricemia.
3. Classificação etiológica das dislipidemias
De acordo com sua etiologia, as dislipidemias podem 4. Dados clínicos das principais dislipidemias
ser: a) primárias, conseqüentes a causas genéticas, algu- Manifestações de DAC - Mais freqüentes nos tipos IIa,
mas só se manifestando quando há influência ambiental; IIb, III e em alguns pacientes com o tipo IV. Do ponto
e b) secundárias, causadas por outras doenças ou uso de de vista genotípico, correspondem às hipercoles-
medicamentos. terolemias (comum e familiar), à disbetalipoproteine-
portadores do tipo II. Xantomas tuberosos e túbero-
eruptivos manifestam-se principalmente no tipo III.
Em caso de hipertrigliceridemia acentuada, podem
surgir xantomas cruptivos. Xantomas ou estrias loca-
lizados na palma das mãos, de cor alaranjada, são pecu-
liares ao tipo III.
Arco corneano - Semelhante em seu aspecto ao
arco senil, pode ser encontrado nos fenotipos IIa ou IIb,
sendo importante sua pesquisa em crianças e jovens, par-
ticularmente se houver um caso de dislipidemia na família.
Pancreatite e crises recorrentes de dor
abdominal - Associam-se à hipertrigliceridemia grave,
em geral acima
surgir nos fenotipos I, IVe V.
Manifestações metabólicas - Hiperuricemiae

intolerância àglicose
trigliceridemia associam-se
do tipo endógeno à hiper-
(fenotipos IV
freqüentemente e V).
Lipemia retiniana - Pode ser encontrada no
fenotipo 1 (quilomicronemia).
Hepatosplenomegalia - Pode estar presente
em pacientes com aumento acentuado de TG (acima
de 1.000mg/dL).

5. Associação entre dislipidemias e aterosclerose


A associação entre dislipidemias e aterosclerose é uni-
versalmente aceita pela comunidade científica. Os da-
dos que permitiram estabelecer com segurança esse
vínculo foram obtidos de estudos anato-mopatológi-
cos, experimentais, epidemiológicos e clínicos, a maio-
ria deles utilizando, para análise, valores bioquímicas
das dosagens de CT, TG e HDL-c ou da determinação
indireta de LDL-c.
Gonsideraremos separadamente essas frações
lipídicas.
CT e LDL-c - Diversos estudos epidemiológi-
cos (por exemplo, Framingharn e MRFIT) estabelece-
ram relação direta entre valores do CT e morbidade e
mortalidade por DAC. Merecem destaque investi-
gações que analisaram grupos populacionais migrantes
que, ao adquirirem outros hábitos alimentares, com
correspondente elevação do nível médio do CT e do
LDL-c, apresentaram, em relação a grupos controles,
significativo aumento na incidência de DAC.
Estudo cooperativo internacional, com dados
de necropsia de indivíduos falecidos por causas não-
mia, à hiperlipidemia familiar combinada e à hiper- cardíacas, demonstrou concordância entre o grau de
trigliceridemia familiar. A síndrome de quilomicronemia aterosclerose das artérias coronárias e valores médios
não está associada a essas manifestações clínicas. do CT. O mesmo foi observado em estudos prospec-
A freqüência de DAC correlaciona-se direta- tivos, incluindo indivíduos que faleceram por causas
mente com a diminuição de HDL-c. violentas, nos quais havia conhecimento prévio do CT.
Xantomas - Xantomas de pálpebras (xantelas- Observações clínicas também demonstraram a
ma) e xantomas tendinosos podem estar presentes nos precocidade e a elevada incidência de DAC em porta-
dores de hipercolesterolemia familiar, nos quais os valores Estudos epidemiológicos e clínicos identificam,
do CT são muito elevados (em geral >400mg/dL). Tam- em grande número de portadores de DAC, hiperlipi-
bém desenvolvem aterosclerose acentuada e difusa ani- demia mista por causas alimentares.
mais de experimentação tornados hipercolesterolêmicos A hiperlipidemia familiar combinada caracteri-
pela ação de dietas especiais, drogas ou distúrbios genéti- za-se por elevações variáveis das VLDL (aumento dos
cos (coelhos Watanabe). TG) e das LDL (aumento do LDL-c), ora com pre-
Nos últimos anos, dados de estudos clínicos domínio de uma, ora de outra fração. O elemento
de intervenção terapêutica, com o objetivo de pre- fisiopatológico fundamental é a concentração aumen-
venção primária ou secundária de DAC, demons- tada de apo B-100 nas VLDL, provavelmente por sua
traram que reduções do LDL-c podem retardar ou maior síntese. Pacientes com esse distúrbio apresentam
inibir o desenvolvimento da aterosclerose ou propi- manifestações clínicas precoces de DAC (15 % dos
ciar sua regressão. casos de IAM antes dos 60 anos).
Estudos de intervenção sobre os níveis de A disbetalipoproteinemia (tipo III) é distúr-
LDL-c, acompanhados com coronariografia quanti- bio genético raro, caracterizado por aumento acen-
tativa ou ultrasonografia carotídea, têm demonstra- tuado das IDL, LP altamente aterogênica, e se
do grandes benefícios clínicos não explicados acompanha de DAC prematurae grave e/ou arteri-
somente pela redução ou não progressão do grau de opatia periférica.
obstrução arterial. A estabilização das placas com
HDL - Os estudos epidemiológicos demons-
menor risco de rotura ou erosão bem como a me-
traram que essas LP, avaliadas pela determinação do
lhoria da função endotelial seriam responsáveis por
HDL-c, são um fator de risco independente e de
tais resultados.
associação inversa com a DAC. Assim, pacientes com
TG - Estudos epidemiológicos, submetidos à
valores de HDL-c <35mg/dL têm risco mais eleva-
análise multivariada, demonstraram que a hiper-
do, enquanto seu efeito "protetor" seria mais evi-
trigliceridemia isolada não constitui fator de risco inde-
pendente de DAC. Seu grau de risco varia na razão dire- dente quando >60mg/dL. Mais recentemente,
ta do valor do LDL-c e na razão inversa do HDL-c, experimentos em animais têm revelado a possibili-
sendo também influenciado pela condição clínica asso- dade de proteção e regressão da aterosclerose por
ciada: na presença de hiperlipidemia familiar combinada ação das HDL.
ou diabetes, sinaliza fator de risco de DAC, mas em ve- Deve-se ressaltar a forte associação epidemiológi-
getarianose alcoólatras não tem esse significado. Isso ca entre os índices de Castelli Ie II (respectivamente,
porque, nas duas primeiras condições clínicas citadas CT/HDL-c e LDL-c/HDL-c) e a prevalência de DAC.
formam-se partículas de LDL densas e aterogênicas, ao Entretanto, não se sabe exatamente o significado fisiopa-
contrário do que ocorre nas duas últimas condições, nas tológico desses índices ao se utilizar valores extremos de
quais as partículas são de maior tamanho e mais leves, CT e LDL-c, o que limita sua utilidade prática.
com menor potencial aterogênico. Lp(a) - A LD(a) pode estar aumentada em
Além disso, a hipertrigliceridemia favorece a coronariopatas. A apo(a), pela sua analogia estrutu-
trombogênese por se associar à ativação de fatores de ral com o plasminogênio, poderia facilitar fenô-
coagulação e ao aumento da adesividade plaquetária. menos trombogênicos. Como sua concentração é
Apesar das dúvidas que persistem quanto ao determinada geneticamente, é independente das
papel aterogênico dos TG, admite-se atualmente que demais LP e não sofre, aparentemente, influência
os remanescentes de Qm e VLDL poderiam favorecer ambiental, podendo representar importante indi-
a aterogênese. Assim, têm sido demonstradas, em por- cação de risco de DAC. A simultancidade de nível
tadores de DAC submetidos a sobrecarga padronizada aumentado de Lp(a) com outros fatores de risco
de gorduras, curvas retardadas de clareamento plas-- (LDL-c aumenta-do, HA, tabagismo, etc) parece
mático de TG (hiperlipidemia pós-prandial). intensificar o risco dos mesmos.
CT e TG - simultaneamente aumentados
Algumas dislipidemias têm como substrato fisiopa- 6. Dislipidemias associadas a outros fatores de
tológico a elevação das IDL ou, conjuntamente, risco
das VLDL e LDL, as quais se traduzem por aumen- Embora as dislipidemias, anteriormente comentadas,
to simultâneo do CT e dos TG. Esses distúrbios possam constituir risco independente de DAC, sua
podem ser conseqüentes a problemas genéticos e/ associação com outros fatores de risco aumenta a
ou ambientais. prevalência de eventos coronarianos (quadro 1).
IV. TERAPÊUTICA DAS DISLIPIDEMIAS ácidos graxos poli e monoinsaturados reduz o CT. A
influência do colesterol dietético sobre o CT está bem
A terapêutica das dislipidemias, de comprovada efi- documentada em animais e humanos, havendo grande
ciência, tem por finalidade fundamental a prevenção variabilidade na magnitude da resposta.
primária e secundária da DACe da DA cerebrovascu- Dietoterapia nas hiperlipidemias - A dietote-
lare periférica, Eventualmente, pode objetivar a re- rapia tem por objetivo reduzir a morbidade e a mortal-
gressão de xantomas e a diminuição dos riscos de pan-
idade por DAC por meio da redução dos níveis de CT,
creatite aguda. Deve ser indicada sistematicamente e
LDL-c e TG, podendo haver aumento simultâneo do
mantida indefinidamente.
HDL-c. Estes efeitos são conseguidos pela: a) redução
A terapêutica deve ser iniciada com mudanças
individualizadas no estilo de vida, que compreendem da ingestão de gordura saturada e colesterol e ade-
hábitos alimentares saudáveis, busca e manutenção do quação do balanço calórico, respeitadas as necessidades
peso ideal, exercício físico aeróbico regular, combate nutricionais básicas; h) alteração de outros fatores de
ao tabagismo e promoção do equilíbrio emocional. risco, modificáveis pela dieta, tais como controle da
Não sendo atingidos os objetivos propostos, deve ser resistência à insulina e diabetes; c) manutenção perma-
considerada a introdução de drogas isoladas ou associ- nente das mudanças de hábitos alimentares.
adas, dependendo das necessidades, com manutenção
da dietoterapia. Excepcionalmente, outras medidas Considerações para o alcance das metas
podem vir a ser adotadas, caso não ocorra sucesso no Mudança de hábito alimentar - Considerar o padrão
uso dessas drogas ou pela impossibilidade do paciente alimentar atual do paciente e suas possíveis condições
perseverar nos objetivos propostos. de mudança.
Para a prevenção primária da aterosclerose, Dietoterapia - Propiciar cardápio diversificado
devem ser atingidos valores de LDL-c <160mg/dL na e ao mesmo tempo agradável e prático, a fim de que se
ausência de outros dois ou mais fatores de risco, e obtenha observância ao tratamento.
<130mg/dL na presença dos mesmos. Na presença de Nutricionista - Deve-se recorrer à orientação
apenas um fator de risco associado, o grau de controle de uma nutricionista, sempre que necessário. É impor-
dos níveis do LDL-c estará na dependência da gravi- tante, para esta orientação, a obediência à seguinte
dade do fator de risco. Para a prevenção secundária, o anamnese alimentar: 1) freqüência da ingestão dos
Consenso preconiza valores de LDL-c <100mg/dL, grupos alimentares; 2) local e horários das refeições; 3)
além do rigoroso controle dos outros fatores de risco. preferências, alergias e aversões alimentares.
Em ambas as situações, deve-se buscar, se possível, Interação clínico-laboratorial - O controle do
valores de HDL-c >35mg/dL e de TG <200mg/dL. perfil lipídico deverá ser realizado, em média, a cada 2
meses.
1. Tipos de dieta e incorporação de novos
hábitos Tipo de dislipidemias
Dieta, lípides séricos e aterosclerose - Existem muitas Hipercolesterolemia - Podem ser adotadas sugestões
demonstrações da relação dieta-aterosclerose, concluin- dietoterápicas com graus variáveis de restrição de gor-
do-se que esta e positiva com a ingestão excessiva de dura e colesterol. Como guia de orientação, são su-
gorduras e colesterol e pelo excesso de calorias, geridos dois níveis de restrição, de acordo com o
induzindo à obesidade. Estudos epidemiológicos quadro VL Quando as mudanças do CT em resposta à
demonstram que a ingestão de ácidos graxos saturados fase I forem inadequadas (mesmo quando já associadas
eleva o CT e, em especial, o LDL-c. A substituição por a drogas), deve-se passar à fase II.
Hipertrigliceridemia (aumento das VLDL) -
Está indicada a redução da ingestão de carboidratos
simples e bebidas alcoólicas e, se necessário, a
diminuição do peso corporal, pela restrição calórica,
objetivando alcançar o peso desejável (IMC entre 19 e
23kg/ml para as mulheres e entre 20 e 25kg/ml para
os homens).

Hiperlipidemia mista (CT e TG aumentados)


- Adota-se a restrição de carboidratos e gorduras, ade-
quando-se a ingesta protéica ao valor calórico total
previsto.

Quilomicronemia - Recomenda-se reduzir a


inges-tão de gordura total (saturadas e insaturadas)
para 5-10 g/dia e introduzir óleos contendo TG de
cadeia média (gordura de côco).

Considerações a respeito da composição da


dieta
Colesterol - Para reduzir a ingestão de colesterol,
deve-se restringir o consumo de leite integral e seus
derivados (queijos, principalmente amarelos, man-
teiga, creme de leite), biscoitos amanteigados, crois-
sants, folhados, sorvetes cremosos, embutidos em
geral (lingüiça, salsicha e frios), carnes vermelhas gor-
durosas, carne de porco (bacon, torresmos), vísceras
(fígado, miolo, miúdos); pele de animais terrestres,
animais marinhos (camarão, lagosta, sardinha e outros
frutos do mar). Especial atenção deve se dar à redução
na ingestão de gema de ovo (225mg/unidade), lem-
brando-se de que esta participa também no preparo de
diversos alimentos (bolos, tortas, panquecas, macar-
rão, etc.). Deve ser lembrado que o colesterol só existe
em alimentos do reino animal (tab. 3).
Ácidos graxos saturados - Para diminuir o
consumo de ácidos graxos saturados, aconselha-se
restrição na ingestão de gordura animal (carne verme-
lha, leitee derivados), da polpa do côco e do uso de
alguns óleos vegetais (dendê e côco) no preparo de ali-
mentos (tabela 3).
Ácidos graxos insaturados - Os ácidos graxos
poliinsaturados da série N-6 têm como precursor o
ácido linoléico e como fontes alimentares os óleos ve-
getais, exceto os de côco, cacau e palma (dendê). Os
efeitos demonstrados, até o momento, são a redução
do CT e do LDL-c e o aumento do HDL-c. A cocção
em escala doméstica não altera o grau de insaturação
dos ácidos graxos. O precursor dos poliinsaturados (ácido eicosapentaenóico e docosahexaenóico). Indiví-
ômega-3 é o ácido alfalinoléico, cujas fontes são o teci- duos que ingerem regularmente peixe têm níveis
do verde de plantas (não disponível para o organismo menores de CT e TG. Estes ácidos graxos poliinsatu-
humano) e a gordura de algumas espécies de peixe rados podem, às vezes, aumentar o HDL-c, o que é
um efeito desejável. Os ácidos graxos monoinsatura- (hortaliças). Atuam encurtando o tempo de trânsito
dos, cujo precursor é o ácido oléico, têm como princi- intestinal e aumentando o volume fecal; tornam mais
pais fontes dietéticas óleo de oliva, óleo de canola, lenta a absorção de glicose e retardam a absorção de
azeitona, abacate e oleaginosas (castanhas, nozes, amido. As fibras insolúveis não têm ação sobre o CT,
amêndoas). Entre os principais efeitos citados, mas são úteis na diminuição da ingestão calórica.
incluem-se o de diminuir o CT e o LDL-c e o de Concluindo, em termos práticos, a mudança
reduzir a agregação plaquetária, porém em menor grau de hábitos alimentares deve ser feita sem que o
do que os ácidos graxos poliinsattirados. paciente necessite se ater a detalhes de cardápios ali-
Margarinas - São substitutos das manteigas e mentares e à composição em gordura dos alimentos.
têm composição lipídica variada. Possuem diferentes A base da alimentação deve consistir de carnes bran-
proporções de ácidos graxos saturados, poliinsatura- cas (aves sem pele e peixes), carne vermelha sem gor-
dos, monoinsaturados e de ácidos graxos na forma dura aparente, todos os cereais, vegetais, frutas,
transisomérica. Não possuem colesterol. A ingestão de óleos vegetais (exceto de côco e de palma), margari-
transisômeros parece elevar o CT e reduzir o na cremosa, leite desnatado e seus derivados. Deve
HDL-c. Existe, no mercado nacional, grande se ter em conta que a dieta estritamente vegetariana
número de margarinas e cremes vegetais (82% a 83,5 pode ser eficiente, mas envolve outros princípios e, a
% de gordura total) e de halvarinas (39% a 41 %). Po- longo prazo, pode acarretar algumas importantes
pularmente, porém, todos são conhecidos como mar- deficiências nutricionais (quadro 7).
garinas. Esses produtos são fabricados com diferentes De maneira geral, o controle da dislipidemia
óleos (girassol, milho, soja, palma, etc.) e por proces- depende do grau de observância do paciente ao trata-
sos industriais variados. Poucas marcas exibem, nos mento, dos hábitos alimentares anteriores ao início da
rótulos, sua composição em ácidos graxos. A substi- dietoterapia e da resposta dependente de fatores
tuição de manteiga por margarina na alimentação tem biológicos individuais. E desejável a integração entre
como vantagem a redução na ingestão de colesterol e médicos e nutricionistas para que a abordagem pre-
gordura da dieta. O aumento na ingestão de poli e ventiva e a terapêutica resultem em sucesso.
monoinsaturados e a redução na ingestão de saturados
depende da composição da margarina. As margarinas Outras recomendações
cremosas são, em geral, mais poliinsaturadas. A substi- Combate ao tabagismo - O tabagismo e um impor-
tuição de manteiga por margarina, sem análise de sua tante fator de risco de DAC. Tem efeito adverso sobre
composição, não representa portanto, por si só, van- as LP, diminuindo as HDL, além de efeito troni-
tagem dietoterápica importante. Deve-se dar atenção bogênico, por aumentar a agregação plaquetária e
especial aos produtos que tragam estampado nos rótu- induzir disfunção endotelial. Sua interrupção reduz
los a composição em ácidos graxos, dando preferência significativamente a morbidade e a mortalidade por
àqueles cujo teor de ácidos graxos insaturados seja DAC. São recomendadas providências também para a
maior do que o de saturados. Também deve ser dada proteção do fumante passivo.
preferência aos produtos que tenham baixo teor de
ácidos graxos na forma transisomérica.
Fibras -São carboidratos complexos, não
absorvidos pelo intestino, e com ação reguladora na
função gastrointestinal. A quantidade recomendada de
fibras para adultos é de 20 a 30 g/dia, o que se con-
segue aumentando a ingestão de vegetais folhosos,
leguminosas e cereais. Podem ser classificadas em
fibras solúveis e insolúveis.
1) Fibras solúveis em água - São representadas
pela pectina (frutas) e as gomas (leguminosas, aveia e
cevada). Atuam retardando o esvaziamento gástrico e
aumentando o tempo de trânsito intestinal; tornam
mais lenta a absorção da glicose, retardam a hidrólise
do amido e reduzem os níveis de CT e LDL-c.
2) Fibras insolúveis em água - São constituídas
pela celulose (trigo) e hemicelulose (grãos) e lignina
Estímulo ao exercício físico - A prática regular Sua ação sobre a Lp(a) não foi demonstrada. Não
de exercício físico aeróbico aumenta o HDL-c e a sen- prejudicam a síntese de hormônios esteróides e não
sibilidade à insulina, reduz a pressão arterial, colabora interferem na formação e função da membrana celular.
no controle do peso corporal, além de reduzir os TG. Ingeridas por via oral, distribuem-se seletiva-
O planejamento do exercício requer avaliação cardi- mente para o fígado e são excretadas principalmente
ológica. A programação deve seguir as orientações do pelas fezes (83%) e urina (10%). Seu efeito começa a
Consenso sobre Normas e Orientações de Atividades ser verificado após duas semanas de uso, estabilizando-
Físicas, da SBC. se apartir da 4o semana. Dele resultam diminuições do
Álcool - A relação entre ingestão de bebidas CT (ao redor de 30%) e do LDL-c (20% a 40%), dos
alcoólicas e DAC ainda não está bem estabelecida. É TG e das VLDL (em torno de 20%), e possível ele-
possível que a elevação do HDL-c associada a esse vação do HDL-c (até 10%).
hábito não se relacione à provável proteção da São bem toleradas, mas podem ocasionar efeitos
aterosclerose; contudo, o uso de pequenas doses colaterais em até 2% dos pacientes: sintomas gastroin-
(Consenso de Hipertensão Arterial) é permitido, salvo testinais, dores musculares e elevação da TGO. TGP e
contra-indicações clínicas (diabetes, hiper-trigli- CPK. Essas alterações são transitórias, desaparecendo
ceridemia, hepatopatias, etc.). espontaneamente ou com a suspensão da droga. Ele-
Obesidade - Considerando-se que há relação vações de até três vezes o valor inicial da TGO e TGP
positiva entre obesidade (sobretudo central, tipo mas- e até 10 vezes da CPK não requerem interrupção do
culina) e DAC, está bem indicada a adoção de medi- tratamento. Dores musculares podem ou não ser
das para a redução do peso corpóreo. A correção da acompanhadas por elevação da CPK. Rabdomiólise
obesidade contribui para melhor controle da HA, pode ocorrer na presença de associação com imunos-
redução dos TG e do CT, elevação do HDL-c e me- supressores, fibratos, ácido nicotínico e eritromicina.
lhoria da tolerância à glicose. Eventuais distúrbios do sono também são relatados
Diabetes - Representa fator de risco importante por alguns pacientes.
de DAC, principalmente em mulheres. Como o risco São hoje consideradas medicamentos de
devido ao diabetes aumenta acentuadamente com a primeira escolha para a terapêutica da hipercoles-
associação de outros fatores de risco, é necessário seu terolemia isolada, poligênica ou familiar heterozigóti-
controle adequado. ca. Na forma homozigótica, pode haver pequena
Micronutrientes - Com relação aos micronutri- resposta em decorrência de ação não ligada a LDL-
entes, tem sido dada ênfase ao eventual efeito do alfa- receptores. Existem relatos, na literatura, demonstran-
tocoferol (vitamina E), do betacaroteno (pró-vitamina do seus efeitos benéficos também nos tipos IIb, IIIe
A) e do ácido ascórbico (vitamina C) na prevenção da na hiperlipidemia combinada familiar.
oxidação das LDL, mecanismo importante na fisiopa- Não são indicadas para mulheres grávidas ou em
tologia da DAC. Estudos epidemiológicos sugerem fase de aleitamento e para aquelas com possibilidade
que tais vitaminas podem reduzir a incidência de de engravidar. Seu emprego em crianças e adolescentes
doenças cardiovasculares, principalmente o uso da vi- ainda não está definitivamente esclarecido. Estudos a
tamina E em doses superiores a 100UI por dia. Contu- longo prazo demonstraram boa tolerância às vastatinas
do, estudos bem controlados adicionais são necessários em indivíduos >20 anos e em idosos.
para justificar seu uso terapêutica de rotina. São contra-indicadas na presença de doença
hepática e de elevações persistentes das transaminases
2. Tratamento farmacológica hepáticas e das bilirrubinas. Podem ser usadas em
Dentre os medicamentos que possuem diferentes doentes renais crônicos.
mecanismos de ação, são destacados aqueles em uso Apresentação e posologia máxima - No Brasil
em nosso país. são comercializadas a lovastatina, a sinvastatina, a
Vastatinas - Conhecidas também por estati- pravastatina e a fluvastatina: 1) lovastatina: comprimi-
nas, esses fármacos inibem parcialmente a HMG- dos de 20mg (80mg); 2) sinvastatina: comprimidos de
CoA redutase, levando à diminuição da síntese intra- 5 e 10mg (40mg); 3) pravastatina: comprimidos de
celular do colesterol, ao aumento da formação dos 10mg (40mg); 4) fluvastatina: cápsulas de 20 e 40mg
LDL-receptores e à diminuição das VLDL. Dimi- (80mg).
nuem a produção e aumentam o catabolismo das Os comprimidos, nas doses habituais, devem ser
LDL e diminuem a formação de apo B e a concen- administrados após o jantar. Doses mais elevadas
tração de CETP. podem ser repartidas pela manhã e à noite. Os ajustes
das doses devem ser feitos, se necessário, a cada quatro do HDL-c (até 25%) e não têm ação sobre os Qm. Em
semanas. Não foi descrita taquifilaxia. alguns casos com hipertri-gliceridemia acentuada, pode
ocorrer aumento transitório do LDL-c.
Seqüestrantes de ácidos biliares São bem tolerados, mas podem provocar sin-
São resinas de troca iônica que se ligam aos ácidos bi- tomas gastrointestinais (náuseas, vômitos, dores
liares, bloqueando seu ciclo êntero-hepático e aumen- abdominais, diarréia), tonturas, cefaléia, insônia,
tando o número de receptores para LDL. Conseqüen- colestase, prurido, urticaria, diminuição da libido,
temente, diminuem o CT e o LDL-c (até 30%). Como dores musculares, astenia e miosite. Podem induzir
aumentam a síntese das VLDL, podem elevar os TG leucopenia e aumento da CPK, TGO, TGP e creatini-
(10% a 20%). Podem ser observados aumentos de até na. Em geral, esses efeitos aparecem nos primeiros
8% no HDL- c, provavelmente decorrentes de maior meses de uso e desaparecem mesmo sem interrupção
ativação da LCAT. Não reduzem as concentrações ou mudança de posologia.
plasmáticas de Lp(a). Não devem ser utilizados em pacientes com
Podem provocar obstipação intestinal, náuseas, alteração da função renal ou hepática, litíase biliar e em
meteorismo, dores abdominais e, raramente, esteator- mulheres grávidas ou na fase de aleitamento. Exigem
réia. A obstipação intestinal é minimizada com dietas controle mais freqüente do tempo de protrombina e
ricas em fibras. Reduzem a absorção de ácido fólico, da glicemia, respectivamente, nos pacientes em uso de
vitaminas lipossolúveis e drogas, como tiroxina, anticoagulantes e diabéticos. Recomenda-se controle
digoxina, warfarina, probucol e fibratos. rigoroso da anticoagulação, quando se inicia terapêu-
São indicados como primeira escolha no trata- tica com fibratos.
mento das diversas formas de hipercolesterolemia São drogas de primeira escolha no tratamento
familiar, em crianças e mulheres em idade fértil sem das hipertrigliceridemias endógenas, da disbetali-
controle contraceptive adequado e em gestantes. Nes- poproteinemia e das hiperlipidemias mistas (IIb, fami-
sas circunstâncias, se faz necessário maior atenção para liar combinada) quando os TG forem muito elevados.
evitar deficiências vitamínicas, recomendando-se São de uso alternativo nas hipercolesterolemia
5mg/dia de ácido fólico. Apresentação e posologia máxima - 1) Bezafi-
Apresentação e posologia - A colestiramina é brato: drágeas de 200mg e comprimidos de liberação
apresentada em forma de pó, em envelopes contendo lenta de 400mg; dose máxima, 600mg. 2) gemfibrozil:
4g. É ingerida diluída em água ou em sucos. Inicia-se cápsulas de 300mg e comprimidos revestidos de
a terapêutica com 4g a 8g em duas tomadas, podendo- 600mg e 900mg; dose máxima, 1.500 mg.
se atingir a dose de até 24g/dia. Qualquer outro
medicamento deve ser ingerido1 h antes ou 4h após a 3) fenofibroto: cápsulas de 250mg; dose
ingestão da colestiramina. máxima.
250 mg. 4) etofibrato: cápulas de 500mg; dose máxi-
Fibratos ma, 500mg. Todos os fibratos devem ser ingeridos
Diminuem a síntese hepática da apo-Be das VLDL, durante as refeições.
destas últimas pela menor disponibilidade de ácidos
graxos livres; aumentam a lipólise das VLDL e a Ácido nicotínico e derivado
remoção de seus remanescentes devido à maior ativi- Inibem a lipase hormônio-sensível, intracelular, do te-
dade da LLP; aumentam a atividade dos receptores cido adiposo, diminuindo a liberação de AGL para o
hepáticos para as LDL; e elevam o nível do HDL-c. fígado e, conseqüentemente, a formação das VLDL;
Alguns estudos sugerem diminuição dos níveis diminuem também a síntese de apo B e das LDL e a
eleva- dos de Lp(a). Diminuem a fibrinogenemia e a remoção das HDL; e aumentam o catabolismo da Lp(a).
atividade do fator VII e aumentam a capacidade fibri- São rapidamente absorvidos quando ingeridos por via
nolítica do plasma. Pelas ações sobre a coagulação san- oral, distribuem-se para todos os tecidos e são elimi-
güínea, potencializam a ação de anticoagulantes orais. nados pela urina. Dessas ações resultam diminuição do
Possuem também certo efeito hipoglicemiante. CT e LDL-c (até 30%), dos TG e das VLDL (até 80%)
Os fibratos são absorvidos rapidamente pelo e elevação do HDL-c (até 30%). Alguns estudos su-
intestino e excretados pela urina. Sua ação começa a ser gerem diminuição dos níveis de Lp(a).
verificada a partir do 5o dia de tratamento. Diminuem A intolerância ao ácido nicotínico é freqüente,
principalmente os níveis dos TG e das VLDL (até 70%) provocando rubor facial, prurido, eritema, arritmia,
e também do CT e do LDL-c (até 20%). Elevam as taxas dores abdominais e náuseas. Ademais, pode causar
aumento das transaminases hepáticas e do ácido úrico Ácidos graxos ômega-3
e hiperglicemia. O rubor cutâneo, efeito colateral mais Diminuem a produção das VLDL e modificam o
freqüente, é limitante do seu uso, sendo provavel- metabolismo das prostaglandinas. Seu efeito sobre as
mente mediado pela liberação de prostaglandina. Pode LP requer doses elevadas (10-20g/dia), limitando-se
ser minimizado pela ingestão de 100mg de aspirina seu uso eventual à associação com os fibratos, em raros
antes de sua administração. casos de hipertrigliceridemias resistentes.
O derivado acipimox é mais bem tolerado, não Apresentação - Cápsulas de 250mg, 500mg e
elevando a glicemia e a uricemia. 1.000mg.
São indicados como alternativa no tratamento
das hiperlipidemias mistas (IIb, familiar combinada, dis- 3. Opções medicamentosas nos principais tipos
betalipoproteinemia) e da hipercolesterolemia isolada. de dislipidemias
Apresentação e posologia - O ácido nicotínico O quadro 8 resume as principais indicações destes
pode ser encontrado em farmácias de manipulação. medicamentos no tratamento dos vários tipos de dis-
Sua dose é de 2 a 6g/dia, dividida em 3-4 tomadas. lipidemias.
Aconselha-se iniciar a terapêutica com doses pequenas Na presença de diminuição isolada de HDL-c,
(100-250mg/dia), com aumento progressivo. não é recomendado o uso de medicamentos. Entre-
O derivado acipimox é apresentado na formade com- tanto, deve-se estimular o controle da obesidade e dia-
primidos de 250mg e a dose máxima diária é de betes, a prática de exercícios físicos aeróbicos conti-
750mg. nuados e o abandono do vício de fumar.
As indicações para intervenção medicamentosa
Probucol sobre valores elevados de Lp(a) ainda não estão
Seu mecanismo de ação hipolipcmiante não está total- definidas.
mente esclarecido. Possui efetiva ação antioxidante e se
sabe que diminui a absorção intestinal de colesterol e 4. Associação de medicamentos
aumenta a captação das LDL, por via não mediada por Não havendo resposta satisfatória à terapêutica dietéti-
receptores. Aumenta também a excreção de ácidos bi- ca e a um medicamento, pode-se empregar a associação
liares, diminui a síntese hepática e a secreção das de medicamentos. Esse procedimento, além de melho-
VLDL, diminui a síntese e aumenta o catabolismo de rar os resultados, permite a utilização de doses menores
apo-AI e AII, estimula a proteína de transferência de cada medicamento, diminuindo a possibilidade de
(CETP), aumenta a transferência do colesterol das efeitos colaterais e aumentando sua tolerância.
HDL para outras LP e retira o colesterol da célula. Esta
última ação poderia explicar a redução de xantomas.
Estimula a produção de apo-E. Administrado por via
oral é bem absorvido e é eliminado pela bile e pelas
fezes. Deposita-se no tecido adiposo, sendo liberado
lentamente, até por 6 meses. Destas ações, resultam
diminuição do CT e LDL-c (15 % a 20%) e do HDL-c
(até 30%). Não altera os níveis séricos de TG.
Sua tolerância é boa, mas pode provocar ton-
turas, cefaléia e distúrbios gastrointestinais, como diar-
réia, náuseas e plenitude pós-prandial; raramente
provoca elevação de enzimas hepáticas e manifestações
alérgicas. Pode prolongar o intervalo QT do ECG e,
por isso, é contra-indicado em pacientes com QT
longo, com arritmias ventriculares graves e quadros
sincopais de origem cardiovascular.
Pode ser usado em associação com outras dro-
gas no tratamento de hipercolesterolemia isolada.
Apresentação e posologia - É apresentado na
forma de comprimidos (250mg) e adose máxima é de
500mg duas vezes ao dia (dois comprimidos no café
da manhã e dois no jantar).
Há associações que merecem particular cuida- Havendo refratariedade à dieta, o uso de drogas
do, por seus eventuais efeitos colaterais potencial- hipolipemiantes pode ser considerado, nas seguintes
mente graves, como, por exemplo, vastatinas com situações: a) dislipidemia familiar com níveis de LDL-
fibratos ou ácido nicotínico. c >190mg/dL; b) antecedentes familiares de DA pre-
matura ou pelo menos, dois ou mais fatores de risco,
5. Fatores individuais que podem modificar a com LDL-c >160mg/dL; c) na vigência de DA mani-
resposta aos hipolipemiantes festa, com LDL-c >130mg/dL.
São eles: a) diferentes graus na absorção e metabolis- Atualmente, as resinas seqüestrantes de ácidos
mo dos diversos medicamentos; b) uso concomitante biliares são as únicas drogas recomendáveis, por não
de drogas que podem alterar o perfil lipídico (bloquea- apresentar efeitos sistêmicos. Neste caso, é interessante
dores beta-adrenérgicos, diuréticos, progestogênios, a suplementação de ácido fólico (5mgldia). As vastati-
bebidas alcoólicas; c) condição hormonal da mulher; nas, devido à pequena experiência atual, podem ser
d) tipo da hiperlipidemia; e) observância à terapêutica. usadas em casos de hipercolesterolemia familiar grave
(CT >300mg/dL) e/ou DA manifesta, nos quais o
V. Dislipidemia em grupos especiais uso das resinas foi insatisfatório. O emprego de ácido
nicotínico tem sido referido por centros do exterior
1. Crianças e adolescentes em número muito limitado de crianças.
Em crianças e adolescentes com valores de lípides A quilomicronemia requer somente tratamento
limítrofes e aumentados (tab. 2), o perfil lipídico de- dietético (ver item IV).
verá ser repetido no mínimo por duas vezes, com A finalidade do tratamento é atingir valor de
intervalo de duas semanas, antes que qualquer medida LDL-c <100mg/dL, sendo tolerados valores de até
diagnóstica ou terapêutica adicional seja recomendada. 130mg/dL em casos de menor risco.
Confirmada a dislipidemia, o tratamento die-
tético deverá ser iniciado após os dois anos de idade, 2. Idosos
com o cuidado de priorizar as necessidades energéticas O conceito de que no idoso (>65 anos) o controle dos
e vitamínicas próprias da idade, e a flexibilidade de per- fatores de risco, em particular as dislipidemias, não
mitir, em algumas situações, ingestão gordurosa supe- seria fundamental foi modificado. Sendo a DA alta-
rior à recomendada na fase 1. A dietoterapia deve ser mente freqüente após os 60 anos de idade, em ambos
conduzida de comum acordo com o pediatra e, se os sexos, qualquer redução do risco tem importante
necessário, com o nutricionista. repercussão na sua morbidade e mortalidade.
Deve-se encorajar a ingestão de fibras e deses- No tratamento do idoso, deve-se levar em consid-
timular a de alimentos ricos em colesterol, gordura sa- eração as idades biológica e cronológica, o perfil de
turada (por exemplo, hambúrgueres, salsichas, cremes, longevidade familiar, a associação de outros fatores de
chocolates, etc.), bem como o uso excessivo de sal e risco comuns nessa faixa etária (HA e diabetes), a car refi-
açúcar refinado. Quando houver necessidade de nado. Quando houver necessidade de aumen-tar a taxa
aumentar a taxa de gordura, isto deve ser feito prefe- de gordura, isto deve ser feito preferencialmente às custas
rencialmente às custas de gordura monoin-saturada de gordura monoinsaturada (vide dietoterapia nas dislipi-
(vide dietoterapia nas dislipidemias), até um total de demias), até um total de 20% do valor energético total.
20% do valor energético total. Estudos clínicos recentes de prevenção primária
A conduta terapêutica inicial inclui dietoterapia e secundária sugerem que a redução expressiva do
e o controle de outros fatores de risco como sobrepe- LDL-c, em idosos, diminui significativamente a mor-
so, obesidade, tabagismo, hipertensão, sedentarismo e bidade e a mortalidade por DAC.
estresse. Merece ser enfatizado o estímulo a exercícios Nessa faixa etária, deve ser dada especial atenção
físicos aeróbicos programados, como medida terapêu- ao afastamento de causas secundárias de dislipidemia,
tica adicional. principalmente hipotireoidismo, diabetes e insuficiên-
Os efeitos laboratoriais da orientação dietética cia renal crônica.
devem ser avaliados em seis meses; caso os objetivos Para a hipercolesterolemia, deve ser indicada
não tenham sido atingidos, verificar se o problema foi inicialmente a dieta fase I da American Heartm Asso-
falta de observância ou refratariedade à dieta. No ciation, com especial atenção para a ingestão calórica e
primeiro caso, o paciente e a família devem ser reori- as necessidades vitamínicas e minerais (cálcio).
entados; no segundo caso, a orientação deve ser trans- As recomendações para o tratamento farma-
ferida a centros de referência. cológico de idosos, de ambos os sexos, são as mesmas
dos adultos em geral. As vastatinas são as drogas de 190mg/ dL, excetuadas as mulheres com outros fatores
primeira escolha no tratamento da hipercolesterolemia. de risco; prevenção secundária (DA manifesta) inicia-se a
Os demais hipolipemiantes podem ser usados, levando- terapêutica farmacológica com valores de LDL-c >
se em consideração a maior possibilidade de efeitos 130mgldL. Em relação à gestação, deve-se considerar
colaterais. Para a hipertrigliceridemia, o tratamento duas situações: 1) mulher considerada de risco que dese-
segue os mesmos princípios do adulto jovem. ja engravidar: deve seguir orientação dietética e, se
Igual importância terapêutica deve ser dada ao necessário, utilizar resinas seqüestrantes de ácidos bi-
controle de outros fatores de risco, como HA e dia- liares; 2) durante a gestação, preconiza-se somente dieta,
betes. Na escolha das drogas anti-hipertensivas, lem- que deve assegurar as necessidades básicas da gestante. A
brar que diuréticos tiazídicos e betabloqueadores sem contracepção hormonal oral em pacientes dislipidêmicas,
ASI podem ter efeitos adversos sobre o perfil lipídico, <3 5 anos, pode ser utilizada, desde que não sejam
sem que isso represente uma contra-indicação formal tabagistas, hipertensas, obesas, diabéticas, sedentárias ou
para o uso desses fármacos. multíparas, indicando-se pílulas trifásicas (baixa dosagem
Finalmente, devemos lembrar a importância do de progestogênios). Naquelas >35 anos, a contracepção
exercício físico acróbico praticado regularmente, em hormonal oral está contra-indicada.
particular caminhadas ( 30min, 3 a 4 vezes por semana
no mínimo), como medida associada para o controle Período climatérico pós-menopausal. A repo-
dos fatores de risco, respeitadas as limitações próprias sição hormonal é importante arma terapêutica coadju-
da idade. vante. Ouso de estrogênios tem sido associado à
redução do LDL-c (até 25%), ao aumento do HDL-c
3. Mulheres (até 20%), à diminuição de fatores pró-trombóticos,
Ao se cogitar o tratamento das dislipidemias nas mu- como fibrinogênio e Lp(a), à melhora da disfunção
lheres deve-se, didaticamente, levar em consideração endotelial e a outros efeitos metabólicos favoráveis.
dois períodos. O 1o, denominado reprodutivo, com- Pode ser observada elevação dos TG contidos nas
preende a menacme (intervalo entre 20 e 35 anos) e o grandes VLDL, consideradas de pouco efeito ate-
climatério pré-menopausal (entre 35 e 50 anos), e o rogênico. No entanto, em mulheres com hiper-
2o, chamado não-reprodutivo, representa o climatério trigliceridemia acentuada (>400mg/dL), o uso de
pós-menopausal (entre 50 e 65 anos). A menopausa esterogênio por via transdérmica deve ser considerado.
caracteriza-se pela última menstruação e ocorre geral- Além disto, estudos epidemiológicos observacionais
mente em torno dos 50 anos. O tabagismo é o único sugerem diminuição do risco coronariano (em torno
fator de risco conhecido e mutável que antecipa a de 50%) e aumento da sobrevida em usuárias de
menopausa em cerca de dois anos. O climatério pré- estrogênios. Vale ressaltar que esses resultados benéfi-
menopausal representa o período de redução progres- cos foram obtidos com o emprego preferencial de
siva da produção de esteróides (estrogênios e proges- estrogênios conjugados eqüinos.
terona) até a menopausa. O climatério pós-meno- A associação de progestogênios (acetato de me-
pausal, por sua vez, caracteriza-se pela insuficiência droxiprogesterona, progesterona natural micronizada,
gonadal total. acetato de ciproterona ou acetato de noretisterona) ao
Coincidente com o período climatérico pós- estrogênio, em doses adequadas, com o intuito de pro-
menopausal, ocorre aumento significativo do risco de teção endometrial, não altera substancialmente os
DAC. Um dos fatores que pode explicar tal fato seria benefícios auferidos pelos estrogênios sobre o perfil
a mudança do perfil lipídico, caracterizada essencial- lipídico. Em mulheres histerectomizadas, dispensa-se o
mente por elevação do LDL-c e diminuição do HDL- uso de progestogênios. A reposição hormonal deve ser
c, criando um padrão pró-aterogênico. Também têm feita pelo ginecologista face à vigilância sobre as even-
surgido relatos de aumento da Lp(a). tuais complicações, mamária e uterina.
As orientações para adoção de estilo de vida No caso de existir indicação para tratamento
adequado devem ser as habituais e sem distinção de farmacológico em dislipidêmicas, deve-se preferencial-
período. Todavia, a intervenção com fármacos, quan- mente utilizar estrogênios. Caso não sejam atingidos
do indicada, deve seguir os seguintes critérios. os níveis lipídicos desejáveis, após período máximo de
6 meses, associa-se um fármaco hipolipemiante.
Período reprodutivo (entre 20 e 50 anos) Pre- O uso de medicamentos hipolipemiantes nesse
venção primária devido à menor incidência de DA, prin- período, para a prevenção primária, pode ser iniciado
cipalmente DAC, pode-se tolerar nível de LDL-c até com níveis de LDL-c > 190mg/dL, caso não haja
outro fator de risco associado. Para a prevenção CT, por quatro a cinco anos, determina freqüência de
secundária, níveis de LDL-c >130mg/dL devem ser eventos coronarianos 26% menor do que a observada
considerados para o início da terapêutica, objetivando- em controles. Esses estudos indicam que à redução de
se atingir valores < 100mg/dL. 1 % de CT em
redução de 2% de eventos de DAC. O aumento da
4. Portadores de diabetes melito mortalidade total e a ocorrência de neoplasias e mortes
Diabetes melito, principalmente na sua forma não- violentas, observadas em estudos iniciais, não puderam
insulino-dependente, tem alta prevalência na popu- ser correlacionados à diminuição do CT.
lação brasileira (7,6%) e é um importante fator de risco Estudo clínico recente, randomizado, duplo-
independente de DAC. Na mulher, é um fator de risco cego, empregando vastatina, cujo planejamento incluiu
mais expressivo do que no homem, elevando a morta- mortalidade total e por IAM, demonstrou, no grupo
lidade por DAC em 3 a 7 vezes. tratado: redução de 20% no CT, 26% no LDL-c e 12%
Essa condição está freqüentemente associada a nos TG,e aumento de 5% no HDL-c, com diminuição
hipertrigliceridemia, baixas taxas de HDL e taxas de significativa de 31 % no risco de IAM não-fatal ou morte
LDL-c normais ou discretamente aumentadas. por DAC e de 37% na necessidade de procedimentos
LDL-c aumenta consideravelmente na pre- terapêuticas invasivos, e de 22% na mortalidade total.
sença de nefropatia com insuficiência renal crônica. Nesse estudo, não se verificou mortalidade excessiva por
O objetivo terapêutica primário é atingir valor de causas não cardiovasculares nos pacientes tratados.
LDL-c <100mg/dLe o secundário, trigliceridemia Prevenção secundária - Estudos clínicos em
<150mg/dL. O controle metabólico adequado do pacientes com IAM pregresso, cujos valores do CT
diabetes pode normalizar o perfil lipídico. Se, apesar foram diminuídos por intervenção dietética e/ou
do controle adequado do diabetes e da dietoterapia medicamentosa, por mais de três anos, demonstraram
antilipêmica, houver necessidade do emprego de dro- redução significativa da mortalidade e de novos episó-
gas, as vastatinas constituem drogas de primeira esco- dios da doença, quando comparados a controles.
lha. Para as elevações de TG, devem ser usados os Recentemente, estudo clínico randomizado, duplo-
fibratos. O uso de seqüestrantes dos ácidos biliares cego com vastatina e controlado com placebo, em
deve ser cuidadoso pela possibilidade de exacerbação pacientes com DAC (80% com IAM prévio), demons-
da hipertrigliceridemia. No caso do ácido nicotínico, a trou, no grupo tratado, redução significativa de 42% no
restrição a seu uso deve-se ao aumento da resistência à risco de eventos coronarianos, de 30% na mortalidade
insulina e da uricemia, não observado com acipimox. global e de 37% na necessidade de procedimentos inva-
No diabético, é particularmente importante o sivos terapêuticos (angioplastia e cirurgia de revascula-
controle associado dos outros fatores de risco para dimi- rização). Esses efeitos associaram-se a reduções signi-
nuição mais eficaz do risco de DAC. Deve-se estar aten- ficativas de 25% no CT e de 35% no LDL-c, e aumen-
to também ao tratamento de dislipidemias secundárias to de 8% no HDL-c. A análise de subgrupos mostrou
associadas, decorrentes principalmente do uso de drogas resultados benéficos, significativos, em ambos os sexos,
anti-hipertensivas, e à insuficiência renal crônica. nos idosos, hipertensos, tabagistas e diabéticos.

5. Dislipidemias genéticas graves 2. Estudos angiográficos controlados


Para as hiperlipemias em que a resposta à dietoterapia Por meio desses estudos pôde-se evidenciar que, inter-
e à farmacoterapia é mínima, outras medidas de trata- ferindo sobre os distúrbios lipídicos, é possível influ-
mento (plasmaferese, LDL-aferese, anastomose ileal enciar a evolução das lesões ateroscleróticas. Me-
parcial, transplante de fígado e terapêutica gênica) tanálise de 14 estudos randomizados e controlados
podem ser empregadas. Para tanto, os pacientes devem com placebo, cujas intervenções (medicamentosas ou
ser encaminhados a centros de referência. não) reduziram o LDL-c em média de 26%, demons-
trou, nos grupos tratado vs controle, progressão de
VI. Prevenção de DAC 34% vs 50%, de não-progressão de 48% vs 41% e de
regressão de 18% vs 9%, respectivamente. Fato que
1. Estudos clínicos chamou a atenção nesses estudos foi o grande benefi-
Prevenção primária -Metanálise de seis estudos con- cio clínico obtido no grupo tratado, bem maior do que
trolados de intervenção dietética e/ou medi-camen- o esperado pelos achados angiográficos, revelando
tosa, em 12.457 homens hiper-colesterolêmicos sem redução média de eventos cardiovasculares agudos da
DAC, demonstrou que a redução média de 10% do ordem de 47%. Isso foi atribuído à estabilização da
placa aterosclerótica (evitando sua rotura, erosão e/ou 4. Report of the National Cholesterol Education Program
hemorragia) e à melhoria da função endotelial. Expert Panel on Blood Cholesterol Levels in Children and
Adolescents. NIH Publication no 91-2732, September
Esses estudos serviram de base para a recomen- 1991.
dação da redução do nível de LDL-c para baixo de
5. Kwiterovich Jr PO - Beyond Cholesterol. Tbe John Hop-
100mg/dL como principal objetivo terapêutico. kins Complete Guide Avoiding Heart Disease. The John
Finalizando, vale observar que os efeitos benéfi- Hopkins Press, 1989.
cos demonstrados nos estudos de prevenção primária e 6. National Education Programs working group report on
secundária começam a aparecer entre o 1o e o 2o anos the management of patients with hypertension and
de seguimento e alcançam sua plenitude, em torno do high blood cholesterol. Ann Int Med 1991; 114:224-37.
5o ano. O tratamento efetivo e permanente das dis- 7. Prevention of Coronary Heart Disease: Scientific Back-
lipidemias pode diminuir a velocidade de progressão ground and New Clinical Guide-lines. European Athero-
da placa aterosclerótica, promover sua estabilização e sclerosis Society, International Task Force for Prevention
of Coronary Heart Disease.Nutrition, Metabolism and
regressão, e evitar o aparecimento de novas lesões em Cardiovasc Dis 1992; 2:113-56.
artérias nativas e enxertos de veia safena. Essas ocor-
8. Summary of the Second Report of the National Choles-
rências levam a grandes benefícios clínicos, com terol Education Program - NCEP Expert Panel on Detec-
redução da incidência de novos eventos cardiovascu- tion, Evaluation, and Treatment of High Blood Choles-
lares e aumento da sobrevida. terol in Adults (Adult Treatment Panel II). JAMA 1993;
269:3015-23.

REFERÊNCIAS
III. Dislipidemias- principais tipos, diagnóstico e
I. Lípides, lipoproteínas, endotélio e suas rela- implicações clínicas. Associação entre lípides
ções com a aterogênese e aterosclerose

1. Classification of hyperlipidemias and hyper-lipopro-


1. Gerique JAG - Diagnóstico de Ias Dislipidemias. In: teinemias. Bull Wld Hlth Org 1970; 43:891-915.
Lipoproteinas Plasmáticas. Barcelona, 1986; 86:69-76.
2. Report of the National Cholesterol Education Program
2. Gerique JAG - Métodos de Laboratório para el Estúdio Expert Panel on Detection, Evaluation and Treatment of
de Ias Dislipemias. In: 1-Lipoproteinas Plasmáticas. high Blood Cholesterol in Adults. Arch Intern Med 1988;
Barcelona, 1986; 77-90. 148: 36-9.
3. Warwick 6, Packard CJ, Shepherd J - Plasma Lipid Mea- 3. Farmer UA, Gotto AM - Risk Factors for Coronary Artery
surement. Curr Opin Lipidol 1990; 1: 500-2. Disease. In: Braunwald E, ed - Heart Disease. A Textbook
4. Bachorik PS - Developing guidelines for reliable triglyc- of Cardiovascular Medicine. 4th ed. Philadelphia: WB
eride, high-density lipoprotein cholesterol measurement. Saunders, 1992; 1135-9.
Curr Opin Lipidol 1991; 2:349-54. 4. Quintão ECR - Hiperlipidemias: Etiologia. In: Quintão ECR,
5. Garcia RC, Oliveira HCF - Fisiologia das lipoproteínas. In: ed - Colesterol e Aterosclerose. Rio de Janeiro: Quality-
Quintão ECR (ed) - Colesterol e Aterosclerose. Rio de mark, 1992; 71-123.
Janeiro: Qualitymark, 1992; 1-30. 5. Gordon T, Cartelli WP, Hjortland MCetal - High-density
6. Garcia RC - Diagnóstico laboratorial das dislipidemias - lipoprotein as a protective factor against coronary
Validade dos métodos laboratoriais. In: Quintão ECR heart disease. The Framingham Study .Am J Med 1977;
(ed) - Colesterol e Aterosclerose. Rio de Janeiro: Quali- 62:707-14.
tymark, 1992; 31-44. 6. Stamler J, Wentworth DN, Neaton JD- Is the relationship
between serum cholesterol and risk of death from coro-
II. Determinação laboratoriais nary heart disease continuous and graded? Findings on
the 356,222 primary screenes of the Multiple Risk Factor
Intervention Trial (MRFIT). JAMA 1986; 256:2823-8.
1. Report of the National Cholesterol Education Program
Expert Panel on Detection, Evaluation and Treatment of
High Blood Cholesterol in Adults. Arch Intern Med 1988; 7. Castelli WP, Carfison RJ, Wilson PWFetal - Incidence of
148: 36-69. coronary heart disease and lipoprotein cholesterol le-
vels. The Framingham Study. JAMA 1986; 256:2835-8.
2. Study Group, European Atherosclerosis Society - The 8. Anderson KA, Castelli WP, Levy D - Cholesterol and mor-
recognition and management of hyperlipidemia in tality 30 years of follow-up from the Framingham Study.
adults: a policy statement of the European Atheroscle- JAMA 1987; 257: 2176-80.
rosis Society. Eur H J 1988; 9: 571-600.
9. Iso H, Jacobs Jr DR, Wentworth D, Neaton JD, Cohen JD,
3. Assman G, Betteridge DJ, Gotto Jr AM, Steirner G - Man- for the MRFIT Research Group - Serum cholesterol levels
agement of the hypertriglyceridemic patients. Treat- and six-years mortality from stroke in 350,977 men
ment, classification and goals. AM J Cardiol 1991; 68: screened for the Multiple Risk Factor Intervention Trial. N
30A-4A. Englj Med 1989; 320: 904-10.
9. GianniniSD - Doença coronariana aterosclerótica e 14. Barth JD, Mancini, GBJ. An update on lipid-lowering
colesterol. Rev Bras Med 1989;46: 31-8. therapy. Current Opinion Lipidology, 1995; 6:32-7.
10. Giannini SD- Prevenção primária e secundária da 15. Guimarães AC - Lipoproteínas, antioxidantes e car-
doença coronária aterosclerótica. Rev Bras Med 1990; diopatia coronariana. Arq Bras Cardiol 1995; 65: 289-95.
47: 113-19.
16. Elinder LS, Waldius G- Antioxidants and atherosclerosis
11. Pyoralla K - Determinants of plasma HDL cholesterol progression: unresolved questions. Current Opinion Lipi-
level and its status as a CHD risk factor. Lipid Rev dology 1994; 5:265-8.
1990:4:25-30. 17. Feussner C - HMG-CoA reductase inhiibitors. Current
12. Giannini SD - Fatores de risco na aterogênese. In: Quin- Opinion Lipidology 1994; 5: 59-68.
tão, ECR (ed) - Colesterol e Aterosclerose. Rio de 18. Muldon MF, Maniuck SB, Matthews KA - Lowering cho-
Janeiro: Qualitymark, 1992; 125-136. lesterol concentrations and mortality: a quantitative
review of primary prevention trials. Br Med J 1990; 301:
13. Giannini SD - Prevenção da Coronariopatia. Ibid; 137-147.
309-14.
Loscalzo J - Lipoprotein(a). A unique risk factor for
atherothrombotic disease. Atherosclerosis 1990; 10: 672. 19. Criqui MH- Cholesterol primary and secondary preven-
tion and all-cause mortality. Ann Intern Med 1991;
14. NIH Consensus Panel on Triglyceride, High-Densitv 115:973-6.
Lipoprotein, and Coronary Heart Disease. JAMA 1993;
269: 505- 10. 20. Giannini SD- Vale a pena tratar dislipidemia decorona-
riopatas? Arq Bras Cardiol 1992; 58:253-4.
IV. Terapêutica das dislipidemias
V. DISLIPIDEMIA EM GRUPOS ESPECIAIS
1. National Research Council Committee on Diet and
Health. Implications for Reducing Chronie Disease Risk. 1. Seed M, CrookD - Post-menopausal hormone
Washington, DC: National Academy Press, 1989. replacement therapy, coronary heart disease and
plasma lipoproteins. Current Opinion Lipidology
2. Hatcher LF, Flavell DP, Illingworth DR - Dietary therapy of 1994;5:48-58.
hypercolesterolemia.Practical Cardiology, Special
Issue, May 1988,31-37. 2. LaRosa JC - Lowering cholesterol in women, the
elderly, and young adults. J Mvocardiall, Ichemia
3. Report of the Expert Panel on Detection, Evaluation, 1994;6:15-21.
and Treatment of high Blood Cholesterol in Adults. Arch
Intern Med 1988; 148: 36-9. 3. Quintão E. - Hipercolesterolemia na Infância. In: Quintão,
ECR(ed) - Colesterol e Aterosclerose. Rio de Janeiro:
4. Forti N - Corno diagnosticar e tratar a hiper-coles-
Qualitymark, 1992; 149,
terolemia. Rev Bras Med 1989; 46: 39-45.
5. Bertolami M - Drogas nas hiperlipidemias. In: Quintão, 4. National Cholesterol Education Program. Expert Panel
ECR(ed) - Colesterol e Aterosclerose. Rio de Janeiro: on Blood Cholesterol Levels in Children and Adoles-
Qualitymark, 1992; 195. cents. NIH Publication 1991;91:2732.

6. Quintão E - Drogas: mecanismo de ação. In: Quintão, 5. Highlights of the Report of the Expert Panel on Blood
ECR(ed) - Colesterol e Aterosclerose. Rio de Janeiro: Cholesterol Levels in Children and Adolescents. Am
Qualitymark, 1992; 225. Farm Phys 1992;45:2127-36.

7. Prihoda JS, Illingworth DR - Drug therapy of hyperlipi- 6. Rossouw J - Current issues in lipid lowering therapy: Treat-
demia. Current Problems in Cardiology 1992; 17:551-605. ment of hyperlipidemia in the young, in the elderly and
in women. Lipid Rev 1990;4: 81-8.
8. Nakandakare E - Tratamentos alternativos da hiperco-
lesterolemia familiar. In: Quintão E, ed - Colesterol e 7. Thelle D-Women and coronary heart disease. A review
Aterosclerose. Rio de Janeiro: Qualitymark, 1992; 245, with special emphasis on some risk factors. Lipid Rev
1990;4:33-8.
9. LaRosa JC, Cleeman JI - Cholesterol-lowering as treat-
ment for established coronary heart disease. Circulation 8. Rubin GM, Sidney S, Black DMetal - High blood choles-
1992; 85: 1229-35. terol in elderly men and excess risk for coronary heart
disease. Ann Intern Med 1990; 113:916-20.
10. GottoAM - Overview of a current issues in management
of dyslipidemia. Am J Cardiol 1993; 71: 3B-8B.
11. Dos Santos JE- Dietoterapia nas hipercolesterolemias.
Rev Bras Med 1989;46:39-43. VI. PREVENÇÃO DE DAC
12. Dressler WW, Dos Santos JEetal - Social and dietary pre-
dictors of serum lipids: a Brazilian example. Soc Sci Med 1. Shepherd J, Cobbe SM, Ford I et al - Prevention of coro-
1991; 1: 379-93. nary heart disease with pravastatin in men with hyperc-
holesterolemia. N Engl J Med 1995; 333: 1301-7.
13. Dos Santos JE, Dressler WW, Viteri F - Fatores de risco de
doença arterial coronariana e suas correlações com 2. Brown GB, Zhao XQ, Albers JJ - Plaque regression and
variáveis dietéticas e sociais. Arq Bras Cardiol clinical events in coronary disease. Primarv Cardiology
1994;63:371-5. 1992; IS: 6-27.
3. Scandinavian Simvastatin Survival Study Group - Ran- 76:64C-8C.
domised trial of cholesterol lowering in 4,444 patients with 5. Rossouw JE. Lipid-lowering interventions in angiographic
coronary heart disease: the Scandinavian Simvastatin trials. Am J Cardiol 1995; 76:86C-92C.
Survival Study Group (4S). Lancet 1994; 344:1383-9.
7. Smith SC, Blair SN, Criqui MH etal - Preventing heart
4. Kjekshus J, Pedersen TR, for the 4S Group - Reducing the attack and death in patients with coronary disease.
risk of coronary events: evidence from the Scandinavian American Heart Association. Consensus Panel Statment.
Simvastain Survival Study Group (4S). Am J Cardiol 1995; Circulation 1995; 92; 2-4

Você também pode gostar