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I Módulo 801 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado

1) Descrever as características das lipoproteínas e o metabolismo endógeno dos lipídios e das


lipoproteínas
1) Introdução
• Os lipídios são substâncias orgânicas caracterizadas pela insolubilidade em meio aquoso.
• São representados, principalmente, por:
o Ácidos graxos livres (AGL)
o Triglicerídios
o Fosfolipídios
o Colesterol
• Apresentam funções vitais para o organismo:
o Oferta energia para as células
o Síntese de vitaminas, hormônios e bile
o Sinalização em vias metabólicas e reações bioquímicas intracelulares
a) Lipídios
Tipos de Lipídios
Ácidos Graxos Livres Triglicerídios Fosfolipídios Colesterol
- Lipídios simples - Molécula circulante no - São formados por um - Molécula formada por
- Podem ser saturados plasma. É formada por glicerol ligado a doisquatro anéis de carbono,
ou não (ligação dupla três cadeias de ácidos ácidos graxos. No altamente solúvel em
entre carbonos). graxos conectados a um terceiro local de ligação,gorduras (forma
- Ácidos insaturados glicerol. há um átomo de fósforoesterificada)
podem ser rompidos e - Constituem a maior e uma molécula - Pode estar livre ou
oxidados pelo parte das gorduras carregada eletricamente
ligado a um ácido graxo
organismo. presentes na dieta. - Apresentam um polo (esterificado). O
- Os ácidos graxos hidrofílico e outro primeiro é a forma
trans apresentam uma hidrofóbico, dessa biologicamente ativa,
conformação forma, sendo essencialimportante para o
tridimensional distinta para a solubilidade dametabolismo, enquanto
dos cis. Aumentam o MP. a segunda é a forma de
colesterol da estoque no interior das
lipoproteína de baixa lipoproteínas
densidade (LDL) e plasmáticas.
reduzem o de alta - A maior parte provém
densidade (HDL). do metabolismo (dieta
não é relevante)
• Dentro de uma molécula de LDL cabem poucas moléculas de ácidos graxos insaturados, mas muitas de
ácidos graxos saturados. O consumo de grande quantidade de ácido graxo insaturado causa maior
expressão dos receptores celulares para captação de LDL (receptores BE), enquanto o consumo de ácido
graxo saturado reduz a expressão celular desses receptores (reduz a captação celular de LDL).
o Logo, o consumo de gordura saturada causa aumento do LDL-c, enquanto o consumo de gordura
insaturada reduz o LDL-c.
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• A maior parte do conteúdo de colesterol de uma célula é o colesterol livre não esterificado, sua forma
metabolicamente ativa. A forma esterificada é essencial para o transporte dessa molécula no sangue.
Várias enzimas estão envolvidas no processo de esterificação:
o Acetilcolesterol acetiltransferase (ACAT ): esterifica o colesterol no meio intracelular
o Lectina-colesterol acetiltransferase (LCAT): esterifica o colesterol no plasma
o Colesterol éster hidrolase neutra (CEHN): enzima que desesterifica o colesterol.
b) Lipoproteínas
• São agregados macromoleculares de lipídios com proteínas (apolipoproteínas), formando estruturas que
tem uma porção hidrofóbica central e uma porção hidrofílica periférica.
• Sua principal função é o transporte de lipídios na circulação sanguínea para fornecê-los as células da
periferia.
• Apoproteína é o nome dado à proteína que entra na
constituição das lipoproteínas.
o Fornece hidrofilidade a molécula, fornece
um arcabouço estrutural a lipoproteína e
fornece direcionamento metabólico (liga-se a
receptores específicos).
• Existem cinco tipos de lipoproteínas no nosso
organismo: os quilomícrons, a VLDL, IDL, LDL e
HDL. O que determina o tipo de lipoproteína é o tipo de apo que entra em sua constituição e a proporção
de colesterol e apo dentro da partícula de lipoproteína. O QM é a maior partícula, pois apresenta grande
proporção de gorduras e pouca proteína. A HDl é pequena pelo motivo oposto.
Tipos de Lipoproteínas
Quilomícrons Lipoproteína de Lipoproteína de Lipoproteína de Lipoproteína de
densidade muito densidade baixa densidade alta densidade
baixa intermediária
- São as maiores e - São formadas no - É uma molécula - É a via final da - Molécula
menos densas fígado. de VLDL que já VLDL, pequena e densa,
partículas de - Exercem a função perdeu parte de - Principal que apresenta a
lipoproteínas. de transporar o seus triglicérides e transportadora de função de
- Sintetizados nos excesso de lipídios ganhou colesterol. colesterol no penetrar no
enterócitos e que chegam ao organismo. endotélio e
hidrolizados pela fígado para a - Molécula remover o excesso
LPL dos vasos circulação pequena, capaz de de colesterol que
sanguíneos, sistêmica. entrar no interior se deposita nas
- São modificadas das células e ser placas, fazendo o
ao longo de sua oxidada no interior transporte reverso
vida, reduzindo a do endotélio, do colesterol para
quantidade de portanto, sendo o fígado.
triglicérides e extremamente - É anti-
apolipoproteínas e aterogênica. inflamatória e anti-
aumentando a trombótica!
quantidade de
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colesterol, até se
transformarem em
uma molécula de
IDL.

• Existem as seguintes apolipoproteínas:


o Apo A: principais constituintes do HDL. São as principais responsáveis por suas ações benéficas
(antioxidante, anti-inflamatória, anti-trombótica, sensibilizante à insulina...)
o Apo B: apresentam função estrutural na maioria das lipoproteínas (VLDL, IDL, LDL). São
reconhecidas pelos receptores BE. Quanto menor o seu tamanho, mais aterogênica será a
molécula.
o Apo C: servem para modular a atividade da LPL (ativando ou desativando). Também é
influenciada por hormônios, como a insulina. Na resistência a esse hormônio, há redução da Apo
C2 (ativa) e aumento da Apo C3 (inibe), o que favorece o acúmulo de QM e de VLDL, causando
hipertrigliceridemia.
o Apo E: aumenta a afinidade da Apo B ao receptor BE, facilitando a remoção do colesterol pelo
fígado e pelas células periféricas.
o Apo (a): liga-se de forma covalente a Apo B da LDL, formando a lipoproteína (a), que é
extremamente aterogênica e pró-inflamatória.
2) Ciclo das lipoproteínas no organismo
• Geralmente 98% da gordura da dieta é formada por triglicerídios compostos na sua maioria por ácidos
graxos de cadeia longa, com mais de 16 carbonos. A minoria da dieta é composta por colesterol.
• No intestino, a gordura se soma ao colesterol, aos fosfolipídios dos sais biliares e aos lipídios
provenientes da descamação celular de enterócitos. Todos esses precisam ser digeridos e absorvidos pela
mucosa intestinal.
o Triglicerídeos: são digeridos pelas lipases, sendo convertidos em moléculas mais simples (ácidos
graxos e glicerol), sendo absorvidos passivamente até se ligarem as proteínas ligadoras de
lipopolissacarídios (LBP).
o Colesterol: ocorre absorção de 50% de forma passiva no duodeno e jejuno, e 50% de forma ativa
no íleo. O transportador NPC1L1 contribui para o transporte facilitado do colesterol para o
interior dos enterócitos. Uma vez absorvido, é estereficado pela enzima ACAT 2.
o Ácidos biliares: são absorvidos de forma ativa no íleo terminal, pelos transportadores intestinais
de ácidos biliares (IBAT), que são regulados por retroalimentação negativa.
• Os ácidos graxos e o glicerol são novamente agrupados no intracelular, formando triglicerídios. A
enzima MTP faz a transferência dessas moléculas de triglicerídios, fosfolipídios, colesterol livre e
estereficado para dentro do retículo endoplasmático dos enterócitos, onde são empacotados com as
apolipoproteínas B48 (produzida apenas no intestino), formando as moléculas de quilomícrons, que
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irão para a circulação linfática, até o ducto torácico, de onde irá integrar a circulação sanguínea
sistêmica.
• Na corrente sanguínea, o QM será hidrolisado pela enzima lipoproteína (LPL), que fica na matriz do
endotélio vascular.
o A LPL é uma enzima cuja atividade é estimulada pela insulina e pela apo C2 e inibida pela
apo C3. A LPL metaboliza tanto QM quanto VLDL, logo, quando sua atividade é reduzida, há
um acúmulo de proteínas ricas em triglicerídios dentro do plasma e, dessa maneira, a
hipertrigliceridemia.
• A medida que a LPL metaboliza as moléculas de QM e VLDL, ocorre ligebração de ácido graxos livres
(AGL), glicerol e fosfolipídios no sangue. Essas partículas podem ser captadas por células como
adipócitos (estoque), hepatócitos ou qualquer outra célula do corpo que precisae de uma fonte energética
para oxidação. Dentro do fígado, os QM remanescente serão degradados em seus componentes
essenciais, que serão utilizados para a síntese de outras lipoproteínas.
o O fígado passa, a partir da ação da MPT, a sintetizar novas lipoproteínas ricas em
triglicerídeos, as chamadas VLDL. A insulina inibe a expressão e síntese da proteína apo B100,
essencial para a síntese de VLDL. Logo, em situações de resistência a insulina ou jejum, há
aumento da expressão da apo B100 e maior produção de VLDL
• A VLDL, uma vez formada, cai na circulação sanguínea e será metabolizada pela LPL, que hidrolisa os
triglicerídios da molécula de VLDL
convertendo-a em moléculas de
lipoproteína de intensidade intermediária
(IDL) e depois de lipoproteína de baixa
densidade (LDL).
o O principal evento é a perda
progressiva de triglicerídios pela
ação da LPL, mas também há
perda de Apo A, C, E e
fosfolipídios e ganho de molécula
de colesterol.
o As moléculas de LDL são as mais
ricas em colesterol, sendo sua
principal função o transporte de
colesterol para as células da
periferia, que expressam receptores
BE. O fígado também tem
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receptores BE em grande quantidade e pode captar o LDL-c de volta.
• Quando os quilomicrons e o VLDL vão sendo metabolizados pela LPL, vão sendo progressivamente se
tornando pobre em triglicerídeos, o que leva a uma sobra de membrana plasmática. Esse excesso vai
sendo desligado da molécula e originando HDL Logo, QM e VLDL originam o HDL!
3) Ciclo do colesterol no organismo
• O colesterol desempenha diversas funções no organismo, como:
o Biossíntese de membranas
o Síntese de hormônios esteroides adrenais e gonadais
o Síntese de vitamina D
o Síntese de ácidos biliares
• A maior parte do colesterol presente dentro de cada célula se origina da própria síntese
intracelular, e a menor parte é captada da circulação. O colesterol origina-se da acetil-CoA, por
meio da HMG-CoA redutase, enzima-chave para a síntese intracelular dessa molécula. As estatinas
inibem essa enzima, estimulando a expressão de receptores BE pelas células para captar mais colesterol
da circulação sistêmica, com isso, reduzindo o LDL-c.
• Uma vez no interior da célula (absorção do LDL), o colesterol é estereficado pela enzima ACAT, para
ser armazenado dentro da célula na forma de gotículas e evitar que fique na sua forma livre (a qual leva
a toxicidade e stress celular). O colesterol livre em excesso deve ser estereficado pela ACAT, e quando
há sua redução, o estocado deve ser desesterificado pela enzima CEHN para que a célula possa manter
suas funções biológicas.
o ATENÇÃO! A fluidez da membrana depende diretamente da proporção de colesterol em seu
interior. Quanto mais colesterol, mais rígida a membrana, o que impede a passagem de
determinados íons, e, desse modo, a produção de proteínas fica prejudicada dentro desses
retículos, o que pode culminar na apoptose celular. É o que ocorre com as células espumosas
(macrófagos nas placas ateroscleróticas). O macrófago expressa receptores scavenger, capazes
de reconhecer células mortas e LDL, o que o torna propenso a captar colesterol em excesso e
sofrer apoptose, formando as células espumosas.
• Após se ligarem as moléculas de LDL, os receptores BE são degradados no intracelular pela enzima
PCSK9. Essa enzima aumenta sua atividade sob ação insulínica e reduz sua atividade no jejum (quando
ativas, há redução da captação de LDL-c e triglicerídeos da circulação, o que leva a aumento em seus
níveis séricos).
• A proteína SREBP2 é capaz de regular a concentração de colesterol presente no seu intracelular. Age
como um fator de transcrição que aumenta a expressão de receptores BE e HMG-Coa redutase e reduz a
expressão de PCSK9. Resumindo: aumenta a produção de colesterol intracelular e aumenta a captação
desse pelo meio extracelular.
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4) HDL e transporte reverso de colesterol


• A HDL é uma molécula pequena, que consegue chegar a qualquer célula corpórea e captar colesterol
livre por meio da ligação de sua apo A-1 com os receptores ABC e realizar o transporte reverso do
colesterol diretaente para o fígado, adrenais, gônadas ou qualquer outra célula que tenha os
receptores SRB1.
• O HDL-c é formado 25% pela metabolização e QM e de VLDL pela LP, 50% pelo fígado e 25% pelo
intestino. As causas de HDL-c baixo são: deficiência de apo A-1, de LCAT ou de ABCA-1.
• ATENÇÃO! Para a HDL ser funcional, ela necessita de apo A-1 (que está em quantidade variável em
cada molécula). Em pacientes com doenças inflamatórias crônicas, várias proteínas inflamatórias entram
na HDL e deslocam sua apo A-1, o que prejudica sua função de transporte reverso de colesterol
(“HDL inflamatório”). Além disso, é importante que as células tenham receptor para HDL para
reconhecer a apo A-1! Logo, não interessa ter muito HDL, se ele não for funcional ou se esse não
conseguir fazer o transporte reverso.
• Quando há colesterol em excesso no interior da célula, os óxidos de colesterol estimulam a transcrição
de ABCA-1, que vai para a membrana plasmática para possibilitar o transporte reverso do colesterol
(ligação a apo A-1). Tal proteína está localizada nos fibroblastos e nos macrófagos, fígado e intestino. O
fígado e o intestino são órgãos determinantes para a quantidade de HDL-c no organismo!
• A pré-beta-HDL apresenta uma alta avidez por colesterol, sendo ótima incorporadora de colesterol
celular, por meio de transporte reverso dele, ligando-se à ABCA-1. Contudo, essa não é a forma final do
HDL! Ele pode ser modificado pelas enzimas LCAT e CETP, para se transformar, respectivamente em
HDL 3 e HDL 2. A diferença se dá na funcionalidade dessas moléculas – a HDL 2 é a mais eficaz no
transporte lipídico. Existem várias frações diferentes de HDL, de diferentes tamanhos e composições
(pré-beta, pré-alfa e alfa), todas podem ser classificadas em 1, 2 e 3 (em ordem decrescente de tamanho).
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o ATENÇÃO! Indivíduos com frações menores de HDL não conseguem fazer o transporte reverso
com tanta eficiência, o que os torna predispostos a aterogênese. Indivíduos com frações maiores
apresentam maior proteção contra doença coronariana e aterosclerose.
o ATENÇÃO! As estatinas e a niacina promovem o aumento de HDL alfa 1 e pré-alfa 1 e
reduzem o HDL pré-beta e alfa 3.
• Uma vez captado pelo fígado, o colesterol em excesso é eliminado do organismo pela bile, na forma de
ácidos biliares. Essa é a única maneira capaz de eliminar o excesso de colesterol do organismo!

Remoção do Transferencia do
colesterol celular colesterol captado pel
Esterificação Ação da enzima CETP
pelas partículas Captação do HDL para as
("concentração") do sobre as moléculas de
séricas de apo A-1 e colesterol das HDL lipoproteinas que
colesterol dentro da HDL 3, transferindo
de HDL pelo fígado, gônadas contèm apo B pela
HDL pela LCAT muitos triglicerídios
e adrenais pela enzima CETP (VLDL e
(Prejudicado pela em troca de
(Transforma pré- ligação ao receptor LDL), facilitando o
hiperglicemia - colesterol, formando
beta-HDL em HDL 3) SRB1 transporte de
destruição de HDL 2 e 1.
colesterol para o
receptores) fígado

2) Descrever como se faz a determinação dos níveis séricos dos lipídios e quando solicitar a sua
dosagem
• A coleta de sangue é realizada apenas após jejum de 12 horas para análise das concentrações de
triglicérides, assim como para o cálculo do colesterol da LDL
• A determinação do colesterol total, apo B, apo A-1 e colesterol da HDL (HDL-C) podem ser analisadas
em amostras coletadas sem jejum prévio.
• A determinação do perfil lipídico deve ser realizada em indivíduos com dieta habitual, estado metabólico
e peso estáveis por pelo menos duas semanas antes da realização dos exames
• Além disso, devem-se evitar ingestão de álcool e atividade física vigorosa nas 72 e 24 horas que
antecedem a coleta de sangue, respectivamente.
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• A útlima diretriz sugere que os valores referenciais e de alvo terapeutico do perfil lipídico sejam
apresentados de acordo com o estado metabólico que antecede a coleta da amostra, sem jejum e com
jejum de 12 horas. É importante ressaltar que valores de CT > 310 mg/dL para adultos ou de CT >
230 mg/dL para crianças podem ser indicativos de hipercolesterolemia primária falimiar! Essa é a
mais comum das dislipidemias primárias, e seus portadores de 20 vezes mais risco de morte precoce por
DCV.

• Colesterol Total (CT): recomendada para avaliar o risco cardiovascular em políticas de rastreamento
populacional, porém, para avaliação do risco cardiovascular, devem ser analizadas as frações.
• LDL-c: é ESTIMADO pela fórmula de Friedewald (LDL-c = CT – (HDLc +TG/5), onde TG/5
representa o colesterol ligado à VLDL. Pode ser calculado por metodologia direta.
• Colesterol não-HDL: é usada como estimativa do número total de partículas aterogênicas no plasma
(VLDL + IDL + LDL) e também a apo B. O colesterol não HDL é calculado pela substração do HDLc
do colesterol total.
o Pode fornecer melhor a estimativa do risco em comparação com o LDLC, principalmente nos
casos de hipertrigliceridemia associada ao diabetes, à síndrome metabólica ou doença renal.
• Colesterol HDL: existem várias técnicas e de alta qualidade. Não precisa de ser estimado por fórmula.
• Triglicérides: é determinado por técnica enzimática, um método barato e de elevada precisão. Na
maioria das situações, níveis elevados de TG se associam a baixos níveis de HDLc e altos níveis de
partículas de LDL pequenas e densas (resultado ruim)
• Apolipoproteínas: são medidas a apo B e a apo A-1, através de métodos imunoquímicos e de fácil
análise em aparelho convencional.
o Lembrando: a apo b é a principal apoproteína das partículas aterogênicas (VLDL, IDL e LDL –
“não HDL”), sendo uma boa estimativa do número dessas partículas no sangue. A concentração
dela, portanto, é uma boa estimativa do número dessas partículas no sangue. A apo A-1 é a
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principal apoproteína da HDL e fornece uma boa estimativa da concentração de HDL-C, sendo
que cada molécula de HDL pode apresentar mais de uma dessas proteínas.
o A apo B não é incluída nos algoritmos de cálculo de risco cardiovascular e não tem alvo de
tratamento predefinido
• Lipoproteína (a): corresponde a uma partícula de LDL com uma apoproteína adicional marcador de risco
adicional de doença arterial coronariana (pró-trombótica e pró-inflamatória), sendo que o nível
plasmático dessa é, em grande parte, determinado geneticamente. Sua análise é recomendada em pessoas
com alto risco para doença CV ou com forte história familiar de doença prematura aterotrombótica,
como na HF.
• Tamanho das partículas de lipoproteínas: partículas de LDL pequenas e densas são mais aterogênicas do
que as demais e predominam em concentrações altas de TG. Não existem evidencias que suportem sua
realização de rotina.
• Biomarcadores inflamatórios: a PCR de alta sensibilidade parece contribuir para a identificação de
indivíduos sob risco de desenvolvimento de DCV. Ainda não é utilizada de rotina.

3) Explicar a classificação e as causas das dislipidemias primárias e secundárias


1) Introdução
• Dislipidemia é o nome dado a alterações nas concentrações plasmáticas os lipídios, podendo se
manifestar por aumento ou redução de colesterol e triglicerídios.
• De acordo com a etiologia, as dislipidemias podem ser classificadas como
o Primárias: decorrentes de alterações genéticas
o Secundárias: desencadeadas por outras doenças, fatores ambientais ou intervenções
medicamentosas
• As dislipidemias podem ser classificadas por meio das seguintes combinações de alterações de
lipoproteínas:
o Hipercolesterolemia: LDL-c e CT elevados
o Hiperlipidemia mista: CT, LDL-c, triglicerídios (TG), lipoproteína de densidade muito baixa
(VLDL), quilomícrons (QM) e remanescentes altos.
o Hipertrigliceridemia: TG, VLDL e QM elevados
o Hipoalfalipoproteinemia: nível de colesterol da lipoproteína de alta densidade (HDLc) baixo
o Hipobetalipoproteínemia: defeito do fígado em produzir apo B-100, podendo cursar com nível
muito baixo de LDLc
o Abetalipoproteinemia: defeito no fígado e no intestino, que não produzem nem apo 100, nem apo
B-48. Causa mortalidade já na infância.
• Pacientes, principalmente os portadores de dislipidemias primárias, podem apresentar alterações no
exame físico que devem ser reconhecidas:
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o Xantomas tuberosos: acúmulo de colesterol na derme ou em articulações. Podem desaparecer
totalmente com o tratamento e não causam dor.
o Xantomas tendinosos: causados pela captação do LDL nos macrófagos dos tendões. Esses ficas
endurecidos, porém, tornam-se mais frágeis. É a manifestação mais típica da hipercolesterolemia
primária, geralmente atingindo tendões extensores
o Xantomas planares: xantomas menores ao longo da pele, mais planos
o Xantomas eruptivos: pápulas com pontas brancas, comuns em hipertrigliceridemias mais graves
o Arco-senil/arco córneo: depósito de colesterol ao redor da íris, muito comum em idosos, o que se
deve também ao acúmulo de colesterol nessa população.
2) Dislipiemias Primárias
• Representam alterações nas concentrações plasmáticas dos lipídios relacionadas com defeitos genéticos
que afetam diretamente o metabolismo das lipoproteínas. Classificam-se em:
o Hipercolesterolemias primárias
o Hipertrigliceridemias primárias
o Hiperlipidemias mistas primárias
o Distúrbios primários do metabolismo da lipoproteína de alta densidade
a) Hipercolesterolemias primárias (ou hipercolesterolemia familiar)
• São caracterizadas pelo aumento do LDL-c e do colesterol total.
• O rastreamento genético em cascata geralmente não é necessário para diagnóstico ou tratamento, mas é
útil para diagnóstico de familiares de um indivíduo afetado ou para confirmar o diagnóstico. A
identificação de uma mutação pode fornecer motivação para os pacientes iniciarem o tratamento.
Entretanto, é importante ressaltar que um teste genético negativo não exclui a hipercolesterolemia
familiar!
o A estratégia mais custo-efetiva é o rastreamento de mutações em parentes de primeiro grau de
indivíduos em quem uma mutação causal para HF tenha sido identificada!! Há 50% de
probabilidade de detecção em parentes de primeiro grau; 25% de probabilidade em parentes de
segundo grau, e 12,5% de probabilidade em parentes de terceiro grau.
o Deve ser feito o sequenciamento genético de todos os possíveis genes envolvidos (LDLR, ApoB,
PCSK9 ou LDLRAP1)
• Estima-se que 20% dos pacientes com HF são diagnosticados e apenas 10% recebem tratamento
adequado.
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Hipercolesterolemia familiar
- Doença de herança autossômica dominante (homozigotos tem qc mais exuberante)
- Causada por mutação no receptor BE (capta LDL plasmático), com mais de mil variantes alélicas
descritas. Como consequência, há um clearence menor de partículas de LDL devido a redução do número
ou alteração de função do receptor, gerando um espectro clínico variável. O defeito pode estar:
- Ausência de síntese ou síntese de receptor não funcional (classe 1)
- Transporte do receptor, menor expressão na superfície celular (classe 2)
- Ligação do receptor a apoproteína (classe 3)
- Internalização do complexo BE-LDL (classe 4)
- O LDL não é reciclado de volta para a superfície(classe 5)
- A penetrancia da HF depende do gene mutado. A análise das mutações descritas no gene do receptor
demonstra que não existem regiões principais na sequencia do gene para aparecimento de alterações.
- O LDL apresenta-se elevado desde o nascimento, causando doença arterial coronariana
precocemente. Isso ocorre pois essas passam a ser oxidadas pelos receptores scavanger dos macrófagos
- A hipertrigliceridemia não ocorre, pois, a VLDL pode ser retirada por outros tipos de receptores, que se
ligam também à apo E.
- QC: Os achados clínicos típicos são os xantomas tendinosos, geralmente no tendão do calcâneo ou nos
tendões extensores das mãos. O arco córneo antes dos 40 anos também pode ser encontrado.
- DX: concentrações elevadas de CT e LDL-c, triglicerídios normais, xantomas tendinosos e HF ou
pessoal de DAC precoce. É importante para o rastreio de outras anomalias na família.
- TTO: tratar comorbidades (diabetes, hipertensão, tabagismo...), dieta com baixos teores de gordura total
e saturada e colesterol e tratamento medicamentoso (estatina + ezetimibe). O alvo do LDL deve ser < 70
mg/dl e o tratamento deve ser instituído desde a juventude, devido ao elevado risco de DAC.
- Estatinas: inibidor da HMG-CoA
- Ezetimibe: bloqueia a absorção do colesterol proveniente da alimentação e bile via inibição do
transportador NPC1L1

Defeito familiar da Apo B-100


- Doença de herança autossômica dominante, sendo a mutação mais comum a substituição de um
aminoácido que leva ao rompimento da estrutura proteica.
- Causada por uma mutação no gene da Apo B-100, responsável pela afinidade da ligação do LDL-c ao
seu receptor (BE). Essa mutação causa redução da afinidade de ligação do LDL ao seu receptor,
retardando a sua remoção do plasma e, consequentemente, causando aumento de LDL-c no plasma.
- Apesar de outras partículas apresentarem a apo B-100 na sua composição, essas lipoproteínas não se
acumulam, por apresentarem ouros receptores.
- QC: muito semelhante ao da hipercolesterolemia familiar, entretanto, esses apresentam um fenótipo mais
grave (a ligação aos receptores BE é prejudicada, porém, não está ausente).
- DX: o diferencial com a hipercolesterolemia familiar é difícil, sendo feito apenas por estudos genéticos
- TTO: igual ao da hipercolesterolemia familiar, porém, por vezes são usados os sequestrantes de ácidos
biliares (colestiramina)

Hiperlipidemia familiar combinada


- Doença de herança autossômica dominante, de causa genética e patogênese metabólica desconhecida
(acredita-se que seja uma doença poligênica). Acredita-se que a resistência insulínica seja uma das peças
chaves para o desenvolvimento dessa condição.
- Presente em 10 a 20% dos indivíduos que já apresentaram IAM, sendo a mais comum das
dislipidemias primárias!
- É a única hipercolesterolemia primária que não cursa com xantomas
- QC: apresenta-se com um fenótipo varíavel (misto de hipertrigliceridemia e hipercolesterolemia), muitas
vezes se manifesta com síndromes metabólica e resistência insulínica.
- DX: elevação plasmática de LDL-c e triglicerídios (é mista, podendo aparecer como
hipercolesterolemia isolada ou hipertrigliceridemia isolada)
- TTO: dieta e medicamentos para a hiperlipidemia predominante
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Mutação no gene que codifica a proproteína convertase subtilsin/kexin tipo 9
- É a causa menos comum de HF, representando 1 a 3% dos casos daignosticados
- Proteína PCSK9 se liga nos receptores BE, promovendo sua degradação e consequentemente reduzindo
a taxa de remoção de LDL-c do plasma.
- A mutação pode inativar completamente a proteína (rara) ou levar a sua redução de função (mais
comum), levando a concentrações mais baixas de LDL-c e risco mais baixo de doença cardiovascular.
Hipercolesterolemia autossômica recessiva
- Doença raríssima, causada por uma mutação na proteína ARH, essencial para a estabilidade da ligação
da LDL ao seu receptor BE e a internalização desse conjunto. Consequentemente, leva a um aumento no
nível sérico de LDL.
- O QC é igual a hipercolesterolemia familiar homozigótica, porém o nível sérico de colesterol e LDL-c
dos pais é normal.
b) Hipertrigliceridemias primárias
• São dislipidemias de origem genética caracterizadas pelo aumento de nível sérico de triglicerídios.
• A hipertrigliceridemia também leva a maior risco cardiovascular e de pancreatite
• O risco cardiovascular não é significativo, porém, o maior risco para esses pacientes é o de
pancreatite!
Hiperquilomicronemia
- Causado por um defeito genético na lipoproteína lipase (LPL), (ou em seu cofator, apo C2), enzima
que metaboliza os triglicerídios de quilomícrons e VLDL (ricas em triglicerídios).
- Nessa doença, os quilomícrons e as VLDL formadas pelo fígado não conseguem ser adequadamente
hidrolisados pela LPL, que pode estar presente em menor quantidade ou com atividade menor que a
habitual. O nível sérico de HDLc também cai, pois sua formação depende de 25% da ação da LPL Além
disso, essas partículas passam a ser hidrolisadas pela lipase hepática, formando partículas menores, que
são mais aterogênicas e mais facilmente captadas por macrófagos. As partículas de LDL passam a se
tornar mais aterogênicas, por se tornarem menores e mais densas (metabolziadas pela lipase).
- QC: hipertrigliceridemia grave (> 1,000 mg/dl), alto risco de pancreatite. Xantomas eruptivos ou
retinianos (vasos esbranquiçados na retina) também podem ser visualizados.
- DX: demonstração da ausência de atividade da LPL no plasma após administração de heparina ou por
estudo molecular, associado a hipertrigliceridemia. O plasma, quando em repouso, apresenta uma camada
cremosa na superfície, composta predominantemente pelos quilomícrons.
- TTO: restrição dietética (já que os pacientes não possuem LPL para metabolizar os quilomícrons da
dieta).
- OBS: pacientes com pancreatite devem ser tratados com → jejum + fibratos + plasmaféres (casos
extremos) + bomba de insulina + heparina

c) Hiperlipidemia mista primária


• São caracterizadas pelo aumento do nível sérico de LDL-c e de triglicerídios
• A hiperlipidemia familiar combinada é uma delas, contudo, já foi descrita anteriormente
Disbetalipoproteinemia
- Doença rara, de herança autossômica recessiva, causada por um defeito na Apo E (receptor B2), que
apresenta afinidade reduzida aos seus receptores, prejudicando a captação periférica das liporpteínas ricas
nessa molécula (QM, VLDLc e remanescentes). Essas passam a ser acumuladas e captadas lentamente
pelo fígado, além de lentamente metabolizadas pela LPL e receptor LRP1
- Está frequentemente associada a presença concomitante de componentes da síndrome metabólica, como
obesidade e resistência insulínica (estimula expressão de LRP1), ou causas secundárias de dislipidemia,
como consumo de álcool e hipotireoidismo.
- Os quilomícrons e VLDL acumulados podem ser metabolizados pela lipase hepática, a qual hidrolisa
partículas de triglicerídios e fosfolipídios dessas lipoproteínas, deixando-as menores e mais aterogênicas.
I Módulo 801 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado
- QC: formação de xantomas (células espumosas captam o VLDL em excesso) e doença vascular
aterosclerótica.
- DX: elevação concomitante de LDL-c e triglicerídios (valores oscilam entre 300 a 400 mg/dl). Como é
recessiva, geralmente não há histórico familiar de hiperlipidemia ou doença arterial aterosclerótica
prematura. Uma razão VLDLc/TG > 0,3 sugere o diagnóstico (pois os remanescentes de VLDL são ricos
em colesterol).

d) Distúrbios primários do metabolismo do HDL-c


• São caracterizadas por redução no nível sérico de HDL-c, com valores normais de triglicerídios e LDL-
c, causado por algum tipo de mutação. Cerca de 50% dos casos não tem etiologia definida
o Podem ocorrer por mutações na LCAT, no ABCA-1 e na Apo A-1.
• Cursam com aumento considerável do risco de doença cardiovascular aterosclerótica prematura (a
deficiência de HDL leva a comprometimento no transporte reverso de colesterol e outras propriedades
do HDL-c, como antioxidação, anti-inflamação e anti-trombose!)
Hipoalfalipoproteinemia familiar
- Doença autossômica dominante
- Causada por mutações no gene da apo A-1, principal constituinte do HDL-c
- DX: eletroforese das apolipoproteínas plasmáticas, afastar síndrome metabólica (RI + HAS +
OBESIDADE)
- TTO: mudanças no estilo de vida associado a fármacos (estatina, ácido nicotínico, inibidores da CETP)

Deficiência de lecitina colesterol aciltransferase (LCAT)


- Doença autossômica recessiva
- Relembrando: a LCAT é a enzima que esterifica o colesterol. Quando reduzida, há acúmulo de
colesterol livre nas partículas de lipoproteínas e nos tecidos periféricos (córnea, membrana de eritrócitos e
glomérulos renais) devido ao transporte reverso prejudicado. O processo de transporte reverso passa então
a ser mediado pela CETP, enzima que troca colesterol e triglicerídios entre as partículas de HDL e
LDL/VLDL. Nessa doença, todo o colesterol plasmático passa a estar em sua forma livre.
- As concentrações plasmáticas de colesterol são variáveis e ocorre aumento da razão entre o colesterol
livre e o esterificado.
- QC: opacificações corneanas, anemia normocrômica (hemólise das hemácias por excesso de colesterol
livre) e insuficiência renal (motivo desconhecido), em pacientes adultos jovens.
- TTO: não há fármacos capazes de aumentar a concentração plasmática de LCAT, portanto, o tratamento
é feito através de mudanças no estilo de vida.
Doença de Tangier
- Doença autossômica recessiva
- Há um aumento da HDL plasmática por mutação no receptor ABCA-1 (reconhece a apo A-1 e libera
colesterol livre para ser conjugado com a molécula de HDL). Isso leva a um acúmulo de colesterol nos
macrófagos.
- QC: amígdalas alaranjadas, opacificações corneanas, hepatoesplenomegalia, neuropatia periférica, DAC
prematura e hipertrigliceridemia leve
- TTO: não existe

Deficiência na proteían de transferência de ésteres de colesterol (CETP)


- Síndrome hereditária
- Essa enzima é responsável pela transferência de ésteres de colesterol da HDL para as apo B das
lipoproteínas (LDL e VLDL). Isso concentra as partículas de colesterol nas moléculas de HDL, reduzindo
a razão entre colesterol total e HDL-c.
- DX: medida da atividade plasmática dessa enzima in vitro ou estudo molecular para identificação da
mutação.
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3) Dislipidemias Secundárias
• Determinadas patologias e medicações podem predispor a dislipidemia, por interferirem nos
metabolismos das lipoproteínas, gerando um aumento do colesterol e/ou triglicerídios plasmáticos.
• As doenças citadas podem também exacerbar significativamente as alterações lipídicas das
hiperlipoproteinemias primárias.
• Diante de um paciente dislipidêmico, devemos esclarecer:
o Época de diagnóstico
o Histórico famíliar de dislipidemia
o Histórico familiar de DAC prematura
o História pessoal ou familiar de diabetes melito
o Uso de medicações ou patologias que possam levar à dislipidemia secundária
a) Distúrbios Endócrinos
Diabetes e Síndrome Metabólica
- Causada pela resistência insulínica (também presente na acromegalia)
- Caracterizada por: hipertrigliceridemia, hiperlipidemia pós-prandial, redução da quantidade e no
tamanho das partículas de HDL e partículas de LDL pequenas e densas (aterogênicas).
Hipotireoidismo
- Há elevação do LDLc, que pode ocorrer isolada ou associada a hipertrigliceridemia, resultante de uma
baixa atividade da lipase lipoproteica. Isso se deve a menor expressão do receptor hepático de LDL
(BE)
- Um padrão semelhante a disbetalipoproteinemia (elevação de LDLc e triglicerídios) pode ser
encontrado.
- Essas alterações levam a um maior risco cardiovascular nesses pacientes
- ATENÇÃO! No hipertireoidismo, há melhora do perfil lipídico, pelo mecanismo oposto!
- ATENÇÃO! Não usar estatinas devido ao risco de rabdomiólise nesses pacientes.
Lipodistrofia
- Podem ser genéticas ou adquiridas
- O QC depende da forma: na lipodistrofia parcial familiar há acúmulo de gordura na face. Na
lipodistrofia generalizada congênita são encontradas acantose nigricans, esteatose com hepatomegalia
(com ou sem esplenomegalia) e alta estatura. Ambas são formas genéticas
- O quadro laboratorial é análogo aos causados pela resistência insulínica.
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Anorexia nervosa
- Há acúmulo de LDLc, por ser um estado catabólico no qual há liberação de grande quantidade de LDLc
para a circulação.
- Esteatose hepática pode ocorrer devido ao acúmulo de triglicerídios hepáticos.
Glicogenose tipo 1
- Há um defeito na quebra de glicogênio hepático para glicose, levando a seu acúmulo no fígado. Como o
glicogênio não pode ser transformado em glicose, ele se acumula na forma de acetil-CoA, a qual, por sua
vez, é utilizada para a síntese de VLDL.
- O QC típico é de: hipoglicemia hipoinsulinêmica, esteatose hepática e hipertrigliceridemia desde o
nascimento. As crianças costumam ser magras devido a lipólise constante, provocando a elevação de
ácidos graxos livres; ter baixa estatura e hepatomgalia considerável.
b) Distúrbios renais
Síndrome nefrótca/Hipoalbuminemia
- Maior produção hepática de proteínas, como a Apo B
- Aumento de LDLc (mais concentrada em colesterol devido ao turnover menor) e VLDL
Insuficiência renal crônica
- Leva à hipertrigliceridemia como resultado da redução da atividade da LPL
- Aumento de VLDL e redução de HDLc
- Aumento do risco cardiovascular
c) Distúrbios gastrintestinais
Ingestão alcoólica crônica
- O álcool é uma grande fonte energética, inibindo a oxidação de ácidos graxos no fígado os quais se
acumulam e são utilizados para a síntese de VLDL.
- O álcool ainda reduz a atividade da LPL e da lipoproteína lipase hepática (LLH)
- Há elevação de triglicerídios e de HDLc (reduz o turnover dessa molécula)
- ATENÇÃO! É uma das duas únicas causas de hipetrigliceridemia com HDL elevado (a outra é o
acúmulo de estógenos).
Cirrose biliar primária
- Causa gastrintestinal mais significativa de dislipidemia
- No início, há aumento discreto dos níveis de VLDL e LDLc, em razão da elevação dos níveis de
lipoproteína remanescente e HDLc.
- Quando em nível terminal, há acúmulo de lipoproteína X (uma partícula anormal que contém albumina e
outros componentes plasmáticos.
- O único tratamento é o transplante hepático.
d) Doenças reumatológicas auto-imunes
• Essa população apresenta maior risco para aterosclerose, além de fatores de risco adicionais para
trombogênese e aterogênese. Isso se deve a inflamação crônica e uso de medicamentos como
corticoides, que contribuem para alteração do perfil lipídico.
• O uso crônico de corticoides leva a resistência insulínica, aumentando a lipólise e, consequentemente, a
produção hepática de VLDL (acúmulo de ácidos graxos livres).

e) Gestação
• Condição em que há acúmulo de estrógeno, progesterona e resistência insulínica.
• Há um acúmulo de todos os índices lipêmicos: colesterol total, LDLc, HDLc, triglicerídios e apo B. O
colesterol é muito importante para o desenvolvimento fetal, e o bebê não consegue sintetizá-los de forma
independente da mãe: necessita de ácidos graxos essenciais, fornecidos por ela, para que possa sintetizar
ácidos graxos de cadeia longa.
I Módulo 801 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado
• Recoradando: o primeiro trimestre se caracteriza por um estado anabólico, havendo uma redução dos
índices lipêmicos. No terceiro trimestre, o oposto ocorre: há uma grande resistência a insulina e
aumento da síntese hepática de glicose, levando a um aumento dos índices lipêmicos.
• ATENÇÃO! A terapia com estatinas está proscrita durante a gestação e para mulheres em idade fértil e
sem contracepção adequada, ou que desejam engravidar, pois atravessam a barreira placentária e
prejudicam a síntese de colesterol fetal, indispensável para o processo de mielinização do SNC fetal.
o Os únicos fármacos permitidos para gestantes são: colestiramina e fibratos (em casos graves)
o A dieta e a aférise (em casos extremos) devem ser o tratamento de escolha.
• Os estrógenos agem aumentando a síntese de VLDL hepática e reduzem a atividade da LLH
(aumentando HDLc), aumentando os receptores BE. Em conjunto com o álcool, são a única situação em
que há aumento de triglicerídeos e HDLc.

4) Explicar os fármacos utilizados para tratamento das dislipidemias


• A decisão para início da terapia medicamentosa depende do:
o Risco cardiovascular do paciente: para pacientes com baixo risco, medidas envolvendo mudanças
do estilo de vida são suficientes, devendo ser associadas, em uma segunda etapa, com
medicamentos, para obter as metas definidas do LDLc.
o Tipo de dislipidemia: define a escolha da classe terapêutica
• Os fármacos costumam ser divididos naqueles que agem predominantemente na taxa sérica de colesterol
e naqueles que agem predominantemente nas taxas de TG.
a) Fármacos com ação na colesterolemia
• Estatinas: agem como inibidores da HMG-CoA redutase, através da depleção intracelular de
colesterol, que estimula a síntese e expressão de receptores para captação do colesterol circulante na
I Módulo 801 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado
membrana celular, potencialmente reduzindo todos os tipos de lipoproteínas circulantes. Estão
associadas a uma redução comprovada no risco de doença cardiovascular.
o Seus efeitos colaterais são raros, sendo os mais comuns os musculares (mialgia até
rabdomiólise). Deve-se dosar a creatina em pacientes com risco dessa condição, assim como
avaliação basal das enzimas hepáticas antes do início da terapia.
• Exetimiba: inibe a absorção de colesterol na borda em escova do intestino delgado, principalmente do
colesterol biliar. Em última instancia, isso leva a redução dos níveis de colesterol hepático e ao estímulo
a expressão de receptores celulares para colesterol, levando a uma remoção dessa molécula do plasma. É
a opção tearpeutica para pacientes com intolerância a estatinas ou naqueles com efeitos adversos a
altas doses de estatina (pode ser feita terapia dupla). Não apresenta efeitos colaterais relevantes e pode
ser utilizada em dose única.
• Resinas: atuam como sequestradores de ácidos biliares, reduzindo a absorção enteral dessas
moléculas. Como resultado, ocorre a depleção do colesterol celular hepático, estimulando a síntese de
LDLR e de colesterol endógeno. Consequentemente, pode ocorrer aumento da produção de VLDL e,
consequentemente, de TG plasmáticos!!! Tem sido recomendada para crianças hipercolesterolêmicas,
mulheres no período reprodutivo sem método anticoncepcional efetivo e durante os períodos de gestação
e amamentação (pois não é absorvido pela circulação sistêmica!)
o Seus principais efeitos colaterais são referentes ao trato gastrintestinal: obstipação, plenitude
gástrica, náuseas e meteorismo, além de exacerbação de hemorroidas pre-existentes. Além disso,
reduz a absorção de proteínas lipossolúveis (DEKA), podendo ser necessária a utilização de
suplementos.
b) Fármacos que atuam predominantemente nos triglicérides
• Nos casos de hiperlipidemia mista, a taxa sérica de TG deve orientar como o tratamento será iniciado:
caso as taxas estejam acima de 500 mg/dL, deve-se iniciar o tratamento com um fibrato (caso abaixo,
iniciar estatina), adicionando-se, caso necessário, ácido nicotínico e/ou ômega 3. Nessa situação, a meta
prioritária é a redução do risco de pancreatite.
• Fibratos; são fármacos derivados do ácido fíbrico que estimulam receptores PPARa, o qual leva ao
aumento da produção e ação da LPL, responsável pela hidrólise intravascular dos triglicérides e a
redução da ApoC-III, responsável pela inibiição da LPL. Aumenta a apo A-1, e, consequentemente, a
síntese de HDL. São indicados no tratamento da hipertrigliceridemia endógana, quando há falha nas
medidas não farmacológicas (níveis > 500 mg/dL) e no tratamento da dislipidemia mista com
predomínio da hipertrigliceridemia.
• Ácido nicotínico (niacina): reduz a ação da lipase tecidual nos adipócitos, levando a menor liberação de
ácidos graxos livres para a corrente sanguínea e consequente síntese de triglicérides pelos hepatócitos.
Prefere-se o uso de formas de liberação intermediária, devido a menor incidência de efeitos colaterais. O
ácido nicotínico pode, excepcionalmente, ser utilizado em pacientes com HDL-C baixo isolado, mesmo
I Módulo 801 – Problema 03 I Thiago Almeida Hurtado
sem hipertrigliceridemia associada, e como alternativa aos fibratos e estatinas ou em associação com
esses fármacos em portadores de hipercolesterolemia, hipertrigliceridemia ou dislipidemia mista
• Ácidos graxos ômega 3: derivados de óleos de peixe, plantas e nozes. Seus mecanismos de ação ainda
não estão bem estabelecidos (reduzem produção de VLDL e aumentam seu catabolismo). Em altas doses
reduzem os TG e aumentam discretamente o HDLc. São predominantemente utilizados como adjuvantes
nas terapias das hipertrigliceridemias.
c) Novos fármacos
• Inibidores da proteína de transferência de ésteres de colesterol (CETP – “cetapibres”): enzima
responsável por transferir ésteres de colesterol da HDL por lipoproteínas que contêm apoB, em troca
equimolar por TG. Portanto, aumenta os níveis de HDL e reduz o de VLDL e LDL.
• Inibidores da PCSK (“cumabes”): o número de LDLR expressos na superfície dos hepatócitos é fator
deperminante dos níveis plasmáticos de LDL. A LDL circulante se liga a esses e é endocitada, sendo que
os receptores são posteriormente reciclados. A PCSK9 é uma enzima que se liga aos LDLR na
circulação, favorecendo sua degradação. São medicamentos de uso subcutâneo, que reduz de forma
considerável as concentrações de LDLc. Seu uso ´re ecomendado apenas para pacientes com risco
cardiovascular elevado, em tratamento. Otimizado com estatinas na maior dose tolerada, associada ou
não a ezetimiba eque não tenham alcançado as metas de LDLc ou não HDLc recomendadas.
• Inibidor da proteína de transferência de triglicérides microssomal: a MTP é a enzima responsável por
formar quilomícrons no intestino e VLDL pelo fígado. Seu uso ainda não foi aprovado no Brasil, mas
sua única indicação é na hipercolesterolemia familiar. Seus principais efeitos colaterais são referentes
ao tratogastrintestinal
5) Realizar a estratificação de risco cardiovascular em pacientes com dislipidemia secundária
• Um evento coronário agudo é a primeira manifestação da doença aterosclerótica em, no mínimo, metade
dos indivíduos que apresentam essa complicação. Dessa forma, a identificação de indivíduos
assintomáticos que estão mais predispostos é crucial para a prevenção efetiva, com a correta definição
das metas terapêuticas.
• Dentre os diversos algorítimos existentes, a diretriz da sociedade brasileira de cardiologia (SBC)
recomenda a utilização do escore de risco global, que estima o risco de infarto do miocárdio, AVC,
insuficiência cardíaca ou insuficiência vascular periférica em até 10 anos.
• O escore de risco é dinâmico, sendo alterado por meio de intervenções terapêuticas.
1) Risco Cardiovascular em pacientes sem tratamento hipolipemiantes
a) Risco muito alto
• Indivíduos que apresentam doença aterosclerótica significativa, com ou sem evento clínico.
• Obstrução > 50% em qualquer leito arterial
b) Alto risco
• Portadores de aterosclerose na forma subclínica documentada por metodologia diagnóstica:
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o USG de carótidas com presença de placa
o Índice Tornozelo-Braquial (ITB) < 0,9
o Escore de Cálcio Arterial Coronariano (CAC) > 100
o Presença de placas ateroscleróticas na angiotomografia de coronárias (angio-CT)
o Aneurisma de aorta abdominal
o Doença renal crônica definida por Taxa de Filtração Glomerular (TFG < 60 ml/min), e em fase
não dialítica
o Aqueles com concentrações de LDLc > 190 mg/dL
o Presença de DM tipos 1 ou 2, e com LDLc entre 70 a 189 mg/dL e presença de estratificadores
de risco ou doença aterosclerótica subclínica.
c) Risco intermediário
• Indivíduos com ERG entre 5 e 20% no sexo masculino e entre 5 e 10% no sexo feminino, ou diabéticos
sem os risco de DASC ou ER listados.
d) Baixo risco
• Pacientes do sexo masculino e feminino com risco em 10 anos < 5%, calculado pela ERG
2) Risco em pacientes em uso de estatina
• Indivíduos sob terapia hipolipemiante não podem ter sua estratificação de risco e determinação de metas
estabelecidas.
• Em pacientes em uso de estatina, para o cálculo do ERG, deve-se multiplicar o colesterol total por
1,43, porém, por ser uma estimativa, tem limitações (subestimar o CT basal em pacientes usando
estatinas potentes ou em doses altas)
• A diretriz recomenda que mesmo que o valor absoluto de LDL-c alcançado seja muito menor do que a
meta atual preconizada pelo escore de risco global, a dose e a intensidade de tratamento não devem
sofrer modificações.
3) Metas terapêuticas absolutas e redução porcentual
a) LDL-c
• O colesterol plasmático elevado é um dos principais fatores de risco modificáveis para doença
cardiovascular (DAC e AVCi). Esses estão relacionados principalmente a níveis elevados de LDL-c.
• A recomendação é que a redução de LDL-c seja uma meta primária, enquanto a HDL-c seja uma
meta secundária, de acordo com o risco cardiovascular.
• Os regimes terapêuticos são classificados de acordo com sua intensidade em reduzir o percentual de
LDL-c
o Risco muito alto – LDLc < 50 mg/dL (sinvastatina + ezetimiba)
o Risco alto – LDLc < 70 mg/dL (estatina de alta intensidade sempre que tolerável é a de
escolha; sinvastatina + ezetimiba)
o Risco intermediário – LDLc < 100 mg/dL (estatina de intensidade moderada)
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o Risco baixo – LDLc < 130 mg/dL (tratamento não medicamentoso, ou medicamentoso naqueles
com LDL-c persistentemente acima de 160 mg/dL)

b) Não HDLc
• A meta deve ser de 30 mg/dL acima da meta para o LDLc. Por exemplo, no risco muito alto, a meta
deve ser < 80 mg/dL.
c) HDL-c, triglicérides e outras variáveis
• Atualmente, não são propostas metas para o HDL-c e não se recomenda tratamento medicamentoso
visando a elevação desses.
• Considera-se que pacientes com TG > 500 mg/dL devem receber terapia apropriada para redução do
risco de pancreatite.
• Em relação a outras variáveis (apolipoproteínas), não se recomenda metas específicas.

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