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UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO

INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE


DEPARTAMENTO DE ANALÍSES CLÍNICAS E SAÚDE PÚBLICA

BIOQUÍMICA CLÍNICA

AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA DA DISLIPIDEMIA

DOCENTE

__________________________

EUCLIDES SACOMBOIO, PhD

LUANDA, FEVEREIRO DE 2021.


UNIVERSIDADE AGOSTINHO NETO
INSTITUTO SUPERIOR DE CIÊNCIAS DA SAÚDE
DEPARTAMENTO DE ANALÍSES CLÍNICAS E SAÚDE PÚBLICA

BIOQUÍMICA CLÍNICA

AVALIAÇÃO BIOQUÍMICA DA DISLIPIDEMIA

DOCENTE

__________________________

EUCLIDES SACOMBOIO, PhD

LUANDA, FEVEREIRO DE 2021.


Disciplina: BIOQUÍMICA CLÍNICA
Tema: Avaliação Bioquímica da Dislipidemia
3º Ano
Sala: 12
Turno: Diurno
Grupo nº 4

INTEGRANTES DO GRUPO
 Joel N. Luyeye
 Junelma C. Júnior
 Manuel F.D. César
 Móises E. Cawele
 Nelson S. André
 Teixeira E. Joaquim

Docente: Euclides Sacomboio, PhD


Professor Assistente: Orlando Hungulo, Lic.

LUANDA, FEVEREIRO DE 2021.


DEDICATÓRIA

Dedicamos este trabalho aos nossos colegas.


IV
AGRADECIMENTOS
Os nossos agradecimentos vão acima de tudo a Deus, por nos iluminar, proteger e guiar
durante as nossas longas trajetórias; em segundo lugar ao professor Euclides Sacomboio e ao
Professor assistente Orlando Hungulo, pela oportunidade que nos deu para fazermos a apresentação
do nosso trabalho; aos nossos queridos parentes, por nos apoiarem psicológica, emocional e
financeiramente, e a todos que de forma directa ou indirecta, contribuíram para a realização deste
trabalho.

V
EPÍGRAFE

A decepção é um remédio amargo, mas ajuda evitar doenças


graves no coração.
Tami

VI
LISTA DE ABREVIATURAS

AG – Ácidos Graxos.
Apo – Apolipoproteínas.
ATP – Adenosina Trifosfato.
CH – Carbono e Hidrogénio.
CT – Colesterol Total.
CV – Coeficiente de Variação.
DCV – Doenças Cardiovasculares.
EAS – European Atherosclerosis Society.
EFLM – European Federation of Clinical Chemistry and Laboratory Medicine.
FAP – Fatores Ativadores de Plaquetas.
g/l – gramas por litro.
HDL – high density lipoprotein /lipoproteína de alta densidade.
IDL – intermediary density lipoprotein/lipoproteína de densidade intermediária.
LDL – low density lipoprotein/ lipoproteína de baixa densidade.
MALDI-TOF – Matrix-Assisted Laser Desorption/Ionization Time-of-Flight.
mg/dl – miligramas por decilitro.
TG – Trigliceridos.
PGI2 – Prostaglandina 2.
POCT – Point-of-Care Testing.
TLR – Teste Laboratorial Remoto.
VLDL – very low density lipoprotein / lipoproteína de muito baixa densidade.

VII
SUMÁRIO
1. Introdução................................................................................................................................. 1

2. Objectivos................................................................................................................................. 2

2.1. Objectivo geral .................................................................................................................. 2

2.2. Objectivos especifícos ...................................................................................................... 2

3. Fundamentação teórica ............................................................................................................. 3

3.1. Lipoproteínas - estrutura e função .................................................................................... 3

3.2. Dislipidemias .................................................................................................................... 9

3.2.1. Classificação das dislipidemias ............................................................................... 10

3.2.2. Principais manifestações clínicas ............................................................................ 12

3.2.3. Fatores de risco associados com dislipidemias........................................................ 12

3.2.4. Avaliação laboratorial dos parâmetros lipídicos ..................................................... 13

3.2.5. Tratamento das dislipidemias .................................................................................. 18

4. Conclusão ............................................................................................................................... 21

5. Referências bibliográficas ...................................................................................................... 22

VIII
1. INTRODUÇÃO

Neste trabalho de pesquisa bibliográfica solicitado pelo docente Euclides Sacomboio, na


cadeira de Bioquímica Clínica, foi-nos incumbida a responsabilidade de abordar a Avaliação
Bioquímica da Dislipidemia.

As dislipidemias são consideradas um problema de saúde em nível mundial, tendo em conta


sua relação com o desenvolvimento de doença arterial coronária com predomínio de acidente
vascular cerebral e cardiovasculares, sendo estas causas importantes de morte e incapacidade.

No presente trabalho apresentaremos concretamente o conceito, a classificação, a avaliação


laboratorial e tratamento da dislipidemia.

1
2. OBJECTIVOS
2.1. OBJECTIVO GERAL
 Abordar acerca da avaliação Bioquímica das Dislipidemias.

2.2. OBJECTIVOS ESPECIFÍCOS


 Descrever o metabolismo das lipoproteínas;
 Classificar os tipos de dislipidemia;
 Explicar a avaliação laboratorial dos parâmetros lipídicos.

2
3. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Os lipídios são moléculas formadas por ligações carbono-hidrogênio (C-H) não polares,
que após hidrólise formam moléculas de ácidos graxos e/ou álcoois complexos, sendo
transportados na forma de lipoproteínas (SCHIAVO, 2003 apud SERENINI, 2016)1.

Os lipídios são insolúveis em água e solúveis em solventes apolares com grande


importância fisiológica por participarem como emulsificantes na digestão, constituintes das
membranas celulares, hormônios, manutenção do gradiente eletroquímico, como fonte energética,
da sinalização celular e ainda na ancoragem proteica (WATSON, 2006 apud SERENINI, 2016)2.

Além da manutenção eletroquímica por serem componentes estruturais de membrana, os


lipídios destacam-se pela mediação da transdução de sinal que pode ser exemplificada pelo
processo de metabolização do ácido araquidônico, por ação enzimática, formando mediadores
lipídicos eicosanóides como as prostaglandinas, leucotrienos, lipoxinas, ácidos
epoxieicosatrienoico e tromboxanos (IDEM).

E, ainda com importância fisiológica, especialmente em processos inflamatórios, os lipídios


participam dos fatores ativadores de plaquetas (FAP), considerados os primeiros fosfolípides
“intactos” relacionados com ação mensageira (PRESCOTT, 2000 apud SERENINI, 2016)3.

3.1. LIPOPROTEÍNAS - ESTRUTURA E FUNÇÃO


As lipoproteínas são macromoléculas plasmáticas transportadoras e solubilizadas de
lipídeos endógenos (sintetizados no fígado) e exógenos (absorvidos no intestino). Tipicamente
esféricas, apresentam na região central, triglicerídeos e ésteres de colesterol (lipídios neutros não
polares), na região mais externa fosfolipídios e colesterol livre (lipídeos anfipáticos mais polares)

1 . SCHIAVO, M. et. al. Influência da dieta na concentração sérica de triglicerídeos. J Bras Patol Med Lab, Rio de janeiro, v. 39, n.
4, p. 283-288, 2003.
2 WATSON, A. D.; Lipidomics: A Global Approach to Lipid Analysis in Biological Systems, Journal of Lipid Research, Los

Angeles, Ago. 2006.


3 PRESCOTT, M. et.al.; Platelet-activating fator and related lipid mediator. Ann Rev Biochem, Salt Lake City, v. 69, p. 419-445,

2000.
3
e na superfície uma ou mais proteínas específicas denominadas apolipoproteínas (apo) (XAVIER,
2013 apud SERENINI, 2016)4.

Os componentes proteicos das lipoproteínas (apolipoproteínas) permitem a integridade da


molécula, controlam atividades enzimáticas e atuam como ligantes no processo de captura das
lipoproteínas no nível de superfície celular (BURITIS; ASHOOD; BRUNS, 2008 apud SERENINI,
2016)5.
Cada lipoproteína apresenta um percentual diferente de proteína e lipídeo, o que interfere
na sua densidade e assim possibilita sua separação e categorização. Podem ser divididas em seis
grupos: quilomícrons, lipoproteína de muito baixa densidade ou very low density lipoprotein
(VLDL), lipoproteína de baixa densidade ou low density lipoprotein (LDL), lipoproteína de
densidade intermediária ou intermediary density lipoprotein (IDL), lipoproteína de alta densidade
ou high density lipoprotein (HDL) e lipoproteína (a), sendo os quilomícrons e as VLDL ricas em
triglicérides, maiores e menos densas, e as LDL e HDL ricas em colesterol (XAVIER, 2013 apud
SERENINI, 2016)6.

Os quilomícrons são lipoproteínas transportadoras dos lípides provenientes da dieta,


absorvidos no intestino delgado após hidrólise promovida por lipases pancreáticas. São esféricos e
apresentam na região central os triglicérides, correspondendo a aproximadamente 90% do seu peso,
recobertos por uma monocamada de fosfolípides. A porção de colesterol permanece entre 1 a 2%
do peso de acordo com a dieta ingerida, não impactando de forma significativa nos valores de
níveis séricos de colesterol pós-prandial.

A VLDL é uma lipoproteína rica em triglicerídeos que apresenta como principal


apolipoproteína a apolipoproteína B 100 (apoB-100). Tem efeito aterogênico tornando a
hipertrigliceridemia um fator de risco independente para doenças coronarianas já que contribui para
sustentação das partículas de VLDL. O tamanho da partícula de VLDL é dependente do

4 XAVIER H. T., et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.
Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 101, p.1-22, 2013.
5 11. BURITIS, C. A.; ASHOOD, E. R.; BRUNS, D. E; Tietz, Fundamentos de química clínica, 6ªed. , Rio de Janeiro, Elsevier,

2008.
6 XAVIER H. T., et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.

Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 101, p.1-22, 2013.


4
fornecimento de triglicerídeos pelo fígado, sendo maior no consumo excessivo de álcool, obesos e
em pacientes com diabetes mellitus tipo 2 (SCHIAVO, 2003 apud SERENINI, 2016)7.

A LDL tem em sua estrutura apenas a apoB-100 e uma pequena porção de TG, sendo
constituída principalmente por colesterol e conta com receptores específicos (LDL-R) para sua
captura por células hepáticas e periféricas. A expressão de tais receptores interfere diretamente nos
níveis plasmáticos do colesterol, sendo a expressão maior, com a redução do colesterol intracelular.

A colesterolemia também depende da atividade da enzima HMG-CoA redutase. O aumento


dos níveis plasmáticos de LDL pode estar associado à dieta rica em gorduras, aumento da síntese
endógena ou redução do catabolismo hepático da molécula que está associada a uma alteração
quantitativa ou qualitativa dos receptores por alteração gênica (CAMACHO, et al 2007 apud
SERENINI, 2016)8.

A forma oxidada da LDL está associada ao início da aterosclerose. Uma vez oxidada, torna-
se um agente quimiotático para monócitos, sendo mais facilmente captada por receptores de
macrófagos que se transformam em células espumosas e estimulam o processo inflamatório na
parede dos vasos. Estas são tóxicas para as células endoteliais e promovem a sua vasoconstrição
por inativação dos efeitos do óxido nítrico (NO), ativam as plaquetas e também estimulam a
multiplicação de células musculares lisas (LIMA & COUTO, 2006 apud SERENINI, 2016)9.

Uma das ferramentas para mensuração dos níveis séricos de LDL é a equação de
Friedwald: LDL = CT – (HDL + TG/5), sendo categorizados como ótimo, desejável, limítrofe,
alto e muito alto, os valores de 99 mg/dL, 100 a 129 mg/dL, 130 a 159 mg/dL, 160 a 189 mg/dL e
acima de 190 mg/dL, respectivamente.

A IDL é formada a partir da hidrólise da molécula de VLDL e origina a LDL. O HDL


apresenta duas das principais apolipoproteínas, a apoA-I e apoA-II que envolvem o núcleo lipídico

7 SCHIAVO, M. et. al. Influência da dieta na concentração sérica de triglicerídeos. J Bras Patol Med Lab, Rio de janeiro, v. 39, n.
4, p. 283-288, 2003.
8 CAMACHO, C. R.C et al. Aterosclerose, uma resposta inflamatória. Arq Ciênc Saúde, Botucatu, v. 14, n. 1, p. 41-48, 2007.
9 24. LIMA, E. S. & COUTO, R. D. Estrutura, metabolismo e funções fisiológicas da lipoproteína de alta densidade. J Bras Patol

Med Lab, Manaus, v. 42, n. 3, p. 169-178, Jun. 2006.


5
de ésteres de colesterol, colesterol não-esterificado e triacilglicerídeos em menor quantidade
(NOVAK e BYDLOWSKI, 1996 apud SERENINI,2016)10.

As apolipoproteínas envolvem o núcleo juntamente com os fosfolipídios e colesterol não


esterificado. Pode ser considerado um fator de risco independente para as doenças cardiovasculares
quando em níveis plasmáticos reduzidos e por ter papel antiaterogênico principalmente com sua
participação no transporte reverso do colesterol, ou seja, retorno do colesterol de tecidos extra-
hepáticos para o fígado (LIMA & COUTO, 2006 apud SERENINI, 2016)11.

Além disso, o HDL participa na proteção endotelial por meio da inibição do estresse
oxidativo, da expressão de moléculas de adesão celular, da ativação leucócitária, produção de NO
e coagulação. Seu efeito protetor também está relacionado com a capacidade de reduzir a oxidação
da LDL, gatilho para o processo de aterosclerose. Receptores SR-B1 captam o colesterol do HDL
levando-o até o fígado. O HDL, em concentrações fisiológicas, estimula a produção de
prostaglandina (PGI2), sendo essa produção dependente da enzima ciclooxigenase. As
prostaglandinas favorecem grande parte dos eventos protetores do vaso como a vasodilatação,
redução na ativação plaquetária e liberação de fatores de crescimento responsáveis pela
proliferação de células musculares lisas (IDEM).

3.1.1. Apolipoproteínas
Apolipoproteínas (apo) é um termo que denomina o componente proteico das lipoproteínas
sendo classificadas em apo A (apoA-I, apoA-II e apoA-IV), apo B (apoB-100 e apoB-48), apo C
(apoC-I, apoC-II, apoC-III) e apo E. As apolipoproteínas possuem papéis fisiológicos importantes
por participarem do metabolismo das lipoproteínas formando partículas lipoprotéicas, apoB-100 e
apoB48, por se ligarem em receptores de membranas, apoB-100 e apoE, e por atuarem como
cofatores enzimáticos, apoC-II, apoC-III e apoA-I. As apo B e A representam de forma mais
fidedigna as placas aterogênicas e não aterogênicas uma vez que a apo B é a principal
apolipoproteína constituinte das VLDL, IDL e LDL e a apo A o principal constituinte do HDL
(IDEM).

10 NOVAK, E. M.; BYDLOWSKI, S. P. Biologia Molecular das dislipidemias. Variação Genética das apolipoproteínas. Arq Bras
Cardiol, São Paulo, v. 67, n. 6, 1996.
11 LIMA, E. S. & COUTO, R. D. Estrutura, metabolismo e funções fisiológicas da lipoproteína de alta densidade. J Bras Patol Med

Lab, Manaus, v. 42, n. 3, p. 169-178, Jun. 2006.


6
A forma mais representativa da apo A é a apo A-I, que é sintetizada no fígado e intestino e
esta relacionada com o transporte reverso do colesterol por facilitar o funcionamento do ABcA-I
(ATP binding cassette transporter A1), uma proteína específica que participa do processo de
transformação da apolipoproteína em HDL discoide e também por atuar como cofator para a LCAT
que esterifica o colesterol transferido para as partículas discoides (FORTI e DIAMENT, 2007 apud
SERENINI, 2016)12.

Níveis plasmáticos diminuídos de apoA-I e HDL estão associados ao aumento do risco para
doenças cardiovasculares, e a diminuição das concentrações destes marcadores pode estar
associada a uma mutação no gene da apoA-I que leva a uma deficiência da molécula de HDL (26).
Até o momento, a mensuração sérica das concentrações de apoA, faz-se somente pela determinação
da apoA-I, e não pela determinação de todas categorias de apoA e, os valores desejados para
mulheres devem ser maiores que 1,15 g/L e para os homens que 1,25 g/L (28). A apoB é o principal
componente da LDL (26), apresenta-se como apoB-48 e apoB-100, sendo a primeira sintetizada no
intestino e encontrada principalmente nos quilomícrons e seus remanescentes e, por não estar
presente na VLDL, é um bom marcador de QM plasmáticos (IDEM).

Estrutura da lipoproteína.
Fonte: docplayer.com.br

1228. FORTI, N.; DIAMENT, J. Apolipoproteínas B e A-I: fatores de risco cardiovascular?. Rev. Assoc. Med. Bras., São Paulo, v.
53, n. 3, p. 276-282, Jun. 2007.
7
3.1.2. Metabolismo das lipoproteínas

O metabolismo das lipoproteínas pode ser exógeno (intestinal) ou endógeno (hepático). A


via exógena, que ocorre após o processo de absorção, é caracterizada pelo transporte do intestino
para o fígado, enquanto a via endógena representa o transporte das lipoproteínas sintetizadas nos
hepatócitos, do fígado para os tecidos periféricos, assim como dos adipócitos para os tecidos
periféricos (AZ, 2006 apud SERANINI, 2016)13.

A via exógena inicia-se com a atuação das lipases pancreáticas que hidrolisam e
emulsificam os lipídeos. A lipase lipoproteica localizada no endotélio de capilares do tecido
muscular e adiposo hidrolisa os quilomícrons circulantes, anteriormente produzidos nos enterócitos
e os TG que os compõe produzindo AG e gliceróis, sendo os AG resultantes dessa lipólise
utilizados pelos tecidos periféricos ou armazenados nos adipócitos (IDEM).

O fígado complementa esse processo capturando quilomícrons e AG remanescentes, ou


seja, quilomícrons com teor de TG reduzidos, para formação do VLDL (7,32). A captação dos
remanescentes de quilomícrons nos hepatócitos ocorre com auxílio dos receptores de LDL que,
além de participarem da remoção desses, também estão envolvidos na remoção da IDL e de LDL
(IBIDEM).

A via endógena é caracterizada pela síntese hepática, fase não relacionada com a absorção.
Nessa via os AG livres são transportados dos adipócitos para os tecidos periféricos principalmente
pela albumina e, então, tornam-se fonte de energia após processo de oxidação (32). A síntese
hepática de VLDL é dependente da ação da proteína de transferência de triglicérides microssomal
que transfere os TG para a apolipoproteína B. A lipase lipoproteica hidrolisa os TG das VLDL que
se transformam em remanescentes sendo removidos pelo fígado para formar IDL e, posteriormente,
as LDL (XAVIER, 2013 apud SERENINI, 2016)14.

O equilíbrio dos níveis séricos de colesterol é determinado por fonte exógena e síntese
hepática, sendo o passo limitante a enzima HMG-CoA redutase, fundamental na síntese do

13 AZ, Juliana dos Santos et al.. Ácidos graxos como marcadores biológicos da ingestão de gorduras. Rev. Nutr., Campinas, v. 19,
n. 4, p. 489-500, Ago. 2006.
14 XAVIER H. T., et al. Sociedade Brasileira de Cardiologia. V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.

Arquivos Brasileiros de Cardiologia, v. 101, p.1-22, 2013.


8
colesterol e importante alvo terapêutico. O funcionamento dos receptores hepáticos responsáveis
pelo clearance das lipoproteínas e também pelo transporte reverso do colesterol é um processo pelo
qual o colesterol dos tecidos periféricos é removido por receptores de lipoproteínas, como a
lipoproteína de alta densidade (ZHANG, H. et.al 2014 apud SERENINI, 2016)15.

3.2. DISLIPIDEMIAS

As dislipidemias são consideradas um problema de saúde em nível mundial, tendo em conta


sua relação com o desenvolvimento de doença arterial coronária com predomínio de acidente
vascular cerebral e cardiovasculares, sendo estas causas importantes de morte e incapacidade. Este
transtorno metabólico ocorre quando os níveis circulantes de lipídios estão aumentados na
circulação sanguínea (BEVILACQUA, et al., 2007 apud AGUILERA, 2016)16.

Este problema de saúde pode ser causa de alteração arterial, gerando complicações,
principalmente em pacientes adultos, sendo na prática diária motivo de consultas em especialidades
como cardiologia, endocrinologia, geriatria e também em pediatras. O tratamento visa em prevenir
as complicações, sempre incluindo a adequação de estilos de vida (BERTOLAMI, 2014 apud
AGUILERA, 2016)17.

As dislipidemias são consideradas como o aumento dos lípidos no sangue, acima de seus
valores de referência estabelecidos (FERNANDES,2011 apud AGUILERA, 2016)18.

O desenvolvimento da aterosclerose tem estreita relação com as dislipidemias e outros


fatores de risco, como são o tabagismo. A aterogênese se inicia por agressão do endotélio vascular
das artérias de médio e grande calibre e se relata que um evento coronário agudo é a primeira
manifestação que ocorre como resultado da aterosclerose (XAVIER, 2013 apud AGUILERA,
2016)19.

15 ZHANG, H. et.al., Cholesterol and lipoprotein metabolism, Arteioscler Tromb Vasc Biol, Pennsylvania, v. 34, p. 1791-1794,
2014.
16
BEVILACQUA, M. R. et al. Hiperlipidemias e fatores dietéticos: estudo transversal entre nipo-brasileiros. Arq. Bras. Endocrinol.
Metab, São Paulo, v. 51, n. 4, p. 547- 558, Junho 2007.
17
BERTOLAMI, A.; BERTOLAMI, M. C. Dislipidemias / Dyslipidemias. Revista Brasileira de Medicina;71(12), dez. 2014.
18
Fernandes, R. A. Prevalência de dislipidemia em indivíduos fisicamente ativos durante a infância, adolescência e idade adulta.
Arq. Bras. Cardiol. vol.97 no.4 São Paulo Oct. 2011 Epub Aug 05, 2011.
19 XAVIER, H. T. et al .V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.

9
A DAC é considerada a principal causa de morte no Brasil, existem evidencias de que o
colesterol elevado é considerado o principal fator de risco modificável, fundamentalmente a
redução de LDL-c através de mudanças de estilo de vida e tratamento farmacológico, tendo isto
uma boa repercussão na redução de eventos coronários agudos (XAVIER, 2013 apud AGUILERA,
2016)20.
As dislipidemias têm várias classificações, mas na prática médica as mais utilizadas são de
acordo a sua etiologia e classificação laboratorial. De acordo a sua etiologia podem ser primárias e
secundárias, sendo as primárias originadas por distúrbios lipídicos de origem genético e as
secundárias são causadas por estilos de vida inadequados, doenças e medicamentos
(BERTOLAMI, 2014 apud AGUILERA, 2016)21.

Dentre as doenças e medicamentos mais frequentes associadas como causa secundaria de


dislipidemia estão o hipotireoidismo, hepatopatias, insuficiência renal, diabetes mellitus
descontrolada, e o uso de medicamentos tais como diuréticos, corticoides, imunossupressores,
antirretrovirais (IZAR, 2011 apud AGUILERA, 2016)22.

3.2.1. Classificação das Dislipidemias

As dislipidemias podem ser classificadas em hiperlipidemias (níveis elevados de


lipoproteínas) e hipolipidemias (níveis plasmáticos de lipoproteínas baixos). Várias são as
classificações propostas, dentre as mais importantes temos as que se seguem (CARDIOLOGIA,
2017).

3.2.1.1. Classificação etiológica

Tanto as hiper quanto as hipolipidemias podem ter causas primárias ou secundárias


(CARDIOLOGIA, 2017):

Causas primárias: são aquelas nas quais o distúrbio lipídico é de origem genética.

20 XAVIER, H. T. et al .V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.


21
BERTOLAMI, A.; BERTOLAMI, M. C. Dislipidemias / Dyslipidemias. Revista Brasileira de Medicina;71(12), dez. 2014.
22 IZAR, M. C de O; Fonseca, M. I. H; Fonseca, F. A H. Dislipidemias / Dyslipidemias. Rev Bras Med; 68(12)dez. 2011 .
10
Causas secundárias: a dislipidemia é decorrente de estilo de vida inadequado, de certas condições
mórbidas, ou de medicamentos (IDEM).

3.2.1.2. Classificação laboratorial

A classificação laboratorial das dislipidemias nesta atualização sofreu modificações, e os


valores referenciais e os alvos terapêuticos foram determinados de acordo com o risco
cardiovascular individual e com o estado alimentar. As dislipidemias podem ser classificadas de
acordo com a fração lipídica alterada em (CARDIOLOGIA, 2017):

 Hipercolesterolemia isolada: aumento isolado do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dL). •


Hipertrigliceridemia isolada: aumento isolado dos triglicérides (TG ≥ 150 mg/dL ou ≥ 175
mg/dL, se a amostra for obtida sem jejum).
 Hiperlipidemia mista: aumento do LDL-c (LDL-c ≥ 160 mg/dL) e dos TG (TG ≥ 150 mg/dL
ou ≥ 175 mg/ dL, se a amostra for obtida sem jejum). Se TG ≥ 400 mg/dL, o cálculo do LDL-
c pela fórmula de Friedewald é inadequado, devendo-se considerar a hiperlipidemia mista
quando o não HDL-c ≥ 190 mg/dL.
 HDL-c baixo: redução do HDL-c (homens < 40 mg/dL e mulheres < 50 mg/dL) isolada ou em
associação ao aumento de LDL-c ou de TG.

3.2.1.3. Classificação fenotípica (Fredrickson)

A classificação proposta por Fredrickson é baseada nos padrões de lipoproteínas associados


a concentrações elevadas de colesterol e/ou TG, não sendo considerado o HDL-c. A classificação
de Fredrickson tem por base a separação eletroforética e/ou por ultracentrifugação das frações
lipoproteicas, distinguindo-se seis tipos. Embora se reconheça a grande contribuição desta
classificação, ela é hoje muito pouco utilizada, pois pouco colabora para o conhecimento da
etiologia (exceto na disbetalipoproteinemia) ou da decisão terapêutica (CARDIOLOGIA, 2017).

3.2.1.4. Dislipidemias de forte componente genético

A biologia molecular acrescentou um vasto campo de conhecimento no metabolismo


lipídico. Atualmente, foi facilitada a compreensão da influência genética na interação entre

11
lipoproteínas e receptores e na expressão de diversas enzimas. Os principais tipos de dislipidemias
com forte componente genético serão apresentados em situações especiais.

3.2.2. Principais manifestações clínicas

A dislipidemia não sempre tem sinais clínicos, mas na literatura se relata que pode ocorrer
presença de xantomas nas pálpebras, xantomas eruptivos e tuberosos, tendíneos, estrias de cor
alaranjada localizadas na palma das mãos, o arco corneano, alterações retiniana. Também se
descreve que a pancreatite pode ser uma complicação das dislipidemias (IZAR, 2011 apud
AGUILERA, 2016)23.

3.2.3. Fatores de risco associados com dislipidemias

O tabagismo, a pressão arterial elevada, glicemia elevada e a obesidade tem uma estreita
relação com o desenvolvimento de transtornos do metabolismo lipídico, se considerou também sua
relação com o consumo de alimentos ricos em gordura animal, embutidos, frituras e ovos. Neste
estudo a idade e o sexo também foram considerados fatores de risco (MIRANDA, 2010 apud
AGUILERA, 2016)24.

Outros estudos também associam a prevalência de dislipidemia em crianças e adolescentes


com o sobrepeso, a obesidade e prática deficiente de exercício físico e sugerem para enfrentar este
problema, fazer intervenção terapêutica, mudanças de estilo de vida e controle do peso corporal
(CÉZANE, 2016 apud AGUILERA, 2016)25.

Num estudo feito por Lidia (2015) também demostrou a relação das Hiperlipidemias com
o sobrepeso e a obesidade, a relação direta que existe com a idade, sem diferença entre os sexos,
não estando bem estabelecido na literatura a diferença entre gêneros. Também este estudo
demostrou o efeito positivo do consumo regular de feijão (ou seja, cinco dias o mais por semana)
com a diminuição da prevalência deste transtorno lipídico. Outro estudo feito em Ribeirão Preto
concluiu a importância de políticas públicas de intervenção, encaminhadas a mudanças de estilo de

23 IZAR, M. C de O; Fonseca, M. I. H; Fonseca, F. A H. Dislipidemias / Dyslipidemias. Rev Bras Med; 68(12)dez. 2011 .
24 Miranda, T. V.de et al. Análise dos fatores associados à dislipidemia / Analysis of factors associated with dyslipidemia. Rev.
para. med; 24(3/4) jul. Dez. 2010.
25 CÉZANE, P. R.et al. Dislipidemia Associa-se com Falta de Aptidão e SobrepesoObesidade em Crianças e Adolescentes. Arq.

Bras. Cardiol. vol.106 no. 3 São Paulo Mar. 2016 Epub Feb 16, 2016.
12
vida (alimentação 20 saudável e prática de exercício físico) o controle da obesidade e sobrepeso
para reduzir a prevalência de dislipidemia (MORAES, 2013 apud AGUILERA, 2016)26.

3.2.4. Avaliação Laboratorial dos Parâmetros Lipídicos

Os lípidos circulam na corrente sanguínea ligados a proteínas específicas formando


complexos denominadas lipoproteínas. O conteúdo de proteínas e de lípidos nestes complexos faz
com que eles assumam características de flutuação em gradientes de densidade específica da
mesma forma, possuem mobilidade eletroforética própria e expressões de determinantes
antigênicos específicos (CARDIOLOGIA, 2017).

A acurácia na determinação das lipoproteínas pode ser determinada principalmente por


duas fases no processo laboratorial: a fase pré-analítica, relacionada a procedimentos de coleta,
preparo da amostra ou a fatores intrínsecos do indivíduo, como estilo de vida, uso de medicações
e doenças associadas; e a analítica, relacionada aos métodos e procedimentos utilizados pelos
laboratórios (IDEM).

3.2.4.1. Fase pré-analítica

Nesta fase, encontram-se todos os procedimentos realizados antes da amostra do paciente


ser processada pelos equipamentos nos laboratórios, com seus respectivos métodos descritos
anteriormente. Variação biológica: as lipoproteínas podem sofrer alterações ao longo do tempo,
caracterizadas como variação biológica intra-individual. Estas variações podem ser expressas pelo
Coeficiente de Variação (CV). Para Colesterol Total (CT), HDL-c e LDL-c, é cerca de 10% e, para
os TG, cerca de 25%.22 Uso do torniquete na punção venosa: após 1 minuto de torniquete, pode
haver hemoconcentração e, com relação ao perfil lipídico, ocorrer aumento de cerca de 5% no CT.
Este efeito pode chegar a 10 a 15% com duração superior a 5 minutos. Visando minimizar o “efeito
torniquete”, este deve ser desfeito tão logo a agulha penetre na veia (CARDIOLOGIA, 2017).

 Condições de preparo do paciente para a coleta

No preparo do paciente para a realização das dosagens do perfil lipídico, recomenda-se


manter o estado metabólico estável e a dieta habitual. O jejum não é necessário para realização do

26MORAES, S. A.; Checchio, M. V; Freitas I. C. M. Dislipidemia e fatores associados em adultos residentes em Ribeirão Preto,
SP. Resultados do Projeto EPIDCV. Arq. Bras. Endocrinol. Metab. vol.57 no.9 São Paulo Dec. 2013.
13
CT, HDL-c e Apolipoproteínas (ApoAI e ApoB), pois o estado pós-prandial não interfere na
concentração destas partículas (IDEM).

Vale ressaltar que o período de jejum de 12 horas não representa nosso estado metabólico
normal, pois não ficamos constantemente neste tempo sem nos alimentar. Como já está bem
sedimentado na literatura, valores aumentados de triglicerídeos no pós-prandial representam um
maior risco para eventos cardiovasculares (IBIDEM).

Alguns autores anteciparam que o fim do jejum para o perfil lipídico seria indicado para a
rotina laboratorial. Duas publicações em 2016 recomendaram o fim do jejum para o perfil lipídico:
o consenso da European Atherosclerosis Society (EAS) e da European Federation of Clinical
Chemistry and Laboratory Medicine (EFLM) e outra publicação americana. Esta quebra de
paradigma traz para a rotina o estado metabólico habitual dos pacientes. A concentração de TG
sofre um incremento nesta mudança e, como descrito anteriormente, a elevação dos triglicerídeos
no estado pós-prandial é indicativa de maior risco cardiovascular. Pacientes idosos, diabéticos,
gestantes e crianças devem se beneficiar do fim do jejum, evitando hipoglicemias secundárias ao
jejum prolongado (CARDIOLOGIA, 2017).

Os laboratórios devem adequar seus procedimentos, incluindo a flexibilização do tempo de


jejum, respeitando sempre a orientação do médico solicitante. O laboratório deve informar no laudo
as duas diferentes situações: sem jejum e jejum de 12 horas, de acordo com o critério do médico
solicitante.

3.2.4.2. Fase analítica

Existem vários métodos disponíveis e utilizados na rotina dos laboratórios clínicos, mas
alguns ainda são restritos à pesquisa. A ultracentrifugação é o método de referência para a
separação das diferentes lipoproteínas, sendo sua classificação derivada deste método. Ela se baseia
na propriedade de flutuação das partículas em relação às suas densidades de equilíbrio em campo
gravitacional intenso. Por ultracentrifugação, é possível separar grande parte das lipoproteínas:
LDL, IDL, Lp(a), HDL e VLDL, além dos quilomícrons. O método, apesar de todas estas virtudes,
não é adequado à rotina laboratorial, por ser muito caro e moroso. Assim, é restrito a protocolos de
pesquisa.33 A espectroscopia por ressonância magnética e a espectrometria de massas com a
técnica de MALDI-TOF (Matrix-Assisted Laser Desorption/Ionization Time-of-Flight) são
14
métodos também restritos à pesquisa, que podem ser utilizados para mensuração das
lipoproteínas.34-36

A eletroforese se baseia na propriedade das proteínas se tornarem carregadas negativamente


quando colocadas em meio com pH superior ao seu ponto isoelétrico, dentro de um campo elétrico.
Além da carga das proteínas, o tamanho da partícula interfere na migração. As lipoproteínas HDL,
LDL e VLDL e os quilomícrons podem ser separados eletroforeticamente em fitas de acetato de
celulose, gel agarose e gel de poliacridamida. Esta separação permite sua análise qualitativa e
semiquantitativa. A eletroforese de baixa resolução praticamente não é mais realizada nos
laboratórios clínicos, pois não consegue discriminar com precisão as diferentes lipoproteínas,
enquanto as eletroforeses de maior resolução conseguem separar diversas frações das lipoproteínas,
mas com custo elevado e pouca difusão na prática clínica.36 Os métodos enzimáticos
colorimétricos são os mais utilizados nos dias de hoje em laboratórios clínicos para a determinação
do CT, do HDL-c e dos triglicerídeos. Para o CT e os triglicerídeos, os diversos kits comerciais
apresentam boa correlação e baixo CV entre eles, podendo comparar os resultados de diferentes
laboratórios em uma mesma amostra.

Já para o HDL-c, podem-se encontrar variações de até 15% entre os métodos disponíveis.
Estes métodos constituem a melhor opção por apresentarem muito boa sensibilidade e
especificidade, simplicidade operacional, baixo custo e possibilidade de automação em
laboratórios clínicos. Para o LDL-c, existem duas opções: o cálculo ou a dosagem direta. Ainda
hoje, a maior parte dos laboratórios pelo mundo utiliza para o cálculo a fórmula de Friedewald
descrita em 1972 e que apresenta muitas limitações em sua utilização. A concentração dos
triglicerídeos deve ser menor que 400 mg/dL, e valores acima de 100 mg/ dL de TG já começam a
subestimar os valores de LDL quando comparados à ultracentrifugação. Outra limitação ao uso da
fórmula é que as amostras não devem conter beta-VLDL, característica da hiperlipoproteinemia
tipo III. Quando uma ou mais das condições anteriores não são cumpridas, a fórmula não pode ser
utilizada.

A utilização do não HDL-c também serve como parâmentro para avaliação das
dislipidemias, que pode ser obtido subtraindo o valor de HDL-c do valor de CT (não HDL-c = CT
- HDL-c). Este parâmetro pode ser utilizado na avaliação dos pacientes dislipidêmicos,
principalmente naqueles com concentrações de triglicerídeos superiores a 400 mg/dL.39
15
Os métodos de turbidimetria e nefelometria são rotineiramente utilizados para dosagem de
grande parte das proteínas plasmáticas e amplamente usados para a dosagem das apolipoproteínas.
Estes métodos apresentam boa correlação entre eles e um CV abaixo de 10%. A acurácia na
determinação dos valores do perfil lipídico é fundamental, pois os alvos terapêuticos (valores
referenciais) são os mesmos utilizados por todos os laboratórios. O treinamento do pessoal técnico,
o processamento dos controles de qualidade e a adequada calibração dos equipamentos
automatizados são fundamentais para a manutenção de elevados níveis de precisão e exatidão das
dosagens.

Microtécnica (ponta de dedo)

A utilização da metodologia de punção capilar (POCT, sigla to inglês Point-of-Care


Testing) ou Teste Laboratorial Remoto (TLR) na cardiologia tem demonstrado eficácia para
investigar as variações dos lípides no sangue. Nas dislipidemias, o início precoce do tratamento
farmacológico previne as consequências das DCV e suas intervenções clínicas, especialmente na
HF. O investimento em tecnologia dos equipamentos portáteis tornou-os mais sofisticados e
precisos, levando o paciente próximo do local dos testes, principalmente para os tratamentos
intensivos e de Atenção Primária à Saúde.40 No sistema POCT, é possível quantificar os lípides
isoladamente ou o perfil lipídico completo. Estes analisadores portáteis possibilitam avaliar o perfil
lipídico em uma única tira reagente, utilizando o sangue total de punção capilar, e o resultado é
obtido em poucos minutos.

No teste do perfil lipídico, são dosados diretamente o CT, os TG e HDL-c; o LDL-c é


calculado pela equação de Friedewald, quando TG < 400 mg/dL. Os valores obtidos permitem
estimar o não HDL-c e, como geralmente a coleta é realizada em situação pós-prandial, é
importante porque agrega a avaliação de risco para DCV. É recomendado seguir as normas de
coleta de polpa digital, de acordo com as diretrizes nacionais.

Para o perfil lipídico é indispensável a limpeza do dedo com o álcool isopropílico 70%,
para retirar resíduo de gordura natural ou de cremes cosméticos, e a pipeta calibrada, para transferir
a amostra para a tira de teste. Em geral, os dispositivos TLR podem ter maior variabilidade em
relação aos equipamentos encontrados nos laboratórios clínicos. Estas diferenças analíticas podem
ser devidas a uma combinação de variações ambientais, como temperatura, umidade, uso de uma

16
amostra de sangue total e treinamento de operadores individuais. O desempenho do sistema TRL
é considerado aceitável se o CV estiver nos valores de ± 10% (CT), ± 12% (HDL-c) e ± 15% TG.41

Para decidir qual o melhor equipamento POCT a ser utilizado, devem-se verificar a exatidão
e a precisão, realizando a validação do equipamento, sempre em comparação com um laboratório
clínico acreditado, para verificar a efetividade desta metodologia, rápida e prática.42 Avaliando as
alternativas no mercado para implantação do perfil lipídico na plataforma POCT, é vantajoso
utilizar o equipamento que possui a análise completa do perfil lipídico, incluindo o HDL-c,
viabilizando o cálculo do não HDL-c.

Este parâmetro é importante porque permite avaliar as lipoproteínas aterogênicas e o risco


de DCV. Apesar do custo do teste POCT ainda ser relevante, as vantagens para o perfil lipídico
neste sistema são várias, como nas situações de triagem da HF, em programas de saúde para
avaliação de funcionários nas empresas, quando é necessário obter amostras de comunidades
isoladas, em crianças e idosos com dificuldade para a punção venosa e outras ocorrências de risco
iminente.

Variação intraindividual

A variação intraindividual dos lipídios plasmáticos é considerável e importante,


principalmente nos pacientes que apresentam valores próximos aos limites de tomada de decisão
clínica. Esta variação pode ser de 5 a 10% para o CT e em torno de 20% para os TG − esta última
particularmente presente nos indivíduos com hipertrigliceridemia.22 Pacientes com alterações no
perfil lipídico devem ter seus exames confirmados com a coleta de uma nova amostra. Caso ainda
persista a variação, o paciente deve ser encaminhado a um serviço especializado para investigação
complementar e confirmação diagnóstica.24,25

Valores referenciais do perfil lipídico

Esta atualização sugere que os valores referenciais e de alvo terapêutico do perfil lipídico
(adultos > 20 anos) sejam apresentados de acordo com o estado metabólico que antecede a coleta
da amostra, sem jejum e com jejum de 12 horas. Assim, os valores referenciais e de alvo
terapêutico, obtidos de acordo com a avaliação de risco cardiovascular estimado pelo médico
solicitante, são apresentados na tabela 2 e devem constar dos laudos laboratoriais, em todo o

17
território nacional, para que se obtenha uniformidade no tratamento das dislipidemias.25 É
importante ressaltar que esta atualização sugere ainda a inclusão de um texto observando que
valores de CT ≥ 310 mg/dL (para adultos) ou CT ≥ 230 mg/dL (crianças e adolescentes) podem ser
indicativos de HF, se excluídas as dislipidemias secundárias.43

A HF é a mais comum entre as dislipidemias e seus portadores têm 20 vezes mais risco de
morte precoce por DCV.

3.2.5. Tratamento das dislipidemias

O tratamento das dislipidemias pode ser farmacológico e não farmacológico e tem como
objetivo evitar as complicações. O tratamento deve ser baseado na estratificação de risco
cardiovascular em cada indivíduo, por isso as intervenções terapêuticas podem ser mais e menos
agressivas. A agressividade do tratamento deve estar presente em pessoas que apresentam doença
arterial significativa ou doenças preexistentes tais como: diabetes mellitus, insuficiência renal
crônica e hipercolesterolemia familiar. Os usuários que não apresentam estas situações clínicas
mencionadas se recomenda o emprego de escore de risco global de framingham (BERTOLAMI,
2014 apud AGUILERA, 2016)27.

No caso do tratamento não farmacológico é muito importante adotar uma terapia


nutricional, sendo necessário a adesão ao tratamento e está indicado as mudanças de estilos de vida
nestes pacientes, ou seja, alimentação saudável, prática de exercícios físicos regularmente,
suspenção do tabagismo e a diminuição do estresse. Recomenda-se também a diminuição da
obesidade central (XAVIER, 2013 apud AGUILERA, 2016)28.

A prática de exercício físico pode ajudar ao controle das dislipidemias, principalmente os


exercícios aeróbicos tais como o ciclismo, as caminhadas, corridas leves (SPOSITO, 2013 apud
AGUILERA, 2016)29.

A dieta tem que ter uma composição adequada, que seja agradável ao paladar do indivíduo,
portanto a orientação nutricional é fundamental para o sucesso do tratamento (XAVIER,2013).

27
BERTOLAMI, A.; BERTOLAMI, M. C. Dislipidemias / Dyslipidemias. Revista Brasileira de Medicina;71(12), dez. 2014.
28 XAVIER, H. T. et al .V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.
29 SPOSITO, A. C. et al. IV Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.

18
Tratamento farmacológico

Dentre os medicamentos utilizados estão as estatinas, e seu efeito começa após duas
semanas de uso. Hoje são considerados medicamentos de primeira escolha para tratar a
hipercolesterolêmica isolada, estão contraindicados em pacientes com doenças hepáticas ativas ou
graves. Os comprimidos sempre devem ser ingeridos após jantar (IZAR, 2011).

A Ezetimiba é outro medicamento utilizado no tratamento que inibe a absorção de


colesterol intestinal, leva a uma diminuição dos níveis de colesterol hepático e a consequente
redução de LDL-c. Se recomenda sua adição as estatinas quando a meta de LDL-c, não melhora só
com o uso de estatinas (XAVIER, 2013 apud AGUILERA, 2016)30.

Os sequestrantes de ácidos biliares são indicados como primeira escolha na


hipercolesterolemia familiar, crianças e mulheres em idade fértil sem controle de contraceptivos e
em gestantes.

Recomenda-se o uso de ácido fólico de 5mg por dia, para evitar deficiências vitamínicas
(IZAR, 2011 apud AGUILERA, 2016)31.

Os fibratos diminuem os níveis de triglicerídeos e das VLDL em 70%. Não devem ser
utilizados em mulheres grávidas ou em aleitamento materno, também não deve ser utilizada em
pacientes com alterações da função hepática e renal. Considera-se a droga de primeira escolha no
tratamento das Hipertrigliceridemia endógena, disbetalipoproteinemias mistas (IDEM).

O ácido nicotínico e derivados também podem ser utilizados no tratamento das


dislipidemias mistas com redução do colesterol total e LDL-c, dos triglicerídeos e dos valores de
VLDL, e elevação da HDL-c (IBIDEM).

Ácidos graxos omega-3, pode ser utilizado em caso de Hipertrigliceridemia resistentes, em


associação aos fibratos e estatinas.

Nos pacientes idosos é frequente o diagnóstico de dislipidemias, de causa secundária, nestes


casos as bases do tratamento não farmacológico são as mesmas que para os adultos e jovens (dieta
e mudanças de estilos de vida) sempre tendo em conta os aportes calóricos e nutricionais que se

30 XAVIER, H. T. et al .V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.


31 IZAR, M. C de O; Fonseca, M. I. H; Fonseca, F. A H. Dislipidemias / Dyslipidemias. Rev Bras Med; 68(12)dez. 2011 .
19
precisam nesta faixa etária. Se após 90 dias de tratamento não temos resposta ao tratamento não
farmacológico, se deve iniciar o tratamento com fármacos a doses baixas e se for necessário
aumentar progressivamente a dose e ter em conta nestas idades a relação custo-benefício, avaliar
as condições sócio –econômicas do indivíduo que possibilitem manter o tratamento a longo prazo
(XAVIER, 2013 apud AGUILERA, 2016)32.

Em crianças e adolescentes: aos 2 anos de idade recomenda-se iniciar terapêutica não


farmacológica (dieta e mudanças de estilo de vida) e o controle de fatores de risco se tiveram, e o
tratamento farmacológico se recomenda se for necessário após 10 anos de idade, avaliando também
os estilos de vida, as necessidades energéticas e de vitaminas de acordo a idade e muito importante
o acompanhamento pela pediatra e nutricionista (IDEM).

32 XAVIER, H. T. et al .V Diretriz Brasileira de Dislipidemias e Prevenção da Aterosclerose.


20
4. CONCLUSÃO

Após uma breve explanação do nosso tema “avaliação bioquímica da dislipidemia”, tendo
cumprido os objectivos por nós traçados, concluimos que a dislipidemia é um transtorno
metabólico que ocorre quando os níveis circulantes de lipídios estão aumentados na circulação
sanguínea.

E que as dislipidemias são consideradas um problema de saúde em nível mundial, tendo em


conta sua relação com o desenvolvimento de doença arterial coronária com predomínio de acidente
vascular cerebral e cardiovasculares, sendo estas causas importantes de morte e incapacidade.

E que as principais classificações da dislipidemia são etiológica, laboratorial e fenotípica.

E que o metabolismo das lipoproteínas pode ser exógeno (intestinal) ou endógeno


(hepático).

E que a avaliação dos parâmetros lipídicos é feita em duas fases, pré-analítica e analítica.

21
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

AGUILERA, L. M. DISLIPIDEMIA: Construindo uma Proposta de Intervenção na Estratégia


Familiar. Pará de Minas - Minas Gerais. 2016

CARDIOLOGIA, A. B. Actualização da Diretriz Brasileira de Dislipedimias e Prevenção da


Arterosclerose. REVISTA DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE CARDIOLOGIA, 4-13. 2017

SERENINI, D. B. Avaliação dos Níveis de Lipoproteína e sua relação com parâmetros


hemostáticos em mulheres jovens e na pós-menopausa. Belo Horizonte - MG. 2016

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