Semiologia do Aparelho Digestivo
INTERROGATÓRIO SINTOMATOLÓGICO
● Disfagia > dificuldade de engolir
● Odinofagia > deglutição dolorosa (pode vir associado
disfagia + odino)
● Soluços
● Hematêmese > vômito com listras de sangue
● Pirose > sensação de queimação epigástrica (azia)
● Náuseas, vômitos
● Melena > sangramento digestivo que se manifesta
através de fezes pastosas escurecidas. Sugere
hemorragia no sistema digestório alto (acima do
ângulo de Treitz1).
● Hematoquezia > sangramento vivo nas fezes - fezes
com raios de sangue. Sangramento digestivo baixo
● Enterorragia > sangramento vivo apartado (longe) do
ato evacuatório
● Eructações > arrotos
● Flatulência
● Esteatorreia > fezes junto com gordura (p.ex. por
insuficiência pancreática exócrina), indicando problema
na digestão de gordura
○ As fezes podem ter gotas de gordura, e
tendem a pregar nas paredes do vaso
● Constipação > lentificação do ato evacuatório (tem a
ver com a frequência evacuatória normal do paciente)
● Tenesmo > dor ao evacuar
● Icterícia
● Distensão abdominal
● Cólica abdominal
● Diarreia
● Extra (Porto): alterações do apetite (hiporexia,
anorexia, perversão, compulsão alimentar)
ANTECEDENTES PATOLÓGICOS
● Observar o hábito intestinal → p.ex. paciente sempre
foi constipado e está tendo um hábito intestinal mais
frequente
1
Ângulo formado ao nível da junção entre o duodeno e o jejuno,
onde o intestino é fixo, que limita o tubo digestivo alto
● Passado de úlcera gástrica, gastrite, sangramento
digestivo
● Cirurgias prévias (paciente que chega com queixa de
desconforto abdominal, distensão abdominal ou dor,
mas, por exemplo, fez retirada na vesícula e comeu
algo gorduroso)
● Exames realizados anteriormente relacionados ao
aparelho digestivo
● Histórico de banho de rio → exposição ao
Schistosoma mansoni (pode desencadear
visceromegalias, ascite)
● História de hepatite viral ou medicamentosa
● Se conhece o barbeiro ou morou em caisa de taipa
(pode ter megacolon ou megaesofago chagásico)
● Historia de etilismo
● Tabagismo
● Passado de hemotransfusão
ANTECEDENTES FAMILIARES
● História de neoplasia do aparelho digestivo (câncer de
cólon tem maior incidência, seguido de câncer de
estômago)
○ O câncer de cólon tem associação familiar
muito significativa. A partir dos 50 anos,
devido à incidência importante de câncer de
cólon, deve-se começar uma triagem para
identificação. Se tem uma história familiar
positiva, a investigação começa mais cedo
● Patologias benignas diversas
● Tratamentos cirúrgicos ocorridos em familiares
ANAMNESE - Principais queixas e sintomas de patologias que
acometem o trato digestivo
Cavidade bucal e anexos (principais queixas)
● Dor > cáries dentárias e alterações dentárias são
mais frequentes, acompanhadas de alterações
periodontais (na gengiva)
 ● Halitose > odor desagradável percebido pelo
pacientes ou cinscunstantes
○ Causas: má higiene bucal, fermentação de
subst orgânicas, doenças gengivais e
periodontais, lesões abertas em cáries
dentárias, lesões de tecidos moles,
hemorragia ou necrose, tabagismo, ingestão
de bebidas
○ Causas não bucais:
■ Específicas: hálito cetônico (em
pacientes diabéticos em quadro de
cetoacidose importante, cheiro
adocicado ruim); fetor hepaticus
(insuficiência hepática, paciente
exala um cheiro ruim, com cheiro de
fruta podre)
■ Respiratórias: rinite, pólipos nasais,
corpo estranho, amigdalite, sinusite
■ Digestivas: gastrite, colite,
obstrução intestinal > se o
paciente fica sem evacuar por
muito tempo, ele pode vomitar
conteúdo fecal
■ Psicogênicas: transtornos de
ansiedade
Esôfago
Disfagia
● Dificuldade de deglutição
● Localização:
○ Nas 2 primeiras fases da deglutição:
bucofaríngea ou de transferência (disfagia
alta) → alimento permanece na cavidade
oral, podendo haver broncoaspiração,
seguido de tosse ou regurgitação nasal
(pode desenvolver uma pneumonia por
broncoaspiração)
○ Na 3a fase: esofágica ou de transporte
(disfagia baixa) → paciente sente a parada
da descida do bolo alimentar, mas não
consegue localizar o nível de obstrução
■ Pode ser de natureza mecânica
(apenas para/ sólidos) ou por
alterações da motilidade (sólidos e
líquidos) - esôfago não se contrai
● Evolução
○ História de deglutição de longa data, bom
estado geral (normalmente não está
emagrecido) > normalmente tem uma causa
benigna
○ Início recente associada a perda de peso,
acima dos 40 anos, progressiva (ou seja,
começou com alimentos secos e foi piorando
para líquidos), perda ponderal significativa,
palidez mucocutânea > provável doenças
malignas
- Obstruções de natureza orgânica → disfagia intermitente
(como se observa nas membranas e anéis)
- Neoplasias e estenose péptica → disfagia progressiva
- Desordens motoras do esôfago → disfagia intermitente
- Megaesôfago → lentamente progressiva
Disfagia não pode ser confundida com:
● Pseudodisfagia > desconforto ao deglutor alimentos
mal fragmentados ou ao comer apressadamente
● Globus hystericus2 > sensação de corpo estranho a
nível de fúrcula esternal, que sobe e desce e
desaparece ao deglutir.
○ Manifestação de origem psicogênica.
Sugere-se que há um aumento do tônus do
esfíncter superior so esôfago
○ Comum em mulheres de meia idade, mas já
aparece em jovens. Piora à noite, com
estresse, com período pré-menstrual.
Natureza mais psicossomática, e não
digestiva propriamente dita
○ Se o paciente tem disfagia para determinado
tipo de alimento, ele vai apresentar sempre
que for comer aquilo - come cuscuz e instala
Pirose
● Azia ou queimação
● Principal sintoma da doença do refluxo gastroesofágica
2
Nó na garganta é a sensação de bola ou massa na faringe, não
relacionada à deglutição, quando não há massa presente.
 ● Principalmente retroesternal - pode propagar-se
para região epigástrica, ambos os lados do tórax, ou
em direção ascendente até o manúbrio (mais comum)
● Quase sempre tem um surgimento após uma refeição
copiosa/irritativa para a mucosa;
● Pode ser acompanhado de regurgitação de pequenas
quantidades de líquido amargo ou azedo (pituíta, volta
um pouco do conteúdo alimentar na boca, e o
paciente sente um gosto quente/amargo)
● Pirose constante sugere incompetência do esfíncter
esofagiano → insuficiência do mecanismo impediente
do refluxo (ex: relaxamento transitório do EIE, hérnia
hiatal e hipotonia do esfíncter)
Odinofagia
● Dor ao deglutir
● Pode ser isolada ou associada à disfagia (mais comum)
● Caráter: urente3, em punhalada, constritiva,
espasmódica (como uma cólica)
○ Dor urente representa um grau mais intenso
de pirose - frequente na esofagite péptica
- piorada pela ingestão de ácidos ou
condimentos
● É muito comum na monilíase (candidíase) esofagiana
(comum em pacientes imunodeprimidos, como com
paciente com AIDS;) esofagite actínica (acontece, p.ex.,
porque o paciente teve um tumor mediastinal e fez
radioterapia, que pode ter queimado o esôfago e o
paciente fique com esofagite), esofagite herpética,
úlceras agudas produzidas por medicamentos, e
também alguns distúrbios motores na própria
contração esofágica
Dor esofágica
● Distingue-se da odinofagia pois independe da
deglutição / podem coexistir
● Pode ser causada por mudança do pH intraluminal
decorrente de refluxo gastroesofágico, atividade
motora anormal e processos inflamatórios ou
neoplásicos da parede esofágica
● O caráter varia em função da doença de base
3
Urente = que queima, arde;
○ Ex: no câncer de esôfago é surda, contínua,
indicando extensão da neoplasia às
estruturas mediastinais
● Essa dor é inespecífica e pode se comportar como
uma dor de insuficiência coronariana aguda >
paciente que se queixa de dor retroesternal que se
irradia para o tórax pode se manifestar de forma
indistinguível de uma síndrome coronariana
○ Deve-se excluir, especialmente se o paciente
possui fatores de risco cardiovasculares,
uma ICA
Regurgitação
● Parte do conteúdo estomacal ou esofagiano retorna
para a cavidade bucal sem ter o reflexo do vômito (ou
seja, sem náuseas e sem a participação dos mm.
abdominais)
● Pituíta: pequena regurgitação pela manhã
● Causas: estenoses, obstrução do lumen por alimento,
megaesofago chagasico, acalasia, etc. (múltiplas
causas)
● Ocorre quase sempre entre as refeições
● Regurgitação noturna representa grande risco, pela
possibilidade de aspiração do material regurgitado
para a árvores respiratória, causando repetidos
surtos de broncopneumonia
● Mericismo: volta de pequenas quantidade de alimento
que na maioria das vezes é deglutido à maneira dos
ruminantes
Eructações
● Arrotos
● Ocorre por ingestão de ar durante as refeições ou
em situações de ansiedade (engoliu uma bebida
gasosa, comeu muito rápido, conversou durante a
refeição)
● A deglutição de grande quantidade de ar, objetivando
eructar, chama-se aerofagia (pode ocorrer no
mesaesofago chagásico, em que o paciente tem
dificuldade que o alimento desça até o estômago e,
mesmo inconscientemente, fica eructando
propositalmente para que o alimento desça até o
estômago - o ar ajuda a empurrar o alimento à
maneira de um êmbolo de pressão)
Soluço (não constitui sintoma específico de doenças do
esôfago nem do aparelho digestivo)
● Causado por contrações espasmódicas do diafragma
e pode ter muitas causas: doenças do SNC, irritação
do nervo frênico ou do diafragma, estimulação
reflexa, doenças do mediastino, pleura e órgãos
abdominais
● Pode ser considerada parte da sintomatologia
esofágica em 2 condições:
○ Hérnia hiatal; e
○ Megaesôfago
Sialose ou sialorréia
● Produção aumentada de secreção salivar, observada
nas esofagopatias obstrutivas de modo geral → p.ex.,
um paciente com doença ulcerosa péptica acaba
produzindo mais saliva para tentar tamponar aquela
úlcera
● Causas: megaesofago chagásico e pacientes
hipersecretores com doença ulcerosa péptica
Hematêmese
● Vômito com sangue, caracterizando hemorragia
digestiva alta
● Causa esofagiana mais comum: varizes de esôfago >
normalmente não é precedida de náuseas, então é
um vômito em jato. Paciente pode ter até instabilidade
hemodinâmica, necessitando atendimento imediato
○ Outras causas incluem câncer de esôfago e
úlceras esofágicas
● Importante diferenciar hematêmese de hemoptise
Estômago e duodeno
Dor epigástrica
● Sintoma frequente das doenças gástricas
● A dor visceral do estômago e do bulbo duodenal é na
linha mediana, abaixo do apêndice xifóide
● Característica da ritmicidade da dor (pouco útil do
ponto de vista clínico):
○ Dor que surge ou se intensifica nos períodos
pós-prandiais tardios e se alivia total ou
parcialmente nos pós-prandiais precoces →
úlcera péptica4 (particularmente úlcera
duodenal)
○ Dor em 4 tempos: úlcera gástrica - a dor é
decorrente do atrito do alimento no
estômago; então (não) dói, come, dói, passa
- a dor também é mais freqüente nos
períodos de jejum, mas assim que o doente
come, ela aumenta, por causa do atrito dos
alimentos no estômago sensível. “Em seguida,
a comida neutraliza o ácido
○ Dor em 3 tempos: úlcera duodenal - o ácido
tampona o alimento, fazendo com que a
ferida deixe de ser exposta; então dói,
come, passa
○ Na úlcera duodenal, melhora com a
alimentação. Na úlcera gástrica, piora com a
alimentação
○ A ritmicidade da dor não é nem muito
sensível nem específica como indicador de
úlcera, o que diminuiu seu valor diagnóstico
Náuseas e vômitos
● Frequentemente associados à dor: portadores de
úlcera gástrica ou duodenal e gastrite podem
apresentar vômitos simultâneos à crise dolorosa →
vômito consiste em conteúdo gástrico puro ou
contendo pequena quantidade de bile
○ Alimentos, quando presentes, são os
recentemente ingeridos
● Vômitos contendo alimentos ingeridos há várias horas
indica estase gástrica (o conteúdo gástrico fica lá
muito tempo e não conseguiu ser digerido)
● Vômito com grande quantidade de bile → indicativo
de obstrução intestinal alta
OBS: Aquela pessoa que diz que vomitou bastante e várias
vezes que chegou a vomitar a bile. Na verdade, o líquido
esverdeado que se vomita quando “não se tem mais o que
vomitar” é o próprio suco gástrico que tem a cor clara, que
aparenta ser a bile.
● Presença de sangue (hematêmese): lesões a montante
do ângulo de Treitz - úlcera péptica, varizes de
esôfago, lacerações de transição de
esôfago-gástrica pelo esforço do vômito, gastrite
aguda e carcinoma de esôfago
4
 Intestino Delgado
5
Dispepsia
● Porto: conjunto de sintomas relacionados com a parte
alta do abdome, que frequentemente ocorrem juntos,
embora possam manifestar-se isoladamente
○ Professora: termo genérico para
dor/desconforto abdominal na parte alta do
abdome. Tem frequência elevada e pode ser
causada por diversas doenças
○ Tudo que não se conseguiu dizer que é uma
doença específica, coloca-se num grande
grupo chamado de dispepsia funcional
● Porto: Síndrome dispéptica: dor ou desconforto
epigástrico (elemento básico), acompanhado de
empanzinamento (empanturrar), sensação de
distensão abdominal por gases, pirose, saciedade
precoce, náuseas com vômitos ocasionais, intolerância
a alimentos gordurosos e eructações
Conforme o quadro clínico, classifica-se em 3 tipos:
● Dispepsia tipo refluxo: principal sintoma é
desconforto ou pirose retroesternal
● Dispepsia tipo úlcera: principal sintoma é dor
epigástrica
● dispepsia tipo dismotilidade: prevalece sensação de
plenitude gástrica
● Patogênese obscura e ocorre frequentemente
associada a doenças não gástricas (hepatopatias,
pancreatopatias, doenças das vias biliares) e doenças
localizadas fora do tubo digestivo (cardiopatias,
insuficiência renal)
● Uma grande porção não tem causa específica, sendo
rotulada por dispepsia funcional - saciedade precoce,
plenitude pós-prandial, dor ou queimação epigástrica
sem outras explicações ou sintomatologia
○ Quase sempre é consequência, a nível do
estômago, de transtornos emocionais
(dispepsia psicogênica)
Porto ------------------------------------------------
5
Diarreia
Google: condição na qual o paciente apresenta problemas relacionados
à má digestão e alterações na sensibilidade da mucosa do estômago.
● A idade do paciente guarda destacada importância.
Exemplos:
○ Primeiros meses da vida: defeitos congênitos
e anomalias do desenvolvimento
○ Após a 6a década de vida (paciente idoso):
isquemia mesentérica (caso apresente dor)
○ Um indivíduo que na 3a semana de vida não
teve evacuações, ele pode ter um
estreitamento esofágico ou estenose do
piloro, etc.
● Raça (meio filura): indivíduos caucasianos tiveram mais
contato com lactose ao longo da história e portanto
tem menos deficiência de lactase. Já quase todos os
negros e orientais e 50% dos árabes possuem
deficiência de lactase
● Se o paciente tiver algum problema digestivo ao longo
da vida, isso pode causar deficiência do desenvolvimento
somático ou intelectual, indicando afecções crônicas
desde a infância
● Algumas doenças deixam sequela no intestino delgado:
○ Tuberculose - obstrução intestinal
○ Radioterapia pélvica ou abdominal
● Presença de intervenções cirúrgicas
● Interrogar etilismo e uso de medicamento
● Atentar para concomitância de aspectos emocionais (é
comum o aumento do ato evacuatório quando o
paciente está ansioso)
● Principais manifestações clínicas:
○ Diarreia
○ Esteatorreia
○ Dor abdominal
○ Distensão abdominal
○ Flatulência
○ Dispepsia
○ Hemorragias digestivas
○ Febre
○ Perda de peso
○ Manifestações carenciais, etc.
● Sintoma mais comum do ID - diminuição da
consistência das fezes e da quantidade de
evacuações (+3x/dia)
● Tipos:
○ Diarréia osmótica - acúmulo de substâncias
não reabsorvíveis no lúmen intestinal,
prejudicando a absorção de água e
eletrólitos ou a secreção de água - laxantes
e defeitos na má absorção
○ Diarreia secretora - ocorre por substâncias
que estimulam síntese de AMPc e secreção
ativa de água e eletrólitos - enterotoxinas
bacterianas e medicamentos
○ Diarréia exsudativa - ocorre por alterações
inflamatórias, neoplásicas ou isquêmicas, com
passagem anormal de líquido para o lúmen -
doença de Crohn, enterites bacterianas ou
parasitárias e linfomas
○ Diarréia motora - alterações na motilidade
intestinal (podem aumentar ou diminuir o
trânsito delgado; para diarreia deve
aumentar)
■ Aumenta - hipertireoidismo e
diarreia psicogênica
■ Diminui - esclerose sistêmica
progressiva → pode levar a estase
do conteúdo intraluminal, com
proliferação bacteriana que causam
desconjugação dos sais biliares, má
digestão de gorduras e mecanismo
“misto” da diarreia
● Diarreia aguda (até 4 semanas) X crônica
● Classificação:
○ Diarreia alta (intestino DELGADO) - dejeções
de grande volume, líquidas ou semilíquidas,
frequência aumentada, podendo ter restos
de alimentos e esteatorreia
■ Deve-se diferenciar restos
alimentares não digeríveis (fibras
vegetais) das digeríveis (amigo ou
proteína)
○ Diarreia baixa (intestino GROSSO) - maior
número de evacuações, com eliminação de
pequenas quantidades de fezes,
frequentemente com muco, pus ou sangue,
acompanhadas de puxo, urgência retal e
tenesmo
Análise da diarreia
1) Diarreia aguda ou crônica?
2) Diarreia alta ou baixa?
3) Esteatorreia?
4) Causa infecciosa ou não infecciosa?
5) Outras manifestações clínicas indicativas de uma
condição específica
Esteatorreia
● Aumento da quantidade de gordura excretada nas
fezes - fezes volumosas, amareladas ou
acinzentadas, fétidas e, algumas vezes espumosas
● Indicador de defeito nos processos de digestão e
absorção
● Geralmente associa-se à diarréia, com características
de diarreia alta (evacuações volumosas e frequência
de evacuação aumentada, com restos alimentares)
○ Também é comum sintomas do IG: aumento
de conteúdo gasoso, em virtude da digestão
bacteriana de conteúdo não absorvido,
levando a cólicas periumbilicais, distensão
abdominal e flatulência
● Na ausência de diarreia:
○ Dejeções volumosas, brilhante e lustrosas,
com clareamento das fezes e flutuação na
água (em virtude de grande quantidade de
gases, e não diretamente pela gordura)
○ Cheiro desagradável, francamente pútrido
○ Evacuações explosivas podem ocorrer por
aumento do teor gasoso das fezes
○ Acompanhada de emissão de substância
oleosa, esbranquiçada que se mistura ou se
adiciona às fezes, ou pela formação de
gotas de gordura na água no vaso sanitário
Dor
● Distensão das paredes do intestino delgado → ocorre
por acúmulo do conteúdo intraluminal (p.ex., por
esvaziamento gástrico anormal ou obstrução), quando há
má absorção, secreção/exsudação anormal para o lúmen
● Aumento da tensão muscular das paredes do
intestino → contração espasmódica da musculatura,
 por agentes tóxicos, químicos, biológicos ou
metabólicos. Pode ocorrer na obstrução mecânica e
na inflamação da mucosa intestinal
● Alterações inflamatórias ou congestivas do ID →
liberação de mediadores químicos
● Isquemia intestinal
● Alterações inflamatórias do peritônio → pode
ocorrer extensão de inflamação do ID para o
peritônio visceral (doença de Crohn,
infectoparasitárias e neoplasias). Peritonite
generalizada ocorre quando há perfuração do
intestino em doenças inflamatórias ou diverticulite de
Meckel
● Localização: dor com origem exclusiva no intestino
sem comprometimento peritoneal → localização
imprecisa no centro do abdome, próximo da linha média
○ Jejuno ou íleo proximal: dor localizada na
região periumbilical
○ Segmentos distais do íleo: pouco abaixo da
cicatriz umbilical, na linha média
○ Íleo terminal: quadrante inferior D do abdome
● Localização: peritonite restrita → localização
corresponde à sede do processo patológico
○ Frequentemente as doenças do ID cursam
com peritonite focal
■ Na doença de Crohn, ocorre
afecção do íleo terminal, com
comprometimento do peritônio
perivisceral → a dor é no QID
○ Peritonite generalizada: dor difusa pelo abdome
● Irradiação:
○ Distensão das paredes intestinais ou
contrações vigorosas → irradiação para o
dorso (em casos intensos)
○ Peritonites restritas no QID → pode haver
irradiação para a base da coxa
● Verificar se não houver variações do local da dor (p.ex.
início na região periumbilical e algumas horas se desloca
para a fossa ilíaca D - indicativo de comprometimento
peritoneal perivisceral de um processo originário das
paredes do intestino, como ileíte aguda)
● Intensidade: dor intensa acompanha manifestações
autonômicas - náuseas, vômitos, sudorese, palidez
cutânea e inquietude. Intensidade depende do estado
físico e emocional e presença de outro sintomas
● Qualidade:
○ Distensão ou contração das paredes
musculares: distensão ou torção
○ Inflamação, congestão ou isquemia:
contração ou peso
○ Envolvimento peritoneal: queimação ou
pontada
● Dor exclusivamente do ID → paciente procura
posições de flexão ou compressão abdominal para
aliviar a dor
● Dor provém de inflamação do peritônio → paciente
imóvel (movimentos acima agravam a dor)
○ Irritação peritoneal na fossa ilíaca direita
pode piorar com flexão do MI ipsilateral, o
que leva o paciente a deambular e deitar com
a coxa semiflexionada
● Outras manifestações digestivas - vômito, distensão
abdominal, meteorismo e modificações na eliminação
de gases e fezes:
○ Vômitos que ocorrem vários minutos do pico
de intensidade de uma cólica intestinal com
eliminação de material volumoso de cor
escura e odor fecalóide indica obstrução
intestinal
○ Cólicas intestinais com meteorismo intenso,
seguidas de eliminação abundante de gases e
fezes com melhora importante > obstrução
parcial e transitória
● Outras manifestações concomitantes com a dor
abdominal: febre, hemorragia digestiva, anemia,
desidratação, alterações urinárias ou menstruais
(pode ajudar do diagnóstico)
OBS: Dor perineal - causa retal, anal, escrotal ou prostática,
doenças anorretais, doenças vulvares e vaginais
Distensão abdominal, flatulência e dispepsia
● Sensação de repleção abdominal com “excesso de
gases”, percepção de vibrações provocadas pela
movimentação do conteúdo intraluminal, ruídos e
aumento da eliminação de gases
● Características da distensão abdominal:
○ Dor contínua, de pequena intensidade, difusa
por todo o abdome
 ○ Cólicas periumbilicais, percepção de ruídos
abdominais, precedente eliminação de gases
ou fezes (com alívio instantâneo da dor)
● Pode ocorrer isolado ou junto com diarreia e
esteatorreia (neste caso por déficit na absorção de
nutrientes)
○ Na presença de dor abdominal intensa,
contínua com exacerbações periódicas >
obstrução mecânica
● Ocorre isoladamente: relação com alimentos (em
especial lactose e feijão - este possui açúcares
complexos não digeríveis, passíveis de fermentação)
Hemorragia digestiva
● Hematêmese (sangue + vômito); enterorragia e melena
(sangue + defecação)
● Melena > hemorragia no nível do ID, com digestão do
sangue, tornando as fezes enegrecidas
○ Entre o ângulo de Treitz e a válvula ileocecal
○ O sangramento aumento o teor líquido das
fezes, causando amolecimento e aumento do
número de evacuações e fezes mais viscosas
e aderentes - borra de café - , podendo ter
odor pútrido
● Enterorragia > eliminação de sangue vivo pelo ânus.
Para ocorrer no ID, o local de sangramento seria
próximo à válvula ileocecal, com perda sanguínea
rápida, associado a fatores que aceleram a velocidade
do trânsito intestinal
● Hematêmese > por origem do ID é rara, mas pode
ocorrer se o local do sangramento é próximo ao
ângulo de Treitz e quando a hemorragia for maciça
● Paciente pode ter repercussões hemodinâmicas
● Origem de hemorragia no ID é sugestivo quando
coexistem sintomas próprios das doenças intestinais,
como diarreia e dor abdominal
Outros sintomas
● Perda de peso → alimentação deficiente (incluindo
inapetência), má absorção ou aumento do consumo
metabólico
● Anemia → deficiência de ferro, vitamina B1 ou folatos,
desnutrição proteica, hemorragia digestiva ou
depressão tóxica da eritropoese
● Edema → redução da Pco do plasma por diminuição
da albumina sérica, consequente à redução da
ingestão proteica ou alteração da absorção de
nutrientes
● Manifestações carenciais
○ Vitamina A: xeroftalmia, cegueira noturna e
hiperqueratose cutânea
○ Vitamina D: raquitismo e def. de crescimento
○ Vitamina K: púrpuras e sangramentos
digestivos
○ Complexo B: queilites, glossite, pelagra e
parestesias
○ Ácidos graxos essenciais: lesões
eczematóides nas extremidades
● Insuficiência endócrina > alterações menstruais,
disfunção sexual, insuficiência suprarrenal,
hipotireoidismo e hipopituitarismo
○ Mecanismos não conhecidos, embora
ingestão deficiente e alterações na absorção
sejam fatores importantes
Cólon, reto e ânus
● A idade, sexo e procedência podem dar informações
importantes
○ Se uma criança possui constipação grave,
pode ser um megacólon congênito (idade)
○ Se viveu em zona rural, pode ser megacólon
chagásico (procedência)
○ Se possui um sangramento retal
(hematoquezia) ou mesmo enterorragia; se
for jovem tem chance de ter pólipos ou
idoso, hemorróidas, ou criança, tem um corpo
estranho (criança em desenvolvimento pode
ter o hábito de colocar corpos estranhos em
cavidades do corpo - ouvido, boca, nariz,
reto, etc.)
Dor
● As dores do intestino grosso guardam relação com a
localização
● Definir se abdominal ou perineal (tenesmo)

Um tipo especial de sensação dolorosa perineal é o
tenesmo, cuja característica principal é a dor ser
acompanhada de desejo imperioso de defecar. O paciente
sente uma dor intensa, espasmódica, e tem a impressão de
que a defecação será abundante, mas elimina apenas
pequena quantidade de fezes ou muco. O tenesmo ocorre
nas afecções do reto, especialmente nos processos
inĶamatórios agudos, e na síndrome disentérica.
A dor perineal é mais fácil de ser avaliada pois pode ser
investigada diretamente pela inspeção e palpação
● Pode ainda ser:
○ DIFUSA: peritonite, obstrução intestinal,
colite - pode ser localizada inicialmente e
depois tornar-se difusa (p.ex. uma
perfuração do sigmóide, que começa no QIE
e então evolui para peritonite)
○ Quadrante superior direito (QSD):
impactação fecal alta ou obstipação
intestinal grave
○ QID: apendicite, câncer de ceco, invaginação
intestinal, causas ovarianas, gravidez
ectópica
○ QSE: impactação fecal alta, obstipação
crônica, diverticulite
○ QIE: doença diverticular do cólon, processo
inflamatórios, irritação da mucosa intestinal,
causas ovarianas, gravidez ectópica
Diarreia e disenteria
● Diarréia é o aumento no número de dejeções
(+3x/dia), diminuição na consistência fecal e às vezes
presença de restos alimentares
○ Considera-se normal: de 3 evacuações/dia
até 1 evacuação/ 2 dias (intervalo de 8-48h)
○ Quando tem o hábito evacuatório mais
lentificado, então pergunta se o paciente
sente que esvaziou o intestino (ou seja se
tem plenitude), não demora a ir para o
banheiro, não sangra
○ +3x por causa do reflexo gastrocólico, em
que come e dá vontade de defecar, e como a
gente faz 3 refeições por dia, então até 3x
é normal. Então se evacua mais que 3x
pode-se ter diarreia
● “O cólon dorme a noite” - a pessoa não acorda para
evacuar. Se acorda, sugere que há alguma irritação
○ Porto: em um paciente que apresenta uma
diarreia contínua, dia e noite, deve-se considerar
que sua origem possivelmente não é colônica ou
exclusivamente colônica
● Pode ser classificada em:
○ Aguda > doenças infecciosas (comeu uma
comida suspeita ontem e está com dor de
barriga hoje)
○ Crônica > cólon irritável (síndrome do
intestino irritável - tem diarreia quando
está estressado, ingere lactose, etc.)
● Disenteria: diarreia + 3 sinais: cólicas intensas, fezes
mucosanguinolenta e, ao final de cada evacuação,
tenesmo. Pode ter origem amebiana ou bacilar
Obstipação intestinal
● Fezes retidas por mais de 48h. Porém há um padrão
de normalidade de cada indivíduo, que pode variar de
3x/dia até a cada 2 dias, então precisa-se saber se
houve alteração do hábito evacuatório
○ O ato evacuatório pode ser dificultoso
● Observar consistência das fezes: um pouco mais
duras, ressecadas ou em cíbalos (pequenas bolas) -
em virtude de maior permanência no cólon distal,
levando a maior reabsorção de água
● Porto: causas de obstipação:
○ Dieta pobre em fibras
○ Mecânicas - malformações, oclusão tumoral,
processos inflamatórios
 ○ Neurogênicas - aganglionose ou doença de
Hirschsprung, megacólon chagásico,
paraplegia, esclerose múltipla
○ Metabólico-hormonais - hipotireoidismo,
uremia, hiperparatireoidismo, porfiria
○ Medicamentosas - antiácidos,
anticolinérgicos, opiáceos
○ Inibição reiterado do reflexo de evacuação
(“não atende ao chamado do intestino”) e
hipossensibilidade senil
○ Psicogênicas - alterações emocionais -
traumas na infância, depressão
OBS: Condições psicológicas do paciente influem no ritmo
intestinal, pois os arcos reflexos que participam da evacuação
intestinal mantêm conexões com o diencéfalo e o córtex.

Mudança no ritmo intestinal

● Sempre que se mudar o hábito intestinal, é preciso
investigar alguma afecção, incluindo neoplasias
● Quando se tem um padrão que alterna entre diarreia
e constipação, é provável causas neoplásicas

Outras manifestações:
● Sangramento anal - principalmente por hemorroidas
(sempre avaliar)
● Prurido anal: enterobiose, má higiene, doenças
anorretais cutâneas
● Distensão abdominal: ascite, meteorismo, neoplasias,
fecaloma, volvo
● Náuseas e vômitos