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Semiologia Diabética

Todo ano a Sociedade Americana de Diabetes publica, em 01 de janeiro, uma revista com as diretrizes de cuidados ao paciente diabético.
O primeiro capítulo da revista fala sobre as mudanças (então para quem já leu a revista, que tem em média 200 páginas, basta ler o
primeiro capítulo. A Sociedade Brasileira de Diabetes também publica uma revista que nada mais é do que uma tradução da revista da
Sociedade Americana, porém com um pouco mais de atraso.

Anamnese e exame físico não mudam. Conduta terapêutica e orientações atualizam todo ano

PARTE 1 - Introdução ao Diabetes Melito ○ Complicações microvasculares,


macrovasculares e neuropáticas
DEFINIÇÃO ○ Afeta: rins, retina, sistema cardiovascular e
● Diabetes Melito (DM) → distúrbio metabólico surgido pés
de uma interação entre vários genes e fatores
ambientais, que conduzem ao aumento da [glicose] no CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS
sangue (hiperglicemia) ● Glicemia plasmática em jejum ≥ 126 mg/dl (7 mmol/L)
● Hormônios que regulam a concentração de glicose: ○ No mínimo 8h e máximo 12h sem ingestão
insulina (principal), glucagon, cortisol, epinefrina e GH calórica
● DM tipo 2 é acompanhado de outras morbidades, ○ Importante que o paciente fique em dieta
incluindo ↓, que aumentam o risco cardiovascular livre pelo menos 1 semana (para não alterar
○ Hipertensão arterial sistêmica (HAS) os resultados e dar falso negativo)
○ Dislipidemia (alto LDL e baixo HDL) ○ Se o valor da glicemia é dúbio, por exemplo
● A hipertensão, em geral, antecede o DM tipo 2 - o 110, faz-se o teste oral de tolerância à
paciente torna-se hipertenso e então diabético. A glicose ↓
diabetes está associado a um maior risco de doenças ou
cardiovasculares ● Glicemia plasmática ≥ 200 mg/dl (11.1 mmol/L) após
ingestão de 75g de glicose dissolvida em água
EPIDEMIOLOGIA ○ Paciente vai para o laboratório em jejum,
● O aumento dos casos de diabetes no mundo está toma uma garapa, preparada com 70g de
relacionado à pandemia da obesidade glicose dissolvida. 2h depois, retira-se o
● Morbidade e mortalidade: sangue, se der ≥ 200 é diabético
○ Um dos principais fatores de risco para ou
morte e covid-19 ● Hemoglobina A1c ≥ 6.5% (48 mmol/L)
○ Reduz a expectativa de vida de 15 a 18 anos
○ Fação da hemoglobina que se liga à glicose. ● Pré-diabéticos ou com outros fatores de risco devem
A vantagem é que não precisa estar em ser testados anualmente
jejum para realizá-lo ● Naqueles que forem identificados com risco
○ Dá uma média de glicemia dos últimos 3 meses aumentado de ter diabetes no futuro, identificar e
ou tratar os demais risco cardiovasculares
● Sintomas clássicos de hiperglicemia ou crise
hiperglicêmica + glicemia plasmática aleatória ≥ 200 Critérios para rastrear diabetes tipo 2 ou pré-diabetes em
mg/dl (11.1 mmol/L) crianças assintomáticas (10-18 anos)
○ Sintomas clássicos: poliúria, polidipsia, ● Sobrepeso (IMC > que percentil 85 para idade e
polifagia, perda acentuada de peso sexo; ou peso > 120% que o ideal) + 2 dos seguintes
fatores de risco
OBS: Não se dá o diagnóstico de diabetes com 1 exame só (?) ○ História familiar de DB2 em parentes de
primeiro ou segundo grau
CRITÉRIOS DIAGNÓSTICOS DO DIABETES GESTACIONAL (DMG) ○ Etnia de risco: raça ou etnia
● Entre 24 e 28 semanas de gestação, nas mulheres nativa/americana, afro/americana, latina,
sem diagnóstico prévio de diabetes, fazer o Teste asiático/americano, ilhéus do pacífico
Oral de Tolerância à Glicose (TOTG) ○ Sinais de resistência à insulina
○ Medir a glicemia plasmática em jejum, 1 e 2h ○ Acanthosis nigricans
após a ingestão de 75g de glicose anidra, ○ Hipertensão arterial
dissolvida em água ○ Dislipidemia
○ Deve ser feito pela manhã, após um período ○ Adolescente com SOP
noturno de jejum de 8-12h ○ Pequeno para a idade gestacional
● Diagnóstico de DMG: ○ Crianças nascidas de gestação com DMG
○ Jejum ≥ 92 mg/gl (5.1 mmol/l) ● Os testes devem ter início antes dos 10 anos se a
○ 1h ≥ 180 mg/dl (10.0 mmol/l) puberdade for mais cedo
○ 2h ≥ 153 mg/dl (8.5 mmol/l) ● Repetir a cada 3 anos

RASTREAMENTO EM PESSOAS ASSINTOMÁTICAS CLASSIFICAÇÃO DO DIABETES


● O momento ideal para diagnosticar a diabetes, é ● Diabetes tipo 1: doença autoimune, com destruição
quando o indivíduo não apresenta sintomas. Por isso, das células beta, o que leva à deficiência total de
o diagnóstico é laboratorial insulina. Afeta principalmente crianças (no entanto,
existem relatos de pessoas com 90 anos devido a um
Quem deve ser rastreados para diabetes tipo 2 ou pré-diabetes abalo do sistema imunológico)
● Toda a população a partir dos 45 anos ● Diabetes tipo 2: defeito secretório progressivo de
● Todos os adultos com sobrepeso (IMC ≥ 25 kg/m² ou insulina, associado à resistência à insulina. 90% dos
≥ 23 kg/m2 nos asiáticos americanos) que têm fatores casos de diabetes
de risco adicionais ● Diabetes gestacional: diagnosticado durante a
○ Aqueles com hipertensão, dislipidemia e/ou gestação.
sobrepeso já devem ser rastreados a partir ○ Ocorre numa mulher que faz pré-natal e a
dos 18 anos glicemia está em 80, mas na 24a semana,
● Resultados normais, os exames devem ser repetidos sobe para 93
pelo menos a cada 3 anos de intervalo, e mais ● Outros tipos específicos:
frequentemente naqueles em que os resultados ○ Defeito genéticos da célula beta ou da ação
foram alterados da insulina (doença autossômica dominante)
■ Diagnóstico: 3 gerações de ● A hiperglicemia, inicialmente, é o resultado da
diabetes: avô, pai e filho incapacidade celular em responder totalmente à
○ Induzido por drogas anti HIV e de insulina (resistência à insulina)
transplante ● Durante essa fase, o hormônio torna-se ineficaz e,
○ Doenças do pâncreas com o tempo, ocorre um aumento da sua produção
○ Secundário ao excesso de glicocorticóides ● Mais tardiamente, a produção de insulina torna-se
ou GH insuficiente
○ Ou seja, inicia com um excesso de insulina e
Diabetes tipo 1 depois segue uma insuficiência
● As causas do processo destrutivo não são
totalmente compreendidas → teoria é a de que a Diabetes monogênico
combinação de suscetibilidade genética e um gatilho ● Um único gene está afetado
ambiental, com uma infecção viral, inicia a reação ● Representa 1,5-2% dos casos
autoimune ● Diagnóstico confundido com DM tipo 1 e 2
● Até o momento não pode ser prevenido, podendo se ● Clínica variada:
desenvolver em qualquer idade, embora ocorra com ○ Diabetes melito neonatal (diabetes
mais frequência em crianças e jovens monogênico da infância)
● É uma das doenças crônicas mais comuns na infância, ○ Diabetes da maturidade de início nos jovens
embora o diabetes tipo 2 também possa ser visto em ○ Doenças sindrômicas raras associadas ao
crianças mais velhas, o que vem se tornando mais diabetes
comum devido ao excesso de peso e obesidade na ● Critérios da herança autossômica dominante:
infância ○ Fenótipo aparece em todas as gerações
● Necessidade de injeções diárias de insulina ○ Qualquer filho de genitor afetado tem um
risco de 50% de herdar o fenótipo
Estágios do diabetes tipo 1 ○ Familiares fenotipicamente normais não
transmitem o fenótipo para os seus filhos
Estágio 1 Estágio 2 Estágio 3 ○ Homem e mulheres têm a mesma
probabilidade de transmitir o fenótipo aos
Autoimunidade Autoimunidade Hiperglicemia
Normoglicemia Disglicemia recente filhos de ambos os sexos
Pré-sintomático Pré-sintomático Sintomático
MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Múltiplos Múltiplos Sintomas clínicos
anticorpos anticorpos (poliúria, polidipsia,
Sem disglicemia no Disglicemia: glicemia perda de peso) Diabetes tipo 1
jejum ou no TOTG plasmática no jejum Diabetes por ● O diagnóstico de DM tipo 1 é dado na fase de
de 100 a 125 mg/dl critérios padrões deficiência da insulina
e/ou 140 a 199
mg/dl após 2h no ● Manifestações clínicas dependem da velocidade de
TOTG e/ou HbA1C destruição das células betas, sendo geralmente mais
de 5,7% a 6,4% rápida nas crianças é mais lenta nos adultos
● Em crianças e adolescentes, em ⅓ dos casos, a
Diabetes tipo 2 primeira manifestação é um episódio de cetoacidose
● Corresponde a 90% dos casos de diabetes, sendo ○ Paciente que começa em 3 dias: poliúria,
mais visto em adultos mais velhos, mas é cada vez polidipsia, perda acentuada de peso,
mais visto em crianças e adultos mais jovens, devido turvação visual, tontura, pode ter vômitos e
aos níveis crescentes de obesidade, inatividade física respiração rápida e profunda (em virtude da
e dieta inadequada acidose metabólica, que leva à tentativa de
compensação através da alcalose
contrário de outros sintomas, como renais,
respiratória) - respiração de kussmaul cardiovasculares, neurológicos, que também
(rápida e profunda) ocorrem em outras doenças, como hanseníase.
● É comum o diabetes se manifestar em situações de Então essa lesão da retina e patognomônico do
estresse, tanto infeccioso quanto emocional (por diabetes melito
exemplo, uma criança que tem metade das ilhotas ● No entanto, a retinopatia diabética ocorre com no
mínimo 5 anos de hiperglicemia. Porém, turvação
destruídas, portanto assintomática, mas seus pais
visual pode ocorrer em diabéticos com 1 mês, em
divorciam e isso causa o diabetes) virtude de problema da refração ocular por edema
● Em outros pacientes, pode haver inicialmente do cristalino
hiperglicemia de jejum moderada, que rapidamente
progride para hiperglicemia severa e cetoacidose,
Outras formas de apresentação diabetes tipo 2
precipitadas por estresse emocional ou infeccioso
● Prurido vaginal (muito intenso, em virtude da
alteração do pH pela hiperglicemia, o que causa muita
Diabetes tipo 2
candidíase)
● Pode se apresentar com sintomas semelhantes
● Balanopostite
(poliúria, polidipsia, polifagia) aos do diabetes tipo 1,
● Turvação visual
mas em geral menos severo. Na maioria das vezes é
● Cãimbras
totalmente assintomático ● Qualquer manifestação de complicação crônica:
○ Pode permanecer assintomático por 10 anos
○ Infarto, AVC
○ A glicose só sai na urina quando a glicemia ○ Perda visual
está acima de 180, abaixo disso não existe ○ Úlcera de pé
glicosúria
○ Porém, a glicose de 140/150 é suficiente HIPOGLICEMIA - COMPLICAÇÃO DO TRATAMENTO DA
para causar cegueira e insuficiência renal DIABETES
● É impossível determinar o exato momento da ● Fazem parte da vida do paciente portador de
instalação do DM tipo 2 diabetes tipo 1, com cerca de 2 eventos sintomáticos
por semana
Sintomas de descompensação aguda (pode dar em qualquer ○ 2-4% morrem de hipoglicemia
tipo de DM) ○ Isso ocorre porque as drogas do DM tipo 1
● Poliúria são hipoglicemiantes, enquanto as do tipo 2
● Polifagia são normoglicemiantes. Por isso hipoglicemia
● Polidipsia não é tão comum no tipo 2
● Perda acentuada de peso (30 kg em 2 meses, por ● São mais frequentes nos pacientes com deficiência de
exemplo) insulina grave, nos extremos da vida, durante o sono
● Desidratação noturno, na insuficiência renal e no comprometimento
● Cetoacidose diabética (típico do DM tipo 1)
do sistema contra-regulatório
● Estado hiperosmolar (típico do DM tipo 2) → ● O tratamento consiste simplesmente em comer
desidratação por hiperglicemia; muito comum em alguma coisa doce, como uma bala. É por isso que é
pacientes acamados que não têm acesso à água importante aconselhar a um paciente com DM tipo 1 a
andar com alguma coisa doce
Muitos pacientes descobrem que estão com diabetes em ● Pode causar dano neurológico e morte cerebral
virtude de visão turva, que os leva a ir ao oftalmologista ● Pode causar arritmia
● A diabetes causa retinopatia diabética, uma lesão ○ Dia: taquicardia
na retina que é específico da diabetes, ao ○ Noite: bradicardia
● Síndrome de Crayer → ocorre por deficiência grave ○ Melhora dos sintomas após elevação da
de insulina no DM1 ou DM2. Nesse caso, há ausência glicemia
de autorregulação da insulina e menor resposta do
glucagon e da epinefrina, levando a hipoglicemias Danos causados pela hipoglicemia
recorrentes assintomáticas No sistema nervoso:
● Hipoglicemias graves (< 36 mg/dl): convulsões, coma e
Sinais e sintomas de hipoglicemia risco de morte
● Hipoglicemias moderadas ou leves: transtornos
psicológicos e danos cognitivos, principalmente em
idosos
No sistema musculoesquelético:
● Aumento de quedas e fraturas
● Aumento de 4,7x nas taxas de acidente de trânsito
No sistema circulatório:
● Disfunção endotelial
● Ativação inflamatória
● Hipercoagulabilidade
● Aumento do intervalo QT

Classificação das hipoglicemias Diabetologia moderna


● Propõe desenvolver medicamentos que obtenham o
controle glicêmico adequado sem provocar aumento
do risco de hipoglicemias, percebidas ou não:
○ Insulinas com meia vida mais longas, menos
pico de atuação e menor variabilidade de
efeito - como Degludec e glargina
○ Inibidores de DPP-IV
○ Agonistas dos receptores do GLP-1
○ Inibidores de SGLT-2

COMPLICAÇÕES AGUDAS DO DIABETES


● DM pode levar ao coma em 3 situações, em ordem de
frequência:
● Para ser considerado hipoglicemia, tem que estar < ○ Hipoglicemia → coma se instala em minutos
70 mg/dl ○ Cetoacidose → coma se instala em horas ou dias
● Pseudo-hipoglicêmico: paciente que sente os sintomas ○ Hiperosmolaridade → necessita de dias a
hipoglicêmicos, mas possui glicose > 70 (comum em semanas de hiperglicemia para ocorrer coma
pacientes que vivem anos com hiperglicemia, acima de ● Infecções:
200, p.ex., e quando baixa para 120, apresenta ○ De pele
sintomas hipoglicêmicos) ○ Vulvovaginites por Candida albicans
● Tríade de Whipple: consiste em: ○ Balanopostites por Candida albicans
○ Sintomas de hipoglicemia ○ Periodontites
○ Níveis plasmáticos de glicose baixo (< 36; 50;
56; 63; 72 mg/dl)
COMPLICAÇÕES CRÔNICAS DO DIABETES (NEUROPATIA ● Disfunção erétil em homens → não responde à
DIABÉTICA) viagra e inibidores de fosfodiesterase, uma vez que o
problema é neurológico e não vascular
Neuropatia autonômica ● Anidrose (perda da capacidade de suar) → com isso
● A DM afeta o SNA por inteiro, e o paciente é comum ocorrer rachaduras no pé
apresenta disfunções relacionadas a esse sistema: ● Pé de Charcot → reabsorção dos ossos do pé em
frequência cardíaca, motilidade GI, esvaziamento da virtude de uma perda de regulação de válvulas
bexiga, ereção, secreção de suor, etc. (esfíncteres pré-capilares?) nas metarteríolas, que
● Neuropatia autonômica cardiovascular → paciente normalmente reduz a pressão sanguínea do sistema
apresenta uma taquicardia de repouso (taquicardia arterial para o venoso, levando a um hiperfluxo que
fixa), em virtude da perda de inervação vagal do reabsorve os ossos (o osso do pé vai desaparecendo)
coração, e por isso pode ter intolerância ao exercício ● Falha de resposta autonômica à hipoglicemia →
○ A taquicardia está presente mesmo ao dormir paciente tem hipoglicemia e não sente os sintomas,
● Hipotensão ortostática por perda da regulação da como taquicardia, mal-estar, sudorese, passando logo
pressão arterial para sintomas neuroglicopênicos
○ A aferição da pressão deve ser feito em
pé/sentado e deitado Neuropatia periférica simétrica distal
○ A pessoa em pé, a pressão deve subir, para ● Ocorre perda sensitiva (sensibilidade tátil, térmica,
que possa alcançar a cabeça (em virtude dolorosa e profunda) e motora (atrofia muscular)
disso, há ativação de barorreceptores ● Juntas, causam deformidades, redução da mobilidade,
carotídeos e aórticos, causando calos, hemorragia subcutânea e pé diabético
vasoconstrição e elevação da pressão) ○ 85% das amputações no diabetes são
○ No diabético, essa regulação é perdida, e o precedidos por uma úlcera causada por
paciente pode muitas vezes desmaiar ao neuropatia
ficar de pé ○ 7-25% das pessoas com DM desenvolverão
● Disfagia → dificuldade de engolir por disfunção do uma úlcera de pé
plexo de Auerbach e Kisselbach ○ Quem tem úlcera no pé tem 15,4% de chance
● Paresia da musculatura do estômago (gastroparesia), de morrer em um ano, 45,8% em 5 anos e
com perda da capacidade de esvaziar o estômago 70% em 10 anos
● Constipação intestinal → também em virtude de
perda do plexo Pé diabético (ocorre por neuropatia autonômica + periférica)
○ Pode ser intercalada com diarreia, em
virtude da perda de capacidade de contrair
o intestino (então, o paciente tem tanto
diarreia noturna e prisão de ventre
● Diarreia noturna
● Neuropatia genitourinária, com perda da capacidade
de esvaziar a bexiga (retenção urinária) (alguns
pacientes só conseguem urinar com cateterismo)
○ Em virtude disso, apresenta infecções
urinárias de repetição
● Dispareunia em mulheres → perda da lubrificação
vaginal
● Fatores de risco: ● Além disso, o diabetes muitas vezes está relacionado
○ Duração do diabetes ao abuso de álcool1
○ Mal controle glicêmico ● Para saber se o paciente faz abuso de álcool, faz-se
○ Dislipidemia o questionário CAGE:
○ História de ulceração ou amputação
○ Sintomas de doença arterial periférica
○ Sintomas de polineuropatia (insensibilidade)
○ Dificuldade visual ou física para autocuidado
com os pés
○ Paciente em hemodiálise

Exemplo que ela deu de anamnese:


HDA: Paciente refere que há 15 anos por ocasião de
episódio de prurido vaginal intenso, procurou ginecologista,
e ela fez glicemia e deu X. A partir de então começa a ● 2 respostas positivas tem sensibilidade de 84,4% e
construir a história especificidade de 93,1% para abuso de álcool
ou então: Queixa principal: ferimento no pé que não
cicatriza há tanto tempo PARTE 2 - Semiologia do Diabetes Melito
Perguntar: se ele tem diabetes ou se sabia que ele tinha e Objetos da semiologia do DM:
a partir de quando foi, que tratamento usou, qual a dose do - Confirmar o diagnóstico e a duração do diabetes
remédio, se tiver os valores de glicemias anotados anota os - Classificar o tipo de diabetes
resultados dos exames na HDA, se teve efeito colateral do - Avaliar as formas de tratamento e níveis de controle
tratamento, como hipoglicemia ou intolerância à medicação, - Identificar as complicações agudas
a hora que toma, tudo - Identificar e rastrear as complicações crônicas
Também deve-se fazer história de ingestão alcoólica e - Formular planos de tratamento
diabetes na família. Pois o diabetes pode ser secundário a
- Prover bases para cuidados continuos
ingestão de álcool (questionário CAGE C- Cut - você já
achou que poderia diminuir o álcool que vc bebe; A -
annoyed - as pessoas se aborrecem pedindo para parar de IDENTIFICAÇÃO
beber; G - Guilty (culpado) - o senhor se sente culpado ● Data, horário e local da coleta de dados
por beber; E (eye) olho aberto, já bebeu de manhã para ● Nome, sexo, gênero, idade, CPF, nome da mãe
ficar esperto para resolver algo importante. 2 respostas ● Naturalidade e procedência
positivas tem 96% de acerto para abuso de álcool (não
● Grau de instrução, se sabe ler ou não
deve se perguntar se o paciente bebe? é uma pergunta
imbecil) ● Profissão, ocupação atual
● Estado civil
● Raça auto-referida
CAGE - Problemas relacionados ao uso de álcool
● Endereço, email, telefones
● A neuropatia diabética se assemelha à neuropatia do
● Dados do acompanhante
alcoolismo. O pé de Charcot e a neuropatia são mais
comuns no diabetes, mas podem ocorrer também no
QUEIXA PRINCIPAL
alcoolismo
● Uma linha: diabetes/glicose alta + há quanto tempo

1
O consumo de álcool deve ser evitado pelos diabéticos porque as
bebidas alcoólicas podem alterar as taxas de açúcar no sangue, tanto
aumentando os valores da glicemia como diminuindo e causando
hipoglicemia
HISTÓRIA PREGRESSA DA MOLÉSTIA ATUAL ○ Fumo
● Data do diagnóstico, precisa ou aproximada ○ Hipertensão arterial
● Sintomatologia no momento do diagnóstico e atual ○ Obesidade
○ O DM pode ser muito sintomático já no início ○ Dislipidemia
(como na DM1) ou ter períodos de até 10 ○ Histórico familiar
anos assintomático (DM2) ● História e tratamento de outras condições, incluindo
○ A primeira manifestação de DM2 pode ser história de patologias do humor
devido a 3 grupos de sintomas: ● História reprodutiva e uso de contraceptivos
○ 1) Da descompensação metabólica - poliúria,
polidipsia, polifagia, perda acentuada de peso ANTECEDENTES FAMILIARES
e turvação visual ● História familiar de diabetes e outras patologias
○ 2) Das complicações agudas - cetoacidose, endócrinas
coma hiperosmolar, infecções ● Construir árvores genealógica
○ 3) Das complicações crônicas - tanto
microvasculares (perda de visão, insuficiência EXAME FÍSICO
renal, úlcera de pé) quanto macrovasculares ● Peso e altura; cálculo do IMC
(IAM, AVC) ● Cintura e cálculo da relação cintura/altura
● Resultados das glicemias, no diagnóstico e no ● Nas crianças e adolescentes comparar com as normas
seguimento ● Estágio de maturação sexualde Tanner
● História de peso, estado nutricional e hábitos ● Verificação da PA sentado ou deitado e em pé
alimentares ● Fundoscopia
● Tratamentos anteriores: nutrição, monitorização ○ Em todo paciente com DM2, como não se tem
pessoal do diabetes, atitudes e crenças de saúde certeza de quando se iniciou, faz-se o rastreio
● Tratamento atual: medicações, plano alimentar, das complicações crônicas na 1a consulta. Uma
registro de glicemias recentes das formas é pela fundoscopia, para estudar a
● História de exercício microcirculação
● Crescimento e desenvolvimento nas crianças e ○ Em crianças com DM1, esse exame é feito
adolescentes depois dos 5 anos de doença (não é preciso
● Frequência, severidade e cauda de complicações fazer logo na 1a consulta), ou quando estiver
agudas: entrando na adolescência ou engravidar
○ Cetoacidose ● Exame da cavidade oral
○ Hipoglicemia ○ Importante para identificar alguma infecção
○ História de infecções: pele, pés, (periodontite)
odontológicas e genitourinárias ● Exame da tireóide
● Exame cardíaco
ANTECEDENTES PESSOAIS ● Exame do abdômen
● Estilo de vida ● Avaliação dos pulsos arteriais periféricos com
● Fatores psicossociais, culturais e econômicos que palpação e ausculta
possam influenciar o manuseio do diabetes ● Exame das mãos
● Uso de cigarro, álcool e ou substâncias controladas; ○ Procura-se neuropatia periférica simétrica
questionário CAGE distal. Para isso, pede-se para o paciente
● Uso de drogas ilícitas; questionário de drogas fazer o sinal da prece.
● Uso de medicações que podem afetar os níveis ○ No caso de neuropatia, o paciente tem
glicêmicos perda da mobilidade articular e não
● Fatores de risco para aterosclerose: consegue encostar os dedos uns nos outros
(quadro avançado), além de atrofia da ■ A principal causa é o diabetes, mas
musculatura das mãos, rigidez articular e não é a única
perda da força e sensibilidade ○ Exame neurológico
○ Sinais de doenças que possam causar
diabetes secundário: hemocromatose, doença
pancreática, acromegalia, doença de Cushing
Sinal da prece:
Acantose Nigricans

Atrofia da musculatura (interóssea) das mãos (proeminência


dos tendões)
Necrobiose lipoídica2 (necrose da pele arredondada típica de
diabetes)

○ Exame dos pés


○ Exame da pele
■ Podem ser vistas manchas de
acantose nigricans, manchas Pé diabético (uma das principais causas de amputação)
escuras na pele, com textura ● 80-90% das úlceras são precipitadas por trauma
grossa e aveludada, causadas por extrínseco
hiperinsulinemia ● 70-100% das lesões apresentam sinais evidentes de
■ A insulina causa hipertrofia dos neuropatia
melanócitos, causam manchas ● 20-50% dos casos apresentam infecção
escuras e elevadas, que aparentam ● 10% das úlceras são puramente vasculares
ser uma mancha de sujeira ● Como identificar o pé em risco:
■ Aparecem principalmente nas axilas, ○ Exame da pele e fâneros
na virilha e no pescoço ○ Exame neurológico: 2 testes alterados tem
■ São manchas fáceis de sair após sensibilidade de 87%
tratamento com metformina
(resistência à insulina) 2
A necrobiose lipoídica é um distúrbio da degeneração do colágeno
com resposta granulomatosa, espessamento das paredes dos vasos
sanguíneos e deposição de gordura
○ Exame vascular Exame físico dos pés (inspeção)
● Deformidades: dedos em martelo ou em garra,
Exame da pele proeminências ósseas
● Tinea pedis → pé de atleta; infecção fúngica causada ● Patologia ungueal
por dermatófito, que geralmente começa entre os dedos ● Neuropatia: pele seca, calosidades, veias dilatadas,
atrofia da musculatura com proeminência dos
tendões, dedos em garra
● Reflexo profundo: reflexo aquileu com martelo de
Dejerine, Buck ou Babinski
● Sensibilidade superficial:
○ Tátil → com monofilamento de 10g
○ Térmica → com água quente e fria em tubos
de ensaio
○ Dolorosa → com palito japonês
● Sensibilidade profunda: com diapasão de 128 Hz

Dedos em garra

Na segunda imagem, a ferida fez uma solução de continuidade. Neuropatia autonômica → anidrose, que leva à formação
Na terceira, a pele foi rompida e houve proliferação de germe de fissuras no pé
anaeróbio

Exame neurológico
● Inspeção: atrofia interóssea, anidrose, rachaduras,
deformidades, calosidades, pontos de pressão
○ Deformidades: dedos em martelo; dedos em
garra; proeminências ósseas
○ Patologia ungueal
○ Neuropatia: pele seca, calosidades, veias
dilatadas, atrofia da musculatura com
proeminência dos tendões, dedos em garra Neuropatia motora → atrofia das unhas; dedos em garras3
○ Pé neuropático: rachado com úlceras
○ Úlceras neuropáticas ocorrem principalmente
em pontos de pressão - o indivíduo pisa em
algo pontudo, o que forma um calo. Embaixo do
3
calo, desenvolve-se a úlcera Associado à retração e ao encurtamento dos tendões.Diabéticos
com neuropatia (redução da sensibilidade) e pessoas com neuropatia
○ É o chamado mal perfurante plantar, típica de
devido a outras doenças, ao utilizar sapatos inadequados e por não
neuropatia diabética perceber que os dedos estão apertados, podem ter lesões e dedos
em garra
Úlcera neuropática

Exame vascular dos pés


● Inspeção estática: hiperemia reativa, queda de pelos,
atrofia da pele e das unhas
● Inspeção dinâmica: palidez à elevação do membro e
rubor ao pender
● Temperatura
● Pulsos arteriais
● Retardos do enchimento capilar
Dedos em martelo (deformidade) ● Doppler arterial para cálculo do índice tornozelo/braço

Rubor ao pender

Pé de Charcot (degeneração dos ossos)

Palidez à elevação

Neuroisquêmico (uma parte de isquemia e outra de Insuficiência vascular periférica


neuropatia)
- Arco médio elevado, - Unhas atrofiadas,
metatarsos proeminentes, ausência/rarefação de pêlos
dedos em garra/martelo
- Áreas de pressão plantar Pé neuroisquêmico
anormal (hiperqueratose),
calosidades - Combinação dos achados
- Susceptível a alterações neuropáticos e vasculares,
articulares graves com ou sem deformidades
(neuroosteoatropatia:
Charcot)

Classificação do pé em risco
EXTRA: Fasciite necrotizante
Categoria Risco Frequência de
avaliação

Neuropatia e vasculopatia 0 Uma vez por ano


ausentes

Neuropatia presente e 1 Uma vez a cada seis


vasculopatia ausente meses
Neuropatia presente 2 Uma vez a cada três
associado a sinais de meses
doença vascular periférica e
ou deformidades
● Donça das bactérias devoradoras de carne -
ocorre quando bactérias entram no corpo por
ruptura da pele (no caso da paciente acima, ele Amputação ou úlcera prévia 3 Uma vez a cada um a
tinha um abscesso no dente, que partiu por três meses
debaixo da pele)
● Pacientes diabéticos têm muita periodontite, por Exame da retina
isso a importância de avaliar a boca
● Na boca existem muitas bactérias gram-negativas
e anaeróbicas

Características do pé diabético: neuropático, isquêmico e


neuroisquémico

Pé neuropático Pé isquêmico

- Quente, bem perfundido, - Pé frio, com pobre


pulsos amplos, vasos dorsais perfusão, pulsos diminuídos
dilatados ou ausente
- Anidrose, pele seca com - Pele fina, brilhante
tendência a rachaduras e - Cianose, rubor postural,
fissuras palidez à elevação
OBS: Diabetes é um tripé: depende de
- Hereditariedade
- Meio ambiente
- Qualidade da assistência médica (dependente muito do
desenvolvimento socioeconômico)
- Para um paciente que não tem assistência
médica, o curso natural da doença é:
cegueira (em virtude da retinopatia
diabética), neuropatia das mãos (que leva à
perda de força), neuropatia dos pés (que
leva à amputação das pernas), e hemodiálise
(por insuficiência renal)

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