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§ CONCEITO
De acordo com o MS, o diabetes é um grupo de doenças metabólicas caracterizadas por hiperglicemia e
associadas a complicações, disfunções e insuficiência de vários órgãos, especialmente olhos, rins, nervos, cérebro,
coração e vasos sangüíneos. Pode resultar de defeitos de secreção e/ou ação da insulina envolvendo processos
patogênicos específicos, por exemplo, destruição das células beta do pâncreas (produtoras de insulina), resistência à
ação da insulina, distúrbios da secreção da insulina, entre outros.
O diabetes mellitus (DM) consiste em um distúrbio metabólico caracterizado por hiperglicemia persistente,
decorrente de deficiência na produção de insulina ou na sua ação, ou em ambos os mecanismos.
A hiperglicemia persistente está associada a complicações crônicas micro e macrovasculares, aumento de
morbidade, redução da qualidade de vida e elevação da taxa de mortalidade. A classificação do DM baseia-se em sua
etiologia.
Os fatores causais dos principais tipos de DM – genéticos, biológicos e ambientais – ainda não são
completamente conhecidos.
§ CLASSIFICAÇÃO
Para confirmar o diagnostico de DM e necessário repetição dos exames alterados, idealmente o mesmo exame
letrado em segunda amostra de sangue, na ausência de sintomas inequívocos de hiperglicemia. Pacientes com
sintomas clássicos de hiperglicemia, tais como poliúria, polidipsia, polifagia e emagrecimento, devem ser
submetidos à dosagem de glicemia ao acaso e independente do jejum, não havendo necessidade de confirmação
por meio de segunda dosagem caso se verifique glicemia aleatória ≥ 200 mg/dL.
§ METAS GLICEMICAS
ü HbA1c:
Padrão ouro para avaliar controle metabólico do individuo com DM1, uma vez que ficou demonstrado a
relação entre níveis aumentados e risco de complicação microvascular.
Aqueles que apresentaram os valores mais baixos de HbA1c, próximos de 7%, também mensuraram mais vezes
a glicemia capilar (sete vezes ao dia) e apresentaram glicemia média de 163 mg/dL, confirmando a necessidade
de monitorização mais intensiva para alcance dos objetivos glicêmicos. A determinação da HbA1c possibilita
estimar quão elevadas as glicemias estiveram nos últimos 3 a 4 meses. Tal estimativa torna-se possível pelo fato
de a glicose sanguínea ligar-se de maneira irreversível à hemoglobina durante o período de vida da hemácia, que
tem essa duração. A porcentagem da hemoglobina que sofreu glicação será tanto maior quanto maior a
concentração de glicose sanguínea. Esse resultado expresso em porcentagem refere-se à média das glicemias
diárias, sendo 50% correspondente ao mês que precedeu o exame, 25% ao mês anterior à coleta e 25% ao terceiro
e quarto meses anteriores. Assim, o valor de HbA1c obtido corresponderá, sobretudo, ao controle glicêmico do
último mês e, secundariamente, dos 2 a 3 meses precedentes.
Para adultos, as recomendações de HbA1c variam de 6,5 a 7,0%, dependendo da sociedade científica, mas
sempre é importante individualizar o tratamento. Em casos selecionados, entretanto, a meta pode ser mais rígida
(< 6,5%), desde que isso seja seguro ao paciente e com baixa frequência de hipoglicemias.
Em outras situações clínicas, como insuficiência renal ou hepática, que predispõem ao aparecimento de
hipoglicemia, o alvo glicêmico pode ser um pouco mais elevado do que o habitual. O mesmo pode ser preconizado
para indivíduos com hipoglicemias assintomáticas ou graves, idosos e pacientes com baixa expectativa de vida ou
complicações micro ou macrovasculares significativas. Pacientes com DM que adotaram o controle intensivo da
glicemia desde o início do tratamento apresentaram claros benefícios desse controle, na redução de complicações
micro e macrovasculares,
A Tabela 1 resume as principais metas de controle glicêmico e de HbA1c adotadas por diferentes sociedades
científicas para adultos com DM.
Vale ressaltar que, atualmente, o valor de HbA1c igual a 7% interpreta-se como correspondente a uma glicemia
média estimada de 154 mg/dL, e não 163 mg/dL, como já fora previamente interpretado.
Recomenda-se que a HbA1c seja realizada a cada 3 a 4 meses em crianças e adolescentes, com no mínimo
duas medidas anuais. Para adultos, com controles estáveis, sugerem-se duas medidas de HbA1c ao ano.
Maior benefício: trimestral e automonitorização da glicemia capilar.
E finalmente o tempo no alvo ou time in range (TIR), é uma nova modalidade, cada vez mais valorizada, que
resulta da incorporação do uso de sensor contínuo de glicose. Ela indica por quanto tempo – no último mês,
semana ou período selecionado – o paciente permaneceu com as glicemias entre 70 e 180 mg/dL.
ü Monitorização continua de glicose
Realizada por um sensor posicionado no interstício que faz a leitura da glicose a cada 5 minutos.
Isso é muito útil, em especial, no paciente que apresenta hipoglicemia assintomática, pois é possível
programar os alarmes para que sejam ativados quando determinado limite (escolhido previamente) de
glicemia for atingido ou, nas bombas mais modernas, quando houver queda esperada da glicemia, antes que
o paciente atinja o limiar de hipoglicemia.
O sensor pode fazer parte do conjunto da bomba de in- fusão de insulina – como a bomba da
Medtronic MiniMed® 640G e 670G (não disponível no Brasil) – ou apresentar-se isoladamente, como nos
aparelhos Dexcom® (não disponível no Brasil) ou FreeStyle® Libre, da Abbott (comercializado recentemente
no Brasil).
§ RASTREAMENTO
O rastreamento consiste em um conjunto de procedi- mentos cujo objetivo é diagnosticar o diabetes mellitus
tipo 2 (DM2) ou a condição de pré-diabetes em indivíduos assintomáticos. Essa atividade tem grande importância
para a saúde pública, pois está diretamente ligada à possibilidade de diagnóstico e tratamento precoces,
minimizando os riscos de desenvolvimento de complicações, principalmente microvasculares.
Para que o rastreamento tenha boa relação custo-efetividade, é aconselhável que os procedimentos de
diagnóstico sejam realizados em uma população de alto risco, selecionada de acordo com os escores de
questionários como o Finnish Diabetes Risk Score (FINDRISC) ou o da Associação Americana de Diabetes (American
Diabetes Association, ADA), ambos já validados.
Se o rastreamento for realizado sem a utilização prévia de questionários, devem ser testados indivíduos acima
de 45 anos de idade ou, em qualquer idade, pacientes com sobrepeso/obesidade, hipertensão arterial ou história
familiar de DM2. Embora um índice de massa corporal (IMC) > 25 kg/m2 esteja associado a risco aumentado de
DM2, indivíduos de etnia asiática têm esse risco aumentado já em IMC > 23 kg/m2.
Outros fatores de risco para o desenvolvimento de DM2 que devem ser levados em consideração são: história
prévia de diabetes gestacional e uso de medicações como corticoides, diuréticos tiazídicos e antipsicóticos. Além
disso, é preciso atentar para a presença de comorbidades frequentemente associadas ao DM2, como periodontite,
infecções micóticas, hepatite C e outras infecções virais crônicas.
Nos pacientes identificados com pre-diabetes ou diabetes tipo 2, os fatores de risco cardiovasculares devem
ser identificados e tratados.
ü Quando repetir?
O intervalo de tempo recomendado para a repetição do rastreamento não foi determinado por
nenhum estudo clínico. Parece razoável recomendar um intervalo de 3 a 4 anos para o reteste daqueles
pacientes com baixo risco de desenvolver diabetes e que tiveram resultado prévio indubitavelmente normal,
assim como recomendar o reteste anual para os pacientes com pré-diabetes ou com fatores de risco para
desenvolvimento de DM2. Pacientes que tiverem resultados no limite superior do normal devem ser
reavaliados em 3 a 6 meses.
§ TRATAMENTO
ü DIABETES MELLITUS TIPO 1
A terapêutica do DM1, historicamente, segue a tríade composta por insulina, alimentação e atividade física.
Contudo, com os avanços tecnológicos e terapêuticos e os novos conhecimentos dos fatores psicológicos e
sociais que envolvem o DM, poder-se-ia dizer que a tríade deveria mudar para insulina, monitorização e
educação, incluindo-se nesta última a alimentação, a atividade física e a orientação para os pacientes e suas
familias.
- Insulinoterapia:
Como o DM1 se caracteriza por produção insuficiente de insulina, o tratamento medicamentoso depende da
reposição desse hormônio, utilizando-se de esquemas e preparações variados e estabelecendo-se “alvos
glicêmicos” pré e pós-prandiais para serem alcançados.
O tratamento com insulina deve ser iniciado o mais rápido possível após o diagnóstico (geralmente
dentro das 6 horas, em caso de cetonúria), para prevenir a descompensação metabólica e a cetoacidose
diabética (CAD).
A insulinoterapia em esquema intensivo (basal-bolus), seja com múltiplas aplicações de insulina ao dia,
seja com SICI, constitui a terapêutica fundamental e deve ser aliada à terapia nutricional com contagem de
carboidratos, automonitoriza- ção e prática regular e planejada de atividade física, a fim de complementar o
tratamento, cujo objetivo principal é o bom controle metabólico, postergando-se complicações crônicas.
O tratamento intensivo pode envolver a aplicação de múl- tiplas doses de insulina, com diferentes
tipos de ação, por meio de seringa, caneta ou SICI.
A dose diária total de insulina preconizada em pacientes com DM1, com diagnóstico recente ou logo
após diagnóstico de cetoacidose diabética, varia de 0,5 a 1,0 U/kg/dia. No entanto, alguns casos requerem
doses maiores de insulina para a recuperação do equilíbrio metabólico. A dose diária de insulina depende de
idade, peso corporal, estadiamento puberal, duração e fase do diabetes, estado do local de aplicação da
insulina (presença de lipodistrofias), ingestão de alimentos e sua distribuição, automonitoramento e HbA1c,
rotina diária, prática e intensidade da atividade física, bem como intercorrências (infecções, dias de doença
ou procedimentos cirúrgicos).
O tratamento intensivo em esquema basal-bolus com múltiplas aplicações ao dia pode ser realizado
por uma das seguintes opções:
Basal:
• Insulina protamina neutra Hagedorn (neutral protamine Hagedorn, NPH), duas a quatro vezes ao dia: (I)
antes do desjejum e ao deitar-se, (II) antes do desjejum, no almoço e ao deitar-se ou (III) antes do desjejum,
no almoço, no jantar e ao deitar-se ou
• Análogo de insulina glargina, uma vez ao dia: (I) antes do desjejum, (II) no almoço, (III) no jantar ou (IV) ao
deitar-se ou
• Análogo de insulina glargina U300 (2019: > 18 anos): (I) antes do desjejum, (II) no almoço, (III) no jantar ou
(IV) ao deitar-se ou
• Análogo de insulina detemir, uma ou duas vezes ao dia: antes do desjejum e/ou no jantar e/ou ao deitar-se
ou
• Análogo de insulina degludeca: uma vez ao dia: (I) antes do desjejum, (II) no almoço, (III) no jantar ou (IV)
ao deitar-se.
INFORMAÇÕES SLIDE:
Intensivo: 3 ou > doses de insulina ou sistema de infusão contínua.
Na prática: uma insulina basal (cuja função é evitar a lipólise e a liberação hepática de glicose no período
interalimentar), uma insulina durante as refeições (bolus de refeição) e doses de insulina necessárias
para corrigir hiperglicemias pré e pós-prandiais ou no período interalimentar (bolus de correção).
+ MEV
Dose total preconizada: DX recente ou logo após DX de cetoacidose diabética: 0,5 a 1,0 U/kg/dia.
Depende de idade, peso corporal, estadiamento puberal, duração e fase do diabetes, estado do local de
aplicação da insulina (presença de lipodistrofias), ingestão de alimentos e sua distribuição,
automonitoramento e HbA1c, rotina diária, prática e intensidade da atividade física, bem como
intercorrências (infecções, dias de doença ou procedimentos cirúrgicos).
- Insulina bifásica
Outra opção de tratamento intensivo consiste no uso de pré-misturas ou insulinas bifásicas, mas com algumas
desvantagens em indivíduos com DM1, em especial pela impossibilidade de ajustes mais precisos, aumentando o
risco de hipoglicemias.
A pré-mistura, contudo, pode ser útil para pacientes com restrições visuais ou motoras, que tenham
dificuldade na realização correta e segura da mistura de dois tipos de insulinas com diferentes tempos de ação,
para aqueles que rejeitem o esquema de insulinização mais intensivo e para pacientes com DM2 com necessidade
de insulinização plena.
No mercado brasileiro, existem formulações de pré-mistura com insulinas humanas (NPH e regular, na
formulação 70/30) e com análogos de insulina (lispro protamina + lispro, nas formulações 75/25 e 50/50, e asparte
protamina + asparte, na formulação 70/30).
- Agentes Antidiabéticos
Sob esse conceito amplo, de acordo com o mecanismo de ação principal, os antidiabéticos podem ser
agrupados do seguinte modo:
1. aqueles que incrementam a secreção pancreática de insulina (sulfonilureias e glinidas);
2. os que reduzem a velocidade de absorção de glicídios (inibidores das alfaglicosidases);
3. os que diminuem a produção hepática de glicose (biguanidas); e/ou
4. os que aumentam a utilização periférica de glicose (glitazonas);
5. aqueles que exercem efeito incretínico mediado pelos hormônios GLP-1 (peptídio semelhante a
glucagon 1, glucagon-like peptide-1) e GIP (peptídio inibidor gástrico, gastric inhibitory polypeptide),
considerados peptídios insulinotrópicos dependentes de glicose. Esses fármacos incretinomiméticos
são capazes de aumentar a secreção de insulina apenas quando a glicemia se eleva. Em contrapartida,
controlam o incremento inadequado do glucagon pós-prandial observado nos pacientes com
diabetes.O efeito incretínico é o responsável pela maior redução de glicemia verificada após a
ingestão oral de glicose, em comparação com a mesma quantidade injetada por via venosa em
indivíduos que não têm diabetes. Pertencem a essa família medicamentos de ação parecida com a do
GLP-1 (miméticos [exenatida] e análogos [liraglutida, lixisenatida, dulaglutida e semaglutida]) e,
ainda, os inibidores da enzima dipeptidil peptidase 4 (DPP-4) (gliptinas). O bloqueio da enzima DPP-4
reduz a degradação do GLP-1, aumentando, assim, a sua vida média, com promoção das principais
ações, como liberação de insulina, redução da velocidade de esvaziamento gástrico e inibição da
secreção de glucagon.
6. Por fim, existem aqueles que inibem o contratransporte sódio/glicose 2 nos túbulos proximais dos rins. Essa
nova classe de fármacos – inibidor do cotransportador de sódio/ glicose tipo 2 (sodium/glucose cotransporter
2, SGLT2) – reduz a glicemia pela inibição da reabsorção de glicose nos rins, promovendo glicosúria. Dessa
maneira, pode controlar a glicemia independentemente da secreção e da ação da insulina, com consequente
menor risco de hipoglicemia, podendo favorecer a perda de peso.