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DIABETES

Primeiramente, para estudar a diabetes é importante ter conhecimento sobre as células que compõem a
parte endócrina do pâncreas. Estas são:
● Células alfa (20%) - produzem glucagon, o qual estimula glicogenólise (degradação de
glicogênio) no fígado, resultando em hiperglicemia.
● Células beta (70%) - sintetizam proinsulina e insulina, de forma que reduzem a glicemia.
Além disso, produz peptídeo C, responsável também pela captação de glicose, porém se
destaca por não estar suscetível aos anticorpos anti-insulina, sendo um hormônio reduzido na
patologia DM 1 e aumentado quando há resistência à insulina.
● Células delta - produzem somatostatina que inibe a secreção de glucagon e insulina. Existe
um subtipo, denominado célula D1 que produz uma substância chamada VIP que estimula a
glicogenólise.
● Células PP - produtoras de peptídeo pancreático que estimula liberação de enzimas gástricas e
intestinais.
● Células EC - libera serotonina.

NOMENCLATURA
● glicogenólise - degradação de glicogênio (aumenta a glicemia).
● glicogênese - produção de glicogênio a partir da glicose (reduz a glicemia)
● gliconeogênese - produção de glicose por meio da quebra de outras substâncias (aumenta a
glicemia).
● glicólise - processo de quebra da glicose para produzir ATP (reduz a glicemia)

EPIDEMIOLOGIA E CLASSIFICAÇÃO
A diabetes é um conjunto de afecções que têm em comum a hiperglicemia, decorrente de
defeitos na secreção ou produção de insulina. Acredita-se que 9,3% dos adultos entre 20 e 79 anos
vivem com diabete, cerca de 463 milhões de pessoas, além disso, 1,1 milhão de crianças e
adolescentes têm essa patologia (fonte: BVSMS).
Existem dois tipos principais de diabetes, tipo 1 e 2. O tipo 1 é a minoria dos casos, entre 5
a 10% dos casos e diz respeito a doença autoimune ou de cunho idiopático, sendo mais comum abaixo
dos 20 anos de idade. Enquanto a tipo 2 representa 90% dos casos e vem de uma afecção adquirida
com desenvolvimento de resistência periférica à insulina com resposta secretória inadequada das
células, sendo mais comum em pessoas com sobrepeso. Outros tipos de DM são DM induzido por
medicamentos ou agentes químicos, gestacional, induzida por fatores imunológicos e a DM
associada a síndromes, como a síndrome de Down.

PATOGÊNESE
A insulina é um polipeptídeo que atua em quatro facetas: (1) captação e utilização de glicose
pelos tecidos - principalmente, músculos estriados; (2) glicogênese; (3) síntese protéica e
armazenamento de lipídios; (4) síntese de DNA, multiplicação e diferenciação de algumas células. De
forma geral, esse hormônio atua na indução de hipoglicemia.
Existe outro hormônio importante que auxilia no processo de ativação da insulina, as
incretinas, que são GLP1 e GIP1. Essas incretinas são secretadas pelo epitélio intestinal, O GLP- 1
estimula a secreção de insulina dependente de glicemia, a expressão do gene da proinsulina e a
proliferação das células P e inibe a secreção de glucagon pelas células a do pâncreas, a apoptose das
células P e o esvaziamento gástrico. Geralmente, o consumo oral da glicose aumenta
significativamente mais do que quando há aplicação intravenosa, isso é denominado efeito incretina e
é responsabilidade dos hormônios supracitados.
Dessa forma, a DM 1 possui patogênese baseada em autoimunidade, e existem fatores
genéticos e ambientais para essa ocorrência que induzem uma reação imunológica contra as células
beta do pâncreas, causando sua destruição. Os genéticos podem ser associados com o locus HLA no
cromossomo 6p21, geralmente quando há associação entre haplótipos DR3 ou DR4 com o DQ8. Além
disso, acredita-se que polimorfismo no gene da insulina ou em genes que codificam produtos
inibidores da resposta imunológica também podem estar envolvidos no surgimento de DM1.
Entre os fatores ambientais, acredita-se que infecções virais podem resultar em DM 1, a partir
da mimetização, por exemplo.
A DM 2 é a doença adquirida, sendo influenciada tanto por fatores comportamentais, como
hábitos alimentares ruins e sedentarismo, e fatores genéticos. Basicamente, essa patologia tem início
devido ao desenvolvimento de resistência periférica à insulina e, posterior, disfunção das células beta,
isso porque o defeito metabólico de resistência gera hiperglicemia, a qual o corpo tenta compensar
com maior produção de insulina, causando hiperplasia e exaustão das células betas, além do excesso
de insulinemia mesmo em jejum.
A exaustão das células ocorre também pela produção de amilina, um peptídeo que é excretado
pelas células beta juntamente com a insulina. Essa substância se mostrou tóxica para o tecido das
ilhotas pancreáticas, induzindo sua apoptose. Além disso, na DM 2 ocorre redução do efeito incretina,
por redução da secreção de GLP1.
A obesidade é uma das principais causas e atua de forma que o acúmulo de gordura: (1)
aumenta excessivamente a quantidade de ácidos graxos no sangue, o que é inversamente proporcional
à sensibilidade à insulina; (2) reduz adiponectina, uma proteína sensibilizadora de insulina produzida
por tecido adiposo branco - potencializando a enzima AMPK; (3) secreta citocinas pró-inflamatórias.
Por fim, a DM gestacional é uma condição, em que a DM se expressa a gravidez devido ao
desequilíbrio hormonal entre a insulina e hormônios como o lactogênio placentário, cortisol,
estrógeno, progesterona e prolactina. Os fatores predisponentes incluem obesidade, história familiar
de DM, síndrome de ovários policísticos, ganho de peso excessivo durante a gravidez, complicações
obstétricas prévias, idade superior a 25 anos, baixa estatura e tabagismo.

COMPLICAÇÕES
As complicações da diabetes são divididas em duas classes: aguda e crônica. As agudas
principais são cetoacidose diabética na DM 1 e estado hiperglicêmico hiperosmolar na DM 2. As
crônicas podem ser variadas e geralmente causadas pelo estreitamento dos vasos sanguíneos, isso
porque o paciente diabético acumula substâncias complexas derivadas da glicose e possui aumento da
gordura no sangue, o que causa aterosclerose que oclui os vasos. Além disso, a hiperglicemia gera
efeitos deletérios a partir da produção excessiva de espécies reativas de oxigênio pela cadeia de
transporte de elétrons nas mitocôndrias.
Dessa forma o paciente desenvolve problemas oculares, hepáticos, renais, cardíacos e
nervosos. Além disso, quando os níveis de glicose no sangue são elevados, os glóbulos brancos não
conseguem combater as infecções de maneira eficaz, logo, as pessoas com diabetes frequentemente
apresentam infecções bacterianas e fúngicas, geralmente na pele e boca. Toda a infecção que surge
tende a ser mais grave e demorar mais tempo para sarar em pessoas com diabetes. Às vezes, uma
infecção é o primeiro sinal de diabetes.
CETOACIDOSE DIABÉTICA
A cetoacidose inicia porque a hiperglicemia induz lipólise, o que libera corpos cetônicos que
aumentam a acidez do sangue. O sangue com alta concentração de prótons H, o que induz o
transporte de H + para dentro da célula, a partir de uma bomba que coloca potássio para o meio
extracelular. Nesse momento, há uma desregulação iônica, isso porque a insulina auxilia a
passagem de potássio para o meio intracelular, sua ausência provoca hipercalemia. Como a
desidratação dificulta a excreção urinária dos corpos cetônicos e eletrólitos, instala-se a acidose
metabólica, acompanhada de anion gap aumentado (em geral acima de 12 mEq).
- Definição: pH arterial abaixo de 7,3; bicarbonato plasmático abaixo de 15 mEq/dl; aumento
inapropriado na concentração de corpos cetônicos no sangue e, consequentemente, na urina; com
glicemia > 200.
- Causa: falta de insulina ser real (falta da aplicação de insulina) ou relativa ( quadros infecciosos -
aumento da resistência à insulina).
- Sintomas: desidratação, dor abdominal, polidipsia, respiração de kussmaul, fraqueza, hálito
frutado, poliúria, confusão mental e visão embaçada.
- Complicação: Em crianças, a principal é o edema cerebral.

ESTADO HIPEROSMOLAR
Ocorre na DM 2. Ocorre aumento da osmolaridade no sangue, desidratando as células - em
particular as nervosas - , sem ter necessariamente acidez sanguínea.

MANIFESTAÇÕES CLÍNICAS
Os sinais de DM1 são glicosúria, diurese osmótica, poliúria, polidipsia e polifagia. Já na
DM2, costumam coexistir obesidade central, hipertrigliceridemia, baixos níveis séricos de colesterol
HDL, hipertensão arterial e doença gordurosa do fígado, em mulheres é comum a presença de
candidíase vaginal.
O diagnóstico laboratorial é baseado em critérios, como: valor de glicemia aleatória igual ou
superior a 200 mg/dL, associado à manifestação clínica, glicemia de jejum igual ou superior a 126
mg/dL em mais de uma ocasião, glicemia superior a 200 mg/dL 2 h após a administração, por via oral,
de solução padrão de carboidrato (75 g de glicose anidra, equivalente a 82,5 g de dextrosol) ou nível
sérico de glico-hemoglobina (HbA1,) igual ou superior a 6,5%.
A pré-diabetes é definida como glicemia de jejum de 100 mg/dL a 125 mg/dL, glicemia
pós-prandial de 140 mg/dL a 199 mg/ dL e níveis de HbA1, de 5,7% a 6,4%.
Diabetes Pré-diabetes

Glicemia em jejum >126 mg/dL entre 100 e 125 mg/dL

HbA1 >6,5% entre 5,7 e 6,4%

Glicemia aleatória 200 mg/dL entre 140 e 199 mg/ dL

TRATAMENTO

Mecanismo de ação Farmacocinética Efeitos adversos Exemplos

A insulina se liga a -Adm: subcutânea, IV ou Hipoglicemia, alergia Lispro,


receptores nos músculos e IM é incomum e glargina, NPH,
Insulina nas células gordurosas e -Degradação: TGI resistência por regular.
também inibe a produção -Biotransformação: fígado e anticorpos é rara.
de glicose pelo fígado. rim
-Eliminação: urina

TIPOS DE INSULINA
Ação ultrarrápida: lispro, asparte e glulisina.
Ação rápida: regular.
Ação intermediária: NPH - utilizada no SUS
Ação prolongada - detemir e glargina U-100.
Ação ultralonga - degludeca e glargina U-300.

OBS.: geralmente, é administrada uma insulina de


ação curta relacionada a uma insulina de ação longa.

Mecanismo de ação Farmacocinética Efeitos adversos Exemplos

Biguanida* Reduzir a produção da -Adm: oral. distúrbios no TGI metformina


glicose hepática ao inibir o -Biotransformação: não e acidose lática em
complexo I da cadeia ocorre. pacientes com
respiratória mitocondrial. -Eliminação: urina. doença renal ou
hepática, doença
pulmonar hipóxica
e cardiopatas.

Tiazolidinedionas* Ligam-se a um receptor -Adm: oral Aumento de peso e pioglitazona


nuclear denominado -Eliminação: bile retenção de
PPARγ (diferenciação dos - São de início lento, líquidos (DCV),
adipócitos, lipogênese, sendo o efeito máximo hemodiluição e
captação de ácidos graxos e atingido com 1-2 meses aumento da
de glicose e reabsorção de deposição de
sódio) que forma complexo gordura no tecido
com o receptor de retinóide subcutâneo. Dores
X que liga-se ao DNA de cabeça, fadiga e
(transcrição de genes distúrbios
importantes na gastrointestinais.
sinalização da insulina).

Inibidor de alfa Bloqueia as enzimas que -Adm: oral Flatulência, fezes Acarbose
glicosidase*. digerem os amidos (retarda amolecidas ou
a absorção de carboidratos, diarreia, dor
reduzindo a elevação da abdominal e
glicemia pós-prandial.) sensação de
plenitude.

Sulfonilureia* Bloqueiam canais de Katp -Adm: oral Hipoglicemia, Tolbutamida,


nas células beta (ocorre -Eliminação: urina e ganho ponderal e glibenclamida e
despolarização, entrada de fezes. podem ocorrer glipizida
cálcio e secreção de insulina) - Atravessa a placenta. erupção cutânea e
- Interação +: AINE, lesão na medula
álcool e alguns ATB. óssea (rara).
- Interação -: diuréticos Desenvolvimento
tiazídicos e de DCV a longo
corticosteróides. prazo.

Inibidor de DPP-IV* inibem competitivamente -Adm: oral efeitos sitagliptina,


DPP-IV (diminuem a glicose -Eliminação: urina gastrointestinais vildagliptina,
no sangue ao potenciar as adversos; doença saxagliptina,
incretinas endógenas) hepática e linagliptina
agravamento de
insuficiência
cardíaca e
pancreatite

Agonista de GLP1* Mimetiza os efeitos do -Adm: IV ou subcutânea redução ponderal, liraglutida


GLP-1 (diminuem a glicose -Eliminação: urina hipoglicemia, (injetável),
no sangue ao aumentar a efeitos exenatida
secreção de insulina, gastrointestinais e (subcutânea)
suprimindo a secreção de pancreatite
glucagon e atrasando o
esvaziamento gástrico )
*Não secretagogos de insulina *Secretagogos de insulina

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