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Luís Felipe Viapiana de Santana, Turma 106

TRATAMENTO DA DIARREIA
A diarreia pode ser definida, de forma prática, como a eliminação de fezes amolecidas, de consistência líquida,
fenômeno que, geralmente, vem acompanhado de aumento do número de evacuações diárias (>3x/dia) e aumento
da massa fecal (>200g/dia). De forma aguda, é uma resposta fisiológica de proteção contra agentes e, de forma
crônica, é inapropriada e deletéria, porque causa depleção de sais e água (desidratação, distúrbios eletrolíticos,
distúrbios do equilíbrio acidobásico e até choque circulatório).
ABSORÇÃO vs SECREÇÃO
No intestino, temos substâncias que podem estimular a absorção de fluidos e eletrólitos (somatostatina,
noradrenalina, encefalina e neuropeptídeo Y) e substâncias que causam secreção de fluidos e eletrólitos (serotonina,
acetilcolina, VIP, substância P, histamina, prostaglandina, leucotrienos, citocinas e toxinas). Vale lembrar que todas
as secretagogas aumentam AMPc ou GMPc dentro do enterócito, e isso estimula canais de cloreto, causando laxação,
ou seja, um enterócito tem vários receptores para diferentes secretagogos.

CLASSIFICAÇÃO DAS DIARREIAS


QUANTO À ORIGEM
 ALTA: é proveniente do intestino delgado. Neste caso, os episódios diarreicos são mais volumosos (risco de choque
hipovolêmico), podendo ocorrer síndrome disabsortiva associada à esteatorreia.
 BAIXA: é proveniente do cólon. Neste caso, as evacuações são em poucas quantidades (mas muito frequentes),
havendo urgência fecal e sintomas de irritação do reto.
QUANTO AOS MECANISMOS

QUANTO À DURAÇÃO
 DIARREIA AGUDA: <2 semanas. Na maior parte dos casos, são de origem infecciosa ( vírus, bactérias e
protozoários), mas podem ser por medicações, ingestão de toxinas e doença inflamatória intestinal.
o Se acomapanhada de náuseas, vômitos e dor abdominal difusa, a diarreia aguda compõe a Síndrome de
Gastroenterite Aguda, sendo as principais causas infecções virais (novovírus e rotavírus) e intoxicação
alimentar (ingestão de toxinas pré-formadas, como S.aureus).
CARACTERÍSTICAS DAS DIARREIAS AGUDAS
INFLAMATÓRIA NÃO INFLAMATÓRIA
Sangue, pus e muco nas fezes (disenteria), que são Fezes aquosas, mas ausência de sangue, pus ou muco.
pesquisados através de elementos anormais nas fezes.

Febre Sem febre


Elementos anormais nas fezes positivo para hemácias e EAF normal
leucócitos fecais

Geralmente afetam o cólon Geralmente afetam o delgado


Diarreia de pequeno volume, mas em maior frequência Diarreia de grande volume, menor frequência

 DIARREIA PROTRAÍDA OU PERSISTENTE: entre 2-4 semanas


 DIARREIA CRÔNICA: >4 semanas. As principais causas são DII, infecção parasitária ou bacteriana, doença celíaca,
intolerância à lactose, insuficiência pancreática, má absorção de sais biliares, má absorção de ácidos graxos e
carboidratos, diarreia diabética (devido à neuropatia autonômica), ressecação intestinal , síndrome do intestino
irritável, fármacos laxativos, hipertireoidismo e incontinência fecal.
INDICAÇÕES DE ATB EMPÍRICO PARA DIARREIA AGUDA
Presença de leucócitos fecais no EAF (teste de elementos
anormais nas fezes), disenteria + febre + dor abdominal intensa,
desidratação importante, >8 evacuações/dia, paciente
imunodeprimido e necessidade de hospitalização pela diarreia.

FÁRMACOS INDUTORES DA DIARREIA (=PROVA?)


Laxativos estimulantes e osmóticos, antibióticos, anti-
hipertensivos, antiácidos com magnésio, agentes procinéticos,
antineoplásicos, tiroxina, digitálicos, quinidina e
prostaglandinas.
TRATAMENTO DAS DIARREIAS
Consiste em tratamento de suporte (reposição oral de água e eletrólitos, higienização de mãos e utensílios e
manutenção da alimentação), tratamento sintomático (fármacos) e tratamento específico (direcionado à causa
subjacente da diarreia).
1) TERAPIA DE REIDRATAÇÃO ORAL
São misturas balanceadas de glicose, aminoácidos e eletrólitos. É o caso de produtos comerciais, como o Pedyalite,
soro caseira (1l água + 1 colher de café de sal + 1 colher de sopa de açúcar), uso de probióticos e soluções IV (ringer
lactato). Quando a água, glicose e sal são reabsorvidos, não só temos absorção de água, mas também diminuição da
secreção. Em crianças, embora controverso, pode-se suplementar zinco.
2) SEQUESTRADORES DOS ÁCIDOS BILIARES
São úteis apenas para diarreias provocadas por sais biliares, ou seja, em pacientes que fizeram ressecção do íleo distal
(80% dos sais biliares são reabsorvidos no íleo distal) ou diarreia pós-colecistectomia. Vale lembrar que a utilização
destes fármacos diminui a quantidade de sais biliares, o que faz com que tenhamos mais colesterol disponível para o
fígado, e isso diminui a quantidade de colesterol total.
EFEITOS ADVERSOS
Desconforto abdominal, constipação, fezes endurecidas, náusea, deficiência de vitaminas A, D, E, K.
3) PROBIÓTICOS
Fazem a reconstituição normal da flora bacteriana colônica, dificultando a proliferação de enteropatógenos em casos
de diarreia aguda. São eles: bioflorin, biovicerin, flomicin, floratil, florazin, florente, lactipan, leiba e repoflor.
INTERAÇÕES
Não devem ser administrados concomitantemente a agentes fungistáticos ou fungicidas, por anularem o efeito da
medicação.
4) OPIOIDES
Atuam, principalmente, através de receptores μ ou δ (delta) presentes nos SNE, nas células epiteliais e dos músculos.
São eles: loperamida (principal), difenoxilato e difenoxina. Causam alterações da motilidade intestinal (receptores μ),
alteração da secreção intestinal (receptores delta), aumento da absorção (receptores μ e delta), diminuição de tônus
intestinal (diminui peristaltismo), diminuição da propulsão do bolo fecal e esvaziamento gástrico.
A) LOPERAMIDA/IMOSEC
Como agente antidiarreico, é 40-50x mais potente do que a morfina, alcança concentrações baixas no SNC, aumenta
o tempo de trânsito intestinal, inibe o peristaltismo, aumenta o tônus do esfíncter anal, sendo o agente sintomático
de escolha para diarreias agudas e persistentes de adultos que não apresentam manifestações de toxemia (não usar
em diarreia não inflamatória, porque isso estaria impedindo um mecanismo de defesa).
EFEITOS ADVERSOS
Constipação, cólicas, distensão abdominal, náusea, vômito, anafilaxia, rash cutâneo, tontura, sedação, fadiga, boca
seca e retenção urinária.
INTERAÇÕES
Pote potencializar efeitos adversos de medicamentos depressores do SNC, como fenotiazinas e antidepressivos
tricíclicos.
FARMACOCINÉTICA
Níveis plasmáticos máximos em 3-5h, T1/2 de 11h, amplamente metabolizado pelo fígado, e a dose habitual para os
adultos é de 4-8mg/dia (máximo de 16mg/dia).
CONTRAINDICAÇÕES
Pacientes com doença inflamatória intestinal ativa envolvendo o cólon e crianças menores de 3 anos (associa-se a
eventos adversos raros, porém graves, devendo ser evitado).
B) DIFENOXILATO (LOMOTIL = DIFENOXILATO + ATROPINA)
É um derivado da meperidina, que diminui a frequência das evacuações e volume das fezes, sem alterar o tônus
esfincteriano em pacientes com diarreia crônica e incontinência fecal. Em administração crônica, causa efeitos típicos
dos opioides (efeitos no SNC em doses maiores de 40-60mg, razão pela qual tem potencial de abuso e/ou
dependência), inclusive, depressão respiratória, cardiovascular e bradicardia.
EFEITOS ADVERSOS
Efeitos no SNC (sonolência, alucinação, letargia, depressão, cefaleia, parestesia, euforia, agitação psicomotora,
tontura, insônia, depressão e confusão) e anticolinérgicos provocados pela atropina (boca seca, borramento visual,
etc).
INTERAÇÕES
Pode potencializar os efeitos sedativos de outros depressores do SNC, e o uso concomitante com iMAOS pode
provocar crise hipertensiva.
C) CODEÍNA E ELIXIR PAREGÓRICO
A codeína é usada em doses de 30mg, 3-4x/dia, e o elixir paregórico corresponde a 2mg de morfina por 5mL.
EFEITOS ADVERSOS
Cólicas, náusea, vômito, anorexia, depressão respiratória, miose, fraqueza neuromuscular, hipotensão, bradicardia,
palpitação, tontura, cefaleia, depressão no SNC, aumento da pressão intracraniana, diminuição do débito urinário,
dependência física e psicológica.
5) RACECADOTRIOL
É um antissecretor inibidor da encefalinase intestinal (enzima que degrada encefalinas, ou seja, opioides endógenos).
Dessa forma, inibe a secreção sem alterar a motilidade.
EFEITOS ADVERSOS
Constipação, náusea, vômito, vertigem, cefaleia e sonolência. Por ser um fármaco novo, podem ocorrer interações e
reações adversas ainda não relatadas.

6) AGONISTAS DE RECEPTORES α2 (CLONIDINA)


O exemplo é a clonidina, que ativa receptores alfa2, o que diminui a liberação de acetilcolina, causando aumento da
absorção de fluidos e eletrólitos, inibição da secreção e retardo do trânsito intestinal. São especialmente úteis para
pacientes diabéticos com diarreia crônica.
EFEITOS ADVERSOS
Boca seca, sedação, disfunção sexual, bradicardia, hipotensão postural e causa síndrome de retirada.
7) OCREOTIDA E LANREOTIDA
São análogos sintéticos da somatostatina, que inibem a secreção de hormônios gastropancreáticos (5-HT, motilina,
neurotensina, secretina, gastrina e VIP), podendo ser administrados por via subcutânea ou IV (na forma de bolo).
USO CLÍNICO
Diarreias causadas por acromegalia, tumores neuroendócrinos GI, diarreia resistente e varizes gastroesofágicas (ou
seja, neste caso, atua diretamente na causa de diarreia).
EFEITOS ADVERSOS
Bradicardia, dor torácica, fadiga, tontura, cefaleia, convulsão, ansiedade, cãibras, fraqueza, febre, hiperglicemia, dor
abdominal, diarreia, flatulência, constipação, náusea e vômito.
8) OUTROS AGENTES ANTIDIARREICOS
São fármacos que tem a constipação como “efeito adverso”: bloqueadores do canal de cálcio (verapamil e
nifepidino), bloqueadores de canal de cloreto, inibidores da calmodulina, anticolinérgicos, agentes adsorventes
(caolim coloidal, pectina, carvão ativado e atapulgita ativada), formadores de massa (carboximetilcelulose e
policarbofila) e bismuto.

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