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DIARREIA

Adalberto Clemente Boca


Diarreia

• Se define como diarreia, ao aumento do volume, da fluidez e


da frequência das deposições em ralação ao habito intestinal
normal de cada individuo.
• OMS define como diarreia, a eliminação de três ou mais
deposições liquidas diárias.
• Hipócrates a 2400 anos definiu como diarreia a toda
anormalidade na fluidez das deposições
Epidemiologia
As diarreias são a terceira maior causa de mortalidade
em crianças menores de 5 anos (OMS 2006)
A UNICEF em 1996 afirmou que morriam diariamente
8000 crianças por diarreia.
Em 2008 a diarreia foi responsável por 1.366.000
mortes em crianças menores de 5 anos, este numero
representava 15% (8.795.000) de todas mortes em
crianças desta faixa etária em todo o mundo.
Cada criança menor de 5 anos apresenta em media 3
episódios de diarreia por ano.
A diarreia se relaciona com uma serie de factores:
1-Inerentes ao baixo desenvolvimento
socioeconómico:
Superlotação nas casas
Casas com mas condições higiénicas
Falta de agua potável
Mau manejo do lixo
2-Relacionados ao comportamentos das pessoas:
Não aplicar o aleitamento materno nos primeiros 6
meses de vida
Não esterilizar os beberrões para alimentar as crianças
Guardar os alimentos a temperatura ambiente
Não lavar as mãos depois de defecar, limpar as fezes das
crianças e antes de manipular os alimentos
3-Factores relacionados com o hospedeiro:
Desnutrição
Imunodepressão
Idade (6 meses a 1 ano)

4-variacoes estacionais
Aumento de diarreia nos tempos chuvosos.
Classificação
Em função da duração do quadro pode ser (OMS):

Diarreia aguda, quando a duração é inferior a 14 dias

Diarreia persistente ou sub-aguda, duração entre 15 a


30 dias

Diarreia crónica, duração maior a 30 dias


Diarreia aguda
A diarreia aguda pode agrupar-se em quatro tipos,
definidos em dois grupos.
1-Diarreia aquosa
A) Osmótica
B) secretora

2-Diarreia com sangue


A) Invasiva ou inflamatória
B) Não invasiva
• Diarreia osmotica : é produzida pelo defice de absorcao
de lactose, geralmente devido ao excesso de lactose
ingerido em relacao ao normal para a idade da crianca.
Em criancas maiores, o consumo de refrescos, doces, e
outros produtos muito açucarados tem sido a factor
causal.
• É uma diarreia muito acida e provoca um marcado
eritema perianal.
• Os microorganismos que mais se relacionam com este
tipo de diarreia são: Rotavirus, E. coli enteropatogenica,
E. coli enteroagregativa, Giardia lamblia.

Diarreia secretora : patógenos não-invasivos agridem o


intestino delgado com toxinas que promovem secreção
abundante de água e eletrólitos. Causado pelo Vibrio
cholerae, shiguela na fase inicial.
• Diarréia aguda com sangue

Diarréia invasiva (Desinteria) : caracterizada pela


presença de sangue nas fezes, é uma diarreia muco-pio-
sanguinolenta, acompanhada de tenesmo, febre elevada,
grande anorexia, perda rápida de peso e dano da mucosa
produzida por microrganismos invasivos.
Os agentes mais frentes são: Shiguela, E. coli
enteroinvasiva, Salmonela, Campylobacter jejuni,
Entamoeba histolitica, Trichuris trichuria.
Não invasiva: se caracteriza pelo aparecimento de
diarreia com sangue, por geral com antecedente de ter
ingerido horas ou dias antes carne de vaca
contaminada nos matadouros mal cozida, ou produtos
derivados desses animais como leite cru e queijo.
Se apresenta com febre ligeira, sinais e sintomas de
anemia severa, em um paciente previamente saudável,
com oliguria ou anuria.
Este constitui o síndrome hemolítico urémico, causado
pelo E. coli enterohemorragico produtor de verotoxina
em especial o serotipo 0157H7.
Diagnostico
Anamnese
Questionar sobre a característica das deposições, a
forma de começo e a evolução.
Buscar a informação relacionada com hábitos
alimentares (quantidade dos alimentos ingeridos,
frequência, modo de preparação, novos alimentos
introduzidos e a sua forma de administração.
Informação sobre as condições de vivenda, e sobre os
hábitos higiénicos
Exames complementares

 Exame de fezes a fresco


 Cropocultura
 Hemograma,
 Bioquímica,
 Hemocultura
 Ionogrma e gasometria
Complicações
1-Induzidas pela perda de água e electrólitos
Desidratação
Desequilíbrio ácido-base
Insuficiência renal

2-Induzidas pelos germes causais da diarreia


Perforação intestinal
Septicemia
Síndrome hemolítico urémico.

3-Desnutricao
Tratamento
Tratamento profilático
Fomentar e manter o aleitamento materno.
Elevar as condições de higiene ambiental e dos
alimentos
Promover uma boa nutrição ( não dar mais de 1 litro
de leite por dia).
Não introduzir novos alimentos antes dos 6 meses.
Evitar administração de alimentos açucarados
Tratamento medicamentoso
Administrar SRO, excepto em malnutridos
Antibióticos se suspeita-se uma diarreia infecciosa
Shiguella: cotrimoxazol, 40 a 80 mg/kg/dia de 12 em 12
horas durante 5 dias
Acido naldixico, 60 mg/kg/dia em 4 doses.
Ciprofloxacino, 15 a 30mg/kg/dia em duas doses durante 5
dias
E. coli e Salmonela não tifoidea não se recomenda
antibióticos
Em todos casos pode administrar-se sulfato de zinco nas
seguintes doses:
10mg/dia para menores de 6 meses e 20mg/dia para
maiores de 6 meses durante 10-14 dias.
Tratamento das complicações
Desidratação

Objetivo:
Reidratar o paciente ou evitar que ele desidrate

Para rehidratar, primeiro deve-se avaliar o grau de


desidratação
Em malnutrido
Em pacientes malnutridos não se pode usar SRO, pelo
elevado conteúdo de sódio que contém, que pode
conduzir a uma insuficiência cardíaca e perigar a vida do
paciente.
Não se pode administrar diuréticos em malnutrido
mesmo em caso de presença de edemas.
Para a rehidratação destes pacientes usa-se um soro
especifico o “RESOMAL”.

Para prevenir a desidratação, administrar 30ml de


RESOMAL por cada dejecção
Na desidratação moderada:
Administrar RESOMAL via oral ou por SNG, 5ml/kg cada
30 minutos, durante duas horas, seguido de 5-10ml/kg a
cada uma hora nas seguintes 4 a 10 horas.
Avaliar de 30 em 30min a frequência cardíaca, respiratória
e diurese.
Prestar muita atenção aos sinais de alerta de
sobrehidratação.
Na desidratação Grave
Usar soluções endovenosas
15ml/kg em 1 hora. Medir a frequência cardíaca e
respiratória a cada 5 a 10 minutos.
Se haver sinais de melhoria continuar com 15/kg/h até o
paciente estar estável. Depois passar para RESOMAL, via
oral.
Diarreia persistente
Se considera uma enfermidade nutricional a nível
mundial, porque ocorre com maior frequência em
crianças com baixo peso a nascença ou em
malnutridos.
A diarreia persistente é uma causa importante de
desnutrição.
10 % dos casos de diarreia aguda se tornam persistente
Factores de risco para desenvolver diarreia
persistente
Dependentes do hospedeiro:
Idade menor 36 meses
Episódios de diarreia aguda recorrentes
Diarreia persistente previa
Imunodeficiência
Malnutrição e baixo peso a nascença.
Dietéticos:
Ausência ou abandono do aleitamento materno
Abandono do aleitamento materno durante a diarreia
Introdução de novos alimentos ou retirada durante a
diarreia
Uso de leite artificial em lactantes durante a diarreia
Quadro clínico
As principias manifestações da diarreia persistente são:
1-Gerais
Anorexia, apatia, perda de peso, febre em ocasiões e
irritabilidade.
2-Grastrointestinais
Diarreia > de 14 dias, náuseas e vómitos, distensão
abdominal, dor abdominal, tenesmo.

3-Transtorno do equilíbrio hidromineral


Sinais de desidratação em caso de presença deste
4-Nutricionais
Edema nos membros inferiores
Mucosas hipocoradas
Diminuição do panículo adiposo

5-Infeciosas
OMA
Mastoidite
Pneumonias e broncopneumonias
ITU
Infecções da pele
Manifestações de sepsi
Diagnostico
Historia clínica e exame fisico proporcionam mas de
80% do diagnostico.
Exames complementares:
Hemograma, bioquímica, ionograma
Fezes a fresco e cropocultura
Urocultura
Prova de Súdan III
Endoscopia
Biopsia intestinal.
Tratamento
Educação alimentar
A OMS recomenda uma alimentação nutritiva baseada
em:
Administrar leite 50ml/kg/dia
Administrar yogurt
Evitar alimentos que agravam a diarreia
Ingerir pelo menos 110kcal/kg /dia
Fragmentar os alimentos em 6 comidas
Iniciar suplemento de vitaminas e minerais
Sulfato de zinco, vitamina A, ferro, acido fólico.
Diarreia crónica
A diarreia crónica forma parte de um complexo
sintomático conhecido como “síndrome de mal
absorção intestinal”, que se caracteriza por hidrolise e
absorção inefectiva de grandes moléculas.
É uma entidade muito complexa devido a difícil
manejo desta enfermidade, data a diversidade de
etiologias que levam a diarreia crónica, por vezes com
sintomatologia parecida.
Necessita de provas complexas para o seu diagnostico
Etiologia
Primeiros meses < 1 ano
 Erros alimentares
Intolerância/ Alergia alimentar
Infecções
Síndrome pós-gastroenterite
Fibrose Quistica
Defeitos congénitos
Primeiros anos: 1-5 anos

Síndrome do Intestino Irritável


Infecciosa: Giardíase
Sindrome pos-gastroenterite
Intolerancia/Alergia alimentar
Enfermidade Celíaca
Fibrose Quistica
Idade escolar e adolescência: > 5 anos

 Doença Inflamatória Intestinal Idiopática


Síndrome do Intestino Irritável
Enfermidade celíaca

A doença celíaca e uma enteropatia, imunologicamente


mediada, causada por uma sensibilidade permanente ao
glúten, em indivíduos geneticamente predispostos.
Clinicamente se manifesta com:
 esteatorreia
 distensão abdominal,
emagrecimento,
irritabilidade,
Manifestações que iniciam depois da introdução de
alimentos que contem glúten na dieta.
Manifestações não gastrointestinais
Dermatite herpetiforme
 Anemia sideropenica refractaria
Hipoplasia esmalte hepatite
Osteopenia/osteoporose artrite
Baixa estatura
Epilepsia c/ calcificações occipitais
Atraso pubertario
Diagnostico
Testes Serológicos
Anticorpos anti-gliadina (AGA IgA e IgG)
Anticorpos anti-endomisio (EMA IgA)
Anticorpos anti-reticulina (ARA IgA)
Anticorpos anti-transglutaminase tecidular (TTG IgA)

- 2ª geração (proteína humana recombinante)


Tipagem HLA
Endoscopia
Biopsia
Tratamento
Dieta sem glúten.
Síndrome do intestino irritável
Clínica
Crianças hiperactivas c/ bom estado geral/ nutrição
Diarreia crónica (6 meses - 3 anos):
3/4 dejecções pastosas/ líquidas diurnas;
restos alimentares; muco
Dor abdominal (5-13 anos)
Flatulência
Alternância diarreia / dejecções moldadas/ obstipação
Perturbação gastrointestinal mais frequente
• Dismotilidade
• Nocicepcao visceral
• Predisposição familiar

Intervenção:
Tranquilização dos pais
Intolerância aos Dissacaridos
Quadro Clínico
diarreia osmótica aquosa, cheiro ácido
distensão abdominal, colicas e flatulência
desidratação
eritema peri-anal
• Diagnostico
Exame das fezes
substâncias redutoras ++
pH fecal < 5
ácido láctico ­
Teste do hidrogénio expirado
Intervenção
1. Eliminação do dissacarideo especifico da dieta:
Fórmulas para lactentes com maior diluição
Fórmulas isentas de lactose
Iogurte
Alergia as Proteínas do Leite de
Vaca
Definição
Reacção adversa as proteínas do leite de vaca
imunologicamentemediada
caseína, α-lactoalbumina, s-lactglobulina
Predisposição genetica
Sensibilizacao por via transplacentaria ou por
exposicao precoce
Caracter transitório
Intolerância vs. Alergia
• Sem / Com mecanismos imuno-alergicos conhecidos
Diagnóstico
Historia Clínica + provas exclusão/provocacao
“Gold standard”
Meio hospitalar (risco de choque anafilactico)
Testes imunologicos
Prick-Test
gE serica total (PRIST)
IgE serica especifica (RAST)
• Endoscopia alta / baixa com biopsias (SOS)
Tratamento
1. Intervenção
leite materno
formula hidrolisada completa
formula elementar
2. Prevenção
Aleitamento materno exclusivo > 4-6 meses
Introdução tardia dos alimentos mais alergizantes
(ovo, peixe, citrinos, morangos)
Parasitoses
Giardiase
Parasita mais frequente (diarreia crónica)
Transmissão fecal-oral (quistos)
Mucosa jejunal normal com diminuição da superfície
de absorção
Giardiase
Espectro Clínico
Assintomática / dor abdominal / diarreia crónica /
Atraso estaturo-ponderal
• Diagnostico
Parasitologia das fezes (quistos)
Biopsia/aspiração de suco duodenal (trofozoitos)
Tratamento
Metronidazol
Doença Inflamatória Intestinal
Idiopática
Manifestações digestivas
Diarreia continua ou recidivante
Dej. pequenas, c/ sangue, muco, pús (colite)
Dor abdominal
Perda de peso
Manifestacoes extra-digestivas
Febre, artrite, uveite, eritema nodoso.
Diagnostico: clinica + imagiologia + endoscopia
Terapeutica :
 Anti-inflamatoria e imunossupressora
Obrigado!

“Estudar o fenômeno da doença


sem livros é como navegar sem
mapa, mas estudar em livros sem
ver pacientes é como não
navegar”

William Osler
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