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DIARREIA, HIDRATAÇÃO VENOSA, URGÊNCIAS PEDIÁTRICAS E RCP

➢ Definição Pacientes imunocomprometidos ou em


antibioticoterapia prolongada, podem ter diarreia
A diarreia pode ser definida pela ocorrência de três ou causada por: Klebsiella, Pseudomonas, Aereobacter, C.
mais evacuações amolecidas ou líquidas nas últimas 24
difficile, Cryptosporidium, Isosopora, VIH, e outros
horas. A diminuição da consistência habitual das fezes
agentes.
é um dos parâmetros mais considerados. Na diarreia
aguda ocorre desequilíbrio entre a absorção e a Eventualmente outras causas podem iniciar o quadro
secreção de líquidos e eletrólitos e é um quadro como diarreias tais como: alergia ao leite de vaca,
autolimitado. deficiência de lactase, apendicite aguda, uso de
laxantes e antibióticos, intoxicação por metais pesados.
➢ Classificação
A anamnese da criança com doença diarreica deve
1. Diarreia aguda aquosa: diarreia que pode durar até contemplar os seguintes dados:
14 dias e determina perda de grande volume de fluidos
e pode causar desidratação. Pode ser causada por Duração da diarreia, número diário de evacuações,
bactérias e vírus, na maioria dos casos. A desnutrição presença de sangue nas fezes, número de episódios de
eventualmente pode ocorrer se a alimentação não é vômitos, presença de febre ou outra manifestação
fornecida de forma adequada e se episódios sucessivos clínica, práticas alimentares prévias e vigentes, outros
acontecem. casos de diarreia em casa ou na escola.
2. Diarreia aguda com sangue (disenteria): é Deve ser avaliado, também, a oferta e o consumo de
caracterizada pela presença de sangue nas fezes. líquidos, além do uso de medicamentos e o histórico de
Representa lesão na mucosa intestinal. Pode associar- imunizações6.
se com infecção sistêmica e outras complicações,
É importante, também, obter informação sobre a
incluindo desidratação. Bactérias do gênero Shigella
diurese e peso recente, se conhecido.
são as principais causadoras de disenteria.
Ao exame físico é importante avaliar o estado de
3. Diarreia persistente: quando a diarreia aguda se
hidratação, o estado nutricional, o estado de alerta
estende por 14 dias ou mais. Pode provocar
(ativo, irritável, letárgico), a capacidade de beber e a
desnutrição e desidratação. Pacientes que evoluem
diurese. O percentual de perda de peso é considerado o
para diarreia persistente constituem um grupo com alto
melhor indicador da desidratação. Mesmo quando o
risco de complicações e elevada letalidade.
peso anterior recente não é disponível, é fundamental
Doença diarreica aguda pode ser entendida como um que seja mensurado o peso exato na avaliação inicial
episódio diarreico com as seguintes características: do paciente. A avaliação nutricional é muito
início abrupto, etiologia presumivelmente infecciosa, importante na abordagem da criança com doença
potencialmente autolimitado, com duração inferior a diarreica. O peso é fundamental no acompanhamento
14 dias, aumento no volume e/ou na frequência de tanto em regime de internação hospitalar como no
evacuações com consequente aumento das perdas de ambulatório. Considera-se que perda de peso de até
água e eletrólitos. Apesar da definição de diarreia 5% represente a desidratação leve; entre 5% e 10% a
aguda considerar o limite máximo de duração de 14 desidratação é moderada; e perda de mais de 10%
dias, a maioria dos casos resolve- -se em até 7 dias. traduz desidratação grave. Essa classificação
proporciona uma estimativa do volume necessário para
➢ Causas correção do déficit corporal de fluído em consequência
Vírus - rotavírus, coronavírus, adenovírus, calicivírus da doença diarreica: perda de 5%, ou seja, 50 mL/Kg;
(em especial o norovírus) e astrovírus. de 5 a 10%, ou seja, 50 a 100 mL/Kg e mais do que
10%, ou seja, mais de 100 mL/Kg.
Bactérias - E. coli enteropatogênica clássica, E. coli
enterotoxigenica, E. coli enterohemorrágica, E. coli A avaliação do estado de hidratação do paciente com
enteroinvasiva, E. coli enteroagregativa, Aeromonas, diarreia deve ser criteriosa e inclui o exame do estado
Pleisiomonas, Salmonella, Shigella, Campylobacter geral do paciente, dos olhos, se há lágrimas ou não, se
jejuni, Vibrio cholerae, Yersinia o paciente tem sede, o nível de consciência, presença
do sinal da prega cutânea, e como se encontra o pulso e
Parasitos - Entamoeba histolytica, Giardia lamblia, o enchimento capilar. Outros achados podem ser
Cryptosporidium, Isosopora importantes quando presentes, traduzindo a gravidade
Fungos – Candida albicans do quadro, tais como nível de alerta, fontanela baixa,
saliva espessa, padrão respiratório alterado, ritmo
cardíaco acelerado, pulso débil, aumento do tempo de

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enchimento capilar, extremidades frias, perda de peso,
turgência da pele e sede.

➢ Cuidados com a alimentação na doença


diarreica
Todas as diretrizes são unânimes que o aleitamento
materno deve ser mantido e incentivado durante o
episódio diarreico. Quando necessário, deve-se
recomendar jejum durante o período de reversão da
desidratação (etapa de expansão ou reparação). A
alimentação deve ser reiniciada logo que essa etapa for
concluída (em geral, no máximo, 4 a 6 horas). Vale
destacar que, de acordo com a OMS, cerca de um terço
das crianças com diarreia aguda, nos países em
desenvolvimento, infelizmente continuam sendo
mantidas em jejum ou com uma quantidade muito
reduzida de alimentos durante a diarreia. A
alimentação deve ser reiniciada de acordo com o
esquema habitual do paciente, sendo uma oportunidade
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para a correção de erros alimentares. A fórmula 1. ciprofloxacino (primeira escolha): crianças,
infantil ou preparação láctea oferecidas para crianças 15mg/kg, duas vezes ao dia, por 3 dias;
não devem ser diluídas. Deve-se cuidar para que as adultos, 500mg duas vezes por dia por 3
necessidades energéticas sejam plenamente atendidas. dias7,9.
2. como segunda escolha, pode ser adotada a
Os pacientes hospitalizados com diarreia persistente recomendação da ESPGHAN (azitromicina,
devem receber, de acordo com a OMS, 110
10 a 12mg/kg no primeiro dia e 5 a 6mg/kg
calorias/kg/dia. São critérios fundamentais para avaliar por mais 4 dias, via oral) para o tratamento
a evolução clínica: a redução das perdas diarreicas e a
dos casos de diarreia por Shigella (casos
recuperação nutricional ou retomada do ganho de peso
suspeitos ou comprovados).
esperado para a idade. Ainda, de acordo com a OMS 3. ceftriaxona, 50-100mg/kg EV por dia por 3 a
deve-se cuidar para que o paciente com diarreia
5 dias nos casos graves que requerem
persistente receba diariamente as quantidades de
hospitalização. Outra opção é a cefotaxima,
micronutrientes: 50ug de folato, 10mg de zinco, 400µg
100mg/kg dividida em quatro doses.
de vitamina A, 1mg de cobre e 80mg de magnésio.

➢ URGÊNCIAS E EMERGÊNCIAS
PEDIATRICAS
As causas de PCR em bebês e crianças diferem da
PCR em adultos e um número crescente de evidências
pediátricas específicas corroboram essas
recomendações.

Na (SÓDIO) → 3 – 5 meq/kg
NaCL 20%
1ml --------------- 3,4 meq
NaCL 10%

1ml --------------- 1,7 meq

K (POTÁSSIO) → 2,5 – 5 meq/kg


Na descrição das atualizações o termo bebê refere-se a
KCL 19,1% crianças com até um ano de idade. Acima dessa idade,
o termo usado é criança.
1ml --------------- 2,5 meq
1. Ventilação de resgate durante suporte
KCL 10% básico de vida

1ml --------------- 1,34 meq No algoritmo da parada cardiorrespiratória (PCR) de


bebês e crianças, se houver pulso palpável de 60
batimentos por minuto ou mais, mas a respiração
estiver ausente ou inadequada, deve-se fornecer
respiração de resgate a cada 2 ou 3 segundos (20 a 30
respirações por minuto), significando aumento em
relação às recomendações anteriores.
2. Ventilação durante RCP com via aérea
avançada estabelecida
Ao executar RCP em bebês e crianças com via aérea
De acordo com o MS e a OMS devem ser prescritos, avançada estabelecida, é aconselhável alcançar um
nos quadros disentéricos, os seguintes antibióticos, intervalo de frequência respiratória de 1 ventilação a
considerando a possibilidade de infecção por Shigella: cada 2 a 3 segundos (20 a 30/min), sem interromper

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compressões. Taxas superiores a essas recomendações depois de a PCR ter ocorrido, a consideração precoce
podem comprometer a hemodinâmica. Na de circulação extracorpórea pode ser benéfica.
recomendação anterior, a ventilação era oferecida a
Hipertensão pulmonar
cada 6 segundos (10/min). A modificação deve-se ao
fato de que estudos demonstraram que frequências de • Óxido nítrico inalatório ou prostaciclina devem ser
ventilação mais altas (no mínimo 30/min em bebês e usados como terapia inicial para tratar a crise de
25/min em crianças) se associam a taxas melhores de hipertensão pulmonar ou insuficiência cardíaca aguda
recuperação de batimentos espontâneos e de do lado direito secundária a aumento da resistência
sobrevivência em PCR intra-hospitalar. vascular pulmonar.
3. Pressão cricoide durante intubação • Para crianças com alto risco de crises de hipertensão
pulmonar, administrar analgésicos, sedativos e agentes
Agora, em 2020, a manobra passa a NÃO ser
de bloqueio neuromuscular adequados.
recomendada, pois novos estudos demonstraram que
ela reduz as taxas de sucesso de intubação e não reduz • A administração de oxigênio e a indução de
a taxa de regurgitação. alcalemia por meio da hiperventilação ou da
administração de solução alcalina pode ser útil,
4. Situações especiais
enquanto os vasodilatadores pulmonares específicos
Choque séptico são administrados.
• É aconselhável administrar fluidos em alíquotas de • Para crianças que desenvolvem hipertensão pulmonar
10 mL/kg ou 20 mL/kg com reavaliação frequente. refratária, incluindo sinais de baixo débito cardíaco ou
Deve-se ter cuidado adicional com a sobrecarga de insuficiência respiratória grave, apesar da terapia
hídrica e utilizar cristaloides balanceados e médica ideal, o suporte ventricular mecânico pode ser
tamponados. considerado.
• Nos casos de choque séptico refratários a fluidos, é
aconselhável usar epinefrina ou norepinefrina como
drogas vasoativas iniciais.
• Para bebês e crianças com choque séptico que não
respondem aos fluidos e que requerem suporte
vasoativo, pode ser aconselhável considerar
corticosteroides em dose de estresse
Choque hemorrágico
• Em choque hemorrágico depois de trauma é
aconselhável administrar derivados do sangue, quando
disponíveis, em vez de cristaloides, para ressuscitação
de volume contínuo.
Miocardite
• As crianças que têm miocardite estão em alto risco de
desenvolvimento de PCR por arritmia, bloqueio
cardíaco, alterações do segmento ST e/ou baixo débito
cardíaco. Assim, é importante que seja considerada a
transferência imediata para monitoramento e
tratamento em ambiente de terapia intensiva. Havendo
disponibilidade, em crianças com miocardite ou
cardiomiopatia e débito cardíaco baixo refratário ao
tratamento, o uso pré-PCR de suporte circulatório
mecânico pode ser benéfico para fornecer suporte aos
órgãos e evitar a PCR.
• Por causa dos desafios de uma ressuscitação bem-
sucedida de crianças com miocardite e cardiomiopatia,

Nathália Pascoal
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