Para que haja a execução de uma forma precisa, os movimentos
seguem sob um controle e nível hierárquico. Em se tratando de hierarquia, cada nível contém circuitos que organiza e regula respostas motoras complexas. Níveis superiores estão envolvidos com questões de abstração de informação, já os níveis inferiores se encarregam do monitoramento detalhado e resposta de execução adequada.
Na execução do movimento, a medula espinhal, o tronco cerebral e
córtex cerebral trabalham e agem em paralelo. As áreas mais inferiores, representadas pela medula espinhal geram padrões de ativação muscular em forma de reflexos ou movimentos rítmicos permitindo aos centros superiores enviarem comandos gerais sem ter a preocupação de verificar detalhes da ação motora.
O nível intermediário é o tronco cerebral, que contém circuitos cuja
relevância está na modulação da medula espinhal e controle postural, além de controlar os movimentos dos olhos e da cabeça. O nível mais alto é o córtex cerebral, através das áreas motoras, pré-motoras e suplementares, sendo importantes para a coordenação e planejamento da sequência de movimentos complexos. É perceptível que cada nível hierárquico de controle recebe informações dos receptores sensoriais, podendo modificar a ação do comando descendente. Os níveis mais altos podem controlar as informações que chegam até eles, facilitando ou suprimindo a transmissão de impulsos aferentes nos núcleos sensitivos. Além dos três níveis hierárquicos descritos, o cerebelo e os gânglios da base também regulam a atividade motora. Eles atuam especificamente na iniciação, modulação, coordenação e refinamento e aprendizado motor; além de controlar e comparar se o movimento ordenado é efetuado, enviando sinais de correção caso estejam errados.
Tronco Encefálico e Movimentos Complexos
No Tronco encefálico estão contidos circuitos neurais cujos axônios
projetam e regulam a rede neuronal medular. Este ainda intermedia a integração sensorial e motora entre os núcleos sensitivos e motores, bem como atua na regulação da medula espinhal, do estado de consciência, controle postural e nos movimentos reflexos e rítmicos. Por ser um centro ordenador, dá origem a algumas vias descendentes do comando motor – os Tratos rubro-espinhal, retículo- espinhal, teto-espinhal e vestíbulo-espinhal. Ademais, o Tronco encefálico contém núcleos importantes envolvidos no controle postural e na motricidade. No Mesencéfalo, estão os núcleos motores responsáveis pelas áreas integrativas visuais, auditivas e pupilares. Na Ponte estão os núcleos de áreas integrativas viscerais (mastigação, movimentos oculares, expressão facial, salivação e equilíbrio postural). Por fim, no Bulbo estão núcleos ligados a áreas de integração visceral (como respiratório, vasomotor, vômito, tosse e movimentos linguais.)
Um outro fato interessante é que a partir de alguns dos Tratos
originados no Tronco encefálico, tem-se a formação dos Sistema medial e lateral. O primeiro atua nos comandos motores para a musculatura axial, geralmente associada aos movimentos posturais; enquanto o segundo nos comandos motores para musculaturas dos membros (distais), geralmente produzindo os movimentos finos.
Córtex Cerebral e Comando Motor
Os movimentos e ações voluntárias dependem de diversas áreas
corticais, as quais são o nível mais alto do Comando motor. Para tanto, as áreas corticais envolvidas com o comando voluntário são o Córtex Motor Primário (M1), Córtex Pré-Motor, Área Motora Suplementar e Área Motora Cingulada. Além disso, estas regiões interagem com outras áreas corticais – os gânglios da base e do cerebelo. Cada uma delas dá a sua contribuição particular para a estrutura de um movimento complexo.
O Córtex pré motor planeja sequências motoras e recebe aferências
sensoriais e da Área motora suplementar. Já a Área suplementar planeja sequências motoras, bilaterais, recebendo projeções do Córtex somatossensorial. De uma forma geral, as duas estruturas corticais mencionadas projetam-se para a área motora (M1), sendo importantes para a coordenação e planejamento da sequência de movimentos complexos. Já a área motora cingulada se relaciona a movimentos que têm conotação emocional. Por fim, Córtex motor primário é onde surge o comando dos movimentos voluntários, sede do “Alto Comando Motor”. Ele recebe aferências de áreas somatossensoriais, Área pré-motora e tálamo (sensoriais, retransmissão de núcleos da base e cerebelo). Por conseguinte, projetam referências para áreas motoras corticais, núcleos motores do tronco encefálico, Tratos córtico-espinhal e córtico-nuclear.
Gânglios da Base e Cerebelo
Os Gânglios da Base (ou Núcleos da Base) e o Cerebelo são
estruturas controladoras do movimento, que promovem complexidade e precisão dos movimentos. Eles não participam diretamente do movimento, pois não apresentam acesso direto aos motoneurônios. Contudo, estão relacionados à preparação e controle de sua harmonia. Ainda, funcionam de maneira independente e recebem informações do córtex, projetando seus axônios para lá através do tálamo.
O cerebelo integra a informação de um movimento pretendido com a
informação sobre o espaço em seu entorno. Além disso, compara os comandos centrais para o movimento com o próprio movimento e compensa os erros, comparando a intenção com o desempenho. Ajuda também a coordenar os movimentos que envolvem diversas articulações e armazena as memórias desses movimentos, de modo que possam ser facilmente executados da próxima vez que forem tentados (o aprendizado e memória motora). Por último, o cerebelo se relaciona com a regulação dos reflexos vestibulares. Portanto, lesões cerebelares desorganizam a coordenação motora dos membros, dos movimentos oculares e do balanço do corpo.
Os Gânglios da Base são um conjunto de núcleos com conexões
entre si que cooperam para o controle motor, por atuarem na seleção e iniciação de movimentos voluntários. Os seus núcleos são o Caudado, Putamen, Globo pálido, Substância negra e o Núcleo subtalâmico. Em relação ao cerebelo, os gânglios da base recebem apenas aferências corticais e emitem eferências (inibitórias) somente para o tálamo.
Patologias do Comando Motor
As lesões cerebelares levam a distúrbios motores, como as Ataxias,
onde não há controle preciso da direção, força, velocidade e amplitude dos movimentos. Assim, pode ocorrer retardo do início do movimento ou execução e falha, como se fosse sem coordenação. As lesões cerebelares também causam tremor intencional; hipotonia; fraqueza muscular; déficits graves de postura e equilíbrio; marcha cambaleante; déficits nos movimentos oculares; além do aprendizado motor prejudicado. Na Doença de Parkinson, ocorre a degeneração de áreas nos Gânglios da Base que auxiliam a coordenação dos movimentos. Assim, leva a baixa produção da dopamina, neurotransmissor relacionado à motricidade. Em consequência, um dos primeiros sintomas é o tremor de Repouso, que diminui ou desaparece com o início do movimento, acometendo principalmente os membros. Além disso, o indivíduo apresenta aumento do tônus muscular e rigidez, dificuldade na iniciação de movimentos, pobreza de movimentos espontâneos e lentidão na execução do movimento. Já a Doença de Huntington é genética e neurodegenerativa. Ela causa movimentos involuntários dos membros, redução da capacidade intelectual, alterações na personalidade/comportamento e expectativa de vida há cerca de 15-20 anos.
A Distrofia Muscular de Duchenne é ocasionada por genes anormais
(mutações) que levam à degeneração muscular. A maioria das formas começa na infância e os músculos danificados ficam progressivamente mais fracos, onde a pessoa possui outros sintomas, como dificuldade para respirar ou engolir. Os tratamentos e dispositivos auxiliam a respiração, bem como a cirurgia pode ajudar a manter as funções do organismo, mas o tempo de vida costuma ser curto.
A Esclerose múltipla é uma doença autoimune, crônica, inflamatória e
desmielinizante e acomete comumente em jovens adultos. Nela é perceptível problemas físicos, visuais, motores, sensoriais, mentais e algumas vezes psiquiátricos. Quando não tratada leva a piora em diferentes fases da vida, como ondas e inflamações atingindo diferentes áreas do sistema nervoso central. Por isso, é caracterizado por períodos de crises (os chamados surtos) seguido por períodos de remissão/recuperação.
A Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) ocorre pela degeneração dos
motoneurônios alfa e do córtex motor, que, ao perderem a capacidade de transmitir os impulsos nervosos. Assim, ocasiona uma paralisia progressiva em todos os músculos esqueléticos e afetando as funções físicas. A causa é desconhecida, e a medicação e terapia podem retardar a ELA e reduzir o desconforto, porém não há cura.
Atividade Extra
Assista ao filme “A Teoria de Tudo” (2014). A partir dele, entenda
como a Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA) progride num indivíduo, além de observar como a doença aprisiona o cérebro da pessoa num corpo disfuncional. Abaixo, segue uma resenha do filme.
Baseado na história de Stephen Hawking, o filme expõe como o
astrofísico fez descobertas relevantes para o mundo da ciência, inclusive relacionadas ao tempo. Também retrata seu romance com Jane Wilde, uma estudante de Cambridge que viria a se tornar sua esposa. Aos 21 anos de idade, Hawking descobriu que sofria de uma doença motora degenerativa, mas isso não o impediu de se tornar um dos maiores cientistas da atualidade.
Referência Bibliográfica
KANDEL, E. R.; SCHWARTZ, J. H.; JESSELL, T. M.; SIEGELBAUM,
S. A.; HUDSPETH, A. J.: Princípios de Neurociências. 5. ed. Porto Alegre: AMGH, 2014.
LENT, R. Cem Bilhões de Neurônios: conceitos fundamentais de
neurociência. 2. ed., São Paulo: Atheneu, 2010.
BEAR, M. F.; CONNORS, B. W.; PARADISO, M.A. Neurociências:
desvendando o sistema nervoso. 4. Ed., Porto Alegre: Artmed, 2017.
Avaliação do Controle Autonômico Baseada na Análise da Variabilidade da Frequência Cardíaca: Proposta de Método Otimizado para Ativação Vagal e Aplicação da Ferramenta para Estimativa da Dor em Intervenções Clínicas