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Material Teórico
Objetivo da Unidade:
Plasticidade Neural
Plasticidade é uma palavra que, entre outros sentidos, é usada para se referir à capacidade de
mudança de forma de um determinado material que sofre intervenção e passa a ter um novo
formato. Essa é uma propriedade do plástico – material que, quando aquecido, deforma-se e
não volta mais à forma original. Nas neurociências, segundo Lent (2008, p. 112),
neuroplasticidade é “a propriedade do sistema nervoso de alterar a sua função ou a sua
estrutura em resposta às in uências ambientais que o atingem”.
No caso do sistema nervoso, os neurônios podem alterar a sua função e sua forma de modo
mais ou menos prolongado. É a plasticidade que faz com que cérebro esteja em constante
mudança, remodelando-se a cada experiência de vida. A neuroplasticidade ocorre em três
estágios:
Durante o desenvolvimento (os ciclos de vida): desde a fase embrionária, quando
as células indiferenciadas passam a ser neurônios, até a maturação do Sistema
Nervoso Central (SNC), sofrendo in uência genética e do ambiente.
Figura 1
Fonte: Getty Images
Em todo o sistema nervoso, a rede neural pode ser modi cada em função das experiências
individuais. A neuroplasticidade se manifesta de três maneiras distintas durante todo o ciclo
de vida de uma pessoa, e elas podem também ser simultâneas. São elas:
Neurogênese
Trata-se da plasticidade cerebral que se dá pelo nascimento maciço de novas células, ou seja,
pela capacidade de proliferação neuronal e glial. Por muito tempo, a neurogênese foi
identi cada como uma ocorrência ativa apenas do período embrionário até as fases iniciais do
desenvolvimento na infância. Considerava-se que, com poucos meses de vida, essas células
paravam de nascer para que os mecanismos de posicionamento e diferenciação das células
neurais acontecessem depois.
Desconhecia-se até bem pouco tempo que algumas regiões do sistema nervoso pudessem
produzir novos neurônios até a vida adulta. Foi na década de 1990 que um grupo de
neurocientistas suecos e americanos encontrou evidências sobre o aparecimento de novos
neurônios no hipocampo de indivíduos adultos.
Neuroplasticidade Morfológica
A capacidade plástica dos neurônios pode acontecer em diferentes localidades:
Regeneração
A regeneração é um outro tipo de plasticidade e ocorre frequentemente no sistema nervoso
periférico. Pode ser bem-sucedida ou malsucedida.
Bem-sucedida: acontece toda vez que um nervo da perna ou do braço é esmagado
ou rompido por um corte ou outro tipo de trauma. Há boa recuperação funcional
dos nervos, mesmo que seja necessário fazer cirurgia para reaproximar as
extremidades e reativar suas funções. Esse processo de reconstrução de axônios
traumatizados acontece por meio das células de Schwann.
Neuroplasticidade Funcional
É a capacidade de modi car sua estrutura e função como consequência de uma lesão ou
experiência.
Pesquisas desenvolvidas nos últimos anos têm contribuído para o conhecimento sobre a
neuroplasticidade funcional. Uma delas, feita com músicos e não músicos, indicou que
pessoas que treinam desde a infância a tocar violino e violoncelo possuem uma área cerebral
maior para o comando dos dedos da mão esquerda em relação aos não músicos.
Segundo Rotta, Bridi Filho e Bridi (2018), a aprendizagem ocorre por modi cação das forças
sinápticas, dos processos de fortalecimento ou do enfraquecimento de sinapses. Isso signi ca
que o sistema, ao mesmo tempo que mantém uma informação anterior, modi ca sua
estrutura de forma permanente para apreender a nova informação. Todo novo aprendizado
depende de uma experiência anterior como base. Novos circuitos neurais são criados sem
eliminar os elementos já construídos nas interações anteriores com o ambiente.
Essas informações cam armazenadas na memória e são evocadas por algum estímulo
externo, pela aprendizagem de um novo comportamento que se traduz numa recomposição
nova dessas informações. Segundo Lent (2001), a aprendizagem se diferencia no processo de
aquisição e armazenamento das informações e não é o mesmo que memorização.
“O processo de aquisição de novas informações que vão ser retidas na memória é chamado
aprendizagem. Através dele nos tornamos capazes de orientar o comportamento e o
pensamento. Memória, diferentemente, é o processo de arquivamento seletivo dessas
informações, pelo qual podemos evocá-las sempre que desejarmos, consciente ou
inconscientemente ”
A interação com o ambiente que nos cerca e o modo como usamos nosso sistema perceptivo e
físico-motor é o que produzirá a aprendizagem. Interagir, experimentar e modi car o
ambiente induzirá à formação de conexões nervosas e à aquisição de novos comportamentos.
Embora nosso cérebro seja programado para desenvolver certas capacidades, como andar,
falar e se relacionar, nós necessitamos de um processo de aprendizado para adquiri-las.
Nascemos com muito pouco conhecimento ou comportamentos instalados. Na grande
maioria, nossos comportamentos são aprendidos na relação com o ambiente (COSENZA;
GUERRA, 2011).
As conexões neurais são ampliadas de forma permanente pela intencionalidade de nossa ação,
somada às experiências físicas e perceptivas que temos com o ambiente. Toda nova interação,
desde as mais simples às complexas, exigem uma crescente renovação de células e dos
percursos sinápticos. Pode-se dizer que o desenvolvimento neuronal (ou seja, a renovação
celular constante) é uma resposta às necessidades do organismo de se manter em equilíbrio
na interação com o ambiente, bem como pela necessidade progressiva que temos de
conhecimento.
Lateralidade Cerebral
Quem nunca ouviu alguém tentar dividir a responsabilidade por suas habilidades e capacidades
entre os dois lados de nosso cérebro? “Não me saio bem na matemática porque sou canhoto”.
Ou, então, “ z o curso de engenharia porque o lado esquerdo do meu cérebro é melhor”.
Essas referências, é claro, têm explicações anatômicas. Quando olhamos o cérebro de cima,
notamos uma certa semelhança com uma noz. Para se acomodar dentro da caixa craniana, ele
se mostra enrugado, com sulcos e giros. Também é dividido ao meio pelo corpo caloso, a
estrutura que conecta os lados que chamamos de hemisférios cerebrais: o direito (HD) e o
esquerdo (HE).
Por muito tempo se acreditou que havia uma dominância de um dos lados sobre o outro no
comportamento humano. Essa visão, que está ultrapassada, se referia aos aspectos
morfológicos do cérebro e simpli cava as funções cerebrais ao atribuir, por exemplo, a razão
ao HE e a emoção ao HD. Com o avanço das tecnologias de imagens funcionais e seu uso
como base para os estudos na Neurociência, tornou-se possível identi car com mais precisão
as áreas dos dois hemisférios envolvidas nas diversas tarefas cerebrais.
O que existe não é uma divisão de tarefas, mas a especialização funcional de cada um dos
hemisférios. Essa característica, que chamamos de lateralidade hemisférica, é o grau de
controle do hemisfério esquerdo ou do direito sobre várias funções cognitivas e
comportamentais. Cada um dos lados é especializado em processar diferentes funções
cognitivas.
Figura 4
Fonte: Adaptada de Getty Images
O hemisfério esquerdo lida com o processamento verbal (língua, fala, leitura e escrita). Ele é
mais especializado na motricidade e controla os movimentos do lado direito do corpo (95%
dos humanos são destros). É mais pragmático. Responde pelos cálculos matemáticos, pelas
habilidades analíticas e lógico-sequenciais. Identi ca relações espaciais qualitativas (dentro,
fora) e a atenção.
O hemisfério direto, por sua vez, controla o processamento não verbal e o lado esquerdo do
corpo. Ele permite a percepção holística do mundo, a compreensão da linguagem gurada e as
nuances afetivas da fala. A percepção de sons musicais, o reconhecimento espacial e visual (da
face humana) e a identi cação de objetos e animais. É, também, responsável pela habilidade
para o desenho e pela identi cação de emoções.
Existem funções que, para serem realizadas, valem-se das duas lateralidades. É o caso da
prosódia, parte da fala responsável pela entonação e acentuação. A criatividade, outro exemplo
interessante, sempre foi identi cada com o HE, principalmente o momento do insight, que se
refere ao surgimento de uma nova ideia. Porém, uma parte importante, o processo que leva a
essa solução de um problema depende de uma rede cortical bem ampla, que inclui o HD.
Isso signi ca que não se pode falar em dominância cerebral numa pessoa ou considerar o
“cérebro direito” e o “cérebro esquerdo” como se fossem separados. Por mais que exista uma
especialidade funcional, a maior parte das tarefas complexas tem o envolvimento de ambos os
hemisférios, e é um só cérebro.
O corpo caloso, além da ligação estrutural entre os hemisférios, também é responsável pela
comunicação e conexão entre eles. Tudo que percebemos e aprendemos na interação com o
meio ambiente depende das lateralidades cerebrais, do funcionamento integrado entre os dois
hemisféricos.
Quando se fala que as escolas deveriam dar mais ênfase ao lado direito do cérebro, como se
um dos lados fosse melhor ou superior ao outro, as pesquisas já comprovaram que não. O
incentivo a esse tipo de preocupação por parte das escolas só faz sentido se for para que
enfatizar a educação integral ou para desenvolver holisticamente as habilidades de ambos os
hemisférios.
Desa os da Aprendizagem
Alguns desa os tradicionais, que sempre instigaram a Educação, tornaram-se mais fáceis de
serem enfrentados a partir do avanço das neurociências. É, por exemplo, o caso da de nição
da inteligência e da maneira de lidar com ela. O que é, a nal, um estudante inteligente? Como
medir, como desenvolver, como diferenciar quem é mais de quem é menos inteligente? E o
que, a nal, signi ca inteligência?
Teste de Inteligência
O conceito de inteligência tem grande variação, mas pode ser visto como a capacidade ampla e
profunda que cada pessoa tem para compreender o ambiente: apreender o contexto, dar
sentido às coisas e antecipar o melhor curso de uma determinada ação.
Ainda que alguns deles sejam controversos, há uma grande variedade de modelos e pesquisas
destinados a medir a inteligência humana. O teste de Quociente de Inteligência (QI) foi o
primeiro teste de avaliação da inteligência, desenvolvido por Alfred Binet a pedido do governo
francês, no início do século XX. Ele avaliava vários aspectos da cognição a partir de tarefas
como a cópia de um desenho, a memorização de uma série de algarismos, a reprodução de
uma história e algumas outras atividades. Difundido mundialmente, o QI se tornou sinônimo
de inteligência humana.
A psicometria é bem estabelecida como campo cientí co, sua área de atuação é a medição e
avalição das funções cognitivas como a sensação, a percepção e a memória. As principais
vertentes datam do início de século XX. Uma vertente britânica importante é a teoria
trifatorial, composta pelo fator geral (G), por fatores especí cos (E) e pelo de grupo,
desenvolvida pelo pesquisador britânico Charles Spearman na década de 1920.
A abordagem americana na década de 1930, com a Teoria das Aptidões Primárias, fez uma
contraposição à abordagem britânica. O foco passou a ser fatores como a compreensão e a
uência verbal, o raciocínio indutivo, numérico, aritmético e dedutivo, a visualização espacial,
a memorização e a rapidez perceptiva (NASCIMENTO; RUEDA, 2014).
John Carroll (1993 apud COSENZA; GUERRA, 2011) combinou os principais aspectos da teoria
da inteligência geral de Spearman (G) e da teoria da inteligência cristalizada e uida de Horn e
Cattell (Gf-Gc) e propôs a teoria da inteligência de três estratos. A partir daí, desenvolveu
aquele que é considerado um dos mais completos modelos sobre inteligência conhecidos
atualmente, que compreende dezesseis habilidades cognitivas amplas e mais de oitenta
estreitas. O modelo CHC tem sua validação por mais de 50 anos de pesquisa (COSENZA;
GUERRA, 2011). A Figura 6 exempli ca as três dimensões em que todas as habilidades estão
ligadas ao fator G hierarquicamente.
Figura 6
Fonte: Adaptada de COSENZA; GUERRA, 2011, p. 119
Nos últimos anos, tem sido veri cado um considerável avanço dos estudos que promovem a
integração da psicometria e da psicologia cognitiva com a Neurociência. Muitos testes de
inteligência (capacidade cognitiva) mudaram para incorporar o modelo CHC e se tornaram
base para a avaliação psicoeducacional.
Outro modelo recente foi proposto pelo psicometrista americano Robert Sternberg. Trata-se
de uma teoria de inteligência bem-sucedida, em que a inteligência é vista como a atividade
mental voltada para a adaptação intencional ao mundo real. Ela seria utilizada para resolver a
maioria dos problemas do cotidiano. Foi criada para se opor aos modelos de teste de
inteligência que Sternberg considerava um ciclo fechado, por se basearem apenas no
pensamento e na memória e desconsiderar as experiências vividas.
Capacitação de Educadores
No início dos anos 2000, a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico
(OCDE) publicou um documento apontando que a prática educativa deveria se bene ciar dos
achados da Neurociência.
Figura 8
Fonte: Getty Images
A maturidade das funções cerebrais tem períodos especí cos. Saber que a
aprendizagem não se esgota com a idade e conhecer o período certo de cada etapa
de maturação das funções cognitivas faz com que o professor ajuste sua
expectativa e adeque sua estimulação por desa os, sem acelerar o processo de
aprendizagem possível naquela etapa de vida do estudante.
O desa o para o professor, nesse novo ambiente, é encontrar formas de ensinar a conhecer,
ensinar a fazer, ensinar a conviver e ensinar a ser. O diálogo entre a Neurociência e a
Educação, mesmo sem fornecer receitas para a aprendizagem, pode contribuir para preparar o
educador para fortalecer o processo de ensino-aprendizagem em que estudante e professor
são protagonistas.
Inclusão Escolar
A educação inclusiva foi criada com o objetivo de integrar as diferenças entre os estudantes no
ensino formal. Ela é fundamentada na diversidade e no direito à igualdade, bem como em
diferenças como valores complementares.
Promover de forma adequada uma aprendizagem diferenciada, que atenda à especi cidade de
cada estudante nas suas Necessidades Educacionais Especiais (NEE), tem sido um grande
desa o para o sistema escolar.
Esse objetivo visa mudar a cultura educacional para alinhar as demandas da sociedade
contemporânea, que cobra cada vez mais respeito e tolerância com a diversidade. Dessa
forma, entende-se que todas as crianças aprenderão com as diferenças e que a escola passa a
ser um espaço de exercício de cidadania.
Além de oportunizar o acesso aos conteúdos básicos aos estudantes com aprendizagem
“padrão”, a proposta inclusiva de escolarização indica que a escola também deve garantir
acesso às crianças que apresentam altas habilidades (ou seja, as precoces e superdotadas) e
também àquelas com de ciência e di culdades de aprendizagem decorrentes, por exemplo, de
condutas típicas de síndromes, transtornos, distúrbios psicológicos ou neurológicos, entre
outros.
O paradigma da inclusão não se restringe a compartilhar o mesmo espaço físico e nem a levar
o estudante com NEE a se adaptar ou a se moldar à escola. Ao contrário. Ele se refere a uma
mudança de concepção educacional que, por meio de ações de equidade, desenvolva o
potencial e promova a interação dinâmica entre todos.
Re ita
Quais outros desa os da educação promovem um diálogo com as
neurociências? Pesquise alguns exemplos de práticas educacionais que
promovam a aprendizagem com base nos achados das neurociências.
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Material Complementar
Livro
COSENZA, R. M.; GUERRA, L. B. Neurociência e Educação: como o cérebro aprende. Porto
Alegre: Artmed, 2011.
Leitura
A escola e os novos desa os da educação inclusiva: contribuições da didática e da
Neurociência
CORREIA, M. O. A escola e os novos desa os da educação inclusiva: contribuições da didática e
da Neurociência. Humanidades & Inovação, Palmas, v. 8, n. 42, abr. 2021.
UNITINS
A ESCOLA E OS NOVOS DESAFIOS DA EDUCAÇÃO
INCLUSIVA: CONTRIBUIÇÕES DA DIDÁTICA E DA
NEUROCIÊNCIA
Palavras-chave: Inclusão. Didática. Neuroaprendizagem. O artigo tem como
objetivo contribuir e analisar o quadro atual da educação inclusiva através de
um estudo bibliográ co de assuntos ligados à didática, ao ensino e ao
funcionamento da mente humana com foco na aprendizagem, a m de
contribuir para a melhoria da inclusão de de cientes no nosso país.
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Même bêtes, nous sommes intelligents. Reconnaître la diversité de nos
intelligences est une richesse pour l'humanité et une source insoupçonnée de
progrès individuel et collectif. Franck Maistre a 44 ans. Pacsé et père d'un ls,
il aime travailler dans la banque avec les chefs d'entreprises pour les
accompagner dans les opérations de liquidation.
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Referências