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Bases neurobiológicas dos processos psicológicos

básicos
Prof.º Flavio Marcos de Souza

Descrição

Bases neurobiológicas dos processos psicológicos básicos, fundamentados na Neurociência e com


enfoque estrutural e funcional dos principais processos neurais para a formação das memórias, da
aprendizagem, dos pensamentos e da atenção.

Propósito

Conceber o indivíduo em uma dimensão neurobiológica e reconhecê-lo como um resultado dos processos
psicológicos básicos é relevante para a atividade profissional do psicólogo.

Objetivos
Módulo 1

Sistema nervoso, aprendizagem e memória


Identificar os princípios moleculares, anatomofisiológicos e patológicos da aprendizagem e da
memória.

Módulo 2

Neurobiologia do pensamento
Reconhecer a neurobiologia do pensamento.

Módulo 3

Bases neurais da atenção


Descrever as bases neurais da atenção, dos processos automáticos e voluntários.

!
!
Introdução
Neste conteúdo, entenderemos como está organizada a neurobiologia dos processos psicológicos
básicos, como a memória e a aprendizagem se formam, como os pensamentos se estabelecem e
orientam as ações do sujeito e como estão organizadas as bases neurais da atenção, dos processos
automáticos e voluntários.

Os processos psicológicos básicos abordam as funções mentais necessárias para a relação do sujeito
com o meio em que vive. Compreender a memória, a aprendizagem, os pensamentos, as emoções, a
atenção e os processos automáticos e voluntários como inatos ou adquiridos, somados às experiências
de vida e à regulação do comportamento, favorecerá o entendimento de como acontece a dinâmica da
mente, formação primordial para a atuação do psicólogo.

Neste momento, estudaremos as interfaces da aprendizagem e da memória e como elas são estruturadas
e processadas pelo sistema nervoso. Identificaremos a organização neurobiológica das memórias, seus
tipos e mecanismos de formação. Além disso, correlacionaremos a memória com a aprendizagem e como
elas se constroem do ponto de vista do condicionamento.

Vamos perceber que as informações adquiridas proporcionarão condições para você compreender a
ciência envolvida nos processos psicológicos. Você, com certeza, perceberá que a Neurociência no campo
da memória e aprendizagem é fascinante! Vamos juntos?

Você Sabia?

Quando aprendemos alguma coisa, modificamos a bioquímica cerebral e produzimos mais sinapses. Isso
se deve à capacidade plástica do neurônio de se modelar e adaptar às novas memórias.
:
1 - Sistema nervoso, aprendizagem e memória
Ao final deste módulo, você será capaz de identificar os princípios moleculares,
anatomofisiológicos e patológicos da aprendizagem e da memória.

Sistema nervoso e processos psicológicos básicos

Sistema nervoso, aprendizagem e memória


A aprendizagem e a memória são capazes de fazer com que o sistema nervoso (SN) altere seu
funcionamento em resposta aos estímulos oferecidos. A aprendizagem propõe mudanças no cérebro
relacionadas às experiências adquiridas pelo sujeito, enquanto a memória se encarrega de organizar as
maneiras pelas quais as mudanças serão armazenadas e evocadas posteriormente. Para avançar nesse
assunto, vamos compreender um pouco mais sobre o sistema nervoso e as áreas responsáveis por
organizar as memórias e transformá-las em aprendizagem.

O sistema nervoso (SN) é o centro de comando de todas as informações e


funções necessárias para garantir que o corpo possa responder aos estímulos
oferecidos pelo próprio corpo ou pelo ambiente externo. E como isso acontece?
:
É no sistema nervoso que as informações originadas a partir dos órgãos dos sentidos serão recebidas,
interpretadas, armazenadas e aplicadas. Esse processo recebe o nome de aprendizagem. Para que a
aprendizagem aconteça, a memorização é necessária, sendo ela parte fundamental do percurso de
construção do conhecimento. Para que ocorra a memorização, novas e constantes conexões devem
existir, fazendo com que a rede de comunicação existente entre os neurônios aumente, o que comumente
se reconhece por plasticidade neural.

Plasticidade neural
A plasticidade neural é a capacidade do sistema nervoso de modificar-se diante dos estímulos recebidos.
Tais adaptações e modulações ocorrem em níveis estruturais e funcionais. Toda vez que uma nova
construção de conhecimento acontece, conexões neuronais são formadas, permitindo que as estruturas
cerebrais sofram modificações importantes, a ponto de alterar as estruturas dos neurônios e dos tecidos
conectivos. Fazendo uma analogia: o plástico se deforma quando submetido a um calor elevado, já o
sistema nervoso se deforma quando submetido aos estímulos do próprio corpo ou do meio externo.

Plasticidade
Na etimologia da palavra, plasticidade deriva do que é plástico – aquela estrutura que tem capacidade de
deformação quando submetido a algum tipo de estímulo.

Reflexão

Para pensarmos mais a fundo sobre a aprendizagem, toda vez que um indivíduo é submetido a ambientes
propícios para a construção do conhecimento, com estímulos variados e direcionados, modificações
acontecem no sistema nervoso. Pode-se entender a aprendizagem como um “caminho sem volta”, pois, ao
:
submergir no tanque do saber, não há mais retorno, já que algumas estruturas já foram modificadas.

Os estímulos multissensoriais que chegam por meio dos órgãos dos sentidos são direcionados para as
áreas responsáveis por fazer a associação das informações, permitindo que ocorra um aumento na
condução eletroquímica dos neurônios dessas regiões.

Toda vez que uma associação acontece, o sistema nervoso se modela às novas experiências, por isso as
repetições são essenciais para o processo de aprendizagem, pois é por meio delas que a plasticidade
acontece.

Quanto mais impulsos eletroquímicos passam por determinadas áreas,


promovendo as sinapses, mais modelações ocorrem e mais memórias são
formadas, confluindo para a construção da aprendizagem.

Por outro lado, o ato de aprender dependerá das condições morfológicas e fisiológicas em que o sistema
nervoso se encontra, e isso será determinado pelos hábitos de vida. Se o indivíduo possui boa qualidade
de vida, é provável que o sistema nervoso funcione conforme o esperado, caso contrário, se a qualidade de
vida não for boa, espera-se baixo desempenho das funções neurais.

Quando o sistema nervoso se encontra em desequilíbrio, a capacidade plástica


desse sistema diminui, causando um déficit de memorização e,
consequentemente, de aprendizagem.

Para que a aprendizagem ocorra de maneira fluida e sem complicações, destacamos alguns passos
importantes no que se refere à consolidação das memórias obtidas diante das experiências:

Correlação que se faz com o objeto da aprendizagem e com as experiências prévias

É necessário criar situações direcionadoras e que se aproximem da rotina diária vivenciada pelo
:
indivíduo.

"
Promoção dos momentos de fixação do que já foi aprendido

É necessário abrir espaços para novas associações, ou seja, é preciso sempre deixar espaços para
novos saberes.

A utilização de exercícios e atividades que envolvam equipes pode ser o gatilho para a aprendizagem.
Trocar ideias e promover uma análise crítica poderá favorecer uma abrangente compreensão de pontos de
vista distintos e a formulação de novos aprendizados. Os desafios são sempre bem-vindos, desde que
sejam em ambientes controlados. Promover ambientes para relaxamento também favorecerá a formação
de memórias e, consecutivamente, da aprendizagem.

Ambientes controlados.
Colocar a “mão na massa” favorecerá a construção do conhecimento e causará emoções durante o percurso.
Se isso for associado a momentos de descontração, com músicas e estímulos visuais em ambientes
empáticos e acolhedores, o processo será eficaz e, ao mesmo tempo, prazeroso.

Utilizar recursos tecnológicos e inovadores também poderá instigar no aluno a curiosidade e a busca
crescente de pertencimento a uma nova tendência, que são próprias da modernização. Se esses recursos
forem associados aos objetos de aprendizagem, tanto melhor.

Estudo científico da memória

Neurobiologia da memória
A memória pode ser definida como a capacidade de armazenamento de informações e a possibilidade de
:
A memória pode ser definida como a capacidade de armazenamento de informações e a possibilidade de
acessá-las quando necessário. Graças às memórias, somos capazes de acessar informações que são
úteis em nosso dia a dia para a realização de algumas atividades como, por exemplo, sair para trabalhar.
Veja a situação a seguir.

Exemplo

Ao sair para o trabalho, necessitamos lembrar por onde devemos seguir, qual o caminho mais curto ou
mais rápido, precisamos reconhecer os colegas de trabalho e a execução de nossas atividades dentro da
empresa. É por meio das memórias que se torna possível lembrar e identificar as pessoas mais
importantes na vida, os pais, cônjuges, filhos, amigos e recordar os sentimentos que a eles são dedicados.

A neurobiologia revela que a memória é o resultado de conexões existentes entre os neurônios localizados
no sistema límbico, mais especificamente no hipocampo, e outras regiões cerebrais, como as áreas de
associações visuais, auditivas, do movimento, da fala, dentre outras. As conexões são possíveis por meio
da liberação de mediadores químicos, também chamados de neurotransmissores, como é o caso da
acetilcolina e do glutamato, que garantem a intensificação dos sinais entre os neurônios dessas regiões e
permitem que a memorização e a aprendizagem aconteçam. Agora, veremos ilustrações com mais
detalhes:
:
Representação do cérebro e sistema límbico.

Liberação de neurotransmissores (sinapse).

A memória é um importante processo psicológico, pois está relacionada à aquisição, ao armazenamento e


à evocação de informações, tais como fatos do passado ou atuais, sentimentos, emoções positivas ou
negativas, objetos e signos que são parte das experiências e que foram memorizados pelo sistema
nervoso ao longo da vida. Situações em que ocorram danos nas áreas cerebrais que concentram a
formação de memórias, como a doença de Alzheimer, por exemplo, fazem com que as atividades neurais
da região comprometida diminuam, resultando em perdas significativas de memória.

Neurociência e memória
A Neurociência ainda não consegue explicar em detalhes todos os processos que ocorrem para que as
memórias sejam formadas. É fato que nos últimos anos tivemos muitas contribuições para que houvesse
um amplo entendimento sobre os mecanismos pelos quais elas são construídas, mas elas ainda não são
suficientes para elucidar todas as questões que permeiam esse assunto.
:
Circuito neural.

A evidência mais concreta que se tem atualmente considera a aquisição de memórias a partir da
interconexão neuronal, ou seja, por meio da formação de um circuito neural que reúne milhares de
neurônios em alta escala de trabalho sináptico. Quanto mais estímulos forem oferecidos, maior será a
escala de trabalho desses neurônios, portanto, mais provável que ocorra a memorização.

Junior e Faria (2015) esclarecem que o processo de armazenamento das informações que chegam até o
sistema nervoso é realizado de duas maneiras:

Por meio de alterações bioquímicas #

Vão ocorrer de duas formas: uma por mecanismo estrutural e, a outra, por via funcional. O
mecanismo estrutural permite um ajuste entre os neurônios, que passam a se conectar com outros
neurônios, formando novas conexões e permitindo uma ampliação na transmissão de estímulos.
Por outro lado, na via funcional ocorre a formação de novos canais de íons, otimizando a
transmissão dos estímulos por esse neurônio.

Por meio de fenômenos eletrofisiológicos #

Vai ocorrer de forma temporária a retenção da informação, e a sua eliminação se dá na sequência.


Isso acontece porque os neurônios responsáveis por disparar sinais eletroquímicos atuam em
picos de segundos.

Em todos os casos, o mecanismo determinante para a recepção do estímulo e a conversão em memórias


é a síntese de proteína – processo pelo qual ocorre a formação de proteínas. Quando isso acontece
repetidas vezes, por algum motivo ainda não identificado ocorre a memorização. Todo esse processo se
dá por meio do trabalho ininterrupto dos neurônios que constituem o tecido nervoso e que são
:
responsáveis pelas memórias.

Consolidação da memória em aprendizagem

Processo de consolidação
Como acontece a consolidação da memória em aprendizagem?

Para isso, vamos pensar na seguinte situação:

Exemplo

Era terça-feira e, como de costume, Antônio saiu para sua caminhada matinal. No trajeto, mais
especificamente às 08h07, ele passa pela linha férrea que fica próximo à sua casa e é obrigado a parar e
esperar os longos e vagarosos vagões de trem passarem. “O maquinista é pontual, todos os dias me faz
esperar!”, exclama Antônio para José, um senhor grisalho que fica ao lado da linha vendendo frutas.

Nesse caso, quando Antônio exclama “O maquinista é pontual, todos os dias me faz esperar!”

É possível afirmar que ele viveu uma experiência que se transformou em


aprendizagem?

Para que a aprendizagem possa de fato ser construída, é necessário que as memórias sejam
consolidadas e que deixem de ser de curta duração para se tornar memórias de longa duração – assunto
que será abordado mais adiante. Essa consolidação acontece nas primeiras horas após a exposição ao
conteúdo e irá considerar a importância do objeto da aprendizagem. Na situação de Antônio, a sua fala
afirma um fato que acontece com frequência (a pontualidade do maquinista e a necessidade de esperar o
trem passar todos os dias), reflexo de sua capacidade de memorização.

É possível considerar que exista aprendizagem na experiência de Antônio, pois ainda que ele tenha a
opção de sair em um horário diferente ou pegar outro caminho, ele sabe que naquele trajeto e horário irá
encontrar o trem. Outro ponto a ser levado em conta é a quantidade de vezes que Antônio teve que esperar
o trem passar.
:
A repetição e a importância dos fatos fizeram com que a memória de curta
duração se transformasse em memória de longa duração.

Memória e aprendizagem
As memórias recém-adquiridas inicialmente se encontram instáveis, ou seja, passíveis de serem perdidas.
Entretanto, no sistema nervoso, mais precisamente no hipocampo, ocorre uma cascata molecular – uma
via de transmissão de sinal dentro das células com o objetivo de produzir algum tipo de resposta celular –
e faz com que aquela memória que estava instável se transforme em uma memória estável.

Neurônio.

Para que esse processo aconteça, entra em ação o fator neurotrófico derivado do cérebro (BDNF), um tipo
de proteína que ajuda na manutenção, crescimento e diferenciação de novos neurônios e sinapses. Ele é o
grande responsável pelo fortalecimento das sinapses que ocorrem entre os neurônios presentes no
hipocampo e que estão relacionados com o armazenamento de memórias.

Mesmo estáveis, as memórias podem se modificar por meio dos seguintes aspectos:

$
:
Ação do tempo

%
Uso de medicamentos

&
Mudanças de rotina

'
Comportamentos

Nesse caso, é necessário que a memória seja reconsolidada. É provável que, caso Antônio pare de fazer
caminhadas ou mude o trajeto, essa informação venha a se perder.

Por outro lado, a reconsolidação de uma memória armazenada pode ocorrer pela incorporação de novas
memórias, e isso é possível a partir de novas interconexões neuronais. Trata-se de um meio para a
:
memórias, e isso é possível a partir de novas interconexões neuronais. Trata-se de um meio para a
integração de novos aprendizados às experiências e memórias anteriormente adquiridos.

Alguns recursos são utilizados para fixação de memórias, tais como:

Utilização de acrônimos – palavra que se forma pela junção das primeiras letras ou sílabas iniciais de
um grupo de palavras e expressões (como, por exemplo, INEP – Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas);

Utilização de resumos;

Autoexplicação;

Associações com coisas ou situações de rotina;

Realização de simulados e mapas mentais;

Formação de vínculos entre o que se pretende memorizar e o que se tem já na memória; e

Repetição – como parte fundamental para a memorização.

Atenção!

Partimos do pressuposto de que, para o aprimoramento das habilidades, é essencial o exercício da


repetição, seja para fixar uma determinada informação ou mesmo para aprender um novo assunto. Todas
as técnicas se complementam, e o que determinará a capacidade de memorização e consequente
aprendizagem é a frequência com que se aplica.

Transformando emoções em memórias

Emoções
A palavra emoção deriva do latim ex movere que significa “mover para fora”. Na aplicação da palavra
:
A palavra emoção deriva do latim ex movere que significa “mover para fora”. Na aplicação da palavra
emoção, entendemos que mover para fora significa compartilhar sentimentos e necessidades
pertencentes ao ambiente mais íntimo do ser, portanto, expressar emoções significa exteriorizar
sentimentos.

Considerando a emoção como fator determinante para o desenvolvimento cognitivo, é imperativo entender
que o medo e o estresse constituem estados emocionais e que eles são determinantes para que ocorra ou
não a memorização, com reflexos diretos na aprendizagem e na qualidade com que esses processos
ocorrem (BARRETO, 2010). A seguir, vamos ver uma representação do sistema límbico e a participação
dos gânglios basais no desenvolvimento cognitivo.

Sistema límbico.

Codea (2019) aborda a emoção primária do medo que pode ser incondicionado (no caso das respostas
involuntárias aos medos de altura e de ruídos, por exemplo), como também adquirido por meio do
aprendizado ou condicionado (no caso do som de uma arma de fogo, por exemplo). O autor acrescenta
que ambientes de aprendizagem austeros, tensos, opressivos e com sobrecargas de estímulos tendem a
promover respostas negativas que são destrutivas para os processos cognitivos.

Medo e estresse
Quando o medo e o estresse acontecem, o sistema nervoso ativa regiões hipotalâmicas que, por sua vez,
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Quando o medo e o estresse acontecem, o sistema nervoso ativa regiões hipotalâmicas que, por sua vez,
conduzem seus estímulos à glândula adrenal, liberando quantidades razoáveis de adrenalina. Como
resposta, ocorre uma adaptação do sistema cardíaco e respiratório, fazendo com que eles acelerem seu
ritmo (MACHADO, 2003). Tal adaptação pode ser bem recebida por aqueles que costumam aprender sob
pressão, por outro lado, para aqueles que não reagem bem a essas condições, o reflexo poderá ser
traumático, a ponto de inibir o processo de aprendizagem.

Reflexão

Conceber o medo e o estresse apenas como uma situação ruim ou desagradável pode ser uma visão
reducionista. O mais sóbrio seria considerá-los como eventos originados a partir de situações que causam
respostas físicas, fisiológicas e psicológicas em um indivíduo, o que pode estar associado ou não a
situações ruins. Contudo, é preciso entender que essas emoções devem ser compreendidas como
situações anormais. Do ponto de vista psicológico, elas estão associadas a estados emocionais negativos
e que podem causar uma diminuição da capacidade de gerar conexões neurais (RELVAS, 2019).

As emoções não atingem apenas a mente do indivíduo, mas também seu corpo. O psicossomatismo entre
mente e corpo – agravado por estresse psíquico de forma involuntária e inconsciente, e acompanhado de
certas alterações do sistema nervoso que podem causar alterações físicas – revela, muitas vezes, como
nossos pensamentos e emoções estão sendo gerenciados. Na maioria dos casos, estar vulnerável a
condições estressantes nos coloca em sérios transtornos psíquicos e comportamentais.

Por isso, sabendo que as influências emocionais expiram as capacidades e o


equilíbrio natural da mente, devemos promover em sala de aula momentos de
aprendizagem que distanciem o aluno do caos que em geral envolvem o ato de
aprender.

Sendo assim, torna-se imprescindível compreender o perfil emocional de cada indivíduo no contexto da
aprendizagem, já que as transformações necessárias para a aquisição do conhecimento serão
influenciadas pelas emoções, e dependentes das memórias construídas no percurso de formação.
:
(
Emoções, memórias e aprendizagem
Neste vídeo, o especialista refletirá sobre as emoções na formação de memórias para que a aprendizagem
possa acontecer.

Transformando memórias em aprendizagem

Estudo de caso
Catarina tem 14 anos de idade e todos os dias acorda às 7h da manhã para ajudar sua mãe com os
:
Catarina tem 14 anos de idade e todos os dias acorda às 7h da manhã para ajudar sua mãe com os
preparativos para o café da manhã. Sua mãe pede que ela fique de olho na água quase fervente que será
usada para passar o café, enquanto isso, tira o pão quente do forno, corta-o em fatias e passa manteiga,
do jeitinho que a família gosta. Assim que a água borbulha de quente, Catariana chama sua mãe, que,
cuidadosamente, despeja a água no coador com cinco colheres de pó e espera pacientemente o bule se
encher. Em seguida, predomina na cozinha um cheirinho bom de café, de família e de amor de mãe.

É provável que lendo a história de Catarina você tenha pensado em como eram as manhãs em sua casa, o
café da manhã em família, a forma com que seus familiares preparavam essa refeição, os procedimentos
utilizados para passar o café e assar o pão, e é possível também que tenha sentido até o cheiro do café
fresco e o sabor do pão com manteiga.

Nosso cérebro tem a capacidade de evocar memórias das experiências de vida e


que se transformaram em aprendizagem. Somos feitos de memórias – as que
vivemos, as que ouvimos e as que contamos – e também somos determinados
por aquilo que temos em nossa memória. Isso nos permite adquirir novas
experiências e transformá-las em aprendizagens, inclusive para nossa
sobrevivência.

Para exemplicarmos, vamos pensar na situação a seguir:

Exemplo

Quando você atravessa uma grande avenida, precisa parar na calçada, observar o semáforo, o trânsito e as
demais pessoas que estão prestes a cruzar a mesma via. Mas o que impede você de atravessar a avenida
sem observar os quesitos de segurança mencionados? As memórias que você construiu diante das
:
experiências que envolvem o trânsito, tais como o medo, que é um mecanismo de proteção necessário
nesse caso. Você já presenciou, ouviu dizer, leu nos jornais, ou já foi vítima de um atropelamento? Se a
resposta for sim, o medo é o motivo pelo qual você não atravessa a avenida sem tomar os devidos
cuidados. Essas memórias se transformaram em aprendizagem!

Funções cognitivas do cérebro


A memória e a aprendizagem influenciam na capacidade do cérebro de se modificar e isso vai acontecer
diante das experiências vividas, por meio da capacidade plástica do sistema nervoso.

O cérebro está em constante desenvolvimento e, no decorrer da vida, as experiências são processadas por
uma área chamada de córtex pré-frontal, uma região na parte anterior do cérebro que é responsável por
processar as experiências adquiridas.

Ela auxilia na formação do sujeito, na sua capacidade de gerenciar as emoções, tomar decisões, construir
raciocínios lógicos, formar pensamentos coesos e influencia diretamente na forma como as pessoas se
comportam diante da sociedade. Estamos falando, portanto, das funções executivas.

Córtex pré-frontal e frontal do cérebro (em amarelo).

As funções executivas têm um papel fundamental no processo de memorização e


de aprendizagem. Dessa forma, podemos dizer que nos tornamos o reflexo das
experiências negativas e positivas que vivemos.

Em outras palavras, se você cresceu em um ambiente saudável, seguro, amável e com estímulos positivos,
é provável que na fase adulta você tenha uma boa capacidade para tomadas de decisões ou um bom
comportamento social. Por outro lado, se o ambiente em que você nasceu foi um tanto belicoso, inseguro,
com falta de amor, sem empatia e com relações afetivas indesejadas ou mesmo subvalorizadas, é quase
:
certo que sua capacidade para gerenciar emoções seja prejudicada. Não se trata de uma ciência exata,
pois considera a subjetividade com que cada indivíduo se comporta diante de um mesmo estímulo, além
de levar em conta a capacidade de transformação das emoções e experiências que cada um desenvolve
ao longo da vida.

Resumindo

Neste módulo, você pode caminhar pelos aspectos mais relevantes das bases biológicas para a formação
de memórias, pode também perceber como ela se organiza no sistema nervoso e o quanto contribui para
os processos cognitivos, mais especificamente a memória e a aprendizagem. Outro ponto interessante
nessa abordagem foi o quanto as emoções influenciam na formação de memórias e na aprendizagem. No
próximo módulo, falaremos sobre o pensamento.

Falta pouco para atingir seus objetivos.


:
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

As conexões neurais são possíveis por meio da liberação de mediadores químicos, também
chamados de neurotransmissores, e elas acontecem na fenda sináptica de um neurônio. Quando a
acetilcolina e o glutamato iniciam seu mecanismo de ação em determinada região, temos a formação
de memórias. Considerando o exposto, assinale a alternativa que apresenta as principais áreas em
que as memórias são processadas.

A Hipófise e ponte.

B Hipocampo e córtex cerebral.

C Cerebelo e bulbo.

D Mesencéfalo e corpo caloso.

E Ventrículos cerebrais e medula.

Parabéns! A alternativa B está correta.

As regiões nas quais são processadas as informações de memórias são o hipocampo, no sistema
límbico, e a área pré-frontal, no córtex cerebral. Essas áreas são ativadas por aumento na
concentração de mediadores como a acetilcolina e o glutamato.
:
Questão 2

Os estímulos ambientais são determinantes para o desenvolvimento das estruturas neurais do


sujeito. Quando ofertados da forma correta, eles promovem significativas transformações, e isso vai
resultar em respostas efetivas do sistema nervoso. O nome dado à capacidade que o neurônio possui
em modificar-se diante de estímulos recebidos está corretamente descrito na alternativa:

A Desenvolvimento cerebral.

B Neurodesenvolvimento estrutural.

C Plasticidade neural.

D Crescimento neuronal.

E Desenvolvimento funcional.

Parabéns! A alternativa C está correta.

O neurônio possui capacidade de modificação plástica, ou seja, ele modifica suas estruturas de
acordo com os estímulos recebidos, e esse fenômeno é chamado de neuroplasticidade ou
plasticidade neural.
:
2 - Neurobiologia do pensamento
Ao final deste módulo, você será capaz de reconhecer a neurobiologia do pensamento.

Cérebro e pensamento

Neurobiologia do pensamento
Conheceremos o significado de pensamento e em quais áreas do cérebro ele se desenvolve. Vamos
verificar como acontecem os processos psicológicos para a formação do pensamento, além de suas
interfaces com as memórias e as funções executivas.

Talvez você esteja curioso para entender o que seria esse novo conhecimento.
Pois bem, é um assunto interessante e, acima de tudo, fundamental para você
compreender as práticas no campo da Neurociência aplicada à Psicologia! Vamos
nessa?
:
nessa?

“Penso, logo existo”, uma frase dita por René Descartes e que marca a filosofia moderna. O filósofo propõe
uma compreensão abrangente sobre a razão humana como forma de existência. Mas o que é o
pensamento? Como ele se desenvolve? E ainda, do ponto de vista biológico, como as estruturas neurais se
organizam para a formação do pensamento?

O córtex cerebral é dividido em duas grandes áreas denominadas hemisférios cerebrais direito e esquerdo,
que, por sua vez, se subdividem em lobos cerebrais. Conforme veremos na imagem a seguir, na parte
anterior do crânio está localizado o lobo frontal; na parte posterior, conhecido também como região da
nuca, está o lobo occipital; na parte superior do crânio está o lobo parietal e, na lateral, próximo ao
pavilhão auditivo, temos o lobo temporal.

Divisão do cérebro em lobos.

Essas regiões são também conhecidas como neocórtex, uma das áreas cerebrais mais importantes
quando se fala de desenvolvimento da espécie humana. É nessa região que ocorrem a regulação do
comportamento humano, processamento de informações originadas a partir dos órgãos dos sentidos,
elaboração de pensamentos, percepções sensoriais, emoções e processos cognitivos. Veja mais detalhes
:
na imagem a seguir:

Regiões do neocórtex.

É no neocórtex, mais especificamente no lobo frontal, que a construção do pensamento acontece. Várias
estruturas se mobilizam para desenvolver essas funções, consideradas primordiais para a sobrevivência
do sujeito, dentre elas, podemos destacar os processos cognitivos.

A cognição lida com o processamento das informações que chegam até o


sistema nervoso e que serão transformadas em conhecimentos. É no lobo
temporal que a cognição acontece. Para isso, algumas habilidades mentais são
necessárias, tais como a percepção dos estímulos ambientais, as memórias e o
pensamento.

Pensamento palpável
Vamos pensar na situação a seguir:

Exemplo

Ao caminhar pelo parque, você observa as árvores perdendo suas folhas e é inevitável que se pense na
chegada do outono. O ser humano tem a capacidade de conceituar determinado evento e correlacioná-lo a
um novo acontecimento, logo, cair as folhas das árvores significa a chegada de uma nova estação. O
:
pensamento possibilita ao sujeito a resolução de problemas, a criação de coisas e estratégias e o
planejamento de ações por meio da percepção consciente.

Os pensamentos não são palpáveis. Apesar disso, eles têm sua base física ancorada na atividade
neuronal e, para que sejam consolidados, uma intensa ativação sináptica deve existir, propagando os
estímulos por uma cadeia de neurônios presentes no córtex frontal. As conexões sinápticas que ocorrem
nas áreas corticais comumente se chamam de atividades mentais. Essas, sim, podem ser consideradas o
pensamento palpável e acontecem em alta velocidade, aproximadamente 300 milissegundos antes de se
tornarem conscientes.

Agora, pense em um elefante laranja com bolinhas azuis pedalando uma bicicleta. Pensou? Se você
conseguiu fazer essa atividade mental é porque os neurônios realizaram intensa conexão sináptica. São
os neurônios que dão forma ao pensamento. Contudo, vale ressaltar que existe uma abstração a respeito
disso, pois, mesmo que uma análise microscópica fosse feita nas áreas responsáveis pela formação dos
pensamentos quando você estivesse pensando no elefante, não seria possível encontrá-lo nessas
estruturas.

Reflexão

O pensamento se consolida por meio da atividade mental e é o resultado da racionalidade e do


desenvolvimento intelectual. Em termos mais simples, o pensamento é produto da mente, ele pode dar
forma a operações racionais, tais como analisar uma situação, fazer uma síntese e, ainda, dispor de ideias,
concepções e reflexões para solucionar um determinado problema. Não seria possível ao ser humano ter
uma vida sem pensamentos, já que ele é a verdadeira expressão da mente na existência (LURIA, 1981).

Para dar andamento aos nossos estudos, faremos uma imersão nos tipos de memórias e como elas se
relacionam com o pensamento.
:
Memória e formação do pensamento

Memória sensorial
É aquela que nos permite reter informações que chegam por meio dos órgãos dos sentidos (tato, olfato,
paladar, visão e audição). Esse tipo de memória se utiliza das vias de transmissão de impulsos nervosos
que captam informações sensitivas e enviam para o sistema nervoso, que, por sua vez, faz o
processamento dos impulsos recebidos, oferece uma resposta imediata, ou, caso seja relevante,
armazena tais informações em forma de memória sensorial. Esse tipo de memória é fundamentalmente
importante para a formação do pensamento, pois é por meio dos sentidos que o corpo consegue
reconhecer-se no ambiente.

Órgãos dos sentidos.

Vejamos a seguinte situação:

Exemplo

Convidamos você para um rápido exercício de memória sensorial, mais precisamente a memória
gustativa. Feche os olhos e imagine que você está colhendo um limão no limoeiro. Em seguida, imagine
que você esteja lavando-o e partindo-o ao meio. Na sequência, visualize e sinta o limão sendo espremido
:
em sua boca. É provável que você tenha sentido o sabor azedo do limão e, ainda, que tenha aumentado
sua salivação. Esse é um exemplo de memória sensorial, e uma de curtíssima duração, já que, caso não
seja necessário recuperá-la, será descartada. Outro ponto a ser considerado é o recrutamento das
memórias sensoriais por meio da imaginação, resultando na formação do pensamento.

Memória de curto prazo


Abordaremos agora a memória de curto prazo ou aquela conhecida também como memória de trabalho
ou operacional. Esse tipo de memória possibilita que informações passageiras e que fazem parte do
cotidiano sejam evocadas pelo tempo necessário para sua utilização. É um tipo de memória útil para a
conduta consciente diante de um estímulo ou de uma resposta.

Memória de curto prazo (mais comum no dia a dia).

Vejamos a seguinte situação:

Exemplo

Imagine que você saia do trabalho para almoçar com os colegas e, ao chegar ao restaurante, pede ao
recepcionista uma mesa com espaço para cinco pessoas. Seu pedido é atendido prontamente e o
funcionário lhe diz o número da mesa que deverá acomodar a todos. Ao chegar ao local indicado, a
:
informação passada pelo funcionário do restaurante, o número da mesa, deixa de ser importante e pode
ser imediatamente apagado de sua memória. É provável que algumas horas depois você não se lembre o
número da mesa à qual se sentou para almoçar naquele dia. Da mesma forma, quando você vai ao
supermercado com uma relação de coisas a serem compradas, essas informações deixam de ser
importantes e são apagadas da memória após as compras.

A memória de curto prazo ou memória de trabalho nos permite reter uma determinada quantidade de
informações pelo tempo necessário para seu acesso. Um fato relevante sobre esse tipo de memória é que
ela está ligada diretamente à de longo prazo, por isso, se a informação for relevante e se houver
necessidade de acessá-la mais tarde, isso poderá ser feito.

Memória e experiências de vida

Memória de longo prazo


A memória de longo prazo, como o próprio nome revela, armazena informações a longo prazo. São
memórias originadas a partir das experiências de vida, desde a infância até fatos e eventos importantes
que marcaram os últimos dias. A memória de longo prazo contribuirá para o processo de formação do
pensamento desde que implique na evocação de arquivos por ora adormecidos nesse tipo de memória.

Memória de longo prazo (acontecimentos importantes).

Vejamos a seguinte situação:

Exemplo

Você se lembra quem descobriu o Brasil e em qual continente o Brasil está localizado? E o nome do seu
:
animal de estimação favorito na infância? Se você respondeu a essas questões sem precisar recorrer a
alguma fonte de consulta, é provável que sua memória de longo prazo esteja funcionando perfeitamente.

A memória de longo prazo possui alta capacidade e relevância em seu armazenamento. O que define o
armazenamento de uma determinada memória a longo prazo é o valor que se dá para a informação que
será armazenada. Podemos considerar situações com alta carga emotiva, de interesse pessoal ou
profissional, que motivem a ter recordações e que sejam possíveis de serem acessadas futuramente.

Memória declarativa e memória não declarativa


A memória declarativa, um tipo de memória de longo prazo, armazena os principais e mais relevantes
fatos que podem ser acessados de forma consciente. É um tipo de memória explícita, seu
armazenamento é voluntário e está dividido em duas formas distintas de organização: a semântica e a
episódica. Vejamos um exemplo de cada uma delas:

A memória episódica permite que fatos pontuais sejam armazenados, como, por exemplo: Onde você
estava quando os aviões atingiram as torres gêmeas no atentado de 11 de setembro de 2001?

Já a memória semântica nos permite saber que o atentado ocorreu no dia 11 de setembro.

A memória não declarativa nos permite armazenar eventos procedimentais e que são acessados
inconscientemente. Vejamos a seguinte situação:

Exemplo

Imagine uma pessoa que esteja aprendendo a dirigir. Inicialmente, ela precisa aprender cada um dos
passos necessários para colocar o carro em movimento. É necessário que ela aprenda sobre as leis de
trânsito, sobre as placas e sinalizações e, logo em seguida, precisa praticar a direção operando um veículo
:
nas ruas, juntamente com o instrutor. No início, a quantidade de informações oferecidas não se encaixa
muito bem: saber as regras, regular e ajustar a poltrona, os espelhos, cinto de segurança, dar a partida, a
seta, acelerar e frear, alternar as marchas, observar o pedestre, a sinalização, os outros veículos, enfim,
uma enxurrada de coisas para se fazer ao mesmo tempo.

No entanto, com a prática constante, o novo motorista percebe que as coisas não são tão complicadas
assim, e que aquela grande quantidade de informações parece ter diminuído. Na verdade, entrou em ação
a memória não declarativa, ou seja, todas aquelas informações oferecidas no início das aulas de direção
estão armazenadas e são aplicadas inconscientemente ao dirigir.

(
Tipos de memórias e pensamento
Neste vídeo, o especialista refletirá sobre os tipos de memória e como elas se relacionam com o
pensamento.

Interação entre indivíduo e o ambiente percebido

Pensamento e percepção
O pensamento se forma pela interação entre o indivíduo e o ambiente percebido, ou seja, pela experiência
:
O pensamento se forma pela interação entre o indivíduo e o ambiente percebido, ou seja, pela experiência
vivenciada por meio dos órgãos dos sentidos. A visão, a audição, o tato, o olfato e o paladar são os
sentidos responsáveis por captar, codificar e transportar as informações do ambiente interno e externo
para serem processadas pelo sistema nervoso. Em outras palavras, os órgãos dos sentidos permitem a
comunicação do corpo com o ambiente por meio da:

)
Atenção

)
Seleção

)
Organização

)
Interpretação

)
Armazenamento

)
Recuperação das informações
Para que você possa compreender ainda mais, vamos pensar na seguinte situação:

Exemplo

Imagine que você esteja lavando as roupas e, ao pendurá-las no varal, você olha para o céu e percebe que
o tempo está ficando encoberto. Passados 30 minutos, você ouve um forte trovão e, imediatamente,
percebe que vai chover. Assim que ouve o trovão, o primeiro pensamento que vem à mente são as roupas
:
no varal. Isso aconteceu porque o primeiro passo para a formação do pensamento é a percepção do
ambiente. Nesse caso, o ambiente externo, mais precisamente o trovão.

Na sequência, essa percepção é enviada para a memória de trabalho, conhecida também como memória
de curto prazo, que processará a informação. Logo, após ouvir o trovão, você pensa nas roupas e se
direciona ao varal para retirá-las.

A memória de trabalho é dependente da de longo prazo, já que experiências


passadas e armazenadas nesse tipo de memória fizeram você pensar na
possibilidade de que a chuva pudesse cair após os trovões e molhar as roupas,
atrasando seu processo de secagem.

Pensamento e resolução de problemas


É frequente a necessidade de resolvermos problemas. Na rotina diária são inúmeras as situações em que
precisamos buscar estratégias, fazer escolhas, procurar alternativas, resolver questões, e isso só é
possível por intermédio dos pensamentos. Os pensamentos se utilizam das interconexões entre
memórias, e estas são formadas a partir das experiências de vida, enquanto as funções executivas são
amadurecidas.

Por isso, é possível afirmar que a memória de trabalho é uma forma de processamento consciente da
realidade. Em termos mais simples, nossa consciência está na memória de trabalho, por outro lado, a
memória de longo prazo mantém os conceitos e as experiências arquivados e adormecidos até que seja
necessário evocá-los novamente.
:
Comentário

Para que seus problemas sejam resolvidos, você utiliza a consciência da memória de trabalho e resgata
arquivos adormecidos na memória de longo prazo. É possível que você tenha reconhecido o som do
trovão que estava armazenado em sua memória de longo prazo e tomado a decisão consciente (memória
de trabalho) de retirar as roupas do varal.

Quando você passa por uma situação-problema pela qual nunca havia passado antes, é provável que
exista certa dificuldade para chegar a uma solução. Isso acontece porque não há registros na memória de
longo prazo que favoreçam a formulação de pensamentos que resultem na resolução do novo problema.
Com isso, você tende a não saber o que fazer.

O pensamento acontecerá na memória de trabalho e será possível a partir de estímulos ambientais e da


atuação das memórias de longo prazo.

Toda vez que um estímulo for oferecido por meio dos órgãos dos sentidos, informações serão resgatadas
do acervo de memórias de longo prazo – produto das experiências fixadas durante o amadurecimento das
funções executivas – e resultará em uma conduta, que é a resposta ao estímulo inicial.

Atenção!

A recorrente manutenção da memória por meio de revisões, repetições, exercícios e estudos ativos
favorecerá a formulação do pensamento e, consecutivamente, a resposta mais eficiente diante dos
estímulos recebidos.

As funções executivas e o pensamento


:
Tomada de decisão
Você já pensou como o seu dia está repleto de momentos nos quais é necessário tomar decisões e
controlar o comportamento diante das outras pessoas? Nesses momentos, podemos escolher a roupa
para o trabalho e para o cinema, comprar um carro ou uma bicicleta, abrir uma conta no banco e guardar
dinheiro na poupança ou investir em ações para ter uma boa aposentadoria, planejar uma festa de
aniversário ou organizar os livros em uma prateleira, fazer a escolha por determinado curso na faculdade
ou decidir em que área atuar.

Todas essas situações podem acontecer em sua vida, em proporções maiores ou


menores, e sabe quem é o grande responsável por tudo isso? Exatamente, as
funções executivas!

As funções executivas são habilidades importantes para a realização de atividades que envolvam a
elaboração de estratégias, o monitoramento de ações para o alcance de metas e as tomadas de decisões.
Essas funções são complexas e se utilizam da evocação de memórias e experiências de vida em seu
processo de amadurecimento, além de influenciarem diretamente na formação dos pensamentos.

Vejamos a situação a seguir:

Exemplo

As funções executivas são construídas durante a vida a partir das experiências vivenciadas pelo indivíduo.
Essas experiências podem ter componentes emocionais positivos ou negativos, e ambos irão influenciar
nas tomadas de decisões e no comportamento social na vida adulta. Se a infância foi um período
:
acolhedor, de afeto familiar, de orientação e segurança, é provável que a criança tenha condições de lidar
com seus sentimentos, escolhas e pensamentos na vida adulta. Já o oposto disso poderá se transformar
num evento traumático e resultar em maior dificuldade ou impossibilidade de lidar com esses aspectos da
vida (JUNIOR; MELO, 2011).

Processamento das funções executivas


A região do córtex pré-frontal, localizado no lobo frontal do cérebro, é a área de processamento das
funções executivas. O amadurecimento total dessa região acontece a partir da segunda década de vida, o
que justifica a capacidade racional para tomadas de decisões e para a modulação de comportamentos
sociais serem considerados a partir do vigésimo ano de idade. É esperado que comportamentos mais
racionais, maduros e moralmente contidos ocorram após essa idade.

Antes disso, é provável que resquícios da imaturidade das funções executivas resultem em respostas
menos pensadas. Não por acaso, no Brasil, a maioridade civil acontece após os dezoito anos, momento
em que se considera o sujeito totalmente capaz de assumir a responsabilidade e a racionalidade por seus
atos.

Vejamos a seguinte situação:

Exemplo

Se uma criança for provocada por seu coleguinha, é bem provável que sua forma de reagir à provocação
seja com agressividade, por meio de tapas e puxões de cabelo. Trata-se de uma resposta emocional, e
isso acontece porque a criança ainda não amadureceu totalmente o seu filtro racional, aquele que permite
adotar comportamentos e reações pensadas, importantes para a vida em sociedade.

Diante de provocações, espera-se que os adultos respondam com comportamentos mais contidos, com
menos exacerbações de emoções, com argumentações e defesa de ideias estruturadas em pensamentos
lógicos e coerentes. É sabido que os pensamentos podem ser influenciados pelas funções executivas e
também pelas emoções contidas no ato em si. Em outras palavras, a forma como ocorreu o
:
amadurecimento das funções executivas e o “calor do momento” são preponderantes para o
enfrentamento das provocações.

Resumindo

Neste módulo, você pôde caminhar pelos aspectos mais relevantes das bases biológicas do pensamento,
como e onde eles são processados no sistema nervoso e quais as relações que possuem com as
memórias de trabalho e de longo prazo. Você também viu as influências das funções executivas para a
aquisição de memórias e a formação dos pensamentos. No próximo módulo, falaremos sobre a atenção e
os processos automáticos e voluntários.

Falta pouco para atingir seus objetivos.


:
Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1

Analisando o corte de um cérebro, é possível perceber uma região mais externa e outra mais interna.
A região mais externa, conhecida como substância cinzenta, é rica em

A axônios.

B dendritos mielinizados.

C corpos celulares.

D prolongamentos celulares.

E bainha de mielina.

Parabéns! A alternativa C está correta.

A região mais externa, também chamada de córtex cerebral, é rica em corpos celulares, região dos
neurônios onde estão presentes o núcleo e as organelas.

Questão 2

Podemos conceituar memória como um processo pelo qual aquilo que é aprendido persiste ao longo
do tempo, do mesmo modo que se caracteriza como um sistema ativo que recebe, armazena,
organiza e recupera a informação. Em relação à memória, afirma-se:

I. Apresenta três sistemas distintos de armazenamento: memória sensorial, memória de curto prazo e
:
I. Apresenta três sistemas distintos de armazenamento: memória sensorial, memória de curto prazo e
de longo prazo.

II. Memória sensorial é subdividida em duas formas: icônica e ecoica.

III. A memória de curto prazo contém as informações nas quais estamos pensando ou das quais
estamos plenamente conscientes.

IV. A memória de longo prazo pode permanecer por toda a nossa vida e podemos ficar sem espaço
para armazenar nova informação.

V. Parte do trabalho de organização e arquivamento da memória aparentemente ocorre durante o dia.

Está(ão) correta(s):

A Apenas as afirmativas I, II e III.

B Apenas as afirmativas I, II, e IV.

C Apenas as afirmativas II, III e IV.

D Apenas as afirmativas I, III e IV.

E Apenas as afirmativas II e III.

Parabéns! A alternativa A está correta.

É correto afirmar que três sistemas distintos de armazenamento se chamam memória sensorial,
memória de curto prazo e de longo prazo. Também é correta a informação de que a memória

sensorial é subdividida em duas formas: icônica e ecoica. Além disso, é precisa a ideia de que a
memória de curto prazo contém as informações nas quais estamos pensando ou das quais estamos
plenamente conscientes. A memória de longo prazo pode permanecer por toda a nossa vida, contudo,
nunca ficamos sem espaço para armazenar nova informação.
:
3 - Bases neurais da atenção
Ao final deste módulo, você será capaz de descrever as bases neurais da atenção, dos
processos automáticos e voluntários.

Capacidade de escolher e responder a um estímulo

A atenção
Neste momento, conheceremos um pouco mais sobre a fisiologia da atenção e os processos automáticos
:
Neste momento, conheceremos um pouco mais sobre a fisiologia da atenção e os processos automáticos
e voluntários. Vamos compreender como isso acontece em uma abordagem neurobiológica e como se
aplica ao contexto da Psicologia.

Fique atento aos detalhes dessa abordagem, pois, sem dúvida, ela contribuirá para o desenvolvimento das
habilidades e competências do psicólogo. Vamos nessa?

Como a atenção pode ser definida?

A atenção pode ser definida pela capacidade de direcionamento da consciência e concentração sobre um
objeto específico. Ela permite que as informações sejam selecionadas, organizadas e filtradas, com a
finalidade de otimizar os estímulos recebidos.

No contexto da educação, a atenção é fundamentalmente importante para que os alunos possam


direcionar sua energia para determinada situação, inibindo estímulos considerados distratores que
eventualmente possam atrapalhar o processo de aprendizagem.

Vamos pensar na situação a seguir:

Exemplo

Durante uma aula remota de Neurociência, o professor está propondo exemplos relacionados à sua área
de atuação. Nesse momento, você observa com entusiasmo o que ele fala e não se dá conta de que seu
cão de estimação está latindo próximo à janela. Situações como essa aconteceram com frequência
durante o isolamento social causado pela pandemia da covid-19.

O fato é que o ser humano tem a capacidade de direcionar sua atenção para aquele estímulo que
considera mais importante, e faz com que o estímulo menos importante seja inibido. A atenção pode ser
considerada uma das funções mentais mais significativas para a vida do sujeito e está sob forte influência
das experiências de vida. Portanto, a capacidade de direcionar a atenção ou não à determinada ação ou a
:
um objeto só será possível se consideramos o que foi construído na memória até o momento.

A atenção no cotidiano
A atenção pode ser considerada como a capacidade de escolher e responder a um estímulo relevante em
meio a outras possibilidades de estímulos. Ela se apresenta como uma função cognitiva primordial para a
vida do indivíduo e está presente em diversas situações do cotidiano, mas muitas vezes não nos damos
conta disso (NASCIMENTO; TRISTÃO, 2021).

Vamos ver a seguinte situação:

Exemplo

Você já deve ter vivido situações de incerteza e desconfiança durante os protocolos de contingenciamento
para o controle da propagação e infecção pelo vírus da gripe H3N2, ou pelo vírus SARS COV 2, o da covid-
19, não é mesmo?

Situações como etiqueta respiratória, lavar as mãos, evitar contatos com superfícies e pessoas
desconhecidas, utilização de máscara e álcool em gel fizeram e ainda fazem parte da rotina das pessoas,
porém não é certo que todos cumpram o mesmo protocolo e isso faz com que você dedique uma atenção
redobrada para cada uma dessas orientações.

Além disso, considerando a gravidade da situação, o efeito deletério que o vírus pode causar no contexto
físico/fisiológico, psicológico, social e familiar faz com que dediquemos ainda mais atenção aos cuidados
preconizados pelas autoridades sanitárias.

É razoável afirmarmos que a atenção é uma importante ferramenta para ser utilizada na rotina diária.
Desde mecanismos de proteção até processos de aprendizagens passam por ela, e é por meio da atenção
que se torna possível a interação com o ambiente, com as pessoas, com os objetos e com as situações do
cotidiano.

Fisiologia da atenção
:
Áreas cerebrais responsáveis pela atenção
A atenção não é um processo isolado, mas faz parte de alguns processos, como define o modelo
hierárquico de Sohlberg e Mateer (1987, 1989). Os autores segmentam a atenção da seguinte maneira:

Excitação

Refere-se ao nível de ativação e de atenção como, por exemplo, em situações de exaustão


ou disposição.

Atenção focada

Está relacionada com a capacidade de manter a atenção em determinado estímulo.

Atenção constante

É caracterizada pela capacidade de manter a atenção por um longo período.

Atenção seletiva

É a capacidade de manter a atenção em um estímulo, inibindo estímulos distratores.

Atenção alternada
:
Permite que a atenção alterne entre dois estímulos.

Atenção dividida

Possibilita focar a atenção em variados estímulos.

Uma das áreas cerebrais responsáveis pelo processamento das informações relacionadas à atenção é o
tronco encefálico. Nessa estrutura, mais especificamente no mesencéfalo -- que veremos com mais
detalhes na imagem a seguir --, encontram-se agrupamentos de corpos de neurônios denominados
sistema de ativação reticular (SAR) ou sistema de alerta. O SAR é um sistema que tem como principal
função a excitação e a atenção constante, além de fazer interconexões com as áreas límbicas e frontais.

Regiões do tronco encefálico.

Esse sistema de ativação reticular atua na condução de estímulos neurais específicos que agem sob a
ação dos neurotransmissores ou mediadores químicos como a noradrenalina, também conhecida como
norepinefrina. Esse neurotransmissor afeta a atenção e, quando em quantidades adequadas, mantém o
corpo em estado de alerta e atento, principalmente durante o dia. Entretanto, ao entardecer, a sua
concentração tende a diminuir, fazendo com que durante a noite o estado de atenção diminua. Isso
acontece para que o corpo relaxe e você consiga dormir.
:
Ação da norepinefrina no cérebro.

Nas situações que demandam uma resposta imediata de luta ou fuga, o organismo produz mais
noradrenalina, preparando o corpo para lutar ou fugir. Nesse caso, entra em ação também o sistema
límbico.

Sistema límbico.

O sistema límbico está localizado abaixo das áreas corticais e controla as respostas emocionais, o
comportamento e as memórias. Ele é o grande responsável por reconhecer e selecionar os estímulos que
são recebidos, tais como na situação anterior de lutar ou fugir. A agressividade é um fator determinante
para que se obtenha um bom resultado diante da ameaça.

Vejamos a seguinte situação:

Exemplo

Imagine que você esteja atravessando uma grande avenida e, no meio do trajeto, observe que um carro
está avançando e não dá sinais de que irá parar. Sua atenção faz com que as áreas do sistema límbico
sejam acionadas e, portanto, a emoção de medo é ativada. O medo é uma das emoções que fazem com
:
que seu corpo tenha reações diante do perigo. Nessa situação, o carro representa uma ameaça e, diante
dela, você pode escolher entre ficar e enfrentá-la ou fugir.

Para qualquer decisão que tomar, será necessário um ajuste dos sistemas orgânicos do seu corpo, tais
como a frequência respiratória e cardíaca, que fará com que seus músculos trabalhem mais e mais
rapidamente para combater a ameaça. Espero que nesse caso você combata a ameaça tomando a
decisão de correr, já que enfrentar o carro poderá lhe custar a vida.

Atenção e funções executivas


E por falar em tomar a decisão de enfrentar ou fugir de uma ameaça, entram em cena aqui novamente
capacidades que são importantes para a atenção: as funções executivas. Nas funções executivas, as
capacidades de controle inibitório (atenção seletiva), flexibilidade cognitiva (capacidade para mudança de
estratégias) e memória de trabalho estão intimamente ligadas à atenção.

O controle inibitório é a capacidade de pensar e agir para inibir respostas quando


necessário. Quando ele se encontra em desequilíbrio, temos uma situação de
déficit de atenção.

Ainda no exemplo abordado, atravessar uma grande avenida requer uma visita às memórias de longo
prazo para checar as experiências passadas sobre como atravessar uma avenida. É provável que a
experiência em situações anteriores, tais como a notícia de um atropelamento ou ter sido vítima de um,
tenha feito com que você adotasse certa postura para atravessar a avenida, e uma delas é se manter
atento aos perigos que eventualmente possam aparecer.

Sendo assim, podemos correlacionar a atenção às funções mentais superiores a partir das interconexões
neurais entre as áreas do tronco encefálico, do sistema límbico e do córtex pré-frontal. Veja essas regiões
com mais detalhes na imagem a seguir:
:
Tronco encefálico e sistema límbico.

Existe ainda dois sistemas que veremos com mais detalhes:

Sistema Atencional Posterior (SAP) ou Sistema de orientação

É responsável por regular a atenção focada e a seletiva diante de um estímulo visual. Ele
desempenha essas funções nas áreas corticais, mais próximo aos lobos parietais, na região
talâmica e nos colículos superiores, que são responsáveis pela distribuição das
informações visuais para outras áreas cerebrais.

Sistema Atencional Anterior (SAA) ou Sistema de execução

É responsável por cuidar da atenção seletiva, constante e dividida. Suas áreas de regulação
no sistema nervoso são o córtex pré-frontal, o córtex motor suplementar e o núcleo
estriado.

Vejamos a seguinte situação:

Exemplo

Imagine que você esteja em um terminal urbano aguardando a chegada do ônibus que o levará para o
trabalho. Você olha atentamente para a direção de onde o ônibus virá e, assim que o avista, faz o sinal de
parada. Ao entrar no ônibus, você tira da bolsa um livro muito interessante e começa a ler atentamente. O
:
livro é tão empolgante que os ruídos ao seu redor não tiram sua concentração daquela leitura. Olhar
atentamente para a direção de onde o ônibus virá é a atenção focada, regulada pelo SAP, e fazer a leitura
do livro inibindo os ruídos à sua volta é a atenção seletiva, regulada pelo SAA.

Processos automáticos e voluntários

Processos automáticos
Os processos automáticos relacionados à atenção são caracterizados pela capacidade de resposta rápida
diante de um estímulo inesperado e inevitável que requer prontamente uma resposta por parte do
indivíduo, mesmo que ele não esteja atendo à origem do estímulo.

Vejamos a seguinte situação:

Exemplo

Imagine que você esteja acompanhando um jogo de voleibol na arquibancada de um ginásio de esportes.
De repente, sem que você se dê conta, o atleta acerta a bola em um ataque e ela segue com velocidade na
sua direção. Assim que você detecta a bola em seu campo visual, sua resposta ao estímulo será a de
proteção, seja levando as mãos até a cabeça ou tentando alcançar a bola.

Nesse caso, o que aconteceu foi uma reação de captura de atenção ocasionada pela bola, que
consideramos ser um tipo de atenção automática. Porém, caso você consiga se proteger ou alcançar a
bola, você dedicará uma atenção voluntária àquele objeto ou à situação em si.

Processos voluntários
O controle voluntário da atenção se apresenta de forma mais complexa, já que, para que ocorra, é
:
O controle voluntário da atenção se apresenta de forma mais complexa, já que, para que ocorra, é
necessário que haja o direcionamento consciente da atenção, e isso requer um tempo maior para sua
execução.

Controle voluntário da atenção (tomada de decisão).

O controle voluntário da atenção é habitualmente necessário quando exige o planejamento ou a tomada


de decisões, quando se faz necessária a resolução de determinado problema, quando as tarefas são mal
aprendidas ou se apresentam em novas sequências, quando oferecem riscos ou são difíceis para se
executar ou quando há necessidade de superar um resposta conhecidamente forte.

Patologias que acometem a memória e a aprendizagem

Acometimento das funções superiores


Você pode perceber até aqui que as funções superiores são fundamentalmente importantes para a
sobrevivência do indivíduo, seja nas relações sociais, ambientais ou fisiológicas. É fato que o sistema
nervoso precisa estar íntegro para que a memória, a aprendizagem, o pensamento e a atenção possam
acontecer, caso contrário, efeitos deletérios às funções superiores podem comprometer o bom
funcionamento do organismo e sua sobrevivência. Nesse sentido, argumentaremos aqui acerca das
patologias que acometem tais sistemas, de forma isolada ou conjuntamente.

Saiba mais

Os acometimentos das funções superiores podem ser leves ou graves, mas todos resultam em danos
estruturais às áreas cerebrais responsáveis por qualquer uma dessas funções. O comprometimento
neurobiológico pode acontecer de forma imediata, como em situações traumáticas. Nesse caso,
:
independe da idade e dos hábitos de vida, acontecendo de forma progressiva, como na doença de
Alzheimer e na síndrome demencial.

Doença de Alzheimer
O que é a doença de Alzheimer?

A doença de Alzheimer, também conhecida como demência ou mal de Alzheimer, é uma enfermidade que
causa degeneração sináptica e morte neuronal em regiões como o hipocampo e o córtex cerebral, áreas
responsáveis pela formação da memória e também da aprendizagem.

Além da perda de memórias e dificuldade de aprendizagem, essa doença traz algumas complicações, tais
como a dificuldade para executar tarefas que antes eram realizadas com facilidade, a elaboração de
pensamentos e raciocínio lógico, ou a realização de rotinas cotidianas como escovar os dentes ou se
vestir.
:
As mudanças de humor e personalidade estão bem presentes nos casos mais avançados da doença, o
que pode se manifestar por episódios de raiva e de profunda tristeza, que acabam dificultando a
comunicação pela exacerbação das emoções.

Outra característica marcante da doença é a dificuldade de se manter atento aos estímulos que o cercam
e a incapacidade de reconhecer locais, pessoas e situações do dia a dia.

Síndrome demencial
O que acontece na síndrome demencial?

Na síndrome demencial ocorre um declínio dos processos cognitivos durante a vida e, com o avanço da
doença, o que se observa é a dificuldade do sujeito em desempenhar suas atividades laborais e de
relações sociais. O déficit de aprendizagem acontece em decorrência da perda de memória associada a
outros domínios cognitivos, como é o caso da incapacidade de execução de funções de linguagem ou
motoras (que demandam controle e coordenação), tomadas de decisões, além da capacidade de
identificar objetos.

As demências estão presentes com maior frequência em pessoas idosas. Após os 65 anos de idade, a
cada cinco anos seu quadro tende a ser acentuado pelo natural processo de senescência.

Lapso de memória
Episódios de lapsos de memórias também estão associados a situações do dia a dia e não somente a
:
Episódios de lapsos de memórias também estão associados a situações do dia a dia e não somente a
casos de patologias neurodegenerativas. Entretanto, é necessário observar o tipo de dificuldade e qual a
frequência com que ocorre.

Vajamos a situação a seguir:

Exemplo

João iniciou o curso de Pedagogia e, logo na primeira semana, o professor propôs uma dinâmica em sala
de aula com a finalidade de integrar toda a turma. Para a atividade ser considerada completa, os alunos
deveriam formar duplas e estabelecer um diálogo no tempo proposto. João se juntou a Sérgio e ambos
começaram a falar sobre suas experiências de vida, trabalho, família e projetos futuros. A conversa fluiu
como deveria, João e Sérgio ficaram empolgados diante daquela proposta feita pelo professor e
consideraram a atividade demasiadamente simples.

Assim que o tempo terminou, o professor pediu que as duplas fossem até a frente da sala e que cada
participante apresentasse o colega. Foi aí que tudo complicou! João não se lembrava de quase nada a
respeito de Sérgio. O estresse e a ansiedade tomaram conta, as lembranças ficaram bloqueadas e ele
precisou da ajuda de seu novo colega para que a apresentação pudesse acontecer.

A história de João e Sérgio faz parte do cotidiano de grande parte das pessoas, pois o estresse e a
ansiedade podem causar lapsos de memórias, de atenção e dificuldade para elaborar pensamentos. Isso
acontece porque em situações como essas, várias áreas cerebrais são ativadas com a finalidade de se
autodefender das possíveis ameaças. João foi colocado em uma condição estressante, diante de uma
sala de aula e com a missão de falar para pessoas desconhecidas detalhes de alguém que ele acabara de
conhecer.

Patologias que acometem a atenção e a aprendizagem

Transtorno do déficit de atenção com hiperatividade


(TDAH)
:
(TDAH)
Você sabia que no campo da educação, quando se fala em memória e aprendizagem, o transtorno de
déficit de atenção com hiperatividade (o TDAH) é corriqueiramente abordado? Isso é verdade porque se
trata de um distúrbio neuropsiquiátrico que tem seu início na infância e se manifesta por dificuldades de
aprendizagem em uma espécie de tríade, ou seja, três fatores são preponderantes para que esse
diagnóstico se confirme:

*
Desatenção

*
Impulsividade

*
Hiperatividade
O diagnóstico do TDAH é complexo e necessita de uma rigorosa análise multifatorial. Os sintomas desse
transtorno, na maioria das vezes, vão para além da infância. Já na vida adulta, há um predomínio da
desatenção, o que impacta diretamente na formação e evocação de memórias que são necessárias para
os afazeres da vida pessoal e profissional. Os sintomas agrupados do paciente com TDAH incluem a fácil
distração quando se tem estímulos externos e variados, a dificuldade para escutar quando a palavra lhe é
dirigida, a dificuldade para organização de tarefas, a relutância ou a negação para o envolvimento em
tarefas que requerem esforço mental, a perda de foco em detalhes ou descuidos com rotinas de casa, da
escola e do trabalho.

Privação do sono
É indiscutível que a complexidade do TDAH impacta na atenção, na formação e evocação de memórias e,
:
É indiscutível que a complexidade do TDAH impacta na atenção, na formação e evocação de memórias e,
consecutivamente, na construção da aprendizagem, porém situações mais corriqueiras, como a privação
de sono, também influenciam nesses lapsos e podem trazer grande prejuízo.

A privação do sono ocorre quando o sujeito dorme um tempo menor que 6 a 8 horas por dia e pode ser de
forma esporádica ou frequente. Nesse último caso, os agravos à saúde são ainda mais devastadores, isso
porque durante o sono é que o metabolismo – conjunto de transformações químicas que ocorrem nas
células – entra em ação para que ocorra a regulação dos hormônios, a restauração e a reparação tecidual,
incluindo o tecido nervoso, importante para a manutenção e consolidação das memórias. Por isso,
pessoas que sofrem com privação do sono apresentam sérias dificuldades para armazenar memórias e
para aprender.

Resumindo

Neste módulo, você pôde caminhar pelos conceitos mais relevantes da atenção e aprender como ela está
estruturada no sistema nervoso, como se apresenta diante de estímulos variados e em quais condições
ela poderia ser modificada. Além disso, também viu como algumas patologias podem comprometer
drasticamente a aquisição de memórias, a aprendizagem, a atenção e os pensamentos.

(
Patologias que acometem a memória, a atenção e a
aprendizagem

Neste vídeo, o especialista refletirá sobre as patologias que tendem a acometer a memória, a atenção e a
aprendizagem, com exemplos dos comprometimentos cognitivos.
:
Falta pouco para atingir seus objetivos.

Vamos praticar alguns conceitos?

Questão 1
:
Ainda em relação à atenção, sabe-se que esta é uma função interdependente de processos cognitivos
complexos, tais como as funções executivas. Assinale a alternativa que apresenta corretamente um
elemento primordial das funções executivas para a atenção:

A Controle inibitório.

B Controle motor.

C Memória de trabalho.

D Seletividade.

E Tomada de decisão.

Parabéns! A alternativa A está correta.

O controle inibitório é o elemento das funções executivas e é caracterizado pela capacidade de


antecipar determinada situação, além de planejar e definir objetivos de execução. Portanto, ele é
importante para os processos atencionais.

Questão 2

A habilidade que um indivíduo tem de escolher entre diferentes fluxos de informações, concentrando-
se nos elementos que ele acredita serem valiosos e ignorando os outros, considerados menos

importantes, pode ser definida como:

A Atenção focada.
:
B Atenção alternada.

C Atenção dividida.

D Atenção seletiva.

E Atenção constante.

Parabéns! A alternativa D está correta.

A atenção seletiva é a capacidade de manter o foco em um estímulo, inibindo outros potenciais


distratores que poderiam prejudicar o foco da atenção.

Considerações finais
:
Ao longo dos módulos, vimos que a as funções superiores são peças fundamentais para os processos
psicológicos básicos e que, para a atuação efetiva e direcionada do psicopedagogo, é imprescindível o
conhecimento da neurobiologia da formação de memórias e do pensamento, da construção da
aprendizagem e da atenção em seus processos automáticos e voluntários.

Até aqui, foi possível identificar os princípios moleculares, anatômicos e fisiológicos da memória,
avançando nos conceitos sobre o sistema nervoso e reconhecendo que ele é a peça fundamental para que
o mecanismo de formação de memórias possa acontecer. Além disso, estudamos as interfaces existentes
entre as emoções e a aprendizagem, originadas a partir das experiências de vida de cada indivíduo.

Para finalizar, conseguimos reconhecer as bases neurais do pensamento e da atenção, pudemos abordar
os aspectos estruturais e funcionais do sistema nervoso, reconhecendo nas diversas áreas cerebrais as
regiões que comandam as habilidades mentais superiores, as associações entre pensamento e memória e
as interações que existem entre o indivíduo e o ambiente percebido, que também são próprios dos
processos atencionais.

+
Podcast
Neste podcast, o especialista abordará as bases neurobiológicas dos processos psicológicos básicos,
destacando os conceitos da neurociência para o estudo científico da memória, aprendizagem,
pensamento e atenção, com exemplos de estratégias utilizadas pelo psicólogo para o desenvolvimento
cognitivo.

Referências
:
BARRETO, J.; SILVA, L. Sistema límbico e as emoções: uma revisão anatômica. Revista Neurociências. v.
18, n. 3, p. 386-394, 2010.

CODEA, A. Neurodidática: fundamentos e princípios. Rio de Janeiro: Editora Wak, 2019.

JUNIOR, C.; FARIA, N. Memória. Psicologia: Reflexão e Crítica, v. 28, n. 4, p. 780-788, 2015.

JUNIOR, C.; MELO, L. Integração de três conceitos: função executiva, memória de trabalho e aprendizado.
Psicologia: Teoria e Pesquisa. v. 27, n. 3, p. 309-314, 2011.

LURIA, A. Fundamentos de Neuropsicologia. São Paulo: Ed. da Universidade de São Paulo, 1981.

MACHADO, A. Neuroanatomia funcional. 2 ed. São Paulo: Editora Atheneu, 2003.

NASCIMENTO, A.; TRISTÃO, R. Para construir memórias é preciso prestar atenção: a neurobiologia dos
transtornos de aprendizagem da pessoa com déficits atencionais. Brazilian Journal of Health Review. v. 4,
:
n. 3, p. 10232-10246, 2021.

RELVAS, M. Cérebro: contextos, nuances e possibilidades. Rio de Janeiro: Editora Wak, 2019.

SOHLBERG, M.; MATEER, C. Effectiveness of an attention training program. Journal of Clinical and
Experimental Neuropsychology, 9, 117-130, 1987.

SOHLBERG, M.; MATEER, C. Introduction to cognitive rehabilitation: theory and practice. Nova York:
Guillford Press, 1989.

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Para compreender mais sobre os pensamentos, assista ao vídeo do YouTube De onde vêm os
pensamentos? Como funciona o cérebro humano?, com o médico e neurocirurgião Júlio Pereira. No vídeo,
você perceberá que o cérebro é responsável por executar todas as ações de nosso corpo, inclusive os
pensamentos.

Pesquise e leia o artigo Relação entre emoções, formação de memórias e aprendizagem: uma revisão
sistemática, de Paulo Marcelo Pedroso Pereira, Carla Marina Costa Paxiúba e Celso Pantoja Lima. Nele,
você pode verificar a relação entre emoção, formação de memórias e aprendizagem.
:

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