Você está na página 1de 20

Neuropsicologia

Avaliação Neuropsicológica do Idoso

Responsável pelo Conteúdo:


Prof.ª Dr.ª Camila Campanhã

Revisão Técnica:
Prof.ª M.ª Cássia Souza

Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Avaliação Neuropsicológica do Idoso

• Avaliação Neuropsicológica do Idoso;


• Neuropsicologia do Envelhecimento;
• As Principais Demandas na Avaliação Neuropsicológica do Idoso;
• Limitações do Exame Neuropsicológico no Idoso.


OBJETIVOS

DE APRENDIZADO
• Entender a diferença entre o envelhecimento normal e o patológico, as principais demências
e quadros clínicos neurológicos no idoso;
• Entender a importância do trabalho em equipe multidisciplinar no diagnóstico diferencial
(das alterações da idade e das patológicas, dentre os diferentes tipos de demência), cuida-
dos importantes na avaliação neuropsicológica do idoso, a importância do papel da família
não somente no diagnóstico diferencial, mas na compreensão dos comportamentos e cui-
dados com o paciente, como o neuropsicólogo orienta os familiares e a equipe de saúde
sobre o quadro do paciente.
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Idoso

Introdução
Com o avanço da medicina, a população mundial está vivendo por mais tempo aumento
o envelhecimento populacional. Com isso, quadros clínicos típicos dessa idade tornaram um
novo desafio para que as pessoas possam envelhecer de forma saudável. De acordo com
Bottiono et al. (2008 apud MOARES; BICALHO; SANTOS, 2018), as síndromes demen-
ciais e os transtornos depressivos são um dos grandes desafios para a ciência, uma vez que
tais condições comprometem de forma significativa a independência e autonomia dos idosos.

A avaliação neuropsicológica do idoso deve levar em consideração diversos fatores, uma


vez que levar em consideração apenas a idade pode levar a erros grandes. Morillo, Brucki
e Nitrini (2018) apontam, por exemplo, a diferença entre as gerações. Fazer generalizações
pode levar ao erro devido às diferenças ambientes entre as gerações que influenciam diver-
sos aspectos, por isso comparar diferentes gerações pode levar a erros de interpretação.

De acordo com Moraes, Bicalho e Santos (2018), a avaliação neuropsicológica na


geriatria é indiada para diversas situações:
• Diagnóstico diferencial entre Envelhecimento Cognitivo Normal (ECN)
e Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) e entre CCL e demência,
especialmente nas formas iniciais;
• Diagnóstico diferencial entre psicopatologias, como transtorno de-
pressivo maior e transtornos psicóticos e as síndromes demenciais,
especialmente na Doença de Alzheimer (DA) associada a sintomas
psicológicos e comportamentais da demência. Nesses casos, o exame
neuropsicológico pode contribuir de forma significativa para uma abor-
dagem terapêutica adequada;
• Diagnóstico diferencial entre as diversas etiologias de demência,
como DA, demência vascular. Logo, contribui para definir a aborda-
gem terapêutica;
• Diagnóstico das variantes atípicas da DA, que apresentam diagnós-
tico diferencial com outras causas de demência e representam um
desafio diagnóstico;
• Monitoramento de pacientes portadores de CCL para avaliação de pos-
sível conversão para demência;
• Acompanhamento de pacientes com depressão geriátrica acompanha-
da por declínio cognitivo, contribuindo na avalição da resposta tera-
pêutica e no monitoramento de pacientes sob risco para evolução para
demência, especialmente DA;
• Avaliação da resposta terapêutica da demência;
• Acompanhamento de pacientes com declínio cognitivo pós-trauma, uso
de determinados medicamentos ou em situações clínicas específicas em
que esse acompanhamento é importante para a avaliação da reversi-
bilidade do quadro. (MORAES; BICALHO; SANTOS, 2018, p. 266)

A seguir, serão apresentados aspectos do envelhecimento normal e patológico, bem


como os principais quadros clínicos e o papel importante da neuropsicologia no diag-
nóstico diferencial.

8
Neuropsicologia do Envelhecimento
Ao longo de todo do desenvolvimento humano, o cérebro vai passando por mudan-
ças. No idoso não é diferente, também ocorrem mudanças. O grande desafio na atuali-
dade diante ao aumento da expectativa de vida é diferenciar quando essas mudanças são
naturais, partem do processo de envelhecimento e quando não são. Segundo Morillo,
Brucki e Nitrini (2018), o cérebro do idoso tem o seu volume reduzido, mudanças na par-
te vascular, na estrutura das células e moleculares e nas funções dos neurotransmissores.
Devido ao processo de envelhecimento ser heterogêneo, por englobar muitas variáveis
além do fator idade, as diferenças entre gerações devido a diferentes fatores ambientais
que influenciam vários aspectos, desempenho e características estruturais apresentam
grandes variações (MORILLO; BRUCKI; NITRINI, 2018).
Existem alterações cognitivas que fazem parte do envelhecimento cognitivo normal
(ECN). No ECN, é esperado modificações contínuas e graduais nas funções cogniti-
vas e são esperado para a idade (MORAES; BICALHO; SANTOS, 2018; MORILLO;
BRUCKI; NITRINI, 2018). Dentre os fatores que levam à heterogeneidade entre os ido-
sos, está a escolaridade, que está relacionada à reserva cognitiva, reduzindo o declínio
cognitivo e atrofia cerebral, bem como a incidência a demências. Além disso, o processo
de envelhecimento também está relacionado à redução na velocidade de processamento
da informação, o que leva a comprometimento da memória de trabalho, evocação, flu-
ência verbal, atenção, funções executivas reduzidas, levando a dificuldades nas relações
interpessoais e alterações comportamentais (MORILLO; BRUCKI; NITRINI, 2018).
Importante salientar que estudos têm apontando integridade da memória semântica e
procedural no envelhecimento normal (FLICKER; FERRIS; REISBERG, 1993; BLOTA;
DOLAN; DUCHEK, 2000 apud MORILLO; BRUCKI; NITRINI, 2018).
Interessante apontar também que, apesar das mudanças negativas, também exis-
tem mudanças positivas com o avanço da idade. Segundo o Committee on the Public
Health Dimensions of Cognitive Aging & Board on Health Sciences Policy (2015 apud
MORILLO; BRUCKI; NITRINI, 2018), os idosos apresentam redução nos níveis de pre-
ocupação, raiva e estresse, bem como aumento da felicidade ao longo da vida.
Fatores genéticos também são importantes a serem considerados nas diferenças in-
dividuais no processo do envelhecimento. Mattson (2006 apud MORILLO; BRUCKI;
NITRINI, 2018) aponta que a transcrição genética induzida pelo estresse bem como o
decréscimo em genes envolvidos na plasticidade neuronal parecem estar associados ao
processo de envelhecimento.
Com relação a alterações estruturais, o córtex pré-frontal, seguido do striatum, é a área
mais afetada no processo de envelhecimento com atrofia significativa, além do hipocampo
(PETERS, 2002; ANDERTON, 2002 apud MORILLO; BRUCKI; NITRINI, 2018).
Estudos também têm reportado alterações em neurotransmissores relacionados ao en-
velhecimento normal como na acetilcolina, dopamina, serotonina e norepinefrina. Tais
alterações podem explicar quadros clínicos como a depressão em idosos (MORILLO;
BRUCKI; NITRINI, 2018).
Já é conhecido que a capacidade de neuroplasticidade vai mudando ao longo da vida.
A capacidade de neuroplasticidade está reduzida no processo de envelhecimento tanto

9
9
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Idoso

em resposta às experiências quanto em relação ao que ocorre em resposta a desgaste e


agressões (MORILLO; BRUCKI; NITRINI, 2018).

Por que o nosso corpo envelhece? Assista a este TED TALK e saiba mais sobre este processo
normal do envelhecimento humano. Disponível em: https://bit.ly/392wGEl

As Principais Demandas na Avaliação


Neuropsicológica do Idoso
Além de quedas e acidentes, o principal motivo que leva idosos para avaliação neu-
ropsicológica é o declínio cognitivo patológico, quando as dificuldades do idoso come-
çam a comprometer a independência e atividades de vida diária. Muitas vezes, encami-
nhados por médicos geriatras, neurologistas, entre outros profissionais da saúde.
A seguir, serão abordados os principais quadros clínicos relacionados ao declínio
cognitivo patológico como Declínio Cognitivo Leve, a Doença de Alzheimer e a Demên-
cia Frontotemporal.

Avaliação Neuropsicológica do
Comprometimento Cognitivo Leve (CCL)
O Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) é um quadro clínico intermediário em que
ainda não há um prejuízo significativo nas atividades de vida diária (AVD), podendo evo-
luir para um quadro demencial (SMID, 2018). Segundo Petersen, Smith e Waring (1999;
WINBLOD, 2004 apud SMID, 2018), estabelece como critérios diagnósticos do CCL:
• Anormal, não demente (não preenche critérios – DSM-4, CID-IO –
para demência);
• Declínio cognitivo;
• Relato próprio elou de informante e comprometimento objetivo em ta-
refas cognitivas; e/ou
• Evidência de declínio ao longo do tempo em tarefas cognitivas objetivas;
• Atividades básicas da vida diária preservadas ou mínimo comprometimen-
to das atividades de vida diária instrumentais complexas. (PETERSEN;
SMITH; WARING, 1999; WINBLAD et al., 2004 apud SMID, 2018)

Com relação à etiologia do CCL, dados da anamnese e de exames clínicos são


importantes para serem identificados. Segundo Petersen, Negash, (2008 apud SMID,
2018), dentre as diferentes etiologias, estão:
• Degenerativa: início insidioso, progressão lenta;
• Vascular: início abrupto caracteristicamente (podendo ser insidioso),
presença de fatores de risco vasculares, presença de acidente vascular
cerebral ou acidente isquêmico transitório prévios;

10
• Psiquiátrica: antecedente pessoal de depressão, presença de sintomas
depressivos e ansiosos concomitantes;
• Secundário a doenças clínicas associadas a deficit cognitivo: dia-
betes mellitus, insuficiência cardíaca congestiva, neoplasias;
• Secundário a trauma crânio encefálico. (PETERSEN; NEGASH, 2008
apud SMID, 2018)

No CCL, as funções cognitivas mais relevantes que devem ser observadas são: fun-
ções executivas, memória episódica, habilidades visuoespaciais e a linguagem. Além disso,
comportamento, temperamento e personalidade também devem ser investigados no CCL
(de PAULA; DINIZ; MALLOY-DINIZ, 2014).

Saiba mais sobre os perfis neuropsicológicos do Comprometimento Cognitivo Leve no enve-


lhecimento (CCL), disponível em: https://bit.ly/2UOxpkf

Como pode ser visto na figura a baixo, a avaliação neuropsicológica na diferenciação


do CCL e das demências, de acordo com de Paula, Diniz e Malloy-Diniz (2014), tem um
papel importante e deve abarcar aspectos restrospectivos (com foco no diagnóstico) e
prospectivos (com foco no prognóstico).

Antes Exame neuropsicológico Depois

Retrospectivo Prospectivo

Diagnóstico Prognóstico

Figura 1
Fonte: Adaptado de DE PAULA; DINIZ; MALLOY-DINIZ, 2014

Para auxiliar no diagnóstico, uma anamnese detalhada é fundamental. Estabelecer


uma linha do tempo com os dados apresentados pelo paciente e familiares também au-
xilia no diagnóstico. Com relação à testagem, é importante considerar, além da hipótese
diagnóstica e a relação desta com as funções cognitivas a serem investigadas, as carac-
terísticas e capacidades/limitações do paciente e o tempo disponível para a realização
da avaliação (DE PAULA; DINIZ; MALLOY-DINIZ, 2014).

Devido ao diagnóstico do CCL ser essencialmente clínico e ter diversas etiologias, a


avaliação neuropsicológica é uma parte importante para o diagnóstico diferencial, mas
devem ser considerados outros dados, como exames físicos e neurológicos e a avalia-
ção funcional, além da cognitiva (PETERSEN, 2000 apud SMID, 2018). Médicos podem
utilizar o Monteral Cognitive Assessmet (MoCA) quando suspeita de CCL. O MoCA é
um teste de rastreio cognitivo de rápida e fácil aplicação com sensibilidade de 90% para
CCL (NASREDDIINE et al., 2005 apud SMID, 2018). O fluxograma abaixo, adaptado de
Winblad et al. (2004 apud SMID, 2018) ilustra as variáveis importantes para os possíveis
diagnósticos de CCL com seus diferentes subtipos: CCL amnésico, CCL amnésico com

11
11
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Idoso

múltiplos domínios, CCL não amnésico com múltiplos domínios e CCL não amnésico
com domínio único.

Queixa cognitiva

Anormal para idade


Ausência de demência
Declínio cognitivo
Atividades funcionais normais

CCL

Declínio de memória?

Sim Não

Apenas declínio de memória? Declínio em mais de um domínio?

Sim Não Sim Não

CCL CCL amnéstico CCL não amnéstico CCL não amnéstico


amnéstico múltiplos domínios múltiplos domínios domínio único

Figura 2
Fonte: WINBLAD et al., 2004 apud SMID, 2018

Com relação ao prognóstico, não é igual para todo mundo. Ou seja, nem todos os
pacientes com CCL irão evoluir para uma demência, alguns irão melhorar, outros irão
se manter estáveis por anos e outros irão progredir em piora no declínio cognitivo e fun-
cional (SMID, 2018). Pacientes com CCL do tipo amnésico têm 10 a 15% de chances de
evoluir para Doença de Alzheimer (FISCHER et al., 2007 apud SMID, 2018).

Avaliação Neuropsicológica das Demências


Segundo Prado, Teixeira e Souza (2018), avaliação neuropsicológica tem um papel
importante na contribuição ao diagnóstico auxiliando na identificação de uma demência,
auxiliar na relação da identificação de alterações cognitivas e funcionais e lesão em áreas
específicas neuroanatômicas, no levantamento da hipótese da etiologia, bem como no
acompanhamento dos pacientes na evolução do quadro clínico.

As demências são síndromes comuns no idoso. A demência é definida por Nitrini


(2018) como:

Uma síndrome caracterizada pelo declínio da capacidade intelectual, su-


ficientemente grave para interferir nas atividades sociais ou profissionais,
que independe de distúrbio do estado de consciência (ou da vigília) e é
causada por comprometimento do sistema nervoso central. (NITRINI,
2018, p. 232)

12
Segundo Guariglia, Anghinahe Nitrini (2018), as demências podem ser classificadas
por: reversibilidade (potencialmente reversível ou progressiva); por topografia lesiona
(como a demência frontotemporais); pelas doenças que causam demências (classificação
nosológica); doenças degenerativas que podem apresentar demência (como a Doença de
Parkinson); doenças degenerativas com a demência com manifestação principal (como
a Doença de Alzheimer); demência com predomínio de alterações do comportamento
(como a degeneração lobar frontotemporal); demência com predomínio de distúrbio de
linguagem (como afasia progressiva não fluente/agramática), para citar as principais.

A seguir, a lista elaborada por Nitrine (2018) apresenta os critérios diagnósticos de


transtorno neurocognitivo, classificação dada pelo DSM-5 para as demências, que são:

Evidências de declínio cognitivo importante a partir de nível anterior de


desempenho em um ou mais dos domínios cognitivos abaixo:
• Atenção complexa;
• Função executiva;
• Aprendizagem e memória;
• Linguagem;
• Perceptomotor;
• Cognição social.

Essas evidências baseiam-se em:

• Preocupação do indivíduo, de um informante com conhecimento ou do


clínico de que há declínio significativo da função cognitiva e prejuízo
substancial no desempenho cognitivo, de preferência documentado por
teste neuropsicológico padronizado ou, em sua falta, por outra investi-
gação clínica quantificada;
• Os déficits [sic] cognitivos interferem na independência em atividades
da vida diária (i. e., no mínimo, necessita de assistência em atividades
instrumentais complexas da vida diária, como pagamento de contas ou
controle medicamentoso);
• Os déficits [sic] cognitivos não ocorrem exclusivamente no contexto
de Delirium;
• Os déficits [sic] cognitivos não são mais bem explicados por outro
transtorno mental (p. ex., transtorno depressivo maior, esquizofrenia).
(NITRINI, 2018, p. 234)

Um dos critérios diagnósticos para demência é o prejuízo nas atividades de vida diária
(AVDs) e nas atividades de vida diária instrumentais (AIVDs). Segundo Loewenstein e
Azevedo (2010 apud MATTOS; COUTINHO, 2018), três elementos fundamentais para
a avaliação de AIVDs precisam ser considerados:

1. O elemento de causa: a perda da capacidade de desempenhar AIVDs


deve ser cognitiva e não secundária a limitações físicas;
2. O elemento de mudança: é necessário comparar a capacidade atual
de desempenhar AIVDs com a capacidade anterior, certificando-se
de que houve declínio;

13
13
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Idoso

3. O elemento da especificidade: algumas AIVDs podem ter deman-


das cognitivas diferentes umas das outras, e o paciente pode apre-
sentar mais dificuldades especificas em parte das AIVDs (p. ex.,
incapacidade de tomar medicações de forma independente, sem
perda de independência em outras atividades), mas não em todas.
Indivíduos com comprometimento da memória podem apresentar
dificuldades significativas em AIVDs dependentes de memória, mas
não em outras. (LOEWENSTEIN; AZEVEDO, 2010 apud MATTOS;
COUTINHO­, 2018, p. 239)

Saiba mais sobre os desafios da Avaliação neuropsicológica e o diagnóstico de demência,


comprometimento cognitivo leve e queixa de memória relacionada à idade.
Disponível em: https://bit.ly/3nNfvLa

A seguir, serão apresentados os principais aspectos cognitivos e funcionais da Doen-


ça de Alzheimer e a Demência Frontotemporal, as principais demências encontradas na
clínica em idosos.

Doença de Alzheimer
É das demências mais comuns e a mais conhecida, com aumento elevado com a
idade, sendo uma das principais doenças neurodegenerativas, além de causa de demên-
cia. Com relação aos critérios diagnósticos para a Doença de Alzheimer (DA), além de
apresentar comprometimento cognitivo ou comportamental, como a memória, com-
prometimento das AVDs (DRAG; BIELIAUSKAS, 2009 apud MORAES; BICALHO;
SANTOS, 2018), as seguintes características devem estar presentes:
• Início insidioso (meses ou anos);
• História clara ou observação de piora cognitiva;
• Piora progressiva da cognição;
• Déficits [sic] cognitivos iniciais e mais proeminentes em uma das cate-
gorias a seguir, associados a declínio em outro domínio da cognição:
• Apresentação amnésica (deve haver outro domínio afetado);
• Apresentações não amnésicas (deve haver outro domínio afetado);
• Apresentação de linguagem (lembrança de palavras);
• Apresentação visioconstrutiva (cognição espacial, agnosia para obje-
tos ou faces, simultanagnosia e alexia);
• Disfunção executiva (alterações do raciocínio, julgamento e solução
de problemas);
• Tomografia ou, preferencialmente, ressonância magnética do crâ-
nio deve ser realizada para excluir outras possibilidades diagnósticas
ou comorbidades, sobretudo doença vascular cerebral. (McKHANN
et al., 2011 apud MORAES; BICALHO; SANTOS, 2018, p. 264;
FROTA et al., 2011 apud BRUCKI; PORTO, 2018, p. 254)

14
AD inicia muito antes de os sintomas agravarem, muitas vezes, o paciente tem diagnós-
tico de CCL. O comprometimento da memória recente (memória episódica) é o que mais
se destaca no quadro inicial da DA. Tarefas de memória episódica de evocação tardia verbal
são importantes para diferenciar DA leve e do envelhecimento saudável (WEINTRAUB,
2000; LEZAK, HOWIESON; LORING, 2004 apud BRUCKI; PORTO, 2018). O teste
RAVLT (Teste de Aprendizagem Verbal Auditiva de Rey) é um ótimo teste para verificar
prejuízo na capacidade de aquisição e retenção, bem como a ausência de benefício com
a repetição, que são deficiências observadas logo no início da DA (LEZAK, HOWIESON;
LORING, 2004; DINIZ et al., 2000 apud BRUCKI; PORTO, 2018).

Existem instrumentos para quantificar o estado cognitivo global da gravidade da DA.


Entre eles, os mais utilizados, estão o Miniexame do Estado Mental (MEEM), a Bateria
de Avaliação Neuropsicológica Breve (NEUROPSI) e a Escala de Avaliação de Demên-
cias (DRS) (BRUCKI et al., 2003; ABRISQUETA-GOMEZ, 1999; MATTIS, 1988 apud
BRUCKI; PORTO, 2018).

Você Sabia?
Existe um tipo de doença de Alzheimer precoce, que inicia antes dos 60 anos. No filme,
Para Sempre Alice, retrata uma professora e pesquisadora renomada com esse tipo de
demência e sua luta para tentar ter independência e lidar com a DA que avança muito
rápido. O filme também discute aspectos genéticos e a decisão em se fazer ou não acon-
selhamento genético quando se tem caso na família. Vale a pena assistir!

Outro deficit importante observado em pacientes com DA é de linguagem. Testes de


Fluência Verbal e categoria e testes de nomeação são sensíveis aos deficits de linguagem
nestes pacientes. Importante ressaltar que pacientes mais velhos apresentam alterações
neuropsicológicas mais gerais das habilidades ao passo que pacientes mais jovens, com
menos de 80 anos, apresentam deficits mais importantes nas funções executivas e na
memória (de PAULA; DINIZ; MALLOY-DINIZ, 2014).

O tratamento da DA é baseada nos sintomas, sendo a principal forma de tratamento


medicações anticolinesterásicas que proporcionam aumento de acetilcolina, neurotrans-
missor em deficit na DA. Para casos moderados a grave, é associado o uso de memantina.
É comum quadro de depressão na DA. Nesses casos, são associados os inibidores seletivos
de receptação de serotonina (BRUCKI; PORTO, 2018).

Demência Frontotemporal
Considerada a segunda causa de demência degenerativa mais frequente (HOHNSON
et al., 2005 apud BAHIA, 2018). É estimado uma prevalência de 1,5 a 2,8% na popu-
lação da América Latina de demência frontotemporal (DFT) em pessoas acima de 55 a
60 anos de idade (CUSTÓDIO et al. 2013, apud BAHIA, 2018).

A DFT é considerada um conjunto de doenças neurodegenerativas, de acordo com


Prado, Teixeira e Souza (2018), que apresentam acometimento dos lobos frontais e tem-
porais sendo que pode apresentar com variante comportamental, que acomete pacien-
tes entre 50 e 65 anos, a demência semântica, ou afasia progressiva primária variante

15
15
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Idoso

semântica, e a afasia progressiva não fluente ou afasia progressiva primária variante


agramática (PRADO; TEIXEIRA; SOUZA, 2018; BAHIA, 2018).

Bahia (2018) aponta que a variante DFT comportamental apresenta alterações de


personalidade, disfunção executiva e comportamento. Na DFT afasia progressiva primá-
ria variante semântica, o paciente apresenta deficit na capacidade de reconhecer faces
e objetos. Na DFT afasia progressiva primária variante agramática, também podem
aparecer sintomas comportamentais, além do deficit de linguagem.

Os sintomas mais frequentes na DFT variante comportamental é comum apatia, desini-


bição, impulsividade, hiperoralidade, anosognosia, comportamentos compulsivos e indife-
rença afetiva (PRADO; TEIXEIRA; SOUZA, 2018). Perda de empatia ou compaixão, alte-
rações alimentares, além dos prejuízos de funções executivas com memória e habilidades
visuoespaciais relativamente preservadas também são características da DFT variante com-
portamental. É necessário que ao menos três dos sintomas anteriores descritos anteriormen-
te, além do declínio funcional significativo e dados de neuroimagem sejam compatíveis com
DFT para que o diagnóstico seja fechado (RASCOVSKY et al., 2011 apud BAHIA, 2018).

Com relação aos fatores genéticos para a DFT, entre 30% a 50% dos pacientes apre-
sentam histórico familiar, contudo, apenas 10% são detectados como padrão de herança
genética autossômica dominante (RABINOVICI; MILLER, 2010 apud BAHIA, 2018).
Atrofias em regiões frontais (mediais, dorsolaterais e orbitais) e dos lobos temporais (áre-
as anteriores) são critérios para o diagnóstico das DFT (BAHIA, 2018).

De acordo com Bahia (2018), para o diagnóstico de DFT de afasia progressiva pri-
mária variante semântica, é necessário que o paciente apresente, além de piora da no-
meação por confrontação e da compreensão de uma única palavra, ao menos três dos
seguintes critérios:
• Déficit [sic] do reconhecimento de objetos;
• Dislexia ou disgrafia de superfície;
• Preservação da repetição e/ou produção da fala;
• Exames de neuroimagem mostram o acometimento das regiões tempo-
rais anteriores. (BAHIA, 2018, p. 259)

Já para o para o diagnóstico de DFT de afasia progressiva primária variante agramá-


tica, além de o paciente apresentar necessariamente linguagem com agramatismo e/ou
apraxia da fala, deve apresentar, pelo menos, dois sintomas:
• Déficit [sic] de compreensão de sentenças sintaticamente complexas;
• Preservação da compreensão de palavras únicas;
• Preservacão do conhecimento de objetos;
• A neuroimagem mostra envolvimento predominante da região frontoin-
sular posterior à esquerda. (GORNO-TEMPINI et al., 2011 apud BAHIA,
2018, p. 259)

Com relação à avaliação neuropsicológica das DFT, existem características específicas


que podem ser observadas durante a avaliação. Por exemplo, na DFT variante comporta-
mental, o paciente apresenta prejuízo na geração e sequenciamento de informação, deficit

16
em aderir às regras das tarefas solicitadas, impulsividade, desatenção, perseveração, pen-
samento concreto e piora da estratégia de resolução de problemas (BAHIA, 2018).
Com relação aos instrumentos mais utilizados na avaliação neuropsicológica da DFT,
os principais estão o Teste de Stroop, que avalia atenção e impulsividade, Fluência
Verbal fonêmica e semântica, o Teste de Cartas de Wisconsin, que avalia funções execu-
tivas, assim como Torre de Hanoi, para citar os principais (BAHIA, 2018).
O tratamento, assim como na DA, também é sintomático. Os principais fármacos
utilizados são os inibidores de receptação de serotonina e/ou noriepinefrina, visando
minimizar tanto os sintomas depressivos quando os sintomas impulsivos e comporta-
mentos compulsivos. Para controle de comportamentos mais intensos, os benzodiazepí-
nicos também são utilizados (BAHIA, 2018).

Saiba mais sobre essa demência tão complexa neste artigo – Demência Frontotemporal.
Disponível em: https://bit.ly/36VQ57f

Limitações do Exame
Neuropsicológico no Idoso
A avaliação neuropsicológica em idosos não é uma tarefa fácil. Alguns desafios como
prejuízos auditivos ou visuais (MORAES; BIACLHO; SANTOS, 2018), baixa escolari-
dade (de PAULA; DINIZ; SOLLUM; MALLOY-DINIZ, 2016) são algumas das variáveis
que dificultam o processo de avaliação neuropsicológica. Pacientes com quadro de de-
pressão grave, apatia podem ser pouco motivados e colaborativos, tornando os dados
obtidos na avaliação pouco confiáveis. A demência muito avançada também impede a
realização de alguns testes (MORAES; BIACLHO; SANTOS, 2018). A baixa escolari-
dade pode levar a efeito-chão, ao passo que a alta escolaridade pode levar ao efeito-teto
(BISHOP et al., 2010 apud MORAES; BIACLHO; SANTOS, 2018).
A escolaridade é uma variável importante na avaliação neuropsicológica interferindo
diretamente na reserva cognitiva do idoso. Desempenho de idosos com baixa escola-
ridade são inferiores àqueles com escolarização formal. Além disso, idosos com baixa
escolaridade demonstram reações emocionais mais negativas durante o processo de
avaliação neuropsicológica (DE PAULA; DINIZ; SALLUM; MALLOY-DINIZ, 2016).
A falta de informantes disponíveis com capacidade para relatar dados importantes
da vida do paciente e da sua condição clínica também é um fator que limita os resulta-
dos da avaliação e a compreensão dos dados (ALBERT et al., 2011 apud MORAES;
BIACLHO; SANTOS, 2018).
A carência de instrumentos para avaliação neuropsicológica de idosos com baixa
escolaridade torna a avaliação um grande desafio para o neuropsicólogo. Outro ponto
importante é a falta de normatização dos testes estratificados não somente pela idade,
mas também pelo nível de escolaridade (DE PAULA; DINIZ; SALLUM; MALLOY-
-DINIZ, 2016).

17
17
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Idoso

Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:

 Livros
Musicofilia
SACKS, O. Musicofilia. Adelphi Edizioni spa, 2014.

 Vídeos
Podemos prevenir a Doença de Alzheimer?
https://bit.ly/3nNDBVX
Alzheimer não é o envelhecimento normal – pode ser curado
https://bit.ly/2UPoezR

 Filmes
Alive Inside – A Música Vivifica a Memória
https://youtu.be/IaB5Egej0TQ

18
Referências
BAHIA, V. S. Demência Frontotemporal. In: MIOTTO, E. C.; LUCIA, M. C. S.; SCAFF,
M. Neuropsicologia Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2018.

BRUCKI, S. M. D.; PORTO, C. S. Doença de Alzheimer. In: MIOTTO, E. C.; LUCIA,


M. C. S.; SCAFF, M. Neuropsicologia Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2018.

DE PAULA, J. J.; DINIZ, B. S.; MALLOY-DINIZ, L. F. Exame neuropsicológico de pa-


cientes com comprometimento cognitivo leve e demência. In: FUENTES, D.; MALOY-
-DINIZ, L. F.; CAMARGO, C. H. P.; CONSENZA, R. Neuropsicologia. Teoria e Práti-
ca. 2. ed. Porto Alegre: Artemed, 2014.

_______; _______; _______. Como avaliar o idoso de baixa escolaridade? In: MALLOY-
-DINIZ, L. F.; MATTOS, P.; ABREU, N.; FUENTES, D. Neuropsicologia: aplicações
Clínicas. Porto Alegre: Artmed, 2016.

GUARIGLIA, C. C.; ANGHINAH, R.; NITRINI, R. Classificação das Demências. In:


MIOTTO, E. C.; LUCIA, M. C. S.; SCAFF, M. Neuropsicologia Clínica. 2. ed. Rio de
Janeiro: Roca, 2018.

MATTOS, P.; COUTINHO, G. Avaliação neuropsicológica do envelhecimento. In:


MALLOY-DINIZ; FUENTES, D.; MATTOS, P.; ABREU, N. Avaliação Neuropsicoló-
gica. Porto Alegre: Artmed, 2018.

MORAES, E. N.; BICALHO, M. A. C.; SANTOS, R. R. Geriatria. In: MALLOY-DINIZ;


FUENTES, D.; MATTOS, P.; ABREU, N. Avaliação Neuropsicológica. Porto Alegre:
Artmed, 2018.

MORILLO, L. S.; BRUCKI, S. M. D.; NITRINI, R. Modificações Neurobiológicas e Cog-


nição no Envelhecimento. In: MIOTTO, E. C.; LUCIA, M. C. S.; SCAFF, M. Neuropsi-
cologia Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2018.

NITRINI, R. Conceito de Demência. In: MIOTTO, E. C.; LUCIA, M. C. S.; SCAFF, M.


Neuropsicologia Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2018.

PRADO, L. G. R.; TEIXEIRA, A. L.; SOUZA, L. C. Neurologia de adultos e idosos. In:


MALLOY-DINIZ; FUENTES, D.; MATTOS, P.; ABREU, N. Avaliação Neuropsicoló-
gica. Porto Alegre: Artmed, 2018.

SMID, J. Comprometimento Cognitivo Leve. In: MIOTTO, E.C.; LUCIA, M. C. S.;


SCAFF, M. Neuropsicologia Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2018.

19
19

Você também pode gostar