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Revisão Técnica:
Prof.ª M.ª Cássia Souza
Revisão Textual:
Prof.ª Dr.ª Luciene Oliveira da Costa Granadeiro
Avaliação Neuropsicológica do Idoso
OBJETIVOS
DE APRENDIZADO
• Entender a diferença entre o envelhecimento normal e o patológico, as principais demências
e quadros clínicos neurológicos no idoso;
• Entender a importância do trabalho em equipe multidisciplinar no diagnóstico diferencial
(das alterações da idade e das patológicas, dentre os diferentes tipos de demência), cuida-
dos importantes na avaliação neuropsicológica do idoso, a importância do papel da família
não somente no diagnóstico diferencial, mas na compreensão dos comportamentos e cui-
dados com o paciente, como o neuropsicólogo orienta os familiares e a equipe de saúde
sobre o quadro do paciente.
UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Idoso
Introdução
Com o avanço da medicina, a população mundial está vivendo por mais tempo aumento
o envelhecimento populacional. Com isso, quadros clínicos típicos dessa idade tornaram um
novo desafio para que as pessoas possam envelhecer de forma saudável. De acordo com
Bottiono et al. (2008 apud MOARES; BICALHO; SANTOS, 2018), as síndromes demen-
ciais e os transtornos depressivos são um dos grandes desafios para a ciência, uma vez que
tais condições comprometem de forma significativa a independência e autonomia dos idosos.
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Neuropsicologia do Envelhecimento
Ao longo de todo do desenvolvimento humano, o cérebro vai passando por mudan-
ças. No idoso não é diferente, também ocorrem mudanças. O grande desafio na atuali-
dade diante ao aumento da expectativa de vida é diferenciar quando essas mudanças são
naturais, partem do processo de envelhecimento e quando não são. Segundo Morillo,
Brucki e Nitrini (2018), o cérebro do idoso tem o seu volume reduzido, mudanças na par-
te vascular, na estrutura das células e moleculares e nas funções dos neurotransmissores.
Devido ao processo de envelhecimento ser heterogêneo, por englobar muitas variáveis
além do fator idade, as diferenças entre gerações devido a diferentes fatores ambientais
que influenciam vários aspectos, desempenho e características estruturais apresentam
grandes variações (MORILLO; BRUCKI; NITRINI, 2018).
Existem alterações cognitivas que fazem parte do envelhecimento cognitivo normal
(ECN). No ECN, é esperado modificações contínuas e graduais nas funções cogniti-
vas e são esperado para a idade (MORAES; BICALHO; SANTOS, 2018; MORILLO;
BRUCKI; NITRINI, 2018). Dentre os fatores que levam à heterogeneidade entre os ido-
sos, está a escolaridade, que está relacionada à reserva cognitiva, reduzindo o declínio
cognitivo e atrofia cerebral, bem como a incidência a demências. Além disso, o processo
de envelhecimento também está relacionado à redução na velocidade de processamento
da informação, o que leva a comprometimento da memória de trabalho, evocação, flu-
ência verbal, atenção, funções executivas reduzidas, levando a dificuldades nas relações
interpessoais e alterações comportamentais (MORILLO; BRUCKI; NITRINI, 2018).
Importante salientar que estudos têm apontando integridade da memória semântica e
procedural no envelhecimento normal (FLICKER; FERRIS; REISBERG, 1993; BLOTA;
DOLAN; DUCHEK, 2000 apud MORILLO; BRUCKI; NITRINI, 2018).
Interessante apontar também que, apesar das mudanças negativas, também exis-
tem mudanças positivas com o avanço da idade. Segundo o Committee on the Public
Health Dimensions of Cognitive Aging & Board on Health Sciences Policy (2015 apud
MORILLO; BRUCKI; NITRINI, 2018), os idosos apresentam redução nos níveis de pre-
ocupação, raiva e estresse, bem como aumento da felicidade ao longo da vida.
Fatores genéticos também são importantes a serem considerados nas diferenças in-
dividuais no processo do envelhecimento. Mattson (2006 apud MORILLO; BRUCKI;
NITRINI, 2018) aponta que a transcrição genética induzida pelo estresse bem como o
decréscimo em genes envolvidos na plasticidade neuronal parecem estar associados ao
processo de envelhecimento.
Com relação a alterações estruturais, o córtex pré-frontal, seguido do striatum, é a área
mais afetada no processo de envelhecimento com atrofia significativa, além do hipocampo
(PETERS, 2002; ANDERTON, 2002 apud MORILLO; BRUCKI; NITRINI, 2018).
Estudos também têm reportado alterações em neurotransmissores relacionados ao en-
velhecimento normal como na acetilcolina, dopamina, serotonina e norepinefrina. Tais
alterações podem explicar quadros clínicos como a depressão em idosos (MORILLO;
BRUCKI; NITRINI, 2018).
Já é conhecido que a capacidade de neuroplasticidade vai mudando ao longo da vida.
A capacidade de neuroplasticidade está reduzida no processo de envelhecimento tanto
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UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Idoso
Por que o nosso corpo envelhece? Assista a este TED TALK e saiba mais sobre este processo
normal do envelhecimento humano. Disponível em: https://bit.ly/392wGEl
Avaliação Neuropsicológica do
Comprometimento Cognitivo Leve (CCL)
O Comprometimento Cognitivo Leve (CCL) é um quadro clínico intermediário em que
ainda não há um prejuízo significativo nas atividades de vida diária (AVD), podendo evo-
luir para um quadro demencial (SMID, 2018). Segundo Petersen, Smith e Waring (1999;
WINBLOD, 2004 apud SMID, 2018), estabelece como critérios diagnósticos do CCL:
• Anormal, não demente (não preenche critérios – DSM-4, CID-IO –
para demência);
• Declínio cognitivo;
• Relato próprio elou de informante e comprometimento objetivo em ta-
refas cognitivas; e/ou
• Evidência de declínio ao longo do tempo em tarefas cognitivas objetivas;
• Atividades básicas da vida diária preservadas ou mínimo comprometimen-
to das atividades de vida diária instrumentais complexas. (PETERSEN;
SMITH; WARING, 1999; WINBLAD et al., 2004 apud SMID, 2018)
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• Psiquiátrica: antecedente pessoal de depressão, presença de sintomas
depressivos e ansiosos concomitantes;
• Secundário a doenças clínicas associadas a deficit cognitivo: dia-
betes mellitus, insuficiência cardíaca congestiva, neoplasias;
• Secundário a trauma crânio encefálico. (PETERSEN; NEGASH, 2008
apud SMID, 2018)
No CCL, as funções cognitivas mais relevantes que devem ser observadas são: fun-
ções executivas, memória episódica, habilidades visuoespaciais e a linguagem. Além disso,
comportamento, temperamento e personalidade também devem ser investigados no CCL
(de PAULA; DINIZ; MALLOY-DINIZ, 2014).
Retrospectivo Prospectivo
Diagnóstico Prognóstico
Figura 1
Fonte: Adaptado de DE PAULA; DINIZ; MALLOY-DINIZ, 2014
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UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Idoso
múltiplos domínios, CCL não amnésico com múltiplos domínios e CCL não amnésico
com domínio único.
Queixa cognitiva
CCL
Declínio de memória?
Sim Não
Figura 2
Fonte: WINBLAD et al., 2004 apud SMID, 2018
Com relação ao prognóstico, não é igual para todo mundo. Ou seja, nem todos os
pacientes com CCL irão evoluir para uma demência, alguns irão melhorar, outros irão
se manter estáveis por anos e outros irão progredir em piora no declínio cognitivo e fun-
cional (SMID, 2018). Pacientes com CCL do tipo amnésico têm 10 a 15% de chances de
evoluir para Doença de Alzheimer (FISCHER et al., 2007 apud SMID, 2018).
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Segundo Guariglia, Anghinahe Nitrini (2018), as demências podem ser classificadas
por: reversibilidade (potencialmente reversível ou progressiva); por topografia lesiona
(como a demência frontotemporais); pelas doenças que causam demências (classificação
nosológica); doenças degenerativas que podem apresentar demência (como a Doença de
Parkinson); doenças degenerativas com a demência com manifestação principal (como
a Doença de Alzheimer); demência com predomínio de alterações do comportamento
(como a degeneração lobar frontotemporal); demência com predomínio de distúrbio de
linguagem (como afasia progressiva não fluente/agramática), para citar as principais.
Um dos critérios diagnósticos para demência é o prejuízo nas atividades de vida diária
(AVDs) e nas atividades de vida diária instrumentais (AIVDs). Segundo Loewenstein e
Azevedo (2010 apud MATTOS; COUTINHO, 2018), três elementos fundamentais para
a avaliação de AIVDs precisam ser considerados:
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UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Idoso
Doença de Alzheimer
É das demências mais comuns e a mais conhecida, com aumento elevado com a
idade, sendo uma das principais doenças neurodegenerativas, além de causa de demên-
cia. Com relação aos critérios diagnósticos para a Doença de Alzheimer (DA), além de
apresentar comprometimento cognitivo ou comportamental, como a memória, com-
prometimento das AVDs (DRAG; BIELIAUSKAS, 2009 apud MORAES; BICALHO;
SANTOS, 2018), as seguintes características devem estar presentes:
• Início insidioso (meses ou anos);
• História clara ou observação de piora cognitiva;
• Piora progressiva da cognição;
• Déficits [sic] cognitivos iniciais e mais proeminentes em uma das cate-
gorias a seguir, associados a declínio em outro domínio da cognição:
• Apresentação amnésica (deve haver outro domínio afetado);
• Apresentações não amnésicas (deve haver outro domínio afetado);
• Apresentação de linguagem (lembrança de palavras);
• Apresentação visioconstrutiva (cognição espacial, agnosia para obje-
tos ou faces, simultanagnosia e alexia);
• Disfunção executiva (alterações do raciocínio, julgamento e solução
de problemas);
• Tomografia ou, preferencialmente, ressonância magnética do crâ-
nio deve ser realizada para excluir outras possibilidades diagnósticas
ou comorbidades, sobretudo doença vascular cerebral. (McKHANN
et al., 2011 apud MORAES; BICALHO; SANTOS, 2018, p. 264;
FROTA et al., 2011 apud BRUCKI; PORTO, 2018, p. 254)
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AD inicia muito antes de os sintomas agravarem, muitas vezes, o paciente tem diagnós-
tico de CCL. O comprometimento da memória recente (memória episódica) é o que mais
se destaca no quadro inicial da DA. Tarefas de memória episódica de evocação tardia verbal
são importantes para diferenciar DA leve e do envelhecimento saudável (WEINTRAUB,
2000; LEZAK, HOWIESON; LORING, 2004 apud BRUCKI; PORTO, 2018). O teste
RAVLT (Teste de Aprendizagem Verbal Auditiva de Rey) é um ótimo teste para verificar
prejuízo na capacidade de aquisição e retenção, bem como a ausência de benefício com
a repetição, que são deficiências observadas logo no início da DA (LEZAK, HOWIESON;
LORING, 2004; DINIZ et al., 2000 apud BRUCKI; PORTO, 2018).
Você Sabia?
Existe um tipo de doença de Alzheimer precoce, que inicia antes dos 60 anos. No filme,
Para Sempre Alice, retrata uma professora e pesquisadora renomada com esse tipo de
demência e sua luta para tentar ter independência e lidar com a DA que avança muito
rápido. O filme também discute aspectos genéticos e a decisão em se fazer ou não acon-
selhamento genético quando se tem caso na família. Vale a pena assistir!
Demência Frontotemporal
Considerada a segunda causa de demência degenerativa mais frequente (HOHNSON
et al., 2005 apud BAHIA, 2018). É estimado uma prevalência de 1,5 a 2,8% na popu-
lação da América Latina de demência frontotemporal (DFT) em pessoas acima de 55 a
60 anos de idade (CUSTÓDIO et al. 2013, apud BAHIA, 2018).
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UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Idoso
Com relação aos fatores genéticos para a DFT, entre 30% a 50% dos pacientes apre-
sentam histórico familiar, contudo, apenas 10% são detectados como padrão de herança
genética autossômica dominante (RABINOVICI; MILLER, 2010 apud BAHIA, 2018).
Atrofias em regiões frontais (mediais, dorsolaterais e orbitais) e dos lobos temporais (áre-
as anteriores) são critérios para o diagnóstico das DFT (BAHIA, 2018).
De acordo com Bahia (2018), para o diagnóstico de DFT de afasia progressiva pri-
mária variante semântica, é necessário que o paciente apresente, além de piora da no-
meação por confrontação e da compreensão de uma única palavra, ao menos três dos
seguintes critérios:
• Déficit [sic] do reconhecimento de objetos;
• Dislexia ou disgrafia de superfície;
• Preservação da repetição e/ou produção da fala;
• Exames de neuroimagem mostram o acometimento das regiões tempo-
rais anteriores. (BAHIA, 2018, p. 259)
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em aderir às regras das tarefas solicitadas, impulsividade, desatenção, perseveração, pen-
samento concreto e piora da estratégia de resolução de problemas (BAHIA, 2018).
Com relação aos instrumentos mais utilizados na avaliação neuropsicológica da DFT,
os principais estão o Teste de Stroop, que avalia atenção e impulsividade, Fluência
Verbal fonêmica e semântica, o Teste de Cartas de Wisconsin, que avalia funções execu-
tivas, assim como Torre de Hanoi, para citar os principais (BAHIA, 2018).
O tratamento, assim como na DA, também é sintomático. Os principais fármacos
utilizados são os inibidores de receptação de serotonina e/ou noriepinefrina, visando
minimizar tanto os sintomas depressivos quando os sintomas impulsivos e comporta-
mentos compulsivos. Para controle de comportamentos mais intensos, os benzodiazepí-
nicos também são utilizados (BAHIA, 2018).
Saiba mais sobre essa demência tão complexa neste artigo – Demência Frontotemporal.
Disponível em: https://bit.ly/36VQ57f
Limitações do Exame
Neuropsicológico no Idoso
A avaliação neuropsicológica em idosos não é uma tarefa fácil. Alguns desafios como
prejuízos auditivos ou visuais (MORAES; BIACLHO; SANTOS, 2018), baixa escolari-
dade (de PAULA; DINIZ; SOLLUM; MALLOY-DINIZ, 2016) são algumas das variáveis
que dificultam o processo de avaliação neuropsicológica. Pacientes com quadro de de-
pressão grave, apatia podem ser pouco motivados e colaborativos, tornando os dados
obtidos na avaliação pouco confiáveis. A demência muito avançada também impede a
realização de alguns testes (MORAES; BIACLHO; SANTOS, 2018). A baixa escolari-
dade pode levar a efeito-chão, ao passo que a alta escolaridade pode levar ao efeito-teto
(BISHOP et al., 2010 apud MORAES; BIACLHO; SANTOS, 2018).
A escolaridade é uma variável importante na avaliação neuropsicológica interferindo
diretamente na reserva cognitiva do idoso. Desempenho de idosos com baixa escola-
ridade são inferiores àqueles com escolarização formal. Além disso, idosos com baixa
escolaridade demonstram reações emocionais mais negativas durante o processo de
avaliação neuropsicológica (DE PAULA; DINIZ; SALLUM; MALLOY-DINIZ, 2016).
A falta de informantes disponíveis com capacidade para relatar dados importantes
da vida do paciente e da sua condição clínica também é um fator que limita os resulta-
dos da avaliação e a compreensão dos dados (ALBERT et al., 2011 apud MORAES;
BIACLHO; SANTOS, 2018).
A carência de instrumentos para avaliação neuropsicológica de idosos com baixa
escolaridade torna a avaliação um grande desafio para o neuropsicólogo. Outro ponto
importante é a falta de normatização dos testes estratificados não somente pela idade,
mas também pelo nível de escolaridade (DE PAULA; DINIZ; SALLUM; MALLOY-
-DINIZ, 2016).
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UNIDADE Avaliação Neuropsicológica do Idoso
Material Complementar
Indicações para saber mais sobre os assuntos abordados nesta Unidade:
Livros
Musicofilia
SACKS, O. Musicofilia. Adelphi Edizioni spa, 2014.
Vídeos
Podemos prevenir a Doença de Alzheimer?
https://bit.ly/3nNDBVX
Alzheimer não é o envelhecimento normal – pode ser curado
https://bit.ly/2UPoezR
Filmes
Alive Inside – A Música Vivifica a Memória
https://youtu.be/IaB5Egej0TQ
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Referências
BAHIA, V. S. Demência Frontotemporal. In: MIOTTO, E. C.; LUCIA, M. C. S.; SCAFF,
M. Neuropsicologia Clínica. 2. ed. Rio de Janeiro: Roca, 2018.
_______; _______; _______. Como avaliar o idoso de baixa escolaridade? In: MALLOY-
-DINIZ, L. F.; MATTOS, P.; ABREU, N.; FUENTES, D. Neuropsicologia: aplicações
Clínicas. Porto Alegre: Artmed, 2016.
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