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2ª aula
1. COMPONENTES CELULARES DO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
O sistema nervoso central (SNC) pode ser concebido como um instrumento
extremamente aperfeiçoado que permite ao organismo interagir com o seu ambiente. A
informação que provém do ambiente é analisada pelo cérebro, o que origina as
percepções. Algumas destas percepções são armazenadas; é o que se chama a
memória. O cérebro dá igualmente origem às ordens motoras que comandam os
movimentos dos músculos e do corpo.
As células gliais
As células gliais também chamadas glia ou nevróglia, são pequenas células
arredondadas, disseminadas por todo o SNC, 10 a 15 vezes mais numerosas que os
neurónios, mas que não têm a capacidade destes últimos de gerar influxo nervoso.
O seu papel, se bem que menor que o dos neurónios, é todavia múltiplo e importante.
papel de tecido de suporte, papel de limpeza (eles removem do SNC os detritos que
poderão aí ter deixado as afecções ou ferimentos que o atingiram); (muito em especial os
oligodendrócitos); papel nutritivo e metabólico (participam no equilíbrio electroquímico dos
neurónios);
Neurónios
As propriedades estruturais e funcionais dos neurónios de que trataremos nesta aula são
essencialmente propriedades elementares, comuns a todas as células nervosas, e
portanto não teremos em geral aqui em conta as diferenças de funções que elas podem
ter entre si. Os neurónios evoluíram com propriedades especializadas que lhes permitem
que recebam a informação, a processem e a transmitam às outras células. Estas funções
são executadas por regiões da célula identificáveis e anatomicamente distintas. As
diferentes regiões de um neurónio são caracterizadas por especializações no interior da
membrana citoplasmática e na arquitectura sub-celular. Ainda que os neurónios variem
extremamente na forma e no tamanho, podemos distinguir três regiões: o corpo celular ou
pericário, os dendritos e o axónio (ou cilindro-eixo) e respectiva parte terminal o
telodendro (Figura 1.1).
O pericário (corpo celular ou soma) que mede 45 µ a 100 µ de diâmetro contém no seu
interior, como qualquer outra célula do organismo, um núcleo que contém o material
genético (cromossomas). Também é o centro metabólico do neurónio, portador das
instruções que controlam a produção das proteínas necessárias para o funcionamento do
neurónio e do equipamento estrutural e bioquímico (mitocôndrios, retículo
endoplasmático, aparelho de Golgi, etc.) destinado à síntese dos enzimas e das outras
moléculas essenciais ao funcionamento da célula. Nele se localizam os feixes de
neurotúbulos e das neurofibrilhas que se agrupam no interior do axónio e dos dendritos.
Habitualmente, o pericário apresenta-se esférico ou piramidal.
Figura 1.1 A morfologia dos neurónios varia do simples ao muito complexo, mas a maioria de neurónios
têm um pericário (ou soma), vários dendritos e um axónio. Alguns neurónios são simples na estrutura (por
exemplo, a célula bipolar da retina). Outros neurónios têm uma estrutura muito complexa (por exemplo, a
célula de Purkinje do cerebelo). Nalguns neurónios (por exemplo, células de Purkinje do cerebelo de
mamíferos e os neurónios motores da espinal medula dos vertebrados), os dendritos e o axónio distinguem-
se facilmente. Porém, noutros neurónios (por exemplo, células bipolares da retina e células de associação
dos mamíferos), nenhuma característica morfológica distingue claramente o axónio dos dendritos
Figura 1.2 Os axónios mielinizados estão de tal modo embrulhados por (a) células gliais de suporte
(oligodendrócitos) - ou seja que constituem a bainha de mielina - que apenas curtos segmentos da
membrana do axónio estão expostos, nos chamados nodos de Ranvier, aos fluidos do meio extracelular.
(b) Micrografia electrónica dos nodos de Ranvier.
Figura 1.3 Classificam-se os neurónios, segundo a sua morfologia, em unipolares, bipolares e multipolares.
A: uma célula unipolar possui um único prolongamento que sai do soma ou corpo celular. Este tipo é
característico do sistema nervoso dos invertebrados. As células bipolares, como as da retina, representadas
em C, são caracterizadas por 2 prolongamentos, o axónio e o dendrito, de um lado e doutro do soma. As
células em T da raiz dorsal da medula (B) são chamadas pseudo-unipolares, estando os seus 2
prolongamentos fundidos numa curta distância, antes de se separarem. D: as células piramidais do córtex
cerebral são um tipo particular de células multipolares; apresentam vários dendritos que emergem da base
e um dendrito originado a partir do ápice (dendrito apical).
Os prolongamentos neurónicos têm uma importância capital, pois é graças a eles que um
neurónio estabelece os seus contactos com outros neurónios. O funcionamento do
sistema nervoso depende do fluxo de informações que percorre os circuitos formados por
redes de neurónios. A informação é transmitida de uma célula a outra, em pontos de
contacto especializados, designados por sinapses. Assim, um neurónio de importância
média recebe 10 000 contactos. Certos neurónios do cerebelo, 150 000. Por aqui se vê a
incomensurável complexidade da rede assim realizada numa parte mesmo restrita do
sistema nervoso, muito mais considerável que os computadores actuais mais
aperfeiçoados.