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Jacqueline Abrisqueta-Gomez

e colaboradores

REABILITAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA
ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR E
MODELOS CONCEITUAIS NA PRÁTICA CLÍNICA
R281 Reabilitação neuropsicológica [recurso eletrônico] :
abordagem interdisciplinar e modelos conceituais na prática clínica /
Jacqueline Abrisqueta-Gomez ... [et al.]. – Dados eletrônicos. –
Porto Alegre : Artmed, 2012.

Editado também como livro impresso em 2012. ISBN


978-85-363-2707-5

1. Neuropsicologia – Reabilitação neuropsicológica. I.


Abrisqueta-Gomez, Jacqueline.

CDU 159.9:616.8

Catalogação na publicação: Ana Paula M. Magnus – CRB 10/2052


Jacqueline Abrisqueta-Gomez
e colaboradores

REABILITAÇÃO
NEUROPSICOLÓGICA
ABORDAGEM INTERDISCIPLINAR E
MODELOS CONCEITUAIS NA PRÁTICA
CLÍNICA
Versão impressa
desta obra: 2012

2012
© Grupo A Educação S.A., 2012

Capa
Paola Manica

Preparação de originais
Aline Pereira de Barros
Ingrid Frank

Leitura final
Lara Frichenbruder Kengeriski

Editora Sênior – Ciências Humanas


Mônica Ballejo Canto

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2
Neuroplasticidade e
reabilitação
neuropsicológica Mauro Muszkat e Claudia
Berlim de Mello

A possibilidade de o cérebro reorganizar


seus múltiplos padrões de respostas e
conexões mediante a experiência, mesmo
após diver sos tipos de dano cerebral, é um
dos aspectos mais fascinantes das
Introdução fronteiras das neuroci ências com a
reabilitação. Através dos me canismos da
plasticidade neural, a própria lesão perspectiva da plasticidade neural.
representa um impulso mobilizador para
que o cérebro reprograme seus padrões
originais de funcionamento e Conceitos
especialização hemisférica. Nesse sentido,
conhecer de que maneira os mecanismos O termo plasticidade tem origem etimoló
de compensação, adaptação e gica do grego plaiticós, que se refere à ca
modelagem neural são passíveis de serem pacidade de algo ser esculpido e moldado.
acionados pelos diferentes tipos de
experiências e estratégias de reabilitação é
um desafio constante para os profissionais
que atuam com reabilitação de doenças Conceitua -se a plasticidade cerebral como
neu rológicas. Tais desafios são uma mudança adaptativa na estrutura e
complexos, uma vez que os contextos função do sistema nervoso, que ocorre em
clínicos, neurológicos e neuropsicológicos qualquer fase da ontogenia, como função
são bastante diferentes, as funções de interações com o meio ambiente inter
envolvidas são variáveis (lingua gem, no e externo. A plasticidade neural é mul
atenção, memória), a etiologia hete tidimensional, enquanto processo dinâmico
rogênea e as estratégias para potencializar que delimita as relações entre estrutura e
rotas residuais e funcionais são diversas e função; enquanto resposta adaptativa, im
singulares, não estando restritas apenas ao pulsionada por desafios do meio ou lesões
indivíduo, mas a toda sua rede relacional, e também como estrutura organizacional
familiar, educacional e/ou profissional. O intrínseca ao cérebro, a qual se mantém
campo da reabilitação neuropsico lógica é ativa, em diferentes graus, durante toda a
uma área relativamente recente e se vida, inclusive na velhice. A plasticidade
dedica a compreender de que maneira opera em vários níveis: o neuroquímico, na
diferentes lesões cerebrais afetam as fun modificação de neurotransmissores e neu
ções cognitivas, emocionais e romoduladores durante o crescimento e o
comportamen tais (Pontes e Hubner, 2008; desenvolvimento; o hedológico, envolven
Tsaousides e Gordon, 2009; Wilson et al., do diferentes padrões de conexão entre os
2008; Cicerone, 2000). O objetivo é neurônios e o número de sinapses ativas, e
estabelecer estratégias de base o comportamental, modificando estratégias
neurobiológicas para programas de cognitivas de acordo com os desafios am
intervenção efetivos que resultem tanto na bientais. Envolve crescimento e formação
melhor adaptação funcional como em uma de novas conexões sinápticas,
melhor qualidade de vida para o paciente. crescimento de espículas dendríticas,
Embora os programas pioneiros datem do mudança de confor mação de
início do século XX, criados para auxiliar macroproteínas das membranas pós
soldados sobreviventes de lesões -sinápticas, aumento dos neurotransmis
adquiridas na Primeira Guerra Mundial, sores e neuromoduladores e aumento das
apenas com Luria, na Segunda Guerra, áreas sinápticas funcionais. Esses
em um hospital para soldados com lesões processos ocorrem durante todas as
na União Soviética, que a reabilitação fases, desde o re gistro e a aquisição da
começou a ser sistemati zada (Luria, informação até seu
1981). No entanto, a base defi nida por armazenamento e evocação (memória). O
Luria se centrava na compensação como curso do desenvolvimento é marca do por
mecanismo de recuperação e não na diferentes expressões do potencial de
neuroplasticidade enquanto mecanismo de modificabilidade do cérebro pela experiên
restituição de processos neuropsicológicos. cia. Esse potencial depende da interação
Neste capítulo, enfocaremos alguns con entre os múltiplos fatores de crescimento
ceitos, desafios e princípios que norteiam neuronal diferencial das várias áreas cere
a reabilitação neuropsicológica dentro da brais, do grau de mielinização das estrutu
ras cerebrais, do desenvolvimento pré estimulação de habilidade residual pode
-natal e das possibilidades que tem o ser mais indica da como, por exemplo, em
cérebro em reorganizar seus múltiplos lesões visuais ou aditivas detectadas
padrões de res postas e conexões precocemente. As ma nifestações
mediante a experiência ou mesmo após comportamentais subjacentes a uma lesão
diversos tipos de lesão es trutural, podendo cerebral podem ser devidas a cinco
determinar mudanças fundamentais mecanismos principais:
durante o curso maturacio nal. Assim, a
plasticidade se insere em uma perspectiva ■ Diasquise – Corresponde à perda tem
evolutiva maturacional, na qual a porária de função em áreas distantes
expressão clínica dos padrões de lesões e da lesão, mas neuronalmente
disfunções difere de acordo com as fases conectadas a ela.
do ■ Reorganização funcional – Relaciona-
Reabilitação neuropsicológica 57 -se ao recrutamento de circuitos
amplos que permitem a manutenção
de um comportamento adaptativo.
crescimento neuronal. Ou seja, esses ■ Modificação da conectividade sinápti‑
padrões irão se expressar de maneira ca – Mecanismo no qual neurônios so
muito diversa durante as diferentes fases breviventes desenvolvem ramificações
da ontogênese, dependendo da influência
58 Jacqueline Abrisqueta-Gomez & Cols.
de fatores genéti
cos e estruturais (relacionados com a topo
grafia das lesões), especificidade das sinápticas e dendríticas para receber
áreas cerebrais envolvidas com o outros neurônios do mesmo circuito ou
comportamento (relacionadas a áreas distante deles.
eloquentes da lingua gem e memória), a ■ Alteração da estimulação sensorial –
extensão das disfunções, bem como dos Aferências sensoriais estruturadas
fatores de neuroplasticidade e aqueles podem aumentar a conectividade de cir
relacionados ao paradigma da es cuitos parcialmente desconectados ou
pecialização hemisférica (Anderson et al., através de treino autorregulador pode-
2009; Jacobs, Harvey e Anderson, 2007). -se diminuir a excitabilidade de um cir
cuito hiperfuncionante.
■ Regulação inter‑hemisférica – Refere-
Mecanismos envolvidos com a -se à interferência recíproca entre áre
plasticidade e a reabilitação as do hemisfério lesado no preservado;
uma vez que há interferência recíproca
Do ponto de vista funcional, a plasticidade do lado preservado sobre o disfuncio
cerebral implica a reorganização funcional nal, a área intacta pode, inclusive, inibir
de circuitos subjacentes a lesões cerebrais a expressão e a recuperação de
que se reorganizam com a finalidade de funções no lado lesado.
res
tabelecer capacidades adaptativas (Rossini
e Dal Forno, 2004). Embora a Tipos de Plasticidade
compensação funcional mobilizando os
recursos de áre as cerebrais intactas para Podemos subdividir a fenomenologia da
a recuperação de um determinado neuroplasticidade em quatro grupos ou
comportamento seja alta mente desejável categorias principais, com implicações di
na maioria das situações clínicas, algumas ferentes no que se refere à reabilitação neu
vezes pode levar a uma inibição do ropsicológica, a dizer:
potencial de restituição de cir cuitos
próximos à lesão ou de áreas parcial
mente lesadas. Nesses casos, a Plasticidade do desenvolvimento
A criação de novas sinapses e o
Relaciona -se com padrões específicos de recrutamen to de neurônios formando
atividade neural espontânea modulada de novas conexões pode ocorrer. A
forma diferente durante o ciclo de desen capacidade de recrutamento funcional leva
volvimento ontogenético (Stiles, 2000). à expansão do mapa funcio nal, isto é, da
Enquanto os primeiros passos da matu área cortical envolvida com de terminada
ração neural são independentes do meio habilidade. É conhecida a maior área
ambiente (neurogênese, migração, diferen cortical envolvida com habilidade mu sical
ciação) e são determinados geneticamen de instrumentistas, sendo que o córtex
te, os sinais para diferenciação, retração e sensorial relacionado com as polpas
remodelamento incluindo a taxa de morte digitais de violinistas experientes está
neuronal programada (apoptose) por de muito expan dida quando comparada com
suso, a arborização dendrítica, a formação indivíduos sem treino musical (Münte,
de novas sinapses são dependentes do Altenmüller e Jäncke, 2002; Rauschecker,
estí mulo e apresentam períodos sensíveis, 2001). Assim, no que se refere à
nos quais há um máximo grau de reabilitação, a exposição prolongada a
modelização levando a uma resposta de experiências de treino, desde que
maior eficiência das atividades cognitivas constante e disciplinada, leva a altera ções
e comportamen tais ligadas a redes neurais estruturais e à modulação da densida de
ativadas. Assim, por exemplo, no que se sináptica das áreas envolvidas com tais
refere à linguagem, habilidades. A estimulação cognitiva em
ambientes enriquecidos, do ponto de vista
visual e motor, relaciona -se a um aumen
to da arborização dendrítica em ambos os
o período sensível é extremamente preco
ce, sendo que os estímulos de linguagem
são mais eficientes quando introduzidos
antes dos quatro primeiros anos de vida. córtices visual e somatossensitivo. Do
Nos casos de crianças com alterações ponto de vista quantitativo, nos estudos
senso riais da visão ou da audição, a animais, tanto as lesões cerebrais
reabilitação precoce resulta em uma localizadas quanto o meio ambiente rico
melhor eficiência no sentido de mobilizar a de estímulos têm efei
capacidade vi sual ou auditiva residual tos similares sobre a arborização dendrítica
(Johnston, 2009; Neville e Bavelier, 2002). (Segovia, del Arco e Mora, 2009).

Plasticidade dependente da experiência Plasticidade após dano cerebral

Refere -se à capacidade que diferentes Refere -se às formas de reorganização ce


tipos de desafios têm em mudar rebral após prejuízos funcionais resultan
determinados cir cuitos traduzida em tes de lesões em áreas corticais (Merabet
mudanças de padrões comportamentais, e Pascual -Leone 2010; Murphy e Corbett,
no sentido de aprimora mento de conexões 2009; Ewing -Cobbs, Barnes e Fletcher,
neurais, somatossenso riais e motoras 2003). Nesse tipo de plasticidade três subti
específicas. Nesse sentido, a plasticidade pos são encontrados:
tem equivalência com vários fenômemos
relacionados à aprendizagem. Denomina
-se potenciação de longo prazo quando a Plasticidade de áreas homólogas
estimulação intensa de grupos funcionais
e morfológicos causa alterações Ocorre particularmente durante os estágios
morfológicas nas sinapses, que vão desde iniciais do desenvolvimento cerebral, quan
a facilitação transitória até o fortalecimento do uma área homóloga compensa a função
duradouro de vias sinápticas já existentes.
perdida por uma lesão cerebral localiza da lesados. A maior expansão dendrítica
(contralateral); tal tipo de plasticidade traduz padrões de maior conexão com
ocorre, por exemplo, em crianças com le outras áreas corticais, com o tálamo e
sões precoces na área de linguagem mesmo com estruturas subcorticais repre
expres siva (área de Broca) com sentando tanto uma expansão das aferên
transferência para áreas frontais do cias corticais já existentes como a
hemisfério direito não do minante. expansão de novas conexões, entre essas
múltiplas áreas cerebrais. As alterações
da densidade sináptica são estimuladas
Realocação intermodal tanto pelo meio ambiente como por fatores
endógenos liga dos a fenômenos
Envolve a introdução de novas aferências moleculares, induzidos e impulsionados
para uma área que foi privada de suas prin pela própria lesão cerebral, que são
cipais conexões. Esse tipo de plasticidade verdadeiros potencializadores do
é comum em pessoas que se tornam desenvolvimento neuronal.
cegas e cujos estímulos tácteis induzidos
pela leitura de Braile, por exemplo, são
funcionalmente transferidos para áreas Plasticidade por neurogênese
visuais do córtex ce rebral.
Embora, por muitas décadas acreditou -se
que o cérebro não tivesse capacidade de
Máscara compensatória re generação, hoje sabe -se que a
neurogênese, isto é, a criação de novos
Conceito de plasticidade que se refere ao neurônios, ocorre em algumas áreas do
uso de um processo cognitivo hábil, intacto cérebro como a região próxima aos
para realizar uma tarefa que era dependen ventrículos cerebrais e a área granular do
Reabilitação neuropsicológica 59 giro denteado do hipocampo intimamente
relacionada à memória (Lee e Son, 2009).
Tais células neurais primitivas têm uma
te de outro processo cognitivo relacionado capacidade latente para restituição
à área lesada. Nesse sentido, envolve o 60 Jacqueline Abrisqueta-Gomez & Cols.
uso de estratégias compensatórias usando
meca nismos hábeis pra contornar
desempenhos frágeis, por exemplo, nos do sistema nervoso central (SNC) do
casos de alteração da memória espacial adulto, uma vez que podem ser
(em lesões temporais do hemisfério mobilizadas para ge rar neurônios
cerebral direito), memorizar uma lista de funcionais integrados aos cir cuitos e redes
ruas a serem percorridas pode ajudar a preexistentes. A neurogênese hipocampal
orientação espacial sem a necessi dade de pode ser estimulada também por
mapas que dependem das habili dades situações ambientais, como as associadas
visuoespaciais comprometidas. Após ao exercício físico e ao uso de estrógeno
lesão ou degeneração de neurônios aferen em mu lheres após a menopausa, e são
tes há também mecanismos neuronais e também mo bilizadas em situações
de neuromodulação compensatórios, relacionadas ao prazer e à recompensa
como a formação de receptores na (Hajszan, Milner e Leranth, 2007; Olson et
membrana pós- -sináptica, determinando al., 2006). Portanto, a orien tação de
um aumento da sensibilidade do neurônio atividade física regular e utilização de
aos neurotrans missores, o recrutamento recursos motivacionais tem grande impac
de sinapses silen ciosas, desmascarando to e deve ser enfatizada em qualquer
conexões sinápticas preexistentes, mas progra ma de reabilitação cognitiva.
ocultas em condição fi siológica ou mesmo O exercício físico, por exemplo, está
a formação de brotos axonais a partir de relacionado à produção e à liberação de
prolongamentos axonais ou dendríticos neurotrofinas que favorecem a sobrevivên
cia e a funcionalidade de redes neuronais, doença de Parkinson e nas doenças
sendo o BDNF (Brain Derived Neurogrowth neurodegenerativas. No en tanto, tal
Factor) uma das neurotrofinas mais estuda pesquisa ainda é, em boa parte,
das (Gómez -Pinilla et al., 2002). O experimental e dependente do tipo de célu
aumento de BDNF não está restrito a la percussora neural. Células mesinquema
áreas motoras envolvidas em exercícios tosas, da conjuntiva, da polpa dos dentes,
físicos, mas a áreas distantes como o do cordão umbilical, da medula óssea, de
hipocampo, tendo se re lacionado à células embrionárias de fetos não viáveis
melhora de tarefas espaciais. O aumento estão sendo utilizadas em diferentes expe
de liberação do BDNF parece que está rimentos com resultados anedóticos e
também relacionado às monoaminas, uma ainda inconsistentes quando avaliada a
vez que alguns antidepressivos aumen tam extensão para prática clínica. Experiências
a expressão do BDNF no hipocampo, em huma nos com células -tronco,
expressão que também é potencializada retiradas da medula óssea e cultivadas em
pelo exercício. Por outro lado, é bem conhe laboratório com subs tâncias neurotróficas,
cido que a resposta fisiológica ao estresse que as transformam em neurônios, já
resulta em efeitos adversos para plasticida estão sendo realizadas em algumas
de cerebral (plasticidade negativa) doenças neurodegenerativas, mas os
presente em dois circuitos neurofuncionais resultados ainda são bastante prelimi nares
-alvo: o hipocampo e o córtex pré -frontal (Picard -Riera et al., 2004). O trans plante
(Vyas et al., 2002). O aumento da de tais células -tronco em um futuro
liberação de glico corticoides pelo estresse próximo irá revolucionar as neurociências
leva a um aumento da perda neuronal pelo potencial de reposição neuronal, de
(apoptose), à diminuição da neurogênese modulação da produção de fatores de cres
hipocampal com prejuízo principalmente cimento neuronal e de aumento da ativida
da memória espacial e da potenciação de de de neurônios remanescentes em casos
longo prazo. Estudos atu ais de de lesão localizada, incluindo lesão
neuroimagem e volumetria do hipo campo medular, traumatismo craniano e doenças
encontram atrofia hipocampal em crianças metabóli cas e neurodegenerativas.
submetidas a violência, negligência e Tais experimentos que são o futu ro não só
privação sociocultural (Jackowski et al., da neurociência, mas da ciência como um
2008). A íntima conexão entre o todo, estão criando seus primeiros e
hipocampo e o córtex pré -frontal explica a fecundos passos em direção à geração de
relação da inibição da neurogênese fatores neurais de reposição, mas ainda
hipocampal com a não são isentos de complicações
possíveis como a de induzirem à formação
de tumores ou mesmo à necessidade de
antibioticotera pia e de imunossupressão a
plasticidade reduzida nas áreas pré longo prazo.
-frontais. Dessa forma, é extremamente
importante que o profissional de
reabilitação estabele ça uma base de
tranquilidade e de reforço positivo para Pesquisas com veículos virais que se incor
facilitar as respostas de plas ticidade poram à estrutura gênica e ativam a produ
positiva, evitando a deflagração de ção das neurotrofinas também parecem ser
respostas nocivas associadas à fadiga e ao um campo interessante no futuro da neuro
estresse. A pesquisa com células -tronco plasticidade relacionada a um aumento da
tem trazido uma série de discussões modulação estrutural de circuitos neurais e
calorosas sobre a possibilidade de futuros neuromoduladores tróficos (Christensen et
implantes neurais que poderão facilitar o al., 2010).
crescimento de células e as conexões em
casos de lesões cerebrais permanentes,
como em portado res de demências, na Mecanismos moleculares da
neuroplasticidade

Atualmente, com o desenvolvimento de Nível de alerta e plasticidade


estudos moleculares e neuroquímicos em
animais, conhece -se muito mais sobre o sí Os terminais axonais das redes neurais for
tio anatômico da plasticidade neural que, mam uma ampla rede modulada por neuro
segundo o que se acredita, envolve as pe transmissores, que regulam a
quenas ramificações dos dendritos, isto é, excitabilidade dos neurônios corticais de
as espinhas dendríticas (von Bohlen e modo a controlar quais informações são
Halbach, 2009). Ocorre nessa região uma relevantes ou irrele vantes para o fluxo
série de cascatas bioquímicas, que, em linear das modificações plásticas. Tais
última análi se, envolvem o íon cálcio que é neurotransmissores, como os sistemas
o elemento central de regulação da colinérgico, noradrenérgico,
atividade intrace lular. Dos serotoninérgico, dopaminérgico e histami
neurotransmissores, o glutamato parece nérgico influenciam o estado de alerta, de
ter uma importância fundamental, uma vez atenção e de motivação, facilitando, por
que liberado na fenda sináptica se difunde tanto, processos de plasticidade que depen
até os receptores pós -sinápticos, levando dem da atividade (McKinney, 2010). Logo,
à ativação de proteína cinase de pendente é importante facilitar o processo de alerta,
do cálcio, que pode potenciar a de motivação e de atenção durante o pro
transmissão sináptica aumentando a con cesso de reabilitação cognitiva. Nesse sen
dutância e os níveis de receptores de glu tido, é importante estar atento para o nível
tamato. Um dos produtos fundamentais na de vigilância do paciente, para as
plasticidade é mediado pelos níveis de alterações do ciclo sono -vigília, uma vez
AMP cíclico produzidos pela estimulação que podem afetar a recuperação neuronal
de uma enzima (adenilciclase) ativada (Dang -Vu et al., 2006). Casos que
pelo cálcio. Para que haja alterações apresentam desorgani zação do ciclo sono
plásticas com ca ráter duradouro, é -vigília, com diminuição do sono REM,
necessária a síntese de proteínas, assim, podem também apresentar dificuldades na
estímulos prolongados ati vam fatores de consolidação da aprendi zagem. Em
transcrição de um grupo de proteínas que alguns casos, a combinação de
se liga a um elemento de res posta no intervenções farmacológicas como o uso
DNA, estabilizando e prolongando as de medicação estimulante pode facilitar a
mudanças sinápticas. É importante res vigi lância levando a um efeito facilitador
saltar que os disparos neuronais têm espe sobre a reabilitação. Por outro lado,
cificidade temporoespacial e a transmissão algumas me dicações com efeito sedativo
sináptica, em uma determinada via, causa podem ter um efeito negativo sobre a
variações de níveis intracelulares do cálcio reabilitação, como os benzodiazepínicos
em todo o neurônio, porém, isso não causa ou alguns anticonvul sivantes (Larson e
o fortalecimento de todas as sinapses Zollman, 2010). As in tervenções em
desse neurônio, mas apenas daquelas pacientes com flutuações do nível de
envolvidas alerta devem utilizar períodos de aumento
Reabilitação neuropsicológica 61 da vigilância e da responsividade e os
períodos de intervenção são mais efetivos
quando o paciente está vigilante, portanto
com a transmissão e com a despolarização intervenções mais breves podem ser, em
neural. Modificações pré -sinápticas são 62 Jacqueline Abrisqueta-Gomez & Cols.
dependentes também de sinais enviados
pelas pós -sinapses através de
mensageiros retrógrados de neurotrofinas alguns casos, mais efetivas. Por outro lado,
e de sinapses moduladores, dando a esse intervenções que levam à
sistema grande flexibilidade e riqueza superestimulação podem ocasionar
modulatória.
estresse com consequen tes efeitos
negativos sobre a plasticidade. O efeito
positivo e motivacional de tentativas
baseadas no sucesso facilita a plasticidade características singulares do comportamen
positiva, bem como a autoestima e o nível to e de expressão subjetiva e criativa dos
de satisfação dos pacientes; é importante indivíduos. Também dentro desse contexto
ter -se em mente que o foco da reabilitação inclui -se a possibilidade de avaliação do
deve ser o de maximizar as respostas corre perfil neuropsicológico e comportamental
tas mais do que inibir comportamentos ou do paciente em grupo, onde alguns
respostas incorretas. desafios são colocados de modo a
estimular a troca interpessoal, avaliando a
cognição social, a empatia e a capacidade
Princípios neurobiológicos de fazer vínculos. Desenhar mediante um
básicos em reabilitação estímulo musical, reproduzir ritmos com o
cognitiva corpo, dialogar com instrumentos musicais
sem emitir lin
Alguns princípios neurobiológicos serão guagem verbal pode evidenciar padrões de
enunciados no sentido de facilitar a análi se possibilidades de intervenção não conven
de um olhar voltado para a reabilitação cionais e modelos funcionais e
cognitiva em moldes de favorecer a neuro disfuncionais de interação e cognição
plasticidade. Tais princípios devem entre os participan tes. A utilização de uma
permear a avaliação de pessoas com caixa lúdica, mul tissensorial, de materiais
disfunções neu rológicas montessorianos, de recursos de
independentemente das causas e da indumentária e cênicos, de fantoches e
extensão das anormalidades. gestualidade teatral pode pos sibilitar a
expressão de habilidades de hu mor, de
mobilização motivacional, receptiva e
Princípio 1 – Postura assimiladora expressiva dentro de uma perspectiva não
classificatória que possibilita
A abordagem de pessoas com transtornos tangenciarmos o que Vygotsky chamou de
neurológicos deve ser inicialmente realiza zona de desen volvimento proximal, que,
da dentro de um ambiente o mais flexível, na verdade, é a expressão da
permeável e não classificatório possível, neuroplasticidade diante de mediações e
para permitir uma interação mais fluida desafios construtivos. Em nos so
entre os profissionais de reabilitação e os ambulatório de Transtorno de Déficit de
pacientes. Para tanto, é importante um am Atenção/Hiperatividade (TDAH), as crian
biente que favoreça a utilização de mate ças realizam uma atividade em grupo de
riais lúdicos, podendo -se utilizar recursos três ou quatro participantes, escutam uma
não verbais como a música, as artes gráfi histó ria e fazem coletivamente um
cas, a expressão gestual, para possibilitar, desenho da história ouvida em uma
no primeiro momento, uma mediação que mesma cartolina. O grau de cooperação,
facilite um vínculo e a expressão de even de divisão de materiais, da composição
tuais potencialidades, para além de coletiva de uma mesma nar rativa nos fala
padrões quantitativos e psicométricos. muito sobre os modelos de
Diferentes materiais sensoriais com comportamento e interação da criança de
estímulos táteis de diferentes texturas, uma forma mais próxima da sua realidade
apresentação de músi cas de repertório social e ecológica (como a escola e a famí
apreciado pelos pacientes e recursos de lia) e traduz também as habilidades de con
teatralidade podem facilitar o ajuste das trole inibitório diante de algumas restrições
demandas neuropsicológicas às materiais como dividir o mesmo espaço físi
co da cartolina para o desenho coletivo. Ou
seja, essas observações nos elucidam
sobre a maneira pela qual a criança
respeita regras, divide materiais e controla estra tégias metacognitivas, que serão
a sua agressivi discutidas posteriormente. Assim, o
dade diante de imposições grupais. Em entedimento do nível de integração
suma, uma postura assimiladora ótima, hierárquica do sintoma pode elucidar quais
seja obtida em avaliação individual, as estratégias mais ade
quadas para a reabilitação efetiva. O
planejamento instrumental deve per mitir a
utilização de materiais amplos que
coletiva ou mista, deve possibilitar que Reabilitação neuropsicológica 63
pessoas com diferentes graus de compro
metimento se expressem segundo a sua
sin gularidade, independentemente da avaliem não só o potencial verbal como os
extensão dos prejuízos neuropsicológicos. recursos não verbais dos pacientes. Assim,
a avaliação de indivíduos com disfunções
verbais ligadas ao hemisfério esquerdo, do
Princípio 2 – Planejamento instrumental minante, deve estar baseada em recursos
não verbais (que muitas vezes estão mais
As sessões de estimulação e reabilitação preservados) para permitir a delimitação
cognitiva devem ser hierarquicamente pla das rotas residuais e compensatórias pre
nejadas e organizadas de acordo com as sentes ou preservadas. O entendimento de
dimensões neuropsicológicas, avaliando- rotas de processamento facilitadas, mesmo
-se inicialmente funções mais elementares, na presença de transtornos específicos
como as envolvidas nos processos de per como nas disfunções de linguagem,
cepção e de atenção, antes das apontam para a necessidade de um
habilidades hierarquicamente mais conhecimento de re
complexas como as de retenção, cursos de mediação que, intactos, podem
evocação, planejamento e organização representar caminhos alternativos para me
executiva. A atenção deve ser avaliada lhor adaptação e desempenho. Por exem
antes da memória, uma vez que indivíduos plo, crianças disléxicas podem apresentar
com déficit de atenção podem apresentar dificuldades fonológicas na decodificação
desempenho inferior em pro vas de de palavras regulares, que podem ser lidas
memória e, nesse sentido, podem ser através de rotas lexicais ou logográficas.
erroneamente vistos como amnésticos. Pessoas com dificuldade no processa
Pacientes com déficit de atenção respon mento auditivo verbal decorrente de lesões
dem a treino da atenção seletiva. O treino cerebrais do lado esquerdo podem, por ou
mnemônico, como o que utiliza estratégias tro lado, apresentar comportamento extre
visuais, de associação e elaboração semân mamente hábil em tarefas que envolvem
tica ou de construção de imagens visuais, processamento visuoespacial, musical ou
tem pouco efeito prático em pacientes ver gestual. O treino da equipe de reabilitação
dadeiramente amnésticos. No entanto, se para lidar com tais desafios é
o indivíduo apresenta falha em provas de extremamente importante, uma vez que
memória devido ao processo de atenção em casos de lesão no hemisfério esquerdo
seletiva, técnicas de treino, simplificação e algumas estratégias verbais além de
encadeamento de informações podem ser infrutíferas podem ser ex tremamente
bastante úteis. Se o paciente amnéstico frustantes, resultando em um sentimento
apresenta falhas na consolidação e no ar de incapacidade ou incompe tência. Nesse
mazenamento de novas memórias, o foco sentido, o papel do terapeuta é o de
da reabilitação está na possível preserva identificar caminhos alternativos que
ção de memória implícita (procedimento, facilitariam a reorganização da experiência
pré -ativação). Se a dificuldade maior se através do aumento de conexões
expressar na evocação de lembranças, a sinápticas que em última análise levariam
ên fase deve ser dada à organização e às a formas mais adaptadas de compensar
um déficit neuropsicológico específico. centros corticais superiores podem
modular o tipo de informação sensorial
que será recrutada em um processamento
Princípio 3 – Metacognição posterior. Assim, os circuitos atencionais
do lobo frontal são im portantes para o
Um recurso essencial na reabilitação direcionamento da infor mação sensorial. A
cogniti va é o de mobilizar as estratégias atenção e a expectativa, ambas geradas
metacogni tivas, entendidas como aquelas por processos endógenos, aumentam o
relacionadas à consciência do próprio grau de ativação do cérebro em resposta a
conhecimento e de sua auto -organização estímulos sensoriais, sugerin do um efeito
(Cicerone, 2002). Tais habilidades são facilitador relacionado à mo dulação e à
desenvolvidas a partir dos ativação dos circuitos frontais que regulam
64 Jacqueline Abrisqueta-Gomez & Cols. a atenção seletiva. Evidências clínicas e
experimentais apontam que a pre servação
do sistema atencional é altamente
7 anos e podem ser estimuladas nas preditora da recuperação após dano
sessões de terapia por meio de cerebral e que pacientes com habilidade
questionamentos centrados na própria de manter a atenção têm melhor evolução
percepção do indiví duo e de insights a no que con
respeito da maneira com que pode
reorganizar as informações a par tir de
novos ensaios baseados tanto na repe
tição quanto na reestruturação dos dados, cerne às melhoras nos padrões de ativida
por exemplo, estabelecendo gráficos, de cognitiva e motora (Ponsford, Draper e
esque mas, recursos narrativos, Schönberger, 2008). Portanto, é importante
explicativos, reor ganizando os dados em que a equipe de reabilitação tenha
novas categorias, simplificando a consciên cia de que a estimulação em
informação, fazendo ligação da atividades não passivas aprimora os
informação nova com a informação pree resultados e que o es forço para melhorar
xistente e treinando formas de a atenção e o envolvi mento ativos nas
comunicação que encoragem o processo tarefas de treino tem um efeito impactante
de ressignifica ção, questionamento e na reabilitação não só da atenção como
reavaliação de predi ções do desempenho. das várias funções neuropsi cológicas.
O desenvolvimento de atividades me
tacognitivas é importante também em
casos de transtornos de memória Princípio 4 – Modularidade
operacional, fa cilitando a inserção de
recursos externamen te guiados, como O quarto princípio, o da modularidade, se
calendários, calculadora, visualização de relaciona à dimensão da especialização
passos no planejamento de tarefas fun cional hemisférica. O hemisfério
complexas, com planificação passo a esquerdo parece ter o substrato neural
passo das fases de um processo de para a expres são, a análise e a
múltiplos estágios. Tais técnicas podem compreensão da lingua gem; compreende
privilegiar e estimular sistemas de mais sistemas para a percepção e classificação
alta complexida de envolvidos com as de materiais que são codifi cados
funções frontais que podem não só linguisticamente, também associado com
modificar, mas regular proces sos de a organização temporal e sequencial da
outros sistemas, através da melhora da informação, com as funções de raciocínio
habilidade de atenção, da autorregula ção abstrato, matemático e analítico, com a for
e da automodulação. Tais processos, co mação de conceitos verbais, com a
nhecidos como processos top -down (de distinção de sons e com outras
cima para baixo), referem -se ao fato que características articu latórias da fala. O
hemisfério direito é pre dominantemente
não linguístico, emocional e responsável Estudos com tomografia com
pela integração sensorial de variáveis emissão de pósitrons (TEP) têm mostrado
internas e externas, ou seja, é con que após acidente vascular cerebral há
cernente à orientação espacial, à aumento do fluxo sanguíneo regional no
percepção de estímulos, à análise da lado não lesado que comparativamente ao
posição do corpo no espaço, à imagem grupo controle é superior (Warburton et
corporal, à percepção do todo de um al., 1999). Tal au
estímulo, às relações visuoes paciais, bem mento da atividade pode tanto contribuir
como participa da mediação da expressão para efeitos compensatórios como pode
emocional (Springer e Deutsch, 1998). também exercer um efeito inibitório no lado
O princípio da modularidade se re laciona lesado e, consequentemente, diminuir o po
com a maneira pela qual são esti muladas tencial de recuperação de alguns circuitos
estratégias globais visuais mais gestálticas lesionados.
(do hemisfério cerebral direito) ou verbais, A melhora paradoxal do desempenho
analíticas, dedutivas (relacio nadas ao quando uma segunda lesão do lado oposto
hemisfério cerebral esquerdo) diante de da lesão ocorre tem sido também descri ta.
desafios perspectivos ou mesmo Tais efeitos seriam devidos ao fato que a
comportamentais. Assim, o hemisfério ce nova lesão reduziria a atividade das vias
rebral direito lida predominantemente com não lesadas que estariam inibindo excessi
estímulos não verbais, musicais, gestuais e vamente os circuitos do hemisfério lesio
com a prosódia (melodia das palavras), en nado. Tal observação tem sido descrita em
pacientes com a chamada
heminegligência, cuja manifestação
melhora quando, além da lesão original do
quanto o hemisfério esquerdo lida eminen hemisfério direito, ocorre uma nova lesão
temente com a linguagem, a sequenciação à esquerda. A recuperação
de estímulos, a organização semântica e a
Reabilitação neuropsicológica 65
categorização racional dos fenômenos.
Disfunções do hemisfério cerebral di reito
podem ser compensadas por estraté gias da função pode também em parte ser deter
mais verbais ou narrativas, enquanto as minada pela extensão na qual a inibição
disfunções do hemisfério cerebral dos circuitos lesionados pode ser
esquerdo podem ser minimizadas com reduzida, tanto pela ativação do circuito do
estratégias não verbais – visuoespaciais, próprio hemisfé rio lesado quanto pela
musicais e corpo rais. redução da ativação do hemisfério
A modularidade, a especialização fun preservado. Tais observações
cional hemisférica, é extremamente útil relacionadas ao equilíbrio inter -hemisférico
para recriar formas alternativas de lidar têm implicação no processo de reabilitação
com os fenômenos ou mesmo descrevê cognitiva. Por exemplo: a heminegligência
-los. É importante reconhecer que em do lado esquerdo pode ser reduzida pela
casos de lesão cerebral algumas movimentação ativa e simultânea do mem
manifestações neu ropsicológicas são bro superior e inferior esquerdo no hemies
devidas à interação re cíproca entre os paço esquerdo, provavelmente pelo fato de
dois hemisférios cerebrais interferindo no que o movimento ativa os circuitos
balanço inter -hemisférico. É conhecido sensório- -motores do hemisfério cerebral
que as fibras calosas são eminen temente direito. No entanto, os efeitos benéficos
veiculadoras de informação inibi tória dessa ativação são eliminados se o
(Hoeppner et al., 2008). Assim, áreas membro direito for si multaneamente
intactas não lesadas podem, em algumas mobilizado, pelo fato de o movimento
situações, diminuir o potencial de recupera bilateral ativar circuitos compe titivos do
ção e restituição funcional de áreas lado não lesado (esquerdo). Nesse
lesadas. sentido, estratégias de reabilitação motora
que enfatizam a movimentação bilateral po frontais relacionados à manipulação da
dem ter um efeito negativo por ativar cir informação, facilitando o seu armazena
cuitos inibitórios que acentuam os efeitos mento e a sua evocação.
da heminegliência (Robertison e North, O processamento em bases mais au
1993). tomáticas, bottom up, facilita o processa
Os efeitos da lateralização hemisfé rica se mento em nível mais cognitivo, top -down.
somam àqueles dos diferentes cir cuitos e Estímulos relacionados ao processamento
módulos relacionados a algumas funções mais elementar incluem a realização de
neuropsicológicas como a memória. A movimentos repetitivos, a realização de
memória, como já é bem conhecido, tem estimulação sensorial estruturada, o treina
componentes bastante diferenciados anato mento de discriminação fonêmica e
micamente e não é uma habilidade única, acústica e a provisão de pistas externas
mas multidimensional. Pessoas com dificul que ajudem a manutenção da atenção.
dade de memória episódica para palavras Alguns trabalhos, por exemplo, referem
podem memorizar músicas inteiras que con que o processamen to em um nível mais
tenham as mesmas palavras que elas não elementar perceptual motor pode auxiliar
conseguiriam resgatar sem a música. um processamento hie rarquicamente
Indivíduos com dificuldade de memó superior, o que se convencio nou chamar
ria operacional podem ter memória a longo de processamento bottom up. No caso da
prazo totalmente intacta ou mesmo prodi estimulação motora, estímulos repetitivos
giosa. A memória emocional é a que está auxiliam a ativação de neurônios no lado
mais frequentemente preservada em todos lesado, facilitando a reconectivida de
os transtornos do neurodesenvolvimento e sináptica. A melhora da movimentação
após lesões cerebrais, dada sua pode ser mais vigorosa se é desencorajado
representa ção neurológica ampla e devido o uso do membro não afetado. No que se
à frequente preservação da amígdala nos refere a crianças com transtorno da leitura
vários trans tornos do desenvolvimento. e escrita, Tallal e Merzenich propõem que o
Outro aspecto da modularidade se reconhecimento fonêmico através de expo
refere às diferenças que nosso cérebro sição de fonemas em velocidade de exposi
anatomica e funcionalmente tem entre o ção rápida pode melhorar a capacidade de
66 Jacqueline Abrisqueta-Gomez & Cols. discriminação temporal, levando a uma me
lhora da automatização da leitura e da
escri ta. Segundo esses autores, essas
comportamento explícito consciente e o im estratégias bottom up levariam a uma
plícito automático. reorganização de
Transtornos relacionados a lesões ou
disfunções em áreas cerebrais
relacionadas às associativas cerebrais,
isto é, áreas poste riores e áreas pré circuitos neuronais envolvidos com a seg
-frontais podem se associar a uma mentação temporal e a discriminação.
preservação do “como” fazer. Assim, a Indivíduos que recebem treino em
prática da aprendizagem implícita motora processos básicos de atenção, como
e automática deve se associar à aprendiza vigilân cia e atenção seletiva, e processos
gem explícita baseada em conceitos. A de nível hierárquico maior, como atenção
ativi dade motora e automática pode pré dividida, apresentam melhor desempenho
-ativar circuitos cerebrais que podem do que os indivíduos que recebem
facilitar por ativação simultânea o informação apenas no nível superior,
processamento de informação para ser indicando que o treino de tarefas mais
armazenada durante movimentação elementares perceptuomotoras tem efeito
motora ou exercícios. Nesse sentido, a estabilizador e prepara o cérebro para o
ativação de áreas pré -motoras en volvidas processamento de funções mais com
com movimento pré -ativariam cir cuitos plexas.
se dá quando há comprometimento de uma
modalidade sensorial e outra modalida de
Princípio 5 – Singularidade aumenta sua sensibilidade se tornando
hiper -responsiva no sentido de possibilitar
O quinto princípio relacionado à seleção de uma adaptação mais eficiente (Collignon
estratégias para a reabilitação é o da sin et al., 2009; Mitchell e Maslin, 2007). Tal
gularidade. Mesmo transtornos comuns do compensação se dá pela intensa
neurodesenvolvimento apresentam cooperação e atividade compensatória
manifes tação diversa nos diferentes entre as várias áreas cerebrais
indivíduos, com diferentes modelos relacionadas às funções per ceptivas, à
familiares, de diferentes expectativas e, visão, à audição e ao tato. Assim, existe
portanto, as estratégias te rapêuticas uma verdadeira realocação funcio nal e
também devem ser modificadas de acordo topográfica do processamento táctil e
com o contexto e as expectativas auditivo, na ausência do estímulo visual
individuais ou mesmo de natureza cultural. em cegos. Tal deslocamento pode estar tra
Enquanto um comportamento hiperativo é duzindo o recrutamento, a manutenção e a
mais tolerado em populações de origem estabilização de circuitos córtico -corticais
latina, em orientais podem ter um impacto presentes no recém -nascido que são
disfuncional maior, dado a importância que, poste riormente eliminados durante o
por exemplo, a cultura oriental dá à autodis desenvol vimento sensorial normal. Em
ciplina e ao comportamento inibitório. A dis deficientes auditivos há melhor
lexia é mais valorizada na cultura desempenho em provas de detecção de
americana que europeia e transtornos estímulos visuais de direção e de
alimentares são muito mais comuns no movimento do que em indivíduos com
Ocidente do que no Oriente. audição normal. Tal sensibilidade é maior
O princípio de singularidade invoca para estímulos periféricos do que para estí
uma necessidade de reinterpretar e contex mulos centrais.
tualizar abordagens psicológicas, medica Esse fato é corroborado por estu dos
mentosas ou de reabilitação de acordo não com Ressonância Nuclear Magnética
só com o diagnóstico, mas com as Funcional (RNMf), os quais mostram que
condições associadas. Para tanto, é nos deficientes auditivos há maior conexão
preciso conhecer os diferentes estilos das áreas posteriores e parietais do
cognitivos dos pacien tes, seus modelos cérebro (Sadato et al., 2005). O efeito
explicativos individuais, culturais, sua movimento é, portanto, mais proeminente
resiliência – entendida como a capacidade que o efeito cor, uma vez que a cor
de enfrentar positivamente conflitos e envolve circuitos do córtex temporal
limitações –, modelos familiares, além da inferior, menos suscetíveis de plasticidade.
motivação e das expectativas diante do A aquisição de linguagem de sinais por
tratamento. indivíduos surdos leva a uma melhora não
só na capacidade de comuni
cação, mas no desempenho de
habilidades visuoconstrutivas, na
Princípio 6 – Reserva funcional capacidade de rotação mental de objetos
ou de percepção de obje tos em
O sexto princípio, que permeia a seleção apresentação não convencional (p.
de estratégias efetivas, se relaciona com a Reabilitação neuropsicológica 67
capa cidade de reserva funcional e de
adaptação que todo organismo vivo, e
particularmente o cérebro, tem, mesmo ex., de ponta -cabeça). Enquanto
diante de graves in sultos orgânicos e indivíduos normais têm preferência
psicológicos. hemisférica direi ta para o processamento
A compensação sensorial intermodal de movimentos e gestos, surdos com
linguagem de sinais apresentam lesões precoces em áreas temporais do he
preferência hemisférica esquer da para a misfério cerebral esquerdo transferem a
mesma atividade. Assim, o apren dizado linguagem, mesmo que parcialmente, para
da linguagem de sinais reorganiza o áreas homólogas à direita. Portanto,
cérebro para funções visuoconstrutivas e estraté gias compensatórias devem
motoras. Indivíduos com deficiência visual possibilitar esti mulações simétricas e
apresentam aumento da discriminação au assimétricas, tanto do
ditiva, principalmente se a fonte de estímu ponto de vista sensorial quanto motor. Os
los estiver perifericamente localizada. Na chamados savant muitas vezes são
privação de estímulos visuais ocorre uma pessoas com deficiência intelectual, com
alocação topográfica intensa dos grandes lesões hemisféricas do lado
processos auditivos (temporal) e táteis esquer do que apresentam uma extrema
(parietal) para as áreas originariamente vi habilidade pictórica, musical ou de
suais do cérebro. Estudos com Tomografia memória expressan do habilidades
com Emissão de Pósitrons (TEP) em defi compensatórias excepcionais como ilhas
cientes visuais, durante leitura em Braile, de genialidade particularmente ligadas às
mostram ativação metabólica cerebral em funções de áreas do hemisfério não
áreas occipitais, portanto não originalmen dominante. Tais compensações podem tam
te tácteis, mas visuais (Sadato et al., bém estar presentes em autistas (Dawson,
1998). Interessantes estudos em 2008). O comportamento hipersensível e a
biotecnologia mé dica têm sido realizados estimulação tátil, por exemplo, mediante
para a reconstrução e a transformação de contato com algumas roupas ou sons,
imagens bi e tridimen sionais em estímulos pode desencadear respostas emocionais
táteis que seriam pro cessadas pelos aberran tes que não respondem nem a
deficientes visuais enquanto uma técnicas com portamentais nem à
verdadeira visão somestésica. A medicação, mas, com a modificação do
possibilidade de ampliar a transpo sição estímulo como, por exem plo, trocando -se
intermodal mesmo em indivíduos sem uma blusa de lã por uma de algodão.
deficiência sensorial pode facilitar a reabi Compreender comportamentos
litação por favorecer as transposições sen hiperestésicos auxilia os profissionais de re
soriais. Por exemplo, o processamento tátil abilitação a fornecer aos pais e cuidadores
no reconhecimento de letras em crianças orientações mais adaptadas.
disléxicas pode favorecer as estratégias de O princípio da plasticidade nos ensi na
leitura; a estimulação musical em deficien também que não devemos subestimar
tes visuais pode auxiliar o desempenho em possibilidades e potencialidades, não dis
tarefas de localização de fontes sonoras, por apenas dos estímulos do simples para
especialmente em indivíduos com lesões o complexo, do concreto para o abstrato,
cerebrais posteriores; a música, com seu mas devemos também apostar em novas
processamento temporal e seus elementos possi bilidades e conformações, testando
emocionais de síntese, facilitaria o alguns desafios de maior grau de
processa mento de informação contextual, complexidade, mesmo que imaginemos
simbólica e motivacional em indivíduos impossíveis dentro do domínio cognitivo
com dificul dades de integração do indivíduo, uma vez que a compensação
multissensorial, déficits construtivos e de áreas cerebrais pode ser desarmônica
visuoespaciais e das funções executivas. e podemos nos surpreender com um
Outro mecanismo de plasticidade é a desempenho não esperado em uma área
compensação de área homóloga presente absolutamente oculta. Atingir a área do
principalmente nas crianças (Staudt, 2010; desenvolvimento proximal é proporcio nar
68 Jacqueline Abrisqueta-Gomez & Cols. experiências ricas de mediação. O ajuste
da medida funcional das necessidades per
ceptivas obviamente será obtido através da
Stiles, 2000; Joseph, 1982). Crianças com relação de acomodação, motivação, facilita
ção entre o complexo e o simples e o grau funcional, natural, da complementaridade
emoção, sensação corporal, pensamento
funcional, ação planejada e metacognição,
facilitando estratégias de enfrentamento
de satisfação do indivíduo com seu próprio (coping) mais positivas.
desempenho. Por outro lado, os chamados transtor
nos internalizados relacionados à excitabili

Princípio 7 –
Complementaridade
sensação‑emoção‑ação dade do pensamento, à ansiedade e às
fobias podem ser atenuados por técnicas
O sétimo princípio é o da complementarida corporais que facilitem uma disposição
de entre os fatores relacionados à física para o relaxamento motor e para a
sensação, à emoção e ao movimento. respiração cons
Quando imagi namos um movimento ciente, diminuindo a excitabilidade mental.
ativamos áreas moto ras do córtex e não Para finalizar, gostaríamos de ressaltar
apenas áreas sensoriais; quando que para melhor reabilitar não basta uma
cantamos silenciosamente uma música postura científica abrangente, se não conci
são ativadas áreas auditivas. Uma liarmos estratégias racionais com atitudes
sensação traz sempre uma resposta cooperativas que auxiliam os indivíduos
corporal e emocional acoplada, assim com lesões cerebrais a lidar com as diferen
como um mo vimento e um gesto podem ças de maneira o mais autônoma, criativa
modular nossa emoção de fundo, nosso e construtiva possível. Reabilitar, como
tônus afetivo e até mesmo podem pré todo desafio humano, é um desafio
-ativar e facilitar a memo rização. Portanto, múltiplo e tem várias faces nas nossas
quanto mais as técnicas de reabilitação diversas dimen sões do ser, do criar, do
integrarem as informações sensoriais e conviver, do apren der e do aprender a
motoras maiores também serão as aprender.
possibilidades de sucesso. A afirmação de
que atividades que disparam juntas se
conec tam (fire together, wire together)
referências
ressalta a importância de estimulação
multissensorial e simultânea para
estabelecer novos padrões de Anderson, V., Spencer-Smith, M., Leventer, R.,
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