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SUMÁRIO

1 O que é Neurociência? ............................................................................... 5

2 A EVOLUÇÃO DA NEUROCIÊNCIA E SEU CONTEXTO HISTÓRICO ... 12

2.1 Período Neolítico: ............................................................................... 14

2.2 Grécia: ................................................................................................ 15

2.3 Idade Média ........................................................................................ 16

2.4 Raio X:................................................................................................ 16

2.5 Tomografia Computadorizada: ........................................................... 17

2.6 Tomografia Computadorizada por Emissão de Pósitrons: ................. 18

2.7 Década do cérebro: ............................................................................ 18

2.8 Projeto Conectoma ............................................................................. 19

2.9 Paciente tem 75% de seu crânio substituído com impressão 3D em


operação pioneira .................................................................................................. 20

2.10 Da linguagem ao conectoma........................................................... 22

3 CONHECIMENTOS ACERCA DO ASSUNTO .......................................... 22

3.1 Neuroplasticidade ............................................................................... 22

3.2 A química age sobre seu organismo .................................................. 22

3.3 O que é sinestesia? ............................................................................ 28

3.4 Aprendizagem Automática ................................................................. 31

3.5 Epigenética......................................................................................... 34

3.6 Mas o que é um fenótipo herdável? ................................................... 36

3.7 Epigenética pode ser a chave para muitas doenças humanas .......... 36

3.8 Neurobiologia do cérebro ................................................................... 37

3.9 Altas habilidades e Biologia do Cérebro ............................................. 39

3.10 Características comuns de pensadores com altas habilidades (AH)


40

4 EVOLUÇÃO DO CÉREBRO E ALTAS HABILIDADES ............................. 40


2
4.1 O cérebro triádico ............................................................................... 40

4.2 O cérebro reptiliano ............................................................................ 41

4.3 O cérebro “felino” ............................................................................... 42

4.4 O neocortex ........................................................................................ 43

4.5 Evolução e psique .............................................................................. 44

4.6 Evolução da mente ............................................................................. 45

4.7 Eficiência na codificação de informação de entrada .......................... 46

4.8 Neuroplasticidade e “talentosidade” ................................................... 47

4.9 Crianças com altas habilidades e talentosas e a Neurocognição ....... 48

4.10 Perguntas motivadoras de pesquisa em altas habilidades ............. 49

5 PROPOSTA PARA CURRÍCULO PARA CRIANÇAS COM ALTAS


HABILIDADES........................................................................................................... 50

5.1 Neurociências e Educação ................................................................. 51

5.2 Neurociências, altas habilidades: implicações no currículo ................ 53

6 A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NA EDUCAÇÃO ........................ 53

6.1 Relação entre memória e aprendizagem............................................ 59

6.2 Sistema Nervoso Autônomo e Aprendizagem .................................... 60

6.3 Qual a relação desses sistemas em relação à aprendizagem? ......... 61

6.4 Neurociências: as novas rotas da educação ...................................... 62

6.5 Mas como entendemos Aprendizagem? ............................................ 62

6.6 Contribuições da Neurociência para a Formação de Professores ..... 67

7 FUNÇÃO E AS FINALIDADES DA NEUROCIÊNCIAS............................. 68

7.1 Um novo olhar educacional ................................................................ 72

8 HISTÓRICO DA NEUROCIÊNCIA COGNITIVA ....................................... 73

9 A APRENDIZAGEM COM O OLHAR DA NEUROCIÊNCIA ..................... 76

9.1 A neurociência sob novos olhares ...................................................... 78

10 INTERVENÇÕES NEUROEDUCACIONAIS ......................................... 80

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11 A NEUROEDUCAÇÃO E SUAS TRANSFORMAÇÕES ........................ 86

11.1 Neurociência, formação de professores e práticas pedagógicas .... 90

11.2 Vias neurais e aprendizagem .......................................................... 96

11.3 Abordagens da Neuroeducação...................................................... 96

11.4 Neurociência dos seis primeiros anos-implicações educacionais. .. 98

12 INTERATIVIDADE E DESENVOLVIMENTO PRECOCE DA MENTE. .. 99

13 PRODUÇÃO DE SINAPSES E EDUCAÇÃO INFANTIL ...................... 101

13.1 Períodos críticos e desenvolvimento do cérebro. .......................... 101

13.2 Desenvolvimento cognitivo da criança pré-escolar ....................... 103

13.3 Componentes fundamentais do cérebro ....................................... 103

13.4 Cognição e períodos críticos ......................................................... 104

13.5 Ambientes enriquecidos ................................................................ 105

13.6 Estimulação sensorial primordial e a regulação das funções corporais


106

13.7 Como o cérebro aprende? ............................................................ 106

14 Neurociência transformada em Educação ........................................... 107

14.1 Alfabetização em Neurociência. .................................................... 108

14.2 Crianças e Neurociência. .............................................................. 109

14.3 Aprendizagem e Educação ........................................................... 110

14.4 Neurociência cognitiva e Educação. ............................................. 111

14.5 Neurociência e prática educativa. ................................................. 112

14.6 O que é aprendizagem? (Na percepção da Neurociência) ........... 115

15 BIBLIOGRAFIA .................................................................................... 117

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1 O QUE É NEUROCIÊNCIA?

Fonte: www.agenda.unict.it

A Neurociência é a parte da ciência que descreve o estudo do sistema


nervoso central tais como suas estruturas, funções, mecanismos moleculares,
aspectos fisiológicos e compreender doenças do sistema nervoso. Essa, normalmente
é confundida com a Neurologia que, por sua vez, é uma área especializada da
medicina que se refere aos estudos das desordens e a doenças do sistema nervoso,
esta envolve o diagnóstico e tratamento dessas condições patológicas dos sistemas
nervoso central, periférico e autonômico.
Neurociência é a área que se ocupa em estudar o sistema nervoso, visando
desvendar seu funcionamento, estrutura, desenvolvimento e eventuais alterações que
sofra. Portanto, o objeto de estudo dessa ciência é complexo, sendo constituído por
três elementos: o cérebro, a medula espinhal e os nervos periféricos. Ele é
responsável por coordenar todas as atividades do nosso corpo, e é de extrema
importância para o seu funcionamento como um todo, tanto nas atividades voluntárias,
quanto as involuntárias.
A neurociência, normalmente é estudada por diversos profissionais de diversas
áreas e não somente por médicos neurologistas. Dentre os profissionais que se
interessam pela neurociência temos farmacêuticos, fisioterapeutas, enfermeiros,
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médicos, nutricionistas, biólogos, biomédicos e até mesmo engenheiros, pois a
capacitação nesta área pode elucidar as novas técnicas te arquitetura robótica
baseadas na neurociência.
Essa ciência pode ser dividida em cinco grandes grupos: a neurociência
molecular, celular, sistêmica, comportamental e cognitiva.

1. Neurociência molecular, neuroquímica ou neurobiologia molecular - ramo


da neurociência responsável pelo estudo de moléculas que têm importância
funcional e suas possíveis interações no sistema nervoso;
2. Neurociência celular, neurocitologia ou neurobiologia celular- esta área
estuda as células que compõem o sistema nervoso, suas estruturas e funções;
3. Neurociência sistêmica, neurofisiologia, neuro-histologia
ou neuroanatomia- Estuda as possíveis ligações entre os nervos
do cérebro (chamadas de vias) e diferentes regiões periféricas. São também
considerados os grupos celulares situados nestas vias;
4. Neurociência comportamental, psicobiologia ou psicofisiologia - estuda
as estruturas que estão relacionadas ao comportamento ou a fenômenos como
ansiedade, depressão, sono entre outros comportamentos;
5. Neurociência cognitiva ou Neuropsicologia - trata de todas as capacidades
mentais relacionadas a inteligência como a linguagem, memória,
autoconsciência, percepção, atenção, aprendizado entre outras.

Os estudos da neurociência estão divididos em campos específicos que


exploram as áreas do sistema nervoso e também podem ser divididos da forma
abaixo:
 Neurofisiologia: investiga as tarefas que cabem as diversas áreas do sistema
nervoso.
 Neuroanatomia: dedica-se a compreender a estrutura do sistema nervoso,
dividindo cérebro, a coluna vertebral e os nervos periféricos externos em partes
para nomeá-las e compreender as suas funções.
 Neuropsicologia: foca na interação entre os trabalhos dos nervos e as funções
psíquicas.

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 Neurociência comportamental: ligada à psicologia comportamental, é a área
que estuda o contato do organismo e os seus fatores internos, como
pensamentos e emoções, ao meio e aos comportamentos visíveis, como fala,
gestos e outros.
 Neurociência cognitiva: estudo voltado à capacidade cognitiva, em que estão
inclusos comportamentos ainda mais complexos, como memória e
aprendizado.

Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com

Nessa perspectiva, existem diversas neurociências, dependendo da condução


e objetivo que motivaram o estudo do sistema nervoso. Mas em todas essas áreas,
o cérebro é considerado em uma perspectiva unitária, já que todos os processos
mentais têm influências físicas e as questões físicas alteram o indivíduo a nível
emocional. Além disso, as pesquisas realizadas no ramo exploram mais de uma área
do conhecimento. Por esse motivo, essa ciência é considerada multidisciplinar,
reunindo diversas especialidades, como bioquímica, biomedicina, fisiologia,
farmacologia, estatística, física, engenharia, economia, linguística, entre outras que
objetivam investigar o comportamento, os mecanismos de aprendizado e a aquisição
de conhecimento humanos.

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São várias as finalidades das pesquisas na área da neurociência. Entre elas,
destaque para o entendimento de como nossas vivências são capazes de alterar o
cérebro e como interferem no seu desenvolvimento. Dessa forma, essa disciplina
abrange a inteligência, o raciocínio, a capacidade de sentir, de sonhar, comandar o
corpo, tomar decisões, fazer movimentos, entre outros.
Alguns setores específicos também se utilizam da neurociência, como é o caso
dos profissionais em engenharia médica, no desenvolvimento de equipamentos e
soluções a portadores de necessidades especiais. Da mesma forma, podemos citar
profissionais da informática que desenvolvem softwares, para viabilizar as atividades
de pessoas com algum tipo de limitação intelectual ou física.
Para compreender esse complexo mecanismo, os cientistas consideram a
forma como funcionam os processos a nível cognitivo, principalmente no que se refere
à decodificação e transmissão de informação realizadas pelos neurônios, bem como
suas respectivas funções e comportamentos.
Durante as últimas décadas, com o avanço de equipamentos que permitem
mapear o cérebro com maior riqueza de detalhes, os estudos médico-científicos
tiveram um aumento significativo procurando entender com maior clareza de que
forma a atividade cerebral influi no nosso comportamento.
Dentro desta análise pode-se dizer que a Neurociência procura estudar as
variações entre o comportamento e a atividade cerebral. Porém trata-se de um campo
interdisciplinar que abrange várias outras “disciplinas’: - neuroanatomia,
neurofisiologia, neuroquímica, neuroimagem, genética, neurologia, psicologia,
psiquiatria, pedagogia.
Todas essas ciências reunidas formam a Neurociência e juntas procuram
investigar o sistema nervoso procurando entender como ele se desenvolve, como ele
é parecido ou diferente entre indivíduos e entre espécies ou como ele deixa de
funcionar. As Neurociências nos revelam como o cérebro produz nosso
comportamento, porque nos emocionamos, porque precisamos comer, dormir, de que
forma tomamos decisões, enfim como somos e o que somos.
Através das Neurociências procura-se perceber a individualidade de cada um,
e a partir disso, entender como as lesões no cérebro interferem no modo de ser dos
indivíduos. Através dos estudos de Luria, que durante a Segunda Guerra Mundial,
desenvolveu um estudo de indivíduos portadores de lesão cerebral, no qual catalogou

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cada paciente, mapeou as respectivas lesões cerebrais e anotou as alterações no
comportamento, tendo como objetivo específico o estudo das bases neurológicas do
comportamento, ocorreram mudanças significativas no experimento médico-cientifico,
modificando muito dos tratamentos que era ofertado aos pacientes com lesões
cerebrais, pois durante vários anos as doenças mentais eram incompreendidas e
vistas numa dimensão mais psicológica:

Fonte: www.disc.com.br

No período de 1940-1970, muitos psicanalistas americanos começaram a


afirmar que todas as doenças mentais, incluindo a esquizofrenia e as doenças
maníaco-depressivas, eram causadas por conflitos psicológicos que podiam ser
amenizados por meio da psicoterapia psicanalítica.Com frequência os pais, e
principalmente as mães, eram acusados pelos transtornos mentais dos seus filhos.
Era particularmente cruel o conceito da “mãe esquizofrenogênica”, que propunha que
a esquizofrenia era causada devido a mãe rejeitar a criança de forma inconsciente,
embora parecesse amá-la. Em uma série de livros bastante divulgados, Bruno
Bettelheim teorizava que o transtorno autista era causado pela rejeição parental e que
somente a “parentectomia” (isto é, retirar a criança do lar) poderia levar à cura.
Aqueles que defendiam o conceito de que as doenças mentais têm causas
estritamente “ambientais” ou “psicológicas” sentem com frequência que estão em um
patamar moral superior – defendendo o paciente contra uma teoria biológica
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determinista. Em geral não conseguem ver que as suas próprias teorias da doença
mental, na ausência de provas, culpam os pais e as famílias pelo problema de uma
criança e, assim, causam dor e sofrimento enormes. Isso seria o equivalente a negar
a natureza biológica do câncer e dizer aos pais de uma criança com leucemia que foi
o fracasso deles em ter um relacionamento amoroso com ela que levou
à doença. (PLISZKA, 2004, p. 13-14)
Na atualidade, estudos significativos já proporcionaram mudanças no
tratamento de pacientes com necessidades educativas especiais. Indivíduos que
antes eram retiradas do convívio de seus familiares, uma vez que se acreditavam que
estes não teriam condições de reabilitação, hoje, através da Neurociência, sabe-se
que existe a plasticidade cerebral e que a mesma necessita de muito estímulo
daqueles que estão próximos a estes indivíduos.
Temos que ter base neuro-científica para que possamos inferir nos estados
mentais e nas intenções das outras pessoas. Em especial, inferir o que a outra pessoa
acredita ser correto, estar occorrendo ou o que deverá estar pensando em fazer.
Segundo Bear (2008) ainda temos muito pouco conhecimento neuro-científico, mas a
base de tudo é essa busca, esse entendimento, esse comprometimento com a
melhora de outros,
O desenvolvimento atual das Neurociências é verdadeiramente fascinante e
gera grandes esperanças de que, em breve, tenhamos novos tratamentos para uma
grande gama de distúrbios do sistema nervoso, que debilitam e incapacitam milhões
de pessoas todos os anos. [...] Apesar dos progressos durante a última década e
os séculos que a precederam, ainda existe um longo caminho a percorrer antes que
possamos compreender completamente como o encéfalo realiza suas
impressionantes façanhas. Entretanto, essa é a graça em ser um
neurocientista: nossa ignorância acerca da função cerebral é tão vasta que
descobertas excitantes nos esperam a qualquer momento. (BEAR, 2008, p. 21)
Como deu para você perceber, a neurociência é um campo de pesquisa de
extrema complexidade e está sempre em pauta, em evolução, por se tratar do sistema
nervoso e suas implicações na vida de uma pessoa.
A neurociência abrange muitas áreas do conhecimento, a partir do momento
em que o cérebro se torna o foco em comum de todas as neurociências; e como tudo

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em nossa vida se relaciona ao cérebro, essa multidisciplinaridade é plenamente
justificável.

Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com

Os estudos da neurociência são contínuos e podem revelar alguma descoberta


para pesquisadores que desenvolvem máquinas, equipamentos e até mesmo chips
para auxiliar algum indivíduo que seja portador de uma limitação física, para citar
apenas um exemplo dentre vários.
Há estudiosos também que estudam as funções que o sistema nervoso
representa para as atitudes mais básicas do ser humano, como fazer um simples
movimento.
A neurociência estuda aquilo que é considerado objeto de maior complexidade
no universo – o cérebro.
Compreender o cérebro e como funciona o sistema nervoso pode, à partida,
parecer relativamente fácil. Mas não o é. Perceber e estudar os mecanismos
presentes na regulação do cérebro tem sido das temáticas, senão a temática, mais
complicada que a humanidade já experimentou.
A neurociência encerra em si várias disciplinas de diferentes áreas tais como
bioquímica, fisiologia (anatomia e mecânica das células nervosas), farmacologia,
patologia, psicologia (que enveredou pelo difícil caminho do comportamento humano),
física, estatística e medicina. E apesar de ser estudado por áreas tão diferentes, como

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a fisiologia e psicologia, o cérebro é visto de uma perspectiva unitária pois influencia
ao mesmo tempo ambos os aspectos: as doenças mentais têm as suas
consequências físicas e as doenças físicas provocam alterações a nível emocional no
indivíduo.
A neurociência procura estudar de que forma, por exemplo, as nossas vivências
e experiências e a idade, modificam os circuitos neurais e interferem no
desenvolvimento mental. A inteligência, o raciocínio, a capacidade de sentir, a
capacidade de sonhar, a capacidade de tomada de decisões, a capacidade de
comandar o corpo e literalmente todo e qualquer movimento, são aspectos
intrinsecamente ligados à disciplina e que há muito os neurocientistas tentam decifrar.
De forma a compreender o complexo mecanismo que está por detrás de cada
ser humano, cientistas têm estudado ao pormenor todos os detalhes anatómicos e
fisiológicos do sistema nervoso, tentando desta forma evoluir no sentido de perceber
que mecanismos nos regem e de que forma o fazem, ansiando encontrar respostas
para tão difícil tarefa. Neurocientistas trabalham deste modo com o objetivo de
compreender o cérebro humano, a sua estrutura, o seu funcionamento, o seu
comportamento, a sua evolução e a tradução de todas as suas características e
modificações no comportamento do indivíduo, passando por um aspecto de inexorável
importância e delicadeza: a investigação de doenças neurológicas e distúrbios
mentais e a procura do respectivo tratamento e cura.
Para percebermos como trabalha o cérebro é necessário compreender de que
modo funcionam os processos a nível cognitivo, dentro dos circuitos neurais do
sistema nervoso. É importante identificar funções, atividades e comportamentos,
descodificar a linguagem dos neurónios na comunicação entre circuitos e
compreender de que forma se transmite informações entre estes (sinapses).

2 A EVOLUÇÃO DA NEUROCIÊNCIA E SEU CONTEXTO HISTÓRICO

Estudar o sistema nervoso pode parecer relativamente fácil, mas não é. O


entendimento sobre o funcionamento dos mecanismos de regulação desse órgão tem
sido um dos maiores desafios da humanidade desde a Antiguidade. O termo
Neurociência surgiu recentemente, em 1970, mas os estudos do cérebro humano são
de muitos anos atrás, datam desde a filosofia grega, antes de Cristo. Isso se deve ao

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fato de que esse é o órgão mais complexo do corpo humano, constituído por milhares
de células.
Os filósofos da Grécia desenvolveram teorias sobre o cérebro através de
simples observações, já os romanos iniciaram seus estudos dissecando animais. No
século XVIII, levado pelo Iluminismo, surgiram os estudos mais aprofundados do
sistema nervoso.
A teoria da evolução de Charles Darwin também contribuiu significativamente
para o entendimento da estrutura e funcionamento cerebrais. Mas foi o surgimento de
tecnologias como Raio X e tomografias computadorizadas que otimizou as pesquisas
na área e inaugurou efetivamente a Neurociência.
Atualmente, a cibernética também tem oferecido contribuições para essa
disciplina, principalmente por meio da neurociência computacional. O seu principal
objetivo é compreender e imitar o funcionamento do sistema nervoso para o
desenvolvimento de máquinas que auxiliem o ser humano em diversos campos.
Como todas as grandes áreas a neurociência teve grandes cientistas que
mudaram o rumo da humanidade e da medicina com suas descobertas dentre eles os
que receberam premiação Nobel em fisiologia ou medicina;
1906 - Golgi recebeu premiação por estudos sobre a estrutura do sistema
nervoso, esse foi dividido com Ramón y Cajal que também propôs a maneira pela qual
os axônios crescem e que as células neurais poderiam estar envolvidas na detecção
de sinais químicos.
Outro ganhador do Nobel foi Charles Scott Sherrington que explicou sobre o
arco reflexo e flexão-extensão dos músculos ao provar que a excitação de um grupo
muscular era inversamente proporcional a do grupo muscular oposto.
Em 1952 Alan Hodkin publicou sua teoria e de Andrew Huxley baseada no
potencial de ação dos nervos, onde os impulsos elétricos enviados pelas células
nervosas eram capazes de controlar a atividade do organismo e em 1963 recebeu o
Nobel com Huxley e John Eccles por sua descrição sobre as sinapses, e ainda
sugeriram a hipótese de canais iônicos que foi confirmada anos depois.
Dentre os neurocientistas atuais ganhadores do Nobel estão; Kandel,
Greengard e Carlsson ganhadores do prêmio de 2000 revelando os aspectos
essenciais no processo de formação de memória.

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Fonte: www.grupokronberg.com.br

Dentre os brasileiros que trabalham com neurociências temos Miguel Nicolelis


nomeado em 2009 um dos mais influentes brasileiros, foi também o primeiro cientista
brasileiro a receber a premiação dos Institutos Nacionais de Saúdes Estadunidenses.
Nicolelis foi um dos idealizadores do projeto exoesqueleto que fez com que um
portador de necessidades especiais pudesse dar o chute inicial na Copa de 2014 no
Brasil.
A Neurociência é um campo novo, entretanto, possui influências de longas
datas históricas; pautada em estudos científicos e não científicos que são descritas
desde a filosofia grega até os modernos exames de imagens atuais. Perguntas tais
como: "onde está a mente?" e "como a mente interage com o corpo" deram vazão a
muitas pesquisas que constituíram alicerces importantes do que hoje se entende por
neurociência, entre os quais podem ser destacados os seguintes fatos:

2.1 Período Neolítico:

Trepanações cerebrais para expulsar os demônios do corpo. Era utilizado um


trépano (uma ferramenta de pedra) para cortar fora uma seção do crânio da pessoa,
supostamente para fazer sair do corpo os espíritos malignos que causavam
transtorno.

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Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com

2.2 Grécia:

Surgem as perguntas mais sistematizadas sobre onde está a mente e como ela
interage com o corpo.
Demócrito (460 – 370 AC) e Hipócrates sugerem que a mente está no cérebro
e que os nervos são ocos. Essas intuições filosóficas foram baseadas na
instrumentação clínica, pois à época, não se dissecava os cadáveres.
- Hipócrates (460 – 379 AC) acreditava que o cérebro estava envolvido com as
sensações e que era a sede da inteligência.
- Aristóteles (384 – 322 AC) propôs que o coração era a sede da inteligência e
o cérebro, uma espécie de radiador responsável pelo resfriamento do sangue. Pelo
coração ter alterações durante eventos emocionais, só podia ser nele a origem da
mente. Ele tinha essa ideia por observação, pois uma pessoa com uma emoção forte
fica com o coração acelerado, por exemplo. Disso ele fez a associação inversa de
causa e efeito. Essa constatação Aristotélica tem heranças até hoje. Por exemplo,
quando falamos que decoramos um texto de cor, significa que decoramos o texto de
coração, situando a memória também no coração e não no cérebro.

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2.3 Idade Média

Fonte: tutores.com.br

Galeno pela primeira vez refuta o que diz Aristóteles a partir da dissecação de
animais. Na época, o animal que ele tinha como escolha era o Boi.
Galeno (130 - 200 DC) aceitou as ideias de Hipócrates - Sugeriu que o cérebro
fosse responsável pelas sensações e o cerebelo pelo controle dos músculos;
Galeno associou a imaginação, a inteligência e a memória com a substância
cerebral, atribuindo ao cérebro o papel fundamental de sede de todas as faculdades
mentais.

2.4 Raio X:

Poucos acontecimentos na história da ciência provocaram impacto tão forte


quanto a descoberta dos raios X, por Wilhelm Konrad Roentgen, professor de física
na Universidade de Würzburg. A 22 de dezembro de 1895, Roentgen obteve a
primeira chapa radiográfica da história: a mão de sua mulher.

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Fonte: ined21.com

2.5 Tomografia Computadorizada:

Em 1972, a primeira máquina de tomografia é criada, que é um método de


imagem que utiliza raios-x para captação de imagens de estruturas crânio-encefálicas.
Em vários congressos, a palavra Neurociência começa a surgir.

Fonte: i2.wp.com/www.ineditacursos.com.br

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2.6 Tomografia Computadorizada por Emissão de Pósitrons:

Em 1973, o primeiro PET, porém, devido ao alto preço, seu uso ficou limitado
até 1990. Também conhecida pela sigla PET, é um exame imagiológico da medicina
nuclear que utiliza radionuclídeos que emitem um positrão no momento da sua
desintegração, o qual é detectado para formar as imagens do exame. A PET é um
método de obter imagens que informam acerca do estado funcional dos órgãos e não
tanto do seu estado morfológico como as técnicas da radiologia propriamente dita. A
PET pode gerar imagens em 3D ou imagens de "fatia" semelhantes à tomografia
computorizada.

2.7 Década do cérebro:

Fonte: fundacaotelefonica.org.br

Em 1990, Bush declara que estamos, oficialmente, na década do cérebro. A


partir daí vários projetos de pesquisa iniciaram-se com o objetivo de mapear o cérebro,
pois a pesquisa e o interesse em neurociências tem crescido em resposta à
necessidade de, não somente entender os processos neuropsicobiológicos normais,
mas também ajudar àqueles que sofrem de distúrbios neurológicos.

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2.8 Projeto Conectoma

Fonte: nucleo-ppa.com.br

Termo criado em 2005, por Olaf Sporns, professor da Universidade de Indiana


– USA. Trata-se das pesquisas científicas realizadas na tentativa de se mapear a rede
neural (o conjunto das ligações entre os neurônios) do cérebro.
A Neurociência busca compreender o funcionamento do sistema nervoso,
integrando suas diversas funções (movimento, sensação, emoção, pensamento etc).
Compreender como o sistema nervoso - e em particular o córtex cerebral –
funciona é um importante passo para aperfeiçoarmos suas diversas funções,
intervindo de forma eficaz no processo de aprendizagem.
Em 1986, um grupo de pesquisadores liderado pelo americano John White
concluiu o mapeamento do sistema nervoso de um verme, o C. Elegans. Em 2005, o
neurocientista alemão Olaf Sporns foi o primeiro a usar o termo conectoma para se
referir ao mapa das conexões neurais no cérebro.

Fonte: imageproxy-observadorontime.netdna-ssl.com

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2.9 Paciente tem 75% de seu crânio substituído com impressão 3D em
operação pioneira

Fonte: www.revide.com.br

Através do aprimoramento da tecnologia novas possibilidades vêm sendo


apresentadas. No mês de fevereiro, muitos sites divulgaram a imagem de uma orelha
impressa em 3D, a qual seria utilizada para implantes em humanos. Porém, no início
desta semana, um homem (cuja identidade permanece anônima) foi submetido a uma
cirurgia de crânio, sendo que 75% foi substituído por um implante 3D. (A imagem é
apenas um modelo do que é um implante 3D no crânio).
Tal como acontece com toda a impressão em 3D, o processo começa com uma
verificação digital para usar como um modelo. Neste caso, que seria uma tomografia
computadorizada ou ressonância magnética do crânio do paciente. Em seguida, a
impressora faz uma nova versão do crânio e também adiciona detalhes sobre a
superfície e as bordas do implante para estimular o crescimento celular, pois isto
também pode ajudar a prender o osso existente no implante com maior facilidade.
Os doentes que sofreram de alguma doença ou traumatismo craniano iriam se
beneficiar desta tecnologia, assim como aqueles com o tecido ósseo canceroso no
crânio. E ao contrário de implantes existentes, feitos de materiais como o titânio, os
implantes de plástico são leves, não corrosivos e não detonam no detector de metais
de aeroportos.
O conjunto das ligações entre os neurônios é chamado de conectoma.
Conhecê-lo é fundamental porque a genética, sozinha, não basta para definir as
características do cérebro de uma pessoa. Os genes não gravam as memórias
adquiridas ao longo de uma vida. Um tombo de bicicleta, o primeiro beijo ou o
aprendizado de um segundo idioma não deixam sua assinatura na molécula de DNA.
A maior parte do que se conhece sobre o funcionamento do cérebro provém de
estudos de danos causados por lesões e tumores. O diagnóstico em saúde mental
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mudou muito nos últimos 100 anos, mas quando ganharem acesso à gramática do
conectoma, os cientistas poderão visualizar a doença mental e trata-la corrigindo as
alterações que ela provoca no cérebro.
O Projeto Conectoma Humano, liderado por pesquisadores americanos, utiliza
o que há de mais avançado em imagens do cérebro para identificar o caminho
provável da comunicação entre os neurônios.
- A pesquisa é feita com a reconstrução tridimensional da posição das fibras a
partir da movimentação das moléculas de água, captada com aparelhos de
ressonância magnética.
- Essa movimentação da água no tecido cerebral indica a direção das fibras,
que são identificadas por um padrão de cores na representação feita em computador
chamada de tractografia.
- Cada uma das fibras coloridas reúne milhares de axônios, os prolongamentos
dos neurônios.
As imagens demonstram que as vias neurais na substância branca (parte do
cérebro que conecta os axônios) são organizadas como ruas de uma cidade planeada,
e não um emaranhado caótico como um prato de macarrão, como se acreditava.

TONS DE VERMELHO
DIREÇÃO: da esquerda para a direita
O vermelho-escuro mostra as fibras mais associadas ao corpo caloso, que liga
os dois hemisférios cerebrais.

TONS DE VERDE
DIREÇÃO: da frente para trás
O verde-limão representa as fibras que conectam os olhos ao córtex cerebral

TONS DE AZUL
DIREÇÃO: do topo do cérebro para a medula espinhal
O azul-escuro representa, grosso modo, as fibras que vão do córtex até a
medula.

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2.10 Da linguagem ao conectoma

As principais descobertas da neurociência moderna

Fonte: blog.cienciasecognicao.org

3 CONHECIMENTOS ACERCA DO ASSUNTO

3.1 Neuroplasticidade

O caso relato a história de uma garota onde o hemisfério cerebral esquerdo não
se desenvolveu então, o direito assumiu todas as funções. Segundo Cosenza, o
cérebro que se desenvolveu de forma diferente por fatores genéticos ou que sofreu
modificações devido a condições da gestação apresentará comportamentos
diferentes e necessitará de estratégias pedagógicas distintas durante a
aprendizagem. Enfim, há necessidade do investimento em muitos estímulos para que
ocorra a neuroplasticidade.

3.2 A química age sobre seu organismo

Cada sentimento está conectado com uma ou mais substâncias químicas e


conforme os estímulos aumentamos ou diminuímos a produção deles. Caso você
esteja apaixonada, os 3 (serotonina, dopamina e oxitocina) estarão circulando mais
fortemente no seu sangue. Se estiver amamentando, ocorre maior produção da
oxitocina. E assim por diante.

22
A endorfina (endo=interno e morfina=analgésico) famosa por ser liberada após
grande esforço físico, é um neurotransmissor – que auxilia a comunicação no sistema
nervoso. Quando estimulada gera uma grande sensação de bem-estar.

Fonte: abrilvip.files.wordpress.com

NEUROLINGUÍSTICA

O médico francês Paul Broca (1824-1880) descobriu que a área do cérebro


responsável pela fala fica no hemisfério esquerdo.
O alemão Carl Wernicke (1848-1905) desvendou o efeito que lesões numa
região à frente do giro temporal superior têm na compreensão das informações da
fala.

DISTRIBUIÇÃO DE FUNÇÕES

O Neurofisiologista inglês Charles Sherrington (1857-1952) estudou a ligação


entre o cérebro e a medula espinhal. A partir disso, descobriu a natureza distributiva
do cérebro e a sua capacidade de fazer o corpo inteiro funcionar simultaneamente.

23
Fonte: encrypted-tbn0.gstatic.com

CONSCIÊNCIA

O neurocientista português António Damásio estudou o papel do lobo frontal na


tomada de decisões. O biólogo molecular inglês Francis Crick (1916-2004), um dos
descobridores da estrutura do DNA, teorizou que apenas uma parte dos neurônios do
cérebro seria responsável pela consciência e que talvez ela não seja inata.

MEMÓRIA

O filósofo americano Erick Kandel elucidou os sistemas químicos da memória


de longo prazo.

Fonte: www.cloudcoaching.com.br
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PLASTICIDADE

O americano Michael M. Merzenich foi pioneiro na pesquisa da plasticidade, ao


identificar, que em algumas situações, uma região do cérebro pode assumir as
funções antes desempenhada por outra área.

RESSONÂNCIA

O japonês Seiji Ogawa aplicou a tecnologia da ressonância nuclear magnética


funcional para visualizar como as regiões do cérebro são ativadas por estímulos
internos e externos.

Fonte: agenciagdm.com.br

Pesquisadores descobriram que a região do cérebro excitada quando alguém


fala de si mesmo é a mesma ativada por comida e sexo

Dor fantasma

A neurociência teria como explicar como pode um membro ausente trazer tanta
dor?

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Fonte: www.innovia.com.br

Você já ouviu falar sobre membro fantasma? Existem relatos desde o século
XVI, deste fenômeno, trata-se da percepção continuada que algumas pessoas têm de
seus membros que foram amputados. Embora estes membros não estejam mais
ligados ao corpo, parecem que ainda estão. Por exemplo, alguém pode perder um
braço, perna, pé, seio, mão, dedos e até órgãos internos e continuar a senti-lo. Às
vezes, além de ter a sensação da existência deste membro, a pessoa ainda sente
dores mesmo que ele não existe mais! Possivelmente o cérebro não processou a
perda dele, e continua vendo-o como uma realidade existente.
Depois de uma amputação, alguns pacientes podem ainda sentir o membro
ausente como uma sensação fantasma (formigamento, quente ou frio, dormência ...)
ou dor fantasma (facada, tiro, ardor, dores ...), sendo que no caso da dor, ocorre em
50 a 80% das pessoas amputadas. Estes sentimentos são na sua maioria transitória,
mas pode ser torturante. Essa dor é difícil de controlar, mas pode diminuir com o
tempo, entretanto, ela pode comprometer a vida de uma pessoa tanto física como
psicossocial.
Dor fantasma é neuropática: é uma dor crônica resultante de lesão no sistema
nervoso. Como tal, é muito difícil de tratar. Ela representa um verdadeiro desafio
médico, pois cada paciente deve ser analisando individualmente. Lent (2009) enfatiza
que “suas manifestações podem variar desde um calor prazeroso até uma intensa
coceira que não tem solução... porque não há o que coçar. ” Por exemplo, na
ausência de nervos periféricos, alguns sinais de dor não são inibidos e, portanto, são
continuamente transmitidas ao cérebro através dos neurónios da espinal medula.
Além disso, a nível cerebral, vários estudos, foram realizados pelo médico Vilayanur

26
Ramachandran e mostraram que numa amputação as áreas cerebrais ativadas eram
as que anteriormente representavam o membro ausente. Ramachandran e seus
colaboradores constataram que a amputação não fez desaparecer as áreas cerebrais
correspondentes, mas que essas áreas passaram a receber informação de outras
partes do corpo. Pois nosso cérebro é cheio de mapas de localizações.
Para testar sua teoria, Ramachandran criou uma "caixa espelho" - um aparato
que cria a ilusão visual de duas mãos para pessoas que na realidade só têm uma.
Colocando os braços do amputado nos dois lados de um espelho - com o membro
amputado ficando no lado não reflexivo da caixa - o paciente vê o reflexo de sua mão
normal superposta no local onde deveria estar sua mão que não existe.
Os voluntários viram sua mão normal sendo espetada e relataram uma
sensação real de que a mão faltante estava sendo espetada. Em outro experimento,
quando eles viram a mão de outra pessoa sendo tocada, eles começaram a
experimentar a sensação de toque em sua mão faltante.
Ramachandran afirma haver uma espécie de “plasticidade neuronal”,
“plasticidade cortical” ou ainda “plasticidade neural” no cérebro, de modo que este
pode se readaptar às mudanças sofridas pela imagem do próprio corpo, dado a
maleabilidade que o cérebro possui em se reorganizar. Essa tese é defendida por
outros autores, os quais afirmam que a representação cortical do membro sofre
alteração após a amputação de modo que o cérebro aprende a lidar com a nova
imagem do corpo devido a uma reorganização da rede neuronal.
Quando alguém perde uma perna, uma mão ou um braço, as mensagens do
córtex motor na parte frontal do cérebro continuam a enviar sinais para os músculos
do membro ausente. Posteriormente, uma parte do cérebro que controla os
movimentos “não sabe” que o membro se foi. Muito provavelmente esses comandos
do movimento são simultaneamente monitorados pelos lobos parietais que afetam a
imagem do corpo. Em pessoas normais, mensagens do lobo frontal são enviadas em
conjunto ou através do cerebelo para o lobo parietal, que monitora os comandos e
simultaneamente recebem o feedback do membro sobre a sua posição e velocidade
do movimento. No caso do membro ausente, não há feedback do membro fantasma,
é claro, mas a monitoração dos comandos motores pode continuar a ocorrer no lobo
parietal, e assim o paciente tem a vívida sensação de movimento do membro fantasma
(Ramachandran).

27
É importante que se diga que o cérebro demora a reconhecer que houve a
perda de uma parte do corpo, e na tentativa de se readaptar, passa a organizar uma
nova imagem corporal (Ramachandran)

3.3 O que é sinestesia?

O cinema nos convence de que o diálogo vem da boca dos atores em vez dos
alto-falantes espalhados pela sala. Na dança, os ritmos do corpo imitam ritmos
sonoros cineticamente e visualmente, parecendo ser uma só coisa...
Conforme o filósofo David Chalmers, dentro da neurociência o estudo do
cérebro tem ajudado a superar alguns estigmas que nos foram apresentados por mais
de séculos. No decorrer da história existem diversas situações em que pessoas não
tinham explicações para fatos ocorridos com elas.
Um exemplo típico disso seria o caso dos sinestetas. Já ouviu falar?
Dê uma olhada na imagem... consegue encontrar algum triângulo nela?

Fonte: www.icb.ufrj.br

Agora olhe novamente, porém observe à direita a maneira que os sinestetas


visualizariam esta imagem...

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Fonte: www.icb.ufrj.br

Os números "2" formam o triângulo

Sinestesia é uma condição na qual um sentido (por exemplo, da audição) é


simultaneamente percebido como se por um ou mais sentidos complementares, tais
como visão. Outra forma de sinestesia junta objetos como letras, formas, números ou
nomes de pessoas com uma percepção sensorial, tais como cor, cheiro ou sabor. A
palavra sinestesia vem de duas palavras gregas, syn (junto) e aisthesis (percepção).
Portanto, a sinestesia, literalmente, significa "percepções unidas."
Por exemplo, se pensarmos na palavra banana, o mais comum é lembrarmos
da imagem da banana, sinestetas podem além da imagem da banana, ver a palavra
banana escrita na cor amarela, projetada à frente de seus olhos, podem sentir o gosto
da banana, o cheiro da banana, tudo isso em frações de segundos.

Fonte: www.geekonomics.com.br

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Também é comum perceberem o alfabeto e os números com cores
diferenciadas, sendo que no caso da banana, a escrita também poderia aparecer para
eles desta forma...

Fonte: centrosuzukiindaiatuba.com

A sinestesia pode envolver qualquer um dos sentidos. Há sinestetas que ouvem


sons em resposta a cheiro, cheiro em resposta ao toque, ou que sentem algo em
resposta a visão. Há algumas pessoas que possuem a sinestesia que envolve três ou
até mais sentidos, mas isso é extremamente raro. Segundo Grossenbacker, a visão
de um sinesteta normalmente são percebidas fora do corpo. “As cores e os
movimentos se formam em uma espécie de tela virtual, localizada a cerca de meio
metro de distância dos olhos”
Percepções sinestésicas são específicas em cada pessoa. Diferentes pessoas
com sinestesia quase sempre discordam em suas percepções.
Segundo o neurologista Richard Cytowic, longe de ser raro, a sinestesia é
comum – um em cada 23 indivíduos tem algum tipo de sinestesia. Mentes que
funcionam de maneira diferente não são tão estranhas assim. Por exemplo, muitos
artistas, poetas e romancistas têm a capacidade de vincular ideias aparentemente não
relacionadas entre si, como se fosse uma metáfora.
Para Herculano-Houzel existem alguns tópicos importantes em relação a
sinestesia:

1) sinestesia não é doença (pois não diminui a qualidade de vida), e sim uma
variação da maneira como o cérebro processa sinais dos sentidos;

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2) a sinestesia é herdada geneticamente, e, portanto, muito mais comum em
famílias que já têm um ou mais sinestetas;
3) não tem tratamento (e por que teria, ou por que deveria ter, se é apenas uma
maneira de processar estímulos? O que percebemos como sons, afinal, não são uma
propriedade do estímulo que chega às orelhas, e sim de como o cérebro processa
esse estímulo);
4) não é simples associação, memória, nem "modo de dizer", como algumas
pessoas acham um som "macio" ou um aroma "pungente": é a capacidade que
algumas pessoas têm de processar um estímulo como se fosse - SEMPRE - dois ou
mais ao mesmo tempo.
A quantidade de progressos em relação às pesquisas sobre sinestesia nos
últimos anos tem aumentado. O futuro está repleto de possibilidades para mais
descobertas. A revelação de algumas pessoas famosas que ditas sinestésicas, tais
como os cientistas Nikola Tesla e Richard Feynman e a aceitação desta condição por
parte da ciência, abrem caminho para que mais pessoas venham a falar sobre isso e
talvez algumas se descubram sinestésicas e venham contribuir para pesquisas
relacionadas a este enfoque.

3.4 Aprendizagem Automática

Download de aulas para o cérebro pode soar como ficção científica, mas,
segundo alguns pesquisadores, a tecnologia que ativa padrões neurais em breve
poderá nos ajudar e a prática poderá ser adquirida durante o sono.

Fonte: www.psicocast.com.br
31
Em uma cena bem conhecido da Matrix, Neo (interpretado por Keanu Reeves)
encontra-se na cadeira de uma dentista, coberto com tiras de alta tecnologia sobre
uma variedade de eletrodos, então, “baixa” uma série de programas de treinamento
de artes marciais em seu cérebro. A informação é transferida através do córtex visual.
Depois, ele pisca os olhos e fala: "Sei kung fu!"
A “aprendizagem automática” é um sonho antigo da subcultura Cyberpunk (A
palavra “Cyberpunk” vem, não surpreendentemente, de uma junção dos termos
“cibernética” e “punk”), e a maioria das pessoas pensava que permaneceriam neste
reino ficcional por mais algum longo tempo. No entanto, graças a pesquisas recentes,
aquilo que tinha sido considerado “ficção científica” em breve pode tornar-se um “fato
na ciência”. Uma pesquisa recente da Universidade Brown, nos EUA, liderada pelo
neurocientista Takeo Watanabe, está demonstrando que a ficção científica pode se
tornar fato científico. Suas descobertas revelam que é possível atingir os padrões de
ondas cerebrais de especialistas como atletas e músicos, e depois para induzir esses
padrões no cérebro de um sujeito passivo, através de estímulos visuais. O resultado:
os participantes melhoraram o desempenho de uma tarefa.
"Visualmente, os adultos, possuem muita plasticidade para permitir a
aprendizagem da percepção visual", disse o pesquisador.
Para entender o avanço de Watanabe, é preciso conhecer um pouco sobre o
sistema visual. Vinte anos atrás, o neurobiólogo israelense Dov Sagi descobriu que
com treinamento intensivo em determinadas tarefas visuais, tais como orientação de
destino (a capacidade de olhar para um ponto na parede, olhar para longe, em
seguida, olhar para trás, local exato do ponto de), pessoas muito mais velhas podem
melhorar seu desempenho nessas tarefas. O "aprendizado perceptual" estudado por
Sagi, em 1994 derrubou o conceito do sistema de visão rígida. A aprendizagem não
se manifesta, de repente, como aconteceu com Neo. Mas em 2011, Watanabe
imaginou a possibilidade de treinar o sistema de visão, sem o conhecimento do
indivíduo e sem o uso de estímulos. Como isso?
Da seguinte maneira: um grupo de participantes tiveram seus cérebros
escaneados por uma Máquina de Ressonância Magnética Funcional (fMRI) enquanto
olhavam fixamente para uma tela de computador. Nela havia uma imagem simples,
composta por uma série de linhas diagonais. Simplesmente analisando essas linhas,

32
um padrão de ativação muito específico foi produzido no córtex visual, codificado e
armazenado pela FMRI.
No dia seguinte, ocorreu a segunda parte da pesquisa. Indivíduos olharam
novamente para uma tela de computador enquanto seus cérebros eram digitalizados
por Ressonância Magnética. Agora, em vez de linhas, a imagem tinha um pequeno
disco. O objetivo dos participantes era fazer com que o disco ficasse maior, porém
mentalmente – os cientistas não disseram a eles como aumentar o disco. Portanto, a
solução estava longe de ser óbvia. A única maneira de aumentar o tamanho do disco
era fazer com que o cérebro produzisse um padrão, o mesmo gerado quando eles
olharam fixamente para as linhas diagonais no dia anterior.

Fonte: cabecadigitalmarketing.com.br

Muitos podem achar a tarefa impossível, mas na verdade não foi. Tentando
solucionar um problema aparentemente insolúvel, o nosso cérebro automaticamente
repete padrões de percepção recentemente adquiridos, no caso dos participantes da
pesquisa, incluíam o padrão produzido por essas linhas diagonais observadas.
Quando o cérebro deles processou este padrão, o disco começou a se expandir sem
a necessidade de treinamento. "Quanto mais semelhante o padrão de ativação
cerebral era", diz Watanabe, "quanto maior o disco se tornou."
A partir deste ponto, as coisas ficam ainda mais interessantes. O primeiro
padrão de ativação consistia apenas em informação sem sentido. Mas, de maneira
hipotética, isso não precisa funcionar desta forma. Teoricamente, se a sequência
produzida ao olhar para essas primeiras linhas realmente continha informações
significativas – como uma série de treinamentos de kung fu, por exemplo –, então o

33
indivíduo automaticamente repetiu esse padrão, praticando cada vez que o cérebro
tentou ampliar o disco.
Entretanto, a técnica ao estilo de Matrix, onde o conhecimento é baixado
diretamente no cérebro, exigirá muito mais do que apenas gravar e reproduzir padrões
de ativação do córtex visual. A ciência ainda não sabe dizer se este tipo de fenômeno
surge também em áreas como o córtex motor ou córtex auditivo do cérebro, que viria
a ser útil no domínio de habilidades físicas ou linguísticas.
Watanabe pensa que futuramente este método pode ser utilizado para curar a
depressão. "Eu acho que nós poderíamos facilmente treinar pessoas para ser feliz",
diz ele. "Basta mostrar fotos de bebês e gatinhos e outras imagens conhecidas para
elevar o humor, gravar e usar esse padrão como o gatilho para o “alargamento do
disco”. Então, quando os assuntos executar esta tarefa, eles estariam se tornando
feliz também. "Eu acho que nós poderíamos usar a técnica para apagar memórias,
como a remoção de 12 meses de vida de uma pessoa”, diz Watanabe. Dessa forma,
quando o sinal é dado, o assunto seria lembrar a memória implantada ao invés da
memória do real.1

3.5 Epigenética

Fonte: i2.wp.com/institutobazzi.com

1 Fonte: Discovermagazine
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A ideia de que o ambiente pode alterar nossa herança celular não é nova e tem
nome: epigenética. Ela é um campo da biologia que estuda interações causais entre
genes e seus produtos que são responsáveis pela produção de fenótipo. Ela investiga
a informação contida no DNA, a qual é transmitida na divisão celular, mas que não
constitui parte da sequência do DNA. A epigenética trata de modificações no DNA que
sinalizam aos genes se eles devem se expressar ou não. Esses marcadores não
chegam a alterar nossa genética, mas deixam uma marca permanente ao ditar o
destino do gene: se um gene não se expressa, é como se ele não existisse.
Enquanto a genética está associada à sequência do DNA, o termo epigenética
refere-se às informações reversíveis que são introduzidas nos cromossomos e
replicadas estavelmente durante as divisões celulares, mas que não modificam as
sequências de nucleotídeos e dessa forma alteram o fenótipo sem mudar o genótipo
(KENDREW, 1994). Mais recentemente, a epigenética foi definida como o estudo de
processos que produzem um fenótipo herdável, mas que não dependem estritamente
da sequência de DNA (LIEB et al., 2006). Este termo (epigenética) deriva do prefixo
grego epi, que significa literalmente "on" ou "acima", e assim define o que está
ocorrendo no suporte físico dos genes, a cromatina. (A cromatina é uma estrutura
presente em todas as células que possuem núcleo. Na cromatina se encontra o DNA
– a sede da informação genética – em um complexo com proteínas que inclui as
histonas, as proteínas não histônicas e, possivelmente, pequenos RNAs. Quando uma
célula não está se dividindo, chamamos esse conjunto de cromatina. Quando a célula
está se dividindo, chamamos esse conteúdo de cromossomos)
Em um artigo publicado pela Veja, em 12.12.2012, Carvalho, traz a seguinte
explicação para a epigenética: Epigenética — Imagine o material genético humano
como um manual de instruções. Os genes formariam o conteúdo do livro, enquanto
as epimarcas ditariam como esse texto deveria ser lido. "A epigenética altera e regula
a forma como os genes se expressam", explica a geneticista Mayana Zatz, do
departamento de Genética e Biologia Evolutiva da Universidade de São Paulo (USP).
É por meio dos comandos epigenéticos, por exemplo, que o pâncreas fabrica apenas
insulina, apesar de as células nesse órgão terem genes para a produção de muitos
outros hormônios. Acreditava-se que os traços da epigenética não eram hereditários,
sendo apagados e recriados a cada passagem de geração. Como pesquisas nas
últimas décadas mostraram que uma fração de epimarcas é, sim, passada de pais

35
para filhos, Friberg, Rice e Gavrilets julgaram ter encontrado a peça que faltava para
montar o quebra-cabeça.

3.6 Mas o que é um fenótipo herdável?

Para entender esse fato se faz necessário lembrar que o genótipo = o padrão
de genes herdados (o mapa genético) e fenótipo = as características observáveis do
indivíduo. Osgenes são transmitidos dos pais para os filhos de acordo com relações
complexas que incluem o padrão dominante-recessivo, herança poligênica, imprinting
genético, herança mitocondrial e herança multifatorial.
Em 1905, o geneticista britânico, Wiliam Bateson (1861-1926) cunhou o termo
da genética como o termo relacionado à hereditariedade e variação dos organismos,
baseado nos trabalhos de Gregor Mendel (1822-1884). Três décadas depois (1942),
o geneticista, biólogo e filósofo Conrad Hal Waddington (1905-1975) definiu
"epigenética" como "o ramo da biologia que estuda as interações causais entre genes
e seus produtos, que trazem o fenótipo a ser". Quando Waddington cunhou o termo
paisagem epigenética (“epigenetic landscape”), a natureza física dos genes e seu
papel na hereditariedade não eram conhecidos, ele usou-a como uns modelos
conceituais de como os genes podem interagir com o ambiente para produzir um
fenótipo. E demonstrou que as ideias de herança apresentadas por Jean-Baptiste
Lamarck (1744-1829) poderiam, pelo menos em princípio, ocorrer. Todas estas teorias
foram fundamentadas nos estudos de Lamarck sobre assimilação de caracteres
adquiridos por informação ambiental.

3.7 Epigenética pode ser a chave para muitas doenças humanas

Além da formação do comportamento, a epigenética também pode estar


envolvido em doenças cerebrais e desordens. Um exemplo é a síndrome de Rett, uma
doença genética que afeta quase exclusivamente as jovens e, atualmente, não tem
cura. Em seus estágios iniciais, a síndrome de Rett provoca comportamentos
semelhantes ao autismo, porém em fases posteriores, as meninas com síndrome de
Rett podem perdem a capacidade de falar ou controlar o movimento.

36
A pesquisa mostrou a síndrome de Rett foi causada por uma mutação no gene
MECP2. A proteína MeCP2 se liga e desliga genes com marcas epigenéticas. Sem
função MeCP2 adequada, alguns genes ficar fora de sincronia. Ao identificar e
manipular outras proteínas que desempenham funções semelhantes às MeCP2, os
pesquisadores esperam que um dia melhorar as opções de tratamento para a
síndrome de Rett.
Investigação em curso é saber que epigenética pode ser um fator chave nas
outras doenças cerebrais, como a esquizofrenia, autismo, e doença de Alzheimer, o
que indica a importância de identificar padrões epigenéticos por todo o genoma e
como elas são alteradas pela doença. Ao contrário de mutações genéticas, as marcas
epigenéticas podem ser revertidas. Na verdade, os EUA Food and Drug Administration
já aprovou várias drogas que trabalham para melhorar os resultados de saúde,
modificando estas marcas.
Como muito do que sabemos agora sobre epigenética, muitas dessas drogas
foram inicialmente identificadas por pesquisadores de câncer. Os cientistas do cérebro
estão trabalhando para desenvolver drogas mais seguras e eficazes para melhorar a
função cognitiva e do comportamento nas pessoas.

3.8 Neurobiologia do cérebro

O conhecimento do cérebro no nível básico é relevante porque os


pesquisadores estão paulatinamente desvendando, com muito esforço, os “mistérios”
estruturais e funcionais deste órgão vital. É igualmente relevante, para a área de
neuro-cognição, pois há novos “insights” de como crianças e adolescentes, e mesmo
na fase de bebês, aprendem (Bradsford et al, 2000; Silberg, 2003). Além disso, se há
períodos denominados “críticos” ou “sensíveis” para a aquisição de funções de alto
nível, na escala de Benjamin Bloom, se faz urgente averiguar (Bloom, 1956; Bailey et
al., 2001; Crowe et al., 2008).

37
Fonte: montessorispace.com

Ademais, é importante para os educadores, visto que de posse deste tipo de


conhecimento, poderão descobrir ou adaptar maneiras de enriquecer a experiências
escolares, não só de crianças superdotadas e criativas, mas também do estudante
mediano, do disléxico, e enfim todos aqueles cuja capacidade não é adequadamente
avaliada pelo teste do QI ou outras medidas convencionais (Perkins, 1995). É de
fundamental importância saber como a criança aprende para incrementar como lhe é
ensinado (Saint-Onge,1999). Faz-se mister, que os pais estejam cientes, que as
drogas no período pré-natal e o consumo de bebidas alcoólicas, nutrição maternal e
a posterior interação com os recém-natos, possam afetar o cérebro em
desenvolvimento (Nathanielsz, 1999).
A sociedade presume que o bebê nasce com uma capacidade intelectual fixa,
isto é, alguns com capacidade média e uns poucos com capacidade realçada ou
limitada de aprender. Contudo, a evidência neurocientífica aponta, que a formação
dos circuitos neuronais, mais importantes, se expandem após o nascimento e
dependem das experiências que a criança vivencia (Gopnik et al., 1999). O estudo do
desenvolvimento e dos primeiros anos da infância mostra que alguns neurônios
38
aumentam a “arborização” e expandem seus processos regulados por genes contidos
nos cromossomas (Greenough, 1991; Slater & Lewis, 2002; Begley, 2007; Carroll et
al., 2008). Assim, parte das estruturas mais primitivas do cérebro herdadas
evolutivamente de nossos antepassados regula o automatismo do batimento cardíaco,
freqüência respiratória e controle da temperatura corporal. Desta feita, algumas áreas
do cérebro continuam a se desenvolver rapidamente, em particular, as conexões que
respondem aos estímulos nos três primeiros anos de vida (Bruer, 1999). Em suma, a
aprendizagem no seu nível mais elementar, é um processo resultante de alterações
neuroanatômicas e neuroquímicas, semipermanentes ou permanentes na
citoarquitetura cerebral. Por outro lado, a eficiência com a qual o cérebro “aprende”
informação nova ou faz um ajuste na informação prévia, para adequar-se às novas
circunstâncias ambientais, depende do grau de engajamento no contexto de
aprendizagem em que se encontra o aprendiz (Assmann, 2004; Rose, 2006).

3.9 Altas habilidades e Biologia do Cérebro

O cérebro humano tem seu crescimento e desenvolvimento desde o período


pós-natal até, em média, a idade de sete anos e amplia suas ligações sinápticas bem
além da segunda década. Desta forma, o córtex de associação pré-frontal, cujas áreas
estão envolvidas com o planejamento antecipatório e regulação do comportamento
emocional, continuam a se desenvolver até a idade de 20 anos. O cérebro de meninos
e meninas, mais inteligentes submetidos ao teste do QI, verificou-se que ele se
desenvolve de maneira diferente (James, 2007; Relvas, 2009). O estudo indicou um
atraso na maturação e espessura da camada do córtex pré-frontal (função executiva),
em amostra de mais de 300 crianças e adolescentes de 6 a 19 anos. Estes estudantes
foram avaliados por ressonância magnética funcional (fRMI) e outras técnicas de
neuroimagem (Blakemore & Frith, 2005). Constatou-se que o crescimento do córtex
pré-frontal é mais lento, só atingindo o tamanho máximo em média em torno dos 11
anos, enquanto o grupo comparativo de QI, mediano, isto já se dá aos 8 anos. O que
parece uma deficiência, na realidade é uma vantagem, pois é uma estratégia
programada para a formação de conexões (sinapses) múltiplas e mais complexas.
Desta forma aumenta a velocidade do processamento da informação (Le Doux, 2002).
Assim, na puberdade estas crianças de QI mais alto mostram, através de exames,

39
córtex com maior espessura, do que as crianças da mesma faixa etária (Keverne,
2004).

3.10 Características comuns de pensadores com altas habilidades (AH)

A memória e aprendizagem, ou se memória é aprendizagem, é outra


preocupação educacional a qual a neurociência, está procurando esclarecer. No seu
aspecto mais básico a aprendizagem é o processo para a aquisição da memória.
Porém, processos neurológicos complexos ocorrem para transferir a informação
recém obtida e transferi-la para o “banco” de memória de longa duração
(consolidação), onde fica armazenada para ser usada de maneira inovadora e
imprevisível. De fato, o cérebro possui múltiplos sistemas de memória, distribuídos
nas estruturas do cérebro, os quais desempenham papéis específicos (Izquierdo,
2002; Longoni, 2003). Por exemplo, o sistema da memória motora entra em ação para
o desenvolvimento de habilidades físicas como o simples andar, prática de exercícios
físicos, dança. Por seu turno, o sistema da memória emocional influencia a
aprendizagem da música e outros estímulos podem ajudar o educador prescrever
ambientes, que conduzam tanto para as crianças ditas “normais” como àquelas que
necessitam educação especial. Por sua vez, pensadores com AH, precocemente
apresentam realce no padrão de sensibilidade, mais especificamente, musicalidade
qual seja, violinistas respondem mais ao som do violino, trompetistas ao trompete.
Observa-se também, realce na memória de curta duração (de trabalho), na eficiência
e capacidade de reter detalhes de gravuras, ilustrações, fotos, sons.

4 EVOLUÇÃO DO CÉREBRO E ALTAS HABILIDADES

4.1 O cérebro triádico

Às vezes a pessoa fica frustrada porque não obtém a cooperação, que precisa,
dos familiares, amigos, colegas de trabalho da empresa ou escola onde trabalha
arduamente das segundas às sextas-feiras. Zanga-se porque eles parecem não
aquilatar a importância das coisas, que fazem e parecem agir irracionalmente. Tal

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comportamento pode ter uma explicação simples: está em franca atividade o “cérebro
reptiliano”.
A teoria do “cérebro triádico”, idealizada por Paul MacLean, postula, que
evolutivamente, o ser humano possui “três cérebros”, formados por camadas
sobrepostas, ou seja, algo no formato, contemporaneamente, pode-se dizer “três em
um”. Esta teoria talvez possa explicar, em parte, nosso comportamento e daqueles
que nos cercam nos locais de trabalho e no ambiente em geral, inclusive o educacional
(Lambert, 2003).

Fonte: abrilsuperinteressante.files.wordpress.com

4.2 O cérebro reptiliano

Durante o desenvolvimento embrionário do feto, no interior do útero materno,


observa-se uma repetição dos “passos” evolucionistas pelo que passou o cérebro dos
vertebrados na trajetória rumo a maior complexidade observada notadamente nos
primatas. A parte mais básica é o tronco cerebral (Karp & Berrill, 1981). Este
emaranhado de circuitos neurais é considerado pela teoria de P. MacLean, como
sendo o cérebro reptiliano. É avaliado como muito primitivo na sua estruturação da
circuitaria neuronal, um resquício de nosso passado evolutivo pré-histórico. Responde
prontamente aos estímulos com resposta adequada, não sofisticada. O cérebro regula
as funções do corpo, reações que asseguraram e continuam a fazê-lo para nossa
sobrevivência. É extremamente útil para reações rápidas, sem pensar muito. O
cérebro reptiliano centra-se em ações de quando o indivíduo está em perigo, quer se
“safar” logo, sem muitas delongas!

41
Naquele mundo primevo da sobrevivência do mais apto ou mais sagaz, essa
porção do cérebro canalizava ações de como obter comida e não ser “alimento” de
predador eventual, enfrentar oponente, ou parlamentar, ou dependendo fugir. Esta
porção do cérebro é mais movida pelo “medo/temor” e assume o controle do que fazer,
quando a pessoa se sente ameaçada (real ou imaginariamente) ou quando percebe a
sensação iminente de morte. Com o passar do tempo evolutivo, uma camada de
neurônios de características “olfatórias” sobrepôs-se à estrutura do cérebro primitivo.
A capacidade expandida do sensorial olfatório, baseada em feromonas nos
organismos mais simples, melhorou a possibilidade de sobrevivência do indivíduo. O
animal aprendeu a discriminar alimento comestível do tóxico, avaliar melhor presa de
predador, e consequentemente a tomada de decisão frente a situações, do que comer
ou evitar (Cartwright, 2001).

4.3 O cérebro “felino”

Gradualmente o “cérebro olfatório” tornou-se o âmago para outra sobreposição


de camadas de células neuronais à medida que o indivíduo interagia com o meio. Esta
nova projeção cresceu no formato de “anel” ao redor do tronco cerebral, e passou a
ser chamada de “sistema límbico”. No decorrer do tempo essa estrutura neural evoluiu
progressivamente, lançando conexões para o hipocampo primitivo. Houve um
refinamento nos processos de aprendizagem & memória em certos mamíferos e
primatas. O alimento deixou de ser meramente saudável ou tóxico e passou a ser
discriminado como “bom” ou “ruim”, com repercussões até os dias atuais. Este cérebro
olfatório primitivo tornou-se a base rudimentar, que originou posteriormente o
neocórtex e as divisões pré-frontais. Com o crescimento das ramificações, o sistema
límbico passa a ser a fonte do “prazer” das “emoções & sentimentos” afetando o humor
e as funções orgânicas do indivíduo, como um todo (LeDoux, 2000; Newman & Harris,
2009).

42
4.4 O neocortex

Fonte: ericarubio.com.br

É a parte mais evoluída do cérebro triuno, a “lâmina pensante” o cérebro


do Homo sapiens, sapiens mostra substancial crescimento e complexidade no
sistema de colunas e arranjos dos neurônios e glia em termos evolutivos relativamente
recentes. Consiste em grande medida, de camada fina de neurônios do neocortex,
que “envelopa” as estruturas abaixo (Allman, 2000). Permite-nos particularmente pela
ativação da porção do córtex pré-frontal, o planejamento de longo prazo, tomada de
ações estratégicas, a função executiva.
O neocortex é o “oceano do pensamento” (raciocínio), compreensão, arte e
imaginação. Junta sutileza e elegância à vida emocional. O desejo e o prazer sexual
são maquinados no sistema límbico, mas é o neocortex, entretanto, que gera a afeição
maternal, o que não se observa em vertebrados inferiores. É esse liame, de mútua
proteção entre pais e filhos, que assegura os cuidados da prole durante o período da
longa infância nos primatas em geral, mas mais particularmente no caso humano.
Como já enfatizado, o cérebro reptiliano primitivo está intimamente relacionado com
as funções instintivas básicas. Embora o neocortex seja voltado para a ação racional,
por exemplo, o pensamento, o sistema límbico pode rapidamente assumir o comando
em situações de emergência (Kandel et al., 2003). Em situações de perigo o que o
organismo deseja é resposta imediata, age o instinto de sobrevivência, e não longas
deliberações filosóficas!

43
4.5 Evolução e psique

A evolução além de selecionar as características físicas do indivíduo melhor


adaptadas ao meio ambiente pretérito, também selecionou mecanismos psíquicos
mais vantajosos para lidar com situações sociais da época. Assim, vê-se que nosso
cérebro não foi selecionado para viver num ambiente urbano, altamente tecnológico
como o atual. Para as funções básicas do cérebro, que organiza a homeostasia do
corpo, isto é, as condições do ambiente interno e os processos dos mecanismos
reguladores pela retroalimentação, isto não importa, mas para outras, como a ativação
crônica do sistema de alarme, pode ser desastroso para o organismo, como
manifestações inesperadas de ansiedade (Morgan, 1982, 1995; Barondes, 1998;
Cartright, 2001; Pinel, 2005; Fox, 2007).
A maioria das hipóteses da evolução do cérebro dos vertebrados sugere que
os cérebros maiores em proporção a massa do corpo, se correlacionam com maior
habilidade cognitiva. As pressões adaptativas para tal habilidade presumem-se,
devem ter vindo de variáveis ecológicas, pois o conhecimento e localização de fontes
alimentares dependiam de mapas cognitivos complexos. Da mesma forma, e
particularmente, nos primatas de vida sociais mais evoluídos, requeria a
armazenagem desta informação nas estruturas da memória. O processamento da
informação espacial é particularmente ativado nos circuitos neurais do hipocampo,
sendo que nas espécies animais que armazenam e escondem alimentos, é
sobremaneira volumoso. Por sua vez, nos primatas de intensa vida social, e que vivem
em grupos, incluindo os antecessores do homem atual, a estrutura neural mais
volumosa é o neocórtex (Dunbar, 1992; Roth & Dicke, 2005).
A precocidade intelectual (fenômeno internacional) conjectura-se está baseada
na psique humana (programada no genoma), como resultado da evolução da
linguagem, com finalidade de coesão social do grupo (Barrett et al., 2002). Assim, na
sociedade proto-humana, onde a linguagem estava começando a se desenvolver,
uma pessoa com superioridade no uso desta linguagem, poderia ter compreensão
privilegiada da relação entre os membros do grupo, e ser vista com potencial poder
de manipular, explorar e distorcer a estabilidade das relações sociais (Pinker, 1994ª;
1994b). Tal indivíduo poderia ser percebido de possuir poderes injustos de persuasão,
gerando medo nos demais, e que pudesse usufruir de vantagens sociais
incompatíveis (Dunbar, 1996; Geake, 2000).
44
Atualmente, as pessoas com altas habilidades intelectuais, em geral, são vistas
como tendo um passaporte para a educação superior e empregos bem remunerados
e de prestígio, desde que possam usufruir de sólidos programas de apoio (Freitas,
2006). O contraponto é que em certos setores educacionais e da comunidade, tem-se
a visão que o aluno com altas habilidades, embora brilhante, seja arrogante,
autoconfiante e autocentrado, e que, portanto, não precisaria de orientação.

4.6 Evolução da mente

A mente é considerada uma “entidade” que foi construída com lentidão


temporal, que em função de um substrato biológico extremamente complexo, gera o
processo mental. Nos humanos os domínios da mente, tais como social, linguístico,
naturalista estão integrados, permitindo a emergência do pensamento simbólico,
sendo extremamente primitivo nos antepassados hominídeos. Assim, a mente do
chimpanzé e a mente humana, além da diferença do grau de complexidade, mostram
profunda diferença estrutural (Deacon, 1997; Mithen, 1998; Ornstein, 1998; Rapchan,
2005). O mecanismo de internalizar a experiência advinda da interação com o meio
ambiente, torna-se básico para a construção da mente. Funções superiores do
cérebro, tais como memória, sono & sonho, linguagem, pensamento, emergem da
configuração de grupos neuronais interagindo com estímulos internos & externos
oriundos do meio (Carter, 2002). Desta feita, o sistema nervoso mais complexo, é
como se fosse uma interface, que permite o indivíduo organizar a informação captada
pelos canais sensoriais, e transformá-la em significado. O complexo cérebro-mente
lida com a informação inicialmente no plano dos receptores sensoriais. Assim, se
tivéssemos uma banana, suas qualidades físicas seriam analisadas e decodificadas
pelo indivíduo, de acordo com a experiência, aprendizagem e memória anterior, como
forma, cor, se está madura, lembrança do sabor, (Levitan & Kaczmarek, 1997). Depois
as informações são processadas na esfera intracerebral e se atribui significado no
nível semântico. Então, a banana pode ser vista como meramente uma fruta saborosa,
ou se fazer cogitações sobre suas qualidades nutricionais, aos turbantes de Carmen
Miranda ou alusão pejorativa à “Banana Republics”. A mente tenta decodificar o
mundo e dar-lhe ordem e significado (Varela et al.,1991; Rose, 1992). A imprecisão e
a contradição são inerentes ao raciocínio humano. Na dúvida, procura-se pelo

45
pensamento difuso, nebuloso de lidar com a imprecisão e a ordem & desordem das
coisas e eventos (Herbert, 1993; Harth, 1993; Greenpan & Benderly, 1997). Essa
forma de pensamento busca alternativas por meios de raciocínio “desconstrutivo”,
conduzindo a criatividade (Hofstadter, 1980; Demo, 2002; Edelman, 2006).

4.7 Eficiência na codificação de informação de entrada

O binômio cérebro & mente é uma entidade biológica. A cognição pode ser vista
como uma função do cérebro, a semelhança de como a regulação cardiovascular é
uma função do sistema cardiovascular, dependente das variáveis de pressão
sanguínea, frequência cardíaca e resistência periférica. Assim, estímulos do ambiente
disparam mecanismos biológicos já presentes no sistema nervoso, e como
consequência alterações na estrutura e função neural. A relação entre estímulo e
resposta é de caráter evolutivo acumulado na história de cada espécie animal ou
vegetal. Por exemplo, a experiência altera a estrutura dos neurônios, a taxa de
potencial sináptico, a circuitária do cérebro. Então, a informação de entrada, captada
pelos órgãos sensoriais, modifica a descarga de neurotransmissores, a estrutura dos
elementos pré & pós-sinápticos e, portanto, a informação de saída no circuito ou
coluna neural. Em suma, o meio-ambiente seleciona características e processos já
existentes no sistema nervoso do indivíduo levando a alterações.
A organização da estrutura neural pode ser dividida nos níveis da genômica,
molecular, sináptico, celular os quais estão subjacentes e geram o comportamento e
as funções mentais do indivíduo (Black, 1992). Em termos de aplicação para pessoas
com altas habilidades, significa que um maior número de áreas cerebrais é usado na
codificação inicial da informação de entrada, memória de trabalho mais “eficiente” e
atenção para resolver problemas complexos (a informação fica mais tempo na mente).
Manifesta-se por realce no reconhecimento e recordação de padrão, prática e
repetição leva a perfeição, como por exemplo, aprendizagem manual bilateral:
pianistas versus não-pianistas. Usam várias áreas cerebrais para tarefas especiais,
por exemplo, prodígio em matemática resolvendo tarefa complexa. Maior número de
associações e analogias pode resultar em processamento da informação mais lento,
porém com inúmeras ligações, maiores possibilidades de escolhas. Há tendência de
focar em lacunas do conhecimento (Dehaene & Cohen, 2007). Sob a perspectiva de

46
atenção “criativa” pode desenrolar na elaboração de metas, planos e tomadas de
decisão. Além disso, grau de abstração, simplificação de situações complexas,
elaboração de análises, prioridades de ideias, convergência de pontos em comum. O
indivíduo de altas habilidades aprecia “sistemas”, categorias, raciocínio dedutivo
verbal, aprendizagem por conceitos, exatidão e dedução por formalismo matemático,
e muitas vezes dotado de notável memória verbal e semântica (Moraes & Torre, 2004).

4.8 Neuroplasticidade e “talentosidade”

Quando o indivíduo vivencia certa experiência, este evento altera as conexões


neurais. Determinada experiência faz com que haja descarga de potenciais de ação
(impulsos elétricos) nos circuitos que detectaram esta experiência, especialmente se
foi significativa. Descargas de potenciais de ação repetidas levam a mudanças
estruturais nas sinapses neuronais, as quais tornam-se permanentes. Neste caso,
ocorre aumento de ramificações, do volume, da densidade, da área sináptica, número
dos receptores e concentração dos neurotransmissores. A organização funcional do
cérebro do indivíduo é a resultante da competição por domínio de espaço funcional
no mapa cortical. Como a circuitaria cerebral não é fixa e sim maleável, estes mapas
corticais podem se alterar visivelmente no período de dias ou semanas. Estudos com
registro de respostas por neuroimagem (fMRI) documentaram alterações em
pacientes que sofreram acidente vascular cerebral, e recuperaram parcialmente seus
movimentos após sessões de fisioterapia (Mark et al., 2006). Assim, neuroplasticidade
é a capacidade do cérebro alterar-se fisicamente inclusive com estimulação cognitiva.
Torna-se um importante conceito na educação das crianças desde a pré-escola até
as séries iniciais do ensino fundamental, mas não se esgota, pois acompanha a vida
da pessoa. Deve-se ao papel desempenhado pela acumulação de conhecimento
informal e a taxa progressiva de leitura, contribuindo ambas ações para a
aprendizagem. À medida que cresce o conhecimento pelas experiências diretas ou
indiretas e oportunidades de leituras, suscitam alterações estruturais no cérebro.

47
4.9 Crianças com altas habilidades e talentosas e a Neurocognição

A meta da neurociência cognitiva é descobrir estratégias educacionais


informadas pela investigação que possam ter relevância para a educação do
superdotado e na formação dos educadores. Todavia, as hipóteses e informações
disponíveis são conflitantes sobre indivíduos que apresentam “alta performance”, e
ficam as indagações:
- Será que usam mais áreas (circuitos) do cérebro para o desempenho da
tarefa?
- Será que usam menos áreas do cérebro para completar a tarefa?
- Será que possuem maior densidade de neurônios com maior número de
conexões entre eles?
- Mostram comportamento mais “reflexivo” frente a uma situação?
- Mostram trajetórias de desenvolvimento cognitivo diferenciado que afetam a
capacidade intelectual?
- Pensam mais rápido?
- São mais hábeis?
- Têm maior número de neurônios em certas áreas do cérebro?
- Estrutura cerebral ainda “amadurecendo” embora conhecimento cristalizado
acima da média e acima de testes psicométricos?
- Qual a relação entre emocional & desenvolvimento cognitivo substancial?
-Contudo, desenvolvimento emocional menos desenvolvido do que habilidade
intelectual, i. e. desenvolvimento assincrônico, o emocional mais atrasado do que a
habilidade intelectual.

Tabela 1. Características cognitivas de crianças “prodígios” e “savants” (sábias)


Tipo Prodígio Savant
(sábia)
QI QI normal QI alterado
Definição Competência de adulto em Talento
área específica antes dos 10-12 excepcionalmente
anos. precoce em área
específica

48
(exemplo,
matemática,
música, artes).
Emoção Problemas com ajuste Mostram
emocional. modesta e ou falta
de emoção.
Desenvolvimento Falam e leem em idade Confiança
precoce, antes das crianças normais em padrão
concreto e literal
de pensamento e
ação.
Cognição de alto Compreensão & comunicação Raciocínio
nível com uso de linguagem muito além de abstrato ausente
seus pares de mesma idade. ou mínino.
*Adaptado de: Geake, 2003.

4.10 Perguntas motivadoras de pesquisa em altas habilidades

 Como os circuitos neuronais do cérebro se estruturam antes da emergência da


competência?
 Qual o papel que o processamento sensorial básico desempenha na
aprendizagem?
 Qual são os efeitos da idade na aprendizagem do processo da linguagem?
 Como o “status” socioeconômico e o ambiente familiar fazem sua relativa
contribuição nos diferentes períodos do desenvolvimento do cérebro?
 Como o cérebro estrutura representações de circuitos para bi/tri linguismo?
 Qual são as bases neurais das diferenças individuais da aprendizagem e
desenvolvimento?
 Qual o papel desempenhado na aprendizagem pela amígdala (corpo amigdaloide)
e cerebelo?
 Quais são os circuitos neurais do engajamento emocional que promovem
excelência educacional?

49
 Quais são os efeitos do sono na aprendizagem?
 Há alguma evidência neural nos “estilos de aprendizagem”?
 Como a predisposição genética que expressa a neuroplasticidade, interage com o
contexto de aprendizagem e o ambiente social?
 Será que há rede neural distinta que se correlaciona com o currículo aritmético (ex.
decimais, frações)?
 Como diferem os cérebros de estudantes com altas habilidades dos estudantes
“normais”?
 Pode a neurociência fornecer um melhor entendimento da memória &
conhecimento?
 Que tipos de aprendizagem escolar e aprendizagem informal podem ser
explicados pelos modelos da sinapse de Donald Hebb?
 Qual é a dinâmica dos neurotransmissores da “memória de trabalho”?
 Quais são os alimentos que podem fornecer precursores dos neurotransmissores
relacionados com os circuitos de aprendizagem?
 Diante do exposto propõe-se um currículo que possa atender às crianças com altas
habilidades

5 PROPOSTA PARA CURRÍCULO PARA CRIANÇAS COM ALTAS


HABILIDADES

 Prover as crianças com várias tentativas similares nos assuntos que levem,
pela repetição consolidar os itens de memória, no formato de conexões neurais;
 Promover pensamento integrado (ex. integrar tópicos comuns de BIOQUIFIS -
Biologia, química, física);
 Currículo “tipo espiral”, i. e. os conceitos importantes “core” abordados
repetidamente, mas em diferentes contextos para manter o interesse.
“Profundidade” e não “extensão” enciclopédica no formato de espiral
contextualizada;
 Assim, o reforço de um novo circuito que representa o conceito correto. Por
exemplo: criança de 10 anos avalia comprar quais brinquedos na mercearia da

50
esquina; 12 anos, lida com o orçamento hipotético da família; 14 anos planeja as
compras mais importantes, como móveis, o carro da família;
 Outra alternativa, estudar a hierarquia: sais, íons, neurônio, sinapse,
neurotransmissores, circuitos neurais, mapa neural e finalmente o comportamento
de um organismo (ser humano? Outros animais/vegetais);
 Apresentar os conceitos/conteúdos de forma múltipla [vídeo, DVD, livro,
educação informal, teatro, jogos, história em quadrinhos (vários temas), trabalho
de campo];
 Para pré-adolescentes criar práticas que envolvam o funcionamento do córtex
pré-frontal (função executiva), por exemplo: labirinto, puzzle-grow, palavras
cruzadas, mapa conceitual/mental, resolução de casos, instrução programada
(Geake, 2009).
Em Biologia, para estudante de alta habilidade e talentoso, empregar estudo
de casos tais como:
a- “Seguindo as pegadas dos Neandertais” (resolução de caso);
b- Resolução de “Caso” célula;
c- Resolução de “Caso” coração;
d- Resolução de “Caso” árvore & planta;
e- Resolução de “Caso” inseto; entomologia forense (caso);

5.1 Neurociências e Educação

Como a Neuroeducação e a Neuropedagogia podem ajudar a escola e o


professor a tornar o aprendizado mais eficiente e mais interessante para o aluno?
Estímulos Multissensoriais: as pesquisas mostram que o aprendizado será
mais eficaz e a recordação da informação mais fácil se mais sentidos forem
estimulados.
Recompensas e motivação: a necessidade de uma recompensa imediata é
característica das gerações atuais. Recompensas externas podem ser preocupantes
no ambiente escolar, mas a criatividade do professor pode encontrar formas de
recompensar o aluno em sala de aula de forma a motivá-lo nas atividades e conquistar
sua atenção. Algo como dedicar um intervalo da aula para piadas, canções, jingles,
se a atenção e participação de todos foi adequada no momento combinado.

51
Memória: sem repetição a memorização não acontece, a rememoração falha,
perde-se a informação, o tempo e a motivação. A quantidade de repetição vai
depender da emoção envolvida na passagem da informação. Quanto mais emoção
maior a chance da informação ficar cravada na memória dos seus alunos.
Conhecimento prévio: dificilmente vai haver aprendizagem se a informação
nova não está contextualizada e conectada a conhecimentos que já existem no
cérebro da criança.
Do concreto para o abstrato: o lobo frontal, sede do nosso pensamento
abstrato, demora mais a se desenvolver, como vimos aqui isso se estende até a
segunda década de vida. Dessa forma, parta de exemplos concretos para atingir
ideações abstratas.
Práticas: quando uma informação é colocada em prática ela se torna patente
em nosso cérebro. Mas certifique-se de que na prática a criança realmente entendeu,
ela deve ser capaz de falar e escrever sobre um conceito que praticou.
Estórias ou histórias: elas ativam muitas áreas cerebrais, mexem conosco, com
nossas emoções, memórias e ideias. Elas têm início, meio e fim, o que também
estimula o desenvolvimento de habilidades de sequenciação e organização (córtex
pré-frontal).
Computadores e outras tecnologias: muitos sentidos são estimulados quando
os estudantes trabalham em grupos fazendo pesquisas no computador. O trabalho é
bastante visual, auditivo e cinestésico, além de estimular habilidades sociais.
O cérebro procura por padrões: a informação é guardada em nosso cérebro
através de padrões de reconhecimento. Daniel Pink (2005) ressalta que a era atual
requer uma forma de pensar que inclua a capacidade de detectar padrões e criar algo
novo. É fundamental que o Educador apresente a nova informação, auxilie o aluno a
identificar o padrão, associar esse padrão a padrões já armazenados por ele em seu
cérebro e aí seja capaz de criar novos padrões. Dois métodos principais funcionam
muito bem para isso, um é o uso de organizadores gráficos como mapas mentais e
diagramas de Venn, outro é através da organização da informação em blocos lógicos
e contextualizados.
O estresse inibe a aprendizagem: numerosas evidências apontam para isso,
sobretudo os efeitos do cortisol (hormônio do estresse) provocando a morte de
neurônios no hipocampo (área da memória de longo prazo). Nesse sentido ofereça

52
um ambiente de ensino seguro, confortável e acolhedor. Estabeleça rotinas, regras,
objetivos e procedimentos padrão. Os rituais de sala de aula podem contribuir para
reduzir o estresse.
O cérebro é um órgão social: a interação e desenvolvimento de habilidades
sociais são fundamentais no processo de aprendizagem. Nossas crianças da era
digital encontram-se talvez mais aptas a se relacionar através de um teclado do que
com a fala, o olhar e o toque. É importante para elas desenvolver a linguagem não
verbal, reconhecer sentimentos através da face e dos gestos, interagir com diferentes
grupos sociais, aprender a escutar, expressar suas emoções e ser empática.
Arte e atividade física melhoram o desempenho intelectual: explore essas
atividades o mais que puder.
Contrabalance tecnologia e criatividade, utilize música e muito, muito visual!

5.2 Neurociências, altas habilidades: implicações no currículo

As neurociências constituem uma das áreas do conhecimento biomédico, que


utiliza os achados e dados empíricos de suas subáreas, tais como a neuroanatomia
(estudo das estruturas neurais), a neurofisiologia (estudo experimental da função dos
circuitos neuronais), a neuroendocrinologia (interação do tecido neural com as
glândulas endócrinas), o neurodesenvolvimento (estudo do crescimento e maturação
do tecido neural), a neurociência cognitiva (estudo da aprendizagem e memória), a
neuro[psico] farmacologia (estudo das substâncias neuro-farmacológicas), o
neuroimageamento (registro da atividade neural durante tarefa cognitiva) e psicologia
evolucionista (investiga a história evolutiva dos comportamentos animais) a fim de
esclarecer como funciona o sistema nervoso em sua abrangência total (Lent, 2001;
Kandel et al., 2002; McCrone, 2002; Aamodt & Wang, 2009).

6 A IMPORTÂNCIA DA NEUROCIÊNCIA NA EDUCAÇÃO

Os avanços e descobertas na área da neurociência ligada ao processo de


aprendizagem é sem dúvida uma revolução para o meio educacional. A Neurociência
da aprendizagem, em termos gerais, é o estudo de como o cérebro aprende. É o
entendimento de como as redes neurais são estabelecidas no momento da

53
aprendizagem, bem como de que maneira os estímulos chegam ao cérebro, da forma
como as memórias se consolidam e de como temos acesso a essas informações
armazenadas.

Fonte: 2.bp.blogspot.com

Quando falamos em educação e aprendizagem, estamos falando em processos


neurais, redes que se estabelecem, neurônios que se ligam e fazem novas sinapses.
E o que entendemos por aprendizagem? Aprendizagem, nada mais é do que esse
maravilhoso e complexo processo pelo qual o cérebro reage aos estímulos do
ambiente, ativa essas sinapses (ligações entre os neurônios por onde passam os
estímulos), tornando-as mais “intensas”. A cada estímulo novo, a cada repetição de
um comportamento que queremos que seja consolidado temos circuitos que
processam as informações que deverão ser então consolidadas.
A neurociência nos vem descortinar o que antes desconhecíamos sobre o
momento da aprendizagem. O cérebro, esse órgão fantástico e misterioso, é matricial
nesse processo do aprender. Suas regiões, lobos, sulcos, reentrâncias tem sua
função e real importância num trabalho em conjunto, onde uma precisa e interage com
o outro. Mas qual o papel e função de cada região cerebral? Aonde o aprender tem
realmente a sua sede e necessita ser estimulada adequadamente? Conhecer o papel
do hipocampo na consolidação de nossas memórias, a importância do sistema
límbico, responsável pelas nossas emoções, desvendar os mistérios que envolvem a
região frontal, sede da cognição, linguagem e escrita, poder entender os mecanismos
atencionais e comportamentais de nossas crianças com TDAH, as funções
54
executivas e o sistema de comando inibitório do lobo pré-frontal é hoje fundamental
na educação, assim como, compreender as vias e rotas que norteiam a leitura e
escrita (regidas inicialmente pela região visual mais específica (parietal), que
reconhece as formas visuais das letras e depois acessando outras áreas para que a
codificação e decodificação dos sons sejam efetivas. Como não penetrar nos mistérios
da região temporal relacionado a percepção e identificações dos sons onde os
reconhece por completo? (Área temporal verbal que produz os sons para que
possamos fonar as letras). Não esquecendo a região occipital que tem como uma de
suas funções coordenar e reconhecer os objetos assim como o reconhecimento da
palavra escrita. Assim, cada órgão se conecta e se interliga nesse trabalho onde cada
estrutura com seus neurônios específicos e especializados desempenham um papel
importantíssimo nesse aprender.
Podemos compreender desta forma que o uso de estratégias adequadas em
um processo de ensino dinâmico e prazeroso provocará,
consequentemente, alterações na quantidade e qualidade destas conexões
sinápticas, afetando assim o funcionamento cerebral de forma positiva e permanente
com resultados extremamente satisfatórios.
Estudos na área neurocientífica, centrados no manejo do aluno em sala de
aula, vem nos esclarecer que a aprendizagem ocorre quando dois ou mais sistemas
funcionam de forma inter-relacionada. Assim, podemos entender, por exemplo, como
é valioso aliar a música e os jogos em atividades escolares, pois há a possibilidade
de se trabalhar simultaneamente mais de um sistema: o auditivo, o visual e até mesmo
o sistema tátil (a música possibilitando dramatizações).
Os games (adorados pelas crianças e adolescentes), ainda em discussão no
âmbito acadêmico, são fantásticos na sua forma de manter nossos alunos plugados e
podem ser mais uma ferramenta facilitadora, pois possibilita estimular o raciocínio
lógico, a atenção, a concentração, os conceitos matemáticos e através de cruzadinhas
e caça-palavras interativos, desenvolver a ortografia de forma desafiadora e prazerosa
para os alunos. Vários sites na internet nos disponibilizam esses jogos.
Desta forma, o grande desafio dos educadores é viabilizar uma aula que
‘facilite' esse disparo neural, as sinapses e o funcionamento desses sistemas, sem
que necessariamente o professor tenha que saber se a melhor forma de seu aluno
lidar com os objetos externos é: auditiva, visual ou tátil. Quando ciente da modalidade

55
de aprendizagem do seu aluno, (e isso não está longe de termos na formação de
nossos educadores) o professor saberá quais estratégias mais adequadas utilizar e
certamente fará uso desse grande e inigualável meio facilitador no processo ensino –
aprendizagem.
Outra grande descoberta das neurociências é que através de atividades
prazerosas e desafiadoras o “disparo” entre as células neurais acontece mais
facilmente: as sinapses se fortalecem e redes neurais se estabelecem com mais
facilidade.
Mas como desencadear isso em sala de aula? Como o professor pode ajudar
nesse “fortalecimento neural”? Todo ensino desafiador ministrado de forma lúdica tem
esse efeito: aulas dinâmicas, divertidas, ricas em conteúdo visual e concreto, onde o
aluno não é um mero observador, passivo e distante, mas sim,
participante, questionador e ativo nessa construção do seu próprio saber.
O conteúdo antes desestimulante e repetitivo para o aluno e professor ganha
uma nova roupagem: agora propicia novas descobertas, novos saberes, é dinâmico e
flexível, plugado em uma era informatizada aonde a cada momento novas
informações chegam ao mundo desse aluno. Professor e aluno interagem ativamente,
criam, viabilizam possibilidades e meios de fazer esse saber, construindo juntos a
aprendizagem.
Uma aula enriquecida com esses pré-requisitos é mágica, envolvente e
dinâmica. É saber fazer uso de uma estratégia assertiva onde conhecimentos
neurocientíficos e educação caminham lado a lado. Mas como isso é possível? O que
fazer em sala de aula? A seguir veremos algumas sugestões que podem ser adotadas:

1- Estabeleça regras para que haja um convívio harmonioso de todos em sala


de aula, fazendo com que os alunos sejam responsáveis pela organização, limpeza e
utilização dos materiais. Opinando e criando as regras e normas adotadas, eles se
sentirão responsáveis pela sala de aula.
2- Faça uso de materiais diversificadosque explorem todos os sentidos.
Visual: mural, cartazes coloridos, filmes, livros, filmes educativos; Tátil: material
concreto e objetos de sucata planejados. Há uma riqueza de sites na internet que nos
disponibilizam atividades muito ricas e prazerosas. A criatividade aflora e a aula se
torna muito divertida; Auditivo: música e bandinhas feitas com material de sucata,

56
sempre com o conteúdo inserida nelas. A criação de músicas sobre conteúdo é uma
forma divertida de aprender. Talentos apareceram em sala de aula. E quem não gosta
de cantar? A aula fica muito rica e prazerosa!
3- Reserve um lugar com almofadas e tapete, para momentos de descanso e
reflexão. O “cantinho da leitura” é fundamental na sala de aula na ausência de uma
biblioteca. Relaxar após o trabalho prazeroso significa dar tempo para o cérebro
escanear todo o conteúdo que vai ser assimilado, ativar o hipocampo (região
responsável pelas memórias) e consolidar o que se aprendeu.
4- Estabeleça rotinas onde possam realizar trabalhos individuais, em dupla e
em grupo. Rotinas estabelecidas reforçam comportamentos assertivos e organização.
Crianças com TDAH, que apresentam mal funcionamento das funções executivas se
beneficiam com rotinas e regras pré-estabelecidas). Os trabalhos em equipe são
extremamente prazerosos, ativa as regiões límbicas (responsáveis pelas emoções) e
como sabemos que o aprender está ligado à emoção, a consolidação do conteúdo se
faz de maneira mais efetiva. (Hipocampo)
5- Trabalhar o mesmo conteúdo de várias formas possibilita aos alunos
oportunidades de vivenciarem a aprendizagem de acordo com suas possibilidades
neurais. Dê aos mais rápidos, atividades que reforcem ainda mais esse conteúdo, que
os mantenham atentos e concentrados, para que aqueles que necessitem de maior
tempo para realizar as atividades não sejam prejudicados com conversas e agitação
dos mais rápidos.
6- A flexibilidade em sala de aula permite uma aprendizagem mais dinâmica e
melhor percebida por todos os alunos. O professor que ministra bem os conflitos em
sala de aula, que tem "jogo de cintura" e apresenta o conteúdo com prazer, mantém
seus alunos "plugados" na aula.
Desta forma, sabedores deste mecanismo neural que impulsiona a
aprendizagem, das estratégias facilitadoras que estimulam as sinapses e consolidam
o conhecimento, desta magia onde cada estrutura cerebral se interliga para que todos
os canais sejam ativados. Assim, como numa orquestra afinadíssima, onde a melodia
sai perfeita, estar de posse desses importantes conhecimentos e descobertas será
como reger esta orquestra, onde o maestro saberá o quão precisamente estão
afinados seus instrumentos e como poderá tirar deles melodias harmoniosas e
suaves!

57
A neurociência se constitui assim em atual e uma grande aliada do professor
para poder identificar o indivíduo como ser único, pensante, atuante, que aprende de
uma maneira toda sua, única e especial. Desvendando os mistérios que envolvem o
cérebro na hora da aprendizagem, a neurociência disponibiliza ao educador moderno
(neuroeducador), impressionantes e sólidos conhecimentos sobre como se
processam a linguagem, a memória, o esquecimento, o desenvolvimento infantil, as
nuances do desenvolvimento cerebral desta infância e os processos que estão
envolvidos na aprendizagem a ele proporcionada. Tomarmos posse desses novos e
fascinantes conhecimentos é imprenscindível e de fundamental importância para uma
pedagogia moderna, ativa, contemporânea, que se mostre atuante e voltada às
exigências do aprendizado em nosso mundo globalizado, veloz, complexo e cada vez
mais exigente.
Conceitos como neurônios, sinapses, sistemas atencionais (que viabilizam
o gerenciamento da aprendizagem), mecanismos mnemônicos (fundamentais para
o entendimento da consolidação das memórias), neurônios espelho, que possibilitam
a espécie humana progressos na comunicação, compreensão e no aprendizado e
plasticidade cerebral, ou seja, o conhecimento de que o cérebro continua
a desenvolver-se, a aprender e a mudar não mais estarão sendo discutidos
apenas por neurocientistas, como até então imaginávamos. Estarão agora, na
verdade, em sala de aula, no dia a dia do educador, pois uma nova visão de
aprendizagem está a se delinear. O fracasso e insucesso escolar têm hoje um novo
olhar, já que uma nova e fascinante gama de informações e conhecimentos está à
disposição do educador moderno.
Graças a neurociência da aprendizagem, os transtornos comportamentais e
da aprendizagem passaram a ser mais facilmente compreendidos pelos educadores
uma vez que proporciona mais subsídios para a elaboração de estratégias
mais adequadas a cada caso. Um professor qualificado e capacitado, um método
de ensino adequado e uma família facilitadora dessa aprendizagem são
fatores fundamentais para que todo esse conhecimento que a neurociências nos
viabiliza seja efetivo, interagindo com as características do cérebro de nosso aluno.
Esta nova base de conhecimentos habilita o educador a ampliar ainda mais as
suas atividades educacionais, abrindo uma nova estrada no campo do aprendizado e
da transmissão do saber.

58
6.1 Relação entre memória e aprendizagem

Fonte: www.researchgate.net

A aprendizagem é um “mix” de memória, atenção, concentração, interesses,


desejos, estímulos intrínsecos (neurotransmissores/hormônios) e extrínsecos
(informações externas do ambiente) que permeiam a mente e o cérebro humano.
Quando mais aprendemos mais conexões neurais formamos...
A plasticidade cerebral é a capacidade do sistema nervoso, alterar o
funcionamento do sistema motor e perceptivo baseado em mudanças no ambiente,
através da conexão e (re) conexão das sinapses nervosas, organizando e (re)
organizando as informações dos estímulos motores e sensitivos, sendo controladas
por grupos especiais de neurônios (células glias).
Somos o que vivenciamos, experimentamos e lembramos
Aprende-se com o cérebro, e todas as ações perpassam como um filme na
máquina fotográfica, ou comparando a um hardware, onde vários softwares são
“rodados” por meio de impulsos elétricos, e pela centelha dos afetos ou desafetos
existentes e recebidos ao longo de nossas vidas.
O cérebro sozinho não possui função nenhuma, ele só estabelece um
funcionamento quando em conjunto com outros sistemas que se interconectam,
recebem e respondem aos estímulos para realizar um potencial de atividades elétricas
e químicas.

59
6.2 Sistema Nervoso Autônomo e Aprendizagem

Ao falar sobre SNAs (Sistema Nervoso Autônomo simpático) e SNAp (Sistema


Nervoso Autônomo parassimpático) muito longe de serem somente funções vitais
presentes no corpo humano eles são sistemas que são indicadores de uma boa
aprendizagem. Numa abordagem neuropsicológica, Metring (2011) aponta que esses
conhecimentos são necessários para o planejamento de ensino. Segundo o autor
muitas crianças têm problemas de aprendizagem devido à falta de conhecimentos
desses fatos por parte dos profissionais do ensino.
O SN (Sistema Nervoso) conforme demostrado no esquema abaixo, apresenta
suas subdivisões as quais aqui se dará ênfase ao Sistema Nervoso Autônomo, que
são as partes do corpo que agem involuntariamente, sem a nossa consciência, por
exemplo a respiração, digestão, controle da pressão arterial, da temperatura,
etc.... Ele também faz a regulação do organismo em relação ao ambiente, por
exemplo, se entramos estamos num local bem iluminado e entramos em outro com
pouca iluminação, há a necessidade de uma dilatação de nossas pupilas para dar
conta da pouca luminosidade.

Fonte: www.innovia.com.br
60
O sistema Nervoso Autônomo pode apresentar as seguintes subdivisões:
Sistema Nervoso Autônomo Parassimpático (SNAp), Simpático (SNAs) e Entérico ou
Visceral.

6.3 Qual a relação desses sistemas em relação à aprendizagem?

Metring (2011) enfatiza que o SNAs quando nascemos já começa a atuar e vai
continuar atuando até o final de nossas vidas, mas o SNAp precisa ser treinado, e isso
quer dizer que estamos organicamente prontos para manter estado de vigília, alerta,
mas não para relaxarmos.
Segundo o autor estamos sempre em estado de alerta, sendo que as funções
viscerais estão preocupadas somente com a manutenção da vida, agimos
instintivamente sem muitas vezes recorrer ao uso das funções mentais superiores. E
eis aí onde a escola pode colaborar: - treinar o SNAp, instruindo os alunos de como
manter o organismo em situação de equilíbrio, repouso relativo, para que assim as
funções mentais superiores, tão necessárias à aprendizagem, possam ser melhor
utilizadas.
Ambientes que coloquem o aprendiz em situação de estresse ativarão as
atividades do SNAs, fazendo com que a adrenalina seja despejada na corrente
sanguínea que fará com que haja alterações em todo sistema cardiorrespiratório,
alterações nos sistemas de apoio (digestão, produção de hormônios, etc). Ao cérebro
apenas restará uma parcela de sangue suficiente para manter a musculatura irrigada
e alimentada para a situação de luta ou fuga.
Entretanto, Metring (2011) alerta que o cérebro é um grande consumidor de
energia, que por sua vez é alimentada pelo sangue, sendo assim: menos sangue =
menos energia, menos energia = menos capacidade cognitiva, então a aprendizagem
é dificultada e em casos mais graves impossibilitada.
O SNAp estimula principalmente atividades relaxantes, como as reduções do
ritmo cardíaco e da pressão arterial, entre outras do Parassimpático que tem ação
vasodilatadora mediante a libertação de acetilcolina.
Diante ao que foi relatado o autor propõe que as escolas deveriam preparar o
ambiente de tal forma que se obtivesse o melhor aproveitamento do cérebro na

61
aprendizagem, proporcionando assim atividades relaxantes, exercícios respiratórios a
fim de evitar situações estressantes.

6.4 Neurociências: as novas rotas da educação

Os avanços e descobertas na área da neurociência ligada aos processos de


aprendizagem é sem dúvida, uma revolução para o meio educacional. A Neurociência
da aprendizagem é o estudo de como o cérebro trabalha com as memórias, como elas
se consolidam, como se dá o acesso ás informações e como elas são armazenadas.
Quando falamos e pensamos em Educação e Aprendizagem, falamos em
processos neurais, redes que estabelecem conexões e que realizam sinapses.

6.5 Mas como entendemos Aprendizagem?

Aprendizagem nada mais é do que esse maravilhoso e complexo processo pelo


qual o cérebro reage aos estímulos do ambiente, e ativa suas sinapses (ligações entre
os neurônios por onde passam os estímulos), tornando-as mais “intensas” e velozes.
A cada estímulo, cada repetição eficaz de comportamento, torna-se consolidado,
pelas memórias de curto e longo prazo, as informações, que guardadas em regiões
apropriadas, serão resgatadas para novos aprendizados.
A Neurociência vem-nos descortinar o que antes conhecíamos sobre o cérebro,
e sua relação com o Aprender. O cérebro, esse órgão fantástico e misterioso, é
matricial nesse processo.
Suas regiões, lobos, sulcos, reentrâncias tem cada um sua função e
importância no trabalho conjunto, onde cada área necessita e interage com o
desempenho do hipocampo na consolidação de nossas memórias, com o fluxo do
sistema límbico (responsável por nossas emoções) possibilitando desvendar os
mistérios que envolvem a região pré-frontal, sede da cognição, linguagem e escrita e
compreender as vias e rotas que norteiam a leitura e escrita (regidas inicialmente pela
região visual mais específica (parietal) que reconhece as formas visuais das letras e
depois acessa outras áreas para a codificação e decodificação dos sons para serem
efetivadas.

62
Faz-se mister entender os mecanismos atencionais e comportamentais de
nossas crianças padrão das crianças TDAH e estudar suas funções executivas e
sistema de comando inibitório do lobo pré-frontal, hoje muito relevante na educação.
Compreender as vias e rotas que norteiam a leitura e escrita (regidas
inicialmente pela região visual mais específica (parietal) que reconhecem as formas
visuais das letras e depois acessa outras áreas para a codificação e decodificação
dos sons para serem efetivadas.
Penetrar nos mistérios da região temporal relacionado à percepção e
identificação dos sons onde os reconhece por completo (área temporal verbal)
possibilitando a produção dos sons para que possamos fonar as letras. Não esquecer
a região occipital, que abriga como uma de suas funções o coordenar e reconhecer
os objetos, assim como o reconhecimento da palavra escrita.
Assim, cada órgão se conecta e interliga-se no processo, onde cada estrutura
com seus neurônios específicos e especializados desempenham um papel na base
do Aprender.
Estudos na área neurocientífica centrados no manejo do aluno em sala de aula
nos esclarece que o processo aprendizagem ocorre quando dois ou mais sistemas
funcionam de forma inter-relacionada (conectada). Assim podemos entender como é
valioso aliar a música, os jogos, e movimentos em atividades escolares e ter a
possibilidade de trabalhar simultaneamente mais de um sistema: auditivo, visual e até
mesmo o sistema tátil com atividades lúdicas, esportivas, e todos os movimentos
surgindo de dentro para fora (psicomotricidade), desempenho este que nos leva ao
Aprender
Podemos então deferir, desta forma, que o uso de estratégias adequadas em
um processo de ensino dinâmico e prazeroso provocará consequentemente
alterações na quantidade e qualidade destas conexões sinápticas melhorando assim
o funcionamento cerebral, de forma positiva e permanente, com resultados
satisfatórios e eficazes.
Os games (adorados por crianças e adolescentes) ainda em discussão no
âmbito acadêmico são fantásticos na forma de manter os alunos “plugados” e podem
ser mais uma ferramenta mediadora que possibilita estimular o raciocínio lógico,
atenção, concentração, conceitos matemáticos através de atividades como:

63
cruzadinhas, caça-palavras e jogos interativos que desenvolvem a ortografia, de forma
desafiadora e prazerosa para alunos.
O grande desafio dos educadores é viabilizar uma aula que “facilite” esse
disparo neural, este gatilho, a sinapse e o funcionamento desses sistemas, sem que
necessariamente o professor tenha que saber como lidar individualmente com cada
aluno. Quando ciente da modalidade de aprendizagem do aluno, (e isso não está
longe de ser inserida na grade de formação de nossos educadores) o professor saberá
quais e melhores estratégias utilizar e certamente fará uso desse meio facilitador no
processo Ensino – Aprendizagem.
Outra descoberta é que através de atividades prazerosas e desafiadoras o
“disparo” entre as células neurais acontece mais facilmente: as sinapses fortalecem-
se e as redes neurais são estabelecidas com mais rapidez (velocidade sináptica).

Fonte: www.bancodasaude.com

Todo ensino desafiador ministrado de forma lúdica tem esse efeito: aulas
dinâmicas, divertidas, ricas em conteúdo visual e concreto, onde o aluno não é um
mero observador de o seu próprio saber o deixam “literalmente ligado”, plugado,
antenado.

64
O conteúdo antes desestimulador e cansativo para o aluno é substituído por
um professor com nova roupagem que propicia novas descobertas, novos saberes; é
dinâmico e flexível, plugado em uma área informatizada, aonde a cada momento
novas informações chegam ao mundo desse aluno. Professor e aluno interagem
ativamente, criam, viabilizam possibilidades e meios de fazer esse saber, construindo
juntos a aprendizagem com todas as rotas: auditivas, visuais, táteis e neste universo
cheio de informações, faz-se a nova Educação e um novo modelo de aprender.
Uma aula enriquecida com esses pré-requisitos é envolvente e dinâmica: é o
saber se utilizar de possibilidades onde conhecimento Neurocientífico e Educação
caminham lado a lado.
Mas como isso é possível? O que fazer em sala de aula?
A seguir algumas sugestões adotadas:
(1) estabelecer regras para que haja um convívio harmonioso de todos em sala
de aula, onde alunos sejam responsáveis pela organização, limpeza e utilização dos
materiais. Ao opinar e criar regras e normas adotadas, eles se sentirão responsáveis
pela sala e espaço escolar.
(2) utilizar materiais diversificados que explorem todos os sentidos. Visual:
mural, cartazes coloridos, filmes, livros educativos; Tátil: material concreto e objeto de
sucata planejado. Há uma riqueza de sites na internet que nos disponibilizam
atividades produtivas e prazerosas. A criatividade aflora e a aula torna-se muito
divertida; Auditivo: música e bandinhas feitas com material de sucata, sempre com o
conteúdo pedagógico inserida nelas. A criação de músicas e paródias sobre conteúdo
é uma forma muito divertida de aprender. Talentos apareceram em salas de aula. E
quem não gosta de cantar? Aulas com dinâmica treinam as memórias de curto prazo
e a auditiva (elas são trabalhadas em áreas hipocampais) e assim retidas em memória
de longo prazo, efetivando o Aprendizado!
3) o cantinho da “leitura” é um pedaço de criar ideias, deixar o “Novo” entrar na
mente, através dos signos e símbolos. (Significados e significante)
4) estabelecer rotinas onde possam realizar trabalhos individuais, em dupla, em
grupos (rotinas estabelecidas reforçam comportamentos assertivos e organização).
Crianças com TDAH, que apresentam mal funcionamento das funções executivas se
beneficiam com rotinas e regras pré-estabelecidas. O trabalho em equipe é relevante,
ativa as regiões límbicas (responsáveis pelas emoções) e como sabemos o aprender

65
está ligado à emoção, e a consolidação do conteúdo se faz de maneira mais efetiva.
(Hipocampo)
(5) Trabalhar o mesmo conteúdo de várias formas possibilita aos alunos “mais
lentos” oportunidades de vivenciarem a aprendizagem de acordo com suas
possibilidades neurais. Dê às mais rápidas atividades que reforcem ainda mais esse
conteúdo, mantendo-os atentos e concentrados para que os alunos com processos
mais lentos não sejam prejudicados com conversas e agitação do outro grupo de
crianças.
A flexibilidade em sala de aula permite uma aprendizagem mais dinâmica e
melhor percebida por toda a classe. O professor que administra bem os conflitos em
sala de aula possui “jogo de cintura” e apresenta o conteúdo com prazer, mantendo
seus alunos “plugados”, com interesse em aprender mais, movidos pela novidade: o
prazer faz uma internalização de conceitos de maneira lúdica e eficaz.
Desta forma, somos sabedores deste mecanismo neural que impulsiona a
aprendizagem, das estratégias facilitadoras que estimulam as sinapses e consolidam
o conhecimento, da magia onde cada estrutura cerebral interliga-se para que todos os
canais sejam ativados. Como numa orquestra afinadíssima, onde a melodia sai
perfeita, de posse desses conhecimentos e descobertas, será como reger uma
orquestra onde o maestro saberá o quão precisamente estão afinados seus
instrumentos e como poderá tirar deles melodias harmoniosas e perfeitas!
A Neurociência veio para ser grande aliada do professor na atualidade, em
identificar o indivíduo como ser único, pensante, atuante, que aprende de uma
maneira pessoal, única e especial. Desvendar os segredos que envolvem o cérebro
no momento do Aprender, facilita nosso professor.
Surge um novo professor (neuroeducador), a buscar conhecimento sobre como
se processam a linguagem, memória, esquecimento, humor, sono, medo, como
interagimos com esse conhecimento e conscientemente envolvido na aprendizagem
formal acadêmica. Em posse desses novos conhecimentos é imprescindível
desenvolver uma pedagogia moderna, ativa, contemporânea, que capacite novos
professores, para formar novos alunos às exigências do aprendizado em nosso
mundo globalizado, veloz, complexo e cada vez mais exigente.
Conceitos como neurônios, sinapses, sistemas atencionais, (que viabilizam o
gerenciamento da aprendizagem), mecanismos mnemônicos (consolidação das

66
memórias), neurônios espelho (que possibilitam na espécie humana progressos na
comunicação e compreensão no aprendizado), plasticidade cerebral (ou seja, o
domínio de como o cérebro continua a desenvolver-se e a sofrer mudanças) serão
discutidos por neurocientístas, neuropedagogos e família. A sala de aula será palco
da ciência e neurociência, onde o educador domina os processos do cérebro para
aprender, e assim possibilita criar novas estratégias para ensinar.
Através desta neurociência, os transtornos comportamentais e de
aprendizagem passam a ser vistos e compreendidos com clareza pelos educadores,
que aliados a esta novidade educacional encontram subsídios para a elaboração de
estratégias mais adequadas a cada caso.
Um professor qualificado e capacitado, com método de ensino adequado e uma
família facilitadora dessa aprendizagem são fatores para que todo o conhecimento
que a neurociência nos viabiliza seja efetivo, interagindo com as características do
cérebro de nosso aluno e do professor. Esta nova aliada habilita o educador a ampliar
suas atividades educacionais, abrindo uma nova rota no campo do aprendizado e da
transmissão do saber, cria novas faces do Aprender, consolida o papel do educador,
como um mediador e o aluno como participante ativo do pensar e aprender.

6.6 Contribuições da Neurociência para a Formação de Professores

A educação é uma arte em permanente construção. Tem seu primeiro degrau


no olhar sobre a criança de 0 a 6 anos, em creches e pré-escolas, que cresce em
importância à medida que a formação desses sujeitos, antes majoritariamente a cargo
das famílias, é cada vez mais institucionalizada em creches e pré-escolas.
Contudo, a educação é o feixe central da interdisciplinaridade que engloba
aspectos antropológicos, filosóficos, biológicos e psicológicos da espécie humana.
Transpondo essa colocação para o foco desta pesquisa, pode-se dizer que o cérebro
desempenha o papel deste feixe na formação do intelecto humano, através de
conexões neurais que são a polarização dos opostos em busca de caminhos para o
aprendizado.
Por entender a importância do cérebro no processo de aprendizagem,
consideram-se, aqui, as contribuições da Neurociência para a formação de
professores, com o objetivo de oferecer aos educadores um aprofundamento a esse

67
respeito, para que se obtenham melhores resultados no processo de ensino-
aprendizagem, especialmente, na educação básica.
A metodologia utilizada caracteriza-se como uma abordagem exploratória do
tema alicerçada em pesquisa bibliográfica em autores pertinentes, dentre os quais
foram citados Assmann (2001), Bear, Connors, Paradiso (2002), Demo (2001),
Fernàndez (1991), Johnson & Myklebust (1983), Markova (2000), Morim (2007; 2002),
Smith (1999), Soares (2003), Sternberg & Grigorenko (2003) e Vygotsky (1991).
Assim, descrevem-se a função e as finalidades da Neurociência; a relação entre o
cérebro e a aprendizagem e as disfunções cerebrais verbais e não verbais.

7 FUNÇÃO E AS FINALIDADES DA NEUROCIÊNCIAS

A Neurociência é e será um poderoso auxiliar na compreensão do que é comum


a todos os cérebros e poderá nos próximos anos dar respostas confiáveis a
importantes questões sobre a aprendizagem humana, pode-se através do
conhecimento de novas descobertas da Neurociência, utilizá-la na nossa prática
educativa. A imaginação, os sentidos, o humor, a emoção, o medo, o sono, a memória
são alguns dos temas abordados e relacionados com o aprendizado e a motivação.
A aproximação entre as neurociências e a pedagogia é uma contribuição
valiosa para o professor alfabetizador. Por enquanto os conhecimentos das
Neurociências oferecem mais perguntas do que respostas, mas cremos que a
Pedagogia Neurocientífica está sendo gerada para responder e sugerir caminhos para
a educação do futuro.
Ao ignorar as peculiaridades da infância e as bases necessárias ao seu
adequado desenvolvimento, a educação infantil brasileira caminha entre acertos e
experimentações. É alvo fácil de propostas novidadeiras, por vezes apoiadas em uma
visão pseudocientífica, carente de sustentação mais sólida. A bola da vez são as
neurociências, mais precisamente as ciências cognitivas, que se propõem a promover
uma compreensão maior dos processos de ensino-aprendizagem.
Enquanto pesquisadores de todo o mundo reforçam a tese de que os primeiros
anos são fundamentais para a constituição cerebral, há quem aponte para os perigos
desse determinismo científico e de uma visão que induza à hiperestimulação infantil.

68
O futuro da neurociência é brilhante. O perigo é que se está no pé da montanha
e muitas pessoas pensam que já completamos a escalada. É uma grande montanha
e vai levar um século [para que a escalemos]. Não se trata, contudo, de negar a
contribuição das neurociências para a esfera pedagógica. A própria história da
pedagogia como disciplina acadêmica construiu seus alicerces a partir do diálogo com
diferentes saberes. Traz em sua natureza contribuições que vão da filosofia
rousseauniana à Escola Nova da psicologia experimental; da psicogênese descrita
por Piaget (1983); aos estudos antropológicos e, no caso da pedagogia infantil e,
também, à visão recente da sociologia da infância, difundida na década de 1990, com
quase um século de atraso.
A questão não é condenar as neurociências. O importante é saber se serão
encontradas nelas as contribuições para o que parece central: conhecer o papel da
educação infantil. Seu agir educativo deve moldar-se a partir das referências do
ensino fundamental ou buscar caminhos para construir sua própria identidade?
Enfatizar o que a criança já é ou valorizar o que lhe falta?
Há conflitos de sobra que precisam ser resolvidos e proposições que parecem
transcender a esfera pedagógica e caminhar para um debate que é também
ideológico. Afinal, quais são os mitos e as verdades extraídos das recentes
descobertas das neurociências e o que de tudo isso interessa à educação, em
particular à educação infantil?
Por enquanto, os conhecimentos oferecem mais perguntas do que respostas,
mas cremos que a pedagogia neurocientífica está sendo gerada para responder e
sugerir caminhos para a educação do futuro, mas, como alertou o pensador Morin
(2007) em palestra realizada em São Paulo, a neurociência, como outros aspectos da
evolução humana, carrega em si uma promessa e uma ameaça. A promessa é de um
melhor entendimento dos processos cerebrais. A ameaça é bastante cinzenta: a de
que esse conhecimento possa levar à pior manifestação totalitária, a de controlar
seres humanos com informações advindas do conhecimento científico.
O foco da educação tem sido o conhecimento a ser ensinado de maneira
mecânica e igual a todos os alunos, sem a devida atenção à individualidade, numa
demonstração de total falta de consciência da força que possuem os modelos mentais
e da influência que eles exercem sobre o comportamento. Por sua vez os alunos,
acostumados a perceber o mundo a partir da visão do docente, aceitam passivamente

69
essa proposta pedagógica, desempenhando um papel de receptor de informações, as
quais nem sempre são compreendidas e geram conhecimento. Muitas pesquisas no
campo educativo apontam o professor como um dos principais protagonistas da
educação (DEMO, 2001; ASSMANN, 2001; MORIN, 2002).
Entretanto, proporcionar uma boa aprendizagem para o aluno não depende só
do professor, pois é fundamental para uma educação que pretende ajudar o aluno a
perceber sua individualidade, tornando-o também responsável pelo ato de aprender,
proporcionar a otimização de suas habilidades, facilitar o processo de aprendizagem
e criar condições de aprender como aprender. Nesse contexto conhecer o seu padrão
de pensamento pessoal e saber como usá-lo é o primeiro passo para ser um
participante ativo no processo de aprender. A compreensão de como podemos lidar
com certas características pessoais ajudará o aluno a identificar, mobilizar e utilizar
suas características criativas e intuitivas, pois cada um aprende no seu próprio ritmo
e à sua maneira.
É fundamental que professores estimulem individualmente a inteligência das
crianças, empregando técnicas que permitam a cada aluno aprender da maneira que
é melhor para ele, aumentando sua motivação para o aprendizado, pois cada pessoa
tem de encontrar seu próprio caminho, já que não existe um único para todos
(STERNBERG & GRIGORENKO, 2003). Considerando que alunos diferentes
lembram e integram informações com diferentes modalidades sensoriais, analisar
como as pessoas se relacionam, atuam e solucionam problemas, identificar os estilos
específicos da aprendizagem, torna-se bastante útil (WILLIAMS, apud MARKOVA,
2000).
Partindo desse pressuposto, ao professor cabe oferecer, através de sua
prática, um ambiente que respeite as diferenças individuais permitindo que os
aprendizes se sintam estimulados do ponto de vista intelectual e emocional. Daí a
necessidade do educador, consciente de seu papel de interventor responsável pela
mediação da informação, buscar estruturar o ensino de modo que os alunos possam
construir adequadamente os conhecimentos a partir de suas habilidades mentais. E
para isso, é imprescindível que conheçam os significativos estudos da neurociência,
uma vez que esses, sem dúvida, influenciam na compreensão dos processos de
ensino e de aprendizagem.

70
No cérebro humano existem aproximadamente cem bilhões de neurônios
(unidade básica que processa a informação no cérebro) e, cada um destes pode se
conectar a milhares de outros, fazendo com que os sinais de informação fluam
maciçamente em várias direções simultaneamente, as chamadas conexões neurais
ou sinapses (BEAR, CONNORS, PARADISO, 2002, p. 704).
Se os estados mentais são provenientes de padrões de atividade neural, então
a aprendizagem é alcançada através da estimulação das conexões neurais, podendo
ser fortalecida ou não, dependendo da qualidade da intervenção pedagógica.
A pesquisa e o interesse em neurociências têm crescido em resposta à
necessidade de, não somente entender os processos neuropsicobiológicos normais,
mas também para respaldar a ciência da educação.
É sabido que ocorrem dificuldades de comunicação entre neurocientistas e
educadores devido à linguagem diversa empregada em suas terminologias
específicas profissionais, bem como a utilização de temas, métodos, lógicas e
objetivos diferentes. No entanto, novos desafios históricos têm redimensionado e
emergidos novos paradigmas, os quais impulsionam a ciência e a todos aqueles que
se preocupam com a integridade humana, nos aspectos físico, emocional e, em
particular, sociocultural. Nesse âmbito atuam os processos sócio educacionais, cujos
reflexos encontram eco na plasticidade das células cerebrais.
Todas as reflexões desta pesquisa tiveram como intuito maior compreender e
ainda que minimamente, contribuir na discussão e na procura de respostas de como
instrumentalizar o professor do ensino fundamental, através do conhecimento das
conexões neurais e plasticidade cerebral envolvidos no processo de aprendizagem,
visto ser este de vital importância para todos os seres humanos. Através da
aprendizagem, o indivíduo constrói e desenvolve os comportamentos que são
necessários para sua sobrevivência, pois não há realizações ou práticas humanas que
não resultem do aprendizado.
O estudo dos processos de aprendizagem e de todos os fatores que os
influenciam, constitui um dos maiores desafios para a educação, pois ao entendê-lo e
explicitá-lo, ocorre o desenvolvimento do sujeito dentro do contexto sociohistórico, e
é através dele que se forja a personalidade e a racionalidade humana para que o
indivíduo esteja apto a exercer sua função social.

71
Durante todo ensino fundamental I, o professor é visto pelo aluno como um
exemplo a ser seguindo e sua opinião é de extrema consideração para o aprendiz.
Assim, todo e qualquer parecer do professor em relação ao aluno, torna proporções
determinantes para a formação da autoestima do estudante.
Para a sala de aula, para a educação a Neurociência é e será uma grande
aliada para identificar cada ser humano, como único e para descobrirmos a
regularidade, o desenvolvimento, o tempo de cada um.
A Neurociência traz para a sala de aula o conhecimento sobre a memória, o
esquecimento, o tempo, o sono, a atenção, o medo, o humor, a afetividade, o
movimento, os sentidos, a linguagem, as interpretações das imagens que fazemos
mentalmente, o "como" o conhecimento é incorporado em representações
dispositivas, as imagens que formam o pensamento, o próprio desenvolvimento
infantil e diferenças básicas nos processos cerebrais da infância, e tudo isto se torna
subsídio interessante e imprescindível para nossa compreensão e ação pedagógica.
Os neurônios espelho, que possibilitam a espécie humana progressos na
comunicação, compreensão e no aprendizado.
A plasticidade cerebral, ou seja, o conhecimento de que o cérebro continua a
desenvolver-se, a aprender e a mudar, até à senilidade ou à morte também altera
nossa visão de aprendizagem e educação. Ela nos faz rever o fracasso e as
dificuldades de aprendizagem, pois existem inúmeras possibilidades de
aprendizagem para o ser humano, do nascimento até a morte.

7.1 Um novo olhar educacional

Educar é uma tarefa complexa e que requer de seus educadores, dentre os


diversos fatores, a competência (formação) e a dedicação. Vivemos num mundo que
se transforma a cada dia. As necessidades de hoje serão modificadas pelas
necessidades do amanhã, devido aos diversos interesses que movem cada
sociedade. O maior desafio, no entanto, é planejar uma educação capaz de preparar
o educando para essas transformações.
No contexto escolar, o educador é o mediador entre o objeto do saber e o
sujeito, para que este possa ser autor do seu próprio conhecimento. Uma
aprendizagem eficiente é aquela construída sobre a base da crítica e da reflexão sobre

72
o objeto do conhecimento, e dessa forma, então, proporcionar ao sujeito a capacidade
de perceber o mundo que o cerca e seu significado nesse contexto.
Podemos dizer que o Neurocientista é um especialista que trará uma sublime
contribuição para a ação pedagógica por compreender as estruturas e o
funcionamento do Sistema Nervoso Central, "palco" da aprendizagem. Conhecer as
conexões neurais do educando é imprescindível para que sejam elaboradas
atividades que desenvolvam suas funções motoras, sensitivas e cognitivas. É de suma
importância que os profissionais envolvidos na educação compreendam que a ação
comportamental de seu educando é fruto de uma atividade cerebral dinâmica.
O maior desafio, no entanto, é quebrar a fôrma triangular da clássica Equipe
Pedagógica e incluir em seus moldes o quarto elemento chamado Neurocientista,
esse profissional especializado de tanta relevância quanto, que, logicamente
contribuirá de maneira significativa para que seja possível a tão sonhada
aprendizagem eficaz.
A neurociência e a pedagogia juntas oferecem uma inovadora parceria,
respeitando as especificidades de cada ciência, elas se completam ao conduzir este
aprendente a um novo sistema, através do qual biologicamente se constrói a fonte de
novas conexões neurais.
Segundo Relvas (2009), o encéfalo encontra-se localizado no interior do crânio,
protegido por um conjunto de três membranas, que são as meninges. E constituído
por um conjunto de estruturas especializadas que funcionam de forma integrada para
assegurar unidade ao comportamento humano. E formado por Bulbo raquidiano,
Hipotálamo, Corpo caloso, Córtex cerebral, Tálamo, Formação reticular, Cerebelo e
Hipófise.

8 HISTÓRICO DA NEUROCIÊNCIA COGNITIVA

A neurociência é um termo que reúne as disciplinas biológicas que estudam o


sistema nervoso, normal e patológico, especialmente a anatomia e a fisiologia do
cérebro inter-relacionando-as com a teoria da informação, semiótica e linguística, e
demais disciplinas que explicam o comportamento, o processo de aprendizagem e
cognição humana bem como os mecanismos de regulação orgânica e por ser uma

73
área da ciência é preciso sempre preocupar-se em estar se atualizando. RELVAS diz
que,

(...) o universo biológico interno com centena de milhões de pequenas células


nervosas que formam o cérebro e o sistema nervoso comunica-se umas com
as outras através de pulsos eletroquímicos para produzir atividades muito
especiais: nossos pensamentos, sentimentos, dor, emoções, sonhos,
movimentos e muitas outras funções mentais e físicas, sem as quais não
seria possível expressarmos toda a nossa riqueza interna e nem perceber o
mundo externo, como o som, cheiro, sabor. (2009, pág.21)

O campo científico da neurociência cognitiva recebeu este nome no final da


década de 70, no banco traseiro de um táxi em Nova York, onde o grande fisiologista
cognitivo George A. Miller estava com Michael S. Gazzaniga a caminho de um jantar.
Neste jantar estavam reunidos cientistas que se esforçavam para estudar como o
cérebro dava origem à mente. Desta corrida de táxi surgiu o nome Neurociência
Cognitiva, que foi aceito por toda comunidade científica.
Para esclarecer o significado deste termo é preciso voltar atrás e olhar não
somente para a história do pensamento humano, mas também para as disciplinas
científicas.
Desde a antiguidade, a curiosidade e as observações, contribuíram para que o
ser humano relacionasse a mente com a cabeça (cérebro). Dando origem a várias
teorias e descobertas científicas que permeiam, transformam vidas, sociedade e
consequentemente a humanidade. Na história antiga, a teoria ventricular (iniciada no
século 4º d.C.) aborda que os processos mentais, ou as faculdades da mente estavam
localizadas em câmaras ventriculares no cérebro. Entre os gregos, predominava
também a teoria de que os ventrículos cerebrais eram órgãos sede dos humores
(sangue, fleuma, bílis amarela e bílis negra, procedentes, respectivamente, do
coração, sistema respiratório, fígado e baço) e nos quais estava localizada também a
capacidade intelectual do homem.
Segundo Hipócrates, as doenças surgiriam pelo desequilíbrio entre o sangue,
a fleuma, a bílis e a atrabile. Esta é a famosa teoria dos quatro humores corporais,
que dependendo das quantidades presentes no corpo, levariam a estados de
equilíbrio ou de doença e dor. Esta teoria veio a influenciar posteriormente Galeno,
que desenvolveu a teoria dos humores, que dominou o conhecimento até ao século
18.

74
Para Hipócrates, a mente estava no cérebro. Já o Aristóteles considerou que a
alma não era substancialmente diferente do corpo, embora as suas funções: a
alimentação, a sensação, a motricidade e a intelecção, fossem similares. Defendeu a
hipótese que a mente tinha sede no coração e o cérebro resfriava o sangue, tipo um
sistema hidráulico, os nervos ocos que circulavam o espírito animal.
Galeno, médico grego completou a doutrina de Hipócrates, foi o primeiro que
fez correlação entre forma e função, ao distinguir quatro temperamentos e ao defender
que os espíritos se formavam em órgãos diferentes: os espíritos naturais, no fígado,
os espíritos vitais, no coração e os espíritos animais, no cérebro. Suas experiências
contribuíram para aumentar os seus conhecimentos sobre a anatomia do cérebro e
para a criação da hipótese cefalocêntrica. Ele teorizava que se retirassem as
ramificações de suporte dos ventrículos, ficava o esférico e que o poder da sensação,
do movimento fluía no cérebro e ainda o que é racional na alma tem ali a sua
existência. A sua teoria de localização do espírito no fluído dos ventrículos perdurou
por vários séculos.
No Brasil, o Imperador Pedro II, amante das artes e das ciências se
correspondeu com o eminente fisiologista alemão Du Bois Reymond, acerca
da fundação de um instituto de "physiologia" na cidade do Rio de Janeiro, mas que
jamais teve efetividade prática. A história da neurociência no Brasil se confunde com
a própria história da fisiologia brasileira.
O estudo experimental e sistemático da Fisiologia começou, sem dúvida, com
irmãos Álvaro e Miguel Ozório de Almeida, no Rio de Janeiro, os quais também
iniciaram (principalmente Miguel Ozório) as pesquisas em neurofisiologia.
Álvaro Ozório criou uma escola nesse campo, que culminou com seu discípulo
Paulo Enéas Galvão, que foi para o Instituto Biológico de São Paulo e tornou-se o
segundo professor de Fisiologia da recém-criada Escola Paulista de Medicina,
substituindo outro discípulo carioca, Thales Martins que, em parceria com Ribeiro do
Valle, ajudou fundar a neuroendocrinologia brasileira. Miguel Ozório de Almeida,
entretanto, pesquisou a vida toda fisiologia e fisiopatologia do sistema nervoso,
disseminando apaixonados pelas descobertas cientificas.
O Brasil foi agraciado com vários pesquisadores que lutaram para postular o
conhecimento científico em solo brasileiro, permitindo a sociedade atual o contato com
a: Neurofisiologia, Neurobiologia, Fisiologia, Biofísica dentre outras.

75
O sonho que norteia os pesquisadores em desvendar a máquina humana, os
códigos, os sinais e os circuitos pelos quais trafega a informação vital dos seres
humanos, permitiu à humanidade evoluir e tomar consciência acerca da concepção
da natureza e da sua relação com o corpo, sua evolução biológica, adaptativa para a
manutenção e sobrevivência da espécie. Forneceu melhoria na qualidade de vida da
sociedade atual, avanços na medicina que disponibilizam tratamentos efetivos não
somente para as doenças degenerativas, mais os quadros Psiquiátricos,
psicossomáticos. Ressaltando também o desenvolvimento das tecnologias que
auxiliam para a visualização das imagens do funcionamento cerebral e mapeamento
direto da atividade neuronal em suas especificidades. Toda pesquisa pode levar a
infindáveis benefícios para a humanidade, bem como podem levar à sua decadência,
se mal-empregadas.

9 A APRENDIZAGEM COM O OLHAR DA NEUROCIÊNCIA

Com as novas descobertas da neurociência, percebe-se que com todo o


histórico da educação de jovens e adultos, não poderia deixar de destacar as lacunas
encontradas na vida escolar desses alunos. Segundo o autor Chalita, A escravidão
não subjuga o corpo, mas a mente.
A verdadeira escravidão existe quando o escravo nem desconfia de sua
condição de escravo. Ela é sutil e discreta. Na sociedade moderna, pretensamente
democrática, a escravidão apresenta-se de outras formas. Aquele que é disléxico,
hiperativo; que apresenta qualquer disfunção neurológica passam sem ser notados.
Isso muito contribui para o Aluno de Educação de Jovens e Adultos, ter uma
autoestima baixa. Como diz Relvas: Temos duas memórias, uma que se emociona,
sente, comove outra que compreende, analisa, pondera, reflete... Trata-se de emoção
e razão. Esta escola é um local, dentre outros (trabalho, família,) onde professores e
alunos exercem a sua cidadania, ou seja, comportam-se em relação a seus direitos e
deveres de alguma maneira. Acontece de muitas das vezes por falta de informação,
o docente e alguns funcionários cometerem algum equívoco: por não conhecerem o
lado emocional dos alunos. No entanto, segundo o autor Henri Wallon tudo se passa
como se a educação fosse algo extático, algo eterno, imutável, pronto e acabado,
necessitando de uma reflexão de nossas atitudes em educação de Jovens e Adultos.

76
Queixam-se professores de um lado, aborrecem-se alunos de outro e todos juntos
perpetuam uma situação escolar praticamente insustentável, como se fosse uma
fatalidade cuja a resolução não lhes dissesse respeito.
Esquecem-se ambos de que existem os direitos e deveres do profissional
Professor, descritos no seu estatuto; existem os direitos e deveres da criança e do
adolescente, recém garantidos pela nossa constituição. Para além deles existem os
interesses dos professores que podem querer formar em seus alunos este ou aquele
tipo de consciência, deste ou daquele modo, seja apenas informando os alunos, seja
orientando experiências participativas para este aprendizado. Existem os interesses
dos alunos, próprios de suas idades e do momento de seu processo de maturação, e
que os faz vibrar, se envolverem, se empolgarem e aprenderem muito mais, quando
são sujeitos ativos e participativos do que quando são apenas leitores ou ouvintes.
Portanto o desenvolvimento da cidadania, a formação da consciência do eu tem
na escola um local adequado para sua realização através de um ensino ativo e
participativo, capaz de superar os impasses e insatisfações vividas de modo geral pela
escola na atualidade, calcado em modos tradicionais.
É preciso usar o conhecimento que o professor já dispõe sobre o trabalho
escolar com a informação baseada no livro que atesta a importância que as
informações da neurociência trazem a educação. Vivemos em uma sociedade em que
o conteúdo está em baixa, temos muitas informações, mas pouco conteúdo,
sutilmente estamos sempre defasados ao que acontece no mundo, as informações
são muitas, pouco se apreende. É a neurociência que seria este norteador para nos
mostrar as possíveis falhas do sistema Educacional. O princípio básico desse
profissional é a compreensão das respostas cerebrais aos estímulos externos e assim,
o desenvolvimento das potencialidades. Em geral, o neurocientista é responsável por
investigar a integração do indivíduo com o meio ambiente, detectando os processos
físicos e químicos, que desencadeiam respostas musculares e glandulares.
Dentre as mais diversas formas de investigação, um dos principais objetivos do
neurocientista é interpretar as mais variadas mudanças que possa ocorrer no
comportamento fixo ou variante e, através da análise, contribuir para modificar esse
comportamento. Essa mudança chama-se: aprendizado. Ela ocorre no sistema
nervoso e pode ser chamada de plasticidade cerebral.

77
Fundamentalmente a neurociência possibilita um aprofundamento do estudo
dos processos da percepção, da consciência e da cognição. Em sua máxima,
consciência é o atributo pelo qual o indivíduo se integra ao mundo. É a percepção dos
fenômenos internos, afetivos, volitivos, intelectuais e das realizações externas.
Nas últimas décadas a neurociência tem se tornado uma ciência amplamente
pesquisada e bastante reconhecida, contribuindo de maneira significativa para o
desenvolvimento de soluções de diversas doenças e transtornos, sobretudo
educacionais.
O profissional em Neuropedagogia tem como princípio compreender as
respostas cerebrais que surgem através dos estímulos externos. É responsável pela
investigação e integração deste individuo com o meio onde ele está inserido,
observando seu processo físico e químico e as respostas que emanam deste
sujeito. O Neurocientista deve interpretar as mais variadas mudanças que ocorre em
todo processo em volta do indivíduo desde seu comportamento fixo há suas variantes.
Em suma o neuropedagogo através de seu olhar visa observar:

Processo interno:
- A Cognição;
- A Decisão;
- O Fazer;
- O Aprender;

Processo externo:
- A Adaptação;
- A forma de adequação ao novo ambiente
- Habilidades de adaptação;
- Alterações no processo de interação

9.1 A neurociência sob novos olhares

Ao estabelecer um paralelo entre o passado e o presente, nota-se que a


tempos, o cérebro tem sido elemento de estudo e pesquisa desde a antiguidade, sabe-
se que muitas perguntas ainda continuam sem respostas e em outras várias questões,

78
não foram ainda decifradas onde o cérebro em algumas áreas continua uma incógnita
para todos principalmente para aqueles que se propõe estudá-lo a nível científico.
O aprender e o lembrar do estudante ocorre no seu cérebro, conhecer como
este cérebro funciona não é a mesma coisa do que saber qual é a melhor maneira de
ajudar os alunos a aprender. A aprendizagem, a Neurociência e a educação estão
intimamente ligadas ao desenvolvimento cerebral o qual se molda aos estímulos do
ambiente, o estudo da aprendizagem une a educação com a Neurociência.
A aprendizagem é afinal um processo fundamental da vida. Todo individuo
aprende e, por meio da aprendizagem, desenvolve os comportamentos que o
possibilitam viver. Todas as atividades e realizações humanas exibem os resultados
da aprendizagem. (CAMPOS, apud PORTO, 2007, P.15)
Há décadas que as neurociências não são mais de longe uma ciência
puramente básica, hoje praticamente ela elabora o conteúdo das ciências que a
dedica ao estudo do sistema nervoso, sua anatomia e fisiologia bem como
patologia. Pesquisadores em educação tem tido postura otimista de que as
descobertas em neurociências contribuam para a teoria e práticas educacionais
O corpo, emoção e razão são indivisíveis e inseparáveis, é uma visão integra e
holística, a razão de ser nos últimos tempos as investigações da neurociência revelou
dados surpreendentes sobre o funcionamento do cérebro, o crescimento de novos
neurônios, outra afirmativa é que a inteligência não é única e nem fixa e muito menos
reside em um local determinado no cérebro como se afirmava no passado, a
inteligência é concebida como uma função do cérebro e várias partes dele estão
envolvidas em qualquer ação inteligente.
A inteligência muda com o tempo e os estímulos disponíveis no meio ambiente.
É preciso que estar atentos pois o mundo de hoje e de amanhã, somente poderá ser
enfrentado com sucesso, pela fantástica capacidade do cérebro humano, existe uma
grande ênfase no desenvolvimento da inteligência, do talento e das competências das
pessoas.
O cérebro é único não existindo outro igual, cada indivíduo tem o seu de forma
distinta resultando na interação dinâmica entre natureza e ambiente, respectivamente
genética e estimulação onde tudo que o sujeito realiza acontece a partir de uma
comunicação entre os neurônios. As pessoas aprendem de forma diferentes onde um
único método não é o ideal para todos os alunos, necessário se faz, várias estratégias

79
diferentes de ensinar daí, permitir ao educando sempre que possível a escolha, não é
uma proposta revolucionária, necessita de professores preparados, sintonizados e
comprometidos com a educação e com o método a aplicar ao desenvolver um ensino
diversificado e diferenciado, capaz de identificar, respeitar e aproveitar o estilo de
aprendizagem preferencialmente mais adequado para seus alunos.
Segundo FERNANDEZ e PAIN, "Para aprender são necessários dois
personagens, o ensinante e o aprendente e um vínculo que se estabelece entre
ambos"
A experiência escolar permite concluir que um dos grandes diferencias do
processo educativo é o vínculo estabelecido entre educadores e educandos. O ideal
é trabalhar com a premissa de que havendo vinculo é mais fácil que o professor
desenvolva a capacidade de escuta do que o aluno pretende transmitir e possibilite a
ele que se sinta compreendido e entendido em seu sofrimento mesmo porque
indisciplina e incompreensão caminham juntas.

10 INTERVENÇÕES NEUROEDUCACIONAIS

Os Neuropedagogos estudam sobre o processo de aquisição de aprendizagem


e da memória tendo o cérebro como elemento principal, fazem pesquisas, testes e
teorias as quais resultarão em benefícios para todos por outro lado, encontram-se os
educadores que anseiam em pôr em prática tais pesquisas, testes e teorias, é um
trabalho significativo e juntar estes dois segmentos é compensador uma vez que irá
exigir dos envolvidos as análises e aplicações destes conhecimentos científicos
traduzindo-os para as salas de aulas.
Esta colaboração mútua, enriquece tanto o trabalho dos cientistas cognitivos
como dos educadores onde estes poderão desenvolver e aplicar métodos de ensino
que melhor possam ser adaptados a seus alunos, em busca de que estes métodos
facilitarão a aprendizagem. A Neurociência tem um papel fundamental de intima
ligação com a prática pedagógica ela investiga o processo de como o cérebro aprende
e lembra, desde o nível molecular e celular até as áreas corticais, o estudo da
aprendizagem une estas duas áreas logo quanto mais se estuda a fisiologia nervosa
cada vez menos se pode dissociar o estudo anatômico da abordagem funcional ao
sistema nervoso.

80
Desenvolver pessoas não é apenas dar-lhes informação para que elas
aprendam novos conhecimentos, habilidades e destrezas e se tornem mais eficientes
naquilo que fazem. É sobretudo, dar-lhes a formação básica para que elas aprendam
novas atitudes, soluções, ideias, conceitos e que modifiquem seus hábitos e
comportamentos e se tornem mais eficazes naquilo que fazem. Formar é muito mais
do que simplesmente informar, pois representa um enriquecimento da personalidade
humana". (Chiavenato, 1999)
O aprender e o lembrar do estudante ocorre no seu cérebro, conhecer como
este cérebro funciona não é a mesma coisa do que saber qual é a melhor maneira de
ajudar os alunos a aprender. A aprendizagem, a neurociência e a educação estão
intimamente ligadas ao desenvolvimento cerebral o qual se molda aos estímulos do
ambiente, o ensino bem-sucedido provoca alterações significativas na taxa de
conexões sinápticas.
Inúmeras áreas do córtex cerebral são simultaneamente ativadas no transcurso
de nova experiência de aprendizagem, situações que reflitam o contexto da vida real,
de forma que a informação nova se junte a compreensão anterior. A neurociência
oferece um grande potencial para nortear a pesquisa educacional e futura aplicação
em sala de aula.
É fundamental que professores entendam que os sentimentos que impulsionam
a aprendizagem positiva ou negativamente, devem compreender que o ser humano é
um ser emocional, que pensa coerente com esta nova visão, é primordial que os
educadores aprendam a ler e entender as emoções, alegria, tristeza, raiva, medo de
seus alunos e principalmente a lidar adequadamente de forma competente com elas.
Sob este aspecto considera-se como importante em primeiro lugar criar um
ambiente seguro e convidativo para a aprendizagem, livre de desrespeito, ofensas e
humilhações. Em ambiente de medo e insegurança, o aluno torna-se passivo além de
perturbar a disciplina naturalmente indesejáveis em sala de aula além de que caso
uma criança seja ridicularizada por erro, irá se sentir em perigo logo, o cérebro desta
criança reagirá imediatamente adotando uma postura de fuga ou ataque, ao contrário
de que quando o erro é aceito e tratado de forma natural como parte do processo de
crescimento, o estudante aprende com ele, deve-se incrementar um clima emocional
positivo dentro da escola e da sala de aula com alegria, respeito mútuo, elogios e
brincadeiras sadias.

81
Neste aspecto, vários fatores influenciam a ação do professor em sala de aula
e suas ações dificultando o processo ensino\aprendizagem, o uso de metodologia
inadequada, a falta de recursos didáticos, as condições insatisfatórias de trabalho,
sem contar a dinâmica emocional do ser humano soma-se a isto, os desajustes
familiares na vida do aluno, a violência hoje presente tanto fora como dentro da escola
e o lugar do fracasso ocupado apenas pelo aluno, quando deveriam lá estar, o
professor, o aluno e a escola.
Uma nova concepção educacional propõe montagem de ambientes
enriquecidos centrados no desabrochar da criatividade e da inteligência de cada um
dos jovens e crianças os quais motivados possam mais e com melhor qualidade e, ao
fazerem isto, possam desenvolver ao máximo o seu talento dispostos a estudar e
felizes.
Segundo a Neuropedagoga ISABEL S.W.Azevedo "Não existem "fórmulas
mágicas" na prática pedagógica, juntos podemos reunir as pesquisas em
Neurociência com a prática pedagógica que melhor se adaptará aos nossos
alunos". Neste contexto recai também, o uso da ludicidade como ferramenta
pedagógica em sala de aula o que facilitará a transformação diária em uma vivência
criativa e rica diante da qual os alunos serão os primeiros a se interessarem por ir à
escola, a pedagogia e a Neurociência promovem o desenvolvimento cognitivo, pois
através da aprendizagem o sujeito é inserido de forma mais organizada no mundo
cultural e simbólico.
O professor deve se aproveitar de meios e recursos no sentido de que o seu
aluno tenha motivação com a finalidade especifica que a aprendizagem venha
acontecer de forma plena e eficaz, deve ainda conhecer a bagagem que o aluno traz
incentivando-o para que seja sempre capaz de produzir e criar.
A motivação nada mais é que criar motivos, causar entusiasmo e ânimo,
entusiasmar o indivíduo fazendo-o chegar até a eficácia do conhecimento. E mais
ainda, cabe criar nestes indivíduos a vontade de aprender através de estratégias e
estímulos a fim de que estes indivíduos se sintam motivados em aprender,
naturalmente a realização dos objetivos propostos, implica que sejam praticados
sempre uma vez que não se desenvolve uma capacidade sem exercê-la ás vezes
exaustivamente.

82
Existe um desconhecimento da anatomia e da fisiologia do sistema nervoso
central e periférico, são questionamentos a fim de saber por onde passam todos os
processos da aprendizagem do ser humano e como ocorre a alfabetização na mente
das crianças.
A educação em nossos dias deve ser trabalhada com grupos multidisciplinares,
é necessário que se faça uma releitura e reelaboração do desenvolvimento das
práticas curriculares, criar atividades de acordo com cada faixa etária trabalhada onde
a atividade seja focada principalmente sob aspecto afeto cognitivo, a questão familiar
também deve ser inserida neste contexto mostrando ao aluno, a importância dos
valores educacionais na vida de seus filhos, ela é o primeiro núcleo do vínculo.
Na busca do conhecimento, estabelecemos relações com objetivos físicos,
concepções ou outros indivíduos. Afeto e cognição se constituem em aspectos
inseparáveis, estando presentes em qualquer atividade a ser desenvolvida, variando
apenas as suas proporções (LAJONQUIERE, 1998).
O afeto e a inteligência se estruturam nas ações e pelas ações dos indivíduos,
tanto a inteligência quanto a afetividade são mecanismos de adaptação, permitindo
ao indivíduo construir noções sobre os objetivos, as pessoas e as situações,
conferindo-lhes atributos, qualidade e valores.
As questões pedagógicas estão relacionadas a transformação e modificação
do indivíduo através da teoria e da prática educacional tendo de um lado o aluno e do
outro a ação neuropedagógica onde o professor é o agente representante que detém
o domínio pedagógico que tem como função, guiar o aluno ao saber.
Segundo MARTA Relvas, "As equipes multidisciplinares e interdisciplinares só
tem sucesso quando agem de forma integrada com a família e a escola a fim de
otimizar resultados e focar o melhor desempenho da aprendizagem".
"Hoje não basta saber quem eu sou, é preciso também saber quem eu não sou
para então saber quem eu posso ser". Há um consenso hoje em dia que o conteúdo
dos nossos pensamentos deriva dos padrões de ativação de vastas redes neuronais.
As manifestações da cultura mostram que as áreas do conhecimento são de
vital importância uma vez que influencia na vida de todos desde os primeiros anos de
vida até a velhice tendo a escola como elemento central onde projeta, planeja e
executa todos os procedimentos educacionais.

83
As ciências são instrumentos imprescindíveis na caracterização da diversidade
de situações e na legitimação de suas demandas, as tecnologias de informações,
ampliam a capacidade humana na comunicação, no tempo e no espaço, naturalmente
dão uma nova e valiosa contribuição no processo ensino\aprendizagem.
Nos adolescentes e jovens, exerce um enorme fascínio e influência ao
despertar não só o seu lado curioso como além da disponibilidade de vários
equipamentos, o contato com o novo, a facilidade de aquisição e os resultados
imediatos. O uso da tecnologia é um recurso bastante significativo ao desenvolver
conhecimentos, porém, deve ser usada de forma correta, tornando-se um auxilio
fabuloso na aprendizagem ao proporcionar aos estudantes a oportunidade de
desenvolver habilidades tecnológicas básicas do mundo de hoje.
As competências escolares de formar ao longo da história, não significa que
elas mudam a cada ano letivo, é preciso compreender de que maneira elas afetam o
ensino e entender até que ponto aquilo que orientava professores de uma geração
continua útil ou não para a geração seguinte. É preciso analisar, refletir e se
necessário intervir neste contexto, pois o cérebro existe para pensar e não a máquina
pensar por ele.
No espaço escolar, se nivela o processo educacional, é lá que todos são iguais,
e que a inclusão se concretiza, não deve haver diferenciação na formação do
profissional\educador para as classes de ensino regular, das classes especiais já que
toda a educação é especial uma vez que a educação do ser humano deve ser
independente de qualquer atributo individual.
A tarefa de educar implica necessariamente o diálogo crítico e livre entre
educadores e educandos, como forma de se permitir que o conhecimento surja e seja
construído a partir de interações coerentes vivendo o outro com diferentes modos de
pensar, agir com suas múltiplas expectativas exercitando a autonomia do indivíduo, a
liberdade de pensar seus sentimentos sua imaginação a fim de que possa desenvolver
talentos e que ele possa tanto quanto possível ser dono do seu próprio destino.
No mundo de mudanças constantes, não devemos ensinar o que os outros
pensam ou pensaram, devemos desenvolver técnicas e métodos que possam
municiar nossos docentes a formação da consciência de que o aprendizado é
permanente e o conhecimento na sociedade contemporânea é volátil.

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Ao partilhar os nossos saberes, estamos dividindo os nossos conhecimentos
com o outro ao construir novos saberes para este outro e naturalmente para nós
mesmos, estamos interagindo sempre com o meio que nos cerca fazendo,
construindo, revendo, analisando, definindo e ensinando para toda vida, isto é, ensinar
é aprender a ensinar.
O cérebro humano é uma maravilhosa máquina que transforma uma simples
sensação em pensamento, é um órgão complexo, desvendado parcialmente pela
ciência, composto por células nervosas e glândulas. Dentro desta complexidade é
importante ressaltar as funções do encéfalo e dos neurotransmissores, o encéfalo
diferente do cérebro, é um conjunto de estruturas que estão anatomicamente e
fisiologicamente ligadas, são estruturas especializadas que funcionam de forma
integradas, para assegurar, unidade ao comportamento humano. Possui uma
constituição elaborada ao receber mensagens que informam ao homem a respeito do
mundo que o cerca além de receber um permanente fluxo de sinais de outros órgãos
que o capacita a controlar os procedimentos vitais do indivíduo, batimento cardíaco, a
fome e a sede, as emoções, o medo, a ira, o ódio e o amor tudo iniciando no encéfalo
tendo o cérebro, a parte maior e mais importante.
Na aprendizagem a criança tem na concentração e atenção aspectos
importantes e fundamentais para o desenvolvimento cognitivo e motor, o aprendizado
depende de alguns outros fatores, estimulo, interesse e da funcionalidade adequada
das estruturas que irão receber tais estímulos e principalmente da atenção desta
criança. Se a atenção é fundamental para a aprendizagem é através do desempenho
de uma estrutura complexa localizada na parte central do tronco encefálico
denominada de formação reticular (age como se fosse um filtro), que mantém o córtex
em condições para que possa receber novos estímulos, decodifica-los e interpretá-los
principalmente os sensitivos que devem ser selecionados onde somente os estímulos
importantes passam por este "filtro", chegando ao córtex o que os torna conscientes
impedindo que os constantes bombardeios não venham atingir o córtex de forma
indiscriminada.
Quanto aos neurotransmissores, são substancias químicas produzidas pelos
neurônios, as células nervosas, por meio delas podem enviar informações a outras
células, podem também estimular a continuidade de um impulso ou efetivar a reação
final no órgão ou músculo alvo, elas agem nas sinapses que são o ponto de junção

85
do neurônio com outra célula. Os Neurotransmissores possibilitam que os impulsos
nervosos de uma célula influenciem os impulsos nervosos de outra permitindo assim
que as células do cérebro por assim dizer, "conversem entre si".
O corpo humano desenvolve um grande número dessas mensagens químicas
para facilitar a comunicação interna e a transmissão de sinais dentro do cérebro, são
substancias que funcionam como combustível cerebral, nos deixam mais felizes e são
fundamentais para o bom funcionamento do organismo. O interesse dos
neuropesquisadores, suas descobertas, tem crescido em resposta á necessidade de,
não somente entender os processos neuropsicobiológicos normais mais
principalmente para respaldar a ciência da educação. Modernas técnicas estão
começando a revelar como o cérebro tem conseguido a notável proeza da
aprendizagem, as ciências cognitivas modernas, estão sendo capazes de estudar
objetivamente muitos componentes do processo mental tais como atenção, cognição
visual, linguagem, imaginação mental etc. (Cardoso, Sabbatinni, 2000, "Cérebro e
Mente".
Novos desafios terão pela frente, certamente novas conquistas, possivelmente
os obstáculos existentes entre neurocientistas e educadores serão ultrapassados,
novos paradigmas irão impulsionar a ciência principalmente a aqueles que se
preocupam com a educação sob novos olhares.

11 A NEUROEDUCAÇÃO E SUAS TRANSFORMAÇÕES

Neuroeducação é um modelo sistêmico de intervenções evolutivas desenhado


para atuar nas matrizes de inteligências do sistema mental e estruturar o caminho de
manifestação do potencial inteligente da consciência. A Neuroeducação atua no
campo da educação desenvolvendo ferramentas holográficas capazes de corrigir as
dificuldades de aprendizagem escolar oferecendo instrumentos de inclusão social
capaz de extrair o máximo do potencial funcional de cada indivíduo ao transformá-lo
em todas as capacidades independentemente de sua origem social, qualidade de
ensino escolar ao qual está submetido ou grau de desenvolvimento pessoal.
Portanto, mais que eliminar dificuldades de aprendizagem, a Neuroeducação
auxilia também jovens e adultos a modificar suas estruturas funcionais limitantes,

86
aperfeiçoando suas operações das matrizes de inteligência, possibilitando a
expressão máxima da sua potencialidade: a genialidade pessoal.
Segundo a Neuropedagoga ADRIANA Peruzo, "apostar nos estudos da
neurociência pedagógica é apostar numa evolução crescente e segura, é vincular o
educador a ideias, a comportamentos e a pensamentos complexos, é levar ao
educando a noção do sujeito do processo da aquisição e da produção do
conhecimento".
A neurociência pedagógica é um ramo da ciência que compatibiliza o cognitivo
(técnica de ensino) e o cérebro humano, adequando o funcionamento do cérebro para
melhor entender a forma como este recebe, seleciona, transforma, memoriza, arquiva,
processa e elabora todos as sensações captadas pelos diversos elementos sensoriais
para a partir deste entendimento poder adaptar as metodologias e técnicas
educacionais a todas as crianças e principalmente aquelas com as características
cognitivas emocionais diferenciadas.
A Neuroeducação entre várias funções torna o ato de estudar, frequentar a
escola, ler, enfim aprender, interessante, prazeroso e fácil, as pessoas vêm sendo
trabalhadas com esta ciência tanto para eliminar incapacidades de aprendizagem
como para expandir conhecimentos específicos, é uma ferramenta moderna e
eficiente na construção e transformação do aprendente.
A união entre a neurociência e a pedagogia, está dando origem a estratégias
educacionais inovadoras, a plasticidade cerebral, a aquisição da linguagem e a
formação da mente simbólica, são analisadas em profundidade, é um extenso e
fascinante universo de potencialidades que cada um de nós tem, o nosso cérebro.
O cérebro se modifica aos poucos fisiológica e estruturalmente como resultado
da experiência, a aprendizagem, a memória e emoções ficam interligadas quando
ativadas pelo processo de aprendizagem. Entre os modos e oportunidades em que o
cérebro se modifica e desenvolve a sua estrutura para atender as novas exigências
de desempenho, uma delas está em aprender. Estas modificações também são
extensivamente estudadas pela neurociência sob vários aspectos tidos como
plasticidade cerebral.
A característica plástica de uma estrutura pode ser definida utilizando-se como
ponto de partida a possibilidade de alteração estrutural, adaptabilidade a nova
morfologia ou funcionabilidade ou ainda capacidade de transformação.

87
Antigamente admitia-se que o tecido cerebral não tinha capacidade
regenerativa e que o cérebro era definido geneticamente, no entanto, como explicar o
fato de pacientes com graves lesões, obterem com auxílio de terapias e estímulos, a
recuperação da função cerebral, a ciência tem comprovado através de pesquisas que
com o aumento do conhecimento sobre o sistema cerebral e que sendo ele mais
maleável e flexível do que se imaginava ao se modificar sob efeito da experiência das
percepções, das ações e do comportamento.
O avanço dos neurocientistas na descoberta no que diz respeito à plasticidade
cerebral oferece uma nova visão de como acontece o processo de aprendizagem e
de aquisição de novas habilidades cerebrais, a plasticidade cerebral pode ser aplicada
à educação, deve-se considerar a facilidade do sistema nervoso em se ajustar diante
das diferenças e influências do ambiente por ocasião do desenvolvimento infantil e
também na fase adulta.
Segundo MARTA Relvas, " A plasticidade em um organismo normal é o
processo de aprendizado que se desdobra em duplo aspecto: o motor, que se dá num
nível inconsciente e se faz de forma automática e o segundo nível, o consciente que
depende da memória, seja emocional, seja cultural.
O termo aprendizagem não é falar somente o que acontece entre paredes de
sala de aula, sob o ponto de vista da neurociência, é entender que cada um de nós é
único em seu conjunto e ao mesmo tempo peculiar no quadro de suas capacidades e
de atributos que suas múltiplas inteligências podem lhes trazer.
É principalmente, mudança de comportamento e de vista, sob olhares da
neurociência, é o movimento dos neurônios que se interligam criando ligações
(sinapses), trajetórias e redes de circuitos que se reforçam e se sustentam pela
repetição e pela necessidade do "uso" e, sobretudo, da busca incessante pela
exploração de si mesmo, do meio ambiente e do outro. De maneira geral, existe um
certo desconhecimento da anatomia e da fisiologia do SNC e periférico, são alguns
questionamentos para saber por onde passam todos os processos da aprendizagem
do ser humano e como ocorre a alfabetização no cérebro das crianças.
O aluno não pode ser tratado de maneira igual, o tratamento das diferenças
direciona melhor o ensino, e oferece qualidade na aplicação do método, não se trata
de preferência nem tampouco privilégio, é preciso envidar esforços ao qualificar o
trabalho pedagógico e consequentemente a melhoria do padrão de ensino, saber que

88
todos possuem diferenças essenciais e conduzi-la de forma eficiente, demonstra
competência e habilidade consolidando o trabalho escolar. Assim, conhecer a
anatomia e a fisiologia da aprendizagem, expurga os conceitos errôneos e os pré-
julgamentos de que a criança está sempre errada, é incompetente ou até mesmo
relapsa, é preciso associar o processo de aprendizado e desenvolvimento humano ao
funcionamento do cérebro e sua plasticidade. É necessário constantemente buscar a
harmonia no que se faz, naturalmente a partir das semelhanças e diferenças de cada
um, ser claro nos objetivos, com as pessoas envolvidas, ouvir atentamente e perceber
o que os outros dizem.
Efetivamente educar é, portanto, fugir dos determinismos estabelecendo a
cultura humana como processo sob permanente transformação forçando o homem a
se livrar das "amarras" do mundo, do autoritarismo, da arrogância e da
mesmice. Caminhos e métodos, procura-se o sentido de ser e de verdade, é um
contínuo interrogar, o que são e como são os alunos, indagando sobre o ser das
pessoas, suas verdades e modo de configurá-las, possibilidade de conhecer implica
a possibilidade do existir, transita de um modo de conceituar o mundo para um modo
de ser-no-mundo, habitá-lo, viver nele, sentir a si mesmo e aos outros num contínuo
que é dialógico.
Não se pode afirmar categoricamente que tal método e tal tendência é melhor
ou pior, o mais importante é conhecer qual o público alvo a se atingir, suas
necessidades, suas carências, o meio em que vive, sua situação econômica e social,
é preciso buscar formas e métodos que possam se adequar a estes alunos uma vez
que as dificuldades por eles enfrentadas os tem colocados a margem do
conhecimento. "Os conteúdos-métodos de apropriação ativa do saber implicam uma
relação dinâmica entre a ação cientificamente fundamentada do professor, a vivência
e a participação do educando" (LIBÂNEO, 2006.p.105).
Libâneo cita com muita propriedade que a educação antes de ser um processo
de formação cultural, é um fenômeno social. A educação é um processo através do
qual o indivíduo toma a história em suas próprias mãos a fim de mudar o rumo da
mesma, como, acreditando no educando, na sua capacidade de aprender, descobrir,
criar soluções, desafiar, enfrentar, propor, escolher e assumir as consequências de
sua escolha.

89
Há décadas que os neurocientistas não são de longe uma ciência permanente
básica, hoje praticamente ela elabora o conteúdo das ciências que se dedicam ao
estudo do sistema nervoso, pesquisadores em educação tem tido postura otimista de
que as descobertas em neurociências contribuam para as teorias e práticas
educacionais.
A construção do conhecimento já não é produto unilateral de pessoas isoladas,
mas de uma vasta colaboração cognitiva distribuída, da qual participam aprendizes
humanos, sistemas cognitivos naturais e "artificiais", o indivíduo está no centro pois o
conhecimento é a moeda desta nova era que por sua vez, é incorporado ao indivíduo,
ou seja, não é impessoal. Como preparar o indivíduo para atuar neste novo contexto?
O destino do cérebro depende de estímulos, da escola, da família e do meio
ambiente, além de elementos essenciais que influenciam na aprendizagem, ambiente,
idade, genética, nutrição, psicológico, áreas corticais e principalmente motivação.
É fundamental que educadores professores, escolas, universidades, entendam
que são os sentimentos que impulsionam a aprendizagem positiva ou negativamente,
compreendendo que o aluno é um ser emocional que pensa, coerente com esta nova
visão é importante que os mestres aprendam a "ler e entender" as emoções de seus
alunos procurando lidar de forma adequada, com elas o aluno constrói através de
diálogo, conhecimentos com colegas, professores e pessoas desenvolvendo
competências e valores essenciais a fim de que possa viver junto à família, a
sociedade e no futuro ao exigente mundo do trabalho.

11.1 Neurociência, formação de professores e práticas pedagógicas

Para entender o quanto é importante reorientarmos nosso entendimento sobre


a mente humana devemos olhar para a complexidade do mundo presente e
compararmos com o que tínhamos há cinquenta anos passados. Que tipo de mente
era necessária naquele período para interagir com o meio, enfrentar problemas
cotidiano, relacionar-se com as pessoas, adquirir informações para sobreviver, e de
qual precisamos hoje para realizar as mesmas atividades? É possível situarmo-nos
no mundo e viver hoje com os conceitos de quatro ou cinco séculos passados,
concebendo ainda a mente humana como única estrutura e com uma visão tradicional
da inteligência (“paleolítico digital”)? Cada momento que passa aprendemos mais

90
sobre a evolução humana e o funcionamento do cérebro, fruto da revolução científica
de diferentes áreas da biologia, da fisiologia, neurologia ...
Muitas das descobertas científicas recentes sobre a mente humana chocam-se
com muitas as práticas pedagógicas tradicionais que vêm sendo desenvolvidas há
anos e que não levam em consideração como o cérebro evoluiu e como está
organizado nos seres humanos. Não há duas pessoas com o mesmo perfil, para tanto
se deve procurar conhecer o estilo de aprendizagem de cada sujeito para criar
modelos pedagógicos que permitam que cada um aprenda mais e melhor do seu jeito.
Não conseguiremos, de um momento para outro, romper com uma longa tradição
centrada em ensinar e avaliar de uma única maneira, de forma padronizada. O que
alimenta nossa esperança é que pela primeira vez em toda história da humanidade
temos conhecimentos que nos permitem entender e demonstrar que isso é possível e
produz resultados mais palpáveis e melhores na aprendizagem. Não se trata de um
conhecimento que sirva somente para compreendermos e estudarmos as crianças
com perfis irregulares (como num primeiro momento se pensou em função dos casos
analisados e estudados), mas para todas.
Com o avanço da Neurociência determinados procedimentos e acontecimentos
pedagógicos não mais serão vistos da forma: “eu acho que meu aluno aprende melhor
seu eu fizer desse jeito do que daquele”. Passa-se a ter dados objetivos para afirmar
que x funciona melhor que y no que se refere aos métodos de ensino, portanto surge
a demonstração de quais estratégias de ensino podem ser usadas com melhores
resultados.
Passa a ser possível ensinarmos o que é importante de ser aprendido de
maneiras diferentes, utilizando linguagens diferentes, a arte, o humor, a imagem, o
desenho, contando histórias para criarmos as condições para que mais sujeitos
consigam aprender. Quantos mais conseguirem aprender maiores serão as
possibilidades de converterem isso para outras linguagens e para o meio onde vivem,
reestruturando outras redes neurais (oportunizando novas sinapses[5]) e quanto
maior for a ativação de novas redes neurais maior será seu entendimento sobre a vida
e as coisas.
Como ignorar o que ocorreu com o cérebro humano quando nosso trabalho
envolve esta evolução e seus progressos, quando ele é afetado diretamente por eles?
Por exemplo: crianças que não aprendem, que apresentam dislexia[6], de posse das

91
imagens de seu cérebro torna-se possível tratá-las e também orientar educadores
sobre como agir para explorar o potencial intelectual não comprometido do cérebro ou
como obter resultados por meio da intervenção adequada a partir do conhecimento
das características desta criança ou adolescente.
Outro exemplo e campo onde a neurociência pode auxiliar é o que diz respeito
às transformações provocadas pela revolução digital na mente humana que tem
impacto profundo na educação, pois as redes neurais formadas como resultado do
uso das novas tecnologias possibilitam mensagens instantâneas e multitarefas, o que
dificulta a atenção ao foco e ao que deve ser aprendido. O digital passa a ser um
“competidor” com as atividades de estudo da escola. Como criar mecanismos para
resgatar a atenção e concentração no que deve ser aprendido? É neste momento que
deverá aparecer a criatividade e a arte do professor.
O aprendizado contínuo durante uma vida inteira e com instrumentos cada vez
mais sofisticados diferencia as novas gerações de outras anteriores, das quais,
algumas nem sequer tinham educação institucionalizada. O cérebro humano
aprendeu rapidamente isso desenvolvendo a capacidade de adquirir
permanentemente novas informações que geram uma dinâmica interna de ciclo
contínuo de expansão e ativação de novas sinapses, deixando-o cada vez mais ativo
num processo de permanente retroalimentação, o que alguns estudiosos denominam
de neuroplasticidade do cérebro.
Ao conhecer o funcionamento do sistema nervoso, os profissionais da
educação podem desenvolver melhor seu trabalho, fundamentar e melhorar sua
prática diária, com reflexos no desempenho e na evolução dos alunos. Podem intervir
de maneira mais efetiva nos processos de ensinar e aprender, sabendo que esse
conhecimento precisa ser criticamente avaliado antes de ser aplicado de forma
eficiente no cotidiano escolar. Os conhecimentos agregados pelas neurociências
podem contribuir para um avanço na educação, em busca de melhor qualidade e
resultados mais eficientes para a qualidade de vida do indivíduo e da sociedade.
(COSENZA, 2011, p. 145).
Há muito por vir no que diz respeito ao conhecimento sobre o cérebro humano,
há muitos questionamentos em aberto ainda, quem sabe o que virá no futuro poderá
até desconstruir muitas das “verdades” de hoje, isto não nos autoriza a ignorar sua
importância para quem quer trabalhar como professor. Sem este conhecimento nossa

92
prática poderá se tornar ainda mais pobre e enclausurada. Como as possibilidades da
genética e da biologia ainda são limitadas (apesar do uso de substâncias e
medicamentos), quem sabe a grande alternativa seja mudar as condições e o
ambiente da aprendizagem.
A neurociência é o estudo do sistema nervoso. Ele contempla diversas áreas
como a medicina, química, biologia, matemática, engenharia, linguística, entre outras.
Com tantas ciências envolvidas, é no mínimo um desafio pensar como as pesquisas
de laboratório podem estar presentes em sala de aula. Porém, como os exemplos a
seguir deixam claro, o relacionamento entre a educação e as pesquisas é uma
realidade que tem aprimorado cada vez mais o processo de aprendizagem e ensino.
Como a neurociência está ajudando a educação:

1. Ensino cognitivo

Mesmo em estágio inicial, o ensino cognitivo já mostra sinais de que é um dos


resultados mais promissores da relação entre a neurociência e a educação. O ensino
cognitivo é extensamente pesquisado na Universidade Carnegie Mellon, nos Estados
Unidos, onde os programas de álgebra desenvolvidos pelos pesquisadores já
ajudaram os alunos a aumentarem seus rendimentos em matemática.

2. Horário das aulas

Pesquisas no ramo da neurociência revelaram que os padrões de sono das


pessoas mudam de forma significativa enquanto elas envelhecem. Além disso, os
estudos mostram que os adolescentes necessitam de mais descanso que outras
faixas etárias e que suas capacidades cognitivas são muito menores no início da
manhã. Esses resultados já provocaram diversas mudanças, inclusive na alteração
dos horários de início das aulas para estudantes do ensino médio. Apenas 30 minutos
de diferença causam um enorme impacto no humor e atenção dos jovens.

3. Variedade no aprendizado

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Muitas pessoas acreditam que a repetição é melhor maneira de aprender e
reter conteúdos, mas pesquisas recentes mostram que os estudantes aprendem mais
quando suas aulas são espaçadas em horários diferentes, ao invés de concentradas
em um único episódio. Os resultados desses estudos têm sido colocados na prática
por professores que apresentam as informações de maneiras diferenciadas, pedindo
aos alunos que resolvam problemas usando múltiplos métodos e não memorizando
apenas uma maneira de solucioná-los.

4. Aprendizado personalizado

A anatomia de nossos cérebros pode ser similar, mas a maneira como cada um
aprende não é. Sabemos isso por experiência pessoal, mas a neurociência começa a
demonstrar cientificamente. Ferramentas de ensino são desenvolvidas para que
adaptem às necessidades individuais de cada um e professores procuram encorajar
maneiras personalizadas que os alunos podem usar para aprender melhor e com mais
eficiência.

5. A perda de informações

Uma experiência vivida por muitos estudantes quando voltam das férias é a
sensação de que se esqueceram de tudo que foi aprendido no semestre anterior.
Pesquisas mostram que isso é realmente verdade. Os resultados revelam que, além
disso, pessoas que costumam manter o hábito de exercitar seus cérebros
continuamente, por exemplo, com livros mais difíceis, possuem mais conexões e
variedades de ligações neurais. Como consequência, muitas escolas estão
diminuindo o tempo de férias ou desenvolvendo cronogramas de atividades anuais
para que os alunos reduzam o tempo que passam fora da escola e não prejudiquem
sua memória e rendimento.

6. Problemas de aprendizado

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As pesquisas realizadas pela neurociência estão facilitando o processo de
identificação de alunos com problemas de aprendizado, como a dislexia, e ajudando-
os a identificar intervenções que podem melhorar seus desempenhos.

7. Diversão em sala de aula

É cada vez maior a evidência de que a diversão é uma experiência muito


positiva para o aprendizado. Isso acontece porque experiências satisfatórias fazem
com que o corpo libere dopamina, ajudando o cérebro a se lembrar dos fatos com
mais agilidade. Um ótimo exemplo de como isso funciona é o Khan Academy, um
portal de aprendizado online que desafio os alunos a completarem desafios e tarefas
para que ganhem distintivos.

8. A importância do estudo em grupos

O estudo em grupos é extremamente eficiente para o desempenho acadêmico.


Uma pesquisa realizada em 2011 pela neurologista Judy Willis mostrou que
estudantes que trabalham em grupos experimentam um aumento na liberação de
dopamina, ajudando os alunos a lembrar mais das informações em longo prazo. A
pesquisadora descobriu que, além disso, aprender em grupos pode reduzir a
ansiedade dos estudantes.

9. Neuroeducação

Se você nunca ouviu falar da Neuroeducação, então é hora de se atualizar.


Atualmente, no Brasil, já possuímos até mesmo pós-graduação nessa área. Por meio
da prática é realmente possível mudar a forma como nosso cérebro é estruturado,
acrescentando mais conexões cerebrais e mudar os padrões neurais por meio da
neuroplasticidade permitida pelos nossos neurônios.

95
11.2 Vias neurais e aprendizagem

O cérebro é composto de células chamadas neurônios que apresentam


terminações nervosas: as sinapses e os dendritos. Essas terminações nervosas
liberam estímulos químicos e elétricos que se comunicam uns com os outros. Esta
comunicação constitui caminhos neurais no cérebro e é a base para o funcionamento
do mesmo.
Quando aprendemos algo, “o caminho é fraco”. Por exemplo, se aprendemos
um conteúdo novo, ele somente será “consolidado” em nosso cérebro na medida em
que o usarmos habitualmente, criando assim vias neurais que serão os caminhos
bastante utilizados.
Pense em quando você aprendeu a andar de bicicleta. Tinha que treinar a
atenção para ficar equilibrado, além de manter os olhos na estrada, segurar o guidão
e visualizar a direção desejada. Com a prática, suas vias neurais automatizam estes
mecanismos a ponto de conseguir executá-los sem a necessidade de fixar sua
atenção em cada passo a ser realizado. Então, quanto mais você pratica, mais
fortalece os caminhos do cérebro proporcionando sentimentos de confiança e certeza
na sua experiência com a bicicleta. Sendo assim, nas próximas vezes que você
executa tal atividade, a fará sem pensar, ou seja, estará operando em automático.
Pensando nesta perspectiva, poderíamos dizer que: quanto mais utilizarmos
pensamentos saudáveis e positivos, mais reforçamos nossas vias neurais destes
padrões de pensamentos. Bem como, se a pessoas se mostram inúmeras vezes
irritada, impaciente será estas as vias neurais que mais estão sendo estimuladas.
"Como um único passo não vai fazer um caminho sobre a Terra, um único
pensamento não vai fazer um caminho na mente. Para fazer um caminho físico
profundo, caminhamos novamente e novamente. Para fazer um vínculo mental
profundo, devemos pensar mais e mais o tipo de pensamentos que desejamos
dominar nas nossas vidas. " Thoreau

11.3 Abordagens da Neuroeducação

O cérebro humano sempre foi e é objeto de estudo de todos nós, porém na


atualidade as pesquisas reveladas pelas neurociências têm tido grande repercussão
nos mais diversos setores voltados ao estudo do desenvolvimento humano. Dessa
96
forma, a educação, mostra grande interesse em saber como estes estudos podem
trazer benefícios para o ensino-aprendizagem.
A Neurociência está cada vez mais presente na sala de aula. Ou, mais
precisamente, a nossa compreensão de como o cérebro se desenvolve e de que forma
isso muda a nossa forma de ensinar. Sendo assim, a terminologia “Neuroeducação”
traz consigo cada vez mais esta proximidade entre a neurociência e a educação.
Estamos ouvindo muito sobre Neuroeducação, e com certeza os currículos,
futuramente, serão baseados não apenas em assuntos de ensino, mas em como
preparar o cérebro para aprender.
Se pensarmos o cérebro como uma árvore com galhos, a Neuroeducação é o
processo de adicionar mais ramificações. E se o cérebro tem mais ramificações, uma
criança pode aprender mais rápido. Esta "religação" ou “ramificação” é baseada em
algo chamado neuroplasticidade.
Outra questão abordada sobre nossa compreensão do cérebro está levando a
notáveis insights sobre como as memórias são formadas e como acessar essas
memórias. Essas ideias estão levando a novas abordagens para ajudar as crianças a
estudar. Por exemplo, verifica-se que a repetição é importante, mas que o cérebro
responde a um " efeito de espaçamento”. Ou seja, não adianta ficarmos estudando
horas a fio para uma prova, é preciso ter disciplina e estudar diariamente, durante um
certo período.
Uma das descobertas mais pronunciadas da neurociência é o impacto da
aprendizagem da música na função cognitiva. A ideia se tornou popular quando foi
chamado de "Efeito Mozart", mas verifica-se que ouvir música não é suficiente. A
neurociência mostrou que aprender a tocar um instrumento ou aprender sobre as
notas, ritmo e música pode ter um impacto dramático sobre como o cérebro se
desenvolve. O avanço está na compreensão de que o cérebro tem a capacidade de
criar novas conexões através da música, e o impacto dessas conexões proporciona
um aumento de QI, memória e atenção.
Semelhante a música, aprender uma segunda língua tem um impacto direto
sobre a forma como o cérebro se desenvolve e cresce. Uma criança que aprendeu a
língua materna e uma outra terá melhor desempenho que uma criança que só fala a
língua materna.

97
As aulas de educação física apresentam função importante dentro do contexto
escolar, pois através de exames de neuroimagens podemos verificar o quanto o
cérebro se mantém ativo durante estas atividades.
O que uma criança faz na escola caminha lado a lado com o que acontece em
sua casa. A escola, certamente, tem procurado da melhor forma possível, integrar as
descobertas da neurociência no currículo, porém o sucesso disso tudo só será
plenamente realizado quando os pais desempenharem um papel na consolidação
deste desenvolvimento.

11.4 Neurociência dos seis primeiros anos-implicações educacionais.

A fusão dos achados da neurociência contemporânea com o estudo do


desenvolvimento biológico humano, aumentou substancialmente nosso entendimento
de como são fundamentais os 6 primeiros anos da vida da criança. Está começando
a ser desvendada, a relação entre como o cérebro humano se desenvolve, os circuitos
neuronais e os mecanismos biológicos que afetam a aprendizagem, a linguagem, o
comportamento e a saúde do indivíduo ao longo de sua existência.
As descobertas atuais são o coroamento e reconhecimento da importância do
diligente cuidado maternal, exercido de forma instintiva por séculos. Os pais sempre
souberam de maneira intuitiva, que recém-nascidos e crianças pequenas precisam de
afeição e carinho. O que é fascinante sobre a nova compreensão do desenvolvimento
do cérebro, é o que este órgão frágil e complexo, nos revela sobre como boa nutrição
e cuidados com a saúde na fase pré-natal e nos primeiros anos, criam as fundações
para as etapas posteriores (Papalia & Olds, 2000; Slater & Lewis, 2002).
Naturalmente o estímulo durante o desenvolvimento biológico pode ser de
qualidade ou deletério. Por exemplo, no primeiro trimestre do desenvolvimento
embrionário o feto é particularmente afetado por neurotoxinas como fumo, chumbo,
alumínio e mercúrio. Já a estimulação proveniente de um lar violento, afetado pelo
consumo descabido de bebidas alcoólicas, agressões e intimidações, gera sequelas
no desenvolvimento cerebral das crianças.
A síndrome alcoólica fetal, entre outros danos, “queima” neurônios, e provoca
déficits comportamentais e de função cognitiva. Por sua vez, a subnutrição da
gestante gera crianças com cérebro menor. Especificamente a carência de ferro na

98
alimentação produz profundos efeitos nas funções motoras e cognitivas. O ion Fe++
indiretamente participa da síntese de neurotransmissores, mielinização das fibras
nervosas e dos processos de codificação da memória no hipocampo (Moura, 1994,
Nathanielsz, 1999).

12 INTERATIVIDADE E DESENVOLVIMENTO PRECOCE DA MENTE.

Por um longo período, os psicólogos que estudam desenvolvimento mental


infantil, têm se debruçado em estudos sobre como a criança cresce e aprende.
Observaram e testaram os comportamentos e habilidades de crianças em diferentes
idades (Gopnik, et al.,1999). Mas, seus achados sobre o desenvolvimento precoce da
mente e os possíveis desdobramentos a longo prazo, não despertaram a atenção do
público em geral (Slater & Lewis, 2001; Astington et al., 1988; Astington, 1998;). Nos
últimos 10 anos houve uma “explosão” de conhecimentos a respeito da neurociência
do cérebro e o relacionamento entre os primeiros anos de aprendizagem,
comportamento e saúde da criança que se transforma em adultos. No rol de
descobertas inclui-se pesquisa básica, técnicas de neuroimageamento (análise do
cérebro em atividade), e acima de tudo a integração destes conhecimentos pela
transdisciplinaridade (Koizumi, 2001, Ramos, 2003).
Era amplamente aceito que a cito arquitetura do cérebro estava estabelecida
no nascimento, em decorrência das características herdadas dos pais. Sabe-se nos
dias atuais, que ocorre substancial parcela de desenvolvimento cerebral no período
entre a concepção do novo ser e o primeiro ano de vida. Hoje, tem-se uma nova
compreensão de como agem os estímulos sobre as experiências vivenciadas pela
criança antes dos 3 anos, de maneira como influenciam a circuitaria das redes
neuronais deste cérebro em crescimento.
Há uma intensa interação entre a estimulação precoce, via órgãos dos sentidos
e a carga genética. Como consequência, produz-se um efeito decisivo no
desenvolvimento cerebral da criança, com impacto de longa duração na fase adulta.
O desenvolvimento do cérebro humano é mais do que natureza (patrimônio genético)
versus criação (vivências, meio ambiente, cultura), mas uma substancial ênfase na
interação (Shonkoff & Phillips, 2000).

99
Porção considerável do desenvolvimento cerebral se dá na fase embrionária.
No início do desenvolvimento, cerca de duas semanas após a concepção, forma-se o
tubo neural o qual irá constituir o cérebro e a medula espinhal (Hepper, 2001). A
maioria dos neurônios é produzido entre o 4º e 6º meses da gestação.
Uma vez formados os neurônios são programados para migrar para certos
sítios no cérebro onde exercerão sua função. Mutações nos genes que controlam a
migração podem criar destinação incorreta destes, provocando distúrbios como
epilepsia e retardo mental e suspeita-se dislexia (Kapczinski, et al., 2000, van Hout &
Estienne, 2001). Uma migração maciça tem lugar quando o feto está com 4,5 meses.
O feto a termo vem ao mundo com bilhões de neurônios e células de sustentação e
manutenção a glia (Fields, 2004), os quais deverão formar quatrilhões de conexões
para que o sistema nervoso central (cérebro e medula espinhal) e o sistema nervoso
periférico funcionem efetivamente.
Em resposta a estímulos ambientais, por exemplo língua (sabores), pele
(toque), os neurônios localizados nas partes específicas do cérebro, formam ligações
eletroquímicas- as sinapses- que permitem ao cérebro, reconhecer a codificação dos
sinais oriundos dos receptores sensoriais (Costanzo, 2004). Há uma intensa produção
de sinapses e vias neurais na vida uterina e 1º ano de vida da criança, com progressivo
decréscimo até os 10 anos, embora para certas funções se estenda ao longo da vida
(Conel, 1939). Ainda que haja múltiplas formações de circuitos, se observa um
importante “podamento” de neurônios, sinapses e mesmo vias neurais, que não são
estimulados. Aquelas estruturas neurais que não são usadas ou são pouco eficientes
são eliminadas. É como se houvesse um “suicídio” programado de neurônios, cujo
mecanismo começa a ser desvendado. Este processo de racionalização do número
dos componentes da rede neuronal, é como se fossem esculpidos pela evolução na
expectativa de estímulos ambientais naturais e para a emergência de reconhecimento
de novos padrões. O reconhecimento de faces, animais, vegetais, parece ser
filogenético, isto é, um conhecimento inato que partilhamos com os outros animais
(Cosmides & Tooby, 1997). Na eliminação do tecido nervoso, leva-se em conta a
“economia” cerebral, pois este é uma entidade metabolicamente voraz (consumo
comparativamente elevado de oxigênio e glicose, 10% quando o cérebro está em
repouso, 50% durante atividade mental).

100
13 PRODUÇÃO DE SINAPSES E EDUCAÇÃO INFANTIL

Muitos educadores citam pesquisa científica sobre o desenvolvimento do


cérebro para advogar práticas educacionais o mais precoce possível (Caine &
Caine,1990; Rice et al.,1996; Ramos, 2002). Alegam que as crianças devem começar
a estudar uma segunda língua, aritmética, música clássica o quanto antes para não
ficarem defasados. A alfabetização científica deve iniciar já na pré-escola (jardim I, II)
e primeira & segunda séries do ensino fundamental, particularmente com relação ao
cérebro humano. Recomenda-se salientar que os “órgãos dos sentidos nos alertam
sobre perigos”, “que o cérebro envia mensagens para fazer o corpo trabalhar”, “que o
pensamento ocorre no cérebro” (Foy, et al. 2006). Contudo, a comunidade científica
salienta que não se sabe o suficiente sobre desenvolvimento cerebral para relacionar
diretamente com instrução e educação e que a neurociência cognitiva (interface entre
biologia & comportamento) poderia fazer a contribuição mais expressiva, (Bruer, 1998;
1999; 2002; 2006). O processo de proliferação sináptica é diferente nas diversas áreas
do cérebro e diferentes tipos de neurônios mesmo na mesma região cerebral perdem
e formam novas sinapses às taxas diferentes. Por exemplo, no córtex frontal humano,
área responsável pelo planejamento, integração da informação e tomada de decisão,
a formação de sinapses continua ao longo da adolescência, só se estabilizando em
torno dos 18-21 anos (Goldman-Rakic, 1987; Huttenlocker, 1990; Rakic, 1995).

13.1 Períodos críticos e desenvolvimento do cérebro.

Os estudos seminais de Hubel & Wiesel, 1965 com gatinhos e posteriomente


primatas (Hubel & Wiesel, 1998) vendados temporariamente em um olho em período
crucial do desenvolvimento, nunca recuperavam totalmente a visão daquele olho,
mesmo removida a venda. O gatinho não desenvolvia visão binocular. Crianças
nascidas com catarata congênita e estrabismo após cirurgia de retirada da película
que cobria os olhos e nos músculos que controlam o movimento do globo ocular, só
apresentariam visão normalmente se não fosse negligenciado este procedimento.
Conclui-se comparativa e erroneamente que, o córtex do cérebro da criança ligado ao
nervo óptico, precisaria de estimulação visual para perceber o que os olhos viam.
Embora a retirada da película não levasse a visão normal, deveria haver um “período

101
crítico”, quando o estímulo luminoso atuando sobre os olhos, induzisse a formação da
circuitaria direcionada ao córtex visual, tornando-o funcional.
Esta descoberta pioneira relatada acima estabeleceu critérios e conceitos para
novas investigações:
 As vias neurais de aferência sensorial desempenham papel crucial no
desenvolvimento do cérebro nos primeiros anos de vida da criança;
 Há um período “crítico ou sensível” bastante regular para a ativação das vias
neurais sensoriais, a fim de estimular a formação de circuitos neurais nas partes
específicas do córtex;
 Quando a estimulação visual não está disponível no “período crítico” o déficit
ocorre no desenvolvimento regular da área do córtex visual não sendo passível
de correção em estágios posteriores.
Períodos críticos (grau de plasticidade cerebral) são estágios de
desenvolvimento para funções específicas do cérebro. São tipo “janelas de
oportunidade” nos primórdios da vida, quando o cérebro da criança está
particularmente susceptível às entradas de estimulação sensorial, para o
amadurecimento de sistemas neurais mais desenvolvidos.
Cores, movimento, sons e afetividade são estímulos sensoriais básicos na
primeira infância (1 aos 3 anos). As consequências da privação visual nos primeiros
anos são sempre mencionadas como provas de importância capital da estimulação
visual para a educação infantil. Todavia, estudos posteriores sugeriram que algum
grau de recuperação é possível, dependendo da extensão do período e das
circunstâncias do fato (Chow & Stewart, 1972; Mitchel, 1989). A maioria dos
neurocientistas atualmente acredita que os “períodos críticos” não são tão rígidos e
inflexíveis. Interpretam como períodos “sensíveis” pelo que passa o cérebro na sua
capacidade de ser alterado e moldado pelas experiências ao longo da vida. Estímulos
como manipulação de objetos, e sons como o da fala humana, estão disponíveis em
quase todos os meios ambientes. É desconhecido se existem períodos críticos para o
conhecimento transmitido culturalmente, como aqueles responsáveis pela leitura e
aprendizado da aritmética.

102
13.2 Desenvolvimento cognitivo da criança pré-escolar

Os bebês nascem com a capacidade sensorial básica que se desenvolve


durante a infância. Já nos primeiros dias aprendem a reconhecer o rosto de suas mães
(Field, et al., 1984). Prestam atenção mais tempo para a voz da mãe do que a de
estranhos, e há indicações de que reconhecem a voz da mãe já ao nascer, por se
habituarem a este som ainda na fase uterina (DeCasper & Fifer, 1980). A
compreensão das emoções, desejos e o que os outros acreditam, desempenha
importante papel na interação social. Muito precocemente os recém-nascidos
distinguem as expressões faciais básicas de alegria, tristeza e raiva. Em torno dos 18
meses de vida os bebês sabem os princípios elementares de que as outras pessoas
podem ter diferentes “pontos de vista”, desejos e emoções do que eles mesmos
(Rapacholi & Gopnik, 1997). Ainda nesta faixa de idade as crianças se divertem com
atividades do “fazer de conta”. Isto demanda saber o que é real e o que não é, um dos
primeiros passos para a criatividade.
Ao redor dos 3 anos de idade começam a falar o que pensam (acham), por
exemplo eu acho que o doce está no armário! Somente aos 4-5 anos de idade as
crianças começam a perceber que, o que elas “acham” é diferente do que as outras
pessoas pensam, como se propõem na teoria da mente (Meltzoff, 1999; Jou & Sperb,
1999; Meltzoff & Decety, 2003).
Para se beneficiar da educação formal as crianças devem ter uma apreensão,
ainda que rudimentar, de como se aprende. Ter ciência do que não sabe, é pré-
requisito para que a instrução sistemática que a criança recebe na escola seja bem-
sucedida. Pelos 5 anos de idade, com um bom grau de amadurecimento dos circuitos
neuronais e aperfeiçoamento das conexões e atividades de regiões do córtex,
capacita as crianças a receberem a instrução pré-escolar.

13.3 Componentes fundamentais do cérebro

O cérebro é um conjunto de sistemas integrados composto de redes neurais.


Os vários sistemas agem juntos no desempenho de funções específicas, tais como as
sensoriais, por exemplo, visão, audição, tato ou funções tão complexas como emoção
e pensamento. As diferentes áreas são:

103
* o córtex é uma área extremamente complexa formada de 6 camadas de
neurônios, responsável pelos sistemas de cognição, planejamento e linguagem;
* a área do sistema límbico é responsável por aspectos da emoção, incluindo a
manifestação do apego infantil;
* a área do mesencéfalo interage com o tronco cerebral nos estados
motivacionais do alerta, controle do apetite e do sono;
* o tronco cerebral é responsável pela regulação da temperatura corporal,
frequência cardíaca e pressão sanguínea.
A constatação de que a maior parte da estrutura básica e funcionamento do
cérebro se estabelece no começo da infância, desencadeou uma série de
questionamentos sobre como a emoção e padrões de resposta aos estímulos
externos ou ao estresse se desenvolvem (Joseph, 1999). Parece que uma vez que os
sistemas de regulação, por exemplo o emocional se organiza nos primórdios da vida,
é difícil modificá-los mais tarde.
O tronco cerebral completa seu desenvolvimento já no feto a termo, ao passo
que outras estruturas continuam sendo passíveis de plasticidade neuronal durante
toda vida (Fisher & Rose, 1998).

13.4 Cognição e períodos críticos

A neurociência cognitiva, sugere o que parece ser “períodos críticos “do


desenvolvimento da criança.
Estimulação sensorial positiva, como carinho da mãe, fortalece e aumenta a
longevidade sináptica. Esta condição, presume-se, reflete no desenvolvimento
cognitivo acelerado, emoções equilibradas, apego e capacidade de responder
positivamente a novas experiências.
Na negligência extremada quando a criança é privada de qualquer afeto e
atenção da mãe, reduzem-se as chances da criança vir a ter bom desempenho na
escola, e na futura vida afetiva. Contudo, intervenção precoce eficiente reverte o
quadro. A maioria destas habilidades como observado na tabela 2 se extinguem ou
ficam esmaecidas em torno dos 6 anos, como argumentam os arautos da prevenção
de perda de sinapses. No entanto, não há estudos que comprovem esta afirmativa

104
Tabela 2. Tempo de aprender. Períodos “críticos” mais propícios ao
desenvolvimento de habilidades
Funções Faixa ótima de
desenvolvimento
Visão 0-6 anos
Controle emocional 9 meses-6anos
Formas comuns de reação 6 meses-6 anos
Símbolos 18 meses-6anos
Linguagem 9 meses-8 anos
Habilidades sociais 4 anos-8 anos
Quantidades relativas 5 anos-8 anos
Música 4 anos-11 anos
Segundo idioma 18 meses-11anos
Reformulado de Doherty, 1997

13.5 Ambientes enriquecidos

A investigação neurobiológica tendo ratos como sujeito do experimento é


sempre invocada para salientar a importância de ambientes “enriquecidos”. Estudos
mais antigos mostraram que ratos de laboratório criados em “ambientes enriquecidos”
(roda gigante, escadas, túneis de plástico, outros ratos para brincar) desenvolviam até
25% mais sinapses nas áreas do cérebro relacionadas a percepção sensorial
especialmente na área visual. Em contrapartida, os ratos criados em gaiolas solitárias,
“empobrecidas” sem outros ratos e brinquedos, além do déficit no número de
sinapses, mostravam baixo desempenho em tarefas de aprendizagem no labirinto
(Renner & Rosenzweig, 1987). Estudos posteriores mostraram que mesmo o cérebro
de rato adulto formava novas sinapses em resposta a brinquedos e experiências
inovadoras.
Na realidade, os ambientes de laboratório descritos acima, eram muito
semelhantes àqueles naturais do rato. O mais correto seria dizer que um ambiente
mais “normal” proporciona a formação de mais sinapses do que um ambiente com
carência. A pesquisa não indica que os pais “e escolas devam prover mais
105
“experiências enriquecedoras” do que aquelas já disponíveis no cotidiano da criança.
Contudo, ambientes extremamente carentes como o caso dos bebês romenos
negligenciados e criados em orfanatos, sem nenhuma estimulação sensorial ou
contato social, geraram retardo nas habilidades de andar, falar e distúrbios emocionais
e cognitivo (O`Connor et al., 1999). Em suma, a habilidade de gerar novas sinapses
em resposta a experiências prazerosas parece persistir até a idade adulta (Pantev et
al., 1998).

13.6 Estimulação sensorial primordial e a regulação das funções corporais

A habilidade do cérebro em reagir aos estímulos estressantes é fortemente


influenciada a partir de seu desenvolvimento nos primeiros anos. Em contrapartida, a
habilidade de resposta aos estímulos influencia a qualidade do raciocínio e a
regulação das funções corporais.A qualidade da estimulação sensorial no início da
vida da criança ajuda a esculpir os circuitos neuroendócrinos & neuroimunes do
cérebro. A relação entre o complexo “psiconeuroendoimune” fixada no começo da vida
e maneiras de lidar com os acontecimentos, influenciam a aprendizagem e
comportamento nos anos vindouros (Lekander, 2002). Cada indivíduo percebe e
interpreta a informação do ambiente externo de forma particular. O sistema imune
influencia as funções cerebrais refletindo-se sobre manifestações do comportamento,
como medo, raiva, amor e riso. Estudos feitos com animais e observação de crianças
em situação de laboratório, desde os primeiros anos, mostram que os cuidados
maternais engatilham programas que induzem o eixo hipotálamo-hipófise-adrenais, a
responder de maneira equilibrada a situações estressantes ao longo do ciclo vital
(Ledoux, 1996, Johnston, 1999).

13.7 Como o cérebro aprende?

Uma das coisas mais fascinantes para a criança é perceber que está sempre
aprendendo. A importância de desenvolver o conceito de “aprendizagem” implica a
criança ficar ciente de como o cérebro recebe continuamente informações, por meio
dos órgãos sensoriais. Para crianças do “Jardim de Infância” (educação infantil, I, II,

106
III) é importante que comecem a entender como aprendem sem se darem conta
exatamente como isto acontece (MEC, 1994).
É importante salientar para o educador que a informação nova se “ancora”
naquela já existente em algum lugar do cérebro da criança.

14 NEUROCIÊNCIA TRANSFORMADA EM EDUCAÇÃO

A neurociência é uma disciplina recente agrupando neurologia, psicologia e


biologia. Nos últimos anos muitos aspectos da fisiologia, bioquímica, farmacologia e
estrutura do sistema nervoso de invertebrados e o cérebro de vertebrados foram
elucidados. Estudos fundamentais sobre a função da percepção, emoções,
aprendizagem & memória mostraram significativo progresso, especialmente adotando
abordagens da neurociência cognitiva.
Aprendizagem e educação podem ser estudadas como um novo campo das
ciências naturais, variando de ambiente fetal até a idade adulta avançada. A
alfabetização em neurociência reveste-se de importância para o cotidiano, ajudando
a população a ter melhor entendimento de si e dos avanços científicos, evitando
especulações e a crença em neuromitologias. São esquematizadas implicações
educacionais a partir dos princípios de neurociência.
A neurociência é uma das áreas do conhecimento biológico que utiliza os
achados de subáreas que a compõe, por exemplo, a neurofisiologia, a
neurofarmacologia, o eixo psiconeuro-endoimuno, a psicologia evolucionária, o
neuroimageamento, a fim de esclarecer como funciona o sistema nervoso (Purpura,
1992; Purves et al., 1997; Kandel et al., 2000; Lent, 2001).
O desenvolvimento de técnicas modernas para o estudo da atividade cerebral
em crianças, adolescentes e adultos, durante a realização de tarefas cognitivas, tem
permitido uma investigação mais precisa dos circuitos neuronais durante seu
funcionamento, que geram as capacidades intelectuais humanas, como linguagem,
criatividade, raciocínio (Rocha & Rocha, 2000).
Os circuitos neuronais são responsáveis pelas funções básicas do nosso
sistema nervoso bem como de outros animais. No caso humano determinam como
nos comportamos como indivíduos. Nossas emoções vivenciadas como medo, raiva

107
e as situações prazerosas da vida originam-se da atividade dos circuitos neuronais no
cérebro (Johnston, 1999; LeDoux, 2002).
Nossa habilidade de pensar e armazenar lembranças depende de atividades
físico-químicas complexas que ocorrem nos circuitos neuronais (Dudai, 1989; Rose,
1992; Schacter, 1996; Fields, 2005). Os circuitos neuronais existentes no cérebro e
medula espinhal programam todos nossos movimentos, desde colocar fio no buraco
da agulha até chutar uma bola na partida de futebol. Este entrelaçado de processos
neuronais também controla inúmeras funções no organismo humano. Por exemplo, a
manutenção da temperatura corporal, as pressões sanguíneas são controladas
automaticamente, fazendo com que nosso corpo fique em atividade, sem que
tomemos conhecimento do que os circuitos neuronais estão fazendo.
São funções autônomas orquestradas pelos circuitos neuronais, e ocorrem de
forma não consciente (Rocha, 1999; Beatty, 2001). A biologia elementar mostra
claramente que qualquer animal é o produto de complexa interação entre sua genética
e os fatores ambientais (Werner, 1997). Nos primórdios da história dos seres vivos
elementares, a evolução aquinhoava vantagens competitivas aos animais cujo
sistema nervoso pudesse fazer projeções antecipadas, de acontecimentos baseadas
em correlações do passado. O cérebro que aprende confere vantagens adaptativas
ao seu possuidor na procura de alimentos, parceiros sexuais, localização de abrigos
e evitar perigos, garantindo maior longevidade (Churchland & Churchland, 2002;
Churchland, 2004).

14.1 Alfabetização em Neurociência.

Baseada no conceito amplo de alfabetização científica (Lacerda, 1997;


FreireMaia; Bizzo, 1998) a alfabetização em neurociência pode ser definida como o
entendimento dos processos e conceitos para a compreensão de tópicos relativos às
doenças do cérebro e distúrbios do comportamento. Também se ocupa dos
mecanismos saudáveis de sua função cerebral regular (Livingstone, 1973; Nyslinski,
2001; Herculamo-Houzel, 2002)
Os frutos da alfabetização científica para a sociedade em geral e o indivíduo
em particular incluem:

108
1- Uso do conhecimento em neurociência para a concepção de ambientes para
a participação social de indivíduos portadores de características específicas de
processamento pelo sistema nervoso;
2- Tomada de decisões esclarecidas em caráter pessoal ou familiar em relação
à saúde, como suporte para o bom funcionamento do sistema nervoso na faixa etária
de criança a adulto;
3- Aplicação do conhecimento neurocientífico para o bom desenvolvimento e
funcionamento do cérebro de recém-nascidos, crianças, adolescente e adultos;
4- O entendimento e o desenvolvimento de postura crítica frente a pesquisa e
material neurocientífico veiculado pela mídia (adaptado de Zardetto-Smith et al.,
2002).

14.2 Crianças e Neurociência.

As crianças por natureza têm espírito inquisidor e inquieto. Logo aprendem (e


mesmo no final da vida uterina) a coletar informação do mundo interno & externo, por
meio de receptores e dos órgãos sensoriais. Estes lhes trazem as sensações
primárias que logo se tornam percepções gustativas, olfativas, auditivas, visuais e
táteis. À medida que amadurecem aperfeiçoam a interpretação de seu ambiente e
melhoram a tomada de decisões, baseadas nestas informações (Eliot, 1999).
Na população em geral, e em alguns casos crianças em idade escolar, podem
estar afetados por patologias neurológicas ou distúrbios afetivos. Não é incomum
membros da família mais idosos como tios, avôs, devido a longevidade atual maior,
estarem acometidos por doenças como Alzheimer e Parkinson.
Mesmo na sala de aula as crianças convivem com colegas com dificuldades de
aprendizagem (déficit de atenção, hiperatividade, dislexia, Bossa, 2000; Cameron &
Chudler, 2003). Por outro lado, há evidência, com aumento substancial no ensino
médio, documentada do uso de álcool, cigarro e maconha precocemente já na escola
primária (ensino fundamental), com aumento significativo no ensino médio (Wilson et
al., 2002).
Diferentemente do que ocorre nos países desenvolvidos, curiosamente a
população adulta brasileira mostra um interesse diminuído por tópicos relativos a
doenças do sistema nervoso, consumo abusivo de drogas e atividade motora. A

109
preferência recai em aspectos de memória, consciência, emoção e desenvolvimento
do sistema nervoso (Herculano-Houzel, 2003). Observa-se que crianças estão mais
interessadas no funcionamento normal do cérebro, do que no cérebro doente,
indicando, portanto, que políticas educacionais devem ser implementadas neste
sentido. Os currículos devem incentivar a alfabetização científica (Zardetto-Smith et
al., 2000).

14.3 Aprendizagem e Educação

O aprender e o lembrar do estudante ocorre no seu cérebro. Conhecer como o


cérebro funciona não é a mesma coisa do que saber qual é a melhor maneira de ajudar
os alunos a aprender. A aprendizagem e a educação estão intimamente ligadas ao
desenvolvimento do cérebro, o qual é moldável aos estímulos do ambiente (Fischer &
Rose, 1998). Os estímulos do ambiente levam os neurônios a formar novas sinapses.
Assim, a aprendizagem é o processo pelo qual o cérebro reage aos estímulos do
ambiente, ativando sinapses, tornando-as mais “intensas”. Como conseqüência estas
constituem-se em circuitos que processam as informações, com capacidade de
armazenamento molecular (Shepherd, 1994; Mussak, 1999; Koizumi, 2004).
O estudo da aprendizagem une a educação com a neurociência (Livingstone,
1973; Saavedra, 2002; Mari, 2002, Flores, 2003). A neurociência investiga o processo
de como o cérebro aprende e lembra, desde o nível molecular e celular até as áreas
corticais. A formação de padrões de atividade neural considera-se que correspondam
a determinados “estados & representações mentais” (Kelso, 1995; Shepherd, 1998).
O ensino bem-sucedido provocando alteração na taxa de conexão sináptica, afeta a
função cerebral. Por certo, isto também depende da natureza do currículo, da
capacidade do professor, do método de ensino, do contexto da sala de aula e da
família e comunidade.
Todos estes fatores interagem com as características do cérebro dos indivíduos
(Lowery, 1998; Westwater & Wolfe, 2000; Ramos, 2002). A alimentação afeta o
cérebro da criança em idade escolar. Se a dieta é de baixa qualidade, o aluno não
responde adequadamente à excelência do ensino fornecido (Given, 1998).

110
14.4 Neurociência cognitiva e Educação.

A neurociência cognitiva (Gazzaniga et al., 2002) utiliza vários métodos de


investigação (por ex. tempo de reação, eletroencefalograma, lesões em estruturas
neurais em animais de laboratório, neuroimageamento) a fim de estabelecer relações
cérebro & cognição em áreas relevantes para a educação. Está abordagem permitirá
o diagnóstico precoce de transtornos de aprendizagem. Este fato exigirá métodos de
educação especial, ao mesmo tempo a identificação de estilos individuais de
aprendizagem e a descoberta da melhor maneira de introduzir informação nova no
contexto escolar (Byrnes & Fox, 1998). Investigações focalizadas no cérebro
averiguando aspectos de atenção, memória, linguagem, leitura, matemática, sono e
emoção & cognição, estão trazendo valiosas contribuições para a educação
(Berninger & Corina, 1998; Stanovich, 1998; Brown & Bjorklund, 1998; Geake &
Cooper, 2003; Geake, 2004).
Pesquisadores em educação têm uma postura otimista de que as descobertas
em neurociências contribuam para a teoria e práticas educacionais. Destarte, uma
avalanche de artigos leigos em jornais diários e revistas de divulgação e mesmo
periódicos científicos, têm exagerando os benefícios desta contribuição, variando
daqueles totalmente especulativos àqueles incompreensíveis e esotéricos (Bruer,
1997; 1998; 1999). Exemplos incluem empreendimentos para desenvolver currículo
sob medida, para atender fraqueza/excelência daqueles alunos que usam
preferencialmente um dos hemisférios. Este “neuromito” é uma informação infundada
do que a neurociência pode oferecer à educação (Williams, 1996; Springer & Deutsch,
1998; OCDE, 2003).
Alternativamente à proposta de John Bruer (1997; 2002) o qual argumenta que
a neurociência possivelmente nunca contribuirá para a educação devido a
desarticulação de conhecimentos entre as duas áreas, contrapõe-se a postura de
Connell (2004). O pesquisador da Universidade Harvard argumenta que, introduzindo
o “nível de análise” com agregação da neurociência computacional, elimina as
fronteiras específicas. Assim, a neurociência, psicologia & ciências cognitivas
somadas à educação, trazem novo enquadramento e integração destas áreas do
conhecimento (Anderson, 1992: McKnight & Walberg, 1998)

111
14.5 Neurociência e prática educativa.

A pesquisa em neurociência por si só não introduz novas estratégias


educacionais. Contudo fornece razões importantes e concretas, não especulativas,
porque certas abordagens e estratégias educativas são mais eficientes que outras
(Reynolds, 2000; Smilkstein, 2003). A tabela 1 sugere como o cérebro aprende em
determinado ambiente de sala de aula.
Tabela 1. Princípios da neurociência com potencial aplicação no ambiente de
sala de aula.

Fonte: espacodamente.com

112
Na atualidade a neurociência tem sido a menina dos olhos de muitas pessoas.
Todos querem compreender e aprender sobre este órgão chamado cérebro. André
Palmini em entrevista ao Programa Mãos e Mentes, menciona que cada vez mais o
cérebro está sendo interessante: “De um órgão que as pessoas viam com uma
reverência excessiva, e quase não fazendo parte do jargão do dia a dia, hoje, cada
vez mais as pessoas comentam sobre doenças cerebrais, sobre mecanismos
cerebrais, sobre o quanto de determinada pessoa é assim, o quanto se fala da questão
de temperamento de cada um, porque a cabeça de determinada pessoa é assim, e a
de outra é de outro modo... Tudo isso é a neurociência do imaginário do dia a dia das
pessoas, de forma que esse é um assunto que permeia a sociedade, se
acompanharmos as publicações leigas (jornais, revistas...) volta e meia eles trazem
assuntos relacionados a este contexto, logo pesquisas sobre o funcionamento do
cérebro é um assunto cada vez mais interrelacional.
No âmbito educacional Roberte, além de enfatizar que as escolas deveriam
preparar o ambiente de tal forma que se obtivesse o melhor aproveitamento do
cérebro na aprendizagem, proporcionando assim atividades relaxantes, exercícios
respiratórios a fim de evitar situações estressantes também menciona que em todas
suas palestras pergunta: - Quem está na sala de aula? E ele diz que muitas são as
respostas, mas raríssimas vezes alguém fala que o corpo do aluno e toda sua
configuração psicobiologica está presente e quanto ao sistema nervoso, nunca houve
uma só resposta sobre sua presença em uma sala de aula até hoje. (METRING, 2011)
Segundo Nicolelis (2011) em entrevista para o Jornal Diário Regional, “o
neurocientista estuda como o cérebro aprende, esse diálogo com os educadores é
fundamental, porque os educadores estão tentando ensinar cérebros. ”
Em educação estamos em constantes mudanças, idas e vindas, o que deu
certo em determinada época pode não fazer efeito no momento atual, entretanto com
as descobertas das neurociências, não podemos mais levar na perspectiva de ensaio
x erro, mas sim o que realmente pode ser eficaz dentro da educação. Nesse
sentido venho compartilhar as contribuições de neurocientista Edouard Gentaz, onde
as crianças francesas já no ensino pré-escolar, aqui no Brasil, seria a Educação
Infantil, utilizam-se de leitura sensorial, pois aprendem a ler com os dedos, ou
seja, além dos olhos e dos ouvidos, usam o sentido do tato (o trabalho do mesmo
chega até a lembrar os antigos períodos preparatórios ofertados pelo “Pré-Primário” e

113
o 1º ano de alfabetização que foram abolidos com a inserção de correntes teóricas da
época).
Eles projetaram exercícios os quais as crianças com os olhos vendados tinham
que tatear letras em relevo. O desempenho dos alunos que participaram desses
treinamentos foi então comparado com os de outras crianças que receberam a
formação tradicional. Resultado, aqueles que foram treinados no reconhecimento
visual e tátil das letras tiveram uma melhor compreensão do princípio alfabético do
que os outros. "Estes exercícios também facilitam o reconhecimento das letras
espelho, porque o fato de traçar as letras com os dedos ajuda a diferenciar ", completa
a psicóloga envolvida no processo.
Apesar de ser um novo método, ele já vem evidenciando melhoras na forma de
aprender, pois nesta idade o toque é um dos sentidos mais desenvolvidos. Conforme
Edouard Gentaz: “O grande desafio para as crianças do ensino básico é compreender
a relação entre a forma visual de uma letra, que é tratada pelo córtex visual, e os sons
correspondentes, que são tratados pelas zonas auditivas. Para facilitar esta
associação adicionamos a zona de toque. Desta forma, melhoramos a relação entre
a forma visual da letra e o som correspondente. ”
Os professores que cursam a Neuropedagogia estão aprendendo a estimular
novas zonas do cérebro e criar ligações, auxiliando as crianças no reconhecimento
mais eficaz das palavras e procurando errar menos.
Esta descoberta ajuda a explicar um problema comum enfrentado por crianças
quando aprendem o alfabeto muitos deles confundem as letras consideradas
"espelho" como "b" e "d". Esta abordagem "multissensorial" do alfabeto não é em si
uma novidade: a educadora italiana Maria Montessori já recomendou no início do
século XX. Mas Edouard Gentaz e seus colegas foram capazes de provar
cientificamente a sua relevância para as crianças do jardim de infância.
Além deste trabalho pautado na educação sensorial, existe todo outro trabalho
feito com adolescentes procurando desenvolver o controle emocional, pois os
neurocientistas comprovam que os adolescentes são muito dominados pelas
emoções. Então a pergunta é: - Como podem ser controlados? E a resposta veio no
ato de surpreender os alunos para provocar uma ligação, a que os cientistas chamam
de “emoção positiva”.

114
Segundo Dominique Fargues, Professor de Física: “Colocamos um pequeno
vídeo ou uma imagem, por vezes texto, que capta a sua atenção. Imediatamente eles
têm uma emoção positiva e começam a ouvir a aula, é realmente
interessante. Depois, quando se percebe que num determinado ponto estão
distraídos, então, novamente, colocamos um outro vídeo e recriamos uma emoção
positiva entre eles, que dura mais um determinado período de tempo. ”
Quando o cérebro sente uma emoção positiva, libera dopamina, conhecida
como o hormônio do prazer que nos desperta o desejo de aprender. Por outro lado,
se emoções negativas como o estresse ou medo se acumulam no sistema límbico, o
cérebro bloqueia e a informação não circula em direção ao córtex pré-frontal: a casa
da memória de longo prazo e da capacidade de pensar.
Desta forma assustar ou intimidar os estudantes é contra produtivo. A
Neuropedagogia utiliza técnicas de memorização mais eficazes. Por exemplo: Os
alunos estudam determinado texto “O Vermelho e o Negro” de Stendhal e trabalham
por associação de ideias, traçando um “mapa mental”.
O objetivo é ligar o texto a imagens e memórias personalizadas, porque está
provado que o cérebro cria conexões e se lembra da informação mais facilmente.
Então fica a dica: - muita atividade multissensorial, vídeos para criar um estado
emocional positivo e "mapa mental" para criar associações de ideias

14.6 O que é aprendizagem? (Na percepção da Neurociência)

A aprendizagem é um processo e depende fundamentalmente de experiência,


o nosso cérebro aprende por tentativa e erro, ele vai se esculpindo a si próprio
conforme ele é usado. (HERCULANO-HOUZEL). Aprendemos na medida em que
experimentamos e fazemos novas associações.
Existe uma demanda muito grande pela aplicação prática do conhecimento:
como podemos aprender melhor?
Os fatores que mais influenciam no aprendizado elencados pela Neurociência
são: EXPERIÊNCIA (ter muitas vivências, explorar diversos materiais, locais, interagir
com diversas pessoas de diferentes contextos), PRÁTICA (métodos adequados,
lembrar que não existe um método para tudo cada indivíduo possui as suas sincrasias,
diante de suas facilidades ou dificuldades particulares, cada um vai precisar de um

115
método), dedicar a ATENÇÃO (para aquilo que se está fazendo, não há como fazer
duas coisas ao mesmo tempo, pois nosso foco fica alternando entre uma coisa e outra)
e o principal é a MOTIVAÇÃO (se o indivíduo não tiver interesse, poderá até praticar,
mas o resultado não será tão eficiente).

116
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