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CASO CLÍNICO

P I E T R O A LV E S M I R A N D A
HAOC

Paciente G.A.S.A., 19 anos, solteira, trabalha em creche, procedente de


Indaiatuba, faz faculdade de pedagogia, mora com 2 amigas (uma
acompanhava no momento da internação), pais moram em Indaiatuba,
tem dois irmãos mais novos, faz autoescola atualmente, gosta de
cozinhar (atualmente não cozinha por falta de tempo), já teve 02
namorados, histórico familiar: mãe com depressão.

Foi internada por tentativa de suicídio ontem à noite, tomou 20


comprimidos de Passiflora, e cortou-se em punho esquerdo com
lâmina de barbear.
Paciente refere que aos 13 anos de idade iniciou um quadro de
autolesão com cortes em punhos para aliviar ansiedade e depressão
(SIC). Aos 14 anos, refere abuso sexual por parte de sua avó, indo
então para São Paulo. A partir desses acontecimentos refere que
iniciou quadro de “Depressão Profunda”. Fez acompanhamento não
regular no CAPS a partir de então. Aos 16 anos, a primeira tentativa
concreta de suicídio ao tomar medicações. Refere melhora parcial
após episódio descrito com piora aos 18 anos (voltou a se cortar).
Além disso, refere episódio de soco em janela (corte profundo em
punho direito) e crises de ansiedade/tristeza recorrentes. Há 08
meses parou de fazer uso de Sertralina 50mg 1-0-0 e Ansitec por
conta própria, pois havia recebido alta da psicóloga. Há 02 meses
percebe piora em seu quadro, chorando com mais facilidade e mais
ansiosa. Há 07 dias refere desconforto/dor em tórax e além disso,
desavença com colega de trabalho, fatores que refere como
desencadeantes para a crise atual.
Análise de paciente: Paciente em poltrona de sala de medicação,
acompanhada do pai e da mãe, tranquila, refere que apesar do
desconforto da última noite, não apresenta queixas. Aparentemente
menos ansiosa que ontem. Colaborativa e com insight mais
desenvolvido.

EEM: Paciente com vestes e higiene adequadas, acompanha de sua


amiga, desperta, colaborativa, normotenaz e normovigil, sem
alterações de sensopercepção, humor hipotímico e afeto congruente,
pensamento sem alteração de forma ou fluxo, insight pobre, mantém
ideação suicida, nega arrependimento.
QUAL SERIA O DIAGNÓSTICO?
Transtorno de Personalidade Borderline

Indivíduos com transtorno da personalidade borderline encontram-


se no limiar entre neurose e psicose e têm por característica afeto,
humor, comportamento, relações objetais e autoimagem
extraordinariamente instáveis. O transtorno também foi chamado
de esquizofrenia ambulatorial, personalidade “como se” (expressão
cunhada por Helene Deutsch), esquizofrenia pseudoneurótica
(descrita por Paul Hoch e Phillip Politan) e transtorno de caráter
psicótico (descrito por John Frosch).
Não há estudos definitivos sobre prevalência, mas acredita-se que
o transtorno da personalidade borderline esteja presente em 1 a 2%
da população e seja duas vezes mais comum em mulheres do que
em homens. Um aumento de prevalência do transtorno depressivo
maior, de transtornos por uso de álcool e de abuso de substância é
encontrado em parentes em primeiro grau de indivíduos com
transtorno da personalidade borderline.
De acordo como DSM-5, o diagnóstico de transtorno da
personalidade borderline pode ser estabelecido no início da idade
adulta quando o paciente exibe pelo menos cinco dos critérios
listados:
1. Esforços desesperados para evitar abandono real ou imaginado. (Nota: Não
incluir comportamento suicida ou de automutilação coberto pelo Critério 5.)
2. Um padrão de relacionamentos interpessoais instáveis e intensos
caracterizado pela alternância entre extremos de idealização e desvalorização.
3. Perturbação da identidade: instabilidade acentuada e persistente da
autoimagem ou da percepção de si mesmo.
4. Impulsividade em pelo menos duas áreas potencialmente autodestrutivas
(p. ex., gastos, sexo, abuso de substância, direção irresponsável, compulsão
alimentar). (Nota: Não incluir comportamento suicida ou de automutilação
coberto pelo Critério 5.)
5. Recorrência de comportamento, gestos ou ameaças suicidas ou de
comportamento automutilante.
6. Instabilidade afetiva devida a uma acentuada reatividade de humor (p. ex.,
disforia episódica, irritabilidade ou ansiedade intensa com duração
geralmente de poucas horas e apenas raramente de mais de alguns dias).
7. Sentimentos crônicos de vazio.
8. Raiva intensa e inapropriada ou dificuldade em controlá-la (p. ex., mostras
frequentes de irritação, raiva constante, brigas físicas recorrentes).
9. Ideação paranoide transitória associada a estresse ou sintomas
dissociativos intensos.
Conduta:

• Mantém internação em leito de enfermaria;


• Prescreve Topiramato 21mg 1-0-0;
• Sertralina 50mg 1-0-0;
• Acompanhante 24 horas como profilaxia para
evasão/suicídio;
• Encaminhar ao CAPS na alta;

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