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A voz interior:
Um guia prático para e sobre
pessoas que ouvem vozes
1
Universidade Federal do Pará
Reitor
Emmanuel Zagury Tourinho
Vice-reitor
Gilmar Pereira da Silva
Pró-reitor de Extensão
Nelson José de Souza Júnior
Pró-reitor de Administração
João Cauby de Almeida Júnior
Prefeito Multicampi
Eliomar Azevedo do Carmo
Secretário-geral da Reitoria
Marcelo Galvão Baptista
2
Adelma Pimentel
Titular na Universidade Federal do Pará. Pós-doutorado em psicologia e psicopatologia pela
Universidade de Évora/ PT. Coordenadora do NUFEN/UFPA.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/4534230240595626.
E-mail: adelmapi@ufpa.br
Maria de Nazareth R. Malcher de O. Silva
Faculdade Ceilândia/Universidade de Brasília (FCE/UnB). Pós-doutorado em Psicologia
(PPGP/UFPA) e pela Universidade de Turim. Doutora em Psicologia Clínica (UnB). Pesqusiadora
do NUFEN/UFPA.
Lattes: http://lattes.cnpq.br/8378348738142000.
E-mail: malchersilva@unb.br
Pablo Seabra
Centro Educacional Novas Abordagens Terapêuticas – CENAT
https://blog.cenatcursos.com.br/
ORGANIZADORES
3
CONSELHO EDITORIAL DO NÚCLEO DE PESQUISAS FENOMENOLÓGICAS
4
Copyright @ 2019 by autores
Baker, Paul
A voz interior: um guia prático para e sobre pessoas que ouvem
vozes. Orgs.: Adelma Pimentel, Nazareth Malcher, Pablo Seabra;
trad. Raimundo da Costa Moura. 1ª ed. – Belém:
UFPA/IFCHQ/PPGP/NUFEN. 200 p.
ISBN:
Avaliado por pares.
1.Fenomenologia. 2. Ouvir vozes. 3. Saúde mental. 4. Saúde. 5.
INTERVOICE. I. Baker, Paul. II. Pimentel, Adelma. III. Malcher,
Nazareth. IV CENAT
CDD 142.7
CDU 165.62
Tradução do original The Voice Inside: A pratical Guide For Ans About People Who Hear
Voices
5
O AUTOR
6
AGRADECIMENTOS
1
Marius Anton Joannes Romme (nasceu em 17 janeiro de 1934 em Amsterdam) é um psiquiatra
holandês. Ele é mais conhecido pelo seu trabalho sobre ouvir vozes (alucinação auditiva) e considerado
o fundador e principal teórico do Movimento dos Ouvidores de Vozes. Entre 1974 e 1999 foi professor
de psiquiatria social na Faculdade de Medicina da Universidade de Maastricht (Holanda), assim como
psiquiatra consultor no Community Mental Health Centre (Centro Comunitário de Saúde Mental) em
Maastricht. Atualmente, ele é professor visitante no Mental Health Policy Centre, ( Centro de Politica de
Saúde Mental) da University of Central England em Birmingham.
7
APRESENTAÇÃO
Quando nos olhamos no espelho proferimos em voz alta: meu cabelo está
bacana, gostei do novo corte em camadas desfiadas; ao olhar aquele cravo petulante
no nariz, e logo nos aborrecemos e tentamos retira-lo espremendo, gritamos: droga.
e na Educação estamos do lado do grupo que atende aos clientes que precisam de
suportes psicológicos, psiquiátricos, ocupacionais, territoriais. Nesta situação convivem
nem sempre se comunicando os “normais”: nós, e os “doentes mentais”: os estranhos.
O parâmetro para definir a normalidade é estatístico; e determinar o doente
sobretudo financeiras.
No conjunto das alterações sensoriais, escutar vozes é nomeado no jargão
8
em saúde mental e para o tratamento dos usuários. O principal fundamento é
sustentado pela reapropriação do sentido existencial de todos os atores que circulam
no contexto mencionado.
Qual o sentido da existência? Viver. A vida somente tem sentido quando
9
distante do principio, com predomínio da psiquiatria tradicional que reconhece, por
exemplo, as alucinações como processo perceptivo do pensamento, uma experiência
mundo da vida.
A abordagem apresentada neste guia sobre a experiência de ouvir vozes
escopo das diretrizes da Politica de Saúde Mental e dos princípios do Sistema Único
de Saúde (SUS).
Espera-se que a tradução desta obra contribua para a formação de todos os
Adelma Pimentel
Nazareth Malcher
Pablo Seabra
10
SUMARIO
P. 08 APRESENTAÇÂO
P. 13 PREFÁCIO
P. 22 Introdução
Uma nova abordagem
Um encontro casual
Experiências pessoais
Quebrando as regras
Recuperação
P. 32 Parte 1
O Movimento dos Ouvidores de Vozes
A importância de trabalhar junto
O Professor Marius Romme se surpreende e funda um movimento
Como ele iniciou no Reino Unido?
Porque “Ouvir vozes”?
Qual o significado do movimento de ouvir vozes para ouvidores de voz?
P. 45 Parte 2
Pessoas que ouvem vozes
Ouvir vozes ao longo dos tempos
O que é que se sente ao ouvir vozes?
O que é que as vozes lhe dizem e o que elas podem fazer
Porque as pessoas ouvem vozes
As vozes e a sua relação com o ouvidor de voz
Explorando o significado de vozes
Vozes são ouvidas por “pessoas normais” e algumas vezes
podem ser uma experiência positiva
Crianças que ouvem vozes
P. 66 Parte 3
O que fazer sobre vozes que causam problemas
Como você se livra de uma voz?
Fale sobre ela: uma lista de verificação (check list) de ouvir vozes
Estratégias para Lidar com Vozes Inquietantes
Autoajuda de ouvir vozes e grupos de apoio
Entendendo as vozes.
P. 79 Parte 4
11
Ajudando pessoas que ouvem vozes que causam problemas
O que diz Marius Romme
Não mate o mensageiro
Amigos e parentes e pessoas que ouvem vozes
Implicações para trabalhadores com saúde mental
Falando para vozes.
P. 95 Parte 5
INTERVOICE - Uma introdução a Abordagem de Ouvir Vozes
História do desenvolvimento da INTERVOICE
O que é INTERVOICE?
Como trabalhamos juntos
Redes Nacionais
Informação
Campanhas
Pesquisa
P.112 Parte 6
O futuro?
Porque ouvir?
Ouvir vozes, qual o seu significado para a esquizofrenia
Quais os próximos passos?
P. 125 Anexo
Roteiro de Entrevista de Maastricht
Glossário de termos normalmente utilizados em psiquiatria e pesquisa psiquiátrica
Leituras adicionais
Tabela I - Os conceitos fundamentais informando o trabalho de ouvir vozes
Tabela II - Questionário sobre Ouvir Vozes
Tabela III - Pessoas famosas que ouviam vozes
Tabela IV - O que se sente ao ouvir vozes?
Tabela V - Ouvir vozes entre “pessoas normais”.
Tabela VI - O que fazer se o seu filho lhe disser que está ouvindo vozes:
Uma lista de verificação com 10 itens.
Tabela VII - Três fazes encontradas entre pessoas que ouvem vozes
Tabela VIII - Estratégias para Lidar com Vozes Inquietantes
Tabela IX - Porque ouvir vozes em si não é um sintoma de doença
Tabela X - Um exercício para simular a experiência de ouvir vozes
Tabela XI - Falar sobre o assunto: um ckecklist de ouvir vozes
Tabela XII - Novos diálogos sobre vozes
Tabela XIII - O problema com esquizofrenia
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PREFÁCIO
Este livro é uma versão atualizada e combinada de dois manuais publicados
anteriormente que escrevi há mais de vinte anos apresentando o tema de ouvir vozes cujos
títulos eram, Can You Hear me (Você consegue me ouvir) The Voice Inside (A Voz Interior).
A Voz Interior foi publicada pela primeira vez em 1996, como uma introdução para a
pesquisa e trabalho prático sobre ouvir vozes, escrito para pessoas que ouvem vozes, e para
as suas famílias e amigos. Desde então, a brochura foi reimpressa muitas vezes tendo milhares
de cópias vendidas inclusive e traduzida para alemão, francês, polonês, sueco, sérvio. Ao
mesmo tempo versões on-line podem ser encontradas nos sites Mind2, Mental Health
Foundation3 e INTERVOICE4.
Uma segunda brochura, Can you Hear Me, também foi publicada em 1996. Ela tinha
como objetivo ajudar trabalhadores da área da saúde mental fornecendo informações sobre
como pessoas com vozes avassaladoras poderiam ser ajudadas a lidar com as suas
experiências. Esta brochura foi impressa desde então e é publicada atualmente pela P&P
Press5 .
Eu fui persuadido pelo meu amigo Ron Coleman, que publicou os dois primeiros livros
sobre ouvidores de vozes, de que já estava na hora de escrever uma segunda edição. Concordei
(eventualmente) e decidimos que seria uma boa ideia juntar e revisar as duas brochuras e
atualizá-las incluindo os desenvolvimentos interessantes que ocorreram desde a primeira
publicação dos guias.
O resultado foi esta introdução bastante ampliada e um guia prático para compreensão
da experiência de ouvir vozes.
Neste livro, você encontrará muitas informações novas sobre experiência de ouvir
vozes; orientações sobre como lidar e entender as experiências e descrições para pessoas que
ouvem vozes e profissionais de saúde sobre novas formas de ajudar lidar melhor com vozes
que incomodam.
Paul Baker
Mind(UK)www.mind.org.uk/Information/Booklets/Other/The+voice+inside.htm
2
3
MentalHealth Foundation (UK) www.mentalhealth.org.uk/information/mental-health-a-z/hearing-
voices/
4
INTERVOICE www.intervoiceonline.org
5
P&P Press http://www.workingtorecovery.co.uk
13
PORQUE ESCREVEMOS ESTE GUIA
Este guia foi escrito para ouvidores de vozes, suas famílias e amigos e para
profissionais que trabalham com ouvidores de vozes. Foi escrito para ajudar o
Movimento de Ouvidores de Vozes6 como uma introdução para esta forma diferente
de pensar sobre a “escuta de vozes”. Muitas das informações contidas neste livro foram
do psiquiatra Professor Marius Romme, Dra. Sandra Escher, Ron Coleman e muitos
outros. Escrevemos este livro para:
Até esta data, pouco foi escrito sobre esta experiência e o seu significado
direcionado a pessoas que ouvem vozes. Porque isso? Bem, durante muito tempo ouvir
vozes foi considerado somente outro sintoma de doença mental, logo inexpressivo e
sem valor que pudesse provocar maiores discussões (e continua assim em algumas
partes do mundo) - e – como esperado, dado o modo como as vozes são vistas. Ela é
Estados Unidos e em muitas partes do mundo ocidental. Esperamos que este guia
ajude na mudança desta situação.
suas experiências, em alguns casos, tem piorado pela abordagem feita pela psiquiatria.
Como disse acima, e vale a pena repetir, a muitos anos a psiquiatria considera vozes
6
Você poderá ler relatos completes do desenvolvimento e impacto do Movimento de Ouvidores de
Vozes na Wikipedia http:// en.wikipedia.org/wiki/Hearing_Voices_Movement
14
como algo que ela chama de “alucinações auditivas” e um sintoma de condições como
a esquizofrenia, depressão maníaca ou outra doença mental. Já que a psiquiatria
achava que as vozes eram um sintoma de uma doença, eles davam pouca importância
na investigação do significado da experiência em ouvir vozes, ou até mesmo em
perguntar ao ouvidor de vozes o que estava acontecendo com eles. Falar sobre vozes
com um ouvidor de vozes era considerado uma coisa perigosa já que isso poderia ser
indivíduos podem fazer muito pouco por si mesmo ao lidar com as vozes. De fato, os
profissionais na maioria das vezes são instruídos a não se ocuparem com ouvidores de
vozes sobre o conteúdo das suas experiências com vozes optando em procurar distrai-
los das suas próprias vozes, e se necessário administrando medicação (tranquilizantes)
para reduzir estes delírios e alucinações. Porem, os leitores devem saber que nem todas
as pessoas respondem a este tipo de tratamento e continuam ouvindo vozes (cerca de
30%), até mesmo aqueles que deixam de ouvir vozes experimentam os desagradáveis
perguntando as pessoas que ouvem vozes sobre as suas experiências – algo que não
tinha sido feito até então de forma sistemática7.
Primeiro, nossas pesquisas revelaram que enquanto ouvir vozes poderia, algumas
vezes, ser uma experiência incomoda e levar a pessoas a ser tornar um(a) paciente,
havia muitas pessoas que ouviam vozes e lidavam bem com as suas vozes, sem
intervenção psiquiátrica.
7
Ouvir vozes - Um Questionário desenvolvido por Sandra Escher, Patsy Hage e Marius Romme com
revisões feitas por Monique Pennings
15
Segundo, fizemos mais uma descoberta fantástica que também era igualmente
importante e pouco conhecida na época - nossa pesquisa mostrou que haviam muitas
pessoas que ouviam vozes que podiam lidar com as suas vozes e considerá-las
experiência negativa, ou mesmo quando for negativa para você, ela não precisa ficar
assim. Apesar de nem sempre ter sido considerada uma experiência negativa, também
não é correto a ideia de que vozes fazem parte de uma doença - ao longo da história
e também hoje há pessoas que ouvem vozes, que acham suas vozes inspiradoras e
confortantes.
Estes são fatos, que à primeira vista são difíceis de conciliar de forma extremamente
negativa como considerada essa experiência pela psiquiatria. Por essa razão que
doença psiquiátrica e precisa ser erradicada. Por sua vez, consideramos que está mais
próxima de uma variação da experiência humana - se preferir, uma propriedade ou
diferença - algo como ser canhoto ou homossexual, que definitivamente não tem cura.
países nos últimos dezessete anos, que pela primeira vez não é organizado por
especialistas no assunto, mas pelos próprios ouvidores de vozes. Neste guia
16
lidar com esta experiência que os incomoda?
Esperamos que ao ler o guia você se interesse em descobrir mais.
Muitas pessoas já passaram pela experiência de ouvir vozes sem ficar doente;
Ouvir vozes está muitas vezes relacionado com problemas de história de vida do
ouvidor de voz;
Para recuperar do desconforto a pessoa que ouve vozes precisa prender lidar com a
sua voz e a problema original que é raiz do problema de ouvir vozes.
Tabela 2.
A experiência de ouvir vozes
ACEITAÇÃO OU REJEIÇÃO?
REJEIÇÃO ACEITAÇÃO
Sentimento de inutilidade Aceita a existência das vozes sem
análise de rotulagem
Conflito interno
Desenvolve estratégias
Sentimento de ser paranoico
Observa o conteúdo das vozes e o
Incapacidade para seguir adiante porquê elas ocorrem
8
Movimento de Ouvidores, informação na Wikipedia, a enciclopédia grátis,
http://en.wikipedia.org/wiki/Hear- ing_Voices_Movement
17
PORQUE PRECISAMOS MUDAR NOSSO ENTENDIMENTO SOBRE O SIGNIFICADO
DAS VOZES - Relatos de Marius Romme e Sandra Escher
[...] as vozes estão enviando mensagens para o ouvidor que não podem
ser facilmente interpretadas por ele/ela como uma ajuda para resolver
o seu problema. Estas mensagens não são compreendidas devido à
linguagem difícil ou metafórica usada pelas vozes [...]
[...] além do mais, dentro deste paradigma as vozes são somente uma
parte do padrão de reação. Ouvidores de vozes também usam
explicações para as suas vozes que estão relacionadas ao modo como
eles vivenciam as suas vozes [...]
18
DOZE FATOS FUNDAMENTAIS SOBRE A EXPERIÊNCIA DE OUVIR VOZES
1. Ouvir vozes é visto muitas vezes como um sintoma primário de psicose9. Porém,
ouvir vozes em si não é um sintoma de doença, mas é aparente em 2 a 4% da
população, algumas pesquisas estimam que este percentual é maior e que mais
pessoas (cerca de 8%) tem as chamadas “convicções pessoais peculiares” que
algumas vezes são chamadas de “ilusões”, e acontece sem estar doente. Muitas
pessoas que ouvem vozes acham que elas são uteis ou benevolentes11. Num
2. Enquanto uma em cada três pessoas que ouvem vozes se tornará um paciente
de psiquiatria - duas em três pessoas conseguem lidar bem e não precisam de
um psiquiatra. Não se pode dar nenhum diagnostico porque estas duas em cada
três pessoas que ouvem vozes são bem saudáveis e funcionam bem. É bastante
significativo que na nossa sociedade exista mais pessoas que ouvem vozes que
nunca precisaram de um psiquiatra do que pessoas que ouvem vozes e se
pacientes ouviam vozes dentro e fora das suas cabeças da mesma forma que os
pacientes, porém ou o conteúdo era positivo ou o ouvidor tinha uma visão
9
American Psychiatric Association, 1994.
10
Honig, A.; Romme. M.; Ensink, B.; Escher, S.; Pennings, M.; Devries, M.W. (1998): Auditory Hallucinations:
A Comparison between Patients and Non patients. The Journal of Nervous and Mental Disease, 186 (10),
646-651 14. Romme & Escher 2001 15.Romme & Escher, 1989
19
pacientes mostravam amedrontados com as vozes e elas eram mais críticas e
malevolentes e estes se sentiam que tinham menos controle sobre elas;
ainda sentem os “sintomas” como ouvir vozes apesar das altas doses de
antipsicóticos injetável;
(cerca de 80%)15;
9. A prática tradicional na psicologia do comportamento concentrada em distrair
então seria reforçado positivamente (o pressuposto de que ouvir vozes foi uma
crença ilusória). O efeito desta abordagem é desencorajar a discussão sobre a
11
Romme & Escher, 2001
12
Romme & Escher, 1989
13
WW Fleischhacker, Pharmacological treatment of schizophrenia: a review, Schizophrenia, 2002
14
American Psychiatric Association 1994
15
Romme & Escher, 2000
16
P.D.J. Chadwick, Birchwood, & Trower, 1996.
20
diagnosticadas com esquizofrenia estava relacionado a experiências
traumáticas. Estas experiências variavam entre abuso sexual, abuso físico,
circunstâncias difíceis17;
11. Ouvir vozes em si não está relacionado à esquizofrenia. Numa pesquisa junto à
esquizofrenia18;
12. O prognóstico (se você irá melhorar ou não) de ouvir vozes é mais positivo do
Naquele período 64% das vozes ouvidas pelas crianças desapareceram de forma
congruente após elas aprenderem a lidar com emoções e ficarem menos
vozes como parte de uma doença sem receber a devida atenção, as vozes não
desapareceram, mas pioraram com atraso no desenvolvimento19;
17
Romme & Escher 2006
18
Romme & Escher 2001
19
Romme & Escher 2006
21
INTRODUÇÃO
Como você já deve saber, ouvir vozes sem nenhuma causa física aparente é
geralmente considerada pela psiquiatria uma alucinação auditiva, um sinal de doença
e transtornos dissociativos) e sem dúvidas muitos de vocês que estão lendo este livro,
farão o mesmo, devido as suas preocupações com esta doença. Talvez você já tenha
sido diagnosticado ou conheça alguém que este transtorno. É possível que ouvir vozes
(ou se você preferir usar o termo usado pelos dos psiquiatras - alucinações auditivas)
elas, porem até agora ainda não procuraram assistência médica e podem ter deixado
de fazer devido a percepção popular de que ouvir vozes é muito negativo. Todos nós
conhecemos e provavelmente tememos os ouvidores de vozes estereotipados
também poderá ouvir vozes e perguntar a que se deve todo esse barulho, eles podem
se sentir relativamente confortável com a experiência e não acham que seja um
Como é natural, em geral ouvir vozes não é um assunto para se discutir porque as
pessoas acham que é considerada uma experiência socialmente estigmatizante e
indesejada.
Devido a estas atitudes prevalentes, é muito importante que eu mostre logo no
22
início deste livro, que isso nem sempre tem sido o caso, e que uma dos motivos porque
este livro foi escrito é para mostrar que tem muitas pessoas que ouvem vozes, que
lidam com as suas vozes e as-consideram uma parte positiva das suas vidas. Também
não é caso de que as vozes sempre foram consideradas uma experiência negativa, ao
longo da história e ainda hoje há pessoas que ouvem vozes e que acham suas vozes
inspiradoras e confortantes. Estes são os fatos, que à primeira vista, são difíceis de
perturbador que vozes podem ter, tanto para os ouvidores de vozes como para suas
famílias e amigos. As vozes podem ser hostis, controladoras e procuram enfraquecer a
terminam procurando assistência médica. Muitas vezes parece que há pouco que as
próprias pessoas ou aquelas do seu círculo podem fazer para reassumir o controle das
suas vidas e esta foi certamente a minha experiência inicial. A sensação de impotência
que isso pode trazer parece ser uma característica quase que inevitável da experiência,
e é reforçada pelo fato de que a maioria das orientações médicas supõe que a pessoa
livro esperamos mostrar que ouvidores de vozes e aqueles e aquelas pessoas dos seus
círculos de amizades podem fazer muito para ajudá-los melhorar o seu controle sobre
as vozes.
Iniciei este trabalho depois de uma daquelas estranhas coincidências que mudam
o curso da sua vida. Em 1988 eu encontrei duas pessoas notáveis Marius Romme e
23
colega, Sandra, uma jornalista cientista, estavam apresentando informações e
resultados do seu trabalho sobre “ouvir vozes” que eles tinham iniciado dois anos
antes. Ouvir vozes era um assunto que e conhecia um pouco, mas como a maioria das
pessoas que trabalham com saúde mental, eu estava muito confuso sobre que eu
abordagem que eles tinham adotado como pela a forma como eles tinham se
envolvido no assunto. Na época, os primeiros resultados da sua pesquisa estavam
começaram a publicar as suas descobertas e falar sobre elas para outros profissionais,
como já esperado, foram recebidos com muita desconfiança e até ridicularizados por
pessoas que pudessem estar preparadas para realizar investigações similares nos seus
países.
Aparentemente, por alguma razão eles achavam que eu me encaixava e pediram
que eu fosse até Maastricht para ver o que eles estavam fazendo e assistir uma
conferência que eles estavam realizando, eu não consegui dizer não e algumas
entusiasta do trabalho deles e daquilo que estavam tentando realizar. Isto ocorreu, em
parte, porque o meu irmão passou por um período intenso de ouvir vozes que
construtiva de ajudar pessoas que ouvem vozes tinha que ser encontrada. Eu suponho
que porque Marius e Sandra achavam que as vozes eram percebidas pelos ouvidores
e que estas vozes tinham significados além de serem meramente alucinações foi a
razão principal porque confiei nesta ideia aparentemente não convencional que vozes
24
poderiam ser reais.
3. Porque eu me envolvi
Durante trinta e cinco anos meu irmão experimentou o que ele pensava ser um
despertar espiritual, às vezes inquietantes e aterrorizantes, e outras vezes agradáveis e
esclarecedores. Mais tarde, falando sobre esse assunto, ele disse que sentia
necessidade de abraçar esse mundo que estava vivendo internamente. Esta experiência
ocorreu logo depois dele ter se mudado para Manchester após terminar um
relacionamento que já durava bastante tempo e ter pedido demissão do seu emprego
em publicidade.
Naquela época eu achava que sabia muito sobre questões de saúde mental e tinha
me tornado uma espécie de ativista sobre saúde mental fazendo campanhas por
melhores serviços para pessoas com doença mental. Eu tinha presenciado os aspectos
associação local da Mind (a caridade para doença mental) fiz parte de uma tentativa
de mudar a natureza e papel dos serviços de saúde mental. Uma iniciativa que
ajudou quando o meu irmão começou a se comportar e pensar muito diferente do que
de costume. Apesar do meu grande esforço para mantê-lo longe psiquiatria, em que,
aquela altura, eu pouco acreditava, ele terminou indo para um hospital e foi
diagnosticado com esquizofrenia. O final feliz desta história é que ele ficou pouco
tempo no hospital. Meu irmão tem uma vida “comum”, e hoje ensina tai chi e é pai.
De alguma forma, a minha descrença nesta teoria do que estava acontecendo com
25
ele foi uma espécie de traição. Eu era o mesmo como a maioria dos outros profissionais
- Eu estava tão cego pela suposta credibilidade cientifica da esquizofrenia que era
acontece) ou que o diagnóstico estava errado. Mais tarde, comecei a pensar que o que
ele dizia estava certo e que eu pensava estava errado. Apesar das minhas dúvidas sobre
do problema na medida em que tentava entender o que o meu irmão estava passando.
Porem, tudo que eu tinha para oferecer era algumas retóricas profissionais sobre não
ouvir o que as vozes diziam. Tratava-se de uma abordagem extremamente limitada que
realmente só resultavam numa tentativa de desvia-lo desta experiência de voz interior,
que obviamente significava muito para ele, mas da qual eu me sentia excluído e
ameaçado por ela.
A experiência pela qual ele estava passando era muito profunda e significativa para
ele, para mim ele parecia estar realmente vivo e em contato com as suas experiências,
ele era articulado sobre o que estava acontecendo com ele, apesar de que para mim,
conhecia. Embora eu pudesse ver que havia prazer na sua experiência, também havia
dor e desorientação (inclusive para as reações das pessoas em torno dele) e uma
prejudicadas pelas minhas próprias ansiedades e temores. Ficou claro, que apesar de
eu trabalhar com saúde mental, não havia muito que pudesse fazer para impedir que
26
angustiantes, eu me sentia inútil diante da experiência pela qual o meu irmão estava
passando. Sem nenhuma utilidade para ele, o que foi o caso.
Houve uma espécie de final feliz para essa estória já que ele encontrou
rapidamente o seu próprio caminho fora do tratamento tradicional. Ele viveu durante
levar algum tempo, ele descobriu suas próprias explicações e formas de lidar com as
suas vozes, fora da psiquiatria. Ele se queixava que não havia ninguém para lhe dar o
tipo de apoio que precisava para entender a crise na qual estava inserido. Mostramos
abaixo o que ele escreveu sobre como este apoio poderia ser.
27
experiência até então negativa em positiva.
a psicose ou imersão, foi para o meu irmão uma experiência que teve um grande
significado para ele. Foi também algo com que ele foi capaz de trabalhar para si próprio
e poderia crucialmente teve um resultado positivo. Isto não deve ser possível, a
psiquiatria considera essa experiência como sintomas de doenças psicóticas que exige
tratamento, algo que meu irmão evitava da mesma forma que evitava ser considerado
esquizofrênico. Ele se recuperou (uma possibilidade que a psiquiatria também
considera com ceticismo. Eles preferem usar o termo - em remissão) e conseguiu sem
intervenção psiquiátrica, exceto durante uma rápida passagem no inicio da experiência,
sem medicação e sem perder sua autonomia. Eu não entendi como isso aconteceu,
mas eu sabia na época, que apesar das minhas criticas da psiquiatria, eu não tinha
4. Recuperação (Recovery)
No inicio dos anos 90, eu conheci Ron Coleman, que já tinha passado dez anos
dentro e fora do sistema psiquiátrico e tinha sido diagnosticado com uma forma séria
pareciam a de uma pessoa que estava dormindo que tentava mantê-los abertos e ao
mesmo tempo dormindo de alguma forma. Ele tinha mais círculos em torno dos olhos
que uma árvore velha e a palidez de alguém que não estava acostumada a luz do sol.
Seu aspecto era trágico ele parecia sentir dores. Esta pessoa estava recebendo
28
dos grupos de autoajuda para ouvidores de vozes realizadas em Manchester, ele vinha
com o seu cuidador e para ser honesto, além de achar que ela provavelmente a pessoa
com aparência de doente que eu tinha visto fora de um hospital, eu tinha pouco a fazer
com ele. Claro que quando eu digo que ele parecia doente, ele estava fisicamente
doente, não mentalmente doente (como que parece mentalmente doente) e havia boa
razão para isso, além do descaso físico, era também o resultado das altas doses de
neurolépticos. Ron compareceu nos grupos de autoajuda por algum tempo, e apesar
de falar pouco, ele ficou amigo de Mike Grierson e Terry McLaughlin, membros da Rede
recuperação. Em relação a plena recuperação, quero dizer que Ron, que durante muitos
anos, passou por um desgaste emocional severo - que não permitia que ele trabalhasse
fragmentada pelo transtorno que a doença tinha lhe causado - ele se tornou um
“vitorioso” e descobriu uma forma de orientar as pessoas em entorno dele para um
efeito construtivo, e que a partir do momento em que decidiu que queria se recuperar
até o ponto em que ele pudesse dizer que estava recuperado foi um período muito
curto.
Por fim, Ron desistiu completamente da sua condição psiquiátrica; algo que agora
pertence ao passado; não foi uma jornada fácil, mas que valeu a pena. Agora, Ron não
acha que tenha uma doença mental, deixou de tomar medicação ou receber qualquer
forma de tratamento. Apesar de Ron ainda ouvir vozes, ele não tem mais os outros
“sintomas” que fez com que ele procurasse ajuda no inicio. Porem, o que esta
experiência deixou foi uma cicatriz, que precisa sarar, o reconhecimento de que talvez
os dez anos dentro e fora de cuidados psiquiátricos jamais deveria ter ocorrido? Como
alguém que teve o privilégio de participar da vida de Ron naquele momento, as duas
coisas que me tocaram sobre toda essa experiência, primeiro, após tomar a decisão
29
que ele iria trabalhar para a sua recuperação, e segundo, ele sempre pedia as pessoas
do seu convívio que participassem do seu processo de recuperação. De alguma forma,
nos todos nos recuperamos juntos, esta não foi a única estória bem-sucedida do Ron;
ele também recuperou a autoconfiança dos funcionários e amigos que participaram da
sua recuperação. Ele pediu que nós nos esforçássemos o máximo e também fez o
mesmo. O que eu aprendi desta experiência foi que a recuperação em muitos aspectos
é uma experiência individual e coletiva. Nós estamos todos nos recuperando de alguma
forma.
sabiam como reagir. Eles ficaram realmente desconfiados e com dúvidas, acreditando
que ou ele tinha sido diagnosticado erroneamente ou se em breve ficaria doente mais
uma vez. Recuperar da sua doença, para algumas pessoas, era um desenvolvimento
ameaçador. Ron ficou muito afetado tanto pela perda de dez anos da sua vida como
pela resposta ambivalente da sua recuperação. Logo, ele refletiu muito sobre o que
realmente aconteceu que permitisse a sua recuperação. De alguma forma, foi esta
experiência que me fez olhar as lições que tinham sido aprendidas durante o processo
de recuperação. Transformamos tudo isso num guia prático, para que qualquer pessoa
que queira participar desta jornada venha se beneficiar da experiência do Ron e das
5. Quebrando as regras
30
escrito com certa franqueza sobre as limitações da psiquiatria.
Mais importante, eles compartilham a sua determinação de quebrar uma das regras
não escritas do jogo professional; considerar o outro como igual, aliados e seres
humanos. São essas pessoas que continuam tentando provocar mudanças positivas na
lições que eles aprenderam e se destina como um tributo para a sua luta para derrotar
o monólito cientifico que é a esquizofrenia e substitui-la com uma teoria sobre
problemas de saúde mental e prática psiquiátrica, que seja mais humana e mais efetiva.
Ao escrever esse livro foi feito todo o esforço para torná-lo fácil de ler e em qualquer
lugar. Tentei evitar termos técnicos e científicos desnecessários, ou onde eles foram
necessários, foi garantido que os termos fossem explicados. Por essa razão, há um
glossário no final do livro. Eu escrevi desta forma porque grande parte da fonte de
materiais deste livro está escrita em linguagem técnica. Acho uma pena, porque tem
servido para esconder que trabalhos muito significativos estão sendo feitos na
31
PARTE 1
Em novembro de 1988 fui convidado pelo Professor Romme para assistir uma
conferência em Maastricht intitulada “Pessoas que Ouvem Vozes”. A conferência foi
ouvissem relatos sobre as experiências de pessoas que ouvem vozes, juntamente com
os quadros teóricos sobre o significado do fenômeno. A conferência foi uma
doença e creditar esta abordagem na Holanda. Por este motido a reunião foi aberta
pelo Inspetor Chefe para Saúde Mental do Ministério da Saúde e Bem-Estar da
Holanda. A conferência durou três dias de trabalho onde foram apresentadas muitas
contestações sobre o entendimento atual de ouvir vozes.
32
Foi também quando conheci Patsy Hage, uma jovem que era paciente de Marius
e que ouvia vozes. Foi Patsy que começou toda a investigação sobre o significado das
vozes na Holanda. A história de Patsy é fascinante e dolorosa. Ela ouvia vozes
destrutivas e negativas que lhe davam ordens, ou proibiam de fazer as coisas. Quando
a conheci, ela me contou que tinha momentos em que elas podiam dominá-la
completamente. Patsy tinha 30 anos na época, e já tinha sido hospitalizada várias vezes
e diagnosticada com psicose esquizofrênica. Foram-lhe receitados tranquilizantes
número ou a insistência das vozes que ela ouvia como pretendia a medicação. Porém,
eles reduziram a ansiedade que ela sentia sobre a existência e natureza das vozes, mas
que ao mesmo tempo reduzia a sua agilidade mental. Lógico que Patsy achava tudo
isso muito perturbador e ficava deprimida pela sua incapacidade em se sentir e pensar
como antes. Foi nesta época que Patsy começou a falar sobre suicídio com mais
frequência e seu psiquiatra, Marius, sentiu que não seria capaz de impedi-la de tomar
um caminho de volta. Exceto por um elemento positivo no relacionamento deles, isto
poderia ter sido uma estória triste, porém familiar que tem levado a morte de muitas
pessoas diagnosticada com esquizofrenia.
O elemento positivo foi que Patsy desenvolveu a sua própria teoria sobre a sua
experiência como ouvidora de vozes, como muitos outros tem e ela teve a sorte de
conhecer um psiquiatra que estava preparado para levá-la a sério. Na medida em que
Patsy explicava a Marius, era sua opinião de que as vozes não eram parte de uma
doença e também não eram alucinações, já que ela estava com elas desde os oito anos
de idade, surgindo logo após ela ter sofrido queimaduras sérias (posteriormente foi
mostrado que até 70% dos ouvidores de vozes passam a ouvi-las após um grande
trauma). No início as vozes eram amigáveis e uteis e durante muito tempo não
causaram nenhum problema e somente depois de completar quinze anos que as vozes
se tornaram, hostis e raivosos. Ao invés, Patsy explicou que para ela, as vozes eram
33
reais, parte de quem ela era e apesar de que agora ela sofria com o que as vozes lhe
diziam, elas ainda tinham um significado para ela. Como Patsy disse para Marius; Você
acredita em um Deus que nunca vemos ou ouvimos, então porque você não acredita
nas vozes que eu escuto? Marius ficou muito impressionado com o ponto de vista de
Patsy, pois como muitos outros psiquiatras ele sempre desconsiderou as vozes como
parte do mundo alucinatório e da ilusão do doente psiquiátrico. Porem havia algo
convincente sobre aquilo que ela tinha dito e que fazia sentido para Marius porque
certamente era o caso na nossa sociedade que acredita na existência de Deus, a
despeito da falta de alguma evidência física, é aceitável e ninguém que acredita nisso
é considerado louco, ainda assim a mesma aceitação não é estendida aqueles que a
psiquiatria considera alucinantes. Após lutar para aceitar este ponto alarmante por mais
de um ano, ele finalmente passou acreditar que Patsy realmente ouvia suas vozes e
um dos seus pacientes estava preparado para se separar daquilo que o seu treinamento
psiquiátrico tinha lhe ensinado. Ao invés, ele se inspirou na Patsy, com um diagnóstico
de esquizofrenia, porque o que ela tinha dito fazia mais sentido do que qualquer outra
teoria que ele tinha ouvido até então. Apesar dos riscos, ele decidiu tentar fazer alguma
coisa positiva sobre esta nova perspectiva. Assim iniciou uma jornada que continua até
hoje, uma jornada que crucialmente sempre envolveu ouvidores de vozes e outros
descobrindo juntos o que esta experiência pode significar e como ela pode ser
superada.
34
2. A importância de ouvir
dizendo e como era ouvi-las. Isso pode parecer uma afirmação estranha, mas na época
ninguém estava interessado no assunto de ouvir vozes. Quando o Professor Marius
Romme, o psiquiatra holandês começou a fazer perguntas para pessoas que ouviam
vozes sobre as suas experiências e o que elas significavam para elas, seus colegas
acharam que ele estava louco. A razão por traz desta forte reação era porque na época
pessoas que ouviam vozes eram aconselhadas a ignorá-las, afinas elas não passavam
são tão reais quanto qualquer outra coisa no mundo físico é muito frustrante.
Considere esta experiência pessoal comum como um exemplo:
Desde o início pessoas que ouviam vozes nos contavam que achavam esta
abordagem desanimadora assim como o tratamento que era dado não os ajudava em
nada a entender ou lidar com as suas vozes. Esta foi a razão que nos levou a descobrir
mais porque isso ocorria e o que poderia ajuda-los ainda mais. A palavra chave é
OUVIR, ouvir o que as pessoas nos contam, e a partir dai desenvolver formas de
35
trabalhos baseados nestas informações.
Então, o movimento de ouvidores de vozes foi fundado com base no princípio
objetivo foi encontrar modos de ajudar as pessoas que ouviam vozes a reassumir as
suas vidas. O segundo objetivo, foi garantir que o que nos aprendemos já era bem
conhecido dos familiares, amigos e profissionais e numa sociedade mais ampla. Temos
sempre procurado formas de aumentar o entendimento de todos sobre ouvir vozes e
contestar as falsas impressões e ideias que muitas pessoas têm sobre vozes. Sempre
acreditamos que se uma sociedade muda a sua atitude em relação às vozes, então a
obter informações de pessoas que ouvem vozes. Provou ser muito útil em obter um
retrato mais completo das experiências compartilhadas por ouvidores de vozes e os
experiências.
Como resultado da utilização do questionário, descobrimos que além do seu valor
para a pesquisa, ele também mostrou ser uma boa forma para iniciar o processo de
exploração da experiência de indivíduos que ouvem vozes - e - como um meio de
desenvolver confiança nos trabalhadores com saúde mental que querem trabalhar com
ouvidores de vozes.
36
Uma das descobertas mais significantes que fizemos foi de que havia algumas
pessoas que ouviam vozes, mas que não tinham problemas com elas – essas pessoas
conseguiam lidar com as suas vozes. Isso foi algo que geralmente se desconhecia
dentro dos serviços de saúde mental, o que não é surpresa já que eles não conseguiam
lidar com a experiência e outras não? Novamente, perguntamos as pessoas que eram
mais capazes de dar as respostas, os próprios ouvidores de vozes, inclusive pacientes
foi que aquelas pessoas que são incapazes de lidar com suas vozes, também não eram
capazes de lidar com os eventos traumáticos que estão na raiz da sua experiência de
ouvir voz.
Outro princípio importante sobre o trabalho do movimento de ouvidores de vozes
significa que no movimento de ouvidores de vozes todos (pessoas que ouvem vozes,
trabalhadores, familiares e amigos) são todos considerados especialistas nas suas
próprias experiências. O que pretendemos quando dizemos isso é que vemos primeiro
como pessoas, segundo como parceiros iguais, e terceiro todos com valores diferentes,
porém um conhecimento mutualmente valioso para oferecer. Isso pode ser tanto pelas
experiências vividas como ouvidores de vozes, ou por ter convivido como amigos, ou
tentando lhe dizer? Podemos dizer isso com alguma confiança porque conhecemos
muitas pessoas ouvidores de vozes que se recuperaram da pressão provocada pelas
37
suas vozes.
Marius Romme e Sandra Escher em conjunto com muitos pesquisadores e Redes
de Ouvidores de Vozes em todo o mundo tem realizado pesquisas nos últimos vinte e
dois anos. Marius fala do trabalho:
Esta pesquisa mostra que devemos aceitar que a voz existe. Também
devemos aceitar que não podemos mudar as vozes, elas são incuráveis,
da mesma que é impossível curar um canhoto – as variações humanas
não estão sujeitas a cura - somente para lidar com a experiência. Logo
ao ajudar as pessoas lidarem com as vozes não deveríamos sujeitá-los
a uma terapia que não funciona. Deveríamos permitir que as pessoas
decidam por elas mesmas o que ajuda ou não. “Leva tempo para as
pessoas aceitarem que ouvir vozes é algo que pertence a elas.
vozes e profissionais e usa as suas habilidades jornalísticas para divulgar nos jornais,
revistas e média eletrônica objetivando abrir a discussão em toda a sociedade sobre o
que as vozes significam, e tentar gerar mais tolerância e compreensão das pessoas que
estão aflitas por esta experiência. Seu interesse particular é a experiência de crianças
que ouvem vozes e em 1993 ela organizou uma conferência especial em Amsterdam
para 27 crianças e seus pais, todos que entraram em contato após verem a cobertura
da imprensa. A conferência aconteceu, e achei de forma bem imaginativa, no
zoológico da cidade, e o sucesso do evento levou a Sandra conduzir um projeto de
ouvem vozes).
Existem agora redes de ouvidores de vozes e grupos de apoio ativos em vinte e
reconhecido já que é usado com frequência pelas pessoas, é um termo direto e neutro
fácil de adotar. Estamos interessados num alcance amplo do fenômeno e no momento
tentando reconstruir a “psicose” da mesma forma que temos com a palavra “alucinação
auditiva” embora não seja uma tarefa fácil.
num julgamento de valor feito por psiquiatras e certamente não são descrições clínicas
dos estados da mente ou sintomas de uma doença. Por exemplo, a crença de uma
pessoa pode ser a ilusão da outra. É difícil determinar o que é verdade, já que os termos
são aplicados seletivamente, por exemplo, crenças falsas de respeitados cientistas são
de uma pessoa que tem estas experiências ou crenças. Pesquisa recente mostra que as
chamadas alucinações auditivas de pacientes psiquiátricos são significantes e fazem
39
sentido em termos de suas vidas e como elas superam.
of the Bi-camera Mind)20. A Ilíada é um livro escrito pelo poeta grego Homero. Ela
relata as guerras troianas, uma guerra provocada pela mais linda mulher do mundo,
Helena. Ela abandonou o seu marido e fugiu de Troia com Paris. O seu marido foi em
sua busca com todos os exércitos da Grécia e Homero escreveu a ilíada sobre a guerra
alguma coisa. No seu livro, Julian Haynes argumenta de forma convincente que,
quando aquilo aconteceu não foi uma experiência metafísica e sim real. O guerreiro
realmente viu a deusa e ouviu as suas palavras. Jaynes acredita que até pelo ano 1300
AC, e antes do desenvolvimento da linguagem escrita, ouvir vozes era comum para
toda a humanidade e a experiência foi inteiramente erradicada por aquilo que
conhecemos agora como consciência. As pessoas que ouvem vozes hoje carregam um
resíduo evolucionário dos tempos antigos.
Romme aceitou as vozes Patsy e como resultado convidou outras pessoas para falar
sobre as suas experiências, e descobriu que apesar deles poderem falar sobre a suas
experiências eles não podiam se ajudar mutuamente. Então Marius e Patsy apareceram
num programa de televisão holandesa e falaram sobre ouvir vozes, pedindo às pessoas
que ouviam vozes que telefonassem. Receberam ligações de 450 pessoas e destas 150
disseram que eram capazes de lidar com as suas vozes sem ajuda da psiquiatria, alias
em alguns casos estavam felizes em ouvir vozes. Esta descoberta foi surpreendente e
levou a uma pergunta crucial. Será que as técnicas utilizadas por aqueles que lidavam
bem com suas vozes poderiam ser usadas por aqueles que não conseguiam? Marius
20
Jaynes J. A Origem da Consciência no Colapso da Mente Bicameral (1976)
40
iniciou o estudo sobre as experiências dos ouvidores de vozes e que continua até hoje.
Ele fez ainda duas coisas. Ele ajudou fundar um movimento de ouvidores e organizou
uma conferência para provocar uma discussão mais ampla a fim de mudar a atitude da
sociedade e tentar mudar a forma como eram tratados pela profissão médica,
Foi Patsy Hage que deixou claro para mim que a abordagem
psiquiátrica não era muito proveitosa. Porque, como medico com
treinamento tradicional eu só estava interessado na experiência dela
com ouvir vozes no que dizia respeita as características da alucinação,
para construir um diagnóstico em combinação com outros sintomas.
Porem, elas estava interessada nas vozes e no poder que elas exerciam
sobre ela, na ansiedade que ela sofria; no que eles lhe diziam etc.. Ela
não gostou da minha abordagem redutora. Ela se sentia prejudicada
pelas suas vozes e a medicação não fazia efeito para ela. Em
consequência, ela ficou cada vez mais isolada porque as vozes a
proibiam de todos os tipos de atividades sociais.
Para romper este isolamento, eu sugeri que ela falasse com outro
paciente que também ouvia vozes. Inicialmente, ela sentiu certa
resistência em relação à ideia, porem mais tarde ela aceitou a proposta
já que não conhecíamos outra forma de aprender mais sobre ouvir
vozes. Eu também cheguei à conclusão que sabia pouco sobre a
experiência de ouvir vozes. Então, organizei um encontro e os pacientes
que participaram ficaram bastante entusiasmados sobre falar sobre
suas vozes. Eles reconheceram as experiências do outro. Porem, após
alguns contatos, eles assim como eu, concluímos que ainda não
sabíamos como lidar com as suas vozes, porque todos os pacientes que
eu conhecia eram mais ou menos impotentes em relação as suas vozes.
41
6. Como iniciou no Reino Unido?
Eu queria enfatizar este ponto inicial já que ele teve um efeito poderoso em mim e
também em outras pessoas com quem conversei na Inglaterra sobre esta nova forma
de pensar sobre vozes. Eu deixei a Holanda com este desafio de Marius para
Ele também disse (eu acho que de forma humorística) que era possível que ouvir
vozes pelas pessoas chamadas de “normais” era algo único para os holandeses e ele
estava curioso para descobrir se. Além dele, algum britânico também ouvia vozes. O
movimento na Grã-Bretanha se inspirou na Holanda, onde começou com o
estes decidiram iniciar uma associação para estimular mais interesse pelo assunto, já
que naquela época pouco se conhecia sobre a experiência de ouvir vozes.
aqueles que não tinha tido nenhum contato com psiquiatria), parentes, amigos e
profissionais. O objetivo era quebrar o tabu de ouvir vozes promovendo aceitação das
Manchester organizou um evento onde seriam ouvidos Marius Romme e Sandra Escher
Participaram dos encontros dos ouvidores de vozes, seus parentes e profissionais
Inglaterra foi o primeiro país, e Manchester a primeira cidade a adotar esta ideia e se
importante sobre ouvir vozes e até mais importante, está sendo desenvolvida uma
nova forma de ajudar pessoas que se sentem incomodadas com as suas vozes.
Há muitas teorias defendidas pela psiquiatria sobre o que pode provocar as vozes,
muitas delas supõem que é parte de uma psicose e que pode ser provocada por algum
43
casos a medicação (neurolépticos / antipsicóticos) que podem reduzir a ansiedade
provocada pelas vozes, porem em alguns casos a um custo que faz com que a pessoa
se sinta lenta ou agitada. Em alguns casos a medicação pode levar a efeitos colaterais
irreversíveis se ingerida em doses altas durante muito tempo.
fato, muitos profissionais são instruídos a não envolver ouvidores de vozes com o
conteúdo da sua experiência, já que isso é considerado envolvimento nas ilusões do
percebido, nós não acreditamos que isto seja uma abordagem útil.
Aqui estão alguns dos problemas que ouvidores de vozes nos disseram sobre a
barreira para eles entenderem o que está acontecendo com eles e descobrir
suas próprias respostas para os seus problemas;
Muitos ouvidores de vozes que tornaram pacientes são tratados com altas doses
de neurolépticos que deixa as pessoas presas e incapazes de seguir adiante, ou
44
PARTE 2
Pessoas que ouvem vozes
1. Tabela III: Algumas pessoas famosas que disseram que ouviam vozes:
Eu tive tantos problemas mentais. Somente aos 22 anos foi que meu
cérebro realmente parecia um lugar espaçoso. Quando eu tinha 18, 19,
22, o meu cérebro ficava congestionado o tempo inteiro – vozes o
tempo todo. Eu não conseguia entender o que estava acontecendo”.
“Havia muita confusão dentro de mim, esta quantidade de vozes,
muitas vezes uma contradizendo a outra, me contando coisas que iriam
acontecer no futuro, e então iria acontecer, as vozes me insultando, me
dizendo o que fazer.
Lady Gaga
Lady Gaga surgiu nas noticias falando sobre as suas experiências de ouvir vozes na
infância.
É como eu lido com a minha insanidade. Quando eu era jovem, eu tinha
vozes na minha cabeça, e no período mais longo eu estava bebendo e
tomando muitas drogas, e foram as vestimentas e a arte que me
salvaram. Eu me alegro muito com a criatividade.
Como muitas pessoas na nossa rede, parece que ela usou criatividade
como uma forma real de lidar com as experiências angustiantes.
45
Uma vez eu me tranquei no banheiro porque tudo que podia ouvir na
minha cabeça eram aquelas vozes horríveis me dizendo para ferir e
matar. Eu não queria ferir ninguém… as vozes ficaram mais altas e mais
horríveis e mais confiantes e começaram a rir e dizer o tempo todo que
eu merecia isso …. Isso não era viver e nem bonito, então isso é tudo
que tenho a dizer agora.
Aos 22 anos, eu peguei uma guitarra pela primeira vez e aprendi uns
acordes. A doença levou um tempo para desaparecer, mas na medida
em que ela desaparecia, os demônios que me mantinham acordados a
noite inteira e permitiam que eu ficasse mais tempo escrevendo. Então
eu me sentava com o meu violão e escrevia e escrevia e escrevia.
Anthony Hopkins
Famoso ator que estrelou em muitos filmes e peças de teatro. Numa entrevista em
1993 no canal “News of the World”, Anthony falou sobre uma voz na sua cabeça que o
Meus dias na escola nem sempre foram felizes e eu queria deixar o País
de Gales e ser alguém. Eu era um garoto estupido a escola, não tinha
ideia do que estava acontecendo. Eu achava que estava em marte, não
sabia sobre o que estavam falando.
46
Zoe Wannamaker (Atriz)
Zoe é uma atriz inglesa, famosa pelo seu trabalho na Royal Shakespeare Company
Gandhi
O ouvir a Voz era precedido de uma luta interna terrível. A Voz surgia
subitamente em mim. Eu escutava, me certificava que era a Voz, a luta
parava. Eu me acalmava.
Já perto do fim da sua vida a voz disse -Você está no caminho certo,
não se mova nem para a esquerda e nem para a direita, porem caminhe
direto e estreito.
47
Jones, um decorador que morreu em 1977, continua lhe orientando a partir do “outro
lado”.
Eu falo como ele o tempo todo, diz ele. Tantas coisas loucas que
aconteceram ao longo dos anos. Quando era zelador em um campo de
atletismo eu falava com o meu avô o dia inteiro e dizia, me dê só uma
chance de jogar na quarta divisão, qualquer coisa. Quatro anos depois
eu venci a Copa FA da Inglaterra.
visões falavam com ela, e ela também conseguia tocá-las. No inicio, eles lhe disseram
para ser boa e ir regularmente à igreja. Mais tarde, pediram que ela liderasse o exercito
francês a expulsar os ingleses da França.
Santa Joana levou o exército francês a algumas vitórias importantes, porem mais
tarde ela foi capturada e condenada por “heresia”. Vinte e cinco anos após a sua morte,
ela foi declarada inocente. Em 1920, Joana D’Arc foi canonizada santa da Igreja Católica
Romana.
achava que algumas delas eram partes do subconsciente, porem acreditava que outras
eram supernaturais.
Uma das vozes que ele ouvia (Philemon) aparecia para ele quando ele precisava de
conselhos e orientação.
48
Às vezes ele parecia quase que fisicamente real. Eu andava com ele por
todo o jardim, e ele era para mim o que os indianos chamam de guru.
Alguns anos atrás Sandra Escher escreveu um artigo com base na sua pesquisa
positivas, e havia uma crença de que em certos lugares sagrados era possível obter
conselhos e orientações para decisões importantes através da voz de Deus.
valorizava como um guia útil. Ele disse que deixava a sua vida ser direcionada por esse
demónio que ele considerava uma voz de sabedoria e que não sentia como um aspecto
dos seus próprios pensamentos. Porém, ele também sabia que poderia haver
problemas com a sua experiência e escreveu que era possível para a percepção de um
clarividente coincidir com a loucura: em outras palavras, ele entendia, há dois mil anos
atrás, que uma pessoa no meio de tal percepção está compreensivelmente mal
ajustada às exigências da rotina do dia a dia. Você deve saber que mais tarde Sócrates
foi perseguido pelas suas ideias, julgado e condenado a morte. Na época ele falou da
sua voz:
49
Você pode ter me ouvido falar de um oráculo ou um sinal que vem de
mim, que meu acusador Melito ridiculariza e faz a acusação. Este sinal
eu tenho desde a minha infância. O sinal é uma voz que vem para mim
e sempre me proíbe fazer algo que vou fazer, mas nunca me ordena
fazer alguma coisa, e é isso que me impede de ser politico.
uma tradição na civilização Ocidental”. Além do mais, uma das primeiras hipóteses
feitas sobre vozes e outras experiências como visões vieram de outro filosofo grego,
Aristóteles (384-322 BC). De acordo com Aristóteles as vozes eram produzidas pelo
experiências religiosas e espirituais e uma das ideias mais comum sobre a origem das
vozes é de que elas vêm de Deus. É significativo que muitas pessoas identificadas como
Tanto o velho como o novo testamento têm relatos de pessoas que ouvem vozes;
Moisés, Jesus, o apóstolo Paulo e Maria todos declararam ter ouvido a voz de Deus ou
mensagens de Deus.
Tem um episódio bem conhecido quando Moises ouviu a voz de Deus vindo de
um arbusto que pega fogo lhe dizendo para guiar os Hebreus para fora do Egito. Em
toda a bíblia hebraica se encontra Deus falando com os humanos: ele os chama para
prestar contas, dialoga com eles, e ouve as suas perguntas. O Cristianismo manteve
este conceito do Deus pessoal e consequentemente a experiência mística, tem sem
21
Fred H. Johnson, The Anatomy of Hallucinations, Burnham Inc Pub (Março 1978)
22
Joel Feinberg, Doing and Deserving: Essays in the Theory of Responsibility (1970)
50
vezes o consideravam possuído. Eu fico pensando o que os psiquiatras teriam feito de
um Jesus de Nazaré macilento, depois de quarenta dias de jejum no deserto, suas
trabalhadores com saúde mental nós usamos a experiência acima, e sem dúvida ele
seria considerado nos termos da legislação de doenças mentais (autonegligência, se
Por outro lado, Mohamad ouviu uma voz pela primeira vez próximo de Meca
quando estava caminhando sozinho e meditando, ela disse “Salve, o mensageiro de
Deus” e como muitas pessoas que passam por essa experiência pela primeira vez ele
olhou em torno de sí tentado descobrir de onde vinha a voz, porem não encontrou
nada. Dias depois ele teve uma visão do Anjo Gabriel que lhe disse que Deus o tinha
escolhido para ser um profeta e novamente a sua reação foi idêntica a de outros
ouvidores de vozes a de se matar. Ele não se matou, é claro, e nos anos seguintes
muitos dos escritos de Mohamad foram inspirados em vozes e visões. Naquelas partes
do mundo onde o cristianismo, o islamismo e o judaísmo têm dominado, a ideia
sobrevive de que o divino pode ser descoberto dentro da consciência humana. Até o
surgimento da psicologia e psiquiatria, a igreja católica se dava o direito de classificar
cujo papel nas guerras lutadas pela França contra os ingleses é um dos primeiros
exemplos de ouvidores de voz, onde eventos políticos determinaram como as suas
experiências foram interpretadas. No inicio, as suas topas acreditavam que ela era
guiada pelas vozes de anjos quando ela os levou ao campo de batalha. Porém, quando
51
ela foi capturada pelos ingleses ela foi acusada de feitiçaria devido às vozes. Na
realidade, o seu julgamento e execução foi menos sobre a origem das suas vozes e
mais sobre o debate politico sobre quem ficaria com a coroa francesa e resultou que
sacrificaram a sua vida.
leitor. Não pretendo ser desrespeitoso com aquelas pessoas que são cristãs, muito pelo
contrário. Neste comentário pretensamente irreverente, fica uma pergunta crucial de
como sabemos quem são os profetas e quem é louco? E quem faz estas definições?
52
Uma “boa voz” pode lhe ajudar contra uma “ruim”;
Elas podem lhe ajudar a lidar com coisas ruins que acontecem nas suas vidas;
Algumas negativas;
Elas podem ser muito repetitivas;
de perseguição);
4. É difícil explicar
É difícil explicar o que é ouvir “vozes”, especialmente se você nunca passou por essa
quando dizem que têm uma vocação, porém esta é a raiz do significado da palavra.
De fato, muitas pessoas historicamente importantes declaram ter ouvido vozes que
53
de impedir que façam coisas no seu dia a dia. As vozes também podem punir o ouvidor
se eles não fizerem o que ela quer. Ouvir vozes é muitas vezes considerado perigoso
porque as “vozes” são conhecidas por dizer às pessoas que cometam assassinatos e se
machuquem, e existem até exemplos fantásticos sobre isso.
5. Em suma
é. Primeiro, pode ser o mesmo que ouvir uma voz normal passando pelos seus ouvidos,
sendo que a diferença é que a “voz” não tem causa física. Porem, como vozes normais,
há uma variedade e toda experiência tem suas diferenças. Por exemplo; deixar um
parceiro sem ajuda; ser incapaz de falar sobre as vozes; permanecer em silêncio, e
consequentemente isolado das outras pessoas. Você pode achar já teve essa
experiência, mas, tem certeza? Você já passou pela experiência de ouvir alguém chamar
o seu nome somente para descobrir que não existe ninguém lá. De fato, a pesquisa
explicação de como ela é. Assim como ouvir vozes pelos ouvidos, as pessoas também
ouvem vozes como se fossem pensamentos entrando na mente vinda de longe. Isto
não é o mesmo que uma ideia em que a pessoa acabou de inspirar, que a pessoa
geralmente reconhece como se estivesse saindo delas, ao invés os pensamentos não
são delas e parecem vir de fora da sua consciência, como uma telepatia.
Um bom exemplo disso é a tentativa de lembrar-se da rima de uma música, em que
você se dá conta repetindo de forma inconsciente, e aquilo fica na sua cabeça o tempo
todo. Você se descobre cantarolando a musica. Você nunca tomou uma decisão de
começar a pensar sobre ela, e acha difícil parar de pensar nela. A diferença entre a
melodia e a “voz pensada” que aparece como palavras na sua mente é que ela pode
continuar falando com você de forma coerente e até envolvê-lo (la) numa conversa.
Você, não é responsável por ela e não tem nem ideia o que, que esta “voz” vai dizer
54
em seguida.
dentro da cabeça, de fora da cabeça, ou até do corpo. Pode ser uma ou muitas vozes.
A voz pode falar com você ou sobre você. Existem outras formas de ouvir vozes,
algumas delas fazem com que frase “ouvir vozes” pareça uma descrição fraca e talvez
algum dia encontremos uma melhor - porque ela não é nunca a mesma para todos.
acontecer para nós, ainda assim acreditamos que eles estão realmente acontecendo
conosco. Ouvir vozes pode ser assim- um sonho acordado - porem algo que se
experimenta como se fosse real.
7. O que as vozes lhe dizem e o que você pode fazer? O que as vozes fazem
suas vozes não gostariam de parar de ouvir vozes - as vozes podem ser patológicas
para algumas pessoas porem, também podem preencher uma função psicológica útil.
O que as vozes dizem? Que mensagens elas trazem? Geralmente, não existe
somente uma “voz” que diz o mesmo tipo de coisas o tempo inteiro. Pode haver várias
vozes uma diferente uma da outra. Uma delas pode dizer coisas agradáveis e estar ao
seu lado enquanto que a outra não. Algumas vezes uma voz pode ter uma
55
personalidade completa e ser rapidamente reconhecida pela pessoa que ouve a voz
como uma pessoa específica, viva ou morta, ou algum espirito conhecido ou um ser
como Deus ou o Demônio. Outras vozes poderão ter pouca personalidade e a pessoa
que está ouvindo o que é dito não poderá largar por alguma pessoa em particular ou
As piores notícias
Algumas “vozes” são mais agradáveis que outras. As menos agradáveis podem
abusar das pessoas que as-ouvem, dizendo que esta pessoa não é boa, sem
responsabilidade, danosa, estupida, sem valor. Elas podem dizer esse tipo de coisa
pessoa. Por exemplo, as vozes também podem fazer com que as pessoas fiquem
descontroladas, ou sinta dor.
com comentários insignificantes e sem valor, tais como “isso não é uma boa ideia”, “isso
não vai funcionar”, “ele é um deles”, e assim por diante. As vozes também podem
exemplo, as vozes dizem que se você enviar uma carta para alguém pedindo algo,
aquela pessoa fará o que você quer. Quando isso não acontece pode causar uma
grande desilusão.
As boas novas
Pode haver um lado agradável em ouvir vozes (ver Vozes Positivas abaixo).
56
sabiam ou que não poderiam resolver sozinhos e então as vozes ajudam muito. Para
algumas pessoas. Esta experiência é considerada uma dádiva, algo como uma
tem sobre o ouvidor de voz. Muitas vezes, as vozes comentam como o ouvidor está
vivendo o mundo e assim as vozes podem ser um mecanismo de defesa contra a
e injustiça.
que pessoas que estão passando por angústias resultantes de agressões ou vozes
dominantes, muitas vezes conseguem reconhecer nas suas vozes aquelas dos seus
agressores, e elas tem o efeito de atacar os seus sentidos de autoestima e valor. Porem,
não se deve esquecer que algumas pessoas experimentam vozes prestativas e
orientadoras, que também surgem dos períodos de trauma e estresse (mais sobre isso
abaixo). Tendo descoberto estes tipos de relacionamentos, o próximo passo deles
consiste em desenvolver técnicas para ajudar ouvidores de vozes focar nas suas
experiências e conhecer melhor as suas vozes.
57
sim contra produtivo, porque estas abordagens enfraquecem o ouvidor de voz ao lhe
negar a sua experiência real e não permitindo que eles assumam as vozes e se afirmem
sozinhos. A nova abordagem requer que o ouvidor de voz abra espaço para as vozes,
para ouvir, porem sem seguir, se envolver, porem no seu devido tempo e espaço,
essencialmente para aprender como controlá-las dentro das suas próprias condições,
de acordo com as suas crenças e quadro explanatório. Esta aceitação das vozes é crucial
elas sejam”.
história de vida dos ouvidores de vozes para ver se era possível ajuda-los resolver os
seus problemas inclusive os emocionais. Esta abordagem enfatiza a importância de
entender o que as vozes estavam dizendo para o ouvidor e pedia que eles focassem
suas atenções nas vozes como uma forma de encontrar uma resolução para as
dificuldades que elas provocavam. Porem, ao fazer isso, era muito importante
58
acontecimento especial que ocorreu na juventude.
face a face descobriu-se que as vozes são disparadas quando elas sentem certas
ameaças ou grandes emoções como: insegurança, medo de agressão, os seus
Tem muitas pessoas que ouvem vozes e que nunca foram a um psiquiatra, isso é
um fato bem conhecido porem negligenciado.
Já se sabe a algum tempo que um percentual bem alto da população passa por
experiências de ouvir vozes que são curtas e ocasionais, especialmente nos períodos
após ocorrências de morte, divórcio e separação. È também o caso de pessoas em
extremas circunstâncias, por exemplo, 80 por cento das pessoas que foram torturadas
têm alucinações durante o seu tormento23, fenômeno que também é visto entre
que tinham ouvido vozes durante muito tempo, sendo que somente um terço dos
entrevistados relataram efeitos negativos25.
23
FE Somnier and IK Genefke, Psychotherapy for victims of torture, The British Journal of Psychiatry 149:
323-329 (1986)
24
G Bennet, Accidents and fatigue in small boats, British Medical Journal, (1972)
25
A. Y. Tien, Distribution of hallucinations in the population, Journal Social Psychiatry and Psychiatric
Epidemiology (1991)
59
Outra pesquisa em 1991 revelou que muitos casos de ouvir vozes não atenderam
os critérios para diagnóstico psiquiátrico26. Entretanto, a última pesquisa de Romme
com pacientes e não pacientes ouvidores de vozes mostra que os dois grupos ouvem
vozes positivas e negativas aproximadamente no mesmo nível. A diferença é
principalmente como os dois grupos reagem as suas vozes, com os não-pacientes sem
medo das vozes e se aborrecendo menos com elas do que os pacientes.
12. Vozes são ouvidas por “pessoas normais” e às vezes pode ser uma
experiência positiva.
Como eu disse antes, ao longo da história humana, tem havido descrições da “voz
demônio. Talvez não seja surpresa, a pouca atenção dada sobre a experiência de voz
cerca de 10 anos atrás, aliás, as primeiras pesquisas começaram a mais de 100 anos
atrás. Já em 1889, Henry Sidgewick foi incumbido pela Sociedade de Pesquisa Física
Nos três anos que se seguiram, a sua equipe de pesquisadores entrevistou 17.000
adultos na Inglaterra, Rússia e Brasil e fizeram a seguinte pergunta para eles:
26
W. W Eaton, A Romanoski, JC Anthony, G Nestadt, Screening for psychosis in the general
population with a self-report interview. The Journal of nervous and mental disease (1991)
60
Quase 10% relataram que passaram por percepções inexplicáveis, 2.9% que
descobriu que o numero de pessoas que ouviam vozes era muito grande27.
Cem anos mais tarde, seguindo o estudo Sidgewick’s, uma pesquisa em larga
escala envolvendo 15.000 pessoas em Baltimore, St Louis e Los Angeles foi realizada
pelo Professor Allen Y Tien. Ele descobriu que vozes eram ouvidas regularmente e
constantemente por 2.3% da população. Outra pesquisa feita em 1991 por W. Eaton
mostrou que muitos casos de ouvir vozes não satisfaziam os critérios dos diagnósticos
entre pessoas normais, inclusive pesquisa feita por Posey e Losch28, Myrtle Heery29, e
Vanessa Beavan30 e outros que confirmaram que ouvir vozes é uma experiência comum
hoje em dia, Estes estudos incluíam grupos de estudantes (inclusive uma com
momento da vida (muitas vezes após eventos traumáticos como a morte de um ente
querido, perdas ou grandes mudanças de vida).
educador da Austrália. Este livro, fruto de uma grande pesquisa, mostra que apesar de
27
Sidgewick H.A. (1894) Report on the census of hallucinations, Proceedings of the Society of Psychical
Research, No. 26, pp. 25 394
28
Posey T.B. and Losch M.E. (1984), Auditory hallucinations of hearing voices in 375 normal subjects
Imagination, Cognition and Personality, vol. 3, no.2, pp. 99 113
29
Heery M. W. (1989): Inner Voice Experiences: an exploratory study of 30 cases, Journal of Transpersonal
Psychiatry, vol. 21, no. 1, pp. 73 82
30
Vanessa Beavan, John Read and Claire Cartwright (2006) Angels at our tables: A summary of the
findings from a 3-year research project into New Zealanders’ Experiences of Hearing Voices, University
of Auckland, New Zealand
31
Watkins J, Hearing Voices - A Common Human Experience: (2008) Michelle Anderson Publishing,
Australia
61
ouvir vozes ser muitas vezes considerada um marco da loucura é realidade uma
experiência relativamente comum. John mostra que enquanto as “vozes” indicam um
tiveram pelo menos uma experiência inesquecível com vozes e algumas pessoas tem
regularmente e enquanto que algumas experiências são perturbadoras outras são
Vozes positivas
É também o caso de que pessoas ouvem vozes positivas que não lhes causam
32
Positive experiense of voice: Elisa Gatiss et al, University of Newcastle Upon Type (2006).
62
Outra pesquisa recente no outro lado do mundo é a da psicóloga Vanessa
Beavan da Universidade de Auckland, Nova Zelândia, publicada em 2006. Vanessa
experiências com vozes”. Aqui estão alguns exemplos das experiências relatadas pelos
ouvidores de vozes:
Mais da metade identificou um único evento como muito negativo, pouco antes
de ouvir a voz pela primeira vez, ainda assim, com o passar do tempo, as reações
Vozes de pessoas doentes eram mais comuns; outras incluíam as suas próprias
vozes, deuses e alienígenas.
Em geral, as vozes eram amistosas ou úteis para 48% e negativas e inúteis para
25 %, indiferente para 15% e variava muito para o restante.
63
54% já tinham procurado serviços de saúde mental.
Cerca de 25% ouviam vozes falando ou discutindo entre elas.
Outro estudo publicado 2004 descobriu que algumas pessoas que ouviam vozes
sentiam prazer (26%). Os autores mostraram que “estas descobertas desafiam o
Dra. Sandra Escher é uma pesquisadora que juntamente Marius Romme, fundou o
movimento de ouvidores de vozes, ela é especialista nessa questão de crianças e jovens
que ouvem vozes. Nos últimos 15 anos, ela conversou com crianças que ouvem vozes,
seus pais e cuidadores. Sandra realizou a mais detalhada e profunda pesquisa sobre
esse fenômeno até hoje no mundo inteiro. Ela desenvolveu uma nova perspectiva
sobre o que as vozes podem representar e como você pode ajudar o seu filho “cope”
14. Tabela VI: O que fazer se o seu filho lhe disser que está ouvindo vozes:
33
Sanjuan J, Gonzalez JC, Aguilar EJ, Leal C and Os J; Acta Psychiatrica Scandinavica 2004
64
harmonia com as suas vozes.
É importante romper o sentimento de isolamento do seu filho que acha que é
diferente das outras crianças. Seu filho é especial, diferente talvez, porem
normal.
Descubra se o seu filho tem dificuldades ou problemas que acha difícil enfrentar
e tente resolver estes problemas. Tente lembrar quando as vozes começaram o
que estava acontecendo com a criança quando ela começou a ouvir vozes? Teve
alguma coisa diferente ou estressante que possa ter ocorrido?
Continue tendo uma vida normal e não permita que a experiência das vozes se
solidárias que aceitam a experiência como parte de quem é o seu filho. Você
também pode fazer tudo isso!
65
PARTE 3
Se você ouvir vozes que falam sobre você ou para você, especialmente de forma
depreciativa e contar isso para um psiquiatra, não se surpreenda se ele/ela achar que
experiência de voz toma, a partir do ponto de vista deles se você ouve “pessoas”
falando com você que não estão lá quando você com alucinações - e para eles isto é
um assunto importante – porem, eles não estão preocupados com o que as vozes
dizem. Isso acontece porque a psiquiatria está preocupada em saber como a condição
física do cérebro afeta o modo como você pensa, logo se os seus pensamentos estão
causando problemas, então é possível que haja alguma coisa errada fisicamente com
o seu cérebro.
narrativa da experiência de voz. Uma das razões para isso é que eles nunca levaram em
consideração as alucinações, exceto em pessoas angustiadas e dominadas pelas suas
experiências.
O nosso trabalho nos fez acreditar que é importante tentar encontrar
significados para experiências de ouvir vozes. Pode soar radical, porem se baseia na
pesquisa de som que envolve questionários e entrevistas realizadas com muitos
66
o conteúdo da experiência de voz (que pode ser abusiva e que desvaloriza a pessoa,
ou orientadora e inspiradora – ou ambas), mas resultante do tipo de relacionamento
que você tem com as vozes. Conclusão, isto significa que você acredita que as vozes
estão em controle e você não consegue lidar com elas – porem, se você acredita que
2. Tabela VII: Três fases encontradas entre pessoas que ouvem vozes
2.1. A fase inicial
intensidade da fase inicial, que parece ser mais severa quando ela surge na
adolescência. A confusão parece ser menor quando as vozes surgem na infância,
ou então numa idade mais madura (numa pesquisa 6% começou a ouvir vozes
quando tinham 6 anos; 10% entre 10 e 20 anos; 74% depois dos 20);
Muitas vezes as vozes são provocadas por eventos traumáticos ou emocionais
são agressivas e negativas desde o inicio. Para aquelas pessoas as vozes são
hostis, e não são aceitas como parte deles. Eles sofrem com as vozes negativas
que provocam caos nas suas mentes, exigindo tanta atenção que a comunicação
com o mundo exterior fica extremamente difícil.
67
2.2. A fase de organização: lidando com as vozes
meses), para outros, pode ser anos. Porem, para aceitar as vozes em qualquer nível ou
para organizá-las com sucesso, exige que ocorra algum tipo de aceitação. Negar as
das vozes, que não parece fazer parte de uma estratégia útil de lidar com a situação.
assumir responsabilidade sobre as suas decisões. Você tem que aprender pensar
positivamente sobre você, suas vozes e seus problemas;
fossem parte delas e de suas vidas, e capazes de uma influência positiva. Durante esta
fase, o indivíduo é capaz de escolher entre as recomendações das vozes ou as suas
34
As informações contidas nesta secção foram retiradas dos resultados dos questionários enviados aos
ouvidores de vozes e de entrevistas posteriores (ver Accepting voices de Marius Romme e Sandra Escher)
68
próprias ideias, e dizer “eu ouço vozes e estou feliz com isso”.
Se esse for o caso, deixa de ser uma posição sustentável pensar de vozes como
parte de uma síndrome de doença, como esquizofrenia, entretanto, ouvir vozes pode
ser considerado um evento significativo, real (apesar de algumas vezes ser doloroso, e
insuportável) que fala com a pessoa de forma metafórica sobre as suas vidas, emoções
e ambiente. Por exemplo, pessoas que se sentem angustiadas devido vozes abusivas e
dominantes muitas vezes conseguem reconhecer suas vozes como aquelas dos seus
agressores e as vozes têm um efeito de atacar os seus sentimentos de autoestima e
valor.
Após descobrir estes tipos de relacionamentos, ouvidores de vozes, enfermeiras,
requer que o ouvidor de voz abra espaço para as suas vozes, ouça sem
necessariamente ter que seguir, se envolver, exceto no seu tempo e espaço –
essencialmente para aprender como controlá-las do seu jeito, de acordo com as suas
crenças e quadro explicativo. Esta aceitação das vozes é crucial para o crescimento e
resolução. Ouvidores de vozes que aprenderam estas técnicas podem dizer agora “Eu
ouço vozes, elas são parte de mim e estou feliz com elas”.
voz poder estar se intrometendo na sua consciência, que não quer dizer que você deva
fazer cegamente o que ela manda. Você se apressaria em cometer suicídio se alguém
dissesse para você fazê-lo? Claro que não. Pessoas que ouvem vozes tem o mesmo
direito de autodeterminação que qualquer um e você pode dizer exatamente isso para
as vozes. Se algumas das vozes são agradáveis e amistosas, então você poderá
conversar com elas sem problemas, e não com aquelas que não são. Você pode dizer
69
para as vozes desagradáveis que acha que elas não são nem agradáveis e nem úteis, e
que você não tem razão nenhuma para tolerá-las a não ser que sejam o inverso.
O que dizer das vozes malevolentes que podem causar dores mentais agudas e
podem mandar você fazer as coisas (como não sair de casa e evitar as pessoas)? Uma
solução é tirar o máximo de estresse da sua vida. O estresse não só aumenta a sua voz,
mas faz com que elas falem coisas mais desagradáveis. Segundo, não ignore as vozes
já que elas tendem a ficar mais agressivas, porem ao mesmo tempo não deixe que elas
continuem mandando na sua vida sem a sua permissão.
É muito importante reconhecer que as vozes conhecem muito bem a pessoa que
ouve vozes, que eles sempre dizem coisas que são especialmente relevantes e
que também precisam ser resolvidos, ou esperanças e aspirações não realizadas que
em alguns casos, são impossíveis de realizar. Logo, quando se trabalha com ouvidores
de vozes não é válido rejeitar as vozes, ao invés, é mais apropriado estimular a
estimular a sua curiosidade. Este processo é difícil cumprir e temos explorado técnicas
que apelam as pessoas que ouvem vozes.
Esta exploração vem sendo realizada em cooperação com pessoas que ouvem
vozes e em consequência foram identificadas as seguintes técnicas construtivas usadas
por pessoas que ouvem vozes para melhorar sua capacidade em lidar com o problema:
pessoas que ouvem vozes disseram que teriam ajudado lidar com as suas vozes:
70
Estratégias para Lidar com Vozes Inquietantes
Focando nas técnicas Aceitar que as vozes não são o problema, eles são
resultados de um problema. O seu trabalho é descobrir
mais;
Identifique as suas vozes – número, gênero, idade, etc...;
Aprenda sobre os limites para usar nas pessoas e suas
vozes (ex. faça um acordo com as suas vozes, “fique
quieta agora que eu vou escutar mais tarde”);
Procure ouvir as vozes positivas também – elas podem
ser aliadas;
Programe um tempo para ouvir as vozes e pedir a elas
que lhe deixe sozinho até aquele momento;
Diga as vozes negativas que você irá falar com elas
somente se forem respeitosas com você;
Dialogo de voz – deixe um membro da família de sua
confiança, amigo ou funcionário de saúde mental falar
diretamente com as suas vozes;
Trabalhe com o livro de exercícios de Ron Coleman &
Mike Smith “Working with Voices II” (ver outras leituras)
com uma pessoa de sua confiança que pode ser um
membro da família, amigo ou funcionário de saúde
mental;
Escreva o que as vozes estão lhe dizendo;
71
Tome os seus remédios como indicado na receita;
Pense como você está se sentindo e seja realista sobre o
que você pode realizar
Foco emocional Converse sobre sentimentos com outra pessoa;
Faça uma lista daquilo que provoca emoções;
Pinte / desenhe emoções;
Escreva mensagens quando estiver se sentindo bem
para ler quando estiver se sentindo mal;
Escreva um diário;
Escreva poesia / prosa sobre sentimentos.
Coisas que podem Acupuntura
ajudar ouvidores de Evitar drogas de rua
vozes a lidar com a sua Cante
experiência Distração, ex. Leitura, jogos de computador
Se concentre nas vozes
Participe de Grupos de Auditores de Vozes
Se cerque de pessoas que possam lhe ajudar, bons
amigos, família, enfermeiros, conselheiros etc.
Férias
Humor
Identifique quando você está propenso a ouvir vozes
Ignore as vozes
Auto isolamento
Escreva um diário sobre eles
Mantenha-se ocupado ex. cozinhar, atividades
domésticas
Mantenha-se fisicamente ativo e saudável
Ouça musica
Massagem
Meditação
Dinheiro
Atitudes positivas
Rezar/ falar com Deus
Religião/ Libertação e Cura
Sexo
Gritar com as vozes
Dormir
Começar a ouvir você
Conversar (com uma pessoa que você confia)
Estar sob muita medicação
O que não pode ajudar Ser dito que não deve falar sobre vozes
Sonhos e tentar dormir
Rotulagem
Falta de sono
Sem informação
Outras pessoas negando a existência das vozes
Outras pessoas negando suas explicações sobre suas
72
vozes
Professionais pensando que sabem mais do que você
sobre suas vozes.
Efeitos colaterais da medicação
Pensar negativamente
Ficar isolado socialmente
Reconhecer o medo, preocupação e estresse e soltar de
Técnicas de forma consciente. Confiança
relaxamento Conte a sua respiração
Dançar/ caminhar
Concentre na posição do seu corpo
Concentre somente na respiração / respire fundo
Lhe permita descansar
Momento de sonho fantasioso orientado
Aprender respiração para ioga
Ouvir relaxamento orientado por uma gravação
Ouvir música relaxante
Massagear as mãos, o pé, a cabeça, etc.
Relaxar cada um dos seus músculos
Nadar/ flutuar
ioga
Pedir ajuda mais cedo e não mais tarde
Coisas que podem Criar um plano personalizado para crise quando você
funcionar para mim estiver se sentindo bem
numa crise Chorar
Encontrar um lugar seguro
Entregar minha medicação/ lâminas e outros itens
similares.
Ter medicações para usar quando necessário.
Informar as pessoas onde você está.
Deixe alguém saber como você se sente
Planeje com segurança
(Lembre-se disso Salomão)
Descanse na minha cama
Grite no meu travesseiro
Tente identificar como você está se sentindo
Técnicas confortantes Situações e sentimentos mudam com frequência - ”Isso
passará” (A lenda sobre o que salvou o rei).
Conversar positivo com você mesmo
Auto perdão (descubra que é inocente)
Conversar com as vozes, descubra como elas se sentem
Use um protetor de ouvido
Cinema
Técnicas de distração Limpar ou arrumar as coisas
Montar quebra cabeças ou criar novos interesses – um
hobby.
OBSERVAÇÃO: Técnicas Exercitar – caminhar/ correr/ dançar / ir a praia
73
de distração são úteis Jardinagem / plantas em vasos
quando as vozes são Ouvir CDs / mp3
angustiantes ou Pintar ou desenhar figuras/ cartazes/ cartões
intrusivas, porem não são Brincar com jogos /jogar baralho/ jogos no
recomendadas como computador
técnicas continuas de Ler alto ou cantarolar uma música para você
enfretamento do Costurar/ tricô/ fazer coleção
problema. Fazer compras
Praticar esportes
Ligar para um amigo
Usar imagens visuais ou contar para si quando estiver
tentando dormir
Visitar um amigo
Caminhar em águas rasas
Lavagem
Assistir TV / vídeos
Escrever cartas
Comprar / apanhar flores frescas
Trocar os lençóis da sua cama.
Acariciar um ursinho de pelúcia
Comer um alimento favorito com moderação
Tomar um banho de espuma
Tome uma bebida relaxante
Segurar um objeto seguro e confortante
Descobrir um lugar seguro
Abraçar alguém
Ouvir música agradável / música suave favorita
Oração / meditação /visualização criativa
Ligar as luzes / rádio (para dormir)
Cantar suas canções favoritas
Sentar num lugar seguro
Mergulhar o pé na água / banho com Radox
Espirrar (Spray) o quarto com fragrância
Acariciar / escovar o seu animal de estimação ou de
outra pessoa
Usar perfume / creme de mão ou tomar um banho
quente
Usar pot pourri / olhos essenciais
Usar roupas confortáveis
Escrever um diário ou falar para outra pessoa sobre
como se sente
O Zen de ver (com um amigo)
Outras ideias Não se agredir, todos nos cometemos erros
Fazer uma lista das realizações
Entre em contato com as suas vozes
74
5. Entenda as Vozes
Entender as vozes é um método para explorar os problemas na vida do ouvidor de
voz que estão enraizados na experiência de ouvir vozes que foi desenvolvido por
Marius Romme e Sandra Escher. Nesta seção olhamos mais de perto esta abordagem
relativamente bem socialmente. Isso foi uma experiência chocante para Marius, porque
como psiquiatra ele sempre identificou ouvir vozes com a psicopatologia. A partir de
encontros que realizou entre ouvidores de vozes, e baseado nos seus estudos
comparando pacientes e não pacientes, ficou claro que havia uma relação entre ouvir
vozes e eventos da vida que fazem com que as pessoas se sintam impotentes.
A partir deste estudo sobre as experiências de ouvidores de vozes ficou claro que
ouvir vozes em si não é um sintoma de doença: A maioria das pessoas que ouvem
vozes (inclusive aquelas que se utilizam de serviços psiquiátricos e os que não utilizam)
ouvem vozes como uma reação a severas experiências traumáticas que tornam a
E assim eles argumentaram que ouvir vozes em si não é um sinal de doença e sim
um sinal de que existem problemas que muitas vezes são emocionais e grandes – logo
são problemas que precisam ser resolvidos. Por exemplo, eles observaram que as
pessoas aceitam bem o fato de que quando uma pessoa sofre de algum problema
dos casos isto envolve dificuldades, traumas nas relações das pessoas com pessoas que
importantes para elas - ou em relação a estruturas sociais e regras que as incomodam
muito. Na medida em que sentem dificuldade para lidar com estas situações eles
podem desenvolver problemas de saúde mental que são uma expressão destas sérias
75
população, enquanto que para pacientes internados – como pessoas diagnosticadas
com esquizofrenia, transtorno dissociativo e transtorno afetivo – o percentual de
pessoas que ouve vozes é muito maior: 30- 50%. Parecia ser uma discrepância, o que
levou os pesquisadores a se interessarem na história de vida de ouvidores de vozes. Já
que possuem uma boa base em psiquiatria social, Marius e Sandra entendiam que os
pacientes devem ter tido mais problemas nas suas histórias de vida do que os não-
pacientes e que não tinham conseguido resolver estes problemas. Assim sendo eles
realizaram profundas entrevistas com os ouvidores de vozes em três grupos de
histórias de vida:
Ocorre em 70 a 80% dos pacientes e em 50% dos ouvidores de vozes que não são
pacientes.
as vozes, a pessoa certamente tem uma séria dificuldade ao sentir raiva, logo expressar
raiva é algo que precisa ser aprendido (porem, isso não é tão fácil quanto parece).
Isso pode ser útil para detectar problemas relacionados às circunstâncias das
pessoas nas as quais elas precisam lidar. Por exemplo, se as vozes misturam os
números na cabeça do ouvidor de voz quando ele está estudando muitas vezes, porém
nem sempre, significa que a área de estudo ou o nível da turma ou mesmo o curso é
76
muito difícil para a pessoa lidar.
mental, porém é a dificuldade em lidar com estas vozes que parece ser o problema,
logo a pessoa deveria receber ajuda para lidar com as vozes. E quando as vozes
sinalizam que existem problemas sérios que a pessoa ainda não resolveu, e nem
aprendeu lidar com eles, estes problemas precisam ser solucionados.
Marius e Sandra concluíram que os métodos usados para ajudar ouvidores de vozes
devem focar nas necessidades das pessoas e não nos conceitos teóricos dos
profissionais.
Quatro razões porque ouvir vozes (também conhecido por alucinações auditivas) não
significam um sinal de doença mental, e sim um sinal de um problema na sua vida:
tornar um paciente psiquiátrico não está no fato de ouvir vozes, mas sim por
não ser capaz de lidar com as vozes, e nem com os problemas que estão
enraizados.
Existem muitas mais pessoas na nossa sociedade que ouvem vozes nunca se
77
pessoais muitas vezes relacionados a situações sociais e interações que tornam
as pessoas impotentes.
78
PARTE 4
psiquiatria tradicional descrita acima. Isso se deve ao fato de que Marius passou a
compreender melhor a experiência de ouvir vozes conversando com os ouvidores de
Como foi mostrado antes, estas perguntas nunca foram feitas antes de forma
sistemática e a experiência subjetiva direta de ouvir vozes foi bastante ignorada.
Romme chegou a conclusão que considerar ouvir vozes como parte de uma doença é
ignorar o conteúdo da experiência, atuar de forma totalmente inútil e ser contra
da psiquiatria, existem muitas pessoas que ouvem vozes e conseguem viver com a
experiência. Marius conclui não é o fato de você ouvir vozes que é o problema, e sim
o modo como você lida com elas - e ainda que a psicose, como a neurose, está
firmemente relacionada a história de vida do indivíduo.
79
2. Ouvir vozes: Não mate o mensageiro
O seguinte exercício foi desenvolvido pelo meu amigo, Ron Coleman, como uma
forma de simular como é ouvir vozes e foi desenvolvido para tentar dar as pessoas que
trabalham com doença mental e aos parentes alguma percepção do que é ouvir vozes
intrusivas, negativas e dominantes. Ron ouviu vozes durante muitos anos e agora é
instrutor e consultor.
Forme um grupo de três pessoas, sendo que a primeira faz a parte da “voz”, a
80
Durante dois minutos a “voz” fala com o ouvidor de voz enquanto que ao
mesmo tempo o ouvidor de voz conduz uma conversa com a terceira pessoa. A
trocam os seus papeis ate que todos tenham tido a experiência de ser um
ouvidor de voz.
desgaste) como isso afetou a sua capacidade de manter uma conversação (ex.
falta de atenção e concentração) que estratégias eles empregaram para reduzir
a intrusão da voz (ex. tentar ignorá-la, dar resposta, mudar de posição física).
Outras questões incluem perguntar o que eles sentiriam e fariam se a voz fosse
pensaram sobre a tentativa de conduzir uma conversa com alguém que está
com aqueles descritos nas três fases de ouvir vozes. Muitas vezes que pessoas
que não ouvem vozes também listam exatamente os mesmos sintomas e formas
de tentar responder.
81
4. Implicações para Amigos, parentes e pessoas que ouvem vozes35
Estas são algumas das reações que amigos e parentes experimentam quando uma
pessoa próxima delas começa a ouvir vozes:
5. Coisas que você pode fazer e que vai ajudar você e a pessoa que ouve vozes:
Aceitar que as vozes existem e que elas são reais para as pessoas que as ouve;
Seja um bom ouvidor (mantenha a mente aberta, faça perguntas abertas, seja
encorajador, e tente não interpretar ou interromper) já que isso irá permitir que
calma e objetividade;
35
Fonte: Dundee Hearing Voices Network, Um guia simples para parentes e amigos – e – Newcastle,
North Tyneside and Northumberland Mental Health NHS Trust, Entendendo as Vozes e Crenças
Inquietantes: Um guia de auto ajuda (2002)
82
Olhe para si mesmo, isso é muito importante, por exemplo, tire um tempo e
espaço para relaxar;
Viver com alguém que ouve vozes pode ser uma experiência muita intensa e
desconcertante. É bom fazer uma pausa se você sente que precisa. Verifique se
existe alguma ajuda disponível para você no grupo local de cuidadores, inclusive
encontro com outros cuidadores, estes contatos podem ser cruciais em lhe
Aprenda dizer “não” quando você achar que é necessário, por exemplo,
estabelecer limites sobre comportamento difícil.
querem participar;
Tente evitar ser crítico;
para examinar com maior detalhe que quadros de referência e estratégias para lidar
com a experiência que parecem ser as mais úteis para os seus pacientes que ouvem
vozes; agindo dessa forma, acreditamos que você será capaz de apoiar ouvidores de
vozes com muito mais eficiência nas suas tentativas em lidar com suas experiências.
83
promoção da autoestima;
Encorajar o ouvidor de voz a encontrar outras pessoas com experiências
desta abordagem;
Procurando soluções ativas para os problemas sociais e emocionais que são as
Grupos de autoajuda têm sido uma das formas mais bem-sucedidas de abertura de
discussão sobre ouvir vozes. Um local seguro para falar sobre vozes é importante numa
reduzir o isolamento sentido pelas pessoas e pode ser muito útil falar com outras
pessoas que compartilham das suas experiências. Existem hoje na Inglaterra mais de
84
180 grupos de autoajuda onde os ouvidores de vozes se reúnem regularmente para
compartilhar e aprender mais sobre como lidar com as suas vozes.
Aceitar a experiência das vozes do ouvidor de vozes. Muitas vezes as vozes são
sentidas como mais intensa e real do que percepções sensoriais.
vozes. Muitas vezes uma voz pode ser leve ou pesada. Muitas vezes, existe um mundo
de símbolos e sentimentos envolvidos; por exemplo, uma voz pode falar leve ou
bem com ouvir de vozes é o efeito do tabu que impossibilita uma discussão aberta
sobre a experiência da mesma forma que alguém comentaria ter tido notícias de um
velho amigo ou sobre um livro que acabou de ler. Não é possível mudar atitudes sociais
aceitar as vozes como parte das suas vidas, ou que desejam assumir responsabilidade
pela sua saúde mental, ou, que acreditam que como pacientes num sistema
psiquiátrico possuem direitos para um tratamento que aborda os sintomas reais não
está sendo atendido, para formar grupos de autoajuda e de apoio.
Para muitas pessoas, participando de grupos de autoajuda é a primeira vez que elas
têm oportunidade de falar livremente sobre suas vozes com outros e também a
primeira vez que a sua experiência como ouvidor de voz é vista como algo real e não
necessariamente negativa, e consequentemente pode ser um grande passo para iniciar
85
lidar ou aprender lidar melhor com o problema.
Muitas vezes ouvidores de vozes se sentem isolados e os grupos de autoajuda
apoiado e ligado a um grupo cujo ponto forte é resultante da experiência comum dos
ouvidores de vozes. Isto pode abrir espaço para crescimento nos indivíduos resultante
As reuniões dos grupos são também uma oportunidade para compartilhar piadas
que dá ao ouvidor de voz algum status social resultante da experiência de ouvir vozes
que a sociedade lhe nega.
Todavia, o grupo deveria olhar para fora o máximo possível, sempre como um meio
para atingir um fim e não um fim em si. Isto serve para garantir que o grupo não
86
domina a vida dos ouvidores de vozes, e sim continua como um grupo que muda
constantemente e não com uma visão míope para construir guetos. Para promover
mudança social os ouvdores de vozes deveriam poder conversar livremente nas suas
casas, locais de trabalho, faculdades e universidades para que permitisse quer levassem
uma vida completa e satisfatória, e que as vozes possam ser incorporadas nesta vida.
Os grupos de autoajuda podem ajudá-los a ganharem confiança e habilidades para
Porem, grupos de autoajuda de ouvidores de vozes não são grupos de terapia. Eles são
formados em resposta a uma necessidade de um lugar seguro onde possam falar
livremente para reduzir o peso do estigma de ouvir vozes e desta forma crescerem com
oportunidades iguais as pessoas que não ouvem vozes
Alguns grupos de autoajuda são somente para ouvidores de vozes enquanto outros
permitem a participação de pessoas que não ouvem vozes. Eles podem ser
trabalhadores dos serviços que gostariam de aprender sobre a experiência de ouvir
porem, por experiência própria temos visto que a estabilidade do grupo é importante
e com uma adesão que flutua de reunião para reunião, é útil ter um membro chave ou
Um papel importante é aquele do líder da discussão, este papel pode ser rotativo
entre os membros ou mantido por uma única pessoa. Dentre as qualidades que o líder
87
da discussão deve ter é a integridade nas suas intenções como líder da discussão. È
importante, a fim de manter uma atmosfera de confiança, segurança e
compartilhamento que os novos membros confiem nos líderes das discussões e que
os outros membros mais velhos no grupo construam e reforcem as suas confianças no
mais saudável.
Os líderes da discussão não deveriam julgar ninguém e estar abertos para ideias
sobre as vozes e lidar com técnicas que os membros do grupo possuam, restritos aquilo
que o grupo vê como aceitável. Eles devem também valorizar a mudança e o
quem os novos membros possam recorrer até que eles se ajustem no grupo e
desenvolvam autoconfiança na troca de ideais, vocalizar seus pensamentos, e como
dar e receber apoio e estimulo e ao mesmo tempo sentir prazer nas reuniões do grupo.
experiência. Estes grupos estão abertos somente para ouvidores de vozes, dando a eles
oportunidade máxima para se libertarem do bem-intencionado cuidador,
88
14. Tabela XI: Falar sobre o assunto: um checklist de ouvir vozes
Falar sobre vozes pode realmente ajudar. Os seguintes pontos chaves proporcionam
um guia útil para começar uma discussão sobre a experiência de ouvir vozes.
89
elas a fim de reduzir a ansiedade. Falando de um modo geral,
perspectivas que não estimulam o indivíduo a procurar o domínio
das vozes tende a produzir os resultados menos positivos. Interpretar
a sua voz como a manifestação de influências eletrônicas pode ser
um exemplo. A explicação dada pela psiquiatria biológica pode
também ser inútil em termos de estratégias de adaptação, dado que,
ela coloca o fenômeno além o entendimento pessoal da pessoa.
Aceitação No processo de desenvolvimento do seu próprio ponto de vista e de
assumir responsabilidade por si mesmo, o primeiro passo essencial
é a aceitação das vozes como minha. Isso é da mais alta importância
– e também um dos mais passos mais difíceis de tomar.
Reconhecer o As vozes podem expressar o que o ouvidor de voz está sentindo ou
significado pensando, por exemplo agressão ou medo de algum evento ou
relacionamento. Quando as vozes oferecem informação desta forma
o desafio posto pela presença delas na maioria das vezes é menos
significante que o motivo para raiva ou medo. Quando as vozes
expressam estas visões e sentimentos é muito importante discutir a
natureza das mensagens.
Aspectos positivos Quando pessoas ouvem vozes que são verdadeiramente maliciosas
– ridicularizando ou menosprezando ou outros, ou até insultando os
ouvidores de vozes ao ponto deles se machucarem – pode ficar difícil
persuadi-los aceitar a existência de uma experiência dimensão
positiva, útil para aquilo que estão passando. Entrar em contato com
outros pode levar a descoberta surpreendente de que as vozes
realmente existem, e a conclusão de que elas podem surgir, ou ser
detectadas devido uma aceitação adequada do lado negativo do
ouvidor.
Estruturar o Impor uma estrutura na relação com as vozes pode ajudar minimizar
contato os sentimentos comuns de impotência. Pode ser muito importante
ajudar as pessoas ver que elas podem estabelecer os seus próprios
limites e impedir as vozes de uma intrusão excessiva.
Uso mais efetivo de O compartilhando experiências também permite que as pessoas
medicação saibam que medicação os outros estão usando, sua utilidade, que
efeitos colaterais eles podem ter. É importante, por exemplo, saber
se uma medicação específica foi benéfica na redução de ouvir vozes
ou em facilitar a ansiedade e confusão associada.
Entendimento por Compartilhar conhecimento sobre ouvir vozes com os familiares e
parte da família amigos pode ser muito útil. Se a família e amigos de uma pessoa
conseguem aceitar as vozes, eles podem ser mais solidários, o que
pode facilitar mais a vida do ouvidor de voz, melhorando o seu
sentimento de confiança em situações sociais.
Crescimento Quase todos os ouvidores de vozes que aprenderam ajustar as suas
Pessoal experiências relatam que, retrospectivamente, o processo contribuiu
para o seu crescimento pessoal. O crescimento pessoal pode ser
definido como o reconhecimento de suas necessidades para viver
uma vida plena, e aprender como atingir esses fins; pode ser descrito
como um processo de emancipação.
90
Atenção Falar sobre vozes tem suas desvantagens, se expor pode fazer com
que a pessoa se sinta vulnerável. Alguns ouvidores de vozes
encontram grande dificuldade para falar sobre as suas experiências,
porém isso pode ser mais fácil com outros ouvidores de vozes.
Especificamente, ouvidores de vozes que nunca foram a um
psiquiatra precisam de muita coragem para enfrentar um mundo
que na maioria dos casos irá chama-los de loucos quando eles
falarem sobre as suas vidas. Fica difícil ver qual o ganho que se tem
em fazer isso, e muitas vezes o seu único motivo é ajudar os outros
que são incapazes de lidar com as suas próprias vozes. Outra possível
desvantagem para revelações é que as vezes as vozes podem se
tornar temporariamente mais forte. De modo geral, as vantagens são
definitivamente maiores que as desvantagens. Finalmente, a pessoa
deve ser sempre cautelosa em relação a conselhos e explicações que
são puramente convicções pessoais e não considera outras
interpretações. É muito importante está totalmente ciente da ampla
variedade de situações individuais e circunstâncias. Os conselhos
menos nocivos tendem a ser aqueles que podem servir para
aumentar a própria influência do individuo sobre as suas vozes, ao
invés de aumentar a sensação de impotência.
As palavras chaves são autodeterminação e autoconhecimento.
91
15. Falando com e para vozes desafiantes
Durante anos observamos que muitas pessoas que ouvem vozes desafiadoras nos
contaram que descobriram que um ponto de virada em aprender a lidar com a situação
tinha sido encontrar modos diferentes de conversar com as suas vozes e entendê-las.
Nos últimos dez anos, um número crescente de indivíduos, dentre eles Marius
Romme e Ron Coleman e especialmente o psiquiatra, Dirk Corstens, e dois ouvidores
de vozes e os psicólogos Eleanor Longden e Rufus May seguiram esta abordagem. Eles
adaptaram técnicas de várias tradições psicológicas e dramáticas. (Ex. Gestalt, Diálogo
de Voz, Análise Transacional, Psicodrama) para usar com ouvidores de vozes e chamam
esta abordagem de “diálogo de voz”. Para dar um exemplo, uma forma de estimular as
pessoas a se comunicarem com suas vozes é iniciar uma atividade usando cadeiras
para as vozes e desempenhar os diferentes papeis e relações que eles têm com as suas
vozes.
O principio básico por traz desta abordagem é não tentar mudar as vozes; ao invés,
eles tentam explorar a relação que as vozes têm com a pessoa. O objetivo desta
forte e positiva, então as vozes podem mudar. O objetivo não é se livrar das vozes,
mas ajudar a pessoa retomar mais controle na relação que ela tem com as vozes.
Eles mostram que porque muitos ouvidores de vozes sentem que suas vozes são
poderosas, e parece que eles têm que obedecer tudo que elas dizem e que as vozes
explorar os motivos das vozes para que o ouvidor de voz possa descobrir novas
estratégias para lidar com as suas vozes. Quando ela é bem-sucedida pode criar mais
autonomia e independência para que a pessoa possam fazer as suas próprias escolhas
com mais facilidade. Algumas pessoas acham até que suas vozes podem ser solidárias.
92
16. Porque o Diálogo sobre as vozes é apropriado para ouvidores de vozes?
Ele não é orientado para patologia e nem focado em descobrir o que está
errado. Oferece uma atitude neutra, porem forte para trabalhar com as vozes –
Os resultados deste trabalho têm mostrado que esta abordagem pode ser muito
útil para ajudar as pessoas resolverem conflitos e recuperar poder nas suas vidas.
17. Tabela XII - Trecho tirado do um artigo escrito por Adam James,
Ouvidores de vozes estão numa permanente relação com suas vozes, muitas
pessoas a coisa mais inquietante para o ouvidor de voz é ficar sozinho com a sua voz.
Com outra pessoa ouvindo o que a voz diz significa que a voz está sendo testemunhada
[por outra pessoa] – isto pode estar validando ou garantindo. Enquanto algumas
abordagens cognitivas podem de forma consciente se afastar das vozes, o diálogo da
voz pode ser visto como um engajamento consciente com as vozes. Porem, eu somente
falarei com a voz se ela realmente ajuda a pessoa, o diálogo da voz é só uma das muitas
há 10 anos vem conduzindo oficinas sobre diálogos de voz para profissionais de saúde
mental no Reino Unido diz que: “ao invés de usar dramatização, eu falo com as vozes.
Muitas vezes uma pessoa fala o dia inteiro com suas vozes. As vozes podem dar
informações importantes sobre a vida da pessoa”.
93
É também importante, acrescenta Dr May, que também foi diagnosticado com
esquizofrenia aos 18 anos, o diálogo de voz é apoiado por muitos no movimento de
usuário de serviço. Ele também fornece aos cuidadores, parentes, amigos e usuários
um método sem o jargão profissional para ajudar as pessoas.
PARTE 5
94
1. INTERVOICE: Uma introdução para o movimento mundial de ouvidores de
vozes
Porque ser ouvir vozes uma experiência muito estigmatizada nós queríamos criar
uma organização onde fosse possível descobrir mais sobre ouvir vozes e criar uma
comunidade onde seja permitido que conheçamos o seu ponto de vista ou experiência.
Entendemos que as “vozes” são reais e relevantes, algo que é experimentado por
uma minoria significativa de pessoas, inclusive aqueles que vivem sem nenhum
problema com as suas vozes. Nossa pesquisa mostra que ouvir vozes não é resultado
Muitas vozes podem não ser ameaçadoras, mas até positivas. É incorreto fazer
disso um problema vergonhoso que as pessoas sentem que tem que negar ou
A pesquisa que fiz juntamente com a Dra. Sandra Escher com mais de
300 ouvidores de vozes mostrou que mais 70% das pessoas que ouvem
vozes podem indicar um evento de vida traumático que aciona as suas
vozes; que falar sobre vozes e o que elas significam é uma forma muito
efetiva de reduzir ansiedade e isolamento; e mesmo quando as vozes
são opressoras e aparentemente destrutivas em geral elas têm uma
mensagem importante para o ouvidor.
95
Geralmente, no pensamento medico do Ocidente ouvir vozes sempre
foi associado a doença mental e com frequência visto como um
sintoma de esquizofrenia. Ainda assim, nós descobrimos muitas
pessoas que ouvem vozes e não tem doença mental e nunca procuram
ajuda. Por essa razão nós estamos preparados para aceitar uma séria
de explicações oferecidas por pessoas que ouvem vozes, inclusive
vozes espirituais, e acredita que é essencial para o processo de
recuperação de vozes opressoras para entender o significado das vozes
para o ouvidor.
96
determinar o significado que as vozes têm para eles em relação a sua experiência
vivida, com o objetivo de desenvolver estratégias para lidar ao longo do tempo.
Neste livro descrevemos como este trabalho se espalhou no mundo, porque nós
e outras pessoas acreditamos que é importante e o papel crucial que a INTERVOICE
Você pode ouvir vozes e ser saudável? As pessoas que ouvem vozes opressivas e
angustiantes podem receber ajuda para viver muito bem com as suas vozes? A
Maastricht) foi desenvolvida pela primeira vez em Maastricht, Holanda pelo psiquiatra
Marius Romme e a pesquisadora e jornalista cientista Sandra Escher. Uma medida do
que ouvem vozes tem tido um impacto significativo na forma como ouvidores de vozes
e serviços de saúde mental passaram a considerar a experiência das vozes. Esta
97
Serviços mudando suas políticas e práticas no que diz respeito ao suporte dado
as pessoas que ouvem vozes envolvendo o ouvidor de voz sobre a sua
em ajudar clientes que não estejam reagindo bem a outras formas de tratamento e
terapia.
A abordagem de ouvir vozes argumenta que pessoas que ouvem vozes podem
Uma reação pessoal aos estresses da vida, cujo significado ou objetivo pode ser
decifrado e,
98
Ela foca no desenvolvimento de uma parceria igual entre o ouvidor de voz como
um especialista na sua experiência e o trabalhador como um especialista por profissão
todo o mundo, grupos que se reunem regularmente para permitir que ouvidores de
vozes compartilhem suas experiências e para aprender mais sobre como lidar com o
problema.
trabalho.
Vozes que muitas vezes surgem como uma estratégia de sobrevivência
Recuperar da angústia que a pessoa que ouve vozes precisa aprender para lidar
99
Passos importante na recuperação associada à angústia de ouvir vozes
Encontrar alguém que se interesse pelo ouvidor de voz como uma pessoa.
Dar esperança pela normalização da experiência e mostrar que existe uma saída.
Encontrar pessoas que aceitam as vozes como algo que é real; ser aceito como
um ouvidor de voz não só pelos outros, mas também por você mesmo
Tornar-se ativamente interessado na experiência de ouvir vozes
O número de pessoa que ouvem vozes em todo o mundo fica entre quatro e 10
por cento
Ouvir vozes é em si, não um sinal de doença mental e também não está
relacionada com esquizofrenia. Somente 16% dos ouvidores de vozes podem
Entre 70 e 90 por cento das pessoas que ouvem vozes passaram por eventos
traumáticos
As vozes podem ser masculinas, femininas, sem gênero, criança, adulto, humano
ou não.
A pessoa pode ouvir somente uma ou muitas vozes. Algumas pessoas relatam
ouvir centenas de vozes, apesar de que em quase todos os casos relatados, uma
voz única domina todas as outras.
Para se recuperar da angústia a pessoa que ouve vozes aprende lidar com suas
vozes e os problemas originais que permanecem enraizados na sua experiência
100
de ouvir vozes.
com serviços, com funcionários de saúde mental de sua confiança e outras pessoas
que ouvem vozes para começar a discutir e ouvir as experiências de outras pessoas.
Se você trabalha com saúde mental, pode começar aceitando a experiência como
uma realidade e perguntar o que aconteceu na vida do ouvidor de voz que pusesse
estar relacionado com os seus problemas e desta forma, começar a explorar a questão
de vida ou as queixas que levaram este ouvidor a começar a ouvir vozes.
selecionadas para ajudá-los seguir uma abordagem sistemática para revelar as suas
relações com as vozes. E, em fazendo isso, desenvolver formas mais eficientes de lidar
com o problema. O uso deste livro de exercícios é um bom material para iniciar o
processo de recuperação.
Tem também um DVD e um CD Rom feito para ajudar qualquer pessoa que queira
iniciar e dirigir um grupo de ouvidores de vozes. Existe uma riqueza de informações
úteis que podem usadas por ouvidores de vozes, facilitadores e familiares para ajudar
as pessoas se beneficiarem da experiência dos ouvidores de vozes.
DVD “Falando com as Vozes: Uma introdução ao Diálogo com a Voz”. Neste DVD, um
psiquiatra e o presidente da INTERVOICE descrevem o processo de falar diretamente
101
A maioria dos ouvidores de vozes convive bem com suas vozes e tem pessoas
solidárias trabalhando e vivendo com elas que aceitam a experiência como parte de
3. História
Em 1997 foi realizado um encontro com ouvidores de vozes e pessoas que
trabalham com saúde mental em Maastricht, Holanda para discutir sobre mais
promoções e pesquisa sobre ouvir vozes. O encontro decidiu criar uma estrutura
INTERVOICE foi constituída em 2007 como uma companhia sem fins lucrativos ao
4. O que é a INTERVOICE?
Mostrar que o problema não é ouvir vozes, mas a incapacidade para lidar com
a experiência.
102
ansiedade e garantir que esta abordagem inovadora sobre ouvir vozes seja mais
bem conhecida pelos ouvidores de vozes, familiares, profissionais e o público
em geral.
Mostrar a grande variedade de experiências de ouvidores de vozes e suas
vida dos ouvidores de vozes informando que estes métodos foram desenvolvidos
pelos ouvidores em conjunto com profissionais.
Pessoas que ouvem vozes podem lidar com essas experiências aceitando e
assumindo suas vozes;
Uma atitude positiva pela sociedade e seus membros em relação às pessoas que
aumenta a aceitação das vozes e de pessoas que ouvem as vozes;
É muito importante para nós que a rede incorpore estes princípios orientadores e
seja estruturada de forma que proteja e desenvolva-os entre os membros fundadores
e os futuros membros.
103
4.3. O que nós fazemos?
Nossa rede se concentra em soluções que melhorem a vida das pessoas que ouvem
companhia com um conselho de diretores que está registrada como empresa limitada
sob o nome internacional de Hearing Voices Projects Ltd.
INTERVOICE procura:
Melhorar a conscientização dos direitos civis de pessoa que ouvem vozes.;
todo o mundo.
Desenvolver formas efetivas e respeitosas que ajudem ouvidores de vozes lidar
104
na recuperação.
Dentro da rede existem novas intervenções para ouvidores de vozes que foram
ouvem vozes, extrair informações sobre a relação entre as vozes e a história de vida
pessoal, diálogo de voz, estratégias para lidar com a experiência e na recuperação de
planejamento e resultados.
Trabalhando em parceria
Ligando o pessoal e o profissional
5. Trabalhando em parceria
Os especialistas (funcionários e acadêmicos etc) e pessoas que são especialistas por
tempo (trabalhando juntos como iguais) e este relacionamento continue fora dos
encontros e também que os pares/grupos preparem juntos as suas apresentações. A
vantagem deste arranjo é que tanto as perspectivas dos especialistas por experiência
105
como a dos especialistas por treinamento estejam incluídas em todas as discussões, e
desta forma alimentem os processos de tomadas de decisão da organização.
Acreditamos que não precisamos manter uma divisão entre trabalhador de saúde
mental e sobrevivente psiquiátrico. Esta contribuição tem sido muito significativa para
Ter uma causa comum e enfatizar valor igual na participação de todos pode romper a
divisão trabalhador/ sobrevivente psiquiátrico e abrir espaço para uma forma muito
seu valor inclusive o valor financeiro deveria ser reconhecido. Por exemplo, quando
ouvidores de vozes falam em oficinas de trabalho, nós garantimos que eles receberão
106
Esta participação inclui especialmente especialistas por treinamento. A participação
de especialistas por experiência na INTERVOICE tem mostrado quanto é benéfica para
ajuda-los.
Mostramos repetidas vezes que trabalhamos juntos com pessoas que tem histórias
porque ouvidores de vozes articulados lidando com as suas experiências tendem ser
excluídos da história como “pacientes reais” diferentes, e segundo porque, apesar das
pessoas muitas vezes entrarem para a INTERVOICE com um “diagnóstico” como suas
identidades, muitas vezes o processo de filiação leva a mudança significante na
percepção que as pessoas sobre elas mesmas como contribuintes e como pessoas
realizadas.
atitudes da sociedade sobre ouvir vozes e a crença que isso levará a uma mudança na
psiquiatria (nós usamos a analogia com a homossexualidade e psiquiatria). O grupo
considera entendimentos espirituais, políticos e pessoais ex. vozes com validade igual
e convidar antropólogos espiritualistas, psiquiatras, psicólogos, ouvidores de vozes etc.
para fazer apresentações. Nós usamos a poesia musica, dança para introduzir uma
atmosfera criativa nos encontros e compartilhar de uma refeição no final.
ambiente medico, muitas vezes em prédios públicos, talvez um encontro dos mais
inesquecíveis foi o realizado na antiga prefeitura de Florença, na Itália.
107
10. Redes Nacionais
Intercâmbios e visitas
Treinamento e encontros
Conferencias
Apoio mútuo
França, Alemanha, Grécia, Hungria, Irlanda, Itália, Japâo, Quênia, Holanda, Nova
Zelândia, Irlanda do Norte, Noruega, Malta, Palestina, Romênia, Escócia, Sérvia,
Eslovênia, Espanha, Suiça, Suécia, Tanzania, Uganda, Estados Unidos, País de Gales.
INTERVOICE faz campanhas sobre questões que afetam a vida das pessoas que
ouvem vozes. Nós estamos particularmente preocupados em lutar contra atitudes e
Nós consideramos ouvir vozes como um aspecto das diferenças humanas, e não
como um problema de saúde mental. Como na homossexualidade (também
108
12. Eventos
12.1. Dia Mundial do Ouvidor de Voz
109
todo o mundo se reúnam e discutam o desenvolvimento do nosso trabalho. O
encontro recebe relatórios do desenvolvimento de redes nacionais de ouvidores de
13.1. Esquizofrenia
Um assunto que nos preocupa muito é a esquizofrenia.
nos tem conduzido a uma posição de que a esquizofrenia não é uma hipótese cientifica
e útil, portanto, esta hipótese deveria ser abandonada.
14. PESQUISA
Um dos objetivos da INTERVOICE é proporcionar informação positiva sobre ouvir
vozes. Tendo isso em vista, queremos pedir aos pesquisadores que participam de um
comitê internacional que reúnam informações e comecem a pesquisar o fenômeno de
ouvir vozes. Fundamentalmente, este trabalho irá receber informações dos próprios
ouvidores de vozes sobre suas necessidades; assuntos que são relevantes para o seu
110
Em seguida, pediremos que o comitê selecione temas e assuntos a partir destes
dados e transforme em questões operacionais de pesquisa. Será solicitado aos
participantes do comitê que coloquem estas questões nas suas agendas de pesquisa,
ou estimulem os colaboradores abordar a questões (ex., estudantes de doutorado -
PhD).
Desta forma, criaremos uma base de dados para pesquisas posteriores abertas aos
Juntem-se a nós
benvindos.
Para se tornar um membro, entre em contato com INTERVOICE, c/o Mind in Camden,
Barnes House, 9-15 Camden Road, London, Inglaterra, NW1 9LQ ou envie um e-mail
para info@intervoiceonline.org
111
PARTE 6
1. E o Futuro?
Ouvir vozes e as implicações para a esquizofrenia. Muitos pesquisadores e
esquizofrenia. Alias, ela os tem levado a desenvolver o que Marius chama de a “causa
relacionada à alternativa para o conceito de esquizofrenia”. Cada vez mais as pessoas
envolvidas no movimento de ouvidores de vozes acham que existe hoje um caso forte
para considerar esquizofrenia como um conceito nocivo que precisa ser abolida.
esquizofrenia:
Não existe um teste físico ou sociológico para esquizofrenia e tudo que
Existem hoje razões bem conhecidas porque muitas pessoas sofrem do tipo de
reclamações que fazem parte da esquizofrenia, porem a forma como a
um papel desencadeador eles alegam que eles não são parte da causa. Estas
conclusões se baseiam em pesquisa médica e observações rigorosas. Porem, como
mostra Marius, não é bem assim que funciona a medicina. Em geral, você não contrai
uma doença e depois procura razões que possam ter provocado a mesma, ao invés,
112
você faz ao contrário e procura razões que estão por trás das queixas e a descoberta
destes motivos são essenciais para o estabelecimento de um diagnóstico.
parece mais com o sistema legal e judicial, que julga o comportamento dos
transgressores e está pouco preocupado com as razões que estão por trás deste
comportamento. Assim sendo, não é estranho que muitos pacientes nos serviços
psiquiátricos não estejam felizes com essa situação. Eles estão muito certos.
Marius aceita que o sofrimento e queixas sérias são vistas como uma experiência
da doença, porem, isso não significa de forma conclusiva que a causa é uma identidade
de doença como o cosntruto da esquizofrenia. Como estas experiências de ‘sintomas’
não provem de uma doença subjacente, elas não são realmente sintomas nenhum, e
podem ter outra origem. Logo, a conclusão poder muito bem ser que:
Pessoas com a doença sentem que ela existe, porem a doença “esquizofrenia” não
científicos.
Logo a esquizofrenia não é e nunca se provou que se trata de uma doença do
cérebro.
A forma como as pessoas são diagnosticas com esquizofrenia deixa de levar em
113
consideração os motivos que conduzem aos sintomas pelos quais as pessoas
estão passando.
cem anos), porem, sabemos agora que existem causas para os diferentes sintomas
nucleares de esquizofrenia nos casos individuais. O diagnostico da esquizofrenia é
114
incapacidade em aceitar a identidade sexual do outro, etc. Muitas pessoas começam a
ouvir vozes e somente mais tarde desenvolvem outras experiências. Elas surgem como
uma reação ao ouvir vozes e também porque as pessoas não conseguem lidar com as
suas vozes. Uma das interrelações mais óbvias que tem sido estudado pela ciência é a
explicação dada pelas pessoas para as suas vozes, como uma experiência
desconhecida, a explicação que eles pensam também é muito estranha para nós e
de lidar.
Quando olhamos o conceito de esquizofrenia desta forma, descobrimos que os
levaram a uma vulnerabilidade psicológica, que inclui sérias dificuldades em lidar com
emoções. Quando consideramos ouvir vozes como uma forma de lidar com esta
vulnerabilidade psicológica, então a reação secundária surge devido a incapacidade
em ajudar as pessoas entender a relação entre as suas vozes e suas experiências, para
ajuda-los encontrar outras formas de lidar com suas vozes e as emoções envolvidas
nas suas experiências traumáticas. Marius acredita que enquanto estivermos tentando
curar a alegada doença, não estaremos fazendo nada a não ser impedir as emoções de
115
forma efetiva e por isso está sendo negado a pessoa a oportunidade de apreender
lidar com elas e assim, condenadas a se tornarem ou permanecerem pacientes cônicos.
indivíduos que ouvem vozes e ilusões sem nenhum sinal aparente de doença
psiquiátrica. Aliás, existem mais pessoas ouvindo vozes ou sentindo delírios e que não
Para os profissionais de doença mental, isso é algo que tem provado ser muito difícil
de aceitar. A simples razão é que eles não encontram estas pessoas quando elas não
precisam de cuidados psiquiátricos. Muitos até dizem que estão felizes com as suas
vozes e ideias sobre elas porque têm sido ajudadas por essas vozes no seu dia a dia.
Na realidade, têm muita gente (cerca de 4%) da população que ouve vozes e até
mais (cerca de 8%) possuem convicções pessoais peculiares, muitas vezes chamadas
de ilusões, sem estar doente, o que nos obriga reconhecer que a experiência de ouvir
vozes ou ter ilusões não é em si um sinal de doença mental. Isto é um fato muito
importante para entender pacientes psiquiátricos com estas experiências, porque ele
abre nossos olhos para os motivos porque a pessoa fica doente. Uma pessoa que ouve
vozes fica doente, não porque ouve vozes, mas porque não consegue lidar com estas
vozes e que novamente pode ser entendida. Aquelas pessoas que não conseguem lidar
com as suas vozes não conseguem fazê-lo porque não conseguem lidar com os
mas: Ajudar a pessoa aprender aceitar e lidar com as suas vozes e/ou ilusões e com os
problemas que levam até elas. Desta forma, fica claro que o foco na esquizofrenia, uma
doença que nem existe, não pode resolver os problemas que estão na origem da
doença da pessoa.
116
Enquanto o diagnostico e o tratamento ficar focado no conceito de doença de
esquizofrenia nós nunca seremos capazes de ajudar as pessoas que estão sentindo os
sintomas resolver os seus problemas. Para realmente ajudar as pessoas, primeiro temos
que ajudá-los lidar com as suas experiências como ouvir vozes ou suas convicções
pessoais que consiste em reduzir a ansiedade que surgem destas experiências usando
técnicas como intervenções cognitivas, que tem comprovado ser bem-sucedida.
os seus problemas de saúde mental. Isto diz respeito, sobretudo, a numa mudança na
atitude em relação a esses problemas, e com aquelas pessoas envolvidas com elas. Não
para recuperação.
Esta raiva parecia motivar as pessoas tentar mais uma vez conduzir as suas vidas
sem ajuda de ninguém ou procurar por ajuda em algum lugar que tivesse provado ter
tido mais sucesso. O dilema, claro, é que numa clínica de saúde mental, a raiva é muitas
vezes vista como parte da doença. Apesar da raiva não ser um sintoma da
esquizofrenia, ela pode ser interpretada como falta de percepção sobre a doença, que
é uma interpretação muita não fortalecedora.
Por outro lado, O Movimento de Ouvidores de Vozes tem visto que aqueles que
se adaptam ao sistema de cuidados psiquiátricos e as rotulagens do mesmo parecem
como Peter Bullimore, Ron Coleman, Jacqui Dillon, Rufus May, Louise Pembroke e
muitos outros no Reino Unido e mundo afora.
117
7. Conclusões:
assim como outras causas relacionadas, como psicose induzida pelas drogas,
psicose induzida pela identidade etc.
Os cuidados com Saúde Mental deveriam ser orientados para: Aprender lidar
com as experiências ao invés da eliminação das experiências;
118
8. O que virá a seguir?
8.1. Mudando a visão médica tradicional sobre Ouvir Vozes
Porque você deveria ouvir este conselho sobre vozes, já que esta visão sobre as
vozes nem sempre é compartilhada pela psiquiatria?
Segundo, ouvir vozes tem sido considerado pela psiquiatria clínica uma
alucinação auditiva e como um sintoma de condições como distúrbios
bem com as suas vozes sem precisar de intervenção psiquiátrica. Este fato tem
sido negligenciado. Este guia mostra que existe outro modo de pensar sobre
vozes.
É fácil subestimar a grande dificuldade que as pessoas encontram para falar sobre
o problema original que as-levou a ouvir vozes e ter outras experiências. Pode ser por
uma relação segura de apoio. Outro fator que dificulta é a ansiedade de que ao contar
a sua história podem tornar as vozes mais agressivas ou que as lembranças de
119
situações horríveis se tornarão mais severas. Isso pode ser considerado uma
experiência bastante opressora e invasiva, algumas vezes similar ao sentimento de
sofrer um estrupo ou importunação sexual. Não esperemos que você seja capaz de
mudar o sistema e muito menos pensamos que você irá iniciar um protesto coletivo
Considere ainda o que você está sentindo e peça as pessoas que expliquem
aquilo que elas estão sentindo.
Você também considera o que aconteceu na sua vida passada e pergunte o que
aconteceu com outras pessoas que possam ter sido afetadas por psicoses.
Então separe para você e com outras pessoas os tipos de experiências, como
8.3. Grupos
Nestes grupos de ouvidores de vozes as pessoas conseguem aprender informar um
ao outro sobre como lidar com suas vozes e eles também se ajudam mutuamente na
batalha para eliminar a descriminação que sofrem. Marius não nega que existe um
120
experiência se desenvolveu no indivíduo diagnosticado. Conhecemos muitas pessoas
que, quando começaram a ouvir vozes, não conseguiam lidar com as elas e
8.4. Ajuda
Logo, qualquer pessoa que ouça vozes e se sente incomodada com elas, deveria
poder avaliar as suas relações com as vozes. As suas experiências de vida deveriam ser
avaliadas pelos motivos subjacentes que ficam por trás de ouvir vozes, e isso deveria
ser antes de serem diagnosticados e tratados com uma doença, ao invés de receber
ajuda para resolver os seus problemas. A atitude negativa da nossa sociedade e nossos
aumentado no Reino Unido, alias existe um perigo de que trabalhar com vozes se torne
mais uma terapia. Os terapeutas cognitivos comportamentais estão particularmente
interessados em ajudar as pessoas lidar com as suas vozes, porem eles fazem esse
trabalho sem tomar nenhuma posição sobre o significado social mais amplo da
121
aconteceu na vida deles que pudesse estar relacionado com estes problemas de
saúde mental e começar com assunto ou queixa da vida que conduziu
inicialmente as experiências.
Se eles estiverem confusos sobre o assunto, então você pode recapitular a sua
ou mesmo ser agressivo com você mesmo; ou com a sexualidade, tais como
problemas com identidade sexual ou abuso sexual, etc.
paranoia, crenças e convicções pessoais, etc. Seja claro com você e com os
outros que experiências psicóticas não caem do céu, mas estão relacionadas
com sérios problemas que sérios problemas que uma pessoa tenha sofrido na
vida real.
Então, você estar a caminho para a identificação dos problemas da pessoa e elas
ansiedade sobre suas vozes. Muitas vezes, eles escreveram suas histórias e então
aprenderam a falar sobre o que aconteceu.
122
apresentam experiências úteis, que podem compartilhar com os outros.
Eles começaram a viver as suas vidas, não suas vozes e visões.
Enquanto isso, você pode tentar algumas intervenções para reduzir a sua
ansiedade, como relatadas nos artigos e publicações sobre intervenções psicológicas
a manter o papel de guardião deste tabu. Porque é para isso que a psiquiatria está
preparada, proteger os interesses das sociedades nos assuntos de saúde mental. Isso
Porém, ainda existe esperança - o tabu social mudará se ao unir pessoas que
ovem vozes, o movimento se fortalecer bastante como uma força democrática para
no engajamento pessoal das pessoas envolvidas. Isto significa que todos são
considerados especialistas nas suas próprias experiências. Nós vemos o outro primeiro
como pessoa, e depois como parceiros iguais e finalmente como tendo uma
experiência diferente, porém mútua e valiosa para oferecer. Isso pode ser através da
experiência direta de ouvir vozes ou por ter trabalhado com ouvidores de vozes
(trabalhado ou querendo trabalhar).
ouvidores de vozes com a presença de mais de 250 pessoas inclusive muitos ouvidores
de vozes vindo de outras partes do mundo. Desde que este trabalho iniciou há 20 anos
123
o movimento cresceu organicamente – eu não sei o que acontecerá os próximos 20
anos, porem espero muito que a experiência dos ouvidores de vozes continue a crescer
e que haverá muito mais mudanças na forma como as pessoas que ouvem vozes são
consideradas pela sociedade.
em todo o mundo.
124
ANEXO
Logo, o uso deste questionário nos mostrou que além do seu valor para a
pesquisa, ele também provou ser um bom modo de iniciar o processo de explorar a
experiência de voz para indivíduos que ouvem vozes – e- também como uma forma
125
Indice
Introdução para ouvidores de vozes: Informação para os entrevistadores:
1. INFORMAÇÃO PESSOAL
2. ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA
126
Introdução para ouvidores de vozes:
Este questionário foi elaborado para pessoas que ouvem vozes. Destina-se
ajudar você entender melhor a sua experiência. No nosso entender a sua experiência
de ouvir vozes lhe dá conhecimento e capacidade que nenhuma outra pessoa, além
de outros ouvidores de vozes pode ter. Assim sendo, gostaríamos de pedir que você
compartilhe deste conhecimento completando o questionário para que possamos
questionário seja útil, não somente para a pessoa que irá preencher, mas também
para outros ouvidores de vozes. Por exemplo, talvez você tenha elaborado um
método que permita que você domine as vozes, se for o caso, é possível ensinar os
outros fazerem o mesmo. Por essa razão os resultados do questionário estão sendo
usados para a nossa pesquisa sobre vozes e solicitamos a sua permissão para usar
as suas respostas no questionário para esse fim. Nós gostaríamos de poder entrar
em contato com você novamente se precisarmos esclarecer algumas das suas
respostas. Queremos poder fazer isso para que tenhamos todos os fatos corretos, o
que é muito importante num trabalho de pesquisa.
Após completar, um resumo da entrevista será entregue a você para o seu uso.
A sua identidade e outras informações sobre sua experiência serão confidenciais e
preencher, algumas vezes até mais) e as perguntas exigem que você pense muito
sobre a sua experiência, você pode querer conduzir a entrevista em duas sessões,
ao invés de uma só. Por favor, sinta se à vontade para informar o entrevistador se
127
você estiver ficando cansado ou aborrecido. A entrevista pode continuar numa outra
sessão.
Eu dou a minha permissão para que o questionário, uma vez completo, possa
ser usado para pesquisas, nós solicitaremos o seu consentimento para publicar
qualquer informação que você forneça neste questionário para qualquer objetivo.
(por exemplo, publicação de trechos de suas respostas para ser utilizado como
SIM/NÂO Assinatura
128
Informação para os entrevistadores:
forma de iniciar uma discussão sobre vozes com alguém que esteja trabalhando
com você, já que entrevista pode estimular o diálogo sobre vozes. Para alguns
ouvidores de vozes, isto pode ser a primeira vez que falam sobre as suas
experiências e para muitos deles será a primeira vez que isto é feito de forma
com elas.
Portanto, a entrevista é uma experiência potencialmente intensa para o
Poderia ser as que as vozes ficassem mais ativas ou zangadas devido a entrevista.
No entanto, nossa experiência até hoje, é que isso raramente acontece e que a
vozes. O questionário também pode ser uma forma de construir confiança entre o
ouvidor de voz e a pessoa com quem eles estão trabalhando e pode criar condições
favoráveis para discussões e ações posteriores sobre como lidar com as vozes, tais
como participando de grupo de autoajuda e desenvolver outras estratégias.
A entrevista deveria ser conduzida num lugar aceito tanto pelo entrevistador
como pelo entrevistado, ser seguro, silencioso e livre de interrupções. Se você ainda
não conhece o ouvidor de voz ou conhece muito pouco, é importante ter um rápido
encontro para explicar o objetivo do questionário e responder qualquer pergunta
que o entrevistado possa ter, isso ajuda criar confiança. Esta pré-entrevista deve ser
não estruturada e informal, apesar de que ao responder o questionário é importante
129
seguir o formato das perguntas. Este questionário foi elaborado para adulto (acima
de 16 anos), se for preciso, tem um questionário específico para crianças que pode
ser obtido no endereço abaixo. Por favor, não se esqueça de entregar um resumo
do questionário preenchido para o entrevistado.
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Por favor, responda as seguintes perguntas, se tiver informações que você
não deseja revelar você tem todo o direito de dizer “Eu não desejo responder".
1. INFORMAÇÃO PESSOAL
Idade: Masculino/Feminino
Estado Civil: Filhos:
2. ASPECTOS DA EXPERIÊNCIA
Esta entrevista pretende incentivar um diálogo sobre a sua experiência. Esta
entrevista nos permitirá aprender muito mais sobre a sua experiência e forma
de lidar com as suas vozes.
2.1. Eu gostaria que você me desse uma visão ampla de qualquer experiência
extraordinária ou bizarra pela qual você tenha passado recentemente ou
no passado.
pessoa. sim/não
Você pode explicar porque/porque não?
No início
Eles estão:
131
Algum lugar dentro do seu corpo sim/não
As vozes parecem surgir de algum lugar fora do seu corpo sim/não
(Nós estamos tentando estabelecer como o ouvidor de voz percebe as suas vozes -
eu/não eu - quando eles estão vivendo esta experiência)
As vozes estão:
Vindo de dentro de mim (egosintônico /eu) Sim/Não
As vozes estão vindo de outra pessoa, alguém - ou - alguma coisa fora de mim
(egodistônico/eu) Sim /Não
Sim/não
Você pode dar um exemplo?
2.8. Você já teve alguma outra experiência diferente como visões, estado alterado
132
3. CARACTERISTICAS DAS VOZES
3.1. Você só uma ou mais vozes?
Quantas?
Sempre foi assim?
3.2. Você poderá indicar a quem pertencem as vozes e/ou os nomes que você
tem dado as vozes.
3.3. O modo do tom das vozes lembra você de alguém que você conheça ou
133
4. SUA HISTÓRIA PESSOAL DE OUVIR VOZES
4.1. Vamos voltar ao tempo quando você ouviu vozes pela primeira vez.
4.2. Quantos anos você tinha quando você ouviu vozes pela primeira vez (idade)? Eu
tinha anos.
5. Circunstâncias
134
5.9. Saída do emprego (aposentadoria, desemprego, incapacitado para trabalhar)
sim/ não - idade e ano
5.19. Quando um filho (a) saiu de casa/ ou o ultimo (a) filho(a) saiu de casa
Sim /não - idade e ano
135
6. QUEM É QUE ACIONA AS VOZES?
6.1. Você já observou se as vozes tendem a estar presente quando você
[ ] Insegurança
[ ] Ciume
[ ] Medo
[ ] Tristeza
[ ] Duvida
[ ] Fadiga
[ ] Apaixonado(a)
[ ] Deprimido ou triste
[ ] Raiva ou depressão
[ ] Felicidade
[ ] Seus sentimentos sexuais
[ ] Solidão
[ ] Sentimento de impotência
6.3. Você pode descrever como as vozes reagem? (Por exemplo, elas são
reconfortantes e úteis ou assustadoras e inúteis?) Elas afetam a emoção que
você está sentido? Por exemplo, tornando você mais ou menos deprimido -
ou mais ou menos feliz.
6.4. Você está ouvindo as vozes agora? Se sim, as vozes estão fazendo algum
comentário sobre este questionário, o que elas estão dizendo?
136
7. O QUE DIZEM AS VOZES?
7.1. Você ouve vozes positivas (amigáveis)? O que elas dizem? O que elas
fazem? Dê um exemplo.
7.2. Você ouve vozes negativas (hostis)? O que elas dizem? O que elas fazem?
Dê um exemplo.
7.3. As vozes façam sobre assuntos/ pessoas específicas? Você pode
Gostaríamos de lhe perguntar que tipo de influência as vozes têm sobre você:
8.1. Você está com medo das vozes? Porque? Você já esteve como medo? Por
favor, dê um exemplo.
8.2. As vozes lhe aborrecem? Como elas fazem isso? Por favor, dê um exemplo.
8.3. As vozes atrapalham as suas atividades diárias? Como que elas fazem isso?
Agora No início
137
9. SUA INTERPRETAÇÃO SOBRE A ORIGEM DAS VOZES
Com um ouvidor de voz você provavelmente quis encontrar uma explicação
porque ouve vozes, você já deve ter chegado a sua própria interpretação do
significado das vozes. Os profissionais fazem o mesmo, porem, eles não terão as
nós estamos preocupados com aquilo que você acha que pode provocar as vozes,
e como identificá-los.
9.1. Quem você percebe ou acha que as vozes possam ser? Por exemplo, você
consegue identificar como de alguém que você conhece ou conhecia?
As vozes são:
5. Entidades (como uma pessoa espiritual ou poder que você não consegue ver,
apesar de sentir ou ouvir a sua presença) sim/não
138
6. Percepções extraordinárias (telepatia, mediunismo) sim/não
7. Resultado da dor de outra pessoa ou de algo em torno de você sim/não
10. Por favor, descreva a sua própria interpretação do que provoca a sua
10.1. Cada uma das vozes apresenta suas próprias explicações porque elas
consegue controlá-las.
11.4. Você consegue manter uma conversa com as vozes? Você faz isso? Você fala
em voz alta ou fica só na sua mente quando você fala com elas (ou as duas
coisas)? Como as vozes reagem. Elas sempre agiram dessa forma? Se não,
porque?
Favor dar um exemplo
11.5. Você chega a chamar nome para as vozes? Se sim, como você faz isso,
na sua mente, ou falando alto? Você consegue se lembrar das vozes?
11.6. Você consegue recusar uma ordem? Caso positivo, que ordens você recusa e
que ordens não podem ser recusadas? O que acontece se você se recusar de
139
11.8. Se ao ouvir vozes você se concentra principalmente no que elas dizem
ou no que você está fazendo? Isso é diferente para cada voz ou para
cada vez?
1.
2. Ignorar as vozes
3. Concentrar na escuta
140
8. Começar fazer algo
12. Distrair-se
Estratégia
16. Medicação
18. Alimentação
vozes)
141
circunstâncias (quando você entra numa sala
13.1. A infância pode ser uma experiência muito diferente para cada um de nós,
algumas pessoas gostam de olhar para trás e lembrar-se da sua infância,
13.3. Sua infância foi agradável ou estressante? Você pode descrever como foi a
sua infância?
13.4. Você se sentia seguro na escola, nas ruas e em casa? Se não, explique porque?
13.5. Você chegou a ser maltratada quando criança? Como?
13.6. Quando criança, você chegou a receber punições? Por exemplo, ser trancada no
banheiro ou amarrada?
13.7. Quando criança ou adolescente gritaram com você e foi humilhado? Chegou a
sentir que não era querido(a), ou sentiu que nunca poderia fazer alguma coisa
certa?
13.8. Você já presenciou outro membro da família ser maltratado?
142
você ouvir vozes?
14. SEU HISTÓRICO MÉDICO
Gostaríamos de saber algo sobre o seu histórico medico, especificamente com relação a
ouvir vozes. Por exemplo, você já usou serviços psiquiátricos ou se consultou com
em ter um impacto benéfico na sua experiência? Você já foi diagnosticado com algum
problema psiquiátrico, se sim qual? Você já tomou medicação, se sim qual foi ou é, e
15.1. Ano
15.2. Hospital/ tipo de terapia baseada na comunidade
suas vozes?
gostaria de pedir que me conte sobre as pessoas com quem você tem uma relação
pessoal e também de alguém que seja importante para você. A sequência não é
no. nome Sabe sobre as vozes - sim/não fala sobre as vozes - sim/não
01
02
03
143
04
05
06
07
08
Obrigado pela sua ajuda por completar este questionário. Se você sentir que
também pode estar interessado em descobrir mais sobre como lidar com as suas
vozes. Se estiver, tem alguns livros interessantes que você pode ler e tem outras
coisas que pode fazer. Se este for o caso me informe, e eu lhe passarei qualquer
informação que possa lhe ajudar.
144
145
Alucinações auditivas (ver também ouvir vozes): uma alucinação é uma percepção
Validade de constructo: refere-se se uma escala que mede o constructo social não
usada internacionalmente. O DSM tende a ser o mais específico dos dois. Ambos
adotam conceitos e termos médicos, e declaram que existem transtornos categóricos
Tamanho do Efeito: é uma medida do poder da relação entre duas variáveis. Nos
a elas ou tem uma significância pessoal especial. As duas são claramente diferenciadas
na literatura psicológica. Pessoas que sofrem de ideias de referência experimentam
pensamentos intrusivos desta natureza, porem percebem que estas ideias não são
reais. Pessoas que sofrem de ilusões de referência acreditam que estas ideias são
verdadeiras.
geralmente ocorrem primeiro e podem estar ainda presente nos períodos de remissão,
na medida em que a doença progride. Os sintomas negativos geralmente incluem:
sistema nervoso.
episódio psicótico podem ter alucinações, sustentar crenças ilusórias (ex. ilusões de
grandeza ou paranoicas), demonstram mudanças de personalidade e exibem
despeito da sua longa ou contínua presença. Usada desta forma, a recuperação não
significa uma “cura”. A recuperação ocorre quando as pessoas sentem que são capazes
pessoais de recuperação sugerem que boa parte da recuperação pessoal acontece sem
(ou em alguns casos, a despeito da) ajuda profissional. A recuperação envolve
Psicoses Induzida por Trauma: O trauma e estresse podem causar psicoses. Eventos
importantes de mudança de vida como a morte de um membro da família ou desastres
PUBLICAÇÕES RECOMENDADAS
Children Hearing Voices: What you need to know and what you can do (Crianças
que ouvem vozes: O que você precisa saber e o que pode fazer) - Dr. Sandra Escher e
Dr. Marius Romme, 2010 PCCS Books, UK.
Um livro original, inovador que presta apoio e soluções práticas para as experiências
de ouvir vozes. Divide-se em duas partes, a primeira para crianças que ouvem vozes, a
segunda para os pais e cuidadores adultos. Sandra Escher e Marius Romme possuem
mais de vinte e cinco anos de experiência no trabalho com ouvidores de vozes, foram
pioneiros na teoria e prática de aceitar e trabalhar com o significado das vozes.
recuperação) de Marius Romme, Sandra Escher, Jacqui Dillon, Dirk Corstens, Mervyn
Morris, 2009, Birmingham City University, PCCS Books.
Uma nova análise sobre a experiência de ouvir vozes fora do modelo de doença
resultou em aceitar e dar sentido as vozes. Este estudo com 50 estórias evidencia esta
nova abordagem bem-sucedida de trabalhar com ouvidores de vozes.
Ouvir Vozes: Uma Experiência Humana Comum John Watkins, Michelle Anderson
Publications, 2008
Este livro explora formas de trabalhar criativamente com as vozes e outras experiências
Este manual é para ouvidores de vozes e pessoas que eles selecionam para ajuda-los.
Permitirá que as pessoas que tem dificuldades em lidar com as suas vozes e descobrir
lados diferentes das suas vozes. Revelará as suas relações com as vozes e assim fazendo
irá estimulá-los a desenvolver formas mais eficientes de como lidar com esta
151
estimular a pessoa a planejar o seu futuro e a sua vida novamente, é muito útil para
aqueles estão se sentem atualmente muito dominados pelas suas vozes para se
recuperação. É a história de vida de Ron Coleman, e conta como ele desistiu de ser um
esquizofrênico crônico e voltou a ser Ron. Neste livro Ron reflete sobre o passado e
Starting and Supporting Voices Groups (Criando e Apoiando Grupos de Vozes) Julie
doença mental. Este livro mostra como o fenômeno está intimamente ligado a
questões mais amplas de personificação, praticas de governo e regulamentação, assim
Neste livro abrangente, Adam James demonstra porque foi considerado o “Jornalista
da Mente de 2001”. Ele deu vida não só para filosofia como para a luta da Rede de
Hearing Voices: Contesting the Voice of Reason (Ouvir Vozes: Contestando a Voz
desenvolvem explicações fora da psiquiatria sobre as suas vozes podem viver muito
bem com elas. As consequências patológicas de ouvir voz parecem estar ligadas, a
Neste livro provocante o psicólogo Ivan Leudar rastreia ouvir vozes e suas
interpretações através de 2.800 anos de história. Através de seis casos de ouvidores de
Making Sense of Voices – A guide for professionals who work with voice hearers:
M. Romme and S. Escher. Mind, 2000.
das próprias pessoas sobre as suas vozes, e mostraram como estas interpretações na
maioria das vezes permitiam que as pessoas convivessem com elas muito melhor do
que com abordagens biomédicas. Este manual feito para professionais com base neste
trabalho. Ele combina exemplos com orientação nos vários processos envolvidos na
capacitação de ouvidores de vozes para lidar com as suas vozes e ter uma vida normal
e gratificante.
sua experiência sem o recurso da psiquiatria, foca em técnicas para lidar com as vozes,
enfatizando a importância do crescimento pessoal.
154
DVDs Recomendados
How to set and run a Hearing Voices Group DVD P&P Publications 2009
Muitas pessoas que ouvem vozes desafiadoras descobrem que um ponto de viragem
em lidar com a experiência é encontrar modos diferentes de falar com elas e entende-
las. Neste DVD inovador Dirk Corstens explora tanto a teoria como a prática das
técnicas de diálogo com as vozes. Este DVD proporciona uma guia passo a passo para
os ouvidores de vozes e funcionários ajudar mudar de forma construtiva a relação entre
Neste relato comovente, Eleanor Longden conta a sua própria história de recuperação
e descoberta: sua jornada traves do sistema psiquiátrico; desde ouvir que teria mais
chance de recuperação se estivesse com câncer; até se tornar uma psicóloga premiada
trabalhando com saúde mental. No DVD Eleanor fala abertamente sobre a sua
OUTRAS LEITURAS
Richard P Bentall , Madness Explained: Psychosis and Human Nature, (2004), Penguin,
UK
Coleman R, Recovery - An Alien Concept, (2006) 2nd Edition, P&P Press Limited, UK
Downs J., (Ed), Coping with Voices And Visions, A guide to helping people who
Experience hearing voices, seeing visions, tactile or other Sensations: (2001) Hearing
Voices Network, Manchester, England
J. Jaynes: The origin of consciousness and the breakdown of the bicameral mind: (1976)
Houghton Mifflin, Boston
Romme M and Escher S: (Eds.), Accepting Voices (1993, second edition 1998), 258
pages, Mind Publications, London, UK.
Romme M, Honig A, Noorthorn EO & Escher S (1992): Coping with hearing voices: an
emancipatory approach. British Journal of Psychiatry: July; 161:99-103
Daniel B. Smith, Muses, Madmen, and Prophets: Hearing Voices and the Borders of
Sanity, (2008) Penguin, USA