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GOVERNO DO ESTADO DE RONDÔNIA

SECRETARIA DO ESTADO DA SAÚDE


CENTRO DE EDUCAÇÃO TÉCNICO PROFISSIONAL NA ÁREA DE SAÚDE

CURSO DE FORMAÇÃO INICIAL


E CONTINUADA EM SAÚDE
MENTAL

PORTO VELHO – RO
2018
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CONFÚCIO AIRES MOURA


GOVERNADOR DO ESTADO DE RONDÔNIA

WILLIAMES PIMENTEL DE OLIVEIRA


SECRETÁRIO DE ESTADO DA SAÚDE

ANGELITA DE ALMEIDA ROSA MENDES


DIRETORA GERAL DO
CENTRO DE EDUCAÇÃO TÉCNICO PROFISSIONAL NA ÁREA DE SAÚDE

LUCIANA PONTES DE MATTOS SILVA


COORDENAÇÃO DO CURSO DE FORMAÇÃO INICIAL E CONTINUADA EM
SAÚDE MENTAL

LIGIA VENÂNCIO DA SILVA


CONSULTORA TÉCNICA DO CURSO DE FORMAÇÃO INICIAL E
CONTINUADA EM SAÚDE MENTAL

EQUIPE TÉCNICA
ADRIANA PRESTES MENEZES
AMÉLIA CRISTINA SANTOS ALCOFORADO
ANDRÉ FELIPE SOUSA SANTOS
ANTONIO CARLOS DA COSTA PEREIRA
BRUNO ARAUJO DE SOUZA
DANUSI FREITAS DOS ANJOS
DARCY LIMA BARRETO
DEBORA CABALEIRO DE OLIVEIRA
DORISLENE ALVES DE ALMEIDA CANTARELA
EDELSON BORGES CARDOSO
EDNEIA RODRIGUES DO NASCIMENTO
EDNEUSA ANDRADE OLIVEIRA
ERIVAN ARRUDA ROSENDO
FRANCIELDE DOS SANTOS ARAUJO
GABRIELLE APARECIDA PINTO TEIXEIRA
GEYSA MARIA MALAQUIAS N. LEMKE
JOELMA ROSÁRIA DA SILVA
JOSÉ RIBAMAR DUARTE DE SOUZA
MARCELO HENRIQUE MACIEL DE SOUZA
ROSILDA RODRIGUES DA SILVA
RAIMUNDO NONATO ALVES
SANDRA BORGES MORAES
SÔNIA MARIA CASTRO MONTEIRO

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MENSAGEM AOS DOCENTES E DISCENTES

Caros (as) docentes e discentes este material foi pensando a fim de servir de suporte
e roteiro no processo ensino e aprendizagem capacitando-os a lidar de maneira positiva o
desafio de proporcionar o conhecimento e o cuidado no campo da saúde mental.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ........................................................................................................................8
1. HISTORIA DA SAÚDE MENTAL E REFORMA PSIQUIÁTRICA ............................112
1.1 Contextualizando a loucura ..............................................................................................12
1.2 Antecedentes históricos da reforma psiquiátrica no Brasil ..............................................13
1.3 Princípios da Reforma Psiquiátrica ..................................................................................14
1.4 Fatos históricos .................................................................................................................15
1.5 A Reforma Psiquiátrica no Brasil .....................................................................................16
1.6 A Rede de atenção em saúde mental ................................................................................18
1.7 Ações conjuntas: Saúde Mental e Programa Saúde Da Família .......................................19
1.8 O Centro De Atenção Psicossocial – CAPS ....................................................................19
1.9 Do atendimento a quem pode ser atendido no CAPS......................................................20
1.10 Acolhimento e humanização: perspectiva do atendimento na atenção básica ............211
1.11 Serviço de Residência Terapêutica (Srt) .......................................................................21
2. CONCEITO DE SAÚDE MENTAL E TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS .................25
2.1 Saúde ...............................................................................................................................25
2.2 Saúde Mental ...................................................................................................................25
2.3 Doença Mental .................................................................................................................25
2.4 Psicobiologia: O sistema nervoso central e as funções psíquicas ...................................26
2.5 Funções psíquicas .............................................................................................................26
2.6 Transtornos psiquiátricos..................................................................................................32
2.7 Tipos de transtornos .........................................................................................................33
2.8 Transtornos de humor .......................................................................................................37
2.9 Psicoses.............................................................................................................................43
2.10 Suicídio ...........................................................................................................................45
2.11 Agitação psicomotora .....................................................................................................48
2.12 Sensopercepção ..............................................................................................................51
2.13 Memória .........................................................................................................................53
2.14 Alterações do pensamento ..............................................................................................53
2.15 Delírios ...........................................................................................................................55
3. PSICOPATOLOGIAS NOS DIFERENTES CICLOS VITAIS .........................................57
3.1 Gestação. ...........................................................................................................................57
3.2 Puerpério...........................................................................................................................62
3.3 Transtornos mentais na infância e adolescência ...............................................................64
3.3.1 Transtorno de ansiedade na criança e adolescente ........................................................66
3.3.2 Transtornos alimentares na infância ..............................................................................72
3.3.3 Transtorno do espectro autista .......................................................................................73
3.3.4 Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade .........................................................76
3.4 Transtornos mentais em idosos ........................................................................................82

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4. PSICOFARMACOLOGIA ...............................................................................................888
4.1 Ansiolíticos .....................................................................................................................888
4.2 Antidepressivos ..............................................................................................................890
4.3 Estabilizadores de humor................................................................................................901
4.4 Antipsicóticos .................................................................................................................934
4.5 Drogas Antiparkinsonianas.............................................................................................945
4.6 Impregnação neuroléptica maligna .................................................................................946
5. ÁLCOOL, TABACO E OUTRAS DROGAS NO CAMPO DA SAÚDE MENTAL ...9899
5.1 Álcool .............................................................................................................................990
5.1.1 Saúde mental do alcoolista ......................................................................................11503
5.1.2 Farmacologia do álcool .............................................................................................1176
5.2.Nicotina ......................................................................................................................14216
5.3 Crack ...........................................................................................................................14518
5.4 Cocaína .......................................................................................................................15336
5.5 Maconha .........................................................................................................................143
5.6 Outras drogas de abuso benzodiazepínicos ..................................................................9847
5.7 Políticas públicas ..........................................................................................................9855
6. SEXUALIDADE E SAÚDE MENTAL.........................................................................1645
6.1 Adolescência e sexualidade ..........................................................................................1666
6.2 Características que tornam os usuários de saúde mental mais vulneráveis as DST‟s/AIDS
..........................................................................................................................................16668
6.3 Abordagem integral ao usuário...................................................................................16869
6.4 Prevenção da AIDS em serviço de saúde mental .........................................................1700
7 EQUIPE MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE MENTAL ..........................................1713
7.1 Caracterização das equipes multipliscinares ................................................................1714
7.2 Plano terapêutico ..........................................................................................................1810
7.3 Acolhimento .................................................................................................................1833
7.4 Visita domiciliar .........................................................................................................18684
7.5 Grupos e oficinas terapêuticas ....................................................................................18685
8 REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL .............................................................................19088
8.1 Serviços Residenciais terapêuticos .............................................................................19189
8.2 Centro de convivência: criação e arte ...........................................................................1942
8.3 Oficina de geração de renda ...........................................................................................193
9 ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE MENTAL: Algumas reflexões .....................................196
10 RELAÇÃO DAS EQUIPES DA ATENÇÃO BÁSICA, ESTRATÉGIA DE SAÚDE DA
FAMÍLIA COM AS EQUIPES DA SAÚDE MENTAL .....................................................201
11 SAÚDE MENTAL DO PROFISSIONAL DE SAÚDE ..................................................204
12 REFLEXÕES ÉTICAS ....................................................................................................207
13 ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DO PROJETO .......................................................213

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A IMPORTÂNCIA DA SAÚDE MENTAL


PENSAMENTOS DE PSIQUISMO DESMISTIFICADO

Não há Saúde sem Saúde Mental


Adoecer psiquicamente não é prerrogativa da modernidade.
É tão humano quanto nascer ou morrer, ter diabetes, hipertensão arterial, hemorragia.
Adoecer faz parte da condição humana.

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INTRODUÇÃO

Quando alguém adoece fisicamente é comum que receba afeto, simpatia e


compreensão para superar a enfermidade, o mesmo não ocorre quando essa pessoa adoece
por um transtorno mental. Neste último caso, em grande parte, a doença pode ser
interpretada como sinal de fraqueza, de autoflagelo, de covardia.
Adoecer psiquicamente não é prerrogativa da modernidade. É tão humano quanto
nascer ou morrer. Não há civilização conhecida, mesmo as mais primitivas e idealizadas,
sem registro da existência de transtornos mentais.
O transtorno mental não escolhe nem cor de pele nem classe social. Dom João VI
teve problemas com a mãe e nosso imperador Dom Pedro II, culto e admirado, deve ter
sofrido mais com a doença do filho do que com a abdicação do trono aos republicanos.
Quantos reis e rainhas fazem parte dessa lista? Quantos artistas consagrados conseguiram
realizar grandes obras apesar de seus tormentos? Que sofrimentos não experimentaram Van
Gogh, Virginia Woolf e Vladimir Maiakovski?
Como convencer as pessoas de que adoecer mentalmente é tão normal quanto ter
hipertensão arterial, ou diabetes, ou hemorragia? Eis um grande desafio aos agentes e
profissionais de saúde.
Com a finalidade de engajar nas causas dos transtornos mentais, um jovem editor
britânico, Richard Horton criou um comitê executivo internacional encarregado de
assessorar governos, políticos e organizações não-governamentais, bem como usuários dos
serviços e seus familiares, no planejamento da ampliação do financiamento e dos recursos
assistenciais comunitários efetivos, para reduzir a distância existente entre a demanda e a
oferta de serviços para o cuidado da saúde mental no planeta, contemplando a proteção dos
direitos humanos.
Além da iniciativa acima, no dia 10 de outubro, dia mundial da Saúde Mental, a
Organização Mundial de Saúde (OMS) lançou um programa com a mesma vertente em
Genebra. O novo programa, de iniciativa da OMS, e outras ações para aprimorar a atenção
aos portadores de transtornos mentais estão em andamento em vários países do mundo.

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A meta desses programas consiste em garantir que todo desvalido e marginalizado


tenha seus direitos garantidos, ou seja, que todo sujeito com problema, independente de cor,
classe e diagnóstico, tenha o direito à liberdade, respeito e dignidade, que faça dele um
semelhante apenas diferente.
A estimativa é de que 25% da nossa população adulta irá demandar algum tipo de
cuidado de saúde mental, de acordo com a OMS. Essa nova condição da saúde mental da
população resvala num enorme descompasso entre demanda e disponibilidade de serviços,
até mesmo nos países desenvolvidos.
Nos últimos anos no Brasil, vimos uma redução substancial dos leitos psiquiátricos e
a introdução progressiva dos novos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). Vários
pacientes saíram da situação de confinamento e voltaram para casa. Outros, porém,
perderam o contato com os parentes e permaneceram na situação asilar, muitas vezes em
condições precárias e desumanas.
O importante é que as alternativas de tratamento sejam humanizadas, condignas e
efetivas, ou seja, compostas, de fato, de uma terapêutica especializada e de padrão
internacional, que contemplem os vários tratamentos disponíveis: medicamentosos,
psicoterápicos e psicossociais, com eficácia comprovada. É enorme o benefício de um
tratamento adequado para o sujeito e seus familiares, levando em consideração a qualidade
de vida e a situação socioeconômica.
Considerando-se o exposto, é visível que o sistema de saúde mental atual tem muito
para se aprimorar. Carece de articulação entre os diferentes níveis de atenção (Estratégia
Saúde da Família) - ESF, ambulatórios, CAPS, leitos para internação de casos agudos, leitos
para internações mais prolongadas), além de distribuição mais homogênea de profissionais
bem capacitados.
Apesar dos avanços alcançados com os programas de Saúde de Mental, entende-se
que é primordial a luta pela desinstitucionalização progressiva dos pacientes que continuam
em situação asilar, principalmente nos hospitais reconhecidamente deficientes e com
histórico de abuso dos direitos humanos.
Para um país que pretende reduzir a desigualdade social, é essencial cuidar de seus
desprotegidos com dignidade. Que se amplie o financiamento à saúde em direção à oferta

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mais equitativa dos serviços destinados aos portadores de transtornos mentais, pois não há
saúde sem saúde mental.

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MÓDULO I
HISTORIA DA SAÚDE MENTAL E REFORMA PSIQUIÁTRICA
SAÚDE COMO DIREITO. SAÚDE MENTAL E TRANSTORNOS
PSIQUIÁTRICOS

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1. HISTORIA DA SAÚDE MENTAL E REFORMA PSIQUIÁTRICA

1.1 CONTEXTUALIZANDO A LOUCURA

Durante o período renascentista, a loucura assumiu vários significados e exerceu


certo fascínio nos campos das artes. A tentativa de explicar a loucura acabou encaminhando-
a para o universo moral que apoiados em idéias místicas, teocêntricas definiam a loucura
como deficiência, defeito. Essas idéias foram questionadas na modernidade a partir das
idéias antropocêntricas, pois o homem passa a ser o centro das atenções, e o entendimento
das coisas fundamentam-se a partir da razão humana.
Neste período hospitais gerais foram criados para loucos e o critério para identificá-
los era sustentado de um sentido ético moral, com o objetivo de identificar os “sem razão”
viciados, libertinos, prostitutas, loucos e os incapazes para o trabalho, sendo este grupo em
grande parte constituído por pobres. As internações tinham razões morais, e o seu tratamento
incluía o desejo de ajudar e punir, esta pratica é compreendida como Grande
Enclausuramento.
Na segunda metade do século XVIII, a partir da Revolução Francesa, transformações
sociais políticas e econômicas contribuíram para alterar os aspectos da vida humana e para a
extinção dessa pratica, pois ela impedia o progresso. Os pobres válidos tornaram-se mão-de-
obra para o capitalismo e os inválidos foram assumidos pela filantropia privada nas Santas
Casas de Misericórdia, e os loucos coube ao Estado assumir, criando os asilos. Nesse
sentido, a loucura ganhou o status de periculosidade, além de um campo fascinante, uma vez
que, despertou o interesse da medicina e como objeto de estudo médico, a loucura passa a
ser tratada como doença e o asilo perde o estatuto jurídico.
No asilo é exercido um controle social e moral evidenciando as diferenças entre o
normal e o anormal, tornou-se um lugar de separação onde o doente era acusado, julgado e
condenado.
O domínio exercido pelos médicos mostrava a relação de poder com base na
competência e cientificidade do exercício da medicina. Neste período de “domínio da
loucura” encontramos Pinel, médico francês que propôs o “Tratamento Moral”; a qualquer

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desvio segue-se uma punição, tarefa de cunho ético-moral dirigida pelo médico e Tuke,
pastor inglês que propôs um modelo de comunidade religiosa protestante, fundado na moral
da vida familiar, com a infantilização e culpabilização do louco.
Duas correntes do pensamento estudavam a manifestação da loucura: os alienistas
que acreditavam no controle da loucura através da disciplina da vida cotidiana por um meio
terapêutico sistemático. E os organicistas que buscavam as causas físicas da manifestação da
doença através de dissecação de cadáveres. A partir da primeira publicação de Pinel no final
do século XVIII e início do século XIX as instituições que abrigavam “o louco” sofreram
alterações, os asilos passaram a manicômios. Freud instituiu a psicanálise, para ele a
loucura está na subjetividade humana, e conforme Pereira (1984; p 93) “Estar louco e ser
objeto são possibilidades que se encontram para o homem”

1.2 ANTECEDENTES HISTÓRICOS DA REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL

A criação do Hospital Psiquiátrico Dom Pedro ll no Rio de Janeiro é o marco


histórico da psiquiatria brasileira. Posteriormente, outras instituições públicas foram criadas,
estas foram orientadas pela ideologia europeia de exclusão, cerceamento e controle, e
durante a década de 50 do século passado sofreu uma crise no atendimento. Entre 1964 e
1970 ocorre a entrada da iniciativa privada nesta área da saúde com predomínio até os anos
80, neste período havia 313 hospitais com 100.000 leitos, destes 20% eram públicos e 80%
privados.
A partir de 1970 as práticas nos hospitais são criticadas e denunciadas, o período foi
marcado pelos movimentos populares pela redemocratização. O debate sobre a loucura sai
dos muros do asilo, se estende ás universidades e passa a ser de domínio público em meio a
denúncias da imprensa que noticiava o problema da violência institucional e da segregação,
dando início a organização do movimento pela reforma sanitária.
O Movimento Sanitário tinha por objetivo fortalecer o setor público de assistência
em saúde em oposição ao modelo privado, lutava pela implantação da política de saúde e
universalização de direitos. A partir daí a participação social deixa de ser apenas clamor dos
excluídos, e passa para uma dimensão de cidadania. Dentro deste movimento surgiu o
Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental – MTSM.
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A VIII Conferência Nacional de Saúde ampliou o conceito de saúde, indicando a


necessidade de reestruturação do sistema, as garantias constitucionais apontaram a criação
do SUS e o estabelecimento do controle social através dos Conselhos de Saúde. O
movimento pela saúde teve vários desdobramentos, dentre eles o da saúde mental.
Eventos como o II Congresso Nacional do MTSM e a I Conferência Nacional de
Saúde Mental ocorridos em 1987, contribuíram para o surgimento do primeiro CAPS em
São Paulo. Em 1989 houve uma intervenção no hospital psiquiátrico de Santos e a
implantação dos primeiros Núcleo de Atenção Psicossocial (NAPS) apontou caminhos para
alcançar a reforma pretendida, criando o lema “Por uma sociedade sem manicômios”. Neste
mesmo ano o Congresso Nacional recebeu o projeto de lei que resultou após doze anos na
Lei brasileira de 10.216/2001 da reforma psiquiátrica. Desde então, a Reforma Psiquiátrica
vem sendo construída no enfrentamento das contradições do modelo asilar. A Luta
Antimanicomial implicou desospitalização, mudança social, cultural, ideológica e política, o
que promoveu a redução de leitos em hospitais privados e públicos.

1.3 PRINCÍPIOS DA REFORMA PSIQUIÁTRICA

 Reorientar o modelo assistencial;


 Inverter a lógica de internação em acolhimento a crise;
 Repensar o território como possibilidade de uma rede de relações afetivas, sociais, culturais,
familiares;
 Reorientar a gestão a partir das demandas advindas da clínica de atenção psicossocial.
A Reforma Psiquiátrica trata de uma mudança na forma de abordar e tratar os
portadores de transtorno mental. É um processo de transformação política e social composto
de ações que visam a criação de novas concepções de loucura, sofrimento mental, métodos
terapêuticos e as práticas cotidianas dos serviços.
Considerados incapazes de conviver em sociedade e produzir dentro do sistema econômico
vigente, o tratamento oferecido limitava-se à internação em manicômios e pesadas doses de
medicamentos. Muitos permaneciam internados por toda a vida, perdendo contato com a
família e vida social.

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O modelo de tratamento precisou ser revisto e superado, com a criação de serviços


abertos e substitutivos à internação hospitalar, inseridos na comunidade, mantendo os laços
familiares, o acesso a trabalho, lazer e os direitos à cidadania.
De acordo com o Ministério da Saúde, a Reforma Psiquiátrica é assim definida:
 É a ampla mudança do atendimento público em Saúde Mental, que garante o acesso da
população aos serviços e o respeito a seus direitos e liberdade;
 É amparada pela lei 10.216/2001, conquista de uma luta social que durou 12 anos;
 Significa a mudança do modelo de tratamento, no lugar do isolamento, o convívio com a
família e a comunidade;
 O atendimento é feito em Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), Residências
Terapêuticas, Ambulatórios, Hospitais Gerais, Centros de Convivência;
 As internações, quando necessárias, são feitas em hospitais gerais ou nos CAPS/24 horas.
Os hospitais psiquiátricos de grande porte vão sendo progressivamente substituídos.

1.4 FATOS HISTÓRICOS

A partir do séc. XVIII, se estabeleceram as instituições destinadas à internação


psiquiátrica daqueles que manifestavam alguma forma de transtorno mental. Nessa época, a
função dos hospitais não era curativa, eram instituições filantrópicas destinadas a abrigar os
leprosos, sifilíticos, aleijados, mendigos e os “diferentes”, aqueles que não se adaptavam à
ordem econômica e social, e que deveriam ser excluídos do convívio.
Com a Revolução Francesa foram abolidas as internações involuntárias de qualquer
cidadão, apenas os “loucos” deveriam permanecer, sendo vistos como perigosos para o
convívio em sociedade.
Nessa época, o médico Phillipe Pinel, tornou-se diretor do Hospital de Bicêtre, em
Paris, onde realizou o trabalho de observação e descrição dos diferentes comportamentos e
sintomas, passando a classificá-los em tipos de transtorno psíquico, que fundamentaram o
nascimento da psiquiatria moderna. Os loucos passaram a ser vistos como doentes, e com o
intuito de estudá-los e tratá-los deviam permanecer internados, dando origem aos
manicômios.
As instituições psiquiátricas se caracterizam por produzir isolamento, perda de
autonomia, ruptura de laços afetivos e um modelo repressivo e autoritário de poder sobre o

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ser humano. O número de hospitais psiquiátricos cresceu rapidamente em meados do século


XX, no entanto não houve avanços no tratamento aos pacientes.
No final da II Guerra Mundial a situação nos manicômios era degradante, revelaram
o abandono, os maus tratos e as péssimas condições de higiene e alimentação em que
viviam.
Diante dessa realidade, surgiram os movimentos da Reforma Psiquiátrica, buscando
formas mais adequadas de tratamento aos pacientes. Alguns exemplos foram: a Psiquiatria
Institucional na França, Comunidades Terapêuticas na Inglaterra, a Psiquiatria de Setor na
França, Psiquiatria Preventiva nos Estados Unidos e Psiquiatria Democrática na Itália.
A experiência da Itália, nos anos 60, teve como seu principal idealizador Franco
Basaglia que parte para uma nova concepção de loucura e das instituições psiquiátricas.
Realizada na cidade de Trieste a gradativa desinstitucionalização dos pacientes com a
serviços que acolhessem o seu retorno à sociedade, com a construção de Centros de Saúde
Mental funcionando 24h por dia, em regime aberto, e demais espaços de trabalho, cultura e
lazer. As ideias de Basaglia se difundiram e serviram de base para as propostas de reforma
psiquiátrica em todo mundo, inclusive o Brasil.
Nos diversos movimentos, vemos duas vertentes a respeito dos hospitais
psiquiátricos: aqueles que procuram preservar as instituições, buscando a desospitalização,
no sentido de reduzir o número e a duração das internações psiquiátricas, sendo o
acompanhamento extra-hospitalar destinado ao controle de sintomas e adaptação dos
usuários ao modelo vigente; a outra vertente, é a superação do hospital psiquiátrico, no
sentido de uma desinstitucionalização, buscando-se modificar as relações de poder e a
conquista da cidadania aos pacientes.

1.5 A REFORMA PSIQUIÁTRICA NO BRASIL

No Brasil, a influência desses movimentos ocorreu a partir da década de 80, em um


período de mobilização pelo retorno da ordem democrática com o enfraquecimento da
ditadura militar e grave crise econômica.
Desde a década de 50, os hospitais psiquiátricos brasileiros estavam desgastados com
a superlotação, deficiência de recursos humanos, maus-tratos, péssimas condições físicas, de
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alimentação, vestuário e terapêuticas ineficientes. Clínicas particulares passaram a funcionar


com o auxílio financeiro do governo, tendo um crescimento rápido no número de leitos
hospitalares, surgindo assim, o termo “indústria da loucura”.
No Brasil, a Reforma Psiquiátrica ocorreu em paralelo ao movimento da Reforma
Sanitária, defendidas na Constituição de 1988, que coloca a saúde como direito e dever do
Estado, além de criar o Sistema Único de Saúde, regulamentado pela lei n. 8.080, conhecida
como Lei Orgânica da Saúde, com seus conceitos de descentralização, municipalização,
território, vinculo, responsabilização de cuidados, controle social, entre outros.
A participação da sociedade fortaleceu o processo da reforma, iniciado com o
Movimento dos Trabalhadores de Saúde Mental, ocorrido em Bauru, em 1987. A adesão de
familiares e usuários fortaleceu o movimento da reforma que exigia do governo definição de
novas diretrizes políticas para a Saúde Mental, questionando o modelo de tratamento vigente
e reivindicando os direitos das pessoas com transtorno mental.
Em 1987 surge o primeiro CAPS no Brasil na cidade de São Paulo. Já em 1989,
inicia-se na cidade de Santos, um processo de intervenção na Casa de Saúde Anchieta,
hospital psiquiátrico denunciado pelos maus tratos aos pacientes, com a implantação de
Núcleos de Atenção Psicossocial (NAPS) 24 horas, residências e associações.
Nesse mesmo ano, o Projeto de Lei do Deputado Paulo Delgado é apresentado ao
Congresso Nacional, propondo a regulamentação dos direitos da pessoa com transtorno
mental e a extinção progressiva dos manicômios. O Projeto foi aprovado em 2001, após 12
anos de tramitação e algumas modificações, como a Lei Federal nº 10.216 de 06 de abril de
2001 que redireciona a assistência em saúde mental para serviços abertos e de base
comunitária e dispõe sobre a proteção e os direitos das pessoas com transtornos mentais.
Para incentivar o processo de desinstitucionalização o Congresso Nacional aprova a
Lei nº 10.708 de 31 de julho de 2003, instituindo o Programa De Volta para Casa. Esta nova
lei possibilita a alta e a reinserção social de pessoas internadas há mais de dois anos em
hospitais psiquiátricos, recebendo uma bolsa-auxílio para reabilitação. Elas podem retornar
para o próprio lar, ou para lares substitutos, ou para moradias protegidas.
As três Conferências Nacionais de Saúde Mental realizadas no Brasil (1987,1992 e
2001) trouxeram novos enfoques e novas propostas à questão. Uma das características dessa

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busca por um novo paradigma da loucura/doença mental, foi a substituição dos termos
“doença” e “doente mental” por “sofrimento psíquico” e “pessoas portadoras de sofrimento
psíquico”. Tais alterações, de acordo com a II Conferência Nacional de Saúde Mental,
tratam de construir uma mudança no modo de pensar a pessoa com transtorno em sua
existência/sofrimento, e não a partir de seu diagnóstico (Brasil, 1992).
A III Conferência realizada em 2001 teve ampla participação dos movimentos
sociais, de usuários e familiares e consolida a Reforma psiquiátrica como política oficial do
SUS e propõe a formação de uma rede articulada e comunitária de cuidados para as pessoas
com transtornos mentais.
A saúde mental não tem uma forma exclusiva de acolhimento, de atuação em equipe,
de vínculo, pois esses cuidados se aplicam ao portador de sofrimento mental como a
qualquer outro usuário da Saúde, pois em todos os níveis da assistência, o acolhimento é
primordial. Entretanto a Saúde Mental traz sua contribuição a partir de um aprendizado ao
longo do trabalho desenvolvido. O acolhimento significa muito mais que um revezamento
de escala profissional, é compreender que do outro lado há um cidadão no exercício de seus
direitos, é dar uma resposta ao usuário do serviço. Entretanto isso não significa realizar o
que o outro pede imediatamente, não é resolver tudo ou concordar com tudo, mas avaliar a
demanda e realizar uma “escuta”, não podemos simplesmente dizer “isto não é não é aqui e
ou não é conosco”. Acolhimento não é atribuição exclusiva de uma categoria, mas de todos
profissionais da saúde, é compromisso em avaliar o problema cuidadosamente analisando se
o caso é grave ou pode esperar, se a demanda é para o serviço ou deve ser encaminhado,
exige do profissional de saúde a postura do cuidado.

1.6 A REDE DE ATENÇÃO EM SAÚDE MENTAL

Um novo modelo de atenção em Saúde Mental necessita da organização de uma rede


composta de várias ações e serviços que funcionem de forma ordenada.
Estão incluídos serviços da área da Saúde como as unidades básicas, ambulatórios,
hospitais gerais e os CAPS, entre outros que envolvem a mobilização de outros setores
como: associações, cooperativas, e outros espaços da cidade.

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1.7 AÇÕES CONJUNTAS: SAÚDE MENTAL E PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA

As ações de saúde mental na atenção básica devem seguir o modelo de redes de


cuidado, de base territorial, fundamentadas nos princípios do SUS e da Reforma
Psiquiátrica.
São princípios fundamentais dessa articulação:
 Noção de território;
 Organização da atenção à saúde mental em rede;
 Intersetorialidade;
 Reabilitação psicossocial;
 Multiprofissionalidade/interdisciplinaridade;
 Desinstitucionalização;
 Promoção da cidadania dos usuários;
 Construção da autonomia possível de usuários e familiares.
Equipes de saúde mental oferecem suporte técnico às equipes da atenção básica,
compartilhando alguns casos com a equipe. Esse suporte realizado em forma de encontros
semanais, reuniões, discussões de casos, intervenções conjuntas junto às famílias e
comunidades ou atendimentos conjuntos, havendo uma co-responsabilização pelos casos
atendidos é denominado apoio matricial.
Essa forma de trabalho aumenta a capacidade resolutiva dos problemas encontrados,
alterando a lógica do encaminhamento. Essa prática gradativamente estimula a
interdisciplinaridade e a ampliação da clínica, ou seja, uma forma de atendimento que supere
o modelo biológico, levando em consideração a singularidade de cada caso.

1.8 O CENTRO DE ATENÇÃO PSICOSSOCIAL – CAPS

O CAPS é um lugar de referência e tratamento para pessoas que sofrem de


transtornos mentais - psicoses, neuroses graves e demais quadros cuja severidade ou
persistência justifique sua permanência para a reabilitação psicossocial, por meio de cuidado
intensivo, comunitário, personalizado e promotor de vida, numa atenção voltada para o

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sujeito, sua singularidade e história, cultura e vida cotidiana. É um serviço de saúde mental
criado para ser substitutivo às internações em hospitais psiquiátricos.
A Portaria/GM nº 336 - de 19 de fevereiro de 2002, define e estabelece as diretrizes
para o funcionamento dos CAPS, além de categorizá-los conforme a clientela denominando-
os de CAPS I, CAPS II, CAPS III, CAPS i, CAPS ad. As três primeiras modalidades são
definidas por ordem crescente de porte/complexidade e abrangência populacional,
prioritariamente, deverão atender aos pacientes com transtornos mentais graves e
persistentes em sua área territorial. Os CAPS i são destinados ao atendimento psicossocial
para crianças e adolescentes, enquanto os CAPS AD, são designados ao atendimento de
usuários com transtornos decorrentes do uso e dependência de substâncias psicoativas.
Rondônia hoje, conta com a política de saúde mental pautada na reforma psiquiátrica
e na Legislação Federal, seguindo os princípios do HumanizaSUS (conjunto das práticas de
saúde do SUS), que possibilita maior humanização e acolhimento dos serviços de saúde.
Atualmente, Porto Velho conta com dois CAPS II, um CAPS AD e um CAPS i,
sendo a implantação e monitoramento da rede de saúde mental é realizada pela Coordenação
Estadual de Saúde Mental.

1.9 DO ATENDIMENTO A QUEM PODE SER ATENDIDO NO CAPS1

Para ser atendido num CAPS pode-se procurar diretamente esse serviço ou ser
encaminhado pelo Programa de Saúde da Família ou por qualquer serviço de saúde. A
pessoa pode ir sozinha ou acompanhada, devendo procurar, preferencialmente, o CAPS que
atende à região onde mora. Quando a pessoa chega deverá ser acolhida e escutada em seu
sofrimento. Esse acolhimento poderá ser de diversas formas, de acordo com a organização
do serviço. O objetivo nesse primeiro contato é compreender a situação, de forma mais
abrangente possível, da pessoa que procura o serviço e iniciar um vínculo terapêutico e de
confiança com os profissionais que lá trabalham. Estabelecer um diagnóstico é importante,
mas não deverá ser o único nem o principal objetivo desse momento de encontro do usuário

1
Cartilha “Saúde Mental no SUS: Os Centros de Atenção Psicossocial”. Disponível em:
http://www.ccs.saude.gov.br/saude_mental/pdf/sm_sus.pdf

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com o serviço. A partir daí irá se construindo, conjuntamente, uma estratégia ou um projeto
terapêutico para cada usuário. Caso essa pessoa não queira ou não possa ser beneficiada com
o trabalho oferecido pelo CAPS, ela deverá ser encaminhada para outro serviço de saúde
mais adequado para sua necessidade. Se uma pessoa está isolada, sem condições de acesso
ao serviço, ela poderá ser atendida por um profissional da equipe do CAPS em casa, de
forma articulada com as equipes de saúde da família do local, quando um familiar ou
vizinho solicitar ao CAPS. Por isso, é importante que o CAPS procurado seja o mais
próximo possível da região de moradia da pessoa.
As pessoas atendidas nos CAPS são aquelas que apresentam intenso sofrimento
psíquico, que lhes impossibilita de viver e realizar seus projetos de vida. São,
preferencialmente, pessoas com transtornos mentais severos e/ou persistentes, ou seja,
pessoas com grave comprometimento psíquico, incluindo os transtornos relacionados às
substâncias psicoativas (álcool e outras drogas) e também crianças e adolescentes com
transtornos mentais. Os usuários dos CAPS podem ter tido uma longa história de internações
psiquiátricas, podem nunca ter sido internados ou podem já ter sido atendidos em outros
serviços de saúde (ambulatório, hospital-dia, consultórios etc.). O importante é que essas
pessoas saibam que podem ser atendidas e saibam o que são e o que fazem os CAPS.

1.10 ACOLHIMENTO E HUMANIZAÇÃO: PERSPECTIVA DO ATENDIMENTO NA


ATENÇÃO BÁSICA2

O acolhimento é um arranjo tecnológico que busca garantir acesso aos usuários com
o objetivo de escutar todos os pacientes, resolver os problemas mais simples e/ou referenciá-
los se necessário (SCHIMITH; LIMA, 2004). A acolhida consiste na abertura dos serviços
para a demanda e a responsabilização por todos os problemas de saúde de determinada
região. Como a atenção básica representa porta de entrada à comunidade aos serviços de

2
Artigo de 1) Joélinton dos Santos Aranha (graduado em enfermagem pelo centro Universitário Plínio Leite);
2) Monyque Évelyn dos Santos Silva (acadêmica do 5° período de enfermagem. Escola de enfermagem Aurora
de Afonso Costa/ UFF); e 3) Jorge Luiz Lima da Silva (professor da disciplina saúde coletiva. Escola de
enfermagem Aurora de Afonso Costa/ UFF).
Disponível em: http://www.uff.br/promocaodasaude/acolhim.pdf

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saúde é essencial proporcionar atendimento acolhedor para diminuir as desigualdades e


promover cuidado integral ao cliente.
Percebe-se que são vários os fatores que podem interferir na prática do acolhimento,
tais como, a inadequação da área física, a maior sobrecarga de trabalho, o pouco apoio
institucional às experiências novas e a redução/inadequação das atividades de prevenção.
Outras dificuldades são relevantes: a demanda excessiva de usuários; a falta de médicos nas
instituições de saúde; a dificuldade de acesso dos usuários às consultas especializadas e
odontológicas; a demanda reprimida de usuários e a falta de medicamentos e materiais
(BECK; MINUZI, 2008).
Constata-se também que o usuário quando busca a unidade pouco consegue lidar
com sua situação de saúde. Fator que pode, por vezes, ser evitado sem maiores intervenções.
A pouca resolutividade por meios próprios faz com que o cliente se desloque até uma
segunda unidade de saúde. Nesta dinâmica, o usuário espera, no mínimo, ser bem atendido,
que seja acolhido de forma humanizada e integral por profissional de saúde que se importe
com seus problemas, a fim de tentar ao menos esclarecer suas dúvidas, compreender seus
medos, angústias, incertezas dando-lhe apoio e atenção permanente.
A PNH entende a humanização como a valorização dos diferentes sujeitos
implicados no processo de produção de saúde. Os valores que norteiam essa política são a
autonomia e o protagonismo dos sujeitos, a co-responsabilidade entre eles, o
estabelecimento de vínculos solidários, a participação coletiva no processo de gestão e a
indissociabilidade entre atenção e gestão (BRASIL, 2004). Sendo assim, o profissional de
saúde deve levar em consideração os aspectos subjetivos, culturais, ambientais e de estilo de
vida do indivíduo, para que desta forma o cliente possa se sentir “aceito” de forma integral e
com suas expectativas atendidas.
É importante ressaltar que os profissionais de saúde, dentre estes os enfermeiros
devem aprender a exercitar atenção o significado da palavra “acolher”, deforma que passe a
significar uma ação de cuidado em saúde, para as questões socioeconômicas que afetam a
família e a comunidade, para as interações humanas sabendo incorporar a lógica da
determinação social da saúde e da doença.

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Quando se fala de integral, vale ressaltar o que diz a lei 8080/90, em um de seus
princípios, a integralidade, que é entendida como um conjunto articulado e contínuo das
ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos para cada caso em
todos os níveis de complexidade do sistema (BRASIL, 1990). E daí dizer que o a
integralidade no cuidado deve-se pautar na consideração das peculiaridades do sujeito sem
afetar sua individualidade e integridade (GUALDA; BERGAMASCO, 1990). Desta forma,
agir com base nos princípios do SUS, levando em consideração o processo saúde-doença das
pessoas, sua cultura, uma vez que esta é o guia de como essas pessoas vivem. Geralmente, é
acreditado e valorizado como se comunicam, quais seus hábitos, costumes e gostos. Isso faz
com que o enfermeiro possa atender melhor as necessidades dos usuários de forma integral e
levar em consideração aquilo que o cliente tem de mais humano que é seu componente
social, afetivo e emocional (GUALDA; BERGAMASCO, 1990).
Entende-se por processo saúdedoença, como uma dinâmica social caracterizado pelas
relações dos homens com a natureza (meio ambiente, espaço, território) e com outros
homens (através do trabalho e das relações sociais, culturais e políticas) num determinado
espaço geográfico e num determinado tempo histórico (TANCREDI; BARROS;
FERREIRA, 1998, P.29).
Sendo assim, o profissional de saúde pode ter conhecimento maior sobre este
processo saúde-doença, para que atenda da melhor maneira possível as expectativas dos
usuários, cuidando não somente de um corpo que necessita de ajuda, mais também de sua
subjetividade, que seja apto para acolher de forma humanizada, escutar e dar uma resposta
positiva, capaz de resolver os problemas de saúde da população.
Logo, o acolhimento funciona como uma das bases para a humanização da
assistência nas instituições, a fim de possibilitar resolutividade, vínculo e responsabilização
entre trabalhadores de saúde e usuários, contribuindo na democratização e na melhoria da
qualidade da assistência prestada e se constitui em instrumento potente para a reorganização
da atenção à saúde no PSF (BECK; MINUZI, 2008).
As experiências na área da saúde apontam como estratégia o uso de recursos como a
comunicação, valorização do ser, que é de primordial importância neste contexto e que
também seja realizado educação permanente contínua com estes profissionais, para que seja

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implementado ele use o acolhimento de acordo com o que é preconizado e definido, ou seja,
como recurso que proporcione resolutividade para o cliente.

1.11 SERVIÇO DE RESIDÊNCIA TERAPÊUTICA (SRT)

Os Serviços de Residência Terapêutica foram implantados para possibilitar as ações


de desinstitucionalização almejadas pela Reforma Psiquiátrica e foram regulamentados
oficialmente pelo Ministério da Saúde através da Portaria n.106, de fevereiro de 2000, como
alternativas de moradia para pacientes de longa internação que não possuem suporte social e
laços familiares adequados para sua inserção social.
São casas localizadas na comunidade, que podem atender até 08 pessoas e contam
com suporte profissional de acordo com suas necessidades.
As residências são moradias adequadas para a reintegração do morador à
comunidade. A assistência profissional deve ser realizada por um serviço de referência
como o CAPS, ambulatório de saúde mental, ou equipe de saúde da família.

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2. CONCEITO DE SAÚDE, SAÚDE MENTAL E TRANSTORNOS


PSIQUIÁTRICOS.

2.1 SAÚDE

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), saúde é um estado de completo


bem-estar físico, mental e social e não apenas a ausência de doença; é um estado de
equilíbrio humano entre o organismo e o seu meio ambiente, o qual mantém as
características estruturais e funcionais do organismo dentro dos limites normais, de forma
particular, e dentro do seu ciclo vital.

2.2 SAÚDE MENTAL

Considera-se Saúde mental o estado de bem-estar no qual o indivíduo realiza suas


próprias habilidades, pode lidar com as tensões normais da vida, pode trabalhar de forma
produtiva e é capaz de fazer contribuições à sua comunidade. Saber lidar com as boas
emoções e também com as desagradáveis: alegria/tristeza; coragem/medo; serenidade/raiva;
ciúmes; culpa; frustrações, como também de adaptação ao ambiente social e nas relações
interpessoais de modo satisfatório. Sua identificação pode ser caracterizada por:

 Atitudes positivas em relação a si próprio;


 Crescimento, desenvolvimento e autorrealização;
 Integração e resposta emocional;
 Autonomia e autodeterminação;
 Percepção apurada da realidade;
 Domínio ambiental e competência social.

2.3 DOENÇA MENTAL

É uma maneira defeituosa de viver, e seus sintomas são expressos na maneira como a
pessoa se comporta, afetando-lhe cada aspecto e refletindo-se em seus pensamentos,

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sentimentos e ações. A pessoa não consegue mais encontrar soluções satisfatórias para seus
conflitos e seus mecanismos de defesa são utilizados de forma menos sadia. Por exemplo,
quando nos encontramos em uma situação difícil de ser vencida, entramos em ansiedade. Se
for construtiva, superamos a situação e crescemos; se não, não conseguimos superá-la e a
ansiedade gera um comportamento doentio.

2.4 PSICOBIOLOGIA: O SISTEMA NERVOSO CENTRAL E AS FUNÇÕES


PSÍQUICAS

O sistema nervoso é responsável por regular os mecanismos que garantem nossa


sobrevivência (respiração, digestão, liberação de hormônios, regulação da pressão arterial,
dentre outros), além de ser responsável por nossa movimentação voluntária, sensações e
comportamentos (pensamento, imaginação, emoção, etc.).
Uma das partes mais importantes do sistema nervoso é o córtex cerebral, uma fina
camada de substância cinzenta que reveste o centro branco medular do cérebro. Impulsos
provenientes de todas as vias sensoriais chegam ao córtex, sendo interpretadas e integradas
e, do córtex saem os impulsos nervosos que iniciam e comandam os movimentos
voluntários. As diversas funções intelectuais e psíquicas também acontecem no córtex
cerebral.
Para estudar as diversas funções do córtex cerebral, este é dividido em porções
conhecidas lobos cerebrais:
Essas porções, porém, não operam separadamente, existindo uma complexa
integração entre elas para a execução das diversas funções mentais. Isso explica as inúmeras
variabilidades de comportamento existentes nos seres humanos.

2.5 FUNÇÕES PSÍQUICAS

Inteligência3 é um conjunto que forma todas as características intelectuais de um


indivíduo, ou seja, a faculdade de conhecer, compreender, raciocinar, pensar e interpretar. A
inteligência é uma das principais distinções entre o ser humano e os outros animais.

3
Conceito disponível em https://www.significados.com.br/inteligencia/

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Etimologicamente, a palavra "inteligência" se originou a partir do latim intelligentia,


oriundo de intelligere, em que o prefixo inter significa "entre", e legere quer dizer
"escolha". Assim sendo, o significado original deste termo faz referência a capacidade de
escolha de um indivíduo entre as várias possibilidades ou opções que lhe são apresentadas.
Em psiquiatria lidamos com dois tipos de alterações da inteligência:
Oligofrenia: acontece quando: a deficiência da inteligência é comprometida
precocemente, herdada ou adquirida no período fetal, perinatal ou até mesmo na primeira
infância);
Demência – entendida quando acomete pessoas que tiveram um
desenvolvimento completo e normal da inteligência. A partir de um dado momento, os
pacientes passam a apresentar declínio progressivo da capacidade intelectiva.
Crítica: consiste na capacidade de compararmos juízos de buscarmos a coerência
e identificarmos valores em relação ao mundo, realizando certo encadeamento. Geralmente
este último tipo de inteligência é proveniente de um processo de educação e escolarização,
indução ou analogia (comparação de certos eventos) que o indivíduo está inserido.
Pensamento: é o resultado da capacidade de organizar ideias. O pensamento
comum a maioria dos indivíduos apresenta constância, organização e continuidade. Percebe-
se que o curso do pensamento está alterado quando: a pessoa tem grande dificuldade de até e
mesmo iniciar uma conversa, ou seja, custa a dizer alguma coisa, e quando o diz, é notório
um grande esforço. Já a aceleração do pensamento, tem=se um efeito contrário, podendo
chegar a fuga de ideia, uma vez que, o pensamento é acontece tão intensamente que não
chega sequer a uma produção verbal, o que implica na incapacidade de concluir um
raciocínio.
A linguagem4 é um dos elementos essenciais para a atividade cognitiva do indivíduo.
Ela é produto da interação e proporciona ao indivíduo a possibilidade de exercer atividade
sobre o outro, sobre si mesmo e sobre o mundo. Desta forma, compreende-se que a linguagem
é uma atividade essencialmente humana, histórica e social. Se bem conduzida, pode ser uma

4
Conceito disponível em: https://www.infoescola.com/linguistica/conceito-de-linguagem/
Acessado em: 08/01/2018

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aliada na luta contra os preconceitos sociais, pois é a partir de seu uso que observamos,
compreendemos e interagimos com o mundo.
Dentro da área de clínica médica, a linguagem em si (como um conjunto de
palavras ou não) diz muito sobre o paciente, caracterizando-o de acordo com a comunicação
que este estabelece, são essas:

 Mutismo: abolição total da língua (fala);


 Pobreza de discurso: quando o material produzido traz poucas informações;
 Tagarela: paciente que fala demais;
 Ecolalia: repetição imitativa da fala de outra pessoa.

Atenção5 é um conceito estudado na psicologia cognitiva que se refere à forma


como processamos informações presentes em nosso ambiente específico ativamente.
Enquanto uma pessoa lê um livro, por exemplo, estão acontecendo muitas coisas ao redor –
sons e sensações, a pressão dos pés contra o chão, a visão da rua por uma janela próxima, o
calor das roupas, a memória de uma conversa que teve mais cedo com um amigo.
Segundo o psicólogo e filósofo William James, a atenção “é a tomada de posse
pela mente, de forma clara e vívida, de um entre diversos objetos ou esquemas de
pensamento simultaneamente possíveis. O foco e a concentração da consciência são sua
essência. Implica na retirada de algumas coisas com a finalidade de lidar efetivamente com
outras”.
Também é possível pensar na atenção como um marcador de texto. Quando você
lida com um trecho de texto em um livro, a seção em destaque é focalizada, fazendo com
que você concentre seu interesse na área. A atenção permite “sintonizar” a informação, em
detrimento de sensações e percepções que não são relevantes no momento, e focar sua
energia na informação que é importante.
Não só o nosso sistema atencional faz com que possamos nos concentrar em
algo específico em nosso meio, enquanto destaca os detalhes irrelevantes, como também

5
Definição disponível em: http://psicoativo.com/2015/12/atencao-psicologia-cognitiva-tipos-atencao.html
Acessado em: 08/01/2018

28
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afeta nossa percepção dos estímulos que nos rodeiam. Em alguns casos, nossa atenção pode
ser focada em uma coisa particular, levando-nos a ignorar outras. A concentração sobre um
alvo primário pode resultar em não perceber um segundo alvo do todo.

Limites da atenção

Várias pesquisas tentam mensurar quantas coisas podemos atender e por quanto
tempo. Pesquisadores descobriram que as principais variáveis que impactam a nossa
capacidade de permanecer na tarefa incluem a forma como estamos interessados no estímulo
e quantas distrações nós experimentamos.
Estudos têm demonstrado que a atenção é limitada em termos de capacidade e
duração.

Seletividade

Sendo a atenção um recurso limitado, temos que ser exigentes sobre o que
decidimos focar. Não só temos de concentrar a nossa atenção sobre um item específico em
nosso ambiente, mas também filtrar um número enorme de outros itens. Temos de ser
seletivos no que estamos a assistir, um processo que muitas vezes ocorre tão rapidamente
que nem percebemos que temos ignorado certos estímulos em favor de outros.
Como é que conseguimos experimentar todas essas sensações e ainda nos
concentrar em apenas um elemento do nosso meio ambiente? Tal feito tem-se se tornado um
desafio nos dias atuais, pois vivemos numa sociedade em que somos bombardeados de
estímulos, deste modo, em algum momento de nossas vidas experienciamos os tipos de
atenção destacados abaixo:

 Concentrada: quando se dirige a um ou a dois objetos;


 Dispersa: quando repartida em mais de dois objetos;
 Reflexiva: quando se volta sobre si mesma;
 Automática: quando a atenção é mínima.

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Outro elemento essencial para o desenvolvimento psíquico, emocional e social


do indivíduo é a memória. É por meio da memória que fazemos e aprendemos a nossa
história de vida, logo, é indispensável para o desenvolvimento e sobrevivência da
humanidade. Sobre sua definição, consiste em:

 Memória: é a capacidade de registrar, armazenar e reproduzir vestígios das experiências


anteriores:
 Memória de evocação: traz material passado desse reservatório até a consciência, quando
este evento acontece sem grande dificuldade ocorre o que chamamos de Hipermnésia que é a
facilidade na evocação.
Porém, quando esse aspecto fica comprometido, ocasiona algumas limitações cognitivas,
tais como:
 Hipermnésia: é a diminuição do número de lembranças evocáveis;
 Amnésia: é o desaparecimento parcial ou completo das representações mnêmicas.

Afetividade é a atividade do psiquismo que constitui a vida emocional do ser


humano. É contínua no tempo, pois não se pode deixar de sentir afeto, é por meio dela que
criamos memória. O educador francês Henri Wallon (1879 – 1962) é um dos estudiosos que
se debruçou a compreender a afetividade e sua importância no desenvolvimento
biopsicossocial do indivíduo. Para o autor a afetividade6 é expressa de três maneiras: por
meio da emoção, do sentimento e da paixão. Essas manifestações surgem durante toda a vida
do indivíduo, mas, assim como o pensamento infantil, apresentam uma evolução, que
caminha do sincrético para o diferencial. A emoção, segundo o educador, é a primeira
expressão da afetividade. Ela tem uma ativação orgânica, ou seja, não é controlada pela
razão. Quando alguém é assaltado e fica com medo, por exemplo, pode sair correndo mesmo
sabendo que não é a melhor forma de reagir.

6
Texto disponível em: < https://novaescola.org.br/conteudo/264/0-conceito-de-afetividade-de-henri-wallon>
Acessado em: 08/01/2018

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O sentimento, por sua vez, já tem um caráter mais cognitivo. Ele é a


representação da sensação e surge nos momentos em que a pessoa já consegue falar sobre o
que lhe afeta - ao comenta um momento de tristeza, por exemplo. Já a paixão tem como
característica o autocontrole em função de um objetivo. Ela se manifesta quando o indivíduo
domina o medo, por exemplo, para sair de uma situação de perigo.
Pelo fato de ser mais visível que as outras duas manifestações, a emoção é tida
por Wallon como a forma mais expressiva de afetividade e ganha destaque dentro de suas
obras. Ao observar as reações emotivas, ele encontra indicadores para analisar as estratégias
usadas em sala de aula. "Se o mediador consegue compreender o que está acontecendo
quando o aluno está cansado ou desmotivado, por exemplo, é capaz de usar a informação a
favor do conhecimento, contornando o problema”. Para o teórico, não tem como falar em
afetividade sem falar em emoção.
A palavra consciência vem do latim conscientia: conhecimento de algo partilhado com
alguém. O termo “consciência” tem, em português, pelo menos dois sentidos, descoberta ou
reconhecimento de algo, quer de algo exterior, como um objeto, uma realidade, uma
situação etc., quer de algo interior, como as modificações sofridas pelo próprio eu,
conhecimento do bem e do mal.
O primeiro sentido de consciência pode desdobrar-se noutros sentidos: o
psicológico, o epistemológico e o metafísico. Em sentido psicológico, a consciência é a
percepção do eu por si mesmo, este é o conceito mais conhecido. Em sentido
epistemológico, a consciência é primeiramente o sujeito do conhecimento. Em termos
metafísicos, chamamos muitas vezes à consciência o Eu.
A consciência é uma qualidade da mente, considerando abranger qualificações
tais como subjetividade, autoconsciência e a capacidade de perceber a relação entre si e o
outro.
Alguns filósofos dividem consciência em:

 Consciência fenomenal entendida como a experiência propriamente dita, é o estado de estar


ciente, assim como dizemos "estou ciente" e consciente de algo, tal como quando dizemos
"estou ciente destas palavras"

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 Consciência de acesso, que é o processamento das coisas que vivenciamos durante a


experiência.

Portanto, consciência é uma qualidade psíquica, ou seja, que pertence à esfera da


psique humana. Pode-se considerar também que ela é um atributo do espírito, da mente ou
do pensamento humano. Ser consciente não é exatamente a mesma coisa que perceber-se no
mundo, mas ser no mundo e do mundo, para isso, a intuição, a dedução e a indução tomam
parte.
Para os aspectos neuropsicológicos a consciência é a capacidade neurológica de
captar o ambiente e de se orientar de forma adequada. Estar consciente é estar lúcido com o
sensório claro, uma vez essa lucidez se escapa, ocorre alteração do nível de consciência,
sendo este último compreendido em dois grupos:

 Estreitamento: consiste na redução quantitativa e qualitativa da consciência;


 Entorpecimento: consiste na diminuição ou na perda da lucidez e da vigília.

2.6 TRANSTORNOS PSIQUIÁTRICOS

Diagnosticar um transtorno mental não é tarefa das mais fáceis; justamente por essa
razão podemos encontrar várias teorias a respeito dos transtornos mentais. Algumas
direcionadas aos mecanismos psicológicos, outras mais voltadas para os mecanismos
ambientais ou biológicos.
Transtorno é, assim, usado para definir um conjunto de sintomas que geralmente
envolvem sofrimento pessoal e interferência nas funções que o indivíduo necessita exercer
em sua atividade diária.
Uma vez que o indivíduo está num estado agudo de sofrimento psíquico, se faz
necessário uma avaliação psicodiagnóstico mais minuciosa, para que possa ser identificado a
enfermidade e,por conseguinte, possa receber tratamento adequado.
Através de grande esforço coletivo internacional, contribuição de inúmeros centros
colaboradores, a proposta do CID 10 representa uma ajuda poderosa para todos aqueles que
estão com a atenção voltada para os doentes mentais e suas famílias.

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2.7 TIPOS DE TRANSTORNOS7

A ansiedade é, basicamente, um mecanismo de defesa. É um sistema de alerta


perante situações futuras que nos causam tensão, preocupação ou medo. É um mecanismo
universal, presente em todas as pessoas, é normal, melhora o desempenho e a capacidade de
antecipação e resposta. A função da ansiedade é mobilizar o organismo, mantê-lo alerta e
pronto para intervir contra os riscos e ameaças.
A ansiedade, como um mecanismo defensivo, é importante e não representa nenhum
problema de saúde. No entanto, em alguns casos, esse mecanismo funciona de forma
excessiva, ou seja, causa transtornos físicos e psicológicos e pode se transformar em um
distúrbio grave.

CRISE DE ANSIEDADE

Geralmente, as pessoas que sofrem de ansiedade excessiva nem sabem ao certo


identificar os sintomas, ou definir que estão passando por uma crise, e isso acaba fazendo
com que não procurem ajuda de um profissional logo no início do problema.
Todos nós somos por natureza um pouco ansiosos, isso é algo normal do ser humano, porém
em alguns casos ela pode ser um tipo de emoção excessiva o que pode transformar uma
simples ansiedade em um distúrbio grave, e isso acaba dificultando a realização de tarefas
diárias causa um grande transtorno na vida pessoal e profissional das pessoas que sofrem
dessa condição.

TIPOS

É importante saber que existem diferentes tipos de ansiedades que podem ocorrer de
maneira diferenciada de uma pessoa para outra, alguns tipos são bem comuns e mais fáceis
de serem identificadas, alguns dos tipos mais comuns são:

SÍNDROME DO PÂNICO
7
Disponível em: http://fatordiabetes.com/ansiedade/
Acesso em: 08/01/2018

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A Síndrome do Pânico é considerada pela psiquiatria como uma doença que se


caracteriza por crises de medo e desespero sem nenhum motivo específico ou aparente, que
ocorrem de forma inesperada. O distúrbio compromete a qualidade de vida, e o medo de
uma nova crise afeta a pessoa e prejudica sua rotina. Os sintomas são:

 Palpitações, coração batendo forte ou  Dispnéia;


frequência cardíaca acelerada;  Calafrios ou ondas de calor;
 Sudorese;  Sensação de formigamento ou fraquezas
 Dores no peito; nas mãos;
 Tonturas;  Temor;
 Náuseas;  Medo de perder o controle.

TRANSTORNO DE ANSIEDADE GENERALIZADA

O transtorno de ansiedade generalizada (TAG) caracteriza-se pela preocupação


excessiva sobre qualquer evento do dia a dia ou com o futuro, sem nenhum motivo aparente
para esta preocupação. As pessoas que sofrem deste transtorno sempre esperam que as
coisas saiam mal e não podem deixar de se preocupar com a sua saúde, o dinheiro, a família,
o trabalho ou a escola.
Sintomas depressivos acompanham comumente o distúrbio de ansiedade
generalizada. São eles:

 Ansiedade de preocupação excessiva em relação a alguns eventos que o indivíduo acha


difícil controlar;
 Inquietação ou nervosismo ou sentir-se uma “pilha”;
 Fatigar-se facilmente;
 Dificuldade de concentrar-se;
 Irritabilidade;
 Tensão muscular;

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 Distúrbio do sono (dificuldade em pegar no sono ou em permanecer dormindo ou sono


inquieto e não satisfatório).

FOBIA SOCIAL

A fobia social é um medo excessivo e irracional para situações de interação social.


Por exemplo, a pessoa que sofre de fobia social sente medo de ser julgado por outras
pessoas, ser o centro das atenções, pela ideia de ser criticado por outros indivíduos e, até
mesmo, ao falar por telefone com outras pessoas.
Os fóbicos sociais estão conscientes de que não devem sentir-se tão mal com as
situações desencadeantes, mas são incapazes de controlar o seu medo e a sua tensão. Além
disso, tendem a evitar as situações que provocam os sintomas do transtorno, pois não são
capazes de lidar com o problema.

SINTOMAS
A ansiedade é um tipo de emoção do ser humano, mas quando ocorre de forma
extrema pode ser muito prejudicial à saúde e é possível identificar os sintomas no início de
uma crise para assim poder procurar uma ajuda profissional adequada.
Conseguir identificar sintomas de uma crise e de seus transtornos pode ser muito útil para
tomar cuidados adequados, os sintomas da ansiedade podem ser físicos e também
psicológicos, alguns dos sintomas são:

SINTOMAS PSICOLÓGICOS: SINTOMAS FÍSICOS:


 Problemas para conseguir concentrar;  Insônia;
 Tensão e nervosismo em excesso;  Respiração ofegante ou falta de ar;
 Medo constante;  Boca seca;
 Pensamentos Negativos;  Náusea e tensão muscular;
 Baixa Autoestima;  Disfunção Erétil;
 Irritabilidade.  Diarreia.

CAUSAS

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A ansiedade atinge milhares de pessoas, mas é perceptível que algumas pessoas estão
mais propensas a ter a ansiedade descontrolada do que outras e existem causas mais comuns
para esse desenvolvimento, entender essas causas podem ajudar a identificar os primeiros
sinais.
Existem fatores que estão envolvidos no desenvolvimento deste distúrbio
psicológico, conhecer esses fatores ou causas é importante para a prevenção e o tratamento
especifico no início, algumas dessas causas são:

 Genética e histórico familiar pode contribuir para o desenvolvimento da patologia;


 Momentos estressantes e traumáticos que as pessoas passam;
 Pessoas com problemas cardiovasculares;
 Doenças hormonais;
 Estresse que seja relacionado a problemas de doenças físicas;
 Excesso de substancias como álcool, cigarro e drogas ilícitas;
 A forma como a pessoa estrutura seus pensamentos e encara as situações em seu dia a dia.

TRATAMENTO
A ansiedade é um transtorno tratável e isso é possível através de um diagnóstico
médico, no qual é identificado o tipo de ansiedade que o paciente sofre. O tratamento
convencional, geralmente, é baseado na administração de medicamentos necessários para o
tipo do distúrbio que o paciente está desenvolvendo, ter alguns cuidados e hábitos saudáveis
pode ajudar a diminuir as crises e o agravamento de seus distúrbios.
Transtorno Obsessivo Compulsivo (TOC): Nesse distúrbio há manifestações de
obsessões ou pensamentos obsessivos e reações compulsivas. Obsessões são pensamentos
ou ideias persistentes que passam pela mente de um indivíduo, apesar de sua irracionalidade
e contra sua vontade. Exemplo: um indivíduo acha que tudo que toca está sujo e
contaminado. Compulsões impulsos indesejados intensos de realizar atos para se livrar da
ansiedade que a ideia obsessiva lhe causa. Exemplo: por achar que tudo que toca está sujo e
contaminado este indivíduo lava as mãos incessantemente a ponto de feri-las.
Esses sintomas duram de 20 a 30 minutos, chegando no máximo a uma hora, são tão
intensos que o indivíduo desenvolve medos irracionais (medo de ter medo) das situações em
que se encontrava no momento da crise, como por exemplo: no cinema, no trânsito, fazendo

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compras e começa a evitá-las. Durante as crises é comum o indivíduo procurar um serviço


de pronto atendimento, onde faz inúmeros exames e nada é detectado. Muitas vezes é tratado
como “piti”, “piripaque”, por desconhecimento de parte dos profissionais de saúde.
Transtorno Fóbico-Ansioso: Os pacientes fóbicos sentem-se ansiosos em resposta a
situações sociais (fobia social), objetos específicos, tais como cobras (fobia simples) ou
situações tais como ficar preso em um espaço reduzido (claustrofobia).
Agorafobia8 é um transtorno psicológico que está fortemente ligado a ataques de
pânico. Embora possa existir agorafobia sem uma história prévia de transtorno do pânico ou
ansiedade, o mais comum é que ambos caminhem juntos. Por esta razão, é necessário definir
os dois conceitos e nos situarmos em um quadro conceitual mais completo. Dessa forma, o
leitor entenderá melhor o que é a agorafobia.
As crises de angústia, também conhecidas na literatura científica como ataques de
pânico ou ansiedade, envolvem o aparecimento súbito, de forma isolada e temporária, de
medo ou mal-estar intensos. Geralmente é acompanhado por alguns sintomas característicos,
tanto fisiológicos (palpitações ou coração acelerado, sudorese, tremores, falta de ar ou
asfixia, aperto no peito, náusea ou desconforto abdominal, tonturas) como cognitivos
(sensação de irrealidade, também chamado de desrealização, alteração na percepção de si
mesmo ou despersonalização, acreditar que está perdendo o controle, que está
enlouquecendo ou que vai morrer).
Obviamente, quando você experimenta todas essas manifestações fisiológicas de
maneira repentina, o seu padrão de pensamento adquire um tom alarmista e você
experimenta uma dose ainda maior de medo. Dessa forma, estes sintomas iniciais de
ansiedade aumentam cada vez mais.

2.8 TRANSTORNOS DE HUMOR9

Depressão: As mesmas coisas que em outros tempos deixava a pessoa empolgada,


como por exemplo, viajar, comer num restaurante, podem perder a graça. A pessoa pode

8
Disponível em: < https://amenteemaravilhosa.com.br/agorafobia-sintomas-tratamentos/>
Acesso em: 07/01/2018
9
Disponível em: < http://www.marisapsicologa.com.br/depressao.html>
Acesso em: 07/01/2018

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perder o interesse, a vivacidade e se alguém a forçar a fazer alguma dessas coisas, ele até
vai, vai meio que arrastada, no final até gosta, até percebe que valeu a pena, mas não foi o
suficiente para deixá-la animada a fazer de novo.
Pensamentos da pessoa depressiva: nos quadros típicos de depressão, mesmo sem
ter grandes problemas, os pequenos são percebidos de uma forma mais intensa, e pode-se
sofrer tanto como se fossem eventos significativos.
Ajuda psicológica ou terapia pode fazer diferença na depressão.

SINTOMAS DA DEPRESSÃO:
 Alterações do apetite e do sono  Perda de energia e interesse
 Sentimento de pesar ou fracasso  Sensação de que nunca vai melhorar
 Dificuldade de tomar decisões  Dificuldade de terminar as tarefas
 Irritabilidade ou impaciência  Sentimento de pena de si mesmo
 Achar que não vale a pena viver  Pensamentos negativos e de culpa
 Chorar à-toa injustificáveis
 Dificuldade de concentração  Perda do desejo sexual

O episódio depressivo pode ser classificado em:

 Leve: dois dos sintomas a seguir, humor deprimido, perda de interesse (anedonia), falta de
energia e etc. O paciente não para suas funções completamente.
 Moderado: dois dos sintomas a seguir, humor depressivo, perda de interesse (anedonia),
falta de energia e mais três dos expostos anteriormente. O paciente apresenta dificuldade em
exercer suas funções.
 Grave: dois dos sintomas a seguir, humor deprimido, perda de interesse (anedonia), falta de
energia e pelo menos mais quatro dentre os expostos anteriormente, alguns em grande

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intensidade, mais considerável inquietação e agitação ou retardo psicomotor; as vezes com


sintomas psicóticos, como delírios e alucinações.

Medicação x depressão

Existe uma via de mão dupla quando ingerimos antidepressivos. Tomando o medicamento
antidepressivo pode haver mudanças nos sentimentos, ela pode mudar sua visão negativa e
passar a ter um olhar mais ameno sobre a vida. O interessante é que por conta da
psicoterapia os pensamentos também podem ser alterados, e com isso a química do seu
cérebro também muda. Ou seja, mudar os pensamentos pode possibilitar a mudança na
química interna.

Memória da pessoa depressiva


A memória da pessoa depressiva pode ser afetada, pode tender a lembrar com mais
intensidade dos eventos negativas, dos problemas não resolvidos.

Por que é tão comum encontrarmos pessoas depressivas hoje em dia?

A depressão não deve ser compreendida como um mal dos tempos modernos, é
preciso considerar que ela sempre, o que não existia era conhecimento suficiente para atestá-
la no campo da ciência.
O respeito pelo sofrimento mental é algo bem recente, mas ainda há muito por onde
caminhar. Uma das opções disponíveis poderia ser a psicanalise - psicanalista - para o
tratamento depressão.

Por que sofremos de depressão?

A explicação vem da evolução. O homem primitivo sobreviveu porque aprendeu


a observar com muita atenção os perigos. Ele acordava de madrugada para verificar se
estava tudo ok, se ao caminhar na mata ouvia um barulho diferente, parava e prestava

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atenção para ver se não seria algum predador. Ele tinha razão de ser assim, pois o desastre
estava ao lado. Nossos ancestrais precisaram dessa visão pessimista para sobreviver, como
por exemplo para criar a agricultura, pois percebeu que contar apenas com o que encontrava
nem sempre dava certo, precisava se proteger da fome e da morte. O homem primitivo
desenvolveu uma visão muito pessimista da vida, porque era necessário.

Comportamento depressivo

O depressivo pode ser passivo, indeciso e muitas vezes com tendências suicidas.
A morte pode ser um pensamento de opção de saída desse sofrimento. Muitas vezes a pessoa
só faz as coisas que são rotineiras, não inovam, não tentam nada diferente, e desiste de
continuar tentando com facilidade.

Condição física do depressivo

Pode haver sintomas físicos, que podem ficar mais intensos quanto mais severa
for a depressão. Por exemplo falta de apetite, não tem animo para sexo, não dorme, se sente
esgotado, etc.

Transtorno Afetivo Bipolar (TAB): É um transtorno no estado do humor do indivíduo, que


ocorre em dois polos: mania e depressão. Apesar da cronicidade do quadro a maior parte dos
indivíduos corretamente tratados atinge a estabilização do humor, o que permite uma vida
normal.
DIFERENÇAS CLÍNICAS ENTRE DEPRESSÃO E MANIA

SÍNDROME DEPRESSIVA SÍNDROME MANÍACA


Humor Deprimido, irritável ou ansioso (o Excitado, irritável ou hostil;
paciente pode, contudo sorrir ou Lágrimas momentâneas (como parte de um
negar alteração subjetiva no humor estado misto).
e, em vez disso queixar-se de dor ou

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outro sofrimento somático); Crises


de choro (o paciente pode
demonstrar incapacidade de sentir
emoções).
Manifestações Falta de autoconfiança; baixa auto- Auto-estima inflada; pretensão,
psicológicas estima; autorreprovação grandiosidade;
associadas Falta de concentração; indecisão;
Redução da gratificação; perda do Pensamentos que correm; associações
interesse por atividades habituais; reverberantes (novos pensamentos ativados
perda de vínculos pessoais; pelo som de palavras, não por seu
retraimento social; significado); distração.
Expectativas negativas; falta de Maior interesse por novas atividades,
esperanças; maior dependência; pessoas, empreendimentos criativos, maior
impotência; Pensamentos envolvimento com pessoas (que
recorrentes sobre suicídio e morte frequentemente se afastam, em virtude do
comportamento inconveniente e intrometido
do paciente); compras impulsivas;
indiscrições sexuais; investimentos
financeiros tolos.
Manifestações Lentificação psicomotora, fadiga e Aceleração psicomotora, eutonia (senso
somáticas agitação; aumentado de bem-estar físico);
Anorexia, perda ou ganho de peso; Possível perda de peso por atividade
Insônia ou hipersonia; aumentada e desatenção de hábitos
Irregularidades menstruais; nutricionais apropriados;
amenorréia; Necessidade de sono diminuída;
Anedonia; perda do desejo sexual. Maior desejo sexual.
Sintomas Delírios de inutilidade e pecado; Delírios grandiosos de talento excepcional;
psicóticos Delírios de referência e perseguição Delírios de plateia; delírios de referência e
Delírios de saúde debilitada perseguição; Delírios de aptidão física e
(niilistas, somáticos ou mental excepcional; Delírios de riqueza,

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hipocondríacos); ancestrais aristocráticos ou outra identidade


Delírios de pobreza grandiosa; Alucinações auditivas ou visuais
Alucinações depressivas nas esferas fugazes.
auditiva, visual (raramente) e
olfativa.
FONTE: Tabela extraída de Berkow R., ed: Merck. Manual, ed 15, p. 1518. Merck Sharp e Dohme Research
Laboratories, Ralway, NJ, 1987.

Estresse Pós-Traumático: Estado ansioso com expectativa recorrente de reviver


uma experiência que tenha sido muito traumática. Por exemplo, depois de ter sido assaltado,
ficar com medo de que ocorra de novo, ter medo de sair na rua, ter pesadelos, etc.
Geralmente após um evento traumático a ansiedade diminui logo no primeiro mês sem
maiores consequências. Porém, em alguns casos, os sintomas persistem por mais tempo ou
reaparecem depois de um tempo, levando a um estado denominado como Estresse Pós-
Traumático.

. TRANSTORNOS DE PERSONALIDADE

Personalidade é definida pela totalidade dos traços emocionais e de comportamento


de um indivíduo (caráter). Pode-se dizer que é o "jeitão" de ser da pessoa, o modo de sentir
as emoções ou o "jeitão" de agir.
Enquanto nossas avaliações informais de personalidade10 tendem a se concentrar mais
sobre os indivíduos, os psicólogos que estudam a personalidade usam concepções de
personalidade que podem ser aplicadas a todos. O estuda da personalidade tem levado ao
desenvolvimento de um número de teorias que ajudam a explicar como e por que certos
traços de personalidade são desenvolvidos.
Embora existam muitas teorias de personalidade, o primeiro passo é entender
exatamente o que se entende pelo termo personalidade. A própria palavra personalidade

10
Disponível em: http://www.marisapsicologa.com.br/transtornos-de-personalidade.html

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decorre da persona palavra latina, que se refere a uma máscara teatral usada por artistas, a
fim de desempenhar papéis diferentes ou disfarçar as suas identidades.
Uma breve definição seria que a personalidade é composta de padrões característicos
de pensamentos, sentimentos e comportamentos que tornam uma pessoa única. Atrelados as
tais características pode-se considerar que, a personalidade surge dentro do indivíduo e
permanece razoavelmente consistente ao longo da sua vida.
"Personalidade refere-se a padrões característicos dos indivíduos quanto ao
pensamento, emoção e comportamento, juntamente com os mecanismos psicológicos”
Um transtorno de personalidade aparece quando esses traços são muito inflexíveis e
mal ajustados, ou seja, prejudicam a adaptação do indivíduo às situações que enfrenta,
causando a ele próprio, ou mais comumente aos que lhe estão próximos, sofrimento e
incomodação. Geralmente esses indivíduos são pouco motivados para tratamento, uma vez
que os traços de caráter pouco geram sofrimento para si mesmos, mas perturbam suas
relações com outras pessoas, fazendo com que amigos e familiares aconselhem o tratamento.
Geralmente aparecem no início da idade adulta e se instalam pela vida toda se não tratados.
As causas destes transtornos geralmente são múltiplas, e geralmente estão associadas
com as vivências infantis e as da adolescência do indivíduo.
O tratamento desses transtornos é bastante difícil e igualmente demorado, pois em se
tratando de mudanças de caráter, o indivíduo terá de ampliar o seu próprio "jeito de ser" para
que o tratamento seja efetivo

2.9 PSICOSES

A esquizofrenia é considerada um dos mais graves transtornos mentais. Na


perspectiva do senso comum, entende-se como esquizofrênico a pessoa popularmente
conhecida como louca, ou seja, a que é tomada pela loucura. Os sinais e sintomas que
podem servir de alerta atendem aos seguintes elementos.
 Funcionamento geral prejudicado: o nível de funcionamento do paciente declina ou não
atinge o nível esperado.
 Conteúdo de pensamento anormal: Delírios, ideias de referência, pobreza no conteúdo.
 Percepção distorcida: Alucinações visuais, olfativas, táteis e mais frequentemente auditivas.

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 Forma do pensamento ilógica: Descarrilamento, ecolalia, afrouxamento de associações.


 Afeto alterado: Embotamento, tolo, instável e inadequado.
 Consciência de si próprio afetada: Perda dos limites do ego, confusão quanto ao gênero,
incapacidade de distinguir entre a realidade interna e a realidade externa.
 Volição alterada: Impulso ou motivação inadequados e acentuada ambivalência.
 Funcionamento interpessoal prejudicado: Retraimento social e distanciamento emocional,
agressividade, inconveniência sexual.
 Alteração do comportamento psicomotor:
 Agitação versos retraimento, caretas, posturas, rituais e catatonia.
 Senso-percepção: por exemplo, orientação intacta para tempo, local e pessoa, memória
intacta e concretismo.
Os tipos de esquizofrenia e suas características são entendidas, como:

 Paranoide: Preocupação com delírios sistematizados ou com alucinações auditivas


frequentes a um único tema.
 Hebefrênica: Idéias delirantes, pensamento desorganizado e discurso incoerente, isolamento
social e embotamento afetivo.
 Catatônica: Estupor ou mutismo, negativismo, rigidez muscular, excitação sem propósito,
obediência automática e negativismo,
 Indiferenciada: Delírios, alucinações e incoerência proeminentes ou comportamento
amplamente desorganizado.
 Residual: Lentidão psicomotora, hipoatividade, passividade e falta de iniciativa, pobreza do
discurso, pouca comunicação não verbal, falta de cuidados pessoais e desempenho social
medíocre.

ASPECTOS INDICADORES DE BOM E MAU PROGNÓSTICO NA ESQUIZOFRENIA

BOM PROGNÓSTICO MAU PROGNÓSTICO


Início tardio Início na juventude
Fatores desencadeantes evidentes Ausência de fatores desencadeantes

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Início agudo Início insidioso


Boa história social, sexual, e Fraca história social, sexual, e
ocupacional pré-mórbida; ocupacional pré-mórbida;
Sintomas de transtorno de humor Comportamento retraído e autista
(especialmente de transtornos
depressivos);
Casado; Solteiro, divorciado ou viúvo;
Histórico familiar de transtornos de Histórico familiar de esquizofrenia;
humor;
Bons sistemas de apoio (CAPS); Fracos sistemas de apoio (ausência
de CAPS);
Sintomas positivos (alucinações Sintomas negativos;
visuais e auditivas, agressividade,
agitação psicomotora, etc.)
Sinais e sintomas neurológicos;
História de trauma perinatal;
Ausência de remissões em três anos;
Muitas recaídas;
História de agressividade.

2.10 SUICÍDIO

O suicídio é o comportamento de autoextermínio, ou seja, é quando o indivíduo tira


sua própria vida. Para que o ato seja consumado, os aspectos psicofisiológicos são elementos
preponderantes, afinal, há nível baixo de produção de serotonina e dopamina, o que faz com
que a pessoa não encontre motivação para qualquer atividade diária, e tampouco sentido
para a vida. Na maioria das vezes, a depressão, o transtorno bipolar e o transtorno de
personalidade limítrofe (popularmente conhecido como borderline) são as doenças mentais
mais associadas ao suicídio.

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A detecção precoce e o tratamento apropriado dessas condições são importantes na


sua prevenção. Vale ressaltar, que a maioria das pessoas com ideação de morte verbaliza
seus pensamentos quanto o planejamento da execução.
É de grande valia estar atento e considerar as falas de uma pessoa com ideação
suicida, uma vez que, os sentimentos oscilam consideravelmente. Os sentimentos mais
comuns que circundam uma pessoa com desejo de se matar. São estes: Depressão,
Desesperança, Desamparo e Desespero (popularmente conhecida como regra dos quatro D).
Nestes casos, frase de alerta mais a regra dos quatro D, direcionam para o risco de suicídio.

FRASES DE ALERTA

“EU PRECISO ESTAR MORTO”


“EU NÃO POSSO FAZER NADA”
“EU NÃO AGUENTO MAIS”
“EU SOU UM PERDEDOR E UM PESO PARA AS PESSOAS”
“OS OUTROS VÃO SER MAIS FELIZES SEM MIM”.

O contato inicial é muito importante seu objetivo é preencher uma lacuna criada pela
desconfiança, desespero e pela perda da esperança e dar a pessoa a esperança de que as
coisas podem mudar para melhor.
Uma abordagem calma, aberta, de aceitação e de não julgamento é fundamental para
facilitar a comunicação.

OUÇA COM CORDIALIDADE;

TRATE COM RESPEITO;

EMPATIA COM AS EMOÇÕES;

CUIDADO COM O SIGILO.

ENCAMINHANDO O PACIENTE COM RISCO DE SUICÍDIO

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 O profissional deve ter tempo para explicar a pessoa a razão do encaminhamento para uma
Unidade de Saúde/CAPS;
 Marcar a consulta;
 Esclarecer a pessoa de que o encaminhamento não significa que o profissional da saúde está
lavando as mãos em relação ao problema;
 Acompanhamento do paciente depois da consulta;
 Obter uma contra referência do atendimento;
 Manter o contato periódico.

Recursos da comunidade: em busca de dar suporte para a pessoa que tem a


ideação suicida e de encabeçar a luta no combate ao suicídio, se faz necessário uma rede de
apoio para que isto aconteça e flua consideravelmente, deixando de lado quaisquer juízos de
valor e preconceito com a questão. Essa rede pode e deve ser composta pelos seguintes
colaboradores:
 Padres/Pastores/Líderes Religiosos;
 Família;  Profissionais de Saúde;
 Companheiros/namorados;  Grupo de apoio, ex: Centro de
 Amigos; Valorização da vida (CVV).
 Colegas;

Quando uma pessoa (paciente) está com risco iminente de cometer suicídio, é indicado
que o agente ou profissional de saude mais próximo possam realizar as etapas descritas logo
abaixo:

 Tente conseguir permissão do paciente para recrutar quem possa ajudá-lo, em geral alguém
de sua confiança, e depois entrar em contato com essas pessoas.
 Mesmo que se a permissão não seja dada, em uma situação de risco importante, localizar
alguém que seria particularmente compreensivo com o paciente. Procurar dentro do
possível, preservar o sigilo do paciente.

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 Falar com o paciente explicar que algumas vezes é mais fácil falar com um estranho do que
com uma pessoa amada, para que ele ou ela não se sinta negligenciado ou ferido.
 Falar com pessoas de apoio sem acusá-las ou fazê-las sentirem-se culpadas.
 Assegurar novamente seu apoio nas ações que serão tomadas.
 Ficar atento também às necessidades dos que se propuseram a ajudar.

2.11 AGITAÇÃO PSICOMOTORA

As emergências psiquiátricas consistem de duas situações principais: as tentativas de


suicídio e a agitação psicomotora. Será exposto neste item, os principais quadros de agitação
psicomotora: sua avaliação e conduta ao paciente agressivo que, não raramente, chega à
emergência.
O comportamento agressivo pode ser definido como aquele que conduz ou ameaça
conduzir algum dano físico em pessoas ou objetos e a si próprio. Este, é determinado pela
interação de múltiplos fatores sociais, psicológicos e biológicos. Identificados geralmente
em:
.
 Homem;  História prévia de atos violentos;
 Jovem (15 a 30 anos);  Vítima de violência na infância;
 Baixo nível socioeconômico;  Usuário de drogas
 Desempregado;

A conduta diante da agitação motora compreende os seguintes elementos:


Manejo Verbal
Independente do diagnóstico, a violência representa, muitas vezes, um
movimento defensivo contra sentimentos intoleráveis de fragilidade e desproteção.
Assim, o tratamento mais efetivo é a intervenção verbal.
O médico deve ter atitude calma, respeitosa e direta, tratando o paciente com
honestidade e dignidade, ou seja, um comportamento assertivo. A comunicação deve
transmitir um desejo consistente e ético de auxiliá-lo.

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O paciente quando agressivo deve ser estimulado a falar de seus sentimentos,


mas deve estar esclarecido de que seus atos agressivos não serão aceitos e de que o
entrevistador tem meios de contê-los. É extremamente importante que isto não seja dito
em tom desafiador, pois pode acalorar a situação. Caso a intervenção verbal não seja
suficiente, adota-se outras formas de conduta.

Contenção Mecânica
Não deve ser encarada como um procedimento isolado, apenas para "se livrar "
do paciente. Sua maior importância é propiciar segurança à equipe médica e ao próprio
paciente. Além disso, com a contenção é mais fácil obter-se dados da história e estado
mental que permitam uma conduta mais adequada.
Recomendações que auxiliam no procedimento da contenção mecânica:

 Durante todo o procedimento, o paciente sempre deve ser esclarecido sobre o que está
sendo feito, o motivo e o caráter não-punitivo (mesmo que esteja psicótico); O médico é
a pessoa mais indicada para informá-lo e pode dizer, por exemplo: "Você está sendo
contido para não causar danos aos outros nem a si próprio".
 O ideal é o envolvimento de 5 pessoas, sendo uma que coordena e fala com o paciente;
 As faixas de contenção devem ser de material resistente, como o couro;
 A posição de decúbito lateral, com a cabeça levemente elevada é a mais indicada;
 O paciente deve ser observado, tanto em relação à segurança e conforto da contenção
quanto a outros parâmetros, como sinais vitais e nível de consciência.
 É importante lembrar-se da importância dos relatos de acompanhantes e principalmente
familiares na complementação da história colhida com o paciente. Além disso, deve
estar claro a todos o fato de que o paciente violento necessita de um acompanhamento
cuidadoso e que o tratamento adequado não se limita às medidas tomadas na
Emergência
Em grande parte dos casos, a reação do paciente é, ao fim do tratamento, de
gratidão, ao se dar conta de que foi impedido de atos destrutivos.

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Comportamento Agressivo
O comportamento agressivo nunca é normal. Se um ato agressivo ocorreu
isoladamente, se faz necessário examinar o contexto em que ele aconteceu. Em
momentos de tensão, estresse, ameaça à vida, o ser humano pode reagir em resposta ao
risco iminente sentido. Essa resposta reflexa é determinada geneticamente e
desencadeada neurologicamente por uma estrutura nervosa, chamada amigdala
cerebral.
Ao contrário do ato agressivo único, o comportamento agressivo é um conjunto
de ações repetidas no decorrer do tempo e indica um sintoma de algum transtorno
psiquiátrico. Mesmo quando o ato agressivo acontece de forma isolada deve ser
elucidado à luz da avaliação psiquiátrica, porque pode ser um indício de doença mental
encoberta.
É preciso desmistificar que o doente mental é o mais agressivo que a população
em geral. Mesmo que os meios de comunicação mostrem casos de esquizofrênicos que
matam pessoas, esses casos são a exceção, não a regra.
A maioria das situações envolvendo comportamento agressivo ou violento está
em outros domínios classificatórios, como usar da força para obter ganhos materiais,
status, o prazer sádico, vingança ou mesmo afirmação de algum dogmatismo ou
fundamentalismo religioso ou político. Esse domínio engloba pessoas com
características antissociais.
Outro ponto importante de ser destacado quanto ao comportamento agressivo
está dentro do domínio de doença mental tratável, esse comportamento raramente isenta
o infrator da sua responsabilidade criminal, exceção feita às doenças psicóticas que
comprometem o juízo crítico do portador, por incapacitá-lo de enxergar a realidade.
O uso de substâncias é de longe a causa mais frequente de comportamento
agressivo. O comportamento agressivo pode ocorrer transitoriamente em quadros
orgânicos, quando há uma oscilação de consciência, por desequilíbrio metabólico, o que
ocorre em pessoas internadas por diferentes doenças físicas. O nome dado a esse quadro
de flutuação de consciência e rebaixamento do controle dos impulsos é Delirium. Outra
causa de agressividade é a demência que, por haver uma perda das funções cognitivas,

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implica na avaliação dos próprios atos.


Se a causa for produzida por alguma doença clínica de ordem médica geral,
devemos tratar a doença básica e excluir outras possíveis patologias psiquiátricas. Não
menos frequentes estão outras doenças psiquiátricas percentualmente menos comuns
como o transtorno de controle de impulsos, transtorno de ajustamento, transtorno de
estresse agudo, transtorno explosivo intermitente e bullying entre os estudantes.

2.12 SENSOPERCEPÇÃO

A sensação é o ponto de partida para todo ato de perceber. Sob a forma de


sensações nossa sensibilidade transporta à esfera consciente as impressões que nos
chegam. Para que a percepção se dê é necessário que o estímulo seja dotado de certa
carga afetiva potencial, onde a partir do ato perceptivo são criadas imagens
representativas mentais do objeto.

Quando a sensopercepção está alterada, pode ocasionar os seguintes aspectos


(quantitativos):

 AGNOSIA: o indivíduo não consegue identificar as impressões sensoriais que recebe;


 ANESTESIA: ausência de percepção;
 HIPERESTESIA: estímulos captados de forma exagerada;
 HIPOESTESIA: estímulos captados de forma diminuída.
Quando a sensopercepção está alterada, pode ocasionar os seguintes aspectos
(qualitativos):
 TROCA: mudança de uma sensação comum por outra, em geral desagradável.
 SINESTESIA: troca da qualidade sensorial por outra. Ver sons ou ouvir cores.
 DESREALIZAÇÃO: estranheza em relação ao mundo.
 DESPERSONALIZAÇÃO: estranheza de si próprio.
 PAREIDOLIAS: percepções fantásticas em um objeto real (imagens de animais quando
se olha para as nuvens, mas o observador sabe que o objeto observado é uma nuvem);

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 ILUSÕES: percepções deformadas do objeto real momentaneamente aceita pelo


juízo de realidade.
 ALUCINAÇÕES: aparecimento de uma imagem na consciência sem um objeto real
(imagem alucinatória), com as características de uma imagem perceptiva real e por isso
aceita pelo juízo de realidade:
Alucinações Visuais: podem ser elementares (fagulhas, clarões), diferenciadas (figuras,
visões);
Alucinações auditivas: são as mais comuns, podem ser elementares (zumbidos,
estalidos) e diferenciadas (vozes). Na esquizofrenia as vozes se dirigem ao paciente
(primeira pessoa) e na alucinose alcoólica falam dele (terceira pessoa).
Alucinações olfativas e gustativas: são raras e quase sempre associadas, consistem em
cheiros desagradáveis (gás, lixo, animais mortos).
Alucinações táteis: formigamento, picadas, queimaduras, animais repugnantes,
relacionadas ao uso de cocaína e anfetaminas.
Alucinações cenestésicas: relacionadas a sensibilidade visceral. Por exemplo, o paciente
diz que seu intestino está amolecendo e apodrecendo.
Alucinações sinestésicas: fusão e troca de duas imagens de qualidades sensoriais
diferentes. Por exemplo, ver a cor do som.
Alucinações cinestésicas: relacionada aos movimentos.
Alucinações hipnagógicas (ocorre ao adormecer) e hipnopômpicas (ao acordar). Não
significam doença, pois podem ocorrer em indivíduos sem doenças psiquiátricas.
Pseudo-alucinações: não possui projeção no espaço e nem corporeidade. Surge como
vozes internas ou imagens internas e podem ocorrer nas mesmas situações das
alucinações.
Alucinoses: possuem projeção no espaço externo e ocorre certa estranheza do paciente
quando ao fenômeno perceptivo ocorrido, podem surgir no rebaixamento do nível de
consciência e em lesões pedunculares e occipitais, assim como no alcoolismo (por
exemplo: alucinose alcoólica).

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2.13 MEMÓRIA

Capacidade ou propriedade psíquica de fixar, conservar e reproduzir, evocar ou


representar, sob a forma de imagens representativas ou mnêmicas, impressões sensoriais
recebidas, transmitidas e conscientizadas sob a forma de sensações.
TIPOS DE MEMÓRIA
 Memória imediata: desaparece facilmente caso o acontecimento não apresente
conotação afetiva ou outro tipo de importância.
 Memória de fixação: guarda fatos ocorridos nos últimos dias ou semanas.
 Memória de evocação: relacionada aos dados mais antigos da vida do paciente.

Hipermnésia
Ocorre Hipermnésia quando lembranças casuais são evocadas com mais
vivacidade e exatidão que normalmente, ou quando se recordam particularidades que
comumente não surgem na consciência
.
Hipomnésia e Amnésia
A Hipomnésia e a Amnésia podem ser consideradas como graus de hipofunção
da memória, ou seja, são diminuições do número de lembranças evocáveis. A
“Amnésia, por sua vez, seria a desaparição completa das representações mnêmicas
correspondentes a um determinado tempo da vida do indivíduo".

2.14 ALTERAÇÕES DO PENSAMENTO

Trata-se, o pensamento, de uma operação mental que nos permite aproveitar os


conhecimentos adquiridos na da vida social e cultural, combiná-los logicamente e
alcançar outra nova forma de conhecimento. Todo esse processo começa com a
sensação e termina com o raciocínio dialético, onde uma idéia se associa a outra e, desta
união de ideias nasce um a terceira. Os pensamentos quando não coadunam com a
realidade, ou até mesmo, não a leva em consideração, implicam-se em ideias que
quando negligenciadas acarretam em possíveis transtornos, sendo estas as:

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Ideias supervalorizadas
As ideias podem conter uma sobrevalorização ou superestima, caracterizando
assim aquilo que leigamente conhecemos por fanatismo. Com o passar do tempo toda a
personalidade passa a ser absorvida pela Idéia Supervalorizada, a qual passa a exigir que
se coloque à sua disposição todo comportamento do indivíduo. Esta pessoa, por sua vez,
será insuflada até o limite de verdadeiras façanhas ou atitudes heroicas, quando não,
poderá ser protagonista de tragédias monumentais. Encontramos o fanatismo presente
em variadas figuras de nosso mundo cultural, em heróis épicos, em líderes religiosos e
políticos, em personalidades carismáticas (como líderes religiosos, promovedores de
suicídios coletivos).
De modo geral, as ideias superestimadas exercem uma influência danosa sobre
o pensamento, orientando-o de maneira inflexível em determinada direção, podendo ser
consideradas patológicas quando estão em francas oposições ao ambiente e à lógica
comum à todos e adquirem esse caráter francamente patológico quando impulsionam a
conduta do indivíduo também por caminhos contrários à lógica e à razão. A diferença
entre essas ideias e as ideias delirantes é que nas supervalorizadas, faltam as
características principais dos delírios, tais como a certeza subjetiva, a impossibilidade
de influência e de conteúdo e o fato de não serem totalmente estranhas ao eu como
ocorre no delírio.

Ideias obsessivas
A intromissão indesejável de um pensamento no campo da consciência de
maneira insistente e repetitiva, reconhecido pelo indivíduo como um fenômeno
incômodo e absurdo, é denominado de Pensamento Obsessivo. Portanto, para que
seja obsessão é necessário o aspecto involuntário das ideias, bem como, o
reconhecimento de sua conotação ilógica pelo próprio paciente, ou seja, ele deve ter
crítica sobre o aspecto irreal e absurdo desta idéia indesejável.
Ainda que o fenômeno obsessivo seja distinto do fenômeno fóbico, é sempre
bom ter em mente que ambos podem ser faces distintas de uma mesma moeda ou, o que

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mais provavelmente poderia ser a fobia originando obsessão e vice-versa

2.15 DELÍRIOS

Delírio: compreende o juízo patologicamente falseado e pode ser apresentado


pelas seguintes características:

 Uma convicção subjetivamente irremovível e uma crença absolutamente inabalável;


 Impenetrabilidade e incompreensibilidade psicológica para o indivíduo normal, bem
como, impossibilidade de sujeitar-se às influências de correções quaisquer, seja através
da experiência ou da argumentação lógica e;
 Impossibilidade de conteúdo (da realidade).

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MÓDULO II
PSICOPATOLOGIAS NOS DIFERENTES CICLOS VITAIS: MATERNO ,
INFANTIL;
PSICOPATOLOGIAS NOS DIFERENTES CICLOS VITAIS: ADOLESCENTE,
ADULTO, IDOSO;
PRINCÍPIOS GERAIS DA PSICOFARMACOLOGIA.

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3. PSICOPATOLOGIAS NOS DIFERENTES CICLOS VITAIS

3.1 GESTAÇÃO

A literatura não sustenta a idéia de que a gravidez seja de alguma forma


protetora no que se refere à doença mental. As evidencias sugerem aumento da
vulnerabilidade para algumas doenças psiquiátricas que acometem as mulheres neste
período, tais como as doenças afetivas, os transtornos ansiosos (especialmente
transtorno obsessivo - compulsivo), os transtornos alimentares e os transtornos
psicóticos. Este quadro contraria o senso comum que tradicionalmente considera a
gravidez um período de bem-estar emocional da mulher.

Depressão na gestação

O transtorno mental mais freqüente na gestação é o transtorno depressivo.


Estudos prospectivos recentes indicam que entre 10% a 20% das gestantes apresentam
diagnóstico de depressão (pico no primeiro e terceiro trimestre), mas apenas uma em
cada cinco gestantes deprimidas procura algum tratamento (medicamentoso,
psicoterápico ou aconselhamento). Os autores apontam que o estigma da depressão na
gravidez evita que as gestantes procurem ajuda neste período e o próprio
desconhecimento acerca das sintomatologias afetam o seu diagnóstico e,
consequentemente, o tratamento.
Vários estudos têm demonstrado que a depressão e a ansiedade em si podem
comprometer a evolução da gestação e o desenvolvimento do feto. A doença afeta a
capacidade da mulher de seguir os cuidados pré-natais e de evitar comportamentos
prejudiciais.

Riscos para as Gestantes de Depressão e de Ansiedade Não tratadas


Pior aderência às orientações perinatais – nutrição, sono e exercícios físicos
Aumento do risco de abortamento espontâneo

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Aumento do risco de pré-eclampsia


Aumento à exposição às drogas como álcool, nicotina e drogas ilícitas
Aumento de comportamentos de autoagressão e suicidas
Aumento do risco de depressão pós-parto

Riscos para o Desenvolvimento Fetal da Depressão e da Ansiedade Maternas Não


tratadas
Aumento do risco de prematuridade (< 37 semanas)
Aumento do risco de recém-nascido de baixo peso (< 2.500 g.) e de circunferência
craniana menor
Escores mais baixos do APGAR
Cuidados perinatais deficientes

Maiores riscos de lesões infligidas pela mãe ao concepto por desorganização,


impulsividade ou agressividade
Bebês olham menos para as mães, apresentam maior reatividade fisiológica e menos
vocalização.
Pior desenvolvimento em testes comportamentais (um ano de idade)
Atraso do desenvolvimento emocional, cognitivo e da linguagem
Crianças com maior incidência de transtornos de ajustamento e depressão.

A depressão materna pode também apresentar um impacto significativo na


unidade familiar e suas relações. A doença está tipicamente associada às dificuldades
interpessoais e a prejuízos na interação mãe-bebê – o comprometimento desse vínculo
afetivo pode ter impacto profundo no desenvolvimento infantil.

Manejo da depressão na gestação

A gravidade da doença materna representa o parâmetro mais relevante para as


decisões clínicas que devem ser tomadas em conjunto com a paciente, seu parceiro e o

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obstetra, sempre que possível. A história psiquiátrica, os sintomas atuais e a atitude da


paciente frente ao uso da medicação durante a gestação devem ser avaliados.
Qualquer decisão em continuar ou iniciar o tratamento durante a gestação deve
refletir a avaliação dos seguintes riscos:

 Risco do feto à exposição ao medicamento;


 Risco da doença não tratada para a mãe e para o feto;
 Risco de recaída associado à retirada de um tratamento de manutenção.

Idealmente, as decisões quanto ao uso de medicações psicotrópicas durante a


gestação devem ser feitas antes da concepção. Em pacientes com depressão leve, a
retirada da droga antes da gravidez pode ser considerada. A Psicoterapia pode ser usada
antes da concepção para facilitar a diminuição gradual e a posterior retirada da droga e o
manejo de eventuais sintomas. Destaca-se que a paciente deve ser observada durante
toda a gestação.
Para os casos de depressão recorrente ou refratária, a paciente e o médico podem
decidir qual a melhor opção, seja manter o antidepressivo ou mudá-lo. Nesta situação, o
melhor é manter o antidepressivo que tenha mais informação de segurança na gestação
(por exemplo, mudar de mirtazapina para fluoxetina). Em pacientes quem respondem a
um determinado antidepressivo, este deve ser mantido, mesmo com pouca informação
disponível.
Mudanças no volume plasmático, aumento do metabolismo hepático e do
clearence renal durante a gestação podem afetar o nível da droga. Muitas vezes é
necessário aumentar a dose do antidepressivo ao longo da gestação (especialmente no
terceiro trimestre). Salienta-se sempre da necessidade do acompanhamento médico
durante todo o período da gestação e pós-parto para uma constante avaliação da
evolução do tratamento.

Transtorno afetivo bipolar (TAB)

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A doença poderá se desenvolver usualmente na adolescência ou no começo da


vida adulta das mulheres, ou seja, nos início de sua vida reprodutiva. O pós-parto é um
período de alto risco para o início ou a piora do transtorno afetivo bipolar. Segundo
dados da Organização Mundial da Saúde (OMS), o Transtorno do Humor Bipolar
(THB) ocupa a sexta posição entre as condições mais incapacitantes entre os 15 e 44
anos de idade. A maioria das drogas prescritas para o transtorno bipolar estão
associadas ao aumento do risco relativo de malformações congênitas, mas as pacientes
que interrompem a medicação têm um alto risco de recaída de um episódio depressivo
ou maníaco, principalmente quando realizada de maneira abrupta. Durante o período
puerperal, a taxa de recaída é ainda maior, chegando de 50% a 70%, segundo algumas
estimativas.11
As pacientes interrompem seu tratamento muito em função de estarem
preocupadas com possíveis malformações congênitas, mas frequentemente não sabem
que a doença, por si só, pode causar dano ao bebê (inclusive de malformações, como
microcefalia, e desfechos obstétricos, como hipoglicemia neonatal, nascimento
prematuro e baixo peso ao nascer, aumento de risco de terem comprometimento
cognitivo, prejuízos no funcionamento social, emocional e comportamental, além de
desenvolverem transtornos mentais graves. Mulheres com THB, tanto as em tratamento
quanto as que o interrompem, tendem a ter mais comportamentos não-saudáveis.
Achados como sobrepeso, tabagismo, abuso de álcool e outras substâncias são mais
frequentes que em mulheres não-bipolares, e esses dados, em conjunto, conferem aos
transtornos mentais maternos graves, como o transtorno bipolar, o status de “condição
teratogênica”.
O primeiro episódio de TB em uma paciente tende a ter o maior risco de
acontecer no pós-parto e recaída é comum. Mesmo pacientes estáveis desestabilizam no
pós-parto. Portanto, o planejamento gestacional idealmente começa assim que é feito o
diagnóstico deste transtorno.

11
Partes em itálicos retiradas do artigo: “Quando a gestação e a bipolaridade da paciente se tornam
realidade”. Disponível em: http://www.abp.org.br/download/revista_debates_14_web_.pdf

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3.2 PUERPÉRIO

O puerpério pode ser definido como o período que decorre desde o parto até que
os órgãos genitais e o estado geral da mulher voltem às condições anteriores à gestação.
Além das alterações biológicas, a transição para a maternidade é marcada por mudanças
psicológicas e sociais. No puerpério há necessidade de reorganização social e adaptação
a um novo papel, a mulher tem um súbito aumento de responsabilidade por se tornar
referência de uma pessoa indefesa, sofre privação de sono e isolamento social.
Dentre todas as fases da vida da mulher, o pós-parto é o período de maior
vulnerabilidade para o aparecimento de transtornos psiquiátricos.12 Mulheres com
história prévia de transtorno de humor ou que tiveram depressão durante a gestação são
aquelas com o maior risco para os quadros sintomáticos puerperais.
Apesar de não serem reconhecidas como entidades distintas nos sistemas
classificatórios atuais, a disforia puerperal, a depressão pós-parto e a psicose pós-parto
têm sido consideradas transtornos relacionados ao pós-parto.

Disforia Puerperal

Disforia puerperal é considerada a forma mais leve dos quadros depressivos


puerperais e pode ser identificada em até 85% das puérperas. As pacientes relatam
labilidade emocional, choro fácil, ansiedade, insônia, irritabilidade e sentimentos de
inadequação, que geralmente começam nos primeiros dias do parto e pode persistir por
mais tempo, levando a um quadro depressivo mais grave. Algumas mulheres podem
apresentar sentimentos de estranheza e despersonalização e outras podem apresentar
elação (arrogância). Normalmente, mulheres com disforia pós-parto não necessitam de
intervenção farmacológica. A abordagem é feita no sentido de manter suporte
emocional adequado, compreensão e auxílio nos cuidados com o bebê.

12
Disponível em: https://temosquefalarsobreisso.wordpress.com/2015/05/23/transtornos-psiquiatricos-no-
pos-parto/

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Depressão Pós-parto (DPP)

A maioria dos pesquisadores do assunto utiliza o termo depressão pós-parto


(DPP) para designar qualquer episódio depressivo que ocorra nos meses que se seguem
ao nascimento do bebê, havendo estudos que consideram dois meses, três meses, seis
meses, e até um ano. Geralmente, o quadro inicia-se entre duas semanas até três meses
após o parto, pode ser observado tais sintomas: humor deprimido, perda de prazer e
interesse nas atividades, alteração de peso e/ou apetite, alteração de sono, agitação ou
retardo psicomotor, sensação de fadiga, sentimento de inutilidade ou culpa, dificuldade
para concentrar-se ou tomar decisões e até pensamentos de morte ou suicídio.
No quadro clínico da depressão nessa época da vida são observadas algumas
peculiaridades, dentre elas a alta probabilidade de comorbidade com sintomas ansiosos
e obsessivo-compulsivos. As mulheres com DPP têm mais chance de apresentar
episódios depressivos posteriormente e principalmente novos episódios de DPP.
Depressão puerperal não tratada leva ao comprometimento dos cuidados com o
recém-nascido e do vínculo afetivo mãe/bebê, o que interefere o desenvolvimento
cognitivo e emocional da criança, além de aumentar o risco de suicídio materno e de
cronificação da depressão. Apenas uma minoria procura tratamento. Isto se deve à
desinformação da paciente, dos familiares e dos médicos, que interpretam as queixas
como normais dentro de um período de obrigações com o recém-nascido.

Psicose puerperal

O ciclo gravídico puerperal representa um momento potencial de risco para a


manifestação de alterações emocionais na mulher e que pode resultar, em alguns casos,
na maior vulnerabilidade para apresentar um transtorno mental nesse período. Temos
como exemplo os transtornos de ansiedade e de depressão pós-parto, que são
frequentemente apresentados na mídia.13

13
Diposnível em: https://temosquefalarsobreisso.wordpress.com/2016/09/29/psicose-puerperal-um-grave-
transtorno-mental-do-pos-parto/

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Psicose é um distúrbio grave da personalidade em que o funcionamento mental é


alterado de tal forma que a pessoa frequentemente não consegue responder às
necessidades da vida cotidiana. O aspecto central da psicose é a perda do contato com a
realidade, confusão mental, delírios, alucinações que dependendo da intensidade da
psicose, o momento poderá ser de maior ou menor intensidade.
A mulher com psicose puerperal deve fazer uso de psicofarmacos indicados por
seu psiquiatra, sendo algumas vezes necessária, principalmente nos casos mais severos,
a internação psiquiátrica da mulher. O transtorno por sua gravidade pode afetar a
relação mãe-bebê, além da relação conjugal. Em geral, o quadro tem início nas duas
primeiras semanas após o parto e na maioria das vezes os delírios podem envolver os
seus filhos, com pensamentos de causar-lhes algum tipo de dano. O infanticídio pode
ocorrer em casos extremos, em geral a mulher relata escutar vozes que comandam a sua
ação.
O transtorno é raro, mas é preciso que parceiro(a) e familiares da puérpera fiquem
atentos a qualquer sinal de que a mulher possa estar sofrendo desse transtorno.
Geralmente, as pessoas acabam na maioria das vezes não compreendendo o
comportamento diferente da mulher no pós-parto e acabam por não ajudá-la, mas sim
criticam-na, o que piora a situação. A psicose puerperal é uma doença grave e que
precisa de tratamento imediato, além de todo apoio familiar e social.

Orientações Gerais: Transtornos Mentais na Gestação e Lactação


1. Planejar a gestação, sempre que possível, com a paciente em remissão
2. Estimular comportamentos saudáveis; aderência ao pré-natal, uso de vitaminas (ácido
fólico), dieta saudável, exercícios e cursos pré-natais.
3. Usar psicofármacos com mais informações de segurança na gestação e na lactação
4. Preferir a monoterapia, sempre que possível. Por exemplo, numa paciente com
depressão e insônia importante, usar um antidepressivo sedativo em vez de um

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antidepressivo e um benzodiazepínico.
5. Usar a dose adequada. É freqüente a dose ser reduzida durante a gestação, na tentativa
de limitar o risco para o feto; no entanto, isto pode aumentar o risco de recaída. Muitas
vezes é necessário aumentar a dose da medicação ao longo da gestação (especialmente
no terceiro trimestre), reduzindo-a aos níveis pré - gravídicos no pós-parto.
6. Não retirar a medicação semanas antes do parto para evitar os sintomas perinatais.
Manter a dose mínima eficaz neste período, orientando o obstetra e o pediatra sobre os
possíveis sintomas perinatais.
7. Monitorar possíveis malformações com ultrassonografia.
8. Planejar a amamentação durante a gestação
9. Utilizar o eletroconvulsoterapia em casos graves, com presença de ideação suicida ou
com sintomas psicóticos.

3.3 Transtornos mentais na infância e adolescência

A literatura científica nos últimos anos tem contribuído para a identificação dos
possíveis fatores associados à ocorrência de transtornos mentais na infância e
adolescencia, os quais podem ser agrupados em: fatores biológicos, relacionados a
anormalidades do sistema nervoso central, causadas por lesões, infecções, desnutrição
ou exposição a toxinas; fatores genéticos, relacionados à história familiar de transtorno
mental; fatores psicossociais, relacionados a disfunções na vida familiar e situações
indutoras de estresse; e fatores ambientais, como problemas na comunidade (violência
urbana) e tipos de abuso (físico, psicológico e sexual). O conhecimento desses
potenciais fatores de risco à saúde mental de crianças e adolescentes traz a possibilidade
de desenvolvimento de programas de intervenção focados em prevenir ou atenuar os
efeitos desses transtornos.14
No Brasil, é recente o reconhecimento pelas instâncias governamentais de que a
saúde mental de crianças é uma questão de saúde pública, tendo em vista que,
historicamente, as ações relacionadas a esta temática foram delegadas aos setores
14
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/jbpsiq/v63n4/0047-2085-jbpsiq-63-4-0360.pdf

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educacionais e de assistência social. No que tange aos impactos individuais dessa


problemática, sabe-se que a instalação de uma condição crônica na infância, interfere no
funcionamento do corpo da criança em longo prazo, limita as atividades diárias,
prejudica o crescimento e desenvolvimento e afeta diretamente o cotidiano de todos os
membros da família, que necessitam de assistência dos profissionais de saúde.15

3.3.1 Transtornos de ansiedade na criança e no adolescente

Crianças e adolescentes com transtornos de ansiedade podem apresentar medo


e/ou preocupações excessivas e, normalmente, não reconhecem tais sintomas como
irracionais ou exagerados, ao contrário dos adultos. Geralmente, apresentam sintomas
somáticos como cefaleia, dispneia e dores de estômago. Ataques de raiva, crises de
choro e irritabilidade, frequentemente, ocorrem em crianças com transtornos de
ansiedade e podem ser mal interpretados como sendo oposição ou desobediência
quando na realidade são manifestações de medo ou esforços para evitar situações
desencadeadoras de ansiedade.16
Os Transtornos de Ansiedade na infância e adolescência podem ser
subdivididos em: Transtorno de Ansiedade de Separação, Transtorno de Pânico,
Transtorno de Ansiedade Generalizada, Transtorno de Ansiedade Social ou Fobia
Social, Fobia Específica, Transtorno de Estresse Pós-Traumático e Transtorno
Obsessivo-Compulsivo, os quais representam as formas mais prevalentes de
psicopatologia em crianças e adolescentes.

Transtorno de ansiedade generalizada

O Transtorno de Ansiedade Generalizada, em crianças e adolescentes, é


caracterizado pela presença de medo ou preocupações excessivas e de difícil controle
com sua competência e com a qualidade de seu desempenho em eventos da rotina,
15
Disponível em: http://www.scielo.br/pdf/ean/v19n1/1414-8145-ean-19-01-0107.pdf
16
Disponível em : http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=2437

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mesmo quando não estão sendo avaliados, além de preocupação excessiva com eventos
catastróficos e inclui pelo menos um sintoma somático (inquietude, fadiga, tensão
muscular, irritabilidade, dificuldades de atenção, insônia) por pelo menos seis meses.
Crianças e adolescentes com Transtorno de Ansiedade Generalizada estão mais
predispostos do que crianças sem transtornos de ansiedade a relatar dor no peito,
sensações estranhas ou irreais, coração disparado, dor de cabeça ou sensação de dor no
estômago. Apresentam tendência a ser perfeccionistas e inseguros e exigem constante
garantia sobre seu desempenho.
Em crianças e adolescentes com Transtorno de Ansiedade Generalizada, a
ansiedade e a preocupação frequentemente envolvem a qualidade do seu desempenho na
escola ou em eventos esportivos, mesmo quando seu potencial não está sendo avaliado
por outros.
As crianças com transtornos podem ser excessivamente conformistas,
perfeccionistas e inseguras, apresentando uma tendência a refazer tarefas em razão de
excessiva insatisfação com seu desempenho menos que perfeito. Elas demonstram
excessivo zelo na busca por aprovação e exigem constantes garantias sobre seu
desempenho e outras preocupações.
Em adolescentes, envolve história de irritabilidade e ansiedade crônicas. As
crises podem ser desencadeadas por pressões sociais, mudanças na vida e novas
situações ou demandas de desempenho usualmente acadêmicas. Alguns adolescentes
podem chegar a agredir familiares durante a expressão explosiva da ansiedade e
frustração.

Transtorno de ansiedade de separação

É caracterizado por ansiedade excessiva em relação ao afastamento dos pais ou


seus substitutos, não adequada ao nível de desenvolvimento, causando sofrimento
intenso e prejuízos significativos em diferentes áreas da vida da criança ou adolescente.
As crianças ou adolescentes, quando estão sozinhos temem que algo possa
acontecer a si mesmo e aos seus cuidadores, tais como acidentes, sequestro, assaltos ou

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doenças que os afastem definitivamente destes. Relutam ir à escola por medo da


separação.
Em casa, para dormir, comumente necessitam de companhia e resistem ao sono,
que vivenciam como separação ou perda de controle. Com freqüência referem pesadelos
que versam sobre seus temores de separação. Quando a criança percebe que seus pais
vão se ausentar ou o afastamento realmente ocorre, manifestações somáticas de
ansiedade, tais como dor abdominal, dor de cabeça, náuseas e vômitos são comuns.
Crianças maiores podem manifestar sintomas cardiovasculares como
palpitações, tontura e sensação de desmaio. Esses sintomas prejudicam a autonomia da
criança, restringem a sua vida de relação e seus interesses, ocasionando um grande
estresse pessoal e familiar.

Transtorno de estresse pós-traumático (TEPT)

No Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT), a criança ou adolescente


deve, necessariamente, ter passado por uma situação real que impõem ameaça à sua
vida ou à sua integridade física, provocando uma resposta de medo, desespero,
impotência ou terror.
A particularidade essencial é o desenvolvimento de sintomas característicos após
a exposição a um estressor traumático extremo, envolvendo a experiência pessoal direta
de um evento tão ameaçador, sério sofrimento ou ameaça a própria integridade física;
ter testemunhado um evento que envolve morte, ferimentos ou ameaça a integridade
física de outra pessoa; ou o conhecimento sobre morte violenta ou inesperada, ferimento
sério ou ameaça de morte ou ferimentos experimentado por um membro da família ou
outra pessoa em estreita associação com o indivíduo.
Quando uma criança é confrontada com uma situação extremamente
amedrontadora ou que envolva risco de vida é normal que ela fique mais chorosa e
apegada às figuras de vinculação, porém se essa situação traumática for extrema,
duradoura, ela pode evoluir para um quadro sintomático do TEPT caracterizado pela
revivência persistente do evento (recordações e sonhos), esquiva de estímulos que
lembrem o trauma e sintomas persistentes de ansiedade e excitação aumentada.
67
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Transtorno de ansiedade social ou fobia social

O Transtorno de Ansiedade Social ou Fobia Social caracteriza-se por medo


acentuado e persistente de situações sociais ou de desempenho, nas quais a criança ou
adolescente pode sentir inibição e timidez exageradas. O medo e a ansiedade são
entendidos como parte normal do desenvolvimento da criança, no entanto, o termo fobia
não se refere aos medos normais, mas a um medo irracional, invariavelmente patológico
e exagerado. A Fobia Social tem início insidioso em uma fase intermediária da
adolescência, mas há relatos de início em crianças de até oito anos de idade, às vezes
emergindo a partir de um histórico de inibição social ou de timidez na infância.
Crianças e adolescentes com Fobia Social referem um intenso desconforto em
uma ampla variedade de situações que, em geral, acontecem diariamente. Esse
desconforto é caracterizado por sintomas somáticos de ansiedade, como tremores,
sudorese, palpitações, falta de ar, calafrios, ondas de calor. Além disso, a ansiedade
pode se manifestar na forma de crises de choro, acessos de raiva, irritabilidade ou
imobilidade. Devido à ansiedade exagerada diante de situações sociais, esses pacientes
são levados a evitá-las, o que impede o desenvolvimento de habilidades sociais,
tornando-os pessoas isoladas e solitárias.17

Fobia específica

É qualquer medo acentuado persistente de objetos ou situações, sendo que a


exposição ao estímulo fóbico provoca uma resposta imediata de ansiedade.
O medo de animais e outros objetos do ambiente natural é particularmente
comum e em geral é transitório na infância. Diante do estímulo fóbico, a criança procura
correr para perto de um dos pais ou de alguém que a faça se sentir protegida e pode
apresentar reações de choro, imobilidade, desespero, agitação psicomotora ou até
mesmo um ataque de pânico.

17
Disponível em: http://cienciasecognicao.org/neuroemdebate/?p=2437

68
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Os medos mais comuns na infância são os de pequenos animais, injeções,


escuridão, altura e ruídos intensos. As fobias específicas são diferenciadas dos medos
normais da infância por construírem uma reação excessiva e desadaptativa, que foge do
controle do individuo, leva a reações de fuga e causa comprometimento no
funcionamento da criança.

Transtorno obsessivo compulsivo (TOC) na infância e adolescência

Transtorno Obsessivo-Compulsivo (TOC) caracteriza-se pela ocorrência


primária de obsessões e/ou compulsões que causem desconforto ou interfiram na vida
da pessoa. As obsessões são pensamentos, impulsos ou imagens mentais recorrentes,
intrusivos e desagradáveis, reconhecidos como próprios e causadores de ansiedade, seu
conteúdo não faz sentido ou é inapropriado ou absurdo. Os jovens com TOC,
frequentemente, tentam suprir, neutralizar ou ignorar os pensamentos obsessivos por
meio de compulsões.
As compulsões são comportamentos ou atividades mentais repetitivos que têm
como objetivo prevenir ou reduzir a ansiedade ou o sofrimento que muitas vezes
acompanha as obsessões ou para evitar algum evento ou situação temida. Geralmente,
são realizadas de acordo com determinadas regras ou de forma estereotipada, aparecem
como comportamentos repetitivos observáveis (lavar as mãos) ou atos mentais
“cobertos” (contagem mental).
Os sintomas e os critérios diagnósticos do TOC na criança são muito similares
ao do adulto, porém existe uma menor ênfase no insight sobre a irracionalidade dos seus
sintomas nas crianças. Na infância, encontramos obsessões relacionadas a catástrofes
familiares, de acumulação, de contaminação, de preocupações sexuais, somáticas e
religiosas; as principais compulsões são de lavagem, repetição, checagem ou
verificação, ordem, contagem, de acumulação e de toque.
O TOC na infância é caracterizado por um curso crônico, mas flutuante e
apresentando um risco aumentado para uma posterior morbidade psiquiátrica e
psicossocial, geralmente associado a significativos danos e dificuldades no
funcionamento social, familiar, acadêmico e vocacional. Em casos mais severos, os
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sintomas do TOC podem interferir na habilidade da criança de iniciar e manter


amizades e prejudicar os esforços do adolescente em desenvolver um relacionamento
íntimo.18

Tratamento:

Na avaliação de uma criança ou adolescente com queixas de ansiedade é sempre


muito importante avaliar o início e o desenvolvimento dos sintomas de ansiedade, a
existência de precipitantes para o início dos sintomas, história médica, história na
escola, história familiar de ansiedade e de transtornos psiquiátricos, fatores
desenvolvimentais, história de tratamentos prévios, dentre outros.19
Diversas abordagens podem ser utilizadas no tratamento dos transtornos de
ansiedade na infância e adolescência tais como: psicoeducação, psicoterapia,
psicoterapia psicodinâmica, intervenções familiares e intervenções psicofarmacológicas.

3.3.2 Transtornos alimentares na infância

Geralmente apresentam suas primeiras manifestações na infância e na


adolescência. Podemos dividir as alterações do comportamento alimentar em dois
grupos. O primeiro são aqueles transtornos que ocorrem precocemente na infância e que
representam alterações na relação da criança com a alimentação. Estas condições
parecem não estar associadas a uma preocupação excessiva com o peso e/ou a forma
corporal, mas podem interferir com o desenvolvimento infantil. Os transtornos da

18
Disponível em:
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=10&cad=rja&uact=8&ved=0a
hUKEwjF9IG038nYAhWBgJAKHfDqACoQFghqMAk&url=http%3A%2F%2Fcienciasecognicao.org%
2Fneuroemdebate%2F%3Fp%3D2437&usg=AOvVaw3MhspmHC1ho5VEoJDd6hZA
19
Disponível em:
https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=10&cad=rja&uact=8&ved=0a
hUKEwjF9IG038nYAhWBgJAKHfDqACoQFghqMAk&url=http%3A%2F%2Fcienciasecognicao.org%
2Fneuroemdebate%2F%3Fp%3D2437&usg=AOvVaw3MhspmHC1ho5VEoJDd6hZA

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alimentação da primeira infância são conhecidos como pica e o transtorno de


ruminação.
 Pica: é a ingestão persistente de substâncias não nutritivas, inadequadas para o
desenvolvimento infantil. As substâncias mais frequentemente consumidas são: terra,
barro, cabelo, alimentos crus, cinzas de cigarro e fezes de animais.
 Transtorno de ruminação: inclui episódio de regurgitação (ou remastigarão) repetidos
que não podem ser explicados por nenhuma condição médica. As principais
complicações médicas podem ser desnutrição, perda de peso, alteração do equilíbrio
hidroeletrolitico, desidratação e morte.
O segundo grupo de transtornos tem o seu aparecimento mais tardio e é
constituído pelos transtornos alimentares propriamente ditos: a anorexia nervosa e a
bulimia nervosa.
 Anorexia nervosa: alterações do apetite e perturbações da imagem corporal podem
ocorrer nas crianças em idade escolar, embora os quadros mais típicos dos transtornos
alimentares sejam mais raros. Torna-se uma condição na qual a criança se recusa a
comer quantidades adequadas de calorias devido a um intenso e irracional medo de
engordar.
 Bulimia nervosa: compulsão alimentar é o sintoma principal e pode surgir no decorrer
de uma dieta para emagrecer. O seu ato ocorre após comer demasiadamente
(compulsão) utiliza de meios como laxante ou indução de vômito para evitar ganhar
peso. Pode estar achar relacionado à fome, mas posteriormente, quando o ciclo
compulsão alimentar-purgação já está instalado, ocorre outro tipo de situação que gera
sentimentos negativos (frustração, tristeza, ansiedade, tédio e solidão).

3.3.3 Transtornos do espectro autista

Os Transtornos do Espectro Autista (TEA) é um transtorno de desenvolvimento


que afeta de forma significativa a capacidade de interação social, as habilidades de
comunicação social e comportamentos anti-sociais com repetições e interesses sem
conexões com o contexto. O autismo é uma patologia diferente do retardo mental ou da

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lesão cerebral, embora algumas crianças com autismo também tenham essas doenças.
Estes sintomas podem começar em qualquer momento da infância, especialmente antes
dos três anos de vida. Os sintomas variam de intensidade de criança para criança e
podem se apresentar desde traços discretos até severos, e a identificação pode ser
facilitada e dificultada de acordo com a amplitude dos sintomas.

Autismo leve20

Identificar, portanto, um Autismo Leve muitas vezes é um desafio, pois quadros


discretos são mais difíceis de ser diagnosticados. Além disto, o TEA é uma condição
onde não existem exames de imagem ou de laboratórios que o comprovam, dependendo
totalmente da observação clínica, comportamental, e do relato dos pais, cuidadores e da
escola para confirmar ou descartar sua presença. Estes relatos podem ser
desencontrados, incompletos, pouco entendidos por quem avalia ou minimizados por
quem observa. Este processo pode levar a uma demora maior nas consultas e até
possível desistência dos pais, ficando a criança sem uma definição e sem um possível
tratamento que faria diferença.
Assim, conhecer os sintomas da forma leve do Autismo é muito importante,
devendo ser investigado rotineiramente durante a puericultura e nos CMEI‟s ou creches,
dos 18 aos 30 meses de vida. Os principais sintomas são: pouco contato visual, não
dar continuidade a processos sociais ou conversas, não saber se comunicar por meio de
gestos, fala existente, mas sem muito nexo com a realidade a sua volta, algumas manias
e repetições, no contato com os outros ele olha mais para a mão ou para o objeto da
pessoa do que para seus olhos, dificuldade em aceitar espontaneamente regras e rotinas,
pouco disposto a se socializar e tende a se isolar ou brincar do seu jeito sem flexibilizar
de acordo com o que o amiguinho pede ou quer e pouco responde ao ser chamado pelo
seu nome. A linguagem expressiva (ou a fala), nestes casos, pode estar preservada,

20
Disponível em : http://entendendoautismo.com.br/artigo/quais-os-principais-sintomas-do-autismo-leve/

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mas é comum ser uma fala mecânica, pedante e sem emoção, porém com uma
funcionalidade satisfatória para atividades sociais e escolares.

Autismo moderado e grave21

No autismo moderado e grave, a quantidade e intensidade dos sintomas se


tornam maiores. Os sintomas que podem ser apresentados por qualquer criança autista,
incluem:
1. Dificuldade na interação social, sendo possível apresentar tais sintomas:

 Não olhar nos olhos ou evitar não olhar nos olhos mesmo quando alguém fala com ela,
estando bem próximo;
 Risos e gargalhadas inadequadas ou fora de hora, como durante um velório ou uma
cerimônia de casamento ou batizado, por exemplo;
 Não gostar de carinho ou afeto e por isso não se deixa abraçar ou beijar;
 Dificuldade em relacionar-se com outras crianças e por isso prefere ficar sozinho do que
brincar com elas;
 Repetir sempre as mesmas coisas, brincar sempre com os mesmos brinquedos.
2. Dificuldade de comunicação, sendo possível manifestar:

 A criança sabe falar, mas prefere não falar nada e mantém-se calada por horas, mesmo
quando fazem perguntas para ela;
 A criança refere-se a si mesma com a palavra: você
 Repete a pergunta que lhe foi feita várias vezes seguidas sem se importar se está
chateando os outros;
 Mantém sempre a mesma expressão no rosto e não entende gestos e expressões faciais
dos outros;
 Não atender quando é chamado pelo nome, como se não estivesse ouvindo nada, apesar
de não ser surdo e de não ter nenhum comprometimento auditivo;

21
Disponível em: https://www.tuasaude.com/sintomas-de-autismo/

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 Olhar com o canto do olho quando sente-se desconfortável;


 Quando fala a comunicação é monótona e com tom pedante.
3. Alterações comportamentais, sendo possível observar tais situações:

 Não tem medo de situação perigosas, como atravessar a rua sem olhar para os carros,
chegar muito perto dos animais aparentemente perigosos, como cães de grande porte;
 Ter brincadeiras estranhas, dando funções diferentes aos brinquedos que possui;
 Brincar com somente uma parte de um brinquedo, como a roda do carrinho, por
exemplo, e ficar constantemente olhando e mexendo nela;
 Aparentemente não sente dor e parece que gosta de se machucar ou de machucar os
outros de propósito;
 Leva o braço de outra pessoa para pegar o objeto que ela deseja;
 Olha sempre na mesma direção como se estivesse parado no tempo;
 Fica se balançando para frente e para trás por vários minutos ou horas ou torcer as mãos
ou os dedos constantemente;
 Dificuldade a se adaptar a uma nova rotina ficando agitado, podendo se autoagredir ou
agredir os outros;
 Ficar passando a mão em objetos ou ter fixação por água;
 Ficar extremamente agitado quando está em público ou em ambientes barulhentos.
Sintomas de autismo em adolescentes e adultos

Os sintomas de autismo podem ser mais leves na adolescência e idade adulta,


tanto porque os sinais passaram despercebidos na infância, ou pela melhora pela
realização do tratamento. É comum que o jovem autista apresente sinais como:
Ausência de amigos, sendo que quando há amigos, não há contato regular ou presencial.
Geralmente, o contato com pessoas se limita ao círculo familiar, colégio ou relações
virtuais pela internet; evitar sair de casa, tanto para atividades habituais, como utilizar
transportes e serviços públicos, como para atividades de lazer, preferindo sempre
atividades solitárias e sedentárias; muitos não conseguem ter autonomia para trabalhar e

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desenvolver uma profissão; costumam ter sintomas de depressão e ansiedade;


dificuldade de interação social, e interesse apenas em atividades específicas.
A possibilidade de ter uma vida adulta normal e autônoma varia de acordo com a
gravidade dos sintomas e a realização de um tratamento adequado. O apoio da família é
essencial, principalmente nos casos mais graves, em que o autista pode depender dos
familiares e cuidadores para atender as suas necessidades sociais e financeiras.

Tratamento

O tratamento do autismo varia de uma criança para outra porque nem todos são
afetados da mesma forma. De forma geral é necessário recorrer a diversos profissionais
de saúde como médico, fonoaudiólogo, fisioterapeuta, psicólogo e psicopedagogo,
sendo muito importante o apoio familiar para que os exercícios sejam realizados
diariamente, melhorando assim as capacidades da criança.

3.3.4 Transtorno de déficit de atenção e hiperatividade22

Antes de entender o que é o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade,


conhecido como TDAH, é fundamental ter sempre em perspectiva o fato de que nem
toda criança, adolescente ou adulto que apresenta sinais de agitação (hiperatividade),
desatenção e/ou impulsividade tem TDAH. Entre as crianças, por exemplo, de 5 a 8%
têm TDAH, embora a maioria delas possa apresentar alguma dessas características em
determinado momento – o que de forma alguma caracteriza o TDAH.
O transtorno de déficit de atenção e hiperatividade é uma doença
neuropsiquiátrica crônica, que se inicia na infância, mas que pode acompanhar o
indivíduo ao longo de seu desenvolvimento. Muitos adolescentes e adultos deixam de
manifestar os sintomas do TDAH naturalmente conforme se desenvolvem, mas cerca de

22
Disponível em: http://tdah.novartis.com.br/o-que-e-tdah/

75
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50% das pessoas com o transtorno continuam manifestando os sintomas do TDAH ao


longo da vida adulta.
A primeira descrição do TDAH ocorreu há mais de dois séculos, em 1798.4 De lá para
cá, as pesquisas e o entendimento sobre o transtorno avançaram de forma significativa,
bem como as possibilidades de qualidade de vida e inserção social das pessoas com
o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade, em todas as fases da vida.
As causas do TDAH ainda não são completamente compreendidas. Porém, os
estudos apontam para a necessidade de uma combinação de fatores ambientais,
genéticos e biológicos para a manifestação do TDAH.
Hoje, já se sabe que o TDAH compreende uma lista com 18 sintomas, sendo
nove deles relacionados à desatenção; 6 à hiperatividade; e 3 à impulsividade.1 É
fundamental reforçar que a manifestação de um ou de alguns desses sintomas
isoladamente e de forma pontual não caracteriza o diagnóstico do TDAH. Por isso, é
preciso que pais, educadores e os profissionais de saúde responsáveis pelo diagnóstico
do TDAH tenham bastante clareza de que é normal que as crianças, por exemplo, sejam
bastante ativas ou certas vezes desatentas, e que isso não significa de forma alguma que
tenham o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
Para se ter ideia da complexidade do diagnóstico do TDAH em crianças, é
necessário que haja a manifestação de no mínimo 6 sintomas de desatenção e/ou
hiperatividade-impulsividade; e em adultos no mínimo 5. Só aí o médico passa a
considerar o diagnóstico do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade.
O diagnóstico do TDAH é predominantemente clínico, ou seja, baseado na
observação e relato dos sintomas pelo paciente – e, no caso de crianças e adolescentes,
também pelo relato de seus pais. Os sintomas são avaliados pelo médico especializado
de acordo com o Manual de Estatística e Diagnóstico de Transtornos Mentais (DSM-5),
desenvolvido pela Associação Americana de Psiquiatria e utilizado no Brasil, bem
como em inúmeros outros países.
Mesmo com todo o conhecimento sobre o transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade que já se tem hoje em dia, há ainda muitos mitos e desinformações
relacionados ao transtorno, bem quanto à complexidade de seu diagnóstico e tratamento.

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Apesar disso, é importante ressaltar que com acesso a cuidados e tratamentos


específicos, é perfeitamente possível que uma criança, adolescente ou adulto
com TDAH tenha uma vida normal, sendo plenamente capaz de estudar, trabalhar,
construir relacionamentos, etc.
Dessa forma, apesar dos desafios impostos pelo TDAH, os pacientes têm
também talentos excepcionais e podem atingir grandes resultados com apoio e os
recursos adequados.

Sintomas

É fundamental ter em mente que pessoas perfeitamente saudáveis podem


apresentar agitação (hiperatividade), impulsividade e/ou desatenção em algum momento
da vida. A manifestação desses sintomas de forma isolada e pontual não significa de
forma alguma que uma criança, adolescente ou adulto tenha o transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade.
Entretanto, algumas pessoas apresentam esses sintomas combinados, de forma
intensa e persistente ao longo do tempo, levando a prejuízos funcionais significativos.
Nestes casos, pode haver o diagnóstico do transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade (TDAH).23
Os sintomas de TDAH se dividem em três grupos:24
 Falta de atenção (desatenção)
 Hiperatividade
 Comportamento impulsivo (impulsividade)
É preciso ter bastante cautela antes de diagnosticar ou rotular alguém, a partir da
observação das atitudes dessa pessoa em um único ambiente (apenas na escola, ou
apenas em casa, por exemplo). Para que um sintoma seja atribuído ao transtorno de
déficit de atenção e hiperatividade, é necessário que ele se apresente em combinação

23
Disponível em: http://tdah.novartis.com.br/diagnostico-do-tdah/
24
Disponível em: http://tdah.novartis.com.br/sintomas-do-tdah/

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com outras manifestações, seja crônico e que traga prejuízos para o paciente em ao
menos três ambientes de sua vida, entre outras características.

Infância

Na idade pré-escolar e escolar alguns dos sintomas do TDAH característicos são:

 excesso de agitação e impulsividade: criança que geralmente perturba o ambiente


escolar e tem seus relacionamento afetados. Está associado ao maior risco de acidentes
(tombos, queimaduras, etc.) e é difícil de ser controlado no grupo. É uma criança
considerada “problemática” e acaba sendo isolada do grupo – não recebe convites para
festas de aniversários ou para dormir na casa de colegas.
 desatenção: crianças com dificuldade de completar as tarefas propostas, desorganizada
e distraída. Têm prejuízo no desempenho escolar.

Adolescência
Na adolescência, em geral, há redução da hiperatividade motora, ou seja,
o adolescente com TDAH têm menos agitação e necessidade de movimentação do que
quando criança. Entretanto, alguns sintomas do transtorno de déficit de atenção e
hiperatividade permanecem, como a dificuldade de organização e planejamento; a
dificuldade de manter a atenção na leitura; e a dificuldade de controlar os impulsos.
Outro grave prejuízo nesta fase da vida pode ser em relação à autoestima, que fica
bastante abalada.
 Por conta da impulsividade excessiva, não é raro que adolescentes com TDAH (que não
estão sendo adequadamente tratados) se envolvam em situações potencialmente
perigosas. Isto inclui desde brigas, direção perigosa e esportes de risco, até o aumento
da possibilidade do consumo e abuso de álcool e outras drogas.

Vida adulta

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De acordo com o Instituto para Pesquisas Cerebrais, do Instituto de Tecnologia


de Massachusetts (MIT), cerca de 50% das crianças carregam os sintomas do
TDAH para a vida adulta. Quando não tratado de forma adequada, algumas das
manifestações do transtorno de déficit de atenção e hiperatividade nesta fase são:

 procrastinação;
 aproveitamento insatisfatório do tempo;
 desorganização com compromissos;
 dificuldade na execução de tarefas;
 sensação de inquietude;
 dificuldade de priorização;
 impulsividade, tanto no trabalho quanto das relações interpessoais;
 prejuízo na autoestima;
 brigas constantes com superiores no trabalho;
 alta frequência na mudança de empregos;
 acidentes de carro;
 gestação não planejada;
 abuso/dependência de drogas.
Adultos com TDAH podem naturalmente aprender a controlar seus sintomas ou
compensá-los de diferentes formas, como programando um tempo maior para executar
determinadas tarefas, utilizando agendas para se lembrar dos compromissos, etc.

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Tratamento de TDAH25

Hoje, apesar de não haver cura para o TDAH, existe uma infinidade de
abordagens terapêuticas que permitem que as pessoas com o transtorno de déficit de
atenção e hiperatividade desenvolvam diferentes habilidades, vivam com qualidade,
sejam socialmente inseridos e alcancem grandes objetivos.
O tratamento do TDAH é abrangente e individualizado. Cada criança,
adolescente ou adulto com o transtorno de déficit de atenção e hiperatividade pode
responder ao tratamento proposto de forma diferente e, por isso, é tão importante que
haja acompanhamento médico, psicológico, educacional e familiar bastante próximo.
A abordagem mais utilizada para o tratamento do TDAH é a abordagem
combinada (multimodal), que consiste no uso de medicamentos associado a recursos
complementares para melhorar a resposta final do paciente. Isso pode incluir a
utilização de intervenções psicoterápicas, fonoaudiológicas, psicopedagógicas,
mudanças no estilo de vida, além do uso de recursos tecnológicos e ajustes no ambiente
onde o paciente está inserido.

25
Disponível em: http://tdah.novartis.com.br/tratamento-do-tdah/

80
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3.4 Transtornos mentais em idosos

A velhice é um período do ciclo vital caracterizado por algumas mudanças


físicas, mentais e psicológicas, algumas alterações e agravamentos nesse período da
vida podem ser consideradas como comum e não caracterizam necessariamente uma
doença.
Os transtornos que são mais comuns em idosos são: transtornos depressivos,
transtornos cognitivos, fobias e transtornos por uso de álcool. Além disso, os idosos
apresentam risco de suicídio e risco de desenvolver sintomas psiquiátricos induzidos por
medicamentos.
Diversos fatores psicossociais de risco também predispõem os idosos a
transtornos mentais.
Esses fatores de risco incluem:
 Perda de papéis sociais
 Perda da autonomia
 Morte de amigos e parente
 Saúde em declínio
 Isolamento social
 Restrições financeiras
 Redução do funcionamento cognitivo (capacidade de compreender e pensar de uma
forma lógica, com prejuízo na memória).

Transtornos psiquiátricos mais comuns em idosos

 Demência
 Demência tipo Alzheimer
 Demência vascular
 Esquizofrenia
 Transtornos depressivos

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 Transtorno bipolar (do humor)


 Transtorno delirante
 Transtornos de ansiedade
 Transtornos somatoformes
 Transtornos por uso de álcool e outras substâncias

Demência
Demência é um comprometimento cognitivo geralmente progressivo e
irreversível. As funções mentais anteriormente adquiridas são gradualmente perdidas.
Com o aumento da idade a demência torna-se mais frequente. Acomete 5 a 15% das
pessoas com mais de 65 anos e aumenta para 20% nas pessoas com mais de 80 anos.
Os fatores de risco conhecidos para a demência são: idade avançada, história de
demência na família e ocorre com maior incidência no sexo feminino.
Os sintomas incluem alterações na memória, na linguagem, na capacidade de
orientar-se. Há perturbações comportamentais como agitação, inquietação, andar a
esmo, raiva, violência, gritos, desinibição sexual e social, impulsividade, alterações do
sono, pensamento ilógico e alucinações.
As causas de demência incluem lesões e tumores cerebrais, síndrome da
imunodeficiência adquirida (AIDS), álcool, medicamentos, infecções, doenças
pulmonares crônicas e doenças inflamatórias. Na maioria das vezes as demências são
causadas por doenças degenerativas primárias do sistema nervoso central (SNC) e por
doença vascular. Cerca de 10 a 15% dos pacientes com sintomas de demência
apresentam condições tratáveis como doenças sistêmicas (doenças cardíacas, renais,
endócrinas), deficiências vitamínicas, uso de medicamentos e outras doenças
psiquiátricas (depressão).
As demências são classificadas em vários tipos de acordo com o quadro clínico,
entretanto as mais comuns são demência tipo Alzheimer e demência vascular.

Demência tipo Alzheimer

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De todos os pacientes com demência, 50 a 60% têm demência tipo Alzheimer, o


tipo mais comum de demência. É mais frequente em mulheres que em homens. É
caracterizada por um início gradual e pelo declínio progressivo das funções cognitivas.
A memória é a função cognitiva mais afetada, mas a linguagem e noção de orientação
do indivíduo também são afetadas. Inicialmente, a pessoa pode apresentar uma
incapacidade para aprender e evocar novas informações.
As alterações do comportamento envolvem depressão, obsessão (pensamento,
sentimento, ideia ou sensação intrusiva e persistente) e desconfianças, surtos de raiva
com risco de atos violentos. A desorientação leva a pessoa a andar sem rumo podendo
ser encontrada longe de casa em uma condição de total confusão. Aparecem também
alterações neurológicas como problemas na marcha, na fala, no desempenhar uma
função motora e na compreensão do que lhe é falado.
O diagnóstico ocorre por meio de exclusão, isto é, só pode ser feito quando não
se encontra nenhuma outra causa. Tornando-se importante dialogar com a família da
pessoa idosa para compreender melhor a sintomatologia vivenciada por este. A história
do paciente e exame clínico, além das técnicas de imagem cerebral como tomografia
computadorizada e ressonância magnética podem ser úteis no diagnóstico clínico. A
rigor, tal diagnóstico só é realizado pós-morte, através de biópsia cerebral, na qual
aparecem alguns sinais característicos e exclusivos da doença.
O tratamento é paliativo e as medicações podem ser úteis para o manejo da
agitação e das perturbações comportamentais. Não há prevenção ou cura conhecida.

Demência vascular
É o segundo tipo mais comum de demência. Apresenta as mesmas características
da demência tipo Alzheimer, mas ela se desenvolve com um início abrupto e um curso
gradualmente deteriorante. Pode ser prevenida através da redução de fatores de risco:
como hipertensão, diabete, tabagismo e arritmias. O diagnóstico pode ser confirmado
por técnicas de imagem cerebral e fluxo sanguíneo cerebral.

Esquizofrenia (esquizofrenia e outras psicoses)

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Essa doença começa no final da adolescência ou idade adulta jovem e persiste


por toda a vida. Cerca de 20% das pessoas com esquizofrenia não apresentam sintomas
ativos aos 65 anos; 80% mostram graus variados de comprometimento. A doença torna-
se menos acentuada à medida que o paciente envelhece.
Os sintomas incluem retraimento social, comportamento excêntrico, pensamento
ilógico, alucinações e afeto rígido. Os idosos com esquizofrenia respondem bem ao
tratamento com drogas antipsicóticas que devem ser administradas pelo médico com
cautela.

Transtornos depressivos
A idade avançada não é um fator de risco para o desenvolvimento de depressão,
mas ser viúvo ou viúva, ter experiências de luto e ter uma doença crônica estão
associados com vulnerabilidade aos transtornos depressivos. A depressão que inicia
nessa faixa etária é caracterizada por vários episódios repetidos.
Os sintomas incluem redução da energia e concentração, problemas com o sono,
diminuição do apetite, perda de peso e queixas somáticas (como dores pelo corpo). Um
aspecto importante no quadro de pessoas idosas é a ênfase aumentada sobre as queixas
somáticas.
Pode haver dificuldades de memória em idosos deprimidos que é chamado de
síndrome demencial da depressão que pode ser confundida com a verdadeira demência.
Além disso, a depressão pode estar associada com uma doença física e com uso de
medicamentos.

Transtorno bipolar (transtornos do humor)


Os sintomas da mania em idosos são semelhantes àqueles de adultos mais jovens
e inclui euforia, humor expansivo e irritável, necessidade de sono diminuída, fácil
distração, impulsividade e, frequentemente, consumo excessivo de álcool. Pode haver
um comportamento hostil e desconfiado. Quando um primeiro episódio de
comportamento maníaco ocorre após os 65 anos, deve-se alertar para uma causa

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orgânica associada. O tratamento deve ser feito com medicação cuidadosamente


controlada pelo médico.

Transtorno delirante
A idade de início ocorre por volta da meia-idade, entretanto ainda pode ocorrer e
começar na velhice. Os sintomas são alterações do pensamento mais comumente de
natureza persecutória (os pacientes crêem que estão sendo espionados, seguidos,
envenenados ou de algum modo assediados). Podem tornar-se violentos contra seus
supostos perseguidores, trancarem-se em seus aposentos e viverem em reclusão. A
natureza dos pensamentos pode ser em relação ao corpo, como acreditar ter uma doença
fatal (hipocondria).
Ocorre sob estresse físico ou psicológico em indivíduos vulneráveis e pode ser
precipitado pela morte do cônjuge, perda do emprego, aposentadoria, isolamento social,
circunstâncias financeiras adversas, doenças médicas que debilitam ou por cirurgia,
comprometimento visual e surdez.
As alterações do pensamento podem acompanhar outras doenças psiquiátricas
que devem ser descartadas como demência tipo Alzheimer, transtornos por uso de
álcool, esquizofrenia, transtornos depressivos e transtorno bipolar. Além disso, podem
ser secundárias ao uso de medicamentos ou sinais precoces de um tumor cerebral.

Transtornos de ansiedade
Os transtornos de ansiedade começam no início ou no período intermediário da
idade adulta, mas alguns aparecem pela primeira vez após os 60 anos. As
características deste transtorno são as mesmas das descritas em transtornos de ansiedade
em outras faixas etárias.
Em idosos a fragilidade do sistema nervoso autônomo pode explicar o
desenvolvimento de ansiedade após um momento estressor. O transtorno de estresse
pós-traumático frequentemente é mais severo nos idosos que em indivíduos mais jovens
em vista a sua debilidade física.

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As obsessões (pensamento, sentimento, ideia ou sensação intrusiva e persistente)


e compulsões (comportamento consciente e repetitivo como contar, verificar ou evitar
ou um pensamento que serve para anular uma obsessão) podem aparecer pela primeira
vez em idosos, embora geralmente seja possível encontrar esses sintomas em pessoas
que eram mais organizadas, perfeccionistas, pontuais e parcimoniosas. Tornam-se
excessivos em seu desejo por organização, rituais e necessidade de manter rotinas.
Podem ter compulsões para verificar as coisas repetidamente, tornando-se geralmente
inflexíveis e rígidos.

Transtornos somatoformes
Os transtornos somatoformes são um grupo de transtornos que incluem sintomas
físicos (dores, náuseas e tonturas) para os quais não pode ser encontrada uma explicação
médica adequada e que são suficientemente sérios para causarem um sofrimento
emocional ou prejuízo significativo à capacidade do paciente para funcionar em papéis
sociais e ocupacionais. Nesses transtornos, os fatores psicológicos são grandes
contribuidores para o início, a severidade e a duração dos sintomas.
A hipocondria é comum em pacientes com mais de 60 anos, embora o seja mais
frequente entre 40 e 50 anos. Exames físicos repetidos são úteis para garantirem aos
pacientes que eles não têm uma doença fatal, pois causam insatisfação aos mesmos ao
não encontrar motivos físicos para sua queixa. A queixa é real, a dor é verdadeira e
percebida como tal pelo paciente. Ao tratamento, deve-se dar um enfoque psicológico
ou farmacológico.

Transtornos por uso de álcool e outras substâncias


Os pacientes idosos podem iniciar um quadro de dependência a uma droga ou
um remédio, devido à automedicação, como por exemplo, um senhor apresenta o hábito
beber uma dose de álcool todos os dias para relaxar, ou então uma senhora que ao
passar por uma situação de maior ansiedade, como a perda ou morte de algum
conhecido ou familiar, inicia o uso de medicamentos sedativos a fim de não se sentir tão
mal.

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A dependência de álcool, geralmente, apresenta uma história de consumo


excessivo que começou na idade adulta e frequentemente está associada a uma doença
médica, principalmente doença hepática. Além disso, a dependência ao álcool está
claramente associada a uma maior incidência de quadros demenciais.
4. A apresentação clínica é variada e inclui quedas, confusão mental, fraca higiene pessoal,
depressão e desnutrição. Uma particularidade de tais dependências nesses pacientes é
que tanto os medicamentos sedativos quanto o álcool estão relacionados com maior
número de quedas e fraturas, o que reduz significativamente a expectativa de vida do
idoso após o incidente.

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4. PSICOFARMACOLOGIA

A Psicofarmacologia é o estudo dos efeitos das drogas (fármacos) sobre as


funções psicológicas do indivíduo, tais como as emoções, o humor e a habilidade
psicomotora. A introdução dos primeiros fármacos na área da Psiquiatria, cuja
finalidade era o tratamento dos transtornos psiquiátricos, ocorreu no final da década de
1940, dando início, por assim dizer, à história da Psicofarmacologia moderna. Em 1949,
Cade realiza o primeiro relato de tratamento da mania com o lítio. No ano de 1952 é a
vez de Delay e Deniker descreverem os efeitos antipsicóticos da clorpromazina. Já em
1954 houve a descoberta do meprobamato e, no ano de 1957, a descoberta do
clordiazepóxido, ambos ansiolíticos. Daí em diante surgiu uma gama de
benzodiazepínicos.
Ao final da década de 1950, a Psicofarmacologia possuía cinco grupos de
drogas, cujas capacidades de promover efeitos cínicos em transtornos psiquiátricos já se
mostravam efetivas. São eles: 1) ansiolíticos (meprobamato e clordiazepóxido); 2)
antidepressivos tricíclicos (imipramina) e 3) antidepressivos IMAO (iproniazida); 4)
estabilizadores de humor (carbonato de lítio, divalproato de sódio, carbamazepina); 5)
antipsicóticos (clorpromazina, haloperidol).

4.1 ANSIOLÍTICOS

Indicações: São também denominados tranquilizantes menores. Eles são usadas


no tratamento de distúrbios ansiosos, sintomas de ansiedade, abstinência alcoólica
aguda, espasmos musculares esqueléticos, distúrbios convulsivos, estados de mal
epiléptico e sedação pré-operatória.
Ações: Deprimem níveis subcorticais do Sistema Nervoso Central (SNC),
especialmente o sistema límbico e a formação reticular. Elas podem potencializar os
efeitos do neurotransmissor inibitório ácido gama-aminobutírico (GABA), produzindo
assim um efeito calmante no cérebro. Todos os níveis de depressão do SNC podem ser
afetados, da sedação leve à hipnose e ao coma

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Contraindicações: Indivíduos com hipersensibilidade conhecida a qualquer das


drogas da classe (benzodiazepínicos). Também se deve ter o cuidado ao administrar
esses fármacos em pacientes idosos; pacientes com disfunções hepáticas ou renais; com
história de uso excessivo ou dependência de drogas; indivíduos que se mostram
deprimidos; suicidas.
. Efeitos colaterais: Sonolência, confusão mental, letargia, dependência física e
psicológica, hipotensão ortostática, boca seca, náuseas e vômitos, febre, mal-estar e
equimoses frequentes.

Orientação ao Paciente/Família
 Não deve dirigir, nem operar máquinas perigosas. Podem ocorrer sonolência e tonturas;
 Não deve parar de tomar a droga abruptamente, pois isso pode provocar graves sintomas
de abstinência, tais como: depressão, insônia, ansiedade, câimbras abdominais e
musculares, tremores, vômitos, sudorese, convulsões, estados confusionais;
 Não se deve consumir outros depressores do SNC (incluindo o álcool);
 Deve se levantar lentamente de uma posição sentada ou deitada para evitar uma baixa
súbita da pressão arterial;
 Deve relatar imediatamente ao médico sintomas de garganta inflamada, febre, contusões
frequentes, inquietação motora;
 Deve levar consigo em todas as ocasiões um cartão ou cópias das receitas médicas.

4.2 ANTIDEPRESSIVOS

Indicações: São usados no tratamento de distimia26; nas depressões: maior,


associada a doenças orgânicas, acompanhada de ansiedade; na fase depressiva do
distúrbio bipolar; para tratamento de sintomas psicóticos, esquizofrenia e retardo
mental; alcoolismo. Os antidepressivos elevam o humor e aliviam sintomas associados a
depressão, desde os níveis mais moderados ao mais graves.

26
É um transtorno do humor que consiste nos mesmos problemas cognitivos e físicos presentes na
depressão, porém com sintomas menos severos, no entanto mais duradouros.

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Ação: Essas drogas agem em última análise aumentando a concentração de


norepinefrina, serotonina e/ou dopamina no organismo.
Contraindicações: Indivíduos com hipersensibilidade; fase aguda de
recuperação após um infarto.
Efeitos colaterais: Boca seca, sedação, náuseas, visão turva, constipação
intestinal, retenção urinária, hipotensão ortostática, redução do limiar convulsivo,
taquicardia, arritmias, ganho de peso, insônia, agitação, cefaleia, disfunção sexual,
crises hipertensivas

Orientação ao Paciente/Família
 Deve continuar a tomar a medicação ainda que os sintomas não tenham sido remitidos;
 O efeito terapêutico pode não ser observado por até quatro semanas;
 Deve tomar cuidado ao dirigir;
 Não deve suspender a droga abruptamente;
 Tomar frequentes goles de água, se a boca seca for um problema;
 Não deve tomar bebidas alcoólicas.

4.3 ESTABILIZADORES DE HUMOR

Indicações: Tratamento e controle do distúrbio bipolar, mania.


Ação: São substâncias utilizadas para a manutenção da estabilidade do humor,
não sendo essencialmente antidepressivas, nem sedativas. Internacionalmente
reconhecem-se três substâncias principais, capazes de desempenhar tal papel: o Lítio, a
Carbamazepina e o Ácido Valpróico. Mais comumente, à exceção do Lítio, todos os
demais estabilizadores de humor também são anticonvulsivantes.
Contraindicações: Crises de ausência atípicas ou generalizadas; crises atônicas;
crises convulsivas mioclônicas, bloqueio A-V, antecedentes de depressão da medula
óssea. A relação risco-benefício deverá ser avaliada na presença de gravidez, lactação,
diabetes mellitus, glaucoma, disfunção hepática ou renal e reações hemáticas adversas
por outros medicamentos.

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Efeitos colaterais: Sonolência, tonturas, cefaléia,boca seca,sede, desconforto


gástrico intestinal, tremores finos nas mãos, poliúria,desidratação, ganho de peso,
hipotensão, bradicardia.

Orientações ao Paciente/Familiares
 Deve tomar a medicação regularmente, mesmo que esteja bem. A suspensão pode
acarretar o retorno dos sintomas;
 Não deve dirigir ou operar máquinas pesadas;
 Deve evitar o uso excessivo de bebidas contendo cafeína (café, chá) ou que promovam
um aumento do débito urinário;
 Deve avisar ao médico se ocorrerem vômitos ou diarreia, pois esses sintomas podem
acarretar perda de sódio e maior risco de toxicidade;
 Há riscos para a gravidez enquanto está em terapia com o lítio;
 Em caso de desconforto gastrintestinal, tomar a medicação após as refeições.

Estabilizadores do humor (drogas antimaníacas)


MECANISMO CONTRAINDICAÇÕES/
MEDICAÇÕES INDICAÇÕES
DE AÇÃO PRECAUÇÕES
Não conhecido Hipersensibilidade.
Prevenção e plenamente, mas Patologias cardíacas ou
tratamento de pode aumentar a renais, desidratação,
episódios recaptação de depleção de sódio; lesões
maníacos de serotonina e cerebrais; gravidez e
CARBONATO
distúrbio norepinefrina, amamentação.
DE LÍTIO
bipolar. diminuindo os Atenção aos indivíduos
Também usado níveis no corpo e com: distúrbios da tireoide,
para depressão ocasionando diabetes, retenção urinária,
bipolar. menor histórico de crises
hiperatividade convulsivas, idosos.

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(remissão dos
sintomas pode
levar de 1 a 3
semanas)
Hipersensibilidade;
Crises de
glaucoma; patologias
CLONAZEPA ausências Ação não
hepáticas e renais; gravidez,
M acinéticas e esclarecida.
amamentação.
mioclônicas.
Atenção aos idosos.
Sua absorção é
lenta, variável e
quase
completamente Hipersensibilidade;
realizada no trato gravidez; amamentação.
CARBAMAZE Crises gastrintestinal. É Atenção aos idosos e
PINA psicomotoras. metabolizado no histórico de patologias
fígado e tem hepáticas, renais e
atividade cardíacas.
anticonvulsivante,
antidepressiva e
antineurálgica.
Não se conhece
exatamente o
Hipersensibilidade;
mecanismo de
gravidez; amamentação.
ação do ácido
ÁCIDO Crises de Atenção aos idosos e
valpróico, porém
VALPRÓICO ausência histórico de patologias
acredita-se que
hepáticas, renais e
esteja relacionado
cardíacas.
com um aumento
direto ou

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secundário das
concentrações de
GABA (ácido
gama-
aminobutírico),
um
neurotransmissor,
possivelmente
causado pela
redução de seu
metabolismo ou
sua receptação
nos tecidos
cerebrais.

4.4 ANTIPSICÓTICOS

Indicações: São também designadas como tranquilizantes maiores e


neurolépticos, usados no tratamento de psicoses agudas e crônicas, especialmente
quando acompanhadas de aumento da atividade psicomotora.
Ação: O mecanismo de ação exato é desconhecido. As medicações mais novas
podem exercer propriedades antipsicóticas pelo bloqueio da ação sobre receptores
específicos da dopamina, serotonina e outros neurotransmissores. Os efeitos
antipsicóticos podem estar igualmente relacionados à inibição da transmissão de
impulsos neuronais nas sinapses mediada pela dopamina.
Contraindicações: Pessoas reconhecidamente hipersensíveis; casos de
depressão do SNC. Deve-se ter o cuidado ao administrar essas drogas em idosos,
pessoas que estejam gravemente doentes ou debilitadas; diabéticos ou aqueles
apresentando insuficiência respiratória, hipertrofia da próstata ou obstrução intestinal.
Os antipsicóticos podem diminuir o limiar convulsivo.

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Efeitos colaterais: Boca seca, vista turva, constipação intestinal, retenção


urinária, náuseas, erupção cutânea, sedação, hipotensão ortostática, diminuição da
libido, ejaculação retrógrada, ginecomastia, amenorreia, ganho de peso, salivação
excessiva. O indivíduo também pode apresentar sintomas extrapiramidais, como:
tremor, marcha arrastada, sialorreia (babar), rigidez muscular; além de acinesia,
(fraqueza muscular); acatisia (inquietação e movimentação contínua); distonia
(movimentos musculares involuntários da face, braços , pernas e pescoço); crise
oculógira (rolar descontrolado dos olhos para trás).

4.5 DROGAS ANTIPARKINSONIANAS

Indicações: Para tratamento dos efeitos colaterais extrapiramidais das drogas


antipsicóticas e/ou por diversas causas e reações extrapiramidais induzidas por drogas.
Ação: Restaura o equilíbrio normal da acetilcolina e dopamina no SNC. O
desequilíbrio é uma deficiência de dopamina que acarreta uma atividade colinérgica
excessiva.
Contraindicações: As drogas antiparkinsonianas são contraindicadas em
indivíduos com hipersensibilidade. Devem-se evitar os anticolinérgicos em indivíduos
com glaucoma de angulo fechado; obstruções do piloro, duodeno e colo da bexiga;
hipertrofia da próstata ou miastenia grave. É necessária atenção ao administrar essas
drogas em idosos, pessoas debilitadas, pessoas com tendência à retenção urinária ou
aqueles expostos a temperaturas ambientais elevadas.
Efeitos colaterais comuns: Boca seca, vista turva, ílio paralítico, retenção
urinária, taquicardia, elevação da temperatura, diminuição da sudorese, náuseas,
desconforto gastrointestinal, sedação, tonturas, hipotensão ortostática, exacerbação de
psicoses.

4.6 IMPREGNAÇÃO NEUROLÉPTICA MALIGNA

A impregnação neuroléptica maligna é uma complicação rara, porém


potencialmente fatal no tratamento com drogas neurolépticas. As avaliações de rotina
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devem incluir aferição de temperatura e observação quanto aos sintomas


parkinsonianos. Ela pode acontecer logo após a administração da droga ou dentro de 24
a 72 horas subsequentes, sendo os sintomas: grave rigidez muscular parkinsoniana,
hiperpirexia até 41º C, taquicardia, taquipneia, flutuações da pressão arterial, diaforese
(sudorese intensa), deterioração rápida do estado mental a torpor e/ou coma.
Caso ela ocorra, deve-se suspender imediatamente a medicação neuroléptica e
monitorar os sinais vitais, o grau de rigidez muscular, a ingestão e excreção, além dos
níveis de consciência. Também, o médico pode prescrever Bromocriptina (parlodel) ou
Dantrolene (dantrium) para combater os seus efeitos.

Orientações ao Paciente/Família:
 Ficar atento aos sintomas de impregnação, relatar ao médico e administrar drogas
antiparkinsonianas, quando prescritas;
 Deve ter cuidado ao dirigir ou operar máquinas perigosas, pois podem causar sonolência
e tonturas;
 Não se deve suspender a droga abruptamente após um uso prolongado. Fazê-lo pode
produzir sintomas de abstinência, como náuseas vômitos, gastrite, cefaleia, taquicardia,
insônia e tremores;
 Ao passar algum tempo ao ar livre, usar filtro solar e roupas protetoras. A pele fica mais
susceptível a queimaduras;
 Relatar imediatamente ao médico, a ocorrência de qualquer um dos sintomas seguintes:
garganta inflamada, febre, mal-estar, sangramento, equimoses frequentes, náuseas,
vômitos persistentes, cefaleia intensa, taquicardia, espasmos musculares, tremores, urina
de cor escura, fezes claras, pele ou olhos amarelados, erupção cutânea ou convulsões;
 Deve se levantar lentamente de uma posição sentada ou deitada, para evitar baixa súbita
da pressão arterial.

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Módulo III

ALCOOL, TABACO E OUTRAS DROGAS NO CAMPO DA SAUDE MENTAL

SEXUALIDADE E SAÚDE MENTAL

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5. ÁLCOOL, TABACO E OUTRAS DROGAS NO CAMPO DA SAÚDE


MENTAL

O que é droga?

De acordo com a definição da Organização Mundial da Saúde, é qualquer


substância não produzida pelo organismo, que tem a propriedade de atuar sobre um ou
mais de seus sistemas, produzindo alterações em seu funcionamento. Uma mesma
substância pode funcionar como medicamento em algumas situações e como tóxico em
outras.

O que são drogas psicoativas e quais os seus efeitos?

As drogas alteram o funcionamento cerebral e causam modificações no estado


mental e psiquismo do indivíduo, por isso são chamadas de drogas psicotrópicas, ou
substâncias psicoativas, e possuem a capacidade de provocar dependência. Os seus
efeitos sobre o organismo podem ser agrupados em agudos (aqueles que ocorrem
durante o uso da substância) e crônicos (os que ocorrem algum tempo depois do uso da
substância, geralmente quando se trata de um uso prolongado); bem como em
somáticos (efeitos sobre o organismo) e psíquicos (efeitos sobre o estado da mente).
Comumente, os usuários procuram os efeitos psíquicos agudos das drogas, que são
muitas vezes prazerosos, mas eles não dependem só da substância consumida, como
também do contexto em que é usada e das expectativas que o usuário tem com relação a
ela.

Por que as pessoas se drogam?

De acordo com a Classificação Internacional de Doenças – 10ª. Revisão (CID –


10), a questão do envolvimento de pessoas com as drogas – opióides (morfina, heroína,
codeína, diversas substâncias sintéticas), canabinóides (maconha), sedativos ou

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hipnóticos (barbitúricos, benzodiazepínicos), cocaína e outros estimulantes (anfetaminas


e substâncias relacionadas à cafeína), alucinógenos, tabaco e solventes voláteis – vai
além da simples busca dos efeitos dessas substâncias. Diversas causas podem ser
consideradas, como a disponibilidade dessas substâncias, a imagem ou as ideias que as
pessoas fazem a respeito das drogas, as características de personalidade, o uso de
substâncias por familiares ou amigos e assim por diante. Muito além de um problema
“médico” ou “um caso de polícia”, os problemas relacionados ao consumo excessivo de
álcool e ao uso de tabaco e outras drogas são questões que abrangem toda a sociedade.

5.1 ÁLCOOL27

Curiosidades sobre o álcool


 A bebida alcoólica surgiu ao acaso durante o período Neolítico na pré-história.
 Alexandre, o Grande, caiu inconsciente depois de beber muito em seu ultimo
banquete e veio a morrer dias depois de doença relacionada ao abuso de álcool.
 A regulamentação do comércio de vinho passou a existir de forma mais
consistente a partir da Idade Média.
 As mulheres russas proletárias no início do século XX colocavam bebida
destilada nas chupetas de seus filhos.
 Na Inglaterra do século XVIII o gim era conhecido como a bebida de preferência
das mulheres.
 Apesar do abuso de álcool ter sido sempre criticado durante a história humana,
o conceito de dependência alcoólica só foi surgir no final do século XVIII e início
do século XIX.

Quando tudo começou...


Acredita-se que a bebida alcoólica teve origem na Pré-História, mais precisamente
durante o período Neolítico quando houve a aparição da agricultura e a invenção da

27
Disponível em: http://www.cisa.org.br/artigo/234/historia-alcool.php

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cerâmica. A partir de um processo de fermentação natural ocorrido há aproximadamente


10.000 anos o ser humano passou a consumir e a atribuir diferentes significados ao uso
do álcool. Os celtas, gregos, romanos, egípcios e babilônios registraram de alguma
forma o consumo e a produção de bebidas alcoólicas.

A Embriaguez de Noé
Em uma das mais belas passagens do Antigo Testamento da Bíblia (Gênesis
9.21) Noé, após o dilúvio, plantou vinha e fez o vinho. Fez uso da bebida a ponto de se
embriagar. Reza a bíblia que Noé gritou, tirou a roupa e desmaiou. Momentos depois
seu filho Cam o encontrou "tendo à mostra as suas vergonhas". Foi o primeiro relato
que se tem conhecimento de um caso de embriaguez. Michelangelo, famoso pintor
renascentista (1475-1564), se inspirou nesse episódio pintar um belíssimo afresco, com
esse nome, no teto da Capela Sistina, no Vaticano. Nota-se, assim, que não apenas o uso
de álcool, mas também a sua embriaguez, são aspectos que acompanham a humanidade
desde seus primórdios.

O álcool através da história


Grécia e Roma
O solo e o clima na Grécia e em Roma eram especialmente ricos para o cultivo da
uva e produção do vinho. Os gregos e romanos também conheceram a fermentação do
mel e da cevada, mas o vinho era a bebida mais difundida nos dois impérios tendo
importância social, religiosa e medicamentosa.
No período da Grécia Antiga o dramaturgo grego Eurípedes (484 a.C.-406 a.C.)
menciona nas Bacantes duas divindades de primeira grandeza para os humanos:
Deméter, a deusa da agricultura que fornece os alimentos sólidos para nutrir os
humanos, e Dionísio, o Deus do vinho e da festa (Baco para os Romanos). Apesar do
vinho participar ativamente das celebrações sociais e religiosas greco-romanas, o abuso
de álcool e a embriagues alcoólica já eram severamente censurados pelos dois povos.

Egito Antigo

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Os egípcios deixaram documentado nos papiros as etapas de fabricação,


produção e comercialização da cerveja e do vinho. Eles também acreditavam que as
bebidas fermentadas eliminavam os germes e parasitas e deveriam ser usadas como
medicamentos, especialmente na luta contra os parasitas provenientes das águas do
Nilo.

Idade Média
A comercialização do vinho e da cerveja cresce durante este período, assim
como sua regulamentação. A intoxicação alcoólica (bebedeira) deixa de ser apenas
condenada pela igreja e passa a ser considerada um pecado por esta instituição.

Idade Moderna
Durante e Renascença passa a haver a fiscalização dos cabarés e tabernas, sendo
estipulados horários de funcionamento destes locais. Os cabarés e tabernas eram
considerados locais onde as pessoas podiam se manifestar livremente e o uso de álcool
participa dos debates políticos que mais tarde vão desencadear na Revolução Francesa.

Idade Contemporânea
O fim do século 18 e o início da Revolução Industrial é acompanhado de
mudanças demográficas e de comportamentos sociais na Europa. É durante este período
que o uso excessivo de bebida passa a ser visto por alguns como uma doença ou
desordem. Ainda no início e na metade do século 19 alguns estudiosos passam a tecer
considerações sobre as diferenças entre as bebidas destiladas e as bebidas fermentadas,
em especial o vinho. Neste sentido, Pasteur em 1865, não encontrando germes
maléficos no vinho declara que esta é a mais higiênica das bebidas.
Durante o século 20 países como a França passam a estabelecer a maioridade de
18 anos para o consumo de álcool e em janeiro de 1920 o estado Americano decreta a
Lei Seca que teve duração de quase 12 anos. A Lei Seca proibiu a fabricação, venda,
troca, transporte, importação, exportação, distribuição, posse e consumo de bebida

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alcoólica e foi considerada por muitos um desastre para a saúde pública e economia
americana.
Foi no ano de 1952 com a primeira edição do DSM-I (Diagnostic and Statistical
Manual of Mental Disorders) que o alcoolismo passou a ser tratado como doença.
No ano de 1967, o conceito de doença do alcoolismo foi incorporado pela
Organização Mundial de Saúde à Classificação Internacional das Doenças (CID-8), a
partir da 8ª Conferência Mundial de Saúde. No CID-8, os problemas relacionados ao
uso de álcool foram inseridos dentro de uma categoria mais ampla de transtornos de
personalidade e de neuroses. Esses problemas foram divididos em três categorias:
dependência, episódios de beber excessivo (abuso) e beber excessivo habitual. A
dependência de álcool foi caracteriza pelo uso compulsivo de bebidas alcoólicas e pela
manifestação de sintomas de abstinência após a cessação do uso de álcool.

5.1.1 SAÚDE MENTAL DO ALCOOLISTA28

História do tratamento dos problemas relacionados ao consumo de álcool

Pré-século XVIII: Influência da Igreja – embriaguez como pecado; assim o pecador


tinha o poder de arrepender-se e parar de pecar sem recorrer a um médico.
Século XVIII: Beber excessivo não como pecado, mas como hábito a ser desaprendido
– doença passível de intervenção médica (Benjamin Rush e Thomas Trotter)
Século XIX: Internações prolongadas, métodos físicos (Norman Kerr e Thomas
Crothers).
Século XX: Alcoolismo como doença crônica (The disease concept of alcoholism, M
Jellinek, 1960)

Síndrome de Dependência de Álcool (SDA): Considerações sobre o diagnóstico

28
Disponível em:
http://webcache.googleusercontent.com/search?q=cache:ySsOQMRkbpcJ:www.cremesp.org.br/pps/eventos/LygiaCREM
ESP.pptx+&cd=12&hl=pt-BR&ct=clnk&gl=br

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1. Ter problemas com álcool não significa ser dependente de álcool (dependência x uso
nocivo);
2. Há diferentes graus de dependência de álcool (a dependência não é uma entidade fixa);
3. É necessário o reconhecimento dos fatores ambientais, culturais e de personalidade do
paciente (fatores de risco e proteção);
Identificação de comorbidades.

Elementos-chave da SDA

1. Estreitamento do repertório;
2. Saliência do beber;
3. Aumento da tolerância ao álcool;
4. Síndrome de abstinência;
5. Alívio ou esquiva dos sintomas de abstinência;
6. Consciência subjetiva da compulsão por beber;
7. Reinstalação da síndrome de dependência.

Manejo da SDA

Proposta terapêutica individualizada:


 Entrevista motivacional;
 Abordagem psicossocial;
 Grupos de mútua-ajuda;
 Farmacoterapia.

Reposição vitamínica:
Tiamina 100 mg IM por 14 dias em dias alternados
Após:
Tiamina 300 mg 1 cp VO ao dia
Ácido fólico 5 mg 1 cp VO ao dia

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DISSULFIRAM (1940)
Álcool Acetaldeído Acetato
Álcool Desidrogenase
Aldeído Desidrogenase
 Inibição da dopamina β-hidroxilase
 Contra-indicado para pacientes com comorbidades clínicas
 Dose: 500 mg/dia por 1 a 2 semanas, após manutenção com 250mg/dia
 Início no mínimo 12hs após último uso de álcool
 Tempo de tratamento: 3 meses a 1 ano
 Termo de consentimento (interações e meia-vida)

NALTREXONA
 Antagonista opióide: ação sobre o craving e sobre a euforia ligada à ingestão de álcool
 Dose: em geral, 50 mg/dia
 Início 3 a 7 dias após o início da abstinência
 Tempo de tratamento: em média, 3 meses

ACAMPROSATO
 Em uso para o tratamento do alcoolismo desde 1996
 É um análogo gabamimético – mas não interage com o álcool ou com
benzodiazepínicos
 Dose: 1332 mg/dia (1 cp VO 3x/dia)

TOPIRAMATO
 Inicialmente um anticonvulsivante, em estudo para o tratamento do alcoolismo
(agonista gabaérgico)
 Dose: 200 a 400 mg/dia (início com 25mg/dia, com aumento gradativo em 3 a 8
semanas)

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Perspectivas futuras:
 Baclofen (estimulante gabaérgico)
 Nalmefeno (antagonista opióide)
 Ondansetron (antagonista serotoninérgico)
 LY686017 (bloqueio de receptores de neuroquinina 1)

5.1.2 FARMACOLOGIA DO ÁLCOOL

Esta droga amplamente usada é um depressor do sistema nervoso central (SNC),


a qual, em doses suficientemente elevadas, torna-se um anestésico. Ele afeta
adversamente quase todos os sistemas corporais, interferindo com o funcionamento das
membranas celulares, respiração intracelular ou processamento de energia na maioria
das células do corpo, especialmente no SNC.
Embora a ação primária do álcool sobre o SNC resulte em depressão de toda
atividade, propriedades estimulantes comportamentais predominam em doses mais
baixas, um fato que pode estar relacionado a um efeito estimulante direto do álcool ou a
uma depressão diferencial dos neurônios inibitórios em concentrações sanguíneas de
álcool relativamente baixas.
A depressão do SNC ocorre em todos os níveis do cérebro, sendo que as
primeiras ações observadas ocorrem no sistema de ativação reticular e aquelas áreas
mais intimamente envolvidas com funções complexas – o córtex.
O nível final de disfunção comportamental depende da idade, peso, sexo e
experiência prévia com álcool, bem como do nível de tolerância. Pode-se esperar de um
indivíduo não tolerante, com os resultados variando desde um leve prejuízo da
coordenação motora, sensação e humor em baixas doses até a amnésia e anestesia de
estágio 1 para níveis sanguíneos excedendo 300mg de álcool/100ml de sangue
(300mg%). Níveis de 400-700– mg% podem causar coma, insuficiência respiratória e
morte, embora indivíduos tolerantes possam estar acordados e capazes de falar em
níveis séricos excedendo 780 mg.

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Um tópico adicional digno de nota é a velha busca de agentes para curar a


embriaguez. Provavelmente os dados mais úteis provém da demonstração que o açúcar
da fruta (frutose) aumenta a velocidade de desaparecimento do etanol no corpo em 10%
ou mais, auxiliando, assim, o indivíduo a ficar sóbrio mais rapidamente. A aplicação
clínica deste achado é limitada devido à possibilidade da hiper-hidratação resultante e
alterações no equilíbrio acidobásico corporal. Interessantes achados adicionais incluem
o relato de que o antagonista narcótico naloxone (Narcan) pode reverter comas
induzidos por álcool, embora este efeito seja mais provavelmente relacionado a um
efeito mais geral do naloxone em reverter os efeitos do choque, não importando qual o
mecanismo.
Dados preliminares adicionais indicam resultados pouco animadores quanto ao
uso de estimulantes cerebrais precursores de substâncias químicas cerebrais, como o L-
dopa, e inibidores de sintetase das prostaglandinas, assim como o ibuprofen (Nuprin),
enquanto potenciais agentes para reverter a intoxicação. Entretanto, algum progresso foi
feito, e parece provável que os antagonistas dos efeitos específicos do etanol, em
oposição a antagonistas globais com ações múltiplas, podem vir a ser revelados nos
próximos anos.

Efeitos sobre o corpo


O álcool é uma droga muito atraente, pois seus efeitos imediatos em doses
moderadas são prazerosamente percebidos pelo usuário. Além disto, para os indivíduos
não-alcoolistas que não estão usando medicações e apresentam boas condições físicas, o
álcool em quantidade equivalente a até dois drinques diários possui os efeitos benéficos
de aumentar a socialização, possivelmente estimular o apetite, talvez reduzir o risco de
doença cardiovascular através de um aumento nas lipoproteínas de alta densidade
(HDL), e assim por diante.
Quando o álcool é ingerido com moderação por tais indivíduos com boa saúde, a
maioria das alterações patológicas que ocorre é reversível. Porém, à medida que o
consumo aumenta para mais do que dois drinques ao dia, ou quando indivíduos doentes
bebem, o dano a vários sistemas corporais pode ser mais sério, e sinais precoces de

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algumas destas alterações podem dar ao clínico razões para aumentar seu nível de
suspeita de que o paciente em questão seja um alcoolista.
O alcoolista médio provavelmente aparecerá no consultório abstinente, bem
vestido, e sem nenhum sinal de álcool. Irá queixar-se de qualquer um de uma série de
problemas clínicos e emocionais, os quais devem ser apropriadamente diagnosticados se
o clínico espera evitar chamados inesperados no meio da noite e falta de resposta a
tratamentos inadequados que nunca deveriam ter sido dados em primeiro lugar (pílulas
para dormir, por exemplo). Assim, o clínico deve ter o máximo interesse em identificar
o alcoolista, de forma a estar certo de oferecer o máximo de cuidados com o mínimo de
riscos.

Marcadores sanguíneos
Os testes de triagem mais eficazes e óbvios envolvem simples marcadores
sanguíneos. Muitos alcoolistas tem uma leve elevação no ácido úrico, ácidos graxos
livres, um volume corpuscular médio (VCM) de aproximadamente de 90 ou 100 micras
cúbicos, e/ou uma elevação na gamaglutamil transferase ou GGT (níveis de 30-50 ou
mais).
O primeiro teste a sofrer alteração provavelmente será a GGT, com as elevações
tendendo a ocorrer muitos antes que outros testes de função hepática mostrem um
aumento em resposta talvez, à indução real desta enzima pelo etanol. Um método
relacionado consiste em avaliar o padrão de 25 testes sanguíneos comumente usados, os
quais de acordo com um relato, podem ser inseridos em uma fórmula matemática para
identificar mais de 85% dos alcoolistas em relação a controles, o que tira vantagem de
observações de aumentos em porcentagem moderada em um número limitado de testes
de laboratório após ter sido estabelecido um valor basal em abstinência. Assim, em
pacientes nos quais os valores basais de GGT, transaminase glutamicooxalecética
(TGO) e fosfatase alcalina foram estabelecidos na abstinência (após um programa de
tratamento do álcool sob internação, seguindo hospitalizações por quaisquer outros
problemas, por exemplo) um aumento de 20% ou mais em um ou dois destes valores
específicos correlaciona-se de modo significativo com o retorno ao alcoolismo intenso,

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mesmo quando o aumento permanece dentro da faixa “normal” para um laboratório. A


simples combinação do escore MAST e a observação dos testes sanguíneos para
detectar qualquer alteração podem ser muito úteis.

Aparelho digestivo
No aparelho digestivo, o álcool está associado com altas taxas de úlcera péptica,
bem como taxas elevadas de inflamação do estômago (gastrite) ou pâncreas
(pancreatite), esteatose, hepatite alcoólica, hepatite crônica ativa e cirrose. Mesmo em
doses baixas, o álcool perturba a função hepática de produção de açúcar
(gliconeogênese), desviando-a para a produção de gorduras.
A maioria dos problemas no fígado pode ser secundária ao uso do álcool pelas
células como “combustível preferencial”, com resultante escassez de nicitinamida
adenina dinucleotídeo (NAD) como receptor de hidrogênio. Os problemas hepáticos
parecem progredir desde a esteatose (provavelmente observada com níveis repetidos de
alcoolemia de 80mg/dl ou mais) à hepatite alcoólica (provavelmente não relacionada
diretamente à esteatose e à subsequente cirrose, que pode iniciar com a deposição
precoce de fibras em torno das veias centrais, ou seja, esclerose hialina central.
Algumas alterações hepáticas adversas podem ser vistas com o consumo de tão
pouco quanto 20 g de álcool por dia em mulheres e 50 mg diárias em homens, embora
doses mais elevadas por períodos de tempo maiores sejam necessárias para a cirrose
verdadeira. O clínico que não se especializou no tratamento de alcoolistas deve lembrar-
se de que apenas cerca de 1 em 5 alcoolistas realmente apresenta-se com cirrose
clinicamente significativa

Alcoolismo e câncer
Através de uma série de mecanismos, os alcoolistas também possuem taxas
significativamente elevadas de cânceres do trato digestivo (especialmente do esôfago e
estômago), cabeça e pescoço e pulmões. Este alto risco pode se relacionar a problemas
de irritação local das vias pulmonares ou digestivas, um decréscimo nos sistemas
imunológicos especialmente destinados a identificar e destruir células cancerosas. Os

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dados sobre a prevalência aumentada de câncer em alcoolistas permanecem fortes


mesmo quando os efeitos de possíveis alterações na dieta, fumo e outros fatores são
considerados.
Enquanto a maior parte do aumento nas lesões cancerosas está associado com
níveis muito elevados de ingestão de álcool, dados recentes indicam que para um tipo de
câncer, o carcinoma de mama, a ingestão de tão pouco quanto um ou dois drinques
diários está associada a um risco moderadamente aumentado. Em última análise, os
alcoolistas severos devem ser cuidadosamente avaliados para a possibilidade de câncer,
e o alcoolismo deve ser considerado como um diagnóstico adicional possível em
pacientes com lesões cancerosas, sobretudo de cabeça e pescoço, trato digestivo e
pulmão.

Sistema nervoso
No sistema nervoso, a ingestão crônica de álcool resulta na deterioração dos
nervos periféricos de ambas as mãos e os pés (uma neuropatia periférica vista em 5 a
15% dos alcoolistas) e em síndromes cerebrais orgânicas (SCO) temporárias ou
permanentes, associadas tanto com o efeito direto do álcool quanto com deficiências
vitamínicas específicas, como a síndrome de Wernicke-Korsakoff relacionada à tiamina
(observada em menos de 5% dos alcoolistas). Foi estimado que entre 15 e 30% dos
pacientes de asilos com SCO são alcoolistas cuja organicidade induzida pelo álcool
tornou-se permanente.
Problemas adicionais associados ao SNC incluem uma descoordenação motora
permanente (degeneração cerebelar) de desenvolvimento agudo, a qual é vista em
menos de 1% dos alcoolistas, e outras desordens neurológicas mais dramáticas, porém
mais raras, que podem resultar em morte rápida. Finalmente, níveis aumentados de
ingestão de bebida estão associados com um risco elevado de acidente vascular cerebral
hemorrágico, mesmo quando outros fatores como a pressão sanguínea estão
controlados. Entretanto, como é reconhecido pelo CID – 10, a forma mais prevalente de
confusão relacionada ao álcool é a intoxicação, embora a maioria dos indivíduos
apresente uma melhora da consciência obnubilada em questão de horas, aqueles com

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lesão cerebral preexistente (alguns idosos e aqueles com traumatismo craniano prévio,
por exemplo) podem apresentar confusão durante dias ou semanas. Assim, o álcool
deve ser considerado uma parte do diagnóstico diferencial de todos os estados
confusionais de início rápido.
A associação entre o alcoolismo e o funcionamento intelectual reduzido
permanente é menos clara. A maioria dos alcoolistas que se apresenta para
desintoxicação mostra alguns sinais de disfunção intelectual, sendo que 40 a 70%
podem mostrar o tamanho dos ventrículos cerebrais aumentado (possivelmente
indicando tecido cerebral reduzido). Embora alguns pesquisadores sintam que existe
uma correlação entre os ventrículos cerebrais aumentados e o funcionamento reduzido
nos testes psicológicos, nem todos concordam, sendo provável que a maioria dos
alcoolistas se recupere em ambos os parâmetros após meses de abstinência.
A etiologia destas alterações psicológicas não é conhecida, mas provavelmente
representa a combinação de trauma, deficiências vitamínicas e um efeito neurotóxico
direto do álcool sobre o cérebro.

Sistema cardiovascular
Foi estimado também que ¼ dos alcoolistas desenvolve doenças do coração ou
sistema cardiovascular, uma vez que o álcool, tóxico ao músculo estriado, produz uma
inflamação do coração ou miocardiopatia, anormalidades pré-clínicas do ventrículo
esquerdo, hipertensão e elevação nas gorduras sanguíneas, incluindo o colesterol. Além
do mais, o álcool em doses tão baixas quanto um drinque pode diminuir o débito
cardíaco e a contratilidade em não–alcoolistas com doença cardíaca, podendo reduzir,
ainda, os sinais dolorosos de alerta enquanto aumenta a lesão cardíaca potencial ou
isquemia em pacientes com angina. O alcoolismo também deve ser considerado em
todos os indivíduos que demonstram elevações leves na pressão sanguínea (145/95, por
exemplo), sobremaneira se a pressão parece flutuar com o tempo (mais alta no início da
semana, por exemplo); tão pouco quanto 1g/kg de peso por dia de etanol durante 5 dias
pode resultar em um aumento significativo de pressão, especialmente entre indivíduos
com elevações prévias nesta medida.

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Células sanguíneas
O álcool também reduz a produção de todos os tipos de células sanguíneas, com
resultante anemia de hemácias grandes (uma macrocitose, provavelmente relacionada à
deficiência de ácido fólico) redução na produção e eficiência dos glóbulos brancos
(provavelmente conduzido a uma predisposição aumentada à infecção), e produção
reduzida de fatores de coagulação e plaquetas (provavelmente relacionada à lesão e
sangramento gastrointestinal aumentados). Existe também um decréscimo nos linfócitos
derivados do timo, o que pode estar relacionado às taxas aumentadas de câncer
observadas em alcoolistas. As diminuições em vários aspectos do sistema imune podem
contribuir para uma vulnerabilidade aumentada à tuberculose, infecções virais ou
bacterianas e cânceres.

Massa muscular
A massa muscular corporal também é sensível ao álcool, e a embriaguez pode
resultar em inflamação muscular ou, em alcoolistas crônicos, perda muscular,
primariamente nos ombros e quadris.

Função sexual
A função sexual também é perturbada. Os homens podem desenvolver redução
na produção e motilidade do esperma através dos efeitos diretos do etanol sobre os
testículos; volume ejaculatório, contagem e motilidade espermática diminuídos (todos
os quais tendem a melhorar após três meses de abstinência); produção reduzida de
testosterona e impotência – por mecanismos psicológicos, neuropatia periférica
envolvendo os nervos perineais e/ou a destruição direta dos testículos. As mulheres
podem desenvolver irregularidades menstruais e o álcool pode afetar o desenvolvimento
fetal – síndrome alcoólica fetal (SAF).

O que é a síndrome alcoólica fetal?

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 Bebê com malformações na estrutura facial, pés e mãos;


 Sindactilia;
 Defeitos cardíacos congênitos;
 Baixo peso;
 Retardo mental.

Outras anormalidades bioquímicas


Através de uma série de mecanismos, vários outros problemas relacionados ao
álcool são produzidos. O álcool induz várias anormalidades nos testes sanguíneos,
incluindo aqueles da função hepática, glicose, competentes sanguíneos, creatinina,
fosfoquinase (COK) e ácido úrico. Um problema importante adicional é a cetose
alcoólica, que tem maior probabilidade de ser vista em pacientes alcoolistas com
vômitos e desidratação persistentes. Este quadro clínico provavelmente relaciona-se ao
jejum, mas deve ser cuidadosamente distinguido de outras causas de cetose, como o
diabetes. Também é provável que o álcool contribuía para a osteoporose, com um maior
risco associado de fraturas, e pode ter importantes efeitos sobre o funcionamento renal.

Redução na capacidade de dirigir veículos


Qualquer discussão sobre os efeitos do álcool sobre o corpo estaria incompleta
sem mencionar a consequência do alcoolismo que provavelmente tem o impacto mais
dramático sobre a morbidade e mortalidade. Existem evidências consistentes de que,
mesmo em uma alcoolemia tão baixa quanto 15mg/dl, isto é, aproximadamente um
drinque, a capacidade de operar um veículo a motor é significativamente reduzida.
Níveis dramáticos similares de disfunção foram observados mesmo com pilotos
experientes operando simuladores de voo, e um estudo recente demonstrou redução da
capacidade de pilotar durando 14 horas ou mais após a alcoolemia ter alcançado 100mg/
dl. Assim, o risco de acidentes (provavelmente tanto no lar e local de trabalho quanto
nas rodovias ou no ar) é significativamente aumentado, mesmo após doses moderadas
de álcool.

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Enquanto a maioria dos motoristas embriagados em primeira condenação não é


alcoolista (embora com certeza tenham apresentado um comportamento perigoso para si
e para os demais) é provável que a maioria dos indivíduos enviados aos serviços de
alcoolismos locais para avaliação preencham os critérios de alcoolistas. Em qualquer
situação, quer com alcoolistas ou com motoristas embriagados com um julgamento
prejudicado, a redução na capacidade de dirigir relacionada ao álcool em indivíduos
operando veículos a motor é uma parte importante dos efeitos do álcool sobre o corpo.

Efeitos sobre os processos mentais


Além das alterações fisiológicas que ocorrem com o álcool, existe uma série de
consequências emocionais importantes. Com uma ingestão modesta no pico ou durante
a queda da alcoolemia a maioria das pessoas (alcoolistas ou não) experimenta tristeza,
ansiedade, irritabilidade e uma grande variedade de problemas interpessoais resultantes.
Em doses maiores persistentes, o álcool pode causar quase todos os sintomas
psiquiátricos, incluindo quadros temporários de tristeza intensa, alucinações auditivas
e/ou paranoia em presença de processos de pensamento lúcidos (um sensório claro) e
intensa ansiedade.
Pode ocorrer insônia com a intoxicação alcoólica simples, uma vez que a droga
tende a fragmentar o sono o resultado é tanto uma redução nos estágios de sono
profundo quanto despertares frequentes. Espera-se que estes problemas persistam em
alcoolistas por três a seis meses, como parte de uma fase de abstinência “protraída”.
Outra consequência do álcool que provoca impacto sobre ambos os
funcionamentos, físico e mental, é a ressaca. Apesar do reconhecimento deste fenômeno
por centenas de anos, pouca pesquisa sistemática foi desenvolvida na área. A ressaca
consiste de uma mistura de sintomas que podem incluir cefaleia, náuseas e vômitos,
sede, apetite diminuído, tontura, fadiga e tremor. Este é um fenômeno altamente
prevalente, sendo provável que pelo menos uma ressaca seja relatada em 40% ou mais
dos homens com idade igual ou superior a 18 anos, e em 27% das mulheres em idade
similar.

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A severidade dos sintomas varia muito entre os indivíduos, mas provavelmente


se relaciona em geral a quantidade de álcool consumida. Uma série de mecanismos
hipotéticos para este fenômeno foi apresentada, incluindo consequências de alterações
nos níveis de vasopressina ou dopamina no hipotálamo, além de alterações na
prostaglandina ou na atividade beta-adrenérgica, bem como a possibilidade de que estes
sintomas representem um grau leve de abstinência de álcool.
Além da prevenção pela limitação da ingesta de etanol, ainda não foi
desenvolvido nenhum método de tratamento convincente para a ressaca, este fenômeno
tão prevalente.

Metabolismo do álcool
O álcool é completamente absorvido pelas paredes ou membranas do trato
digestivo, sobretudo no estômago e na porção proximal do intestino delgado. Somente 5
a 15% são excretados diretamente através dos pulmões, suor e urina, o restante sendo
metabolizado no fígado numa velocidade de aproximadamente um drinque por hora, o
equivalente a 7g de etanol por hora, com 1g correspondendo a 1ml de álcool a 100%.
A rota usual de metabolismo é através da enzima álcool desidrogenase (ADH),
embora algum álcool adicional seja metabolizado no sistema microssomal hepático.
Assim, o principal produto do metabolismo do álcool é o acetaldeído, uma substância
muito tóxica que, felizmente, é rapidamente metabolizada a dióxido de carbono e água
por uma série de mecanismos.
O ADH e a aldeído desidrogenasse (ALDH) são utilizados pelo corpo para uma
série de propósitos, além do metabolismo do etanol. Ambas as enzimas estão sob
controle genético, e o ADH possui oito ou mais isoenzimas em seres humanos, cada
uma com diferentes propriedades metabólicas e com diferentes padrões. A ALDH
possui pelo menos quatro isoenzimas clinicamente significativas em seres humanos, e a
mais ativa fisiologicamente em relação ao acetaldeído, ALDH-I, pode estar ausente em
até 50% dos orientais. Este resultado é responsável pela alta incidência de rubor facial
quando algumas pessoas orientais bebem, o que pode estar relacionado com o menor
nível de alcoolismo nessa população.

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Tolerância e Dependência física


A tolerância a doses mais altas de etanol ocorre rapidamente e acompanha a
tolerância dos depressores. Esta é tanto metabólica, primariamente através de um leve
aumento na atividade da ADH e no sistema microssomal de oxidação do etanol (SMO)
no fígado, quanto farmacodinâmica, o resultado aparente de uma adaptação direta dos
tecidos do SNC ao álcool.
Como é verdade para a maioria dos mecanismos farmacológicos, os fatores
comportamentais desempenham um papel no desenvolvimento da tolerância e
dependência física. A respeito desse último, animais que recebem uma dose
potencialmente letal de uma droga, em um ambiente no qual receberam previamente
doses subletais da droga, tem maior probabilidade de sobreviver à droga que animais
com histórias similares recebendo a mesma dose numa situação não relacionada à
exposição medicamentosa prévia. A tolerância cruzada a outros depressores do SNC
ocorre, mas deve ser lembrado que a administração concomitante de dois ou mais
depressores do SNC pode potenciar os efeitos de ambos.
O álcool também produz um nível de dependência física que resulta numa
síndrome de abstinência quase idêntica àquela descrita para os depressores.

5.2 NICOTINA

Em 1988 o “Surgeon General” dos Estados Unidos publicou um relatório


compilando todas as evidências em relação à nicotina e, de forma inquestionável,
mostrou que ela é a droga responsável pela dependência do comportamento de fumar.
Embora na fumaça do cigarro existam cerca de 4.000 substâncias químicas, sendo pelo
menos 60 delas cancerígenas, o fumante busca especificamente o reforço da nicotina.

Natureza da dependência da nicotina


As evidências sugerem que fumar é um hábito que começa na adolescência, não
devido aos efeitos psicoativos da nicotina, que são inicialmente desagradáveis, mas

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devido a uma série de fatores socioculturais, tais como a pressão grupal, a curiosidade
em relação aos efeitos do fumo, a busca de independência, a rebeldia e uma imagem
cultural associada ao prazer e bem-estar.
A meia-vida da nicotina é de noventa minutos e, consequentemente, os sintomas
de abstinência tenderão a aparecer após cerca de uma hora após o término do cigarro. A
grande maioria fuma mais de doze cigarros, geralmente ao longo do dia e a cada
sessenta ou noventa minutos. Um bom critério para avaliar o nível de dependência da
nicotina é o tempo decorrido para o consumo do primeiro cigarro do dia após o
indivíduo despertar, com a grande maioria dos fumantes acendendo o primeiro cigarro
na primeira hora da vigília.

Sintomas de abstinência da nicotina

 Craving  Inquietação
 Irritabilidade  Bradicardia
 Ansiedade  Aumento do apetite
 Depressão  Perturbação do sono (insônia ou
 Dificuldade de concentração sonolência

Implicações do uso de nicotina para a Psiquiatria


É da relação entre a nicotina e sintomas depressivos e de ansiedade.
Estudos na população geral mostraram que as pessoas dependentes da nicotina
tinham maiores taxas de depressão e ansiedade, mesmo quando corrigidas para as demais
variáveis. Pacientes com algum sintoma de depressão e que param de fumar referem, em
75% dos casos, manifestações depressivas na abstinência, quando comparados com 30% dos
não depressivos.
Dados clínicos mostram que 74% dos pacientes esquizofrênicos fumam, quando essa
taxa é de cerca de 30% na população geral. No caso de pacientes institucionalizados, essas
taxas chegam a 90%, tratando-se geralmente de fumantes pesados.

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Outra explicação seria que a nicotina aumenta a liberação da dopamina no nucleus


accumbens, que está associado com recompensa, e provavelmente no córtex pré-frontal. Em
condições normais, a dopamina é liberada no nucleus accumbens durante as relações sexuais
e o comer.

Prevenção e tratamento
Divulgar, de forma clara e acessível, os problemas relacionados com o tabagismo é
importante no sentido de criar uma cultura desfavorável ao cigarro, básica para um programa
de saneamento.
Outro fator de utilidade na tentativa de diminuir o consumo de cigarros pela
população é o aumento de impostos (e do preço, consequentemente) sobre esse produto.
O tratamento de sintomas de abstinência, sobretudo quando de intensidade de
moderada a intensa, aumenta de forma sensível (de duas a três vezes) as chances de
abstinência e pode ser feito com reposição e retirada gradual de nicotina (por gomas de
mascar ou emplastros aplicados sobre a pele íntegra).

5.3 CRACK29

A droga: composição e ação no organismo


O crack é obtido a partir da mistura da pasta-base de coca ou cocaína refinada (feita
com folhas da planta Erythroxylum coca), com bicarbonato de sódio e água. Quando
aquecido a mais de 100ºC, o composto passa por um processo de decantação, em que as
substâncias líquidas e sólidas são separadas. O resfriamento da porção sólida gera a pedra de
crack, que concentra os princípios ativos da cocaína.
Segundo o químico e perito criminal da Polícia Federal (PF) Adriano Maldaner o
nome “crack” vem do barulho que as pedras fazem ao serem queimadas durante o uso. “A
diferença entre a cocaína em pó e o crack é apenas a forma de uso, mas o princípio ativo é o
mesmo”, afirma Maldaner.

29
Disponível em: http://www.justica.gov.br/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/programa-crack-1/

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Por ser produzido de maneira clandestina e sem qualquer tipo de controle, há


diferença no nível de pureza do crack, que também pode conter outros tipos de substâncias
tóxicas - cal, cimento, querosene, ácido sulfúrico, acetona, amônia e soda cáustica são
comuns. “A pureza vai depender do valor pago na matéria-prima pelo produtor. Se a cocaína
for cara, é misturada com outras substâncias, para render mais. Se for de uma qualidade
inferior, pouca coisa ou nada é adicionado”, diz Maldaner.

Forma de uso e ação no organismo


O crack geralmente é fumado com cachimbos improvisados, feitos de latas de
alumínio e tubos de PVC (policloreto de vinila), que permitem a aspiração de grande
quantidade de fumaça. A pedra, geralmente com menos de 1 grama, também pode ser
quebrada em pequenos pedaços e misturada a cigarros de tabaco ou maconha – o chamado
mesclado, pitico ou basuco. “Ao aquecer a pedra, ela se funde e vira gás, que depois de
inalado é absorvido pelos alvéolos pulmonares e chega rapidamente à corrente sanguínea”,
conta Maldaner. Enquanto a cocaína em pó leva cerca 15 minutos para chegar ao cérebro e
fazer efeito depois de aspirada, a chegada do crack ao sistema nervoso central é quase
imediata: de 8 a 15 segundos, em média. É por esta razão que o crack pode ocasionar
dependência mais rapidamente.
A ação do crack no cérebro dura entre cinco e dez minutos, período em que é
potencializada a liberação de neurotransmissores como dopamina, serotonina e
noradrenalina. “O efeito imediato inclui sintomas como euforia, agitação, sensação de
prazer, irritabilidade, alterações da percepção e do pensamento, assim como alterações
cardiovasculares e motoras, como taquicardia e tremores”, explica o psiquiatra Felix
Kessler, do Centro de Pesquisa em Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio Grande
do Sul (UFRGS).

Como surgiu
O crack surgiu nos Estados Unidos na década de 1980 em bairros pobres de Nova
Iorque, Los Angeles e Miami. O baixo preço da droga e a possibilidade de fabricação caseira
atraíram consumidores que não podiam comprar cocaína refinada, mais cara e, por isso, de

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difícil acesso. Aos jovens atraídos pelo custo da droga juntaram-se usuários de cocaína
injetável, que viram no crack uma opção com efeitos igualmente intensos, porém sem risco
de contaminação pelo vírus da Aids, que se tornou epidemia na época.
No Brasil, a droga chegou no início da década de 1990 e se disseminou inicialmente
em São Paulo. “O consumo do crack se alastrou no País por ser uma droga de custo mais
baixo que o cloridrato de coca, a cocaína refinada (em pó). Para produzir o crack, os
traficantes utilizam menos produtos químicos para fabricação, o que a torna mais barata",
explica Oslain Santana, diretor de Combate ao Crime Organizado da Polícia Federal.
Segundo estudo dos pesquisadores Solange Nappo e Lúcio Garcia de Oliveira,
ambos da Universidade Federal de são Paulo (Unifesp), o primeiro relato do uso do crack
em São Paulo aconteceu em 1989. Dois anos depois, em 1991, houve a primeira apreensão
da droga, que avançou rapidamente: de 204 registros de apreensões em 1993 para 1.906
casos em 1995. Para popularizar o crack e aquecer as vendas, os traficantes esgotavam as
reservas de outras drogas nos pontos de distribuição, disponibilizando apenas as pedras.
Logo, diante da falta de alternativas, os usuários foram obrigados a optar e aderir ao uso.
Hoje, a droga está presente nos principais centros urbanos do País. Os dados mais recentes
sobre o consumo do crack estão sendo coletados e indicarão as principais regiões afetadas,
bem como o perfil do usuário. Segundo, no entanto, pesquisa domiciliar realizada pela
Secretaria Nacional de Políticas sobre Drogas – SENAD, em parceria com o Centro
Brasileiro de Informações sobre Drogas Psicotrópicas (Cebrid) em 2005, 0,1% da população
brasileira consumia a droga.

Fatores de risco
Curiosidade pela experiência, influência do meio e de questões psicológicas e sociais
são algumas situações que podem levar ao consumo do crack. Droga de efeito rápido e
intenso, o crack leva o usuário rapidamente à dependência e, por isso, é fundamental
prevenir o seu consumo. Veja no infográfico abaixo quais são os principais fatores de risco
para o uso do crack.

Sinais de dependência

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Como saber se uma pessoa próxima está usando crack


O usuário de crack apresenta mudanças evidentes de hábitos, comportamentos e
aparência física. Um dos sintomas físicos mais comuns que ajudam a identificar o uso da
droga é a redução drástica do apetite, que leva à perda de peso rápida e acentuada – em um
mês de uso contínuo, o usuário pode emagrecer até 10 quilos. Fraqueza, desnutrição e
aparência de cansaço físico também são sintomas relacionados à perda de apetite.
É comum ainda que o usuário tenha insônia enquanto está sob o efeito do crack,
assim como sonolência nos períodos sem a droga. “Os períodos utilizando a droga
prolongam-se e os usuários começam a ficar períodos maiores fora de casa, gastando, em
média, três dias e noites inteiros destinados ao consumo do crack. Neste contexto, atividades
como alimentação, higiene pessoal e sono são completamente abandonadas, comprometendo
gravemente o estado físico do usuário”, afirma o psiquiatra Felix Kessler.
Sinais físicos como queimaduras e bolhas no rosto, lábios, dedos e mãos podem ser
sinais do uso da droga, em função da alta temperatura que a queima da pedra requer.
“Também se notam em alguns casos sintomas como flatulência, diarréia, vômitos, olhos
vermelhos, pupilas dilatadas, além de contrações musculares involuntárias e problemas na
gengiva e nos dentes”, aponta Fátima Sudbrack, coordenadora do Programa de Estudos e
Atenção às Dependências Químicas (Prodequi) da Universidade de Brasília (UnB).

Comportamento
Falta de atenção e concentração são sintomas comuns, que levam o usuário de crack
a deixar de cumprir atividades rotineiras, como frequentar trabalho e escola ou conviver com
a família e amigos. “O dependente apresenta algumas atitudes características, como mentir e
ter dificuldades de estabelecer e manter relações afetivas. Muitas vezes apresenta
comportamentos atípicos e repetitivos, como abrir e fechar portas e janelas ou apagar e
acender luzes”, afirma Laura Fracasso, psicóloga da Instituição Padre Haroldo.
O usuário de crack também pode experimentar alucinações, sensações de
perseguição (paranoia) e episódios de ansiedade que podem culminar em ataques de pânico,
por exemplo. Isolamento e conflitos familiares são comuns. O dependente pode, ainda,
passar a furtar objetos de valor de sua própria casa ou trabalho para comprar e consumir a

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droga. “O humor pode ficar desequilibrado em função do uso ou falta da droga. O usuário
alterna entre estados de apatia e agitação”, diz Fátima Sudbrack.

Verdades e mitos

O crack gera dependência logo na primeira experiência. Verdade ou mito?


Mito. Apesar de ser absorvido quase totalmente pelo organismo, apenas o uso recorrente do
crack causa dependência. Diferentemente de outras drogas, entretanto, o crack causa
sensações intensas e desagradáveis quando seus efeitos passam, o que leva o usuário a
repetir o uso. Esta repetição, junto com o efeito potente da droga, leva o usuário a ficar
dependente de forma mais rápida.

O crack só atinge a população de baixa renda. Verdade ou mito?


Mito. O crack foi considerado inicialmente uma droga “de rua”. Por ser barata e inibir a
fome, muitos moradores de rua e pessoas em situação de miséria recorrem à droga como
medida paliativa. O contexto social do usuário também é um fator agravante - é mais comum
uma pessoa se tornar usuária de crack quando o meio social facilita o acesso. Apesar disso,
hoje o crack atinge todas as camadas sociais.

O usuário corre mais risco de contrair DSTs/AIDS. Verdade ou mito?


Verdade. Isso ocorre porque os usuários da droga costumam adotar comportamentos de
risco, como praticar sexo sem proteção. Influenciados pela necessidade de consumir o crack,
muitos usuários crônicos também recorrem à prostituição para conseguir a droga.

“Meu filho consome crack e eu penso em denunciar o traficante. Nesse caso, meu filho
será penalizado também”. Verdade ou mito?
Mito. A pessoa que denunciar o traficante tem sua identidade preservada pelas autoridades
policiais, portanto, seu filho usuário não será exposto. Porém, apesar da lei de drogas prever
que o uso de drogas não seja punido com restrição de liberdade, o porte de drogas continua
sendo crime no Brasil.

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O médico é obrigado a notificar a polícia quando atende um usuário em situação de


intoxicação aguda. Verdade ou mito?
Mito. A legislação brasileira não obriga profissionais da área médica a notificar a polícia
sobre os atendimentos realizados a usuários de drogas em situação de intoxicação aguda. As
autoridades policiais são chamadas apenas em casos extremos, em que o comportamento do
paciente põe em risco sua própria integridade física ou a saúde de terceiros.

O crack é um problema dos grandes centros urbanos. Verdade ou mito?


Mito. O crack é amplamente consumido na região de São Paulo e avançou rapidamente para
a maioria dos grandes centros urbanos de todo o país. Porém, já existem relatos de cidades
do interior e mesmo de zonas rurais afetadas por problemas relacionados ao tráfico e
consumo desta substância.

O crack é pior que a maconha e a cocaína. Verdade ou mito?


Verdade. O crack e a maconha são drogas com efeitos diferentes. Uma vez que o crack
deixa o indivíduo mais impulsivo e agitado, e gera dependência e fissura de forma intensa,
ele termina tendo um impacto maior sobre a saúde e as outras instâncias da vida do
indivíduo do que, em geral, se observa com a maconha. Em relação à cocaína, apesar de
serem drogas com a mesma origem, o efeito do crack é mais potente do que a cocaína
inalada. Por ser fumado, o crack é absorvido de forma mais rápida e passa quase que
integralmente à corrente sanguínea e ao cérebro, o que potencializa sua ação no organismo.

O crack sempre faz mal à saúde. Verdade ou mito?


Verdade. O uso dessa droga compromete o comportamento como um todo. Por ser uma
substância altamente estimulante, várias funções ficam comprometidas, mas as mais afetadas
são a atenção e a concentração, a falta de sono, além de gerar quadros de alucinação e
delírio.

É possível se livrar do crack. Verdade ou mito?

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Verdade. É possível se recuperar da dependência do crack. O usuário deve procurar


tratamento adequado e contar com apoio familiar, social e psicológico para superar a
dependência química.

O usuário de crack é sempre violento. Verdade ou mito?


Mito. Usuários que já possuem uma tendência à agressividade podem ficar mais violentos
quando estão na fase de “fissura” ou abstinência da droga. Apesar de haver sempre uma
deterioração das relações sociais, especialmente no ambiente familiar, a violência não é uma
conduta padrão.

Usuárias de crack não podem amamentar. Verdade ou mito?


Verdade. Mães usuárias de crack devem receber tratamento imediato com a suspensão do
uso da droga e da amamentação durante o período necessário para eliminar as substâncias
tóxicas do organismo. Após esse período, e sob supervisão médica, a amamentação está
liberada.

O crack também prejudica o feto. Verdade ou mito?


Verdade. O crack prejudica o desenvolvimento do feto por alterar a saúde física da mãe e
passar à corrente sanguínea do futuro bebê. Isso pode reduzir o fluxo de oxigênio para o
feto, causar graves danos ao sistema nervoso central e alterações nos neurotransmissores
cerebrais. Também há maior risco de aborto espontâneo, hemorragias, trabalho de parto
prematuro, além de diversas malformações físicas e baixo peso ao nascer.

Bebês de mães usuárias nascem já dependentes. Verdade ou mito?


Mito. Bebês expostos ao crack durante o período fetal não são dependentes da droga. Não
há comprovação científica de que eles desenvolvam abstinência na ausência do crack. Os
sinais e sintomas que eles podem apresentar durante o período neonatal estão mais
relacionados a alterações nas substâncias químicas do cérebro (neurotransmissores), que
poderão ser ou não temporárias.

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Algumas pessoas têm predisposição genética para se tornar dependente do crack.


Verdade ou mito?
Verdade. Existe sim uma predisposição genética à dependência química. No entanto, não
somente ao crack, mas a outras substâncias químicas, como o álcool, por exemplo.

Efeitos e consequências
Físicos
Das vias aéreas até o cérebro, a fumaça tóxica do crack causa um impacto devastador
no organismo. As principais consequências físicas do consumo da droga incluem doenças
pulmonares e cardíacas, sintomas digestivos e alterações na produção e captação de
neurotransmissores. Veja no infográfico quais são os efeitos agudos e crônicos do uso da
droga.

Neurológicos e psicológicos
O uso do crack pode prejudicar as habilidades cognitivas (inteligência) envolvidas
especialmente com a função executiva e com a atenção. Este comprometimento altera a
capacidade de solução de problemas, a flexibilidade mental e a velocidade de processamento
de informações.
A literatura científica sobre os efeitos neurológicos e psicológicos do crack
demonstra que a droga pode causar danos às funções mentais, com prejuízos à memória,
atenção e concentração. Segundo o pesquisador Felix Kessler, do Centro de Pesquisa em
Álcool e Drogas da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), é muito comum
o desenvolvimento e agravamento da impulsividade, o que leva os indivíduos a fazerem
escolhas mais imediatistas, sem avaliar as conseqüências para o futuro. "Em muitos casos,
dependendo da predisposição genética, os indivíduos desenvolvem sintomas psiquiátricos,
psicóticos e ansiosos, como depressão, delírios e ataques de pânico", diz o especialista.
O psiquiatra afirma, ainda, que o uso da droga pode provocar transtorno bipolar,
resultado do mecanismo de rápida e intensa euforia, logo após o uso da droga, que logo é
substituída pela depressão, quando o usuário está em abstinência. “Os danos causados
tendem a persistir por meses e até anos depois que o individuo deixou a droga. Já os

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sintomas psiquiátricos podem desaparecer com mais facilidade, exceto para os indivíduos
que tenham predisposição para esse tipo de doença.”

Relações familiares
O consumo do crack pode causar impactos profundos nas relações sociais e
familiares do usuário. Quando o uso da droga se torna frequente, a pessoa deixa de sentir
prazer em outros aspectos da vida, como o convívio com parentes e amigos. Toda a
dinâmica familiar e social é afetada por esse comportamento, fragilizando os
relacionamentos.
Segundo a psicoterapeuta familiar Eroy Silva, da Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), o uso abusivo do crack está associado ao isolamento, perda ou afastamento do
trabalho, estreitamento do repertório social e problemas familiares como separações
conjugais, deterioração da convivência e isolamento. “O usuário se afasta do círculo familiar
e dos amigos e passa a maior parte do tempo sozinho consumindo a droga ou com pessoas
que também fazem o uso. As relações são caracterizadas mais pelo consumo coletivo da
droga do que por vínculos afetivos”, afirma.
No casal, a relação de cumplicidade e o cuidado com o relacionamento deixam de
existir - a droga passa a ser o centro das atenções. “O usuário de crack não consegue se
organizar, ter ritmo, ser constante. Além disso a depressão e a angústia o impedem de cuidar
de outros e mesmo de estabelecer relações estáveis”, explica a psicóloga Raquel Barros, da
ONG Lua Nova.
“A perda da guarda de filhos é uma consequência comum. A criança precisa de
cuidados especiais, ritmo e relações saudáveis para que possa se desenvolver. O uso
constante de crack é inversamente proporcional aos cuidados necessários que um pai ou uma
mãe devem dar”, reforça. Neste sentido, o resgate das relações de apoio e/ou dos vínculos
familiares é aspecto importante para o tratamento e a reinserção social do usuário.
O uso do crack tende a fragilizar todas as pessoas que fazem parte da vida do
dependente e sentimentos como desespero, angústia e medo acabam por permear as relações
familiares. “Diante da droga, muitas famílias acabam se escondendo e se culpando, pois têm
de enfrentar mais problemas do que aqueles que já estão habituados a encarar. É um

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movimento que gera mais fragilidade e impotência e reforça ainda mais o espaço da droga
na vida das pessoas”, acredita.
Ela ressalta, entretanto, que essas situações são muitas vezes causa e consequência
do uso da droga. “Em relações frágeis, o uso do crack acaba potencializando a fragilidade e
acentuando ainda mais as dificuldades que já existiam”, diz.
No áudio e no vídeo a seguir, um ex-usuário de crack fala sobre os impactos da droga em
seu comportamento e como conseguiu se recuperar.

Vida social
O comprometimento da concentração e da memória em função do consumo do crack,
a agressividade, muitas vezes associada ao uso da droga, assim como a fissura e a sensação
de incapacidade física do usuário prejudicam a permanência na escola. “A comunidade
escolar tem dificuldade em administrar esses comportamentos e o usuário também não
consegue se adequar ao ritmo escolar”, afirma Raquel Barros, da ONG Lua Nova.
A perda progressiva das capacidades cognitivas e comportamentais também tem
reflexos diretos na vida profissional do dependente de crack. Com baixa produtividade e
dificuldade para estabelecer relacionamentos estáveis, a perda do emprego é uma
consequência natural. “Uma pessoa que se sente desvalorizada, não consegue conhecer seu
potencial e suas capacidades, muito dificilmente consegue manter sua produtividade ou
investir nas suas potencialidades”, conclui Raquel.
É preciso apostar na reconstrução da rede social, não apenas para ajudar o
dependente a superar os problemas decorrentes do uso do crack, mas também para ajudá-lo
em sua reinserção social e reformulação de seu projeto de vida.
Confira nos vídeos e no áudio abaixo a avaliação de especialistas sobre as mudanças na vida
social e familiar de usuários da droga.

Gestante e bebê
Os efeitos do uso do crack durante a gestação podem ser diretos, relacionados à
droga em si, ou indiretos, vinculados ao estilo de vida da mãe. Má nutrição induzida pela
droga, ausência de cuidados pré-natais, uso concomitante de outras substâncias tóxicas e

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maior exposição a infecções e doenças influenciam a evolução do feto, conforme explica o


infográfico abaixo.

Criança e adolescente
Crianças e adolescentes que fazem uso contínuo de crack podem ter o
desenvolvimento cerebral comprometido, com impacto direto na capacidade cognitiva, ou
seja, na maneira como o cérebro percebe, aprende, pensa e recorda as informações captadas
pelos cinco sentidos. Assim, é comum que usuários da droga apresentem dificuldades de
aprendizado, raciocínio, memória, concentração e solução de problemas, o que afeta o
progresso acadêmico, o comportamento e a frequência escolar. “Eles tendem a ter histórias
de prejuízo no desempenho educacional, possuem menor probabilidade de ter um emprego
formal na vida adulta e maiores índices de envolvimento criminal do que usuários de
cocaína em pó”, afirma Felix Kessler, psiquiatra da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRGS).
Usuários crônicos que estão em fase de desenvolvimento ainda podem apresentar
distúrbios de conduta, transtornos afetivos e alimentares, além de transtornos ansiosos como
fobia social e quadros de estresse. Sintomas do Transtorno de Deficit de
Atenção/Hiperatividade (TDAH) são frequentes em usuários de substâncias psicoativas,
como o crack, assim como problemas de autonomia e habilidade para estabelecer relações
interpessoais.
Por não terem meios próprios para conseguir dinheiro, crianças e adolescentes
também estão mais suscetíveis a adotarem atitudes de risco para comprar a droga, sendo
submetidos à exploração sexual comercial, em relações desprotegidas.

Superação: reinserção social


A presença da família é importante durante todo o processo de tratamento da pessoa
que apresenta dependência e fundamental também na etapa da reinserção social do ex-
usuário de crack. Após o término da fase intensiva de tratamento e com o retorno ao meio
familiar, o restabelecimento das relações sociais positivas está diretamente relacionado à
manutenção das transformações.

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Segundo Fátima Sudbrack, psicóloga e professora da Universidade de Brasília


(UnB), um dos primeiros passos para o processo de reinserção social é evitar o isolamento
do usuário. “É uma ilusão achar que só a internação vai resolver o problema. Na verdade, a
desintoxicação é só uma parte do tratamento, pois o mais importante é a reinserção social. É
importante que o dependente saiba com quem pode contar”, explica.
É fundamental que a família reconheça que ele está em um processo de recuperação
de dependência, compreenda suas dificuldades e ofereça apoio para que ele possa reconstruir
sua vida social. “Durante o tratamento os familiares e amigos podem e devem apoiar o
dependente, se possível com ajuda profissional. O principal risco para um ex-usuário é se
sentir sozinho, desvalorizado e sem a confiança das pessoas próximas”, diz Fátima.
A capacidade de acolher e compreender, estabelecer regras claras de convivência
familiar, a demonstração de um interesse real em ajudar e de compromisso com a
recuperação, além do respeito às diferenças e da manutenção de um ambiente de apoio,
carinho e atenção, são atitudes que contribuem para melhorar a qualidade de vida do ex-
usuário e ajudam na prevenção de recaídas. “De forma geral, no início é preciso exercer um
controle maior sobre as atividades do indivíduo, manter uma rotina mais rigorosa, com
acompanhamento. É preciso oferecer toda a ajuda possível, manter uma proximidade maior.
O que faltou antes vai ter que ser fortalecido neste momento”, afirma o médico Mauro
Soibelman, da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS). É o chamado manejo
firme e amigável, expressão usada por psiquiatras especializados no tratamento de
dependentes químicos. “Não significa ser autoritário e bruto, apenas firme no propósito de
manter o usuário longe do crack”, completa o especialista.
De acordo com Raquel Barros, psicóloga da ONG Lua Nova, é preciso dar espaço
para a pessoa recomeçar. “Não se trata de fazer de conta que nada está acontecendo, mas de
não focar a pessoa só nisso”, ressalta. A procura por um trabalho e a volta aos estudos deve
ser incentivada. “É fundamental ocupar o tempo em que o dependente fumava crack com
atividades saudáveis, seja com estudos, trabalho, esportes ou caminhadas”, diz Mauro
Soibelman.

Hábitos sociais

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Situações de convívio social fora do ambiente familiar tendem a ser desafiadoras


para o ex-usuário de crack. Para a psicóloga Fátima Sudbrack, não é recomendado que a
pessoa volte a freqüentar casas noturnas, bares ou mantenha contato com amigos que fazem
uso de drogas. “Não podemos pedir que a pessoa abandone tudo o que fazia, mas é bem
difícil retornar a esses lugares e não voltar a consumir a droga”, diz.
O uso de drogas lícitas, mesmo de forma moderada, não é recomendado pela maioria dos
especialistas. “O cigarro é mais tolerável, apesar de controverso. Mas o álcool é um grande
problema. Mesmo em baixas doses, a bebida alcoólica afrouxa as defesas do usuário e se
torna um facilitador para recaídas”, explica Soibelman. Para a psicóloga Fátima Sudbrack, o
dependente tende a compensar a ausência do crack com outra droga mais acessível.
“Fazendo o uso de álcool e outras drogas ele não vai se recuperar, mas apenas buscar
satisfação em outro produto”, diz.

Família unida
Vulnerável, estigmatizado e, muitas vezes, marginalizado, o dependente de crack
precisa receber atenção integral, em especial à sua saúde física e mental. Para que um
familiar possa ajudar um dependente químico, é fundamental compreender que a
dependência é uma doença e reconhecer a necessidade de buscar ajuda profissional. Manter
a família unida e em condições de prestar apoio afetivo e social ao dependente também é
indispensável para o sucesso do tratamento.

O que não fazer


Para prestar apoio a um dependente de crack, é fundamental saber a melhor forma de
agir para incentivar a recuperação. Por excesso de zelo ou até mesmo por desinformação,
muitos parentes e amigos podem adotar atitudes prejudiciais ao progresso de uma pessoa
que tenta interromper o uso da droga - agir com truculência, por exemplo, é uma maneira
inadequada de lidar com a situação.
Força de vontade e perseverança são essenciais para todos os envolvidos. “O apoio
afetivo e social é fundamental. A família, no caso de uso de substâncias psicoativas, deve se
livrar de preconceitos, reconhecer que as pessoas reagem de modos diferentes a diferentes

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substâncias e se colocar ao lado do paciente e não contra a droga, desconsiderando as


circunstâncias sociais, pessoais e a própria substância consumida”, diz Antonio Nery Filho,
professor e psiquiatra do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas (CETAD), da
Universidade Federal da Bahia.
O afastamento e isolamento do usuário também prejudica o processo de recuperação. Apoiar
um dependente de crack também requer ajuda de profissionais e ações que mostrem a ele
que existe algo que possa lhe dar prazer tanto quanto a droga.

Redução de danos
Incentivar o dependente de crack a cuidar de si, sem que a condição para isso seja a
interrupção total do uso da droga, é a estratégia central das ações de Redução de Danos à
saúde do usuário. Ao reduzirem os problemas associados com o uso de drogas no âmbito
social, econômico e de saúde, estas estratégias beneficiam o usuário, seus familiares e a
própria comunidade.
Segundo Tarcísio Andrade, psiquiatra e professor adjunto da Faculdade de Medicina
da Bahia, as práticas de Redução de Danos são baseadas em princípios de pragmatismo e
compreensão da diversidade. As ações são pragmáticas porque tratam como imprescindível
a oferta de atendimento para todas as pessoas nos serviços de saúde, inclusive para aqueles
que não querem ou não conseguem interromper o uso do crack. O esforço é pela preservação
da vida. Do mesmo modo, as estratégias de redução de danos se caracterizam pela
tolerância, pois evitam o julgamento moral sobre os comportamentos relacionados ao uso do
crack e às práticas sexuais, assim como intervenções autoritárias e preconceituosas.
Oferecer estes serviços de abordagem, muitas vezes na própria rua e nos contextos de
uso da droga, também pode evitar a exposição a outras situações de risco e aproximar o
usuário das instituições de saúde, abrindo a possibilidade de que ele venha pedir ajuda
quando necessário. Além disso, permite que o serviço de saúde possa acompanhá-lo de
forma mais próxima.

Iniciativas práticas

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De acordo com o psiquiatra Marcelo Cruz, coordenador do Programa de Estudos e


Assistência ao Uso Indevido de Drogas (Projad) e professor do Instituto de Psiquiatria da
Universidade Federal do Rio de Janeiro, as ações para redução dos riscos de contaminação
por doenças entre usuários de drogas injetáveis e também durante a prática sexual marcaram
o início das estratégias de Redução de Danos no País. Com o sucesso dessas ações, elas
passaram a ser usadas também na prevenção de outras práticas de risco, tais como os
problemas com drogas não injetáveis, como é o caso do crack nos dias de hoje. Ainda
segundo o psiquiatra, a estratégia de redução de danos para usuários de crack prevê a
distribuição de preservativos, a disponibilização de informações sobre os riscos de
contaminação pelo compartilhamento de cachimbos e sobre os cuidados para a prática de
sexo mais seguro. Assim, a atividade de abordagem dos usuários nos locais de uso da droga
não é um fim em si, mas um serviço oferecido junto a muitos outros, com o objetivo geral de
preservação da saúde.
Nesse processo de Redução Danos, ações preventivas, como a substituição de
cachimbos improvisados por outros de melhor qualidade, evitam a contaminação do usuário
por bactérias. "Oferecer cachimbos que não superaquecem ajuda a reduzir lesões bucais e
infecções secundárias", afirma Francisco Inácio Bastos, psiquiatra e doutor em saúde pública
da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz).
Afastar o usuário dos locais de consumo e venda da droga também ajuda a minimizar
os riscos. "É imprescindível recorrer à ajuda profissional para tentar diminuir a compulsão
pelo uso da droga e para que o usuário tenha também outras formas de estímulo, seja com
medicamentos ou através de outras ações", diz Bastos. Também é importante tentar
regularizar a alimentação e o sono, o que reduz o risco de anemia e desnutrição e impede o
agravamento de doenças físicas e mentais. “Todo comprometimento orgânico-nutricional é
grave. Algumas pessoas, em decorrência do uso de substâncias psicoativas, deixam de se
alimentar adequadamente. Particularmente na infância, isso impossibilita a absorção de
vitaminas e pode causar danos ao sistema nervoso, às vezes irreversíveis”, afirma Antonio
Nery Filho, professor e psiquiatra do Centro de Estudos e Terapia do Abuso de Drogas
(CETAD) da Universidade Federal da Bahia (UFBA).

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SISTEMA ÚNICO DE SAÚDE (SUS)

Unidades básicas de saúde ou centros de saúde (SUS)


Oferecem atendimento médico, e/ou de outros profissionais que farão uma primeira
avaliação do usuário para que ele inicie o tratamento na própria unidade ou seja
encaminhado para o serviço especializado.

Centros de Atenção Psicossocial (Caps)


Serviço especializado de atenção aos usuários que oferece atendimento médico psiquiátrico,
psicológico e de outros profissionais, distribuição de medicação e apoio para as famílias.

Consultório na Rua
Oferecem acolhimento, apoio e encaminhamento para pessoas que moram ou se encontram
em situação de rua e estão distanciados das unidades de serviços de saúde. O atendimento
aos dependentes químicos ocorre um ambulatório móvel por equipe formada por médicos,
psiquiatras, enfermeiros, assistentes sociais, psicólogos e pedagogos.

Programa de Redução de Danos


Ações preventivas e de acolhimento, como avaliação, atendimento e encaminhamento para
rede de saúde e de assistência social.

Núcleo de Apoio à Saúde da Família (NASF)


Equipes compostas por profissionais de diferentes áreas de conhecimento, que atuam junto
aos profissionais das equipes de Saúde da Família.

Centro de Atenção Psicossocial Álcool e Drogas III (CAPS ad 24 horas)


Serviço específico para o cuidado, atenção integral e continuada às pessoas com
necessidades em decorrência do uso de álcool, crack e outras drogas. Seu público específico
são os adultos, mas também podem atender crianças e adolescentes, desde que observadas as
orientações do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

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Centro de Atenção Psicossocial para Infância e Adolescência (CAPSi)


Serviço que acolhe crianças, adolescentes e jovens até 25 anos de idade, com transtornos
mentais e/ou com problemas em decorrência do uso de álcool, crack e outras drogas,
observando as orientações do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Enfermarias Especializadas
Oferecem suporte hospitalar de curta duração, para situações de urgência/emergência
decorrentes do consumo ou abstinência de álcool, crack e outras drogas, bem como de
comorbidades psiquiátricas e/ou clínicas, atuando como retaguarda para a Rede de Atenção
Psicossocial (RAPS) e demais serviços de saúde do município ou região de saúde.

Unidades de Acolhimento Adulto (UAA)


Oferece acolhimento transitório às pessoas de ambos os sexos, com necessidades
decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas, referenciados pelos CAPS,
preferencialmente pelo CAPS ad, ou por serviços da Atenção Básica de forma
compartilhada, como o CAPS. Acolhe e oferece cuidados contínuos e protetivos para até 15
pessoas maiores de 18 anos de idade.

Unidades de Acolhimento Infanto-juvenil (Uai)


Serviço de acolhimento transitório às crianças e adolescentes de ambos os sexos, de 10 a 18
anos de idade, com necessidades decorrentes do uso de crack, álcool e outras drogas,
referenciados pelos CAPS ou por serviços da Atenção Básica de forma compartilhada, como
os CAPS. Acolhe e oferece cuidados contínuos e protetivos para até 10 crianças e
adolescentes, observando as orientações do Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA).

Comunidades Terapêuticas (CT)


Oferecem atenção e cuidado aos adultos, de ambos os sexos, com necessidades em
decorrência do uso de álcool, crack e outras drogas, que apresentem quadro clínico estável.

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O acolhimento na CT é referenciado pelos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS ad 24h),


compartilhado com a Atenção Básica.

SISTEMA ÚNICO DE ASSISTÊNCIA SOCIAL (SUAS)


Sistema organiza as ações, programas e serviços da Assistência Social em dois tipos: a
Proteção Social Básica, que tem papel preventivo na vida de pessoas em situação de
vulnerabilidade social; e a Proteção Social Especial, que é direcionada a quem já se encontra
em situação de risco, seja pelo uso de drogas, ou outros aspectos como maus-tratos, abuso
sexual e abandono.

Centros de Referência de Assistência Social (CRAS)


Oferece serviços da proteção básica social em locais que apresentam risco social. O CRAS
organiza ações de informação e sensibilização nos espaços públicos, campanhas de
esclarecimento sobre os riscos de uso das drogas, além de trabalhos sociais com as famílias.

Centros de Referência Especializada de Assistência Social (CREAS)


Serviço de acompanhamento a indivíduos que já estejam em situações de risco associadas ao
uso do crack e outras drogas. Realiza trabalhos de abordagem social nos territórios,
encaminhamento às redes de saúde, atendimento nos períodos pós-internação, apoio à
reinserção social e fortalecimento das relações familiares.
Centros POP (Centros de Referência Especializados para Pessoas em situação de Rua)
Nestas unidades, o trabalho se concentra na identificação do uso de drogas por indivíduos
em situação de rua, sensibilização dos mesmos para iniciar um tratamento e incentivo ao
processo de saída desta condição.

5.4 COCAÍNA

Uso milenar de cocaína começou nos países andino (Peru, Bolívia, Equador e
Colômbia) há mais de 2.000 anos.

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O interesse na história mais moderna começa com o isolamento químico da cocaína,


em 1882, por um alemão chamado Albert Newman. Freud, por exemplo, descreveu os
efeitos anestésicos locais da cocaína, que foi posteriormente empregada com sucesso em
cirurgias oculares durantes muito tempo. Freud, também experimentou pessoalmente a droga
e surpreendeu-se com seus efeitos agradáveis e tonificantes. Nos EUA, o uso da cocaína
tornou-se bastante popular, e algumas bebidas como o Vin Mariani e a Coca-Cola, por
vários anos contiveram concentrações razoáveis da substância.
Com o seu uso mais difundido no começo do século, a literatura médica passou a
descrever uma série enorme de complicações relacionadas ao uso dessa substância, como
problemas mentais, dependência e morte. Os EUA aprovaram uma série de leis proibindo
seu uso.
O reaparecimento do uso da cocaína começou a partir da década de 60, como uma
droga que era usada pela elite econômica. Nos anos 70, era usada somente por uma minoria.
Nos anos 80 houve aumento da oferta e isso se deveu principalmente a uma maior produção
e melhor distribuição feita por alguns cartéis de traficantes de alguns países sul-americanos.
Houve também o surgimento de várias formas de uso da substância, não só usada na forma
aspirada, mas também por meio de injeções intravenosas e fumo (crack).

Vias de administração
A produção da cocaína começa com as folhas de coca e passa por vários estágios até
chegar à forma de hidrocloreto de cocaína, que é a droga na forma de sal, como é
comumente vendida (pó).
No final da década de 80, a via injetável passou a predominar, e um grande número
de usuários de cocaína foram infectados pelo HIV nessa época.
Um estudo feito na Escola Paulista de Medicina mostrou que, no começo dos anos
90, o número de usuários de cocaína na forma de crack vinha aumentando progressivamente,
a ponto de se observar que a grande maioria dos pacientes atendidos nas clínicas usavam
predominantemente cocaína fumada na forma de crack e com isso decorriam outras
complicações como um maior potencial de dependências e um apelo maior para uma
população mais jovem.

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Ação Neuroquímica
Há um bloqueio da recaptação da dopamina produzindo um aumento da substância
nas fendas sinápticas dos feixes dopaminérgicos. Esse aumento agudo da dopamina produz
um aumento da neurotransmissão e no número e sensibilidade dos receptores
dopaminérgicos. Com o uso crônico, existe uma redução da concentração da dopamina com
o efeito final de uma diminuição na quantidade do neurotransmissor. A cocaína também
afeta outros sistemas de neurotransmissão, como os que utilizam noradrenalina, serotonina,
endorfinas, GABA e acetilcolina
As ações da cocaína nas vias dopaminérgicas são essenciais para a propriedade
reforçadora da droga. A dopamina aumenta a atividade psicomotora, induz comportamentos
estereotipados e diminui o consumo de alimentos. A dopamina está envolvida nos centros
límbicos responsáveis pelo prazer, incluindo aqueles relacionados com comida e sexo.

Efeitos agudos
A meia vida da cocaína é em torno de 60-90 minutos, com o efeito euforogênico
durando de 15 a 30 minutos. A maioria da cocaína é hidrolisada a benzoilegonina, que pode
ser detectada na urina até 36 horas após o uso. Quando administrada pela via endovenosa,
podem-se usar 20% da dose oral para produzir o mesmo efeito. Quando fumada na forma de
crack, o inicio de ação é ainda mais rápido, em questão de 10 segundos, pois passa
diretamente dos pulmões ao coração e ao cérebro, sem envolver o fígado.

Efeitos da cocaína

 Euforia, desinibição, estado de alerta, mudanças perceptuais, aumento da autoestima e da


vontade sexual, diminuição do apetite;
 Uma sensação intensa de prazer generalizado (rush) pode ser bastante intensificada pelo uso
endovenoso ou pulmonar;

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 Outros comportamentos observados incluem hipervigilância, tendência a agressões físicas,


agitação psicomotora, capacidade comprometida de julgamento em relação às atividades
sociais e ocupacionais;
 Taquicardia, dilatação pupilar, aumento da pressão arterial, transpiração, náusea e vômitos e
alucinações visuais ou táteis podem estar presentes na primeira hora de uso.

Sintomas de abstinência
Gawin e Kleber (1986) fizeram um estudo que influenciou bastante a descrição
fenomenológica desses sintomas. Eles identificaram três fases da abstinência.
FASE 1 – Disforia relacionada com o uso de cocaína (crash). Depressão anedonia,
insônia, ansiedade, irritabilidade e desejo intenso pela cocaína (craving). Sintomas
depressivos mais pronunciados e ideação suicida podem estar presentes. Gradualmente, o
desejo pela cocaína diminui e o desejo por dormir fica mais intenso.
FASE 2 - O desejo intenso pela cocaína continua, com irritabilidade, ansiedade e
uma diminuição da capacidade de experienciar prazer. Uma síndrome disfórica com
diminuição da motivação e anedonia ocorre após um período de eutimia. Progressivamente,
a memória dos efeitos negativos do uso de cocaína começa a desaparecer e o desejo tende a
ficar mais forte, sobretudo quando em contato com o mesmo ambiente onde usava a droga.
duração: 1 a 4 semanas risco de recaídas.
FASE 3 – Período de desejo menos intenso pela cocaína com alguns sintomas
depressivos, podendo experienciar o craving por vários meses Duração: de várias semanas
até anos.

Intoxicação aguda
Doses altas de cocaína podem resultar em comportamentos estereotipados, bruxismo,
irritabilidade, violência, inquietação e sintomas paranoides. Muito similar aos observados na
esquizofrenia. Hipertermia e convulsões podem acompanhar o quadro agudo. Esse quadro
de estimulação progride para uma depressão do SNC, que é caracterizada por paralisia da
atividade motora, hiporreflexia com possível arreflexia e estupor, podendo chegar ao coma e
à morte.

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Tratamento da intoxicação aguda da cocaína

Efeitos no sistema nervoso


Cefaleia, tremores, tonturas, desmaios, visão turva, acidente vascular cerebral do tipo
isquêmico a com hemiparesia transitória, movimentos coreiformes, convulsões, estados
confusionais, hemorragia cerebral, isquemia medular e encefalopatia tóxica. Como a cocaína
é um vasoconstritor e estimulante simpático, isto poderia precipitar sintomas isquêmicos e
mesmo hemorragias em alguém sem sintomas ou com alguma malformação arteriovenosa,
aneurisma ou tumor.

PROBLEMA TRATAMENTO
 Agitação  Benzodiazepínicos
 Psicose  Haloperidol/clorpromazina
 Hipertermia  Resfriamento externo
 Convulsões  Diazepam ou fenitoína
 Hipertensão/taquicardia  Propanol
 Facilitar eliminação  Acidifica a urina
 Depressão  Avaliação psiquiátrica

A inibição da recaptação da serotonina com a consequente elevação dos seus níveis


nas fendas sinápticas provocaria vasoconstrição, pois a serotonina é um dos mais potentes
vasoconstritores cerebrais, especialmente para médias e grandes artérias.

Acidentes vasculares cerebrais

 É uma condição do adulto jovem, com pacientes entre 20-30 anos sendo os mais afetados;
 Pode ocorrer após qualquer rota de administração, com o início após alguns minutos ou até
24 horas depois do uso;
 É associada com malformações vasculares;

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 É mais comum a ocorrência de hemorragias do que de isquemia, ao contrário do que ocorre


na população geral. A apresentação clínica da hemorragia subaracnóidea e intracerebral
relacionada com o uso de cocaína é muito similar (cefaleia, déficit lateralizado, estado
mental alterado e convulsões) morte súbita também é uma característica marcante dessa
condição.

Convulsões
Especialmente observadas em usuários de crack é atribuído ao efeito que explica a
ação anestésica da droga, semelhante à da lidocaína. O tempo decorrido entre o uso de
cocaína e as convulsões pode ser de minutos a 12 horas. As convulsões podem ocorrer em
usuários crônicos ou naqueles que usam a droga pela primeira vez.

Efeitos no sistema cardiovascular

 Infarto agudo do miocárdio/isquemia cardíaca;


 A artéria descendente anterior é a mais afetada. A cocaína vendida na rua pode ter outras
substâncias, como lidocaína, procaína, anti-histamínicos e anfetaminas, que podem
contribuir para a disfunção cardíaca;
 Arritmias cardíacas;
 Taquicardia sinusal, supraventricular e ventricular, fibrilação ventricular e assistolia;
 Complicações mais sérias ocorrem durante intoxicação aguda, evoluindo com convulsões ou
hiperpirexia, resultando em acidose;
 Cardiomiopatia e miocardite;

Efeitos obstétrico
A história indica que baixo peso na gravidez, abortos espontâneos, placenta prévia,
doenças sexualmente transmissíveis são as condições mais frequentes. Os problemas fetais
são: crianças de baixo peso, sofrimento fetal, idade gestacional baixa, menor perímetro
cefálico.

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Uma síndrome de abstinência fetal foi descrita e inclui a taquicardia, tremor,


dificuldade em mamar e convulsões. As malformações congênitas mais citadas são no trato
gênito-urinário e cardíacas.

Efeito em vários sistemas


Várias condições clínicas já formam atribuídas à cocaína, dentre as quais:
insuficiência renal devido a mioglobinúria aguda, isquemia intestinal, hepatotoxicidade.

COMPLICAÇÕES DO USO DA COCAÍNA RELACIONADAS COM A


VIA DE ADMINISTRAÇÃO

Intravenosa  Infecção pelo HIV/AIDS;


 Hepatite B;
 Endocardite;
 Bacteriemia/septicemia Infeções (celulite, abscessos).
Inalatória  Pneumotórax;
 Pneumomediastino;
 Edema pulmonar.
Nasal  Sinusite;
 Perfuração do septo nasal (pode ocorrer com três semanas).

Distúrbios afetivos
Os sintomas depressivos são o resultado de várias causas, entre elas: um efeito
biológico da abstinência da cocaína, e da condição psicossocial associada ao uso crônico da
cocaína. Os pacientes com sintomas depressivos são especialmente propensos a recaídas,
deverão receber cuidados especiais e ser considerados para a terapia farmacológica com
antidepressivos como complemento à psicoterapia.

Distúrbios de ansiedade

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São relatados ataques de pânico, durante a intoxicação ou na fase da abstinência da


cocaína.

Distúrbios de personalidade
Associados ao uso de cocaína são os distúrbios de personalidade antissocial,
borderline (ou transtorno de personalidade limítrofe) e narcísica. Esse diagnóstico também é
difícil de fazer, pois o paciente na fase inicial de tratamento, apresenta uma série de
sintomas que podem assemelhar-se a um distúrbio de personalidade, dentre os quais:
mecanismos de negação, culpar os outros, mentir, minimizar os problemas, raiva
vitimização e grandiosidade.

Esquizofrenia
A taxa de esquizofrenia entre os usuários de cocaína é maior do que da população
geral e varia entre 1 e 17%. Os esquizofrênicos abusam mais de cocaína, as taxas variam de
10 a 50%. A cocaína age nas mesmas áreas do cérebro em que os esquizofrênicos têm
anormalidades. Ela pode potencializar os efeitos colaterais dos neurolépticos, incluindo a
discinesia tardia.

Distúrbio de déficit da atenção


O adulto tem sintomas de baixa atenção, impulsividade, inquietação e irritabilidade.
Cerca de 5% dos usuários de cocaína poderiam estar usando a droga para medicar o
distúrbio de atenção.

Tratamento farmacológico
Ao se decidir pelo tratamento farmacológico, devem-se levar em conta o eventual
diagnóstico psiquiátrico concomitante e a presença de sintomas de abstinência da cocaína. O
princípio seria a busca de drogas que diminuíssem a sensibilidade dos receptores
dopaminérgicos como os tricíclicos.

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5.5 MACONHA

A Cannabis sativa é uma planta conhecida por seus usos medicinais desde o terceiro
século antes de Cristo. Comumente conhecida como maconha, ela é usada a partir da mistura
das folhas, sementes, caules e flores desta planta. A substância delta 9 – tetraidrocanabinol
(THC) é um dos 60 canabinóides presentes nessas preparações, sendo o principal
responsável por seus efeitos psíquicos. A potência da maconha depende das condições em
que a planta cresceu, de suas características genéticas e da combinação das diferentes partes
da planta que foram utilizadas
A flor contém a maior concentração de THC, que diminui progressivamente quando
se analisam as folhas superiores, inferiores, caules e sementes. O haxixe consiste na resina
que se obtém com a compressão da planta e flores, de delta 9 – THC de 10 -20% (superior à
observada nas preparações da maconha para ser fumada, em que essa concentração
geralmente varia entre 1-10%).

Epidemiologia
Não existem dados populacionais consistentes no Brasil. Nos EUA, cerca de 30%
dos adolescentes e 40% dos adultos jovens já experimentaram maconha pelo menos uma vez
na vida.

Vias de administração e dose


A mais usada é a inalatória. É comumente usada como um cigarro. O haxixe tem seu
uso na forma de cachimbo.
Um cigarro típico de maconha contém entre 0,3 e 1,0 g de maconha, que pode variar
na concentração de THC entre 1 e 10%. Em geral, mesmo um usuário experiente consegue
absorver no máximo 50% do THC do cigarro. Em geral, pequenas quantidades de 2-3 mg de
THC são suficientes para produzir um breve efeito agradável no usuário ocasional, e um
cigarro é suficiente para três a quatro fumantes. Um usuário pesado pode consumir quatro a
cinco cigarros por dia.

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Receptor canabinóide
A determinação e caracterização de um receptor canabinóide tornou possível mapear
sua distribuição no cérebro. Mais recentemente, foi descoberta uma substância endógena
cerebral que se liga a esse receptor e simula a ação do THC. Foi chamada de “amandamida”,
do sâncristo, que quer dizer êxtase ou felicidade.
Quando um indivíduo fuma um cigarro de maconha, existe um pico de intoxicação
que ocorre entre 10 e 30 minutos, quando o nível sérico de delta – 9 – THC é máximo. É
altamente lipossolúvel e os metabólitos tendem a se acumular no tecido gorduroso, sua
meia-vida é de aproximadamente 50 horas. O THC é metabolizado no fígado para 11 –
hidroxi – THC que é 20% mais potente. A intoxicação normalmente dura de 2 a 4 horas,
dependendo da dose utilizada.

Efeitos agudos da maconha

 Percepção do tempo mais lenta, aumento do apetite, aumento da sede , uma maior percepção
das cores, sons, texturas e paladar. Euforia um aparente aumento na capacidade de
introspecção e um aparente aumento na capacidade de introspecção e um aparente aumento
na capacidade de ser absorvido por sensações de conteúdo sensual, sensações de
relaxamento e flutuar e aumento na autoconfiança;
 Outros efeitos são: aumento do desejo sexual, ilusões transitórias, alucinações, aumento da
sensibilidade interpessoal, comprometimento da memória recente, afrouxamento das
associações (facilitando o aparecimento de fantasias), comprometimento motor que pode
prejudicar atividades que necessitam coordenação;
 Conjuntivite, pupilas dilatadas, taquicardia, alteração da pressão arterial (hipotensão
ortostática), boca seca e tosse são sinais físicos de uso imediato.

Efeitos do uso crônico


As evidências mais recentes apontam para os seguintes efeitos do uso crônico.
Efeitos nas células e no sistema imunológico

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Existem evidências mostrando que a fumaça da maconha produz mutagênese celular


in vitro e in vivo e, é potencialmente carcinogênica. Não existem evidências de que a
maconha produza maiores comprometimentos imunológicos em humanos, muito embora
haja sugestões da ocorrência de um aumento discreto no número de infecções bacterianas e
virais nos usuários crônicos.
Efeitos no sistema cardiovascular
Para indivíduos que já tenham hipertensão, doença cerebrovascular ou coronariana,
existem dados mostrando que o uso de maconha aumenta o trabalho cardíaco, uma vez que a
droga induz taquicardias de até 140 -160 bpm.
Efeitos no sistema reprodutor
O uso na gravidez compromete o desenvolvimento fetal, levando a um baixo peso ao
nascer, devido provavelmente, à hipóxia fetal, bem como ocasionando efeitos
comportamentais e de desenvolvimento nos primeiros meses após o nascimento.
Efeitos no desenvolvimento e na adolescência
O uso pesado de maconha nesse período de vida é associado à piora no desempenho
escolar e pior taxa de emprego na vida adulta, em comparação com grupos – controles.
Comprometer a evolução do indivíduo para a vida adulta, produzindo um nível menor de
rendimento profissional e de qualidade de vida.
Efeitos no desempenho cognitivo
O uso crônico produz déficits leves nas funções cognitivas tais como memória,
atenção, organização e integração de informações complexas.
Efeitos na saúde mental
Existem evidências de que a maconha produz uma psicose aguda tóxica em que os
sintomas de confusão, amnésia, delírio, alucinações, ansiedade, agitação e hipomania
predominam, desaparecendo após a intoxicação. Essas evidências resultam de estudos
laboratoriais dos efeitos do THC em voluntários sadios e observações clínicas de sintomas
psicóticos em usuários crônicos.
Existem muito menos evidências de que o uso de maconha cause psicose que persista
além do período de intoxicação. Isto se deve à relativa raridade desse fenômeno e à
dificuldade de distinguir esse tipo de psicose da esquizofrenia e de quadros afetivos que

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ocorrem em usuários de maconha. Por outro lado, parece que a maconha contribui para o
desencadear distúrbios psicóticos e acentuação dos sintomas psicóticos em indivíduos que já
apresentem tais quadros ou sejam predispostos a eles.

Psicopatologia e uso crônico da maconha


A capacidade de o delta – 9 – THC induzir psicose aguda tem sido descrita tanto em
usuários iniciantes quanto em consumidores crônicos. Os quadros psicóticos podem se
apresentar de uma forma aguda com sintomas de primeira ordem de Scheider para a
esquizofrenia, agitação e amnésia.

SINTOMAS DE PRIMEIRA ORDEM DE SCHNEIDER

1) Alucinações auditivas sob uma das três seguintes formas:


a. Duas ou mais vozes que conversam entre si;
b. Vozes que fazem comentários sobe o paciente em terceira pessoa;
c. Vozes que repetem os pensamentos do paciente (eco do pensamento).
2) Sensação de pensamentos de outra pessoa sendo postos na cabeça do paciente
(inserção do pensamento), ou sensação de retirada de pensamentos do paciente através de
forças externas (roubo do pensamento).
3) Sensação de que os pensamentos do paciente são também acessíveis a outras pessoas
(irradiação do pensamento);
4) Sensação de sentimentos, impulsos ou atos estarem sob controle externo, como se o
paciente estivesse sob efeito hipnótico;
5) Percepção delirante – trata-se de um delírio baseado em uma percepção sensorial
verdadeira que qualquer outra pessoa consideraria lugar comum.

5.6 OUTRAS DROGAS DE ABUSO BENZODIAZEPÍNICOS

Alprazolam Frontal
Bromazepam Lexotan, somalium

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Clobazam Urbanil, frisium


Clonazepam Rivotril
Clorazepato Tranxilene
Clordiazepóxido Psicosedim
Cloxazolam Olcadil
Diazepam Valium, dienpax
Estazolan Noctal
Flunitrazepam Roypnol
Flurazepam Dalmadorm
Lorazepam Lorax, mesmerin
Midazolam Dormonid
Nitrazepam Nitrazepam, nitrenpax

Outros derivados das Azaspironas buspirona Buspar


Derivado das Ciclopirrolonas zopiclone imovane

OS RISCOS DO USO DOS BENZODIAZEPÍNICOS

Riscos biológicos

 Os BDZ afetam o controle central da função endócrina e aumentam os níveis plasmáticos de


cortisol, prolactina e hormônio de crescimento;
 Todos os BDZ são lipofílicos e, portanto, atravessam rapidamente a barreira placentária,
atingindo níveis altos no feto;
 Os idosos são outro grupo que está sujeito a maior risco, pois a meia-vida dos BDZ é maior,
levando, por conseguinte, a uma maior sedação, ataxia, disartria e estados confusionais
agudos.

Síndrome de abstinência

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A síndrome de abstinência ocorre quando existe interrupção da droga. Como a


maioria dos BDZ usados na clínica tem uma meia-vida superior a 24 horas, os sintomas
costumam aparecer do segundo ao quinto dia após a interrupção, raramente permanecendo
após a quarta semana.

Manifestações psicológicas:
Irritabilidade, dificuldade de concentração, inquietação, insônia, agitação, pesadelos,
disforia, diminuição da memória, despersonalização e desrealização, reações psicóticas e
alucinações (raras).

Manifestações fisiológicas:
Tremor, sudorese, palpitações, letargia, náusea, perda do apetite e peso, sintomas
parecidos com os da gripe, cefaleia, queimação facial, dores musculares, sensação de frio e
calor. Também hiperexcitabilidade e hiperacuidade, ou seja, tensão muscular, hiper-
reatividade à luz, cheiros e sons, gosto metálico, convulsões podem ocorrer.

Tratamentos
Muito embora cerca de 40% dos pacientes usando benzodiazepínicos (BDZ) não
tenham nenhum sintoma após a sua interrupção, é boa prática clínica sempre reduzir a dose
gradualmente.
Como guia, podemos sugerir a redução da dose em 25% com intervalos de 5-6 dias,
e, somente se houver desconforto suficientemente forte, a dose deveria ser mantida um
pouco mais alta, buscando-se maiores reduções a partir daí.

Psicológico:
Um importante determinante do sucesso da abstinência dos BDZ é o suporte social
recebido pelo paciente. O processo de abstinência deve ser explicado para todos os
familiares visando obter o maior suporte possível.

Farmacológico:

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A interrupção da dose de BDZ produz mudanças neuroquímicas decorrentes da perda


da inibição neuronal pelo sistema gabaérgico, causando os sintomas de abstinência.
Terapias de substituição foram propostas principalmente com três drogas:
propranolol, clonidina e carbamazepina. O uso desses medicamentos justifica-se somente
naqueles pacientes que apresentam sintomas físicos importantes na sua abstinência.

Barbitúricos
Já foram muito utilizados como sedativos e hipnóticos.
Os barbitúricos são capazes de potencializar os efeitos do GABA (ácido gama-
aminobutírico), principal neurotransmissor inibitório do SNC, de forma semelhante aos
BDZ.
Seus efeitos incluem menos capacidade de concentração, sensação de relaxamento,
diminuição dos reflexos e sonolência.
Em geral, são utilizados atualmente na prática clínica como anticonvulsivantes e indutores
anestésicos.

Opiáceos
A origem da palavra „ópio‟ vem do grego, significando „suco‟. É obtida: por meio de
cortes na papoula, obtendo-se uma seiva leitosa que é colocada para secar. Dentre os
diversos alcaloides presentes nessa preparação, encontramos a morfina (nome derivado da
figura mitológica grega de Morfeu, relacionado com os sonhos) e a codeína.
Por meio de modificações das moléculas dessas substâncias naturais, são obtidos os
opiáceos semi-sintéticos, como a heroína, assim, como também existem substâncias com
ação semelhante, totalmente produzidas em laboratórios – opiáceos sintéticos (meperidina,
propoxifeno, metadona, dentre outros).
Todas as drogas opiáceas (independente de serem naturais, sintéticas ou
semissintéticas) agem por meio de receptores para substâncias produzidas pelo cérebro – as
endorfinas e as encefalinas.
Ações mais específicas de inibição do reflexo da tosse e de indução de analgesia potente
também causam efeitos somáticos tais como contração pupilar (miose) e diminuição da

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motilidade do trato gastrintestinal. Deprimem o centro respiratório, o que torna a respiração


mais lenta e superficial, até a parada respiratória e morte.
Apresentam tolerância e síndrome de abstinência particularmente grave, insônia,
irritabilidade, cólicas intestinais, cãibras, lacrimejamento, coriza e piloereção. A elonidina
pode ser empregada no tratamento dos sintomas físicos desses quadros de abstinência.
São substâncias empregadas clinicamente como analgésicos potentes, antitussígenos
e antidiarreicos.

Solventes ou inalantes
Com as exceções do éter e do clorofórmio, já utilizados como anestésicos gerais, esse
grupo de substancias não possui qualquer utilização clínica.
A série de produtos tais como: aerossóis, tintas, vernizes, propelentes, colas esmaltes
e removedores. Podem ser inalados involuntariamente por trabalhadores da indústria, ou
utilizados como drogas de abuso.
Estão entre as drogas mais utilizadas por estudantes de escolas públicas, segundo um
estudo realizado em 10 capitais brasileiras em 1987, sendo esse uso ainda maior entre
crianças de rua de três capitais de nosso País. O início dos sintomas após a inalação é
bastante rápido (segundos ou minutos), e sua duração é fugaz, o que predispõe o usuário a
aspirações repetidas, às vezes com consequências graves (risco de morte por sufocação).
Os efeitos vão desde uma aparente estimulação inicia, com euforia e desinibição do
comportamento, havendo uma posterior depressão no SNC, com confusão mental,
desorientação, podendo ocorrer alucinações (visuais e auditivas). Numa terceira fase, com
redução acentuada do alerta, incoordenação motora, as alucinações tornando-se mais
evidentes.
Numa quarta fase, depressão tardia, geralmente há inconsciência, que pode evoluir
para como, convulsões e morte. Uma diferença importante entre o quadro de intoxicação
pelo álcool e por essas substâncias é a presença de alucinações no último caso.
No caso da n-hexana (benzina), a metabolização hepática produz uma substância que
causa toxicidade em nervos periféricos, levando a neuropatias

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Anfetaminas
São substâncias sintéticas, sendo agrupadas nessa denominação a própria d-
anfetamina e diversas outras substâncias com ação semelhante: fenproporex, metilfenidato,
manzidol, dietilpropiona e matanfetamina (drogas “anfetamínicas”).
Seu mecanismo de ação consiste em aumentar a liberação e prolongar o tempo de
atuação de neurotransmissores como a dopamina e a noradrenalida.
São efeitos agudos do consumo dessas substâncias uma diminuição do sono e do apetite,
aceleração do curso do pensamento geralmente com maior produção de discurso, sensação
de energia e diminuição da fadiga, muitas vezes com realização de esforços prejudiciais.
Em doses tóxicas, acentuam-se todos esses efeitos, podendo surgir um quadro
paranoide florido e convulsões.
São utilizadas clinicamente no tratamento de distúrbio de déficit de atenção e para
emagrecimento.

Cafeína
A ingestão a longo prazo de cafeína pode produzir tolerância e evidências de
dependência física. Assim sendo, a melhora do alerta, da energia e da habilidade para
concentração pode refletir a melhora de sintomas de abstinência. Tais sintomas podem
perdurar por até 2 a 6 dias.

Alucinógenos
Designação dada a diversas drogas que apresentam a propriedade de provocar uma
série de distorções do funcionamento normal do cérebro, trazendo como consequência uma
variada gama de alterações psíquicas, dentre as quais alucinações e delírios.
Diversas plantas possuem propriedades alucinógenas como, por exemplo alguns
cogumelos (Psylocibe mexicana, que produz a psilocobina), a jurema (mimosa hostilis, que
sintetiza a dimetiltriptilia ou DMT) e o caapi e a chacrona (banisteriopsi aapi e Psychotrya
virides, respectivamente, plantas utilizadas juntamente sob a forma de uma bebida que é
ingerida no ritual do Santo Daíme ou Culto da União Vegetal e várias outras seitas). Há
também substâncias alucinógenas sintetizadas artificialmente, sendo a principal delas a

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dietilamida do ácido lisérgico (LSD-25 ou, simplesmente, LSD) que será discutida como
droga protótipo desse grupo.
O LSD é uma das substâncias mais potentes com ação psicotrópica que se conhecem
(doses de 20 a 50 milionésimo de grama produzem efeitos com duração de 4 a 12 horas). As
distorções perceptivas (cores, formas e contornos alterados), a fusão de sentidos (por
exemplo, a impressão de que os sons adquirem forma ou cor) perda da discriminação de
tempo e espaço (minutos parecendo horas ou metros assemelhando-se a quilômetros) e as
alucinações (visuais ou auditivas) podem ser vivenciadas como sensações agradáveis, mas
também pode deixar os usuários extremamente amedrontado.

Anticolinérgicos
São substâncias provenientes de plantas ou sintetizadas em laboratório que tem a
capacidade de bloquear as ações da acetilcolina, neurotransmissor encontrado no sistema
nervoso central e periférico.
Efeitos psíquicos, atuam principalmente produzindo alucinações e delírios, sendo comuns as
descrições pelas pessoas intoxicadas de se sentirem perseguidas, de verem pessoas ou
animais, etc.
Os efeitos são em geral, bastante intensos, podendo durar até 2 a 3 dias.
Os anticolinérgicos são também capazes de produzir vários efeitos somáticos, tais
como midríase, boca seca, aumento da frequência cardíaca, diminuição da motilidade
intestinal (até paralisia) e dificuldades com a micção. Em doses elevadas podem produzir
grande elevação da temperatura (até 40-41ºC), havendo possibilidade de ocorrer convulsões.
São exemplo de drogas desse grupo algumas plantas, como certas espécies do gênero
Datura (conhecidas como saia branca, trombeteira ou zabumba, que produzem atropina e
escopolamina) e certos medicamentos, como o tri-hexafenidil, a diciclomina e o biperideno

Anabolizantes
Esteroides anabolizantes, ou apenas anabolizantes, são drogas relacionadas ao
hormônio masculino Testosterona fabricado pelos testículos.

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Os anabolizantes possuem vários usos clínicos, nos quais sua função principal é a
reposição da testosterona devido a algum déficit ocorrido por algum problema de saúde.
Além desse uso médico, eles levam ao crescimento da musculatura, aumento da síntese
(produção) de proteína e de cálcio nos ossos (efeito anabólico) e ao desenvolvimento das
características sexuais masculinas tais como crescimento do pênis e dos pelos,
engrossamento da voz, aumento da libido e da potencia sexual, etc. (efeito androgênico) por
esses motivos estas substâncias são muitos procurados por atletas ou pessoas que querem
melhorar a performance e a aparência física. Esse uso estético não é médico, portanto é
arriscado e ilegal.
A literatura aponta para o potencial dos esteroides anabolizantes de criar
dependência. Os motivos que levam a esta são desconhecidos, pois a forma como são
utilizados torna difícil para os pesquisadores chegarem a conclusões a respeito da
frequência, duração do uso, e dosagens para gerar dependência.

Formas de ingestão
Os esteroides anabolizantes podem ser tomados na forma de comprimidos ou
injeções.
Frequentemente são combinados diferentes anabolizantes supondo que a interação
destes produziria um aumento maior da musculatura e de sua efetividade, além de minimizar
os efeitos negativos. Esta prática é chamada de “stacking” (empilhamento).
Outra forma de uso dessas drogas é chamada de “cyclin” (cíclico) no qual o período
de uso acontece durante semanas ou meses, é interrompido por um tempo, e depois inicia-se
o uso novamente.

Efeitos e riscos à saúde


Icterícia, tremores, aumento da pressão sanguínea, acne severa, tumores no fígado,
retenção de líquidos, provoca diminuição dos índices de HDL (a forma boa do colesterol), e
dores nas juntas.
No homem: há uma diminuição da produção e da qualidade de espermatozoides,
os testículos reduzem de tamanho, impotência, infertilidade, aumento da próstata,

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dificuldade ou dor para urinar, desenvolvimento de mamas, calvície, maior chance cânceres
do rim, e fígado e ataque cardíaco.
Na mulher: voz grossa, aumento do clitóris, crescimento de pelos faciais, alterações
ou ausência de ciclo menstrual, diminuição de seios.
No adolescente: maturação esquelética prematura, puberdade acelerada levando a um
crescimento raquítico.
O abuso de anabolizantes, principalmente em altas doses, pode causar também uma
variação de humor incluindo agressividade e raiva incontroláveis, que podem levar a
episódios violentos. Esses efeitos são associados ao número de doses semanais utilizadas.
Usuários frequentemente, tornam-se deprimidos quando param de tomar a droga. Ainda
podem experimentar um ciúme patológico, extrema irritabilidade, ilusões, podendo ter uma
distorção de julgamento em relação a sentimentos e invencibilidade, distração, confusão
mental e esquecimentos.

5.7 POLÍTICAS PÚBLICAS30

Prevenção
A efetiva prevenção é fruto do comprometimento, da cooperação e da parceria entre
os diferentes segmentos da sociedade brasileira e dos órgãos governamentais, federal,
estadual e municipal, fundamentada na filosofia da “Responsabilidade Compartilhada”, com
a construção de redes sociais que visem a melhoria das condições de vida e promoção geral
da saúde.
A execução desta política, no campo da prevenção deve ser descentralizada nos
municípios, com o apoio dos Conselhos Estaduais de políticas públicas sobre drogas e da
sociedade civil organizada, adequada às peculiaridades locais e priorizando as comunidades
mais vulneráveis, identificadas por um diagnóstico. Para tanto, os municípios devem ser
incentivados a instituir, fortalecer e divulgar o seu Conselho Municipal sobre Drogas.

30
Disponível em: http://www.justica.gov.br/sua-protecao/politicas-sobre-drogas/prevencao-e-
tratamento/reducao-de-danos/reducao-de-danos

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As ações preventivas devem ser pautadas em princípios éticos e pluralidade cultural,


orientando-se para a promoção de valores voltados à saúde física e mental, individual e
coletiva, ao bem-estar, à integração socioeconômica e a valorização das relações familiares,
considerando seus diferentes modelos.
As ações preventivas devem ser planejadas e direcionadas ao desenvolvimento
humano, o incentivo à educação para a vida saudável, acesso aos bens culturais, incluindo a
prática de esportes, cultura, lazer, a socialização do conhecimento sobre drogas, com
embasamento científico, o fomento do protagonismo juvenil, da participação da família, da
escola e da sociedade na multiplicação dessas ações.
As mensagens utilizadas em campanhas e programas educacionais e preventivos
devem ser claras, atualizadas e fundamentadas cientificamente, considerando as
especificidades do público-alvo, as diversidades culturais, a vulnerabilidade, respeitando as
diferenças de gênero, raça e etnia.

Diretrizes

 Garantir aos pais e/ou responsáveis, representantes de entidades governamentais e não-


governamentais, iniciativa privada, educadores, religiosos, líderes estudantis e comunitários,
conselheiros estaduais e municipais e outros atores sociais, capacitação continuada sobre
prevenção do uso indevido de drogas lícitas e ilícitas, objetivando engajamento no apoio às
atividades preventivas com base na filosofia da responsabilidade compartilhada.
 Dirigir as ações de educação preventiva, de forma continuada, com foco no indivíduo e seu
contexto sociocultural, buscando desestimular o uso inicial de drogas, incentivar a
diminuição do consumo e diminuir os riscos e danos associados ao seu uso indevido.
 Promover, estimular e apoiar a capacitação continuada, o trabalho interdisciplinar e
multiprofissional, com a participação de todos os atores sociais envolvidos no processo,
possibilitando que esses se tornem multiplicadores, com o objetivo de ampliar, articular e
fortalecer as redes sociais, visando ao desenvolvimento integrado de programas de
promoção geral à saúde e de prevenção.

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 Manter, atualizar e divulgar um sistema de informações de prevenção sobre o uso indevido


de drogas, integrado, amplo e interligado ao OBID, acessível a toda a sociedade, que
favoreça a formulação e implementação de ações de prevenção, incluindo mapeamento e
divulgação de “boas práticas” existentes no Brasil e em outros países.
 Incluir processo de avaliação permanente das ações de prevenção realizadas pelos Governos,
Federal, Estaduais, Municipais, observando-se as especificidades regionais.
 Fundamentar as campanhas e programas de prevenção em pesquisas e levantamentos sobre o
uso de drogas e suas consequências, de acordo com a população-alvo, respeitadas as
características regionais e as peculiaridades dos diversos segmentos populacionais,
especialmente nos aspectos de gênero e cultura.
 Propor a inclusão, na educação básica e superior, de conteúdos relativos à prevenção do uso
indevido de drogas.
 Priorizar ações interdisciplinares e contínuas, de caráter preventivo e educativo na
elaboração de programas de saúde para o trabalhador e seus familiares, oportunizando a
prevenção do uso indevido de drogas no ambiente de trabalho em todos os turnos, visando à
melhoria da qualidade de vida, baseadas no processo da responsabilidade compartilhada,
tanto do empregado como do empregador.
 Recomendar a criação de mecanismos de incentivo para que empresas e instituições
desenvolvam ações de caráter preventivo e educativo sobre drogas.

Tratamento
O Estado deve estimular, garantir e promover ações para que a sociedade (incluindo
os usuários, dependentes, familiares e populações específicas), possa assumir com
responsabilidade ética, o tratamento, a recuperação e a reinserção social, apoiada técnica e
financeiramente, de forma descentralizada, pelos órgãos governamentais, nos níveis
municipal, estadual e federal, pelas organizações não-governamentais e entidades privadas.
O acesso às diferentes modalidades de tratamento e recuperação, reinserção social e
ocupacional deve ser identificado, qualificado e garantido como um processo contínuo de
esforços disponibilizados, de forma permanente, para os usuários, dependentes e seus
familiares, com investimento técnico e financeiro de forma descentralizada.

155
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As ações de tratamento, recuperação, reinserção social e ocupacional devem ser


vinculadas a pesquisas científicas, avaliando-as e incentivando-as e multiplicando aquelas
que tenham obtido resultados mais efetivos, com garantia de alocação de recursos técnicos e
financeiros, para a realização dessas práticas e pesquisas, promovendo o aperfeiçoamento
das demais.
Na etapa da recuperação, deve-se destacar e promover ações de reinserção familiar,
social e ocupacional, em razão de sua constituição como instrumento capaz de romper o
ciclo consumo/tratamento, para grande parte dos envolvidos, por meio de parcerias e
convênios com órgãos governamentais e organizações não-governamentais, assegurando a
distribuição descentralizada de recursos técnicos e financeiros.
No Orçamento Geral da União devem ser previstas dotações orçamentárias, em todos
os ministérios responsáveis pelas ações da Política Nacional sobre Drogas, que serão
distribuídas de forma descentralizada, com base em avaliação das necessidades específicas
para a área de tratamento, recuperação, redução de danos, reinserção social e ocupacional,
estimulando o controle social e a responsabilidade compartilhada entre governo e sociedade
A capacitação continuada, avaliada e atualizada de todos os setores governamentais e
não-governamentais envolvidos com tratamento, recuperação, redução de danos, reinserção
social e ocupacional dos usuários, dependentes e seus familiares deve ser garantida,
inclusive com recursos financeiros, para multiplicar os conhecimentos na área.

Diretrizes

 Promover e garantir a articulação e integração em rede nacional das intervenções para


tratamento, recuperação, redução de danos, reinserção social e ocupacional (Unidade Básica
de Saúde, ambulatórios, Centro de Atenção Psicossocial, Centro de Atenção Psicossocial
Álcool e Drogas, comunidades terapêuticas, grupos de auto-ajuda e ajuda mútua, hospitais
gerais e psiquiátricos, hospital-dia, serviços de emergências, corpo de bombeiros, clínicas
especializadas, casas de apoio e convivência e moradias assistidas) com o Sistema Único de
Saúde e Sistema Único de Assistência Social para o usuário e seus familiares, por meio de
distribuição descentralizada e fiscalizada de recursos técnicos e financeiros.

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 Desenvolver e disponibilizar banco de dados, com informações científicas atualizadas,


para subsidiar o planejamento e avaliação das práticas de tratamento, recuperação, redução
de danos, reinserção social e ocupacional sob a responsabilidade de órgãos públicos,
privados ou de organizações não-governamentais, devendo essas informações ser de
abrangência regional (estaduais e municipais), com ampla divulgação, fácil acesso e
resguardando o sigilo das informações.
 Definir normas mínimas que regulem o funcionamento de instituições dedicadas ao
tratamento, recuperação, redução de danos, reinserção social e ocupacional, quaisquer que
sejam os modelos ou formas de atuação, monitorar e fiscalizar o cumprimento dessas
normas, respeitando o âmbito de atuação de cada instituição.
 Estabelecer procedimentos de avaliação por uma comissão tripartite e paritária para as
diversas
modalidades de tratamento, recuperação, redução de danos, reinserção social e ocupacional,
para usuários dependentes e familiares, com base em parâmetros comuns, adaptados às
realidades regionais, permitindo a comparação de resultados entre as instituições, aplicando
para esse fim recursos técnicos e financeiros.
 Desenvolver, adaptar e implementar diversas modalidades de tratamento, recuperação,
redução de danos, reinserção social e ocupacional dos dependentes químicos e familiares às
características específicas dos diferentes grupos: crianças e adolescentes, adolescentes em
medida socioeducativa, mulheres, gestantes, idosos, pessoas em situação de risco social,
portadores de qualquer co-morbidade, população carcerária e egressos, trabalhadores do
sexo e populações indígenas, por meio da distribuição descentralizada de recursos técnicos e
financeiros.
 Propor, por meio de dispositivos legais, incluindo incentivos fiscais, o estabelecimento de
parcerias e convênios em todos os níveis do Estado, que possibilitem a atuação de
instituições e organizações públicas, não- governamentais ou privadas que contribuam no
tratamento, na recuperação, redução de danos, reinserção social e ocupacional.
 Propor a criação de taxas específicas para serem arrecadadas em todos os níveis de
governo (federal, estadual e municipal) sobre as atividades da indústria de bebidas alcoólicas

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e do tabaco, para financiar tratamento, recuperação, redução de danos e reinserção social e


ocupacional de dependentes químicos e familiares.
 Garantir a destinação dos recursos provenientes das arrecadações do Fundo Nacional
Antidrogas (composto por recursos advindos da apropriação de bens e valores apreendidos
em decorrência do crime do narcotráfico) para tratamento, recuperação, reinserção social e
ocupacional.
 Estabelecer parcerias com universidades para implementação da capacitação continuada,
por meio dos pólos permanentes de educação, saúde e assistência social.
 Propor que a Agência Nacional de Saúde Suplementar regule o atendimento
assistencial em saúde para os transtornos psiquiátricos e/ou por abuso de substâncias
psicotrópicas, de modo a garantir tratamento tecnicamente adequado previsto na Política
Nacional de Saúde.

Redução de Danos
A promoção de estratégias e ações de redução de danos, voltadas para a saúde
pública e direitos humanos, deve ser realizada de forma articulada inter e intra-setorial,
visando à redução dos riscos, as consequências adversas e dos danos associados ao uso de
álcool e outras drogas para a pessoa, a família e a sociedade.

Diretrizes

 Reconhecer a estratégia de redução de danos, amparada pelo artigo 196 da Constituição


Federal, como medida de intervenção preventiva, assistencial, de promoção da saúde e dos
direitos humanos.
 Garantir o apoio à implementação, divulgação e acompanhamento das iniciativas e
estratégias de redução de danos desenvolvidas por organizações governamentais e não-
governamentais, assegurando os recursos técnicos, políticos e financeiros necessários, em
consonância com as políticas públicas de saúde.
 Diminuir o impacto dos problemas socioeconômicos, culturais e dos agravos à saúde
associados ao uso de álcool e outras drogas.

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 Orientar e estabelecer, com embasamento científico, intervenções e ações de redução de


danos, considerando a qualidade de vida, o bem-estar individual e comunitário, as
características locais, o contexto de vulnerabilidade e o risco social.
 Garantir, promover e destinar recursos para o treinamento, capacitação e supervisão técnica
de trabalhadores e de profissionais para atuar em atividades de redução de danos.
 Viabilizar o reconhecimento e a regulamentação do agente redutor de danos como
profissional e/ou trabalhador de saúde, garantindo sua capacitação e supervisão técnica.
 Estimular a formação de multiplicadores em atividades relacionadas à redução de danos,
visando um maior envolvimento da comunidade com essa estratégia.
 Incluir a redução de danos na abordagem da promoção da saúde e prevenção, no ensino
formal (fundamental, médio e superior).
 Promover estratégias de divulgação, elaboração de material educativo, sensibilização e
discussão com a sociedade sobre redução de danos por meio do trabalho com as diferentes
mídias.
 Apoiar e divulgar as pesquisas científicas submetidas e aprovadas por comitê de ética,
realizadas na área de redução de danos para o aprimoramento e a adequação da política e de
suas estratégias.
 Promover a discussão de forma participativa e subsidiar tecnicamente a elaboração de
eventuais mudanças nas legislações, nas três esferas de governo, por meio dos dados e
resultados da redução de danos.
 Assegurar às crianças e adolescentes o direito à saúde e o acesso às estratégias de redução de
danos, conforme preconiza o Sistema de Garantia de Direitos do Estatuto da Criança e do
Adolescente (ECA - Lei n.º 8.069/1990).
 Comprometer os governos federal, estaduais e municipais com o financiamento, a
formulação, implementação e avaliação de programas e de ações de redução de danos
sociais e à saúde, considerando as peculiaridades locais e regionais.
 Implementar políticas públicas de geração de trabalho e renda como elementos redutores de
danos sociais.
 Promover e implementar a integração das ações de redução de danos com outros programas
de saúde pública.

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 Estabelecer estratégias de redução de danos voltadas para minimizar as conseqüências do


uso indevido, não somente de drogas lícitas e ilícitas, bem como de outras substâncias.

Fundo Nacional Antidrogas


O Fundo Nacional Antidrogas (Funad) é gerido pela Secretária Nacional de Políticas
sobre Drogas (Senad). Seus recursos são constituídos de dotações específicas estabelecidas
no orçamento da União, de doações, de recursos de qualquer bem de valor econômico,
apreendido em decorrência do tráfico de drogas de abuso ou utilizado em atividades ilícitas
de produção ou comercialização de drogas, após decisão judicial ou administrativa tomada
em caráter definitivo.
Os recursos da Funad, em síntese, são destinados ao desenvolvimento, à
implementação e à execução de ações, programas e atividades de repressão, de prevenção,
tratamento, recuperação e reinserção social de dependentes de substâncias psicoativas.

Políticas sobre drogas


A política pública brasileira sobre drogas é comandada pela Senad, Secretaria
Nacional de Políticas Sobre Drogas, que foi criada pela medida provisória nº 1669, de
1998 e posteriormente transferida para a estrutura do Ministério da Justiça pelo Decreto Nº
7.426, de 7 de Janeiro de 2011. Assim como o Conselho Nacional de Políticas sobre Drogas
- CONAD e a gestão do Fundo Nacional Antidrogas – FUNAD.

A Senad é formada por quatro diretorias:

1. Diretoria de Projetos Estratégicos e Assuntos Internacionais;


2. Diretoria de Articulação e Coordenação de Políticas sobre Drogas;
3. Diretoria de Contencioso e Gestão do Fundo Nacional Antidrogas; e
4. Diretoria de Planejamento e Avaliação de Políticas sobre Drogas.

Entre suas competências estão:

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I. assessorar e assistir o Ministro de Estado, no âmbito de sua competência;


II. articular e coordenar as atividades de prevenção do uso indevido, a atenção e a
reinserção social de usuários e dependentes de drogas;
III. propor a atualização da Política Nacional sobre Drogas, na esfera de sua
competência;
IV. consolidar as propostas de atualização da Política Nacional sobre Drogas;
V. definir estratégias e elaborar planos, programas e procedimentos, na esfera de sua
competência, para alcançar os objetivos propostos na Política Nacional sobre Drogas e
acompanhar a sua execução;
VI. atuar, em parceria com órgãos da administração pública federal, estadual, municipal
e do Distrito Federal, assim como governos estrangeiros, organismos multilaterais e
comunidades nacional e internacional, na concretização das atividades constantes do inciso
II;
VII. promover o intercâmbio com organismos nacionais e internacionais na sua área de
competência;
VIII. propor medidas na área institucional visando ao acompanhamento e ao
aperfeiçoamento da ação governamental relativa às atividades relacionadas no inciso II;
IX. gerir o Fundo Nacional Antidrogas - FUNAD, bem como fiscalizar a aplicação dos
recursos repassados por este Fundo aos órgãos e entidades conveniados;
X. firmar contratos ou celebrar convênios, acordos, ajustes ou outros instrumentos
congêneres com entidades, instituições ou organismos nacionais e, mediante delegação de
competência, propor com os internacionais, na forma da legislação em vigor;
XI. indicar bens apreendidos e não alienados em caráter cautelar, a serem colocados sob
custódia de autoridade ou órgão competente para desenvolver ações de redução da demanda
e da oferta de drogas, para uso nestas ações ou em apoio a elas;
XII. realizar, direta ou indiretamente, convênios com os Estados e o Distrito Federal, a
alienação de bens com definitivo perdimento decretado em favor da União, articulando-se
com os órgãos do Poder Judiciário, do Ministério Público e da administração pública federal
e estadual para a consecução desse objetivo;

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XIII. gerir o Observatório Brasileiro de Informações sobre Drogas - OBID;


XIV. desempenhar as atividades de Secretaria-Executiva do Conselho Nacional de
Políticas sobre Drogas;
XV. executar as ações relativas ao Plano Integrado de Enfrentamento ao Crack e outras
Drogas, bem como coordenar, prover apoio técnico-administrativo e proporcionar os meios
necessários à execução dos trabalhos do Comitê Gestor do referido Plano; e
XVI. realizar outras atividades determinadas pelo Ministro de Estado.
Competência estabelecida pelo Decreto nº 6.061, de 15 de março de 2007, Anexo I).

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6. SEXUALIDADE E SAÚDE MENTAL

Sexualidade é um termo amplamente abrangente que engloba inúmeros fatores


(históricos, culturais e sociais), não se restringindo a uma definição única e absoluta.
Teoricamente, a sexualidade inicia-se juntamente à puberdade ou adolescência, o que
ocorre por volta dos 12 anos de idade (Art. 2º – Estatuto da Criança e do Adolescente).
Entretanto, em prática, está idade não é regra, uma vez que os fatores acima descritos são
indispensáveis na consideração da sexualidade.
O termo “sexualidade” remete a um universo onde tudo é relativo, pessoal e muitas
vezes paradoxal. Pode-se dizer que é traço mais íntimo do ser humano e como tal, se
manifesta diferentemente em cada indivíduo de acordo com a realidade e as experiências
vivenciadas pelo mesmo.
A noção de sexualidade como busca de prazer, descoberta das sensações
proporcionadas pelo contato ou toque, atração por outras pessoas (de sexo oposto e/ou
mesmo sexo) com intuito de obter prazer pela satisfação dos desejos do corpo, entre outras
características, é diretamente ligada e dependente de fatores genéticos e principalmente
culturais. O contexto influi diretamente na sexualidade de cada um.
É comum se confundir o conceito de sexualidade com o do sexo propriamente dito.
Vale salientar que um não necessariamente precisa vir acompanhado do outro. Cabe a cada
um decidir qual o momento propício para que esta sexualidade se manifeste de forma física
e seja compartilhada com outro indivíduo através do sexo, sendo este último, uma das
formas de se chegar à satisfação desejada. Pode-se entender como constituinte de
sexualidade, a necessidade de admiração e gosto pelo próprio corpo por exemplo, o que não
está ligado a uma relação narcísica de amor incondicional ao ego.
Existem diferentes abordagens do tema que variam de acordo com concepções e
crenças provenientes das manifestações culturais. Em alguns lugares pode-se encontrar
visões preconceituosas sobre o assunto. Em outros, é discutido de forma livre e com grande
aceitação de diferentes olhares em torno da temática. Algumas vertentes da psicologia, como
a psicanálise Freudiana, consideram a existência de sexualidade na criança já quando nasce.
Propõe a passagem por fases (oral, anal, fálica) que contribuem ou definem a constituição da
sexualidade adulta que virá a desenvolver-se posteriormente.
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Na concepção da sexualidade é interessante que se possa manter uma relação de


compreensão e aceitação da sua própria sexualidade e a do outro. Para isto, o esclarecimento
de dúvidas e a capacidade de se sentir à vontade com seus desejos e sensações, contribui
imensamente ao amadurecimento desta, o que gera sensação de conforto e evita conflitos
internos provenientes de estigmas e medos, abrindo espaço então para uma experiência
positiva e saudável.

6.1 ADOLESCÊNCIA E SEXUALIDADE

Embora a seuxalidade seja vivenciada mais acentuadamente na adolescência e de


forma mais prazerosa e dinâmica por este público, alguns elementos que se esbarram nessa
fase, seja de cunho de ordem biológica, psicológica e socail trazem implicações direta a
esta etapa do desenvolvimento, onde a crise de identidade, o luto pela perda da infância, o
novo corpo, a aceitação social fazem parte desse processo.
A fim de desenvolver uma relação satisfatória, criar uma rede que fortaleça os laços
emocionais e sociais do adolescente é tão importante quanto simplismente os encherem de
informações.
O Portal de Educação31 destacou o diálogo como a melhor ferramenta, destacando
que, mesmo em pleno século XXI, a questão do sexo na adolescência vive uma total
incoerência por parte de alguns indivíduos. Atualmente as pessoas conversam muito mais
abertamente sobre o sexo do que antigamente, porém ainda vivemos sobre estereótipos e
condutas antigas.
Ainda existem rapazes que se incomodam com garotas que não são virgens; as
meninas não sabem ao certo qual é o momento certo para ter a sua primeira relação sexual,
pior, ainda acham que se fizerem sexo com o seu namorado não correm o risco de perdê-lo e
assim por diante.
Muitos pais e filhos ainda apresentam certa dificuldade em conversar sobre sexo.
Sabemos que conversar sobre esse assunto com os filhos, pode ser muito complicado para
alguns pais.

31
Disponível em: https://www.portaleducacao.com.br/conteudo/artigos/estetica/sexualidade-na-
adolescencia/61235

164
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E é difícil para eles imaginarem que aquele menino ou aquela menina que pegaram
no colo, ensinaram a andar de bicicleta, levaram no parque, hoje quer beijar, namorar e ter a
sua primeira relação sexual.
Para saber lidar com a sexualidade torna-se necessário:

• Que pais conversem com os filhos sobre vários assuntos, assim como aqueles que lhe
chamam atenção, música, televisão, amigos da escola, para depois entrarem no assunto sobre
“sexo”.

• Ter a afinidade e a intimidade entre pais e filhos trabalhada desde cedo.

• Pais saberem respeitar os limites dos filhos, pois existem coisas, ou melhor,
intimidades que eles terão a necessidade de dividir somente com um amigo ou amiga.

• Encontrar um equilíbrio entre a liberdade e o limite no namoro. O adolescente tem o


direito de namorar, já que não adianta proibir, porém ele precisa saber até onde deve ir.

• Ensinar ao adolescente a se proteger com métodos anticonceptivos e preservativos,


caso tenham ou venham a ter uma vida sexual ativa, é de extrema importância.

Com esse misto de emoções e sentimentos própria a essa fase, algums aspectos
acabam por passar despercebidos pelo olhar do adulto que acompanha esse adolescente.
Essa “brecha”, dar espaço para que alguns contratempos a realidade desse adolescente, tais
como: violência, drogas e sexo sem as devidas orientações, o que tem levado ao aumento de
casos de AIDS nessa faixa etária da populão.
Segundo Fontanella e Gomes, "o primeiro caso de AIDS na população jovem
brasileira foi notificado em 1982 e, até junho de 2010, 66.751 casos entre pessoas de 13 a 24
anos haviam sido notificados. Desses, cerca de 80% ocorreram na faixa entre 20 e 24 anos e
56% entre homens. Embora a taxa de incidência de casos notificados entre os jovens
mantenha-se em patamares aproximados, constatou-se desde o início da epidemia uma
tendência de aumento na proporção da categoria "exposição sexual" ao HIV entre os rapazes
que recebem este diagnóstico".
Os autores afirmam ainda que " os jovens brasileiros mostram, via de regra, um alto
nível de conhecimentos acerca dos modos de transmissão do HIV e, se comparados com
outras faixas etárias, são os que mais usam o preservativo em todas as situações. Apesar

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disso, estudos empíricos ainda atestam também entre eles uma alta prevalência de práticas
de risco para a transmissão de patógenos relacionados às DST, como o uso não consistente
do preservativo (isto é, o não uso em todas as relações sexuais)".
No Brasil, o impacto da epidemia da AIDS ainda é desconhecido, pois não há
qualquer estudo de soro prevalência do HIV nos Serviços de Saúde Mental e, sequer,
pesquisas comportamentais que avaliem a vulnerabilidade dos usuários de serviços de saúde
mental para a AIDS.

6.2 CARACTERÍSTICAS QUE TORNAM OS USUÁRIOS DE SAÚDE MENTAL MAIS


VULNERÁVEIS AS DST‟S/AIDS

Algumas situações particulares de pessoas com doença mental grave podem aumentar seus
riscos de exposição ao HIV. Certos aspectos da doença mental podem contribuir para o
desenvolvimento de comportamentos de risco, tais como:
 A dificuldade em estabelecer uniões  Estar com o juízo crítico prejudicado,
estáveis; principalmente nos surtos psicóticos;
 Encontrar-se social e economicamente em  Hipersexualidade;
desvantagem;  Impulsividade;
 Ser vítima de abuso sexual;  Baixa auto-estima.

Esses fatores, conjugados com as hospitalizações frequentes, podem deixar os


usuários dos serviços de saúde mental ainda mais vulneráveis ao HIV. Porque se sabe que as
re-hospitalizações favorecem a quebra dos relacionamentos sociais e afetivos, o que pode
levar os usuários a tornarem-se mais expostos a parceiros desconhecidos.
Além do fator explicitado, há que se considerar também os extensos períodos de
hospitalização em enfermarias divididas por sexo, que podem favorecer a atividade sexual
entre pessoas do mesmo sexo, especialmente entre homens.

6.3 ABORDAGEM INTEGRAL AO USUÁRIO

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“É um processo de escuta ativa, individualizado e centrado no cliente, pressupõe a


capacidade de estabelecer uma relação de confiança entre os interlocutores, visando ao
resgate dos recursos internos do cliente para que ele mesmo tenha possibilidade de
reconhecer-se como sujeito de sua própria saúde e transformação”. (CNDST/AIDS,1999)
Ainda de acordo com a CN-DST/AIDS (1999), o processo de aconselhamento em
DST/AIDS é composto de elementos fundamentais para sua realização:

I - Apoio emocional;
II - Educativo, que trata das trocas de informações sobre DST e HIV/AIDS, suas formas de
transmissão, prevenção e tratamento;
III - Avaliação de riscos, que propicia a reflexão sobre valores, atitudes e condutas,
incluindo o planejamento de estratégias de redução de risco.

É de grande valia ressaltar que na Saúde Mental, o aconselhamento não se realiza


apenas através de sessões individuais. Ele pode fazer parte de um processo que vem sendo
construído ao longo do tempo. Essa abordagem pode ser utilizada com doentes mentais
graves que frequentam os Centros de Atenção Diária ou mesmo com aqueles que residem
em moradias assistidas. Construir uma relação por meio de ações que viabilizem um canal
que fomente discussões sobre Sexualidade e AIDS pode ser uma boa alternativa para a
realização do aconselhamento de usuários, mesmo com aqueles acometidos com um grave
déficit intelectual, ou com dificuldade de manter um diálogo compreensivo com conteúdos
delirantes provenientes algumas vezes pelo longos períodos de hospitalização, além de,
dificuldades na adesão ao tratamento anti-retroviral por parte do indivíduo com sofrimento
psíquico
Enfrentar a AIDS não requer apenas uma ação individualizada, mas também, uma
transformação social.
Os profissionais de Saúde Mental devem estar criando sempre ações que possam
diminuir a vulnerabilidade: primeiro, por estarem se instrumentalizando para lidar com
questões da sexualidade dos usuários pois, só assim, poderão conhecer e investigar os
comportamentos de risco e questões de vulnerabilidade.

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No caso dos indivíduos soropositivos, o uso correto dos medicamentos transforma a


AIDS em uma doença crônica que pode levar alguns anos para se manifestar. Já com a
população psiquiátrica, o uso correto das medicações faz com que o indivíduo mantenha-se
integrado na sociedade, longe das crises e internações e, portanto, consciente de tudo o que
faz, não estando tão vulnerável ao HIV.
De acordo com Vitória (2000), o termo “adesão ao tratamento” deve considerado
num contexto mais ampliado, onde o indivíduo não só obedece às orientações fornecidas
pela equipe de saúde, mas também entende, concorda e segue o esquema medicamentoso
prescrito.
Com o usuário do serviço de Saúde Mental, não é diferente. Deve haver uma
negociação entre ambas as partes: usuários e profissionais envolvidos no seu cuidado, sendo
estabelecidas as responsabilidades de cada indivíduo que participa do tratamento.
Para isso, os profissionais devem fazer do usuário e de seus familiares aliados para o
sucesso da adesão ao tratamento medicamentoso

6.4 PREVENÇÃO DA AIDS EM SERVIÇOS DE SAÚDE MENTAL

“É MELHOR PREVENIR DO QUE REMÉDIO DAR "

Existem várias formas de se realizarem ações de prevenção em DST/AIDS. Mas,


para que estas ações sejam eficazes no controle da epidemia, fazem-se necessárias
intervenções que ultrapassem os limites das informações racionais e científicas sobre a vida
sexual.
Fornecer apenas informações sobre o corpo, suas funções, seu desenvolvimento
fisiológico e seu papel reprodutivo não é suficiente para a compreensão da dinâmica da
experiência sexual. É importante que o profissional de Saúde Mental tenha uma melhor
compreensão da visão que o próprio usuário tem da sua sexualidade.
Porém, para que o profissional tenha esse olhar menos cristalizado, é necessário que
ele estabeleça uma relação de confiança indispensável na comunicação com o usuário no
momento da intervenção, que pode ser realizada nos atendimentos individuais ou em grupo,
através de oficinas.
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Cabe lembrar que sentir-se confortável para discutir assuntos relacionados à


sexualidade também é condição necessária para o desenvolvimento do trabalho. Caso
contrário, a proposta de prevenção poderá não ter êxito.
Outro fator importante a destacar é a necessidade de o profissional escolher um
ambiente apropriado, que resguarde a confidencialidade e sigilo dos assuntos tratados.

Nos bastidores da sexualidade: discutindo o “sexo dos loucos”

Um tema tão difícil e de pouco relatos seja no campo empírico (experiência comum)
como no científico é o da sexualidade das pessoas ditas “loucas”, uma vez que, envolve toda
uma gama de sentimentos e emoções, além de implicar numa concepção metodológica
específica de troca de conhecimentos e numa reflexão sobre mudanças de comportamento
por parte daqueles profissionais que atuam na área da Saude Mental.
O profissional que realmente dispõe a engajar-se na construção de uma mentalidade
preventiva em Saúde Mental deve estar disposto a confrontar suas próprias emoções e
sentimentos, conceitos e preconceitos, compartilhar dificuldades, buscar soluções e tomar
decisões.
Esse processo, como mencionado anteriormente, não deve ser meramente expositivo.
Os temas que envolvem um trabalho de prevenção e sexualidade devem ser
VIVENCIADOS de forma simples e divertida, ajudando a reduzir bloqueios e ansiedades.

MÓDULO IV
EQUIPE MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE MENTAL

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7. EQUIPE MULTIPROFISSIONAL EM SAÚDE MENTAL32

O campo da saúde mental é constituído pela interligação de diferentes saberes como


psiquiatria, psicologia, neurociências, antropologia, sociologia, ideologia, manifestações
religiosas, ideologia, ética e moral (Amarante,2007).
Vale destacar que, a atuação de uma equipe multiprofissional que segundo Peduzzi
(2001) é uma modalidade de trabalho que se configura na relação recíproca entre as equipes
envolvendo intervenções técnicas e teóricas."
Dentre mais, (Valentini & Harari,2001) destacam que atuação de uma equipe
multiprofissional dentro do campo da saúde mental é responsável por proporcionar a
socialização do saber e discussões centradas no trabalho, e sobre cada profissional sabendo
do papel a desempenhar, proporcionando incrementos de confiança e de aprendizagem entre
os profissionais e estabelecimento de projetos de intervenção terapêutica e norteador a
solidariedade.
A partir da opinião do autor, creio que atuação de uma equipe multiprofissional se
torna importante devido ao fato que o indivíduo passa a ser visto de uma maneira
integralizada, ou seja, o ser humano representa um organismo multidimensional que é: bio-
psico-social-espiritual, no qual se constrói através das relações que estabelece com o outro e,
onde a qualidade das relações irá influenciar diretamente o seu desenvolvimento.
Segundo o Ministério da Saúde (2007) o projeto terapêutico singular apresenta
quatro processos:

1) O diagnóstico: que deverá conter uma avaliação orgânica, psicológica e social,


que possibilita uma conclusão a respeito dos riscos e da vulnerabilidade do usuário. Deve
tentar captar como o sujeito singular se produz diante de forças como as doenças, os desejos
e os interesses, assim como também o trabalho a cultura, a família e a rede social.

32
Disponível em: < http://redehumanizasus.net/61709-a-importancia-do-trabalho-multiprofissional-dentro-do-
campo-da-saude-mental/>

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2) Definição de metas: uma vez que a equipe faz o diagnóstico, ela faz propostas de curto,
médio longo prazo, que serão negociadas com o sujeito doente pelo membro da equipe que
tiver um vínculo maior.
3) Divisão de responsabilidades: é importante definir as tarefas de cada um com clareza.
4) Reavaliação: momento em que se discutirá a evolução e se farão as devidas correções de
rumo.
Por fim, através de uma fala de Lane "O trabalho em grupo compreende a superação
do individualismo profundamente arraigado, superação necessária para a realização de um
trabalho comunitário e desenvolvimento da consciência social, sobretudo, a autonomia dos
indivíduos."

7.1 CARATERIZAÇÃO DAS EQUIPES MULTIDISCIPLINARES33

33
Disponível em: http://www.atlasdasaude.pt/publico/content/importancia-das-equipas-multidisciplinares

171
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Para que as equipes multidisciplinares efetivem o trabalho de modo democrático,


agregador, cooperativo, com qualidade e eficiência, devem ser considerados três fatores:
capacitação profissional, a interface do trabalho dos profissionais e a autonomia dos
profissionais (VELOSO, 2005):
A capacitação profissional está diretamente relacionada com a formação acadêmica,
com a qualidade das instituições de ensino, com os projetos pedagógicos dos cursos e com o
controle social que deve ser exercido sobre os profissionais.
A interface do trabalho dos profissionais, que diz respeito às áreas de competências
de cada profissional, que são claras na grande maioria dos procedimentos e não geram
dúvidas ou sobreposições. Há, entretanto, áreas de competências que são comuns a várias
profissões, algumas que são complementares, algumas que são interdependentes e algumas
que são de difícil especificação. A este propósito, Nogueira (2004) salienta que é essencial
que todos os profissionais reconheçam o papel e a importância dos outros, para que seja
possível trabalhar no seio destas equipes. No entanto, por vezes há um entendimento
incompleto das capacidades dos outros membros da equipa, assim como dos limites de
atuação de cada um.
Já no que diz respeito à autonomia dos profissionais, cada elemento da equipe deve
ter absoluta autonomia de trabalho naquilo que é claramente a sua área de competência.
Para além do exposto, cada equipa multidisciplinar pode possuir caraterísticas
próprias e o seu próprio fluxo de trabalho, porém a troca de experiências, o diálogo, o
comprometimento e participação ativa são elementos fundamentais para o aprimoramento
individual e coletivo de todos os membros da equipe.
Preisler, Borba, Battirola (2001) descrevem as competências necessárias para um
bom desempenho:
Cooperar: participar voluntariamente, apoiar as decisões da equipe, fazer a sua parte do
trabalho;
Compartilhar informações: manter as pessoas informadas e atualizadas sobre o processo do
grupo;

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Expressar expetativas positivas: esperar o melhor das capacidades dos outros membros do
grupo, falando dos membros da equipe para os outros com aprovação. Apelar para a
racionalidade em situações de conflito e não assumir posição polémica nesses casos;
Estar disposto a aprender com os restantes profissionais: valorizar a experiência dos outros,
solicitar dados e interagir pedindo e valorizando ideias;
Encorajar e motivar os outros profissionais: dar crédito aos colegas que tiveram bom
desempenho tanto dentro como fora da equip;
Construir um espírito de equipe: tomar atitudes que promovam um clima amigável e
cooperação entre os membros da equipe; com cumplicidade partilhada de responsabilidades;
Resolver conflitos: encorajar ou facilitar soluções construtivas para a equipe. Não esconder
ou evitar o problema, mas tentar resolvê-lo da forma proveitosa.
Todas estas competências precisam ser estimuladas e trabalhadas, pois, apesar de
estudos evidenciarem que o trabalho nestas equipas é determinante para a melhor qualidade
do cuidado, o ensino das atividades para o trabalho em equipa não existe na Enfermagem e
na Medicina, focando-se o treino exclusivamente nas habilidades técnicas individuais
(SEXTON ET AL, 2000).
Para Júnior (2003) as ações multidisciplinares que visam uma atenção integral na
saúde só serão efetivas se a equipe adaptar alguns valores nas relações entre os seus
membros, com especial destaque para:

 Equidade - lutar por igualdade e justiça mediante a eliminação das diferenças desnecessárias
e evitáveis;
 Excelência - chegar ao mais alto padrão de qualidade;
 Solidariedade - promover os interesses e responsabilidades comuns e os esforços coletivos
para alcançar as metas comuns;
 Respeito - acolher a dignidade e a diversidade de indivíduos, grupos e necessidades,
preservando as especificidades de cada um;
 Integridade - garantir um desempenho compartilhado, ético e confiável.
Riscos, problemas e dificuldades

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Apesar dos benefícios apontados, algumas dificuldades e problemas têm sido


identificadas no seio de equipes multiprofissionais, nomeadamente:

 Intensa divisão social e técnica do trabalho na área da saúde;


 Processo de alta especialização e compartimentação do saber na formação académica dos
profissionais;
 A crença de que competência de cada profissional isoladamente será suficiente para a
complexidade do atendimento das necessidades de saúde do doente e da comunidade;
 Visão reducionista e fragmentada do ser humano;
 Ausência de comunicação entre os elementos integrantes da equipa;
 Alta rotatividade dos profissionais de saúde;
 Falta de supervisão, acompanhamento e formação;
 Hierarquia entre profissões e competição no mercado de trabalho.

Segundo Pinho (2006), na maioria das equipes multidisciplinares na área da saúde,


não se configuram apenas trabalhos tecnicamente diferentes, mas também desiguais quanto à
sua valorização social. As diferenças técnicas dizem respeito às especializações dos saberes
e das intervenções, entre as variadas áreas profissionais. As desigualdades referem-se à
existência de valores e normas sociais, hierarquizando e disciplinando as diferenças técnicas
entre as profissões.
Araújo e Rocha (2007) referem que, no seio destas equipes, são frequentes relações
de poder hierarquizado, estabelecidas entre profissionais, fortalecendo a situação de status
de algumas profissões sobre outras e garantindo posições de liderança na equipa. Impera,
pois, redefinir o quotidiano, assim com responsabilidades e competências dos elementos
integrantes na equipa de saúde.
Por outro lado, devido à variedade de competências e backgrounds profissionais, a
diversidade de pontos de vista e diferenças de opinião são também inevitáveis podendo
dificultar a compreensão mútua e a possibilidade de uma tarefa uniforme, tanto em nível do
conhecimento em si, como da própria tarefa.
É comum ocorrerem conflitos em equipes compostas por profissionais com distintas
funções, sendo que o potencial conflito se torna aumentado caso não haja compreensão das
174
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capacidades dos membros, se o profissional visualizar a tarefa como invasão de terreno dos
outros profissionais, se assumir um comportamento defensivo em prol das prerrogativas
profissionais e se acreditar na falha de utilização plena das qualificações dos outros
membros (CHIATTONE, 2004).
É importante reconhecer que o conflito é necessário e desejável, a fim de
proporcionar o crescimento e desenvolvimento da equipa, desde que sejam respeitados os
valores anteriormente descritos. Na verdade, um certo grau de conflito encoraja a inovação e
a solução de problemas de forma criativa e o êxito obtido na confrontação e resolução das
diferenças, promovendo nestes casos o aumento da confiança e compreensão entre os
membros da equipe (Pinho, 2006).

Soluções integradoras nas equipas multidisciplinares


Pinho (2006) sugere algumas práticas que devem prevalecer nas equipes para
minimizar os problemas e dificuldades referidas:

 Clarificar a percepção de papéis e expetativas;


 Estabelecimento de metas;
 Organização da liderança;
 Processo de grupo,
 Comunicação;
 Capacidade de adaptação à mudança e a situações complexas;
 Respeito pelo sistema de valores e normas;
 Auto-desenvolvimento;
 Promover feedback sobre o funcionamento da equipe;
 Exame regular do trabalho.

Além do campo da responsabilidade e do saber específico de cada profissão, há um


campo de competência e responsabilidade partilhado e, como tal, é necessário desenvolver
práticas que contribuam para a qualidade do trabalho quotidiano, para a troca de
conhecimentos entre os membros da equipa e entre estes e os doentes, na atenção individual
e coletiva (VASCONCELOS, GILLO E SOARES, 2009). Para que esta mudança ocorra,

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um dos pontos fundamentais é a comunicação clara e eficiente. Os membros da equipe


devem preservar as suas funções especializadas mantendo uma linha contínua de
comunicação que premeie uma ação de interações e responsabilidades.
A compreensão e a definição clara dos papéis profissionais associados à determinada
tarefa são indispensáveis nas instituições de saúde. Principalmente porque a indefinição ou a
ambiguidade relativa ao papel profissional pode gerar conflitos na equipe, ao acumularem-se
expetativas inadequadas ou mal delimitadas entre os seus membros (CHIATTONE, 2004).
Para além da noção de papéis, a equipe deve funcionar de maneira uniforme e
colaboradora, respeitando as normas e valores que devem prevalecer entre os vários
profissionais. Neste contexto, salienta-se que algumas caraterísticas pessoais dos
profissionais parecem favorecer este tipo de funcionamento. As atitudes diante do trabalho,
delineadas pela disposição de partilhar o seu saber, a flexibilidade, a vontade de aprender e a
disposição para aceitar as decisões em conjunto, são fundamentais. Devem estar presentes,
além disso, o respeito e a confiança nos colegas, bem como qualidades pessoais de cada
componente (autoconfiança, alto grau de capacidade de comunicação, competência e
respeito profissional).
Neste contexto, Pinho (2006) refere que a construção de uma equipe multidisciplinar
sólida requer um planeamento cuidadoso, compromisso e investimento constante, tendo
como premissa os seguintes pressupostos:

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 Que os membros da equipa tenham uma compreensão partilhada de regras, normas e valores
dentro da equipe;
 Que as funções dos diferentes profissionais ocorram de maneira independente, igualitária e
cooperativa;
 Que os efeitos da tomada de decisão cooperativa constituam um benefício para o doente, em
particular, e para a saúde em geral.
O mesmo autor cita as principais caraterísticas que uma equipe multidisciplinar deve
integrar para ter sucesso:
 Objetivos comuns;
 Clara definição de papéis;
 Respeito;
 Comunicação;
 Envolvimento;
 Competências e habilidades;
 Aptidão para funcionar como uma unidade e não como um grupo de indivíduos.

Por outro lado, uma equipe que se denomina multidisciplinar deve promover a sua
formação contínua, através do estudo e da pesquisa. Seminários de cunho científico, grupos
de estudo e de discussão de casos específicos devem ser realizados periodicamente, no
sentido de gerar conhecimento original, disseminar ideias, discutir temas relevantes,
compartilhar conhecimento, contribuir para a formação de recursos humanos em áreas
prioritárias e interdisciplinares, e viabilizar a obtenção de recursos externos, aproveitando a
existência de outros grupos já estruturados e as relações com organismos de pesquisa, ou
mesmo da iniciativa privada (JÚNIOR, 2003).
Em suma, pretende-se que nas práticas multidisciplinares profissionais haja uma
interação participativa entre os vários elementos que constituem a equipe, de forma a
promover mudanças estruturais, reciprocidade e enriquecimento mútuo (VASCONCELOS,
2002). No que refere à área da saúde, o principal objetivo passa por encontrar métodos
adequados que propiciem uma prática integradora, cujo enfoque abarque a totalidade dos
aspetos inter-relacionados à saúde e à doença, rumo à excelência do cuidar.

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7.2 PLANO TERAPÊUTICO

De acordo com a cartilha do Ministério da Saúde (2007) O Projeto Terapêutico


Singular é um conjunto de propostas de condutas terapêuticas articuladas, para um sujeito
individual ou coletivo, resultado da discussão coletiva de uma equipe interdisciplinar, com
apoio matricial se necessário. Geralmente é dedicado a situações mais complexas. No fundo
é uma variação da discussão de “caso clínico”.
Foi bastante desenvolvido em espaços de atenção à saúde mental como forma de
propiciar uma atuação integrada da equipe valorizando outros aspectos, além do diagnóstico
psiquiátrico e da medicação, no tratamento dos usuários. Portanto, é uma reunião de toda a
equipe em que todas as opiniões são importantes para ajudar a entender o Sujeito com
alguma demanda de cuidado em saúde e, consequentemente, para definição de propostas de
ações.

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O PTS contém quatro momentos:


1) O diagnóstico: que deverá conter uma avaliação orgânica, psicológica e social, que
possibilite uma conclusão a respeito dos riscos e da vulnerabilidade do usuário. Deve tentar
captar como o Sujeito singular se produz diante de forças como as doenças, os desejos e os
interesses, assim como também o trabalho, a cultura, a família e a rede social. Ou seja, tentar
entender o que o Sujeito faz de tudo que fizeram dele.
2) Definição de metas: uma vez que a equipe fez os diagnósticos, ela faz propostas de curto,
médio e longo prazo, que serão negociadas com o Sujeito doente pelo membro da equipe
que tiver um vínculo melhor.
3) Divisão de responsabilidades: é importante definir as tarefas de cada um com clareza.
4) Reavaliação: momento em que se discutirá a evolução e se farão as devidas correções de
rumo.

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O plano terapêutico tem como sentido de propiciar ao paciente a retomada da voz e


do poder de decisão sobre as questões que lhe concernem, levando em conta a dimensão
subjetiva em que se manifestam suas queixas e seus sintomas.
Essa possibilidade indica a construção de laços sociais, mas isto não significa adaptar
ou adequar o paciente aos padrões de sociabilidade vigente (casamento, emprego, etc.); nem
obrigá-lo a tornar-se uma pessoa “sociável” no sentido habitual que damos a esta palavra.
Significa buscar, com o sujeito, um lugar possível para ele nas redes sociais de convívio e de
trocas, sem abandono ou exclusão.
Para tanto é essencial a busca do consentimento do paciente. É necessário procurar
conhecer quais os projetos e desejos do usuário. Os desejos aglutinam uma enorme
quantidade de energia vital e podem ser extremamente terapêuticos, ou não. Só não podem
ser ignorados. Vale destacar que conhecer as singularidades do Sujeito, perguntando sobre
os medos, as raivas, as manias, o temperamento, seu sono e sonhos. São perguntas que
ajudam a entender a dinâmica do Sujeito e suas características. Elas têm importância
terapêutica, pois possibilitam a associação de aspectos muito singulares da vida com o
projeto terapêutico.
É importante o vínculo dos membros da equipe com o usuário e a família. Também é
preciso escutar e acolher a família, considerando a sua importância para adesão ao
tratamento, convocá-la quando necessário, e envolvê-la no projeto terapêutico. Cada
membro da equipe, a partir dos vínculos que construiu, trará para a reunião aspectos
diferentes e poderá também receber tarefas diferentes, de acordo com a intensidade e a
qualidade desse vínculo.
Muitas informações essenciais surgem no decorrer do seguimento e a partir do (s)
vínculo(s) com o usuário. A história, em geral, vai se construindo aos poucos, embora,
obviamente, não se possa falar de regras fixas para um processo que é relacional e
complexo. O que evidencia que o Plano é algo que pode sofrer alteração conforme o seu
desenvolvimento, por isso a necessidade de ser algo dinâmico.
O PTS pode ser importante como ferramenta gerencial, uma vez em que constitui um
espaço coletivo em que se pode falar do sofrimento dos trabalhadores em lidar com
determinada situação. A presunção de “não envolvimento” compromete as ações de cuidado

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e adoece trabalhadores de saúde e usuários, porque, como se sabe, é um mecanismo de


negação simples, que tem eficiência precária. O melhor é aprender a lidar com o sofrimento
inerente ao trabalho em saúde de forma solidária na equipe (ou seja, criando condições para
que se possa falar dele quando ocorrer).

7.3 ACOLHIMENTO

De acordo com o portal do Governo Federal34 o acolhimento é uma diretriz da


Política Nacional de Humanização (PNH), que não tem local nem hora certa para acontecer,
nem um profissional específico para fazê-lo: faz parte de todos os encontros do serviço de
saúde. O acolhimento é uma postura ética que implica na escuta do usuário em suas queixas,
no reconhecimento do seu protagonismo no processo de saúde e adoecimento, e na
responsabilização pela resolução, com ativação de redes de compartilhamento de saberes.
Acolher é um compromisso de resposta às necessidades dos cidadãos que procuram os
serviços de saúde.
A classificação de risco é um dispositivo da PNH, uma ferramenta de organização da
"fila de espera" no serviço de saúde, para que aqueles usuários que precisam mais sejam
atendidos com prioridade, e não por ordem de chegada.
Por isso, conforme também apontado pela Cartilha “Acolhimento com avaliação de
risco” (BRASIL, 2004) o acolhimento não é um espaço ou um local, mas uma postura ética,
não pressupõe hora ou profissional específico para fazê-lo, implica compartilhamento de
saberes, necessidades, possibilidades, angústias e invenções. Desse modo é que o
diferenciamos de triagem, pois ele não se constitui como uma etapa do processo, mas como
ação que deve ocorrer em todos os locais e momentos do serviço de saúde.
Colocar em ação o acolhimento como diretriz operacional requer uma nova atitude de
mudança no fazer em saúde e implica:
 protagonismo dos sujeitos envolvidos no processo de produção de saúde;

34
Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/dicas/167acolhimento.html

181
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 uma reorganização do serviço de saúde a partir da reflexão e problematização dos processos


de trabalho, de modo a possibilitar a intervenção de toda a equipe multiprofissional
encarregada da escuta e resolução dos problemas do usuário;
 elaboração de projeto terapêutico individual e coletivo com horizontalização por linhas de
cuidado;
 mudanças estruturais na forma de gestão do serviço de saúde, ampliando os espaços
democráticos de discussão/decisão, de escuta, trocas e decisões coletivas. A equipe neste
processo pode, também, garantir acolhimento para seus profissionais e às dificuldades de
seus componentes na acolhida à demanda da população;
 uma postura de escuta e compromisso em dar respostas às necessidades de saúde trazidas
pelo usuário, que inclua sua cultura, saberes e capacidade de avaliar riscos;
 construir coletivamente propostas com a equipe local e com a rede de serviços e gerências
centrais e distritais.
Uma postura acolhedora implica em estar atento e poroso à diversidade cultural,
racial e étnica. O profissional deve escutar a queixa, os medos e as expectativas; identificar
riscos e vulnerabilidade, acolhendo também a avaliação do próprio usuário; e se
responsabilizar para dar uma resposta pactuada ao problema, conjugando as necessidades
imediatas dos usuários com o cardápio de ofertas do serviço, e produzindo um
encaminhamento responsável e resolutivo à demanda não resolvida.

7.4 VISITA DOMICILIAR

A visita domiciliar é uma prática antiga na área de saúde, e atualmente, está sendo
resgatada em função das novas políticas públicas que incentivam maior mobilidade do
profissional. Torna-se então um dos principais dispositivos utilizados para acompanhar a
rede social do usuário, pois a partir dela é possível observar a realidade do indivíduo e de
sua família.35

35
Disponível em: http://www.periodicos.uem.br/ojs/index.php/CiencCuidSaude/article/viewFile/15416/pdf

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É durante a visita domiciliar que o profissional pode se inserir no contexto familiar e


prestar assistência a todos os envolvidos, não considerando somente os problemas do
usuário, mas também os fatores sociais. Constitui-se como um momento no qual se
estabelece vínculo através do acolhimento e da escuta qualificada, movimentando as
relações. Trata-se de conhecer o cotidiano da família in loco, o enfrentamento vivido pelo
sofrimento do familiar e sua visão de mundo.
Entende-se que não é somente a pessoa com transtorno psíquico que necessita de
cuidados, mas também sua família, que muitas vezes não está apta a prestar a assistência ao
seu integrante e necessita do CAPS para lhe dar suporte, pois a ideia de cuidado remete uma
ação abrangente, que exige o envolvimento da família e sociedade na participação da criação
de uma estratégia terapêutica para auxiliar na reabilitação do indivíduo.

7.5 GRUPOS E OFICINAS TERAPÊUTICAS

As oficinas terapêuticas são atividades de encontro de vidas entre pessoas em


sofrimento psíquico, promovendo o exercício da cidadania e expressão de liberdade e
convivência dos diferentes através preferencialmente da inclusão pela arte. As oficinas
terapêuticas são dispositivos catalisadores da produção psíquica do indivíduo, possibilitando
seu trânsito na sociedade em suas diferentes instâncias - família, trabalho, cultura etc. com o
objetivo de buscar a autonomia do indivíduo, possibilitando sua relação com as instituições
sociais.
O trabalho terapêutico através de oficinas pode ser dividido em: oficinas de caráter
expressivo (produção artística); geração de renda (aprendizado de atividades que podem
servir como fonte de renda); alfabetização. Independentemente de seu caráter, a oficina
terapêutica deve produzir uma conexão distinta da habitual do indivíduo com a sociedade e
consigo mesmo; do contrário, não permite a produção de novos modos de subjetivação que
possibilitem sua autonomia.
A Oficina terapêutica deve ser compreendida como novas formas de sociabilidade,
de acesso e exercício de direitos: lugares de diálogos e de produção de valores que
confrontem os preconceitos de incapacidade, de invalidação e de anulação da experiência da

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loucura. Torna-se um recurso nos processos de singularização, de produção de emancipação


e de construção de cidadania na vida social dos portadores de sofrimento mental.

MÓDULO V
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REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

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8. REABILITAÇÃO PSICOSSOCIAL

Reabilitação psicossocial: problematizando um conceito


O usuário é, na grande maioria das vezes, alguém considerado como portador de um
déficit e/ou de uma falta, os quais devem ser tratados no sentido de serem extinguidos ou
minimizados. E dependendo do contexto em que é usada, a expressão “reabilitação
psicossocial” se encontra muitas vezes impregnada pelo ideal de uma integridade a restituir
ou de uma adaptação a promover neste usuário. Tal perspectiva está numa vertente muito
distinta daquela que sustentaremos aqui.
O psiquiatra italiano Benedetto Saraceno propõe chamar de reabilitação as estratégias
utilizadas em conjunto e direcionadas para o aumento das oportunidades de troca de recursos
e afetos, coloca como decisiva a perspectiva da negociação. A reabilitação não é aqui
entendida como uma etapa posterior ao tratamento, mas, sim, parte integrante do mesmo e
realizada em conjunto com a assistência.
Dentro dessa perspectiva, o indivíduo em reabilitação é considerado como alguém que
possui uma potência a ser convocada, seja qual for a sua condição ou a gravidade do seu
quadro, porque se trata, não de conduzi-lo a uma determinada meta estabelecida, mas de
convidá-lo a exercer plenamente aquilo que ele for capaz de exercer no momento. Coloca-se
o paciente em condição ativa e não passiva – o que o fortalece ainda mais durante o
processo. Quer se trate de pessoas em sofrimento mental, com deficiência (s), com doenças
crônicas, entre outros, por maiores que sejam as suas limitações, trata-se de considerar como
prevalente a dimensão da vida e não meramente a da sobrevivência; das trocas e não da
passividade; das possibilidades e não das faltas. Estamos, pois, diante de uma concepção na
qual as práticas da reabilitação se ordenam fundamentalmente no horizonte da cidadania.
É preciso pensar a questão da reabilitação como um direito de cidadania, ou seja,
como um habitar efetivo da cidade. Habitar a cidade não se confunde com simplesmente
“estar” na cidade, pois implica no envolvimento ativo do usuário com as múltiplas redes de
negociação e de troca às quais se refere Saraceno.
8.1 SERVIÇOS RESIDENCIAIS TERAPÊUTICOS36

36
Disponível em: http://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/120.pdf

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O que é o serviço residencial terapêutico?


O Serviço Residencial Terapêutico (SRT) – ou residência terapêutica ou
simplesmente "moradia" – são casas localizadas no espaço urbano, constituídas
para responder às necessidades de moradia de pessoas portadoras de transtornos mentais
graves, institucionalizadas ou não.
O número de usuários pode variar desde 1 indivíduo até um pequeno grupo de no
máximo 8 pessoas, que deverão contar sempre com suporte profissional sensível às
demandas e necessidades de cada um.
O suporte de caráter interdisciplinar (seja o CAPS de referência, seja uma
equipe da atenção básica, sejam outros profissionais) deverá considerar a singularidade de
cada um dos moradores, e não apenas projetos e ações baseadas no coletivo de moradores. O
acompanhamento a um morador deve prosseguir, mesmo que ele mude de endereço ou
eventualmente seja hospitalizado.
O processo de reabilitação psicossocial deve buscar de modo especial a
inserção do usuário na rede de serviços, organizações e relações sociais da comunidade. Ou
seja, a inserção em um SRT é o início de longo processo de reabilitação que deverá buscar a
progressiva inclusão social do morador.

Origens e perspectivas dos SRTs no Brasil


Logo no seu início, as ações de desinstitucionalização no Brasil depararam-se com
uma questão: o que fazer com pessoas que poderiam sair dos hospitais psiquiátricos, mas
que não contavam com suporte familiar ou de qualquer outra natureza.
Por esta razão, a II Conferência Nacional de Saúde Mental, em dezembro de 1992,
ressaltou a importância estratégica da implementação dos então chamados "lares abrigados"
para a reestruturação da assistência em saúde mental no País.
Também no início dos anos 90, experiências de sucesso nas cidades de Campinas
(SP), Ribeirão Preto (SP), Santos (SP), Rio de Janeiro (RJ) e Porto Alegre (RS)
demonstraram a efetividade da iniciativa na reinserção dos pacientes na comunidade. Estas

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experiências geraram subsídios para a elaboração da Portaria n.º 106/2000, do Ministério da


Saúde, que introduz os SRTs no âmbito do SUS.
Por ser recente, a implantação dos SRTs vem sendo discutida em vários âmbitos, de
modo a assegurar que esta alternativa seja a mais adequada possível para auxiliar o morador
em seu processo – às vezes difícil – de reintegração à comunidade. É preciso ter sempre em
mente que a questão central é a moradia, o morar, o viver na cidade. Assim, tais residências
não são precisamente serviços de saúde, mas espaços de morar, de viver, articulados à rede
de atenção psicossocial de cada município.
Atualmente, existem 256 SRTs em quatorze estados e 45 municípios do País, onde
moram 1.400 pessoas. Estimativas recentes da Coordenação-Geral de Saúde Mental do
Ministério da Saúde apontam a existência de aproximadamente 12.000 pacientes internados
que poderiam ser beneficiários dos SRTs. Tais dados evidenciam a necessidade de
significativa expansão do número de residências, de modo a reduzir a segregação e aumentar
a reinserção social dos pacientes.
A implantação de uma residência terapêutica exige pacto entre gestor, comunidade,
usuários, profissionais de saúde, vizinhança, rede social de apoio, e cuidadoso e delicado
trabalho clínico com os futuros moradores.

Quem pode se beneficiar?

 Portadores de transtornos mentais, egressos de internação psiquiátrica em hospitais


cadastrados no SIH/SUS, que permanecem no hospital por falta de alternativas que
viabilizem sua reinserção no espaço comunitário.
 Egressos de internação em Hospital de Custódia e Tratamento Psiquiátrico, em
conformidade com decisão judicial (Juízo de Execução Penal).
 Pessoas em acompanhamento nos Centros de Atenção Psicossocial (CAPS), para as quais o
problema da moradia é identificado, por sua equipe de referência,
 como especialmente estratégico no seu projeto terapêutico. Aqui se encontram aquelas
localidades que, a despeito de não possuírem hospitais psiquiátricos, frequentemente se

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defrontam com questões ligadas à falta de espaços residenciais para alguns usuários de
serviços de saúde mental.
 Moradores de rua com transtornos mentais severos, quando inseridos em projetos
terapêuticos especiais acompanhados nos CAPS.

Tipos de SRTs existentes


SRT I – O suporte focaliza-se na inserção dos moradores na rede social existente (trabalho,
lazer, educação, etc.). O acompanhamento na residência é realizado conforme recomendado
nos programas terapêuticos individualizados dos moradores e também pelos Agentes
Comunitários de Saúde do PSF, quando houver. Devem ser desenvolvidas, junto aos
moradores, estratégias para obtenção de moradias definitivas na comunidade. Este é o tipo
mais comum de residências, onde é necessário apenas a ajuda de um cuidador (pessoa que
recebe capacitação para este tipo de apoio aos moradores: trabalhador do CAPS, do PSF, de
alguma instituição que faça esse trabalho do cuidado específico ou até de SRTs que já
pagam um trabalhador doméstico de carteira assinada com recursos do De Volta Para Casa).
SRT II – Em geral, cuidamos de nossos velhos, doentes e/ou dependentes físicos, inclusive
com ajuda de profissionais: o SRT II é a casa dos cuidados substitutivos familiares desta
população institucionalizada, muitas vezes, por uma vida inteira. O suporte focaliza-se na
reapropriação do espaço residencial como moradia e na inserção dos moradores na rede
social existente. Constituída para clientela carente de cuidados intensivos, com
monitoramento técnico diário e pessoal auxiliar permanente na residência, este tipo de SRT
pode diferenciar-se em relação ao número de moradores e ao financiamento, que deve ser
compatível com recursos humanos presentes 24h/dia.

Equipes para acompanhamento e parcerias


Os SRTs devem ser acompanhados pelos CAPS ou ambulatórios especializados em
saúde mental, ou, ainda, equipe de saúde da família (com apoio matricial em saúde mental).
A equipe técnica deve ser compatível com a necessidade dos moradores e segundo se
aproximem mais de um dos dois tipos descritos no tópico anterior. O cuidador tem uma
tarefa importante na moradia.

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E, apesar de serem de natureza pública, os SRTs podem estabelecer convênios com


entidades filantrópicas, associações e ONGs para a implementação e acompanhamento
destes. As atribuições e os papéis dos serviços SUS e entidades parceiras devem ser
estabelecidos explicitamente no convênio.

8.2 CENTROS DE CONVIVÊNCIA: CRIAÇÃO E ARTE

Centro de Convivência é unidade pública, articulado às Redes de Atenção à Saúde,


em especial à Rede de Atenção Psicossocial, onde são oferecidos à população em geral
espaços de sociabilidade, produção e intervenção na cultura e na cidade. Alguns municípios
dispõem desse tipo de serviço de grande importância na reabilitação psicossocial em geral e
na prática das oficinas terapêuticas em particular.
Diferentemente do CAPS, em que o usuário em crise necessita de um atendimento
especializado, os Centros de Convivência não constituem um espaço de atendimento
psicológico e psiquiátrico. As pessoas que trabalham ali não são profissionais de Saúde, elas
são, na verdade, artistas, artesãos, realizadoras de oficinas.
Também não são serviços de permanência/dia, pois o usuário vai até lá em horários
determinados para participar das atividades que escolher e, muito embora sua clientela seja
composta também por pessoas em sofrimento mental grave, os Centros só as recebem num
momento posterior ao da crise mais aguda – quando se torna necessário fazer avançar os
passos já iniciados no CAPS ou na unidade básica, ou seja, o usuário continua sendo
atendido pela equipe de Saúde Mental de um destes serviços, mas passa a frequentar
também o Centro de Convivência.
Em municípios menores, os dispositivos denominados “oficinas terapêuticas” muitas
vezes cumprem o papel de um Centro de Convivência, acopladas a um CAPS ou a um
ambulatório de Saúde Mental. Esta pode ser uma boa alternativa, desde que o trabalho
desenvolvido não se faça apenas para “preencher o tempo” dos usuários, limitando-se a
oferecer atividades repetitivas e pobres.
Em municípios maiores, os Centros de Convivência devem preferencialmente possuir
espaço físico e equipes próprias, sendo a proporção de um para cada um ou dois CAPS.

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De uma forma ou de outra, na rede de serviços substitutivos, os Centros e


equipamentos afins prosseguem na retomada dos vínculos com as histórias subjetivas e com
o mundo, seja pela invenção cotidiana de práticas que se ampliam, seja pelos eventos e pelos
acontecimentos que promovem.
Esses dispositivos não são simplesmente locais “para fazer oficinas”, mas locais que
fazem também oficinas, dentre outras atividades – sempre com a finalidade de propiciar
produções, convívios, encontros, trocas. Embora não sejam dispositivos clínicos, seus
efeitos se fazem notar na clínica de cada sujeito, ao promoverem mudanças,
reposicionamentos, subjetivações.
As atividades desenvolvidas são várias: assembleias, passeios, festas, oficinas,
bazares, jogos, idas ao cinema. Constituem motores de produção de sujeitos, de sentido e de
vida – na medida em que a escolha entre tecer ou dançar, modelar ou cozinhar provoca
descobertas e desencadeia projetos.
Nos Centros de Convivência a arte é o elemento orientador dos processos e do
trabalho: possibilitando o desenvolvimento de novas formas de linguagem, esta orientação
facilita outros modos de perceber e de estar no mundo, e permite o compartilhamento de
novas experiências.

8.3 OFICINA DE GERAÇÃO DE RENDA

As experiências que buscam a conquista do trabalho para os portadores e sofrimento


mental têm suas questões próprias, embora não sejam isoladas das demais, envolves
diferentes segmentos sociais, na perspectiva da chamada economia solidária. Neste sentido
devemos salientar que um grupo e ou uma Associação de Produção Solidária é um processo
a ser construído coletivamente, enquanto um empreendimento dos usuários – que se deve
apoiar e incentivar o máximo possível, ao lado deles, mas que não se pode fazer por eles.
As experiências de geração de renda sinalizam que algumas áreas costumam se
desenvolver mais do que outras: por exemplo, a lapidação mais do que a marcenaria, a
culinária mais do que a costura, e assim por diante. Estas áreas acabam por obter um

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investimento maior na constituição dos Grupos de Produção: por exemplo, na aquisição de


aparelhagens e de equipamentos necessários à atividade, de espaço físico próprio, etc.
A reunião dos diversos Grupos de Produção para constituir uma Associação de
Produção Solidária é um processo que deve transcorrer sem pressa, demorando o tempo que
se fizer necessário para envolver e responsabilizar todos os participantes, e definir com
clareza os objetivos do empreendimento.

MÓDULO VI

A ESTRATÉGIA DO PROGRAMA SAÚDE DA FAMÍLIA NA ATENÇÃO A SAÚDE


MENTAL.

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9. ATENÇÃO BÁSICA E SAÚDE MENTAL: ALGUMAS REFLEXÕES37

Cuidado em saúde mental: como é o seu trabalho na Atenção Básica


A Atenção Básica tem como um de seus princípios possibilitar o primeiro acesso das
pessoas ao sistema de Saúde, inclusive daquelas que demandam um cuidado em saúde
mental. Neste ponto de atenção, as ações são desenvolvidas em um território
geograficamente conhecido, possibilitando aos profissionais de Saúde uma proximidade para
conhecer a história de vida das pessoas e de seus vínculos com a comunidade/território onde
moram, bem como com outros elementos dos seus contextos de vida. Podemos dizer que o
cuidado em saúde mental na Atenção Básica é bastante estratégico pela facilidade de acesso
das equipes aos usuários e vice-versa. Por estas características, é comum que os
profissionais de Saúde se encontrem a todo o momento com pacientes em situação de
sofrimento psíquico. No entanto, apesar de sua importância, a realização de práticas em
saúde mental na Atenção Básica suscita muitas dúvidas, curiosidades e receios nos
profissionais de Saúde.

Política Nacional de Saúde Mental


A atual política de saúde mental brasileira é resultado da mobilização de usuários,
familiares e trabalhadores da Saúde iniciada na década de 1980 com o objetivo de mudar a
realidade dos manicômios onde viviam mais de 100 mil pessoas com transtornos mentais. O
movimento foi impulsionado pela importância que o tema dos direitos humanos adquiriu no
combate à ditadura militar e alimentou-se das experiências exitosas de países europeus na
substituição de um modelo de saúde mental baseado no hospital psiquiátrico por um modelo
de serviços comunitários com forte inserção territorial. Nas últimas décadas, esse processo
de mudança se expressa especialmente por meio do Movimento Social da Luta
Antimanicomial e de um projeto coletivamente produzido de mudança do modelo de atenção
e de gestão do cuidado: a Reforma Psiquiátrica.
Ainda na década de 1980, experiências municipais iniciaram a desinstitucionalização
de moradores de manicômios criando serviços de atenção psicossocial para realizar a

37
Disponível em: http://189.28.128.100/dab/docs/portaldab/publicacoes/caderno_34.pdf

194
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(re)inserção de usuários em seus territórios existenciais. Foram fechados hospitais


psiquiátricos à medida que se expandiam serviços diversificados de cuidado tanto
longitudinal quanto intensivo para os períodos de crise. A atenção aos portadores de
transtornos mentais passa a ter como objetivo o pleno exercício de sua cidadania, e não
somente o controle de sua sintomatologia. Isso implica em organizar serviços abertos, com a
participação ativa dos usuários e formando redes com outras políticas públicas (educação,
moradia, trabalho, cultura etc). O desafio que se coloca é, ao invés de criar circuitos
paralelos e protegidos de vida para seus usuários, habitar os circuitos de trocas nos
territórios da sociedade. Isso leva o desafio da saúde mental para além do SUS, já que para
se realizar ele implica na abertura da sociedade para a sua própria diversidade.
Normativas federais passam a estimular e regular a nascente rede de serviços de base
territorial. Em 2001, após mais de dez anos de tramitação no Congresso Nacional, é
sancionada a Lei nº 10.216 que afirma os direitos das pessoas portadoras de transtornos
mentais e redireciona o modelo assistencial em saúde mental. Os princípios do movimento
iniciado na década de 1980 tornam-se uma política de estado. Na década de 2000, com
financiamento e regulação tripartite, amplia-se fortemente a rede de atenção psicossocial
(Raps), que passa a integrar, a partir do Decreto Presidencial nº 7508/2011, o conjunto das
redes indispensáveis na constituição das regiões de saúde.
Entre os equipamentos substitutivos ao modelo manicomial podemos citar os Centros
de Atenção Psicossocial (Caps), os Serviços de Atenção à Saúde, Departamento de Atenção
Básica, Residenciais Terapêuticos (SRT), os Centros de Convivência (Cecos), as
Enfermarias de Saúde Mental em hospitais gerais, as oficinas de geração de renda, entre
outros.
As Unidades Básicas de Saúde cumprem também uma importante função na
composição dessa rede comunitária. Nascidas com a redemocratização, a reforma sanitária e
a reforma psiquiátrica são parte de um Brasil que escolheu garantir a todos os seus cidadãos
o direito à saúde. Não é por acaso que, tanto no campo da Atenção Básica quanto da Saúde
Mental, saúde e cidadania são indissociáveis.

Intervenção em saúde mental

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Entendemos que as práticas em saúde mental na Atenção Básica podem e devem ser
realizadas por todos os profissionais de Saúde. O que unifica o objetivo dos profissionais
para o cuidado em saúde mental devem ser o entendimento do território e a relação de
vínculo da equipe de Saúde com os usuários, mais do que a escolha entre uma das diferentes
compreensões sobre a saúde mental que uma equipe venha a se identificar.
Mesmo os profissionais especialistas em saúde mental elaboram suas intervenções a
partir das vivências nos territórios. Ou seja, o cuidado em saúde mental não é algo de outro
mundo ou para além do trabalho cotidiano na Atenção Básica. Pelo contrário, as
intervenções são concebidas na realidade do dia a dia do território, com as singularidades
dos pacientes e de suas comunidades. Portanto, para uma maior aproximação do tema e do
entendimento sobre quais intervenções podem se configurar como de saúde mental, é
necessário refletir sobre o que já se realiza cotidianamente e o que o território tem a oferecer
como recurso aos profissionais de Saúde para contribuir no manejo dessas questões.
Algumas ações de saúde mental são realizadas sem mesmo que os profissionais as percebam
em sua prática.

Ações terapêuticas comuns aos profissionais da Atenção Básica


Abaixo, apresentamos algumas ações que podem ser realizadas por todos os
profissionais da Atenção Básica, nos mais diversos dispositivos de cuidado:

 Proporcionar ao usuário um momento para pensar/refletir.


 Exercer boa comunicação.
 Exercitar a habilidade da empatia.
 Lembrar-se de escutar o que o usuário precisa dizer.
 Acolher o usuário e suas queixas emocionais como legítimas.
 Oferecer suporte na medida certa; uma medida que não torne o usuário dependente e nem
gere no profissional uma sobrecarga.
 Reconhecer os modelos de entendimento do usuário.

A potência do acolhimento

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O acolhimento realizado nas unidades de Saúde é um dispositivo para a formação de


vínculo e a prática de cuidado entre o profissional e o usuário. Em uma primeira conversa,
por meio do acolhimento, a equipe da unidade de Saúde já pode oferecer um espaço de
escuta a usuários e a famílias, de modo que eles se sintam seguros e tranquilos para
expressar suas aflições, dúvidas e angústias, sabendo então que a UBS está disponível para
acolher, acompanhar e se o caso exigir, cuidar de forma compartilhada com outros serviços.
 Estes encontros com os usuários oferecem ao profissional a possibilidade de conhecer as
demandas de saúde da população de seu território. Com este conhecimento, a equipe de
Saúde tem como criar recursos coletivos e individuais de cuidado avaliados como os mais
necessários ao acompanhamento e ao suporte de seus usuários e de sua comunidade. No
campo da Saúde Mental, temos como principais dispositivos comunitários os grupos
terapêuticos, os grupos operativos, a abordagem familiar, as redes de apoio social e/ou
pessoal do indivíduo, os grupos de convivência, os grupos de artesanato ou de geração de
renda, entre outros. Estes dispositivos também podem ser úteis na abordagem de problemas
de saúde de outros campos e, neste caderno, alguns capítulos serão dedicados a abordar a
especificidade de cada um destes recursos no campo da Saúde Mental, com olhar específico
para a Atenção Básica.

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MÓDULO VII
AS AÇÕES DA EQUIPE DE SAÚDE FRENTE AO USUÁRIO COM TRANSTORNO
MENTAL
A SAÚDE MENTAL DO PROFISSIONAL DE SAÚDE

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10. RELAÇÃO DAS EQUIPES DA ATENÇÃO BÁSICA (ACS’S), ESTRATÉGIA DE


SAÚDE DA FAMÍLIA (ESF) COM AS EQUIPES DA SAÚDE MENTAL38

A relação entre os profissionais da Saúde Mental e da Atenção Básica deve ser


pautada pelo cuidado compartilhado junto ao portador de transtorno mental, que será
definido de acordo com o grau de complexidade do caso, e não pelo simples gesto de
encaminhar os usuários para os serviços de Saúde Mental. Uma grande parcela dos nossos
usuários deverá ser atendida na Rede Básica de Saúde ou utilizar recursos comunitários na
tentativa de diminuir seu sofrimento mental; isso garante, o acesso dos mesmos aos recursos
mais adequados sem burocracia, quando quem encaminha “se sente aliviado” e quem recebe
“arca com o prejuízo” do encaminhamento.
O usuário não pertence a este ou aquele serviço da Rede de Saúde Municipal. A
definição do local e dos profissionais da Saúde que irão conduzir o caso vai depender da
situação específica de cada caso em questão, respeitando os parâmetros de acessibilidade,
equidade e resolutividade. Assim, todos se tornam responsáveis: equipes da Saúde Mental e
da Atenção Básica.
Casos menos graves de transtornos mentais podem e devem ser resolvidos no
ambiente comunitário do usuário pelas equipes da Atenção Básica, vinculadas ou não à
Estratégia de Saúde da Família (ESF), para o seguinte perfil de situações:

 Queixas físicas sem explicações médicas (somatizações);


 Problemas emocionais ligados a situações do dia-a-dia (perda do emprego, morte na família
e outros);
 Problemas de relacionamento familiar;
 Situações de solidão e isolamento social;
 Situações relacionadas à violência; Abuso de bebidas alcoólicas ou drogas;
 Uso crônico de benzodiazepínicos (Diazepam e outras medicações de tarja preta);

38
Disponível em:
http://www.betim.mg.gov.br/ARQUIVOS_ANEXO/cartilha_saude_mental_atencao_basica;0724340216;2008
1009.pdf

199
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 Ansiedade e depressão leves ou moderadas;


 Quadros psicóticos estabilizados (quando o usuário tem alta do Cersam);
 Transtornos organocerebrais sem grave comprometimento do comportamento (epilepsias,
sequelas de Acidente Vascular Cerebral - AVC ou traumatismo craniano e/ou encefálico).
Nesses casos há alguns encaminhamentos possíveis:
 Consultas de acompanhamento agendadas para os médicos e enfermeiros das equipes da
Atenção Básica, “conversas terapêuticas”;
 Grupos de Atenção Psicossocial implantados nas próprias UBS's;
 Grupos de Alcoólatras Anônimos (AA) ou Narcóticos Anônimos (NA);
 Grupos de apoio à família de dependentes químicos (NARANON e ALANON);
 Grupos de caminhada; Grupos comunitários (de idosos, adolescentes, de geração de trabalho
e renda);
 Centros de Convivência da Saúde Mental;

Lembrete: a solução pode estar na sua comunidade. Participar de um grupo na


comunidade, receber visitas domiciliares regulares e promover atendimento de forma
humanizada nas UBS's, geralmente, ajudam as pessoas a darem uma solução satisfatória à
maioria dos problemas descritos acima. Procure sempre identificar recursos que a
comunidade já oferece.

Observações importantes: os usuários que apresentam como principal problema a


dependência química grave (álcool e/ou outras drogas) devem ser orientados a buscar os
grupos de apoio comunitário.

A solução pode estar na sua comunidade. Participar de um grupo na comunidade,


receber visitas domiciliares regulares e promover atendimento de forma humanizada nas
UBS's, geralmente, ajudam as pessoas a darem uma solução satisfatória à maioria dos
problemas descritos acima. Procure sempre identificar recursos que a comunidade já
oferece. Para as crianças e adolescentes, a inserção na escola e em dispositivos que
estimulem a cultura, o esporte e o lazer, são fundamentais. Todas estas ações auxiliam no

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desenvolvimento mental e emocional dos jovens, além de protegê-los do abuso do álcool,


das drogas e da criminalidade. No caso dos idosos, visitas domiciliares mais frequentes e a
participação em grupos comunitários podem ser de grande ajuda, pois as situações de
isolamento, solidão e abandono são frequentes.

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11. SAÚDE MENTAL DO PROFISSIONAL DE SAÚDE

Na cartilha para profissionais do Sistema Único de Saúde (SUS): “Atenção ao


sofrimento e ao adoecimento psíquico do trabalhador e da trabalhadora” (BRASIL, 2014)
entende-se por saúde do trabalhador um conjunto de atividades que se destina, por meio de
ações de vigilância epidemiológica e de vigilância sanitária, à promoção e à proteção da
saúde dos trabalhadores, assim como visa à recuperação e à reabilitação da saúde dos
trabalhadores submetidos aos riscos e aos agravos advindos das condições de trabalho, e
abrange diversas ações.
De uma forma geral, saúde do trabalhador e da trabalhadora pode ser entendida como
um conjunto de fatores que determinam a qualidade de vida, como as condições adequadas
de alimentação, moradia, educação, transporte, lazer e acesso aos bens e serviços essenciais
que contribuem para a saúde. Também, como direito de todo trabalhador e trabalhadora está
a garantia de trabalho e o ambiente saudável que não gere adoecimento ou morte.
O trabalho ocupa uma das posições centrais na sociedade e na vida dos indivíduos,
pois desempenha função fundamental na construção de espaços públicos coletivos de
convivência. O trabalho é o que insere as pessoas no meio social, sendo assim, o principal
responsável pela construção e constituição das relações sociais.
Na Cartilha do Ministério da Saúde foi observado que nos últimos anos, houve um
grande avanço no desenvolvimento no campo da saúde mental do trabalhador, em especial, a
partir da compreensão proposta pela Psicodinâmica do Trabalho, a qual analisa a inter-
relação entre saúde mental e trabalho, e enfatiza a centralidade do trabalho na produção da
saúde e da doença.
O sofrimento psíquico relacionado ao trabalho, nem sempre produz sintomas claros.
Durante muito tempo, o usuário-trabalhador pode apresentar apenas uma sintomatologia
inespecífica, que pode ser confundida com várias outras doenças.
Dificilmente, as pessoas que buscam um serviço de saúde irão associar,
espontaneamente, suas queixas e sintomas com o seu trabalho. Por isso, é fundamental que o
profissional de saúde sempre busque ver, se, atrás de alguns sintomas genéricos, não se
escondem dificuldades nas relações de trabalho.

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Principais manifestações apresentadas pelos trabalhadores:

 Gerais: insônia, “dor nas costas”, uso regular de bebidas alcoólicas, de maconha
(cannabis) ou de tranquilizantes.
 Físicas: astenia (debilidade generalizada), dores abdominais, dores musculares, dores
articulares, distúrbios do sono, distúrbios do apetite etc.
 Emocionais: irritabilidade aumentada, angústia, ansiedade, excitação, tristeza, choro
frequente, sentimentos de mal-estar indefinidos etc.
 Intelectuais: distúrbios de concentração, distúrbios de memória, dificuldades para
tomar iniciativas ou decisões etc.

Comportamentais: modificação dos hábitos alimentares, comportamentos violentos e


agressivos, isolamento social, dificuldades para cooperar etc.

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MÓDULO
VIII

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12. REFLEXÕES ÉTICAS

Quero?... Posso?... Devo?...39

“Jogar lixo no chão, colar na prova, oferecer dinheiro em troca de algum benefício - todos
esses são comportamentos que podem ser facilmente percebidos em nosso dia a dia, quase
como se fossem situações corriqueiras e típicas da cultura brasileira.”
Perguntamos, eu e os Filósofo Mario Sergio Cortella e Clóvis de Barros Filho
Mas de que maneira isso se reflete na formação de crianças e jovens?
A corrupção estaria mais próxima de nossa vida cotidiana do que gostaríamos de
supor?
Referimo-nos frequentemente aos políticos como profissionais antiéticos. Mas será
que nós mesmos somos realmente tão éticos assim, ao ponto de poder tranquilamente atirar
pedras nos telhados dos outros, ou temos o telhado de vidro? Primeiramente, precisamos
entender o que significa a palavra ética.

O CONCEITO

Ética é proveniente do grego “ethos” que quer dizer modo de ser, caráter. Ou seja,
para uma pessoa ser considerada ética ela deve, acima de tudo, possuir um bom caráter,
valores, princípios e ser exemplo em seu modo de ser. Tem a ver com moralidade, afinal,
uma pessoa com boa índole preza pelos bons costumes, valores e pretende “andar na linha”
sempre que possível.

ÉTICA NASCE COM O INDIVÍDUO?

Tenho plena consciência de que não é tão simples assim ser “certinho” o tempo todo,
afinal tentações nos surgem a todo o momento. Porém acredito que é possível fazer a coisa

39
Disponível em: https://www.jornaldacidadeonline.com.br/noticias/2741/quero-posso-devo

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certa se entendermos o final do processo. O que quero dizer com isso é que o caminho
tortuoso pode ser o mais fácil (e na maioria das vezes ele é), mas, quando conseguimos
atingir o sucesso através do procedimento mais longo, porém mais correto, essa conquista se
torna muito mais prazerosa e duradoura.

A FALTA DE ÉTICA

A falta de ética está nas atitudes mínimas. Para tudo tem um começo!

NINGUÉM NASCE BOM, MAL, ÉTICO OU ANTIÉTICO

Ressalto que ninguém nasce bom ou mal, ético ou antiético. Isso não é da natureza
humana. Trata-se da personalidade, ou seja, é lapidada de acordo com os ensinamentos dos
pais e parentes próximos quando criança.
Da mesma forma, um indivíduo que cresce dentro dos padrões ideais de
comportamento pode, depois de certa idade, adquirir más condutas através do que observa
no ambiente e sociedade em que está inserido. E o pior, há fatores que influenciam pessoas
propensas a exercer procedimentos considerados ruins como, por exemplo, a não punição
àqueles que andam fora da lei.

O QUE PENSAM OS FILÓSOFOS?

Segundo alguns filósofos, nossas vontades e nossos desejos poderiam ser vistos
como um barco à deriva, o qual flutuaria perdido no mar, o que sugere um caráter de
inconstância. Essa mesma inconstância tornaria a vida social impossível se nós não
tivéssemos alguns valores, princípios e regras que permitissem nossa vida em comum, pois
teríamos um verdadeiro caos. Logo, é necessário educar nossa vontade, recebendo uma
educação (formação) racional, para que dessa forma possamos escolher de forma acertada
entre o justo e o injusto, entre o certo e o errado.

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DIFERENÇAS: MORAL, IMORAL, AMORAL , VALORES E PRINCÍPIOS

Primeiramente, o que é moral? É o que está “de acordo com os bons costumes e
regras de conduta; conjunto de regras de conduta proposto por uma determinada doutrina ou
inerente a uma determinada condição.” No mesmo dicionário, moral também é classificada
como o “conjunto dos princípios da honestidade e do pudor”. Daí este termo ser tão utilizado
em âmbito social, principalmente no político!
Imoral é tudo aquilo que contraria o que foi exposto acima a respeito da moral. Quando há
falta de pudor, quando algo induz ao pecado, à indecência, há falta de moral, ou seja, há
imoralidade.
Amoral é a pessoa que não tem senso do que seja moral, ética. A questão moral para este
indivíduo é desconhecida, estranha e, portanto, não leva em consideração preceitos morais.
É o caso, por exemplo, dos índios no tempo do descobrimento ou de uma sociedade, como a
chinesa, que não vê o fato de matar meninas, a fim de controlar a natalidade, como algo
mórbido e triste.
Valores são o conjunto de características de uma determinada pessoa ou organização, que
determinam a forma como a pessoa ou organização se comportam e interagem com outros
indivíduos e com o meio ambiente.
A palavra valor pode significar merecimento, talento, reputação, coragem e valentia. Assim,
podemos afirmar que os valores humanos são valores morais que afetam a conduta das
pessoas. Esses valores morais podem também ser considerados valores sociais e éticos, e
constituem um conjunto de regras estabelecidas para uma convivência saudável dentro de
uma sociedade.
Princípio pode ser entendido como aquilo que vem antes, começo, nascedouro. No linguajar
popular é comum ser dito: fulano é uma pessoa de princípios! Este simples adjetivo dirigido
a alguém, significa que determinada pessoa possui atributos morais e éticos que pautam a
sua conduta como ser humano. Como se fossem linhas mestras, dentro das quais, alguém se
move. Já aquela pessoa qualificada como - sem princípios – significa o mesmo que sem
escrúpulos, ávida por locupletar-se a qualquer custo e por qualquer meio.

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Desta forma, não é difícil perceber que os princípios têm uma função importante, sobretudo
para a vida em sociedade. Se os princípios indicam no agir individual, determinados valores,
ligados a um comportamento ético, justo e moralmente corretos, é certo que também estão
ligados ao respeito às demais pessoas e vão ao encontro da propalada paz social.

ÉTICA NÃO É SINÔNIMO DE LEI

Ética não é sinônimo e nem está diretamente ligado à lei, apesar de os códigos e
normas estipulados no Brasil e no mundo usarem a ética como princípios básicos. O ser
humano vive em grupo e ao vivermos em grupo ou comunidade estamos sujeitos às regras,
explícitas ou implícitas. As primeiras dizem respeito às orientações escritas, determinadas e
“postas no papel”, já as segundas, são regras determinadas pelo grupo, de acordo com o
ambiente, cultura e outros fatores. No dia-a-dia, elas nos norteiam para a boa convivência
em sociedade, seja no trabalho, na sala de aula, no condomínio e até no churrasco final de
semana.
Essas regras e práticas positivas são moldadas em um código moral e são
importantes para que possamos viver em sociedade, fato que fortalece cada vez mais a
coesão dos laços que garantem a solidariedade social. Do contrário, teríamos uma situação
de caos, de luta de todos contra todos para o atendimento de nossos desejos.
1) QUERO ? ..... 2) POSSO?..... 3) DEVO?
Cada integrante de um grupo, tem seus princípios éticos que nos fazem refletir se o
que queremos, devemos ou podemos ter ou realizar.
Nesse raciocínio do quero/devo/posso, o filósofo e escritor Mário Sérgio Cortella, conceitua
ética como “um conjunto de valores e princípios que usamos para responder a três grandes
questões da vida: (1) QUERO?; (2) POSSO?; (3) DEVO?”
Nem tudo que eu quero eu posso; nem tudo que eu posso eu devo; e nem tudo que
eu devo eu quero.
Essas questões são os nossos Dilemas Éticos, ou seja, escolhas indesejáveis ou
desagradáveis relacionadas com um princípio ou uma prática moral. Passamos por isso
sempre que temos uma decisão importante a tomar.

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Você tem paz de espírito quando aquilo que você quer é ao mesmo tempo o que
você pode e o que você deve, complementa Cortella
REFLEXÃO:
É verdade dizer que , na prática, ser ético, não se trata de uma tarefa tão fácil, mas se todos
pudessem realizar essa avaliação, simples do quero/devo/posso, com certeza nossos dias
seriam melhores. Procuremos fazer uma auto avaliação para ser éticos nas nossas ações, para
respeitando os limites do próximo, e servindo como exemplo da formação de nossos filhos,
netos e Jovens, pois é neles que devemos alimentar a esperança de pessoas formadas por
Princípios e valores , pautadas na ética e Moralidade.

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MÓDULO IX
ORIENTAÇÕES SOBRE PLANEJAMENTO DE UM PROJETO DE AÇÃO EM
SAÚDE MENTAL

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13. ROTEIRO PARA ELABORAÇÃO DE PROJETOS

I.Histórico institucional
a. Falar sobre a instituição que irá desenvolver e ou executar o projeto.
b. Exemplo: CAPS

II.Justificativa
a. Ao elaborar um projeto é necessário conhecer as necessidades das pessoas atendidas
pela instituição.

III.Público alvo
a. Pensar quem será beneficiado pelo projeto, de acordo com as necessidades dos mesmos,
em função de faixa etária, diagnóstico clínico, região onde mora, situação socioeconômica.
IV.Objetivos geral
a. Definir o que e se pretende.

V.Metodologia
a. Como será realizado o trabalho.

VI.Equipe técnica do projeto


a. Recursos humanos envolvidos

VII.Cronograma das ações


a. Definição de datas para início e final dos trabalhos.

VIII.Orçamento físico-financeiro
a. Local e recurso financeiro necessário para o projeto.

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