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SAÚDE MENTAL NA INFÂNCIA E


ADOLESCÊNCIA
Cláudia Capelini Picirilli

Vanessa Carlos

SAÚDE MENTAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA


1ª edição

Londrina
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
2020

2
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Dados Internacionais de Catalogação na Publicação (CIP)


__________________________________________________________________________________________
Picirilli, Cláudia Capelini
P593s
Saúde mental na infância e adolescência/ Cláudia
Capelini Picirilli,Vanessa Carlos –
Londrina: Editora e Distribuidora Educacional S.A. 2020.
29 p.

ISBN 978-65-86461-22-0

1. Saúde mental. 2. Infância I. Picirilli, Cláudia Capelini. II. Carlos, Vanessa. Título.

CDD 616.89
____________________________________________________________________________________________
Jorge Eduardo de Almeida CRB: 8/8753
2020
Editora e Distribuidora Educacional S.A.
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CEP: 86041-100 — Londrina — PR
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SAÚDE MENTAL NA INFÂNCIA E ADOLESCÊNCIA NA
ASSISTÊNCIA HOSPITALAR

SUMÁRIO
Cuidado em saúde mental: acolhimento às crianças e adolescentes _____
_______________________________________________________________________05

Organização das políticas públicas para crianças e adolescentes:


assistência, educação, legislação e desafios__________________________ 20

Prevenção e promoção da saúde mental em crianças e adolescente


______________________________________________________________________ 35

Principais transtornos na infância e adolescência ___________________ 54

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Cuidado em saúde mental:
acolhimento às crianças e
adolescentes
Autoria: Cláudia Capelini Picirilli
Leitura crítica: Luiza Elena Casaburi

Objetivos
• Compreender quais aspectos são fundamentais
para o acolhimento e assistência de qualidade a
indivíduos acometidos por transtornos mentais na
infância e adolescência.

• Compreender as dinâmicas biopsicossociais


relacionadas à infância e adolescência.

• Identificar possibilidades estratégias para o manejo


no atendimento à crianças e adolescentes no
contexto do cuidado em saúde mental.

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1. Cuidado em saúde mental: acolhimento às
crianças e adolescentes.

Acolher, palavra derivada do latim e que significa receber, reunir, juntar


Uma das definições apresentadas pelo dicionário Michaelis, afirma que
acolhimento é um “lugar onde se encontra amparo, proteção; refúgio”
(MICHAELIS, 2019, [s.p.]).

Essa palavra oferece uma base importante de construção no manejo


em saúde mental infanto-juvenil. Isso porque acolher o sofrimento
de crianças e adolescentes é ofertar um lugar, tanto concreto quanto
simbólico para dores, muitas vezes, inominadas. É reunir seu repertório
técnico e teórico no sentido de receber as aflições em tão tenra idade,
é juntar saberes objetivando compreender do que sofrem as crianças e
os adolescentes e o que se pode fazer diante do comportamento que se
apresenta.

1.1 Infância e adolescência: aspectos biopsicossociais

Entender o conceito de infância e de adolescência é fundamental


àqueles que trabalham ou pretendem trabalhar com essas populações,
especialmente quando a área de atuação envolve o campo da saúde
mental.

Considerando o recorte etário, a infância é o período de tempo que


envolve o nascimento até o início da adolescência, aos doze anos de
idade (BRASIL, 1990).
Em linhas gerais, a ciência desenvolveu alguns parâmetros para sinalizar
uma suposta curva de normalidade, quer seja para o desenvolvimento
físico e biológico, quer seja para os aspectos emocionais dos seres
humanos. Desse modo, no campo biológico, espera-se que entre oito e
treze anos, no caso das meninas, e entre nove e quatorze anos, no caso

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dos meninos, desabroche o período da puberdade (DE PAULA; PUÑALES,
2016).

A puberdade “é um período relativamente curto de mudanças


fisiológicas durante o qual os órgãos sexuais tornam-se maduros”
(CABRAL; NICK, 2001, p. 263). Esse momento, apesar de surgir
próximo ao eclodir da adolescência, não se constitui sinônimo desta. A
adolescência refere-se às mudanças psíquicas, não desconectadas das
transformações do corpo, mas muito mais relacionadas aos aspectos
culturais.

Desse modo, na infância ou na adolescência, as ciências buscam traçar


padrões que determinem supostos parâmetros de normalidade (do
crescimento esquelético, dos comportamentos esperados etc). Contudo,
toda atenção a este fato é importante, especialmente quando tratamos
do tema da saúde mental. Cada indivíduo possui seu próprio tempo no
curso de seu amadurecimento biológico e psíquico, determinado não
somente por sua herança genética, mas também pelo ambiente no qual
está inserido.
Essa influência do ambiente sobre a genética tem sido amplamente
estudada nos últimos anos. Um desses campos é a epigenética.

A epigenética foi um termo criado pelo biólogo e pesquisador Conrad


Waddington (1905-1975), que utiliza conceitos da genética como
genótipo e fenótipo. Relembrando, o genótipo é um conjunto de genes
que provém da herança genética, ou seja, traz em seu componente
o DNA de nossos familiares. Por sua vez, o fenótipo se constitui por
características (físicas, fisiológicas ou comportamentais) que podem
ser observadas visualmente, como cor da pele, textura do cabelo entre
outros, de acordo com Domingos (2017).

Em resumo, muitos estudiosos atribuem o termo epigenética


à influência do ambiente sobre os componentes hereditários e

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acrescentam, ainda, que esta ação não impacte somente o indivíduo que
a vivencia, mas também nas gerações seguintes.

Assim, apesar de tratar-se de um campo em ampla discussão e com


algumas controvérsias, cada vez mais se torna explícito o quanto o
meio em que vivemos produz mudanças significativas e, muitas vezes,
permanentes, em nosso comportamento.

No campo da saúde mental, relembramos que uma vertente da


Psiquiatria, por muitas décadas, buscou traçar marcadores biológicos
que pudessem explicar a origem dos transtornos mentais. Entretanto,
ainda hoje, determinar um gene específico para cada psicopatologia não
foi possível, o que tem proporcionado um espaço de estudo cada vez
mais ampliado para o campo da epigenética.

1.1.1 O primeiro ano de vida

Geralmente, as pessoas tendem a não valorizar o primeiro ano de vida,


utilizando-se de um discurso muito antigo de que a criança não terá
memória sobre esta época, o que não é verdade. A criança pequena
(recém-nascido e lactente) pode não reter, na memória de longo
prazo, imagens mnêmicas, mas todo o seu corpo é um repositório de
memórias celulares.

Você já se observou tendo uma reação inesperada (positiva ou negativa)


a partir de algo que lhe aconteceu e depois ficou se perguntando porque
manifestou aquele comportamento, tentando, em seguida, resgatar em
sua memória alguma possível explicação, mas não encontrou? Se você
já viveu esta experiência, provavelmente, sua resposta tenha derivado
de um registro celular e não de sua memória cognitiva, pelo menos de
acordo com teorias do inconsciente, como é o caso da Psicanálise.

Quando entendemos que o cuidado ao corpo produz registros de


memória, então podemos construir orientações mais assertivas aos

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adultos responsáveis por cuidar de crianças tão pequenas e, ao orientar
para este cuidado, é possível que estejamos atuando no sentido da
prevenção de futuros adoecimentos psíquicos. Infelizmente, mensurar
esta prevenção é muito difícil, por isso, ainda há tantas resistências de
órgãos públicos e privados em investimentos dessa ordem.

Outro aspecto importante, no cuidado em saúde mental infanto-


juvenil, trata-se de entender o que é esperado para cada fase do
desenvolvimento humano. Segue, a seguir, um recorte de alguns pontos
importantes para seus estudos sobre o acolhimento de crianças e
adolescentes em sofrimento.

Portanto, na ordem cronológica desse desenvolvimento, o que


podemos dizer sobre os bebês? Inicialmente, os bebês nascem com
uma quantidade significativa de reflexos que são respostas físicas
e automáticas que acontecem quando há um estímulo, como, por
exemplo, sugar e engolir. Na medida em que a parte do cérebro
responsável por essas reações se desenvolve, os reflexos primitivos
começam a dar lugar às funções mais complexas, segundo Bee (1996).

Para Piaget (2002), os reflexos antecedem a assimilação mental, que


ocorre na primeira infância. Desse modo, pode-se afirmar que, no bebê,
não há um interesse consciente dirigido a determinado objeto, visto
que ainda nem sabe que existe um mundo para fora de si. O que o
bebê faz é buscar modos de sobrevivência a este novo ambiente e, para
isso, lança mão de um comportamento inato: o choro. Interpretar cada
choro não é tarefa fácil, mas é o que garantirá o atendimento de suas
necessidades.

Autores da Psicanálise, como Donald Winnicott (1896-1971) e Melanie


Klein (1882-1960), afirmam que o primeiro ano de vida é fundamental
para a construção de uma base sólida e saudável da personalidade. Essa
personalidade é formada ao longo do desenvolvimento infanto-juvenil
e se apoia sobre o alicerce da psique. Se a personalidade se constrói ao

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longo do desenvolvimento infanto-juvenil, é fundamental haver uma
base sólida para abrigar as experiências externas, as heranças genéticas,
os afetos e os pensamentos, correto? Desse modo, é no primeiro ano
de vida que, para muitos autores, se constrói a base que amparará as
experiências que darão o tom da personalidade individual.

Assim, metaforicamente, se a casa possuir um forte e resistente


alicerce, os contratempos poderão passar por ela sem produzir
desmoronamentos. Contudo, se for vulnerável, a possibilidade de ruína
será grande. Dependendo da adversidade e do tipo de alicerce, pode ser
que a casa não desmorone totalmente, mas somente uma parte que, se
puder contar com suporte e auxílio, poderá ser reconstruída.

Traduzindo em termos de saúde mental, as adversidades podem ser


eventos externos (morte de um ente querido, desemprego, uso de
substâncias psicoativas etc) ou internos (adoecimento biológico, por
exemplo), e a casa é a estrutura da personalidade do sujeito.

Há pessoas que perdem o emprego e entram em profundo estado


depressivo, outras reinventam possibilidades de ganhos financeiros. Há
crianças que lidam com a frustração de modo saudável, aprendendo
com ela, outras apresentam comportamento agressivo e destruidor
diante da negativa do ambiente. Por isso, não há certo ou errado
quando tratamos de saúde mental. Há formas de existir e habitar o
mundo.

Assim, apesar de ser muito complexo e difícil determinar quais são os


elementos para a construção de um alicerce saudável, algumas teorias
apontam caminhos importantes, como é o caso da Psicanálise. O recorte
que embasa essa afirmação, parte da teoria do pediatra e psicanalista
Donald Winnicott (1896-1971).

Um dos termos mais importantes da teoria winnicottiana é mãe


suficientemente boa. Aqui, destacamos dois pontos:

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• O termo mãe não se refere exatamente à mãe biológica, mas a
qualquer pessoa que exerça a função materna na vida do bebê.

• Suficiente não significa perfeito, porque são pessoas reais e o ideal


de perfeição não é saudável nem para quem materna nem para o
bebê.

Dias (2012) afirma que, na teoria winnicottiana, todos tendemos para


o amadurecimento de forma inata. Isso significa que todas as pessoas
têm potência para amadurecer de acordo com sua idade cronológica,
contudo, isso somente será possível se o ambiente ofertar um cuidado
suficientemente bom. Se assim o for, a criança tenderá a crescer e
amadurecer de modo psiquicamente saudável. Contudo, se o ambiente
apresentar recorrentes falhas, não for suficientemente bom, partes
desse desenvolvimento serão interrompidas. Essas falhas e interrupções
são, de acordo com esta teoria, as produtoras de adoecimento psíquico.

Na prática, como o bebê encontra um ambiente suficientemente bom?


Quando é atendido em suas necessidades, inicialmente corporais. A mãe
(leia-se quem cumpre a função materna) deve estar inteiramente voltada
ao bebê em seu primeiro ano de vida, criando vínculo que possibilitará
a identificação de suas necessidades e, consequentemente, a oferta dos
cuidados necessários. Se está com fome, será alimentado; se está com
frio, será agasalhado; se está dormindo, permanecerá em relaxamento
sem interrupções.

Assim, a partir de suas necessidades, o bebê começa a estabelecer


contato e experiência com o mundo externo, mas ainda não sabe que
é o mundo fora de si, criando os registros celulares dessas experiências
(boas ou não). Essa noção de que há alguém para além dele só virá
depois, entre seis meses a um ano de idade (aproximadamente), de
acordo com Winnicott (2005).

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Portanto, é muito importante que a figura materna se adapte às
necessidades do bebê e, para isso, é fundamental que o ambiente
também acolha essa pessoa. Para ser suficientemente bom é preciso
haver pessoas que ofereçam suporte e ajuda a quem está maternando,
por isso, todos os adultos são direta ou indiretamente responsáveis pelo
cuidado das crianças.

Portanto, o recém-nascido chora para sinalizar uma necessidade: fome,


frio, calor, desconforto, dor. Essa é a linguagem do bebê, que demanda
do adulto um amplo repertório para o cuidado, adquirido na medida em
que o ambiente (leia-se cuidador ou mãe) está atento a ele.

Quando o ambiente se volta ao cuidado do bebê, é possível então


predizer sua necessidade. A partir dessa perspectiva, ofertando um bom
ambiente, oferta-se também a possibilidade de construção de alicerces
sólidos para o amparo das experiências que influenciarão a construção
da personalidade.

1.1.2 A primeira infância: dos dois aos sete anos

A chegada à primeira infância, por volta de dois anos, traz também (ao
menos espera-se) o surgimento da linguagem. Algumas crianças podem
demorar um pouco mais para começar a se expressar por meio da
linguagem falada, especialmente se o ambiente no qual está inserida
não a incentiva a nomear os objetos que deseja, ou que se antecipa
quando a criança aponta um copo de água, por exemplo. É fundamental
que a criança seja incentivada a dizer o que deseja, expressando suas
vontades e ampliando seu repertório linguístico.

Contudo, a ausência total de linguagem, por volta de dois ou três anos


de idade, deve ser melhor investigada por um profissional que atua com
a infância. Especialmente importante é uma avaliação multiprofissional
que contemple, ao menos, pediatra, fonoaudiólogo e psicólogo.

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O surgimento da linguagem é tão importante porque a criança
consegue, além de relatar o que fez no passado, construir narrativas
sobre seus interesses futuros, segundo Piaget (2002).

Daí resultam três consequências essenciais para o desenvolvimento


mental: uma possível troca entre os indivíduos, ou seja, o início da
socialização da ação; uma interiorização da palavra, isto é, a aparição
do pensamento propriamente dito, que tem como base a linguagem e o
sistema de signos e, finalmente, uma interiorização da ação como tal que,
puramente perceptiva e motora que era até então, pode daí em diante se
reconstituir no plano intuitivo das imagens e das ‘experiências mentais’.
Do ponto de vista afetivo, segue-se uma série de transformações paralelas,
desenvolvimento de sentimentos interindividuais (simpatias e antipatias,
respeito etc) e de uma afetividade inferior organizando-se de maneira mais
estável do que no curso dos primeiros estágios [recém-nascido e lactente]
(PIAGET, 1964/2002, p. 24).

É esperado, portanto, que a criança amplie seu repertório social, sua


linguagem e a construção de seu pensamento.

Piaget (2002) afirma que, nessa fase, a criança se sujeita às ordens


parentais porque concebe o adulto como pessoa forte. Essa sujeição
dará espaço, posteriormente, às regras de convivência social, na medida
em que a construção de seu pensamento se modificar. Para o autor, o
pensamento proveniente da primeira infância é egocêntrico, no sentido
de que a criança o constrói unicamente a partir de seu ponto de vista.

Apesar de entender-se como separada da figura materna, ainda


está muito voltada para a construção de seu mundo interno. Assim,
entendemos que a linguagem inaugura a socialização e a vida afetiva
que, para o autor, são indissociáveis. Para ele, não há uma ação que seja
somente intelectual ou somente afetiva. Ambos estão correlacionados.

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1.1.3 A infância: dos sete aos doze anos

Ainda de acordo com Piaget (2002), o início da escolaridade produz


uma nova construção de pensamento. A criança passa a ser capaz de
cooperar mais com os outros deslocando-se de seu mundo egocêntrico,
sendo possível observar que, após os sete anos, a criança começa a
pensar antes de agir, pois busca uma compreensão lógica entre os fatos,
dando início ao processo de reflexão.

Desenvolve-se, portanto, de acordo com o autor, um pensamento


construído a partir de sistemas de operações lógicas, capazes de
organizar e classificar os eventos. Como, para ele, intelecto e afetividade
caminham juntos, observa-se também o aparecimento do respeito
mútuo, do sentimento de justiça e da reciprocidade.

Em resumo, alcançar de modo satisfatório o desenvolvimento da


formação humana depende especialmente do processo de socialização,
que se inicia com os pais (ou figuras que assumem este lugar), no qual
a criança aprende muitas habilidades (motora, linguística e afetiva), e se
complementa com a entrada de novos grupos sociais, que produzirão
transformações sobres essas habilidades (VALLE; GARNICA, 2009).

Portanto, é fundamental observar essas habilidades ao longo do


desenvolvimento da infância, não na busca de um enquadramento a
uma suposta normalidade, mas para entender como a criança tem se
adaptado ao seu meio e como tem internalizado as experiências vividas
com os adultos e com seus pares.

Outro ponto fundamental é analisar o máximo de informações sobre


a família das crianças. Se os pais são mais tímidos ou mais expansivos,
isso terá efeitos sobre seu modo de estar no mundo; se é proveniente
de outras culturas, isso também deve ser levado em consideração.
Identificar o contexto sociocultural e familiar é imprescindível para não
incorrermos no risco de patologizar as experiências a partir de nossos

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padrões de normalidade e, principalmente, de moralidade. Essa mesma
orientação é válida para a fase seguinte a ser estudada.

1.1.4 A adolescência

A adolescência é a fase compreendida, de acordo com as leis brasileiras,


entre doze e dezoito anos incompletos. Essa etapa da vida não engloba
somente as transformações corporais provenientes da puberdade, mas
traz em seu bojo uma ampla gama de transformações psicossociais.

Localizada no meio do caminho entre a infância e a vida adulta, a


adolescência apresenta desafios muito diversificados. A despedida do
corpo infantil produz luto tanto para o jovem como para seus familiares.
A fase dos enfrentamentos em busca de autoafirmação é também
permeada de medos e angústias. O pensamento que, até então, operava
de forma lógica, agora constrói-se no sentido abstrato, questionando
os valores apresentados pela sociedade e pela família. A libertação do
pensamento, como afirma Piaget (2002), apresenta um novo momento
de construção de sistemas e teorias.

A chance de viver muitos conflitos intrapsíquicos é grande, inclusive


dentre aqueles que tiveram boas experiências de maternagem.

A questão adolescente diz respeito aos impasses do sujeito que, no anseio


de se desprender de suas referências familiares, confronta-se com os
enigmas da sexualidade e com as incongruências da organização social da
qual participa. O personagem adolescente, comumente associado a uma
faixa etária específica (os teens, como a mídia tem nomeado), pode ou
não se defrontar com tais questões, conforme o permitam sua estrutura
psíquica e os recursos que lhe são oferecidos pelo contexto em que se
insere (MATHEUS, 2008, p.623).

Contudo, há uma nova ordem, no sofrimento com a entrada das


tecnologias, que deve ser considerada no campo da saúde mental.
A possibilidade de encontros virtuais com seus pares, também

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desamparados, tem produzido sofrimentos contemporâneos que ainda
demandam muitos estudos. Abordar o tema da saúde mental infanto-
juvenil é também estar conectado a este novo cenário de relações que
se desfazem em um só clique.

Neumann (1968 apud NEVES, 2010) afirma que a fase da adolescência


produz medo e a sensação interna de morte, pois há um rompimento
simbólico da unidade original (pais, família), mas o ego ainda não está
estruturado de modo suficiente para dar conta desses processos e a
realidade passa a ser algo amedrontador.

Muitos adolescentes, na impossibilidade de expressar essa angústia


existencial, produzem no corpo a dor de seu amadurecimento psíquico
e corporal. Eis, então, que os comportamentos suicidas (e, aqui, inclui-se
o ato suicida e as tentativas de suicídio) são tão proeminentes nessa fase
da vida, ao lado do fenômeno contemporâneo da automutilação.

Além dos aspectos psíquicos, a impulsividade do adolescente está


correlacionada ao desenvolvimento do córtex pré-frontal (parte do
cérebro responsável, entre outros, pelo controle dos impulsos e
da capacidade de planejamento), que ainda não está plenamente
amadurecido.

Compreender os aspectos dinâmicos e biológicos é fundamental para o


cuidado dessa fase da vida, especialmente em tempos de diagnósticos
atribuídos a qualquer comportamento juvenil considerado fora do
padrão, aliado ao uso inapropriado das ferramentas de buscas virtuais
que sempre ofertarão um transtorno ao que se considera próprio da
adolescência.

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1.2 Manejo no atendimento à criança e adolescente em
sofrimento

Acolher e construir manejos no cuidado à criança e ao adolescente,


em sofrimento psíquico, é tarefa fundamental aos trabalhadores
do campo da saúde mental. Obviamente, cada núcleo de trabalho
utilizará ferramentas e técnicas específicas para elaborar diagnósticos
e intervenções. Contudo, gostaria de encerrar este tema sugerindo
algumas possibilidades que podem ser aplicadas em qualquer área de
atuação.

Na infância, por exemplo, os jogos se constituem instrumentos valiosos


de aproximação e construção de vínculo de cuidado. Além de escolher
jogos apropriados para cada idade, faz-se importante lembrar que as
regras são compreendidas de modo diferente entre a primeira infância
e as crianças mais velhas. Na primeira infância, a forma de construção
do pensamento é egocêntrica, portanto, essa característica deve ser
lembrada quando você for trabalhar com as crianças até sete anos de
idade.

Uma boa forma de começar a estabelecer o contato é questionando


(criança ou o adolescente) sobre o que gostam de fazer, de jogar ou
de brincar. Muitas crianças gostam de desenhar ou colorir, então, a
presença de materiais gráficos pode ser importante.

Quando falamos em adolescência, o repertório muda, embora alguns


preservem o gosto pela pintura e pelo desenho. Muitos encontram
na escrita uma forma de expressão de seu mundo interno. Propor
que elaborem um diário sobre seu momento pode ser uma estratégia
interessante. Outra estratégia é a música: entender seus interesses
musicais, sem julgamento, poderá promover aproximação.

De modo semelhante, utilizar as redes sociais, sempre que possível,


poderá ser útil, pois são nelas, geralmente, que se encontram projetados

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os elementos que compõem o mundo interno dos jovens, ao menos na
maioria das vezes.

Ao demonstrar interesse pelo universo do outro, possibilitamos a


abertura para o diálogo e, futuramente, a construção do vínculo de
cuidado. Entretanto, dependendo da forma como o sujeito estará
interpretando o mundo no momento de sua abordagem, pode ser que
você não tenha a resposta esperada. Então procure, assim como a mãe
deve fazer em relação ao seu bebê, estar conectado às necessidades
da criança ou do adolescente, buscando ofertar, dentro de suas
possibilidades, um espaço concreto e simbólico de acolhimento.

Referências Bibliográficas
BEE, Helen. A criança em desenvolvimento. Trad. Maria Adriana Veríssimo
Veronese. 7 ed. Porto Alegre, RS: Artes Médicas, 1996.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Lei n. 80.69 de 13 de julho de 1990. Dispõe sobre o Estatuto da Criança e do
Adolescente e dá outras providências. Disponível em http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 18 maio 2020.
CABRAL, Álvaro; NICK, Eva. Puberdade. In: CABRAL, Álvaro; NICK, Eva. Dicionário
Técnico de Psicologia. São Paulo, SP: Editora Cultrix, 2001.
DE PAULA, Leila Cristina Cardoso; PUÑALES, Márcia. Puberdade Precoce. Sociedade
Brasileira de Pediatria. Associação Médica Brasileira. Departamento Científico
de Endocrinologia. Disponível em https://www.sbp.com.br/fileadmin/user_
upload/2016/09/Puberdade-Precoce.Leila_.Ve4_.pdf. Acesso em 29 jan. 2020
DIAS, Elsa Oliveira. A teoria do amadurecimento de D. W. Winnicott. 2 ed. São Paulo,
SP: DWW Editorial, 2002.
DICIONÁRIO Michaelis de Língua Portuguesa. Ed. Melhoramentos, 2019. Disponível
em: http://michaelis.uol.com.br. Acesso em: 18 maio 2020.
DOMINGOS, Priscila Perez. Introdução à genética. In: DOMINGOS, Priscila Perez.
Genética. Londrina, PR: Editora e Distribuidora Educacional S.A., 2017.
MATHEUS, Tiago Corbisier. Quando a adolescência não depende da
puberdade. Rev. latinoam. psicopatol. fundam., São Paulo, v. 11, n. 4, p. 616-
625, 2008.  

18
NEVES, Simone Rodrigues. Desenvolvimento de identidade na adolescência: uma
análise do livro Clarissa na perspectiva da Psicologia Analítica. In: Associação
Junguiana do Brasil. Cadernos Junguianos. v.6, n.6, agosto 2010. São Paulo, SP: AJB,
2010.
SANTOS, Vanessa Sardinha dos. Genótipo e fenótipo. Brasil Escola. Disponível em:
https://brasilescola.uol.com.br/biologia/genotipo-fenotipo.htm. Acesso em: 18 maio
2020.
VALLE, Tânia Gracy Martins do; GARNICA, Karina Ramos Herreira. Avaliação e
treinamento de habilidades sociais de crianças em idade pré-escolar. In: Valle, Tânia
Gracy Martins do (orgs). Aprendizagem e desenvolvimento humano: avaliações e
intervenções. São Paulo, SP: Cultura Acadêmica, 2009. Disponível em: http://books.
scielo.org/id/krj5p/pdf/valle-9788598605999.pdf. Acesso em: 18 maio 2020.

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Organização das políticas públicas
para crianças e adolescentes:
assistência, educação, legislação e
desafios
Autoria: Cláudia Capelini Picirilli
Leitura crítica: Luiza Elena Casaburi

Objetivos
• Reconhecer as diretrizes e princípios das políticas
públicas no campo da infância e juventude.

• Identificar desafios que impossibilitam a execução


das políticas públicas infanto-juvenis.

• Problematizar avanços e retrocessos culturais e


normativos.

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1. Organização das políticas públicas para
crianças e adolescentes: assistência, educação,
legislação e desafios

No Brasil, o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), promulgado


em 1990, por meio da Lei n. 8.069, inaugurou um novo lugar para a
infância e juventude: o de sujeitos de direitos. Aqueles que já nasceram
sob a vigência desta legislação, talvez não tenham a dimensão do que
se trata esta conquista. As duas legislações anteriores ao ECA foram
nomeadas como Código de Menores. O primeiro foi elaborado em 1927
e o segundo, em 1979. Essas leis colocavam crianças e adolescentes,
especialmente os que viviam em situação de risco e vulnerabilidade
social, como objetos de intervenção do Estado.

Avanços foram conquistados após 1990, mas ainda temos muito a


trabalhar enquanto sociedade para o efetivo reconhecimento desses
sujeitos como portadores de voz, direitos e espaço social e para que as
leis, de fato, possam ser cumpridas coerentemente com seus discursos
textuais.

Apesar dos Códigos de Menores terem sido considerados um avanço


nos direitos infanto-juvenis em suas épocas, foi com a publicação do
Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), em 1990, que a infância e a
juventude brasileiras começaram a deslocar-se do lugar de objetos de
intervenção do Estado para o lugar de sujeitos com direitos garantidos.

A infância, compreendida pelo ECA como o período de vida entre zero e


doze anos incompletos, e a adolescência, considerada como a fase entre
doze e dezoito anos incompletos, ainda encontram muitos desarranjos
no que se refere à execução das políticas públicas. Execução porque,
como você verá, os textos legais são modernos e amplos, contudo,
colocá-los em prática depende dos interesses de nossos representantes,
tanto em âmbito federal como estadual e municipal.

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Então, de quais avanços e desafios propriamente trataremos aqui?

1. Constituição Federal

O primeiro avanço legal, após a ditadura militar brasileira, foi a


aprovação da Constituição Federal, em 1988. Importante relembrar
que, em 1964, os militares tomaram o poder do, então presidente,
João Goulart, por meio de um golpe militar, que culminou no período
ditatorial. Foram vinte e um anos de repressão e produção de miséria
(decorrente de inflações fora do controle).

Em contrapartida, os movimentos sociais se fortaleciam e uma grande


massa de trabalhadores urbanos e rurais, intelectuais e políticos,
começaram a produzir forças contrárias, fazendo enfrentamentos
corpo a corpo ao regime militar. Foi com a força dessas pessoas que
esse período encontrou seu fim, em 1985, após um grande movimento
civil, nomeado Diretas Já. O primeiro presidente eleito, depois de então,
em votação ocorrida em janeiro de 1985, foi Tancredo Neves que, na
véspera de sua posse, foi internado e faleceu pouco mais de um mês
depois. Seu vice, José Sarney, assumiu a cadeira presidencial.

Nesse processo de redemocratização, começou-se a elaborar a nova


Constituição Federal, também conhecida como Constituição Cidadã.
Sua promulgação, em 05 de outubro de 1988, marcou novos tempos no
cenário brasileiro: a democracia buscando retomar sua força. Foi a partir
dessa legislação que muitos dos direitos que temos hoje puderam ser
discutidos e elaborados. Um exemplo é o Sistema Único de Saúde (SUS),
criado a partir dos artigos 196 a 200 da Constituição Federal, que afirma
ser a saúde um direito de todos os cidadãos e um dever do Estado
(BRASIL, 1988).

O que a Constituição Federal traz sobre a população infanto-juvenil? A


primeira menção que o texto faz à infância está na garantia dos direitos
sociais, a saber: educação, saúde, alimentação, trabalho, moradia,

22
transporte, lazer, segurança, previdência social, proteção à maternidade
e à infância e assistência aos que vivem em situação de risco e
vulnerabilidade social (BRASIL, 1988, art. 6).

Adiante, a legislação traz a proteção da infância, e também da juventude,


como sendo função do Estado (BRASIL, 1988, art. 24, alínea XV). No art.
203 da Constituição Federal, os legisladores retomam essa questão e
incluem a proteção à essa população na Seção IV (da Assistência Social),
do Capítulo II (da Seguridade Social). Depois, na Seção I (da Educação)
do Capítulo III (da Educação, da Cultura e do Desporto) e concluem
no Capítulo VII (da Família, da Criança, do Adolescente, do Jovem e do
Idoso), sinalizando ser dever da família, da sociedade e do Estado, a
responsabilidade por proteger o direito à vida, a proteção dos direitos
sociais, o acesso à profissionalização e à cultura, promovendo relações
dignas e respeitosas, com direito à convivência familiar e comunitária,
protegendo crianças e adolescentes de todas as formas de violência,
crueldade e opressão (BRASIL, 1988, art. 227; BRASIL, 2010; BRASIL,
1990, art. 4). Assim, dá-se início ao nascimento do ECA.

2. Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA)

O ECA, promulgado em 13 de julho de 1990, reafirma os direitos infanto-


juvenis apontados pela Constituição Federal e amplia a compreensão de
que crianças e adolescentes se constituem sujeitos, cidadãos de direitos
e que, por conta de sua condição de desenvolvimento (biopsicossocial),
devem ser protegidas pela família, pela sociedade e pelo Estado e, assim
sendo, obrigatoriamente deverão mantê-las a salvo de todas as formas
de violência (incluindo a negligência, a exploração, a crueldade e a
opressão).

Essa legislação contempla a proteção desde a maternidade ao início da


maioridade civil e penal (quando a pessoa completa dezoito anos), salvo

23
situações em que o ECA poderá ser aplicado às pessoas com até vinte e
um anos.

Nos anos de 2016 e 2019 foram publicadas novas redações para


determinados artigos desta legislação: uma centrada na criação da
Semana Nacional de Prevenção da Gravidez na Adolescência (BRASIL,
2019) e a outra especialmente voltada à primeira infância (BRASIL, 2016).

A questão é como colocar em prática as ações de proteção com o


sucateamento recorrente das políticas públicas, especialmente após o
congelamento das despesas públicas por vinte anos, aprovada por meio
de uma Emenda Constitucional, em 2016, conhecida como PEC 241 (ou
PEC 55)? Como colocar o ECA em prática, cotidianamente, dentro dos
lares brasileiros e dentro das políticas públicas? Para além de projetar
sobre nossos representantes a responsabilidade pelas omissões
presenciadas todos os dias, devemos nos perguntar: qual o papel
dos trabalhadores, da sociedade e das famílias para que essas ações
ocorram de fato?

É por isso que a democracia é fundamental, pois possibilita que


as pessoas se organizem coletivamente para os enfrentamentos
necessários e para cobrar dos representantes políticos a execução do
que está na lei. Sozinhos, não mudamos nada, mas coletivamente, com
meus pares, podemos mudar toda uma sociedade. O fim da ditadura
militar é um exemplo explícito do poder da população. Será que
desejamos nos responsabilizar por todo esse poder de transformar uma
sociedade?

3. Política pública de saúde

Os mesmos desafios se apresentam à política de saúde, seus


trabalhadores e usuários. O SUS é uma conquista a toda população

24
brasileira que nunca pode contar com acesso à saúde de forma
universal. Antes de sua criação, por meio da promulgação da Lei
Orgânica n. 8080 de 1990, somente os trabalhadores formais, ou seja,
com registro em carteira de trabalho, poderiam acessar os serviços
públicos de saúde, por meio do Instituto Nacional de Assistência Médica
da Previdência Social (INAMPS).

Temos de avançar muito ainda para vivenciar atendimentos de primeiro


mundo, como é a construção teórica do SUS. Esse é o maior sistema
de saúde pública do mundo e tem o desafio de atender a todos, em
todas as complexidades, num país extremamente desigual, onde as
condições de saúde e adoecimento estão intimamente vinculadas às
situações sociais. Como fazer isso com um teto de gastos congelado
por vinte anos? Como garantir que crianças e adolescentes tenham
prioridade nos atendimentos em saúde, se os municípios estão de mãos
atadas para a criação de novos dispositivos? Como ser trabalhador das
políticas públicas infanto-juvenis com tanta precarização de recursos?
São muitas perguntas. As respostas somente serão tecidas dia a dia a
partir da realidade de cada serviço, cada município e cada trabalhador.
Entretanto, um ponto é certeiro: não é possível um trabalho de cuidado
nas políticas públicas sem a construção de uma rede forte e intersetorial.

Dentro do SUS, portanto, quais são as ações de cuidado voltadas


para a infância e juventude? Como você aprendeu, as crianças e os
adolescentes são prioridade no atendimento das políticas públicas,
mas, para além disso, há alguns programas específicos, no âmbito do
SUS, voltados a esta população. Alguns deles estão expostos no quadro
abaixo:

Quadro 1–Programas voltados à infância e juventude no âmbito do


SUS
Programa Objetivo Fonte

25
Identificar doenças
BRASIL. Ministério da Saúde.
em crianças
Programa Nacional de Triagem
Programa recém-nascidas,
Neonatal. Disponível em:
Nacional de buscando reduzir a
http://saude.gov.br/acoes-e-
Triagem Pré- morbimortalidade e
programas/programa-nacional-
Natal (PNTN). produzir qualidade de
da-triagem-neonatal. Acesso em:
vida às pessoas com
20 maio 2020.
doenças identificadas.
Atuar na formação
BRASIL. Ministério da Saúde.
integral do estudante,
Programa Saúde na Escola.
Programa buscando construir
Disponível em : http://saude.
Saúde na ações de promoção
gov.br/acoes-e-programas/
Escola (PSE). de saúde e prevenção
programa-saude-na-escola .
de doenças na rede
Acesso em: 20 maio 2020.
pública de ensino.
Garantir atendimento
BRASIL. Ministério da Saúde.
humanizado para
Rede Cegonha. Disponível em:
mulheres durante a
Rede Cegonha. http://saude.gov.br/acoes-
gestação até os dois
e-programas/rede-cegonha.
primeiros anos de
Acesso em: 20 maio 2020.
vida do bebê.
Modelos de serviço
que substituem BRASIL. Ministério da Saúde.
Rede de o atendimento Rede de Atenção Psicossocial
Atenção manicomial Disponível em: http://saude.gov.
Psicossocial aos sujeitos em br/acoes-e-programas/rede-
(RAPS). sofrimento psíquico, de-atencao-psicossocial-raps.
incluindo crianças e Acesso em:20 maio 2020.
adolescentes,

26
Promover a saúde da
mulher e da criança
a partir do Banco BRASIL. Ministério da Saúde.
Rede de
de Leite Humano, Rede de Bancos de Leite
Bancos de
considerando que o Humano. Disponível em:
Leite Humano.
leite materno é um http://saude.gov.br/acoes-e-
alimento integral e programas. Acesso em: 20 maio
fundamental para 2020.
o desenvolvimento
infantil.

BRASIL. Ministério da Saúde.


Contemplar o
Programa Nacional de
calendário de
Programa Imunizações. Disponível em:
vacinas às crianças,
Nacional de http://www.saude.gov.br/
adolescentes, adultos,
Imunizações. saude-de-a-z/vacinacao/sobre-o-
idosos, gestantes e
programa. Acesso em: 20 maio
população indígena.
2020.

BRASIL. Ministério da Saúde.


Política Nacional de Saúde
Mental Infanto-Juvenil.
Política Contempla os Disponível em: https://
Nacional de cuidados a crianças portalarquivos2.saude.gov.br/
Saúde Mental e adolescentes em images/pdf/2015/marco/10/
Infanto-juvenil. sofrimento psíquico. Caminhos-para-uma-Politica-
de-Sa—de-Mental-Infanto-
Juvenil—2005-.pdf. Acesso em:
20 maio 2020.
Fonte: elaborado pela autora.

27
Como visto, são muitas ações desenhadas para garantir o direito
infanto-juvenil de cuidado, promoção e proteção à saúde física e
mental. Contudo, mais uma vez, a questão não está na construção de
textos legais e quanto a este ponto, avançamos incomensuravelmente
nas últimas décadas. A questão atual é como executar programas tão
amplos com interesses políticos tão diminutos?

4. Política pública de assistência social

Outra importante conquista, especialmente à população em situação de


vulnerabilidade e risco social (não se utiliza mais a expressão carente),
foi a aprovação da Lei Orgânica da Assistência Social (LOAS) n. 8.742, de
1993, que regulamenta a Seção IV (da Assistência Social), do Capítulo
II (da Seguridade Social), da Constituição Federal, estabelecendo os
critérios para a organização da Política de Assistência Social enquanto
direito (BRASIL, 2009).

Diferentemente do SUS, esta política não se destina a todos


os brasileiros, mas deve ser atribuída a todos que necessitam.
Sua prioridade de atendimento são as pessoas em situação de
vulnerabilidade e risco social, incluindo a questão financeira, por
conta do enfrentamento e combate à fome em nosso país. Para atingir
esse objetivo, e buscar diminuir as desigualdades sociais, são criados
benefícios de transferência de renda, serviços e programas destinados a
públicos específicos. No quadro abaixo, apresento os benefícios vigentes
até o ano de 2019.

Quadro 2 – Benefícios de transferência de renda até o ano de 2019


Benefício Valor máximo recebido Critérios para
inserção

28
Benefício de Um salário mínimo à pessoa Renda familiar não
Prestação com deficiência ou idoso, que pode ultrapassar
Continuada não possuem meios de prover ¼ do salário
(BPC). suas necessidades (nem suas mínimo por
famílias). pessoa.
Benefício Básico: que é Famílias com
concedido às famílias em renda mensal
situação de extrema pobreza de até R$ 89
(com renda mensal de até R$ por pessoa
89,00 por pessoa). O auxílio é de (extremamente
R$ 89,00 mensais. pobres); famílias
com renda entre
Benefício Variável: concedido R$ 89,01 e R$
às famílias em situação de 178,00 por pessoa
pobreza ou extrema pobreza (família pobre).
Bolsa Família.
que tenham em sua composição
gestantes, nutrizes (mães Para inserção
que amamentam), crianças e é preciso ter
adolescentes de zero a 15 anos. na composição
familiar criança,
Benefício Variável Jovem: adolescente ou
concedido às famílias em gestante.
situação de extrema pobreza,
que possuem adolescentes
entre 16 e 17 anos.
Fonte: elaborado pela autora.

Os serviços são regulamentados pela Política Nacional de Assistência


Social (PNAS) por meio da Norma Operacional Básica (NOB/SUAS),
que prevê a organização em rede de atendimento por meio de níveis
de complexidade: básica e especial, sendo esta última dividida entre
média e alta complexidade. As crianças e os adolescentes são o público
prioritário das ações desses serviços que objetivam garantir seus
direitos e ofertar proteção.

29
a. Proteção Social Básica

Composta por serviços que objetivam prevenir situações de risco e


vulnerabilidade social, por meio de programas de fortalecimento de
vínculos familiares e comunitários.

Destina-se à população que vive em situação de vulnerabilidade social


decorrente da pobreza, privação (ausência de renda, precário ou nulo
acesso aos serviços públicos, dentre outros) e/ou fragilização de vínculos
afetivos – relacionais e de pertencimento social (discriminações etárias,
étnicas, de gênero ou por deficiências, dentre outras). (BRASIL, 2005, p. 33)

O Programa de Atenção Integral à Família (PAIF) é executado nos Centros


de Referência da Assistência Social (CRAS). Para as crianças e jovens (seis
a 24 anos) são oferecidos os serviços socioeducativos de fortalecimento
de vínculos; também com os adolescentes são trabalhados o
protagonismo juvenil e a educação para o trabalho (BRASIL, 2005).

b. Proteção Social Especial

Os programas vinculados a esta proteção visam intervir em situações


de violação de direitos e dividem-se em média e alta complexidades.
Por essa razão, atuam vinculados ao Sistema de Garantia de Direitos.
No que se refere ao público infanto-juvenil, o trabalho é desenvolvido
juntamente com o Conselho Tutelar, a Vara de Infância e Juventude e o
Ministério Público. O envolvimento de todos esses atores é necessário,
uma vez que, nessa complexidade, os trabalhadores atuam em
situações de risco pessoal e social que foram provocadas por maus
tratos, violência psicológica, abuso sexual, uso abusivo de substâncias
psicoativas, situação de rua, exploração do trabalho infantil, entre
outras.

O serviço de média complexidade é desenvolvido pelo Centro de


Referência Especializado da Assistência Social (CREAS) e deve atender

30
famílias e indivíduos com direitos violados, mas que ainda mantém
vínculos familiares e comunitários. São eles:

• Serviço de orientação e apoio sociofamiliar.

• Plantão social.

• Abordagem de rua.

• Cuidado domiciliar.

• Serviço de habilitação e reabilitação na comunidade das pessoas


com deficiência.

• Medidas socioeducativas em meio-aberto (Prestação de Serviços


à Comunidade – PSC e Liberdade Assistida – LA), especificamente
destinados a adolescentes em conflito com a lei.

Por sua vez, a alta complexidade contempla serviços que:

Garantem proteção integral – moradia, alimentação, higienização e


trabalho protegido para famílias e indivíduos que se encontram sem
referência e, ou, em situação de ameaça, necessitando ser retirados de
seu núcleo familiar e, ou, comunitário. Tais como: a) Atendimento Integral
Institucional; b) Casa Lar; c) República; d) Casa de Passagem; e) Albergue;
f) Família Substituta; g) Família Acolhedora; h) Medidas socioeducativas
restritivas e privativas de liberdade (semiliberdade, internação provisória e
sentenciada); i) Trabalho protegido (BRASIL, 2005, p. 38)

Para o público infanto-juvenil, destaca-se o Serviço de Acolhimento


Institucional, que pode ocorrer na modalidade de abrigo ou de Casa Lar,
e as medidas socioeducativas destinadas aos adolescentes em conflito
com a lei.

31
5. Política pública de educação

Não é possível findar o tema das políticas públicas infanto-juvenis,


embora este assunto nunca se encerre, sem incluir o campo da
educação. Assim como as demais políticas descritas, a educação infanto-
juvenil está prevista na Constituição Federal, que é a lei maior do país.
No que diz respeito à educação infantil, essa legislação determina o
atendimento em creche e pré-escola para todas as crianças com até
cinco anos de idade e a prioridade na oferta de educação básica pública
no ensino regular (BRASIL, 1988, Art. 207, inciso IV; BRASIL, 2006).

Em 2014, foi aprovado o Plano Nacional de Educação (PNE) por meio da


Lei n. 13.005. Esse plano tem por objetivo:

I–erradicação do analfabetismo; II–universalização do atendimento escolar;


III–superação das desigualdades educacionais, com ênfase na promoção
da cidadania e na erradicação de todas as formas de discriminação; IV–
melhoria da qualidade da educação; V–formação para o trabalho e para a
cidadania, com ênfase nos valores morais e éticos em que se fundamenta
a sociedade; VI–promoção do princípio da gestão democrática da educação
pública; VII–promoção humanística, científica, cultural e tecnológica do
país; VIII–estabelecimento de meta de aplicação de recursos públicos em
educação como proporção do Produto Interno Bruto–PIB, que assegure
atendimento às necessidades de expansão, com padrão de qualidade e
equidade; IX–valorização dos (as) profissionais da educação; X–promoção
dos princípios do respeito aos direitos humanos, à diversidade e à
sustentabilidade socioambiental (BRASIL, 2014, art. 2).

Esse plano, por ser decenal, deverá atingir seu objetivo até 2024.
Dentre suas metas estão: a universalização do ensino fundamental
para todas as crianças entre seis e 14 anos; universalizar acesso à
educação básica e ao atendimento especializado a todas as crianças
e adolescentes, entre quatro e 17 anos, com deficiência, transtornos
globais do desenvolvimento e altas habilidades ou superdotação, dando

32
preferência à rede regular de ensino; alfabetizar todas as crianças até o
terceiro ano do ensino fundamental; entre outras (BRASIL, 2014).

As metas são ousadas e, obviamente, contemplaria os direitos infanto-


juvenis para a educação de forma ampla. Contudo, assim como nas
demais política públicas, o desafio não envolve a escrita do texto legal,
embora, cada vez mais, é preciso ampliar discussões para se garantir
direitos. A questão centra-se na execução das políticas públicas pelos
entes federativos, mas não somente. Quando nossos representantes
não cumprem o que a lei determina, a democracia nos possibilita
reivindicar que políticos eleitos pelo voto popular cumpram seus
deveres. Entretanto, é isso que temos presenciado em nosso cotidiano?
Mobilização social em busca de garantia de direitos? Quantas vezes
ouvimos da própria população a reprodução dos discursos sobre a
marginalidade dos movimentos sociais? Essa discussão não tem partido,
pois a democracia não está relacionada ao lado A ou B. Democracia é
um direito conquistado duramente e que necessita de engajamento da
população, independentemente de suas convicções individuais, para se
manter viva.

Isso nos mostra que não basta um coletivo de legisladores elaborarem


normativas, se a cultura de luta e de reivindicação não se estabelecer em
nosso país. Essa mobilização precisa partir de nós. O que você tem feito
para contribuir com a execução das políticas públicas em seu município?

Referências Bibliográficas
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Constituição da República Federativa do Brasil de 1988. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso: em 20 maio
2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Lei n. 8.069 de 13 de julho de 1990. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/leis/l8069.htm. Acesso em: 20 maio 2020.

33
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria
Nacional de Assistência Social. Política Nacional de Assistência Social PNAS/ 2004.
Norma Operacional Básica NOB/SUAS. Brasília, 2005. Disponível em: http://www.
mds.gov.br/webarquivos/publicacao/assistencia_social/Normativas/PNAS2004.pdf.
Acesso em: 20 maio 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Emenda Constitucional n. 53 de 19 de dezembro de 2006. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc53.htm. Acesso em:
20 maio 2020.
BRASIL. Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome. Secretaria
Nacional de Assistência Social. LOAS Anotada: Lei Orgânica da Assistência Social.
Brasília, 2009. Disponível em: https://www.mds.gov.br/webarquivos/publicacao/
assistencia_social/Normativas/LoasAnotada.pdf. Acesso em: 20 maio 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Emenda Constitucional n. 65 de 13 de julho de 2010. Disponível em: http://www.
planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc65.htm#art1. Acesso em:
20 maio 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Lei n. 13.005 de 25 de junho de 2014. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_ato2011-2014/2014/lei/l13005.htm. Acesso em: 20 maio 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Emenda Constitucional n. 90 de 15 de setembro de 2015. Disponível em: http://
www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/Emendas/Emc/emc90.htm. Acesso em:
20 maio 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Lei n. 13.257 de 08 de março de 2016. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2015-2018/2016/Lei/L13257.htm#art19. Acesso em: 20 maio 2020.
BRASIL. Presidência da República. Casa Civil. Subchefia para Assuntos Jurídicos.
Lei n. 13.798 de 3 de janeiro de 2019. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/
ccivil_03/_Ato2019-2022/2019/Lei/L13798.htm#art1. Acesso em: 20 maio 2020.

34
Prevenção e promoção da
saúde mental em crianças e
adolescentes
Autoria: Cláudia Capelini Picirilli
Leitura crítica: Luiza Elena Casaburi

Objetivos
• Compreender o conceito de prevenção em saúde
mental.

• Compreender o conceito de promoção em saúde


mental.

• Identificar os fatores de risco que impactam na


saúde mental infanto-juvenil

35
1. Prevenção e promoção da saúde mental em
crianças e adolescentes.

A saúde mental é compreendida como estado de bem-estar em que


o indivíduo identifica suas potencialidades e consegue lidar com as
situações estressantes da vida, agindo no mundo de forma produtiva
e sendo capaz de contribuir de forma positiva com a sua comunidade
(OMS, 2001 apud MATSUKURA et al., 2012).

Prevenir e promover são dois verbos importantes quando tratamos


do tema saúde, pois, além de contribuir com a qualidade de vida das
pessoas, pode favorecer a redução de custos dos tratamentos tanto
para o sistema, público ou privado, quanto para a população (NALLE
JUNIOR et al., 2013; ALVES; UGÁ; PORTELA, 2016).

Contudo, quando falamos em saúde mental infanto-juvenil, esses dois


verbos ganham desafios maiores, pois alguns estudos recentes têm
apontado a influência do meio na saúde ou adoecimento mental de
crianças e adolescentes (FREITAS-SILVA; ORTEGA, 2016). Logo, tratar de
prevenção e promoção em saúde mental infanto-juvenil demandará
também o olhar para os adultos que compõem a vida desses sujeitos,
tanto nos microssistemas sociais (família, comunidade local, escola etc)
como no macrossistema (Estado).

1.1 Desafios da modernidade

A temática saúde mental infanto-juvenil divide muitas opiniões.


De um lado há quem defenda a influência da herança genética e a
centralidade no processos biológicos para o desenvolvimento dos
transtornos mentais, outros afirmam que é o ambiente em que o
sujeito vive produz o adoecimento. Há ainda os que defendem não
haver transtornos psíquicos, sendo os diagnósticos frutos da indústria
farmacêutica. De fato, a indústria fatura bilhões todos os anos com a

36
venda de medicamentos psicotrópicos, e a população infanto-juvenil é
alvo certeiro. Contudo, negar a existência de sofrimento psíquico não é o
caminho para o cuidado.

Estamos imersos em uma era veloz que tem nos impossibilitado


de experimentar a vida de forma integral. Os pais não têm tempo,
as crianças, muitas vezes, também não. As tecnologias adentram o
ambiente familiar, todos estão conectados com o mundo virtual, mas
como estão se estabelecendo as relações reais? Pensar em prevenção e
promoção de saúde é também analisar e compreender o estilo de vida
da sociedade atual.

Zygmunt Bauman, sociólogo e filósofo falecido em 2017, cunhou o


termo modernidade líquida para descrever a pós-modernidade. Nessa
modernidade, nada é produzido para ter vida longa, nem as relações
entre as pessoas, nem destas com as instituições, nem tampouco os
objetos de consumo.

Bauman (2007) afirma que, na era moderna, as instituições, as relações,


as construções sociais e políticas eram mais inflexíveis e, portanto,
sólidas. Com a pós-modernidade, que ele denominou de modernidade
líquida, a maneira como nos relacionamos mudou drasticamente:

Ou seja, para uma condição em que as organizações sociais (estruturas


que limitam as escolhas individuais, instituições que asseguram a repetição
de rotinas, padrões de comportamento aceitável) não podem mais
manter sua forma por muito tempo (nem se espera que o façam), pois se
decompõem e se dissolvem mais rápido que o tempo que leva para moldá-
las e, uma vez reorganizadas, para que se estabeleçam (BAUMAN, 2007, p.
7).

Bauman (2007) tece uma leitura muito ampliada sobre o impacto dessas
relações líquidas no cotidiano humano, incluindo os aspectos das
individualidades e da coletividade. Esse mundo líquido está intimamente

37
relacionado à globalização e, obviamente, à produção capitalista de bens
e consumo.

Os produtos se constituem, cada vez mais, como bens não duráveis. A


vida flui rapidamente, tudo se moderniza e o sistema nos convoca às
atualizações constantes: ter o último modelo de celular ou o carro mais
moderno, por exemplo, é o marketing do milênio, pois vincula os verbos
ter e ser (construindo a lógica capitalista se eu tenho, eu sou).

Quando adquirimos novos produtos, descartamos os antigos,


produzimos lixo. Essa lógica da aquisição rápida e do descarte na mesma
velocidade também se aplica às relações humanas. Percebemos que as
amizades já não se estendem mais, os relacionamentos amorosos não
se sustentam, as pessoas também se tornaram objetos de consumo
e descarte, não que isso seja novidade nas relações humanas, mas
agora vê-se essa essência relacional em ritmo frenético. As relações
são líquidas e escorrem por entre os dedos, não permanecem. Essas
relações fluidas, mas, muitas vezes, sem sentido, se aplicam em diversos
âmbitos da vida cotidiana.

Essa liquidez faz parte da volatilidade da vida em tempos tecnológicos,


produz avanços, sem dúvidas, mas, inevitavelmente, provoca intensos
sofrimentos. A incerteza de um mundo de relações que se esvaem por
entre as mãos, eclode em adoecimento, especialmente entre crianças
e adolescentes que nasceram imersos nessa nova era. Como prevenir
adoecimento psíquico num mundo de relações não duráveis?

38
Figura 1 – Líquido escorrendo pelas mãos

Fonte: ValuaVitaly/ iStock.com.

1.2 Prevenção em saúde mental infanto-juvenil

Prevenir, de acordo com o dicionário, significa antecipar-se, precaver-


se (MELHORAMENTOS, 2006). Quando tratamos da necessidade de
prevenção em saúde mental, do que estamos falando? Esse é um tema
ainda polêmico, divisor de opiniões, porque, em nome da prevenção,
corremos o risco de criar estereótipos e de produzir ainda mais
sofrimento e estigma. Talvez você se pergunte: como?

Antes de ser publicada a quinta edição do Manual Diagnóstico e


Estatístico de Transtornos Mentais (DSM-5), uma questão veio à tona.
Pesquisadores e cientistas discutiam incluir como critério diagnóstico a
Síndrome Psicótica Atenuada, que seria um pré-diagnóstico (ou melhor,
uma avaliação do que foi denominada como estados mentais de risco)
para os quadros psicóticos, especialmente a esquizofrenia, e abarcaria

39
alguns sinais e sintomas que pudessem indicar uma futura abertura de
quadro psicopatológico. A proposta foi rejeitada e não incluída como
critério, especialmente “pela falta de dados sobre a confiabilidade
diagnóstica da categoria” (YUNG et al. 2012 apud GONÇALVES; DANTAS;
BANZATO, 2015, p. 146) e também porque alguns estudiosos, de acordo
com Gonçalves (2016), demonstraram preocupação em relação ao
estigma e à prescrição inadequada de antipsicóticos.

Ainda de acordo com Gonçalves (2016), há estudos que indicam que


entre cinco e 17% da população geral poderão apresentar sintomas
psicóticos durante a vida, sem que essas manifestações efetivamente
necessitem de uma intervenção clínica. Desse modo, se seguíssemos
os critérios para o diagnóstico da Síndrome Psicótica Atenuada, muitas
dessas pessoas seriam medicadas e tratadas desnecessariamente.

Com esse fato, podemos perceber o quanto o tema da prevenção


é delicado. Estabelecer critérios pressupõe o estabelecimento de
valores que determinam o que é saudável e o que é adoecido. Esses
valores precisam ser amplamente compreendidos, pois contém
inúmeros interesses associados (não somente financeiro, mas também
relacionadas aos padrões de normalidade estabelecidos por uma
sociedade em determinada época). Contudo, o tema da prevenção é
necessário. Pensar possibilidades para evitar o sofrimento psíquico
incapacitante, ou prevenir seus agravos, é fundamental para as relações
humanas, para a qualidade de vida, para o trabalho e a produção do
cotidiano. Prevenir o que, se há tantas explicações para o surgimento
dos transtornos mentais?

Para pensar a prevenção em saúde mental, é necessário partir de


algum recorte e, ao recortar, estamos cientes de que escolhemos olhar
para um prisma e deixar inúmeros outros. Sendo necessário, portanto,
escolher um rumo para ser problematizado, partiremos de dois pontos:
a genética e o ambiente, caminhando de forma integrada.

40
Não podemos negar o impacto do genoma no surgimento das doenças
(físicas ou psíquicas), mas também não podemos negar que o ambiente
em que vivemos poderá produzir intenso sofrimento, independente
de nossa herança genética (ou, contrariamente, poderá prevenir seu
aparecimento), como nos apontam Freitas-Silva e Ortega (2016).

Uma prova disso é o aumento exponencial de quadros depressivos no


século XXI. Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), estima-
se que mais de 300 milhões de pessoas no mundo sofram desse
transtorno, sendo esta a principal causa de incapacidade em nível global
(OPAS; OMS, 2018).

Esse dado nos leva a refletir sobre a relação entre adoecimento psíquico
e a forma como vivemos. Viapiana, Gomes e Albuquerque (2018)
buscaram compreender essa relação dando ênfase às organizações
de trabalho e concluíram que os desgastes derivados do capitalismo
contemporâneo contribuem para o surgimento dos transtornos mentais.

Analisar criticamente o meio em que vivemos, como fizeram Viapiana,


Gomes e Albuquerque (2018), pode se constituir uma via para a
prevenção do adoecimento, não do sofrimento, porque este é inerente à
condição humana.

Aqui, cabe uma observação: quando, neste texto, aparece o termo


sofrimento psíquico, é importante registrar que não estamos
abordando sofrimentos cotidianos, mas sofrimentos incapacitantes,
que impossibilitam as pessoas de seguirem com o fluxo da vida, que as
impede de construir laços sociais, de trabalhar ou de estudar, que as
fazem perder o sentido da existência. É desse sofrimento que estamos
tratando aqui.

Estudos apontam que uma entre quatro a cinco crianças e adolescentes,


no mundo, sofrem de algum transtorno psíquico (PATEL, FLISHER,
HETRICK & MCGORRY, 2007 apud SÁ et al., 2010). Como sabemos, ao

41
longo de nosso desenvolvimento, somos atravessados por inúmeras
influências: questões de ordem biológica, social, psicológica e genética.
Entretanto, alguns fatores são considerados de risco para o surgimento
das psicopatologias infanto-juvenis.

Pesquisa realizada no município de Campos do Jordão, estado de São


Paulo, identificou três fatores de risco significativos para o adoecimento
em saúde mental infanto-juvenil, a saber: pobreza, violência familiar e
adoecimento mental materno. Por meio da aplicação de instrumentos
específicos, a pesquisa apontou que o número de adoecimento em
pessoas que viviam nas favelas era maior do que naqueles que viviam
na área urbana ou rural (SÁ et al., 2010).

Pobreza, violência familiar e adoecimento materno são três sinalizadores


passíveis de intervenção, se houver políticas públicas adequadas e
bem executadas para estes fins. Ainda os autores, apontam que mães
deprimidas estimulam menos seus filhos, ofertam menos afetos e estão
menos atentas às suas necessidades. Portanto, prevenir agravos ou
adoecimentos psíquicos infanto-juvenis é também intervir na situação
emocional dos adultos responsáveis pelos cuidados desses sujeitos.

Contudo, quando nos aprofundamos neste tema, percebemos o


quanto seu adoecimento está vinculado também às violências de
gênero vivenciadas. A literatura reconhece que mulheres vítimas de
violência (física, psicológica, sexual ou outras) tendem a desenvolver
quadros psicopatológicos, especialmente os vinculados à depressão, aos
transtornos pós-traumáticos, transtornos ansiosos e às tentativas de
suicídio (BARBOSA; DIMENSTEIN; LEITE, 2014; PEDROSA; ZANELLO, 2016;
MEDEIROS; ZANELLO, 2018).

Soma-se à violência familiar o uso abusivo de álcool e outras drogas,


que também potencializam as relações agressivas entre genitores e
entre estes e seus filhos. De acordo com Figlie et al. (2004), filhos de
pais dependentes químicos apresentam menores escores em testes

42
cognitivos quando comparados às crianças cujos genitores não fazem
uso abusivo de álcool ou outras drogas. Isso porque, para os primeiros,
constatou-se que a habilidade para se expressar torna-se prejudicada,
dificultando seu processo de aprendizado e potencializando seu
sofrimento. A questão do uso de drogas está vinculada ao aumento
da violência intrafamiliar, mas também à diminuição do estímulo
positivo à criança ou adolescente. Portanto, crianças imersas nesses
cenários apresentariam probabilidade maior de desenvolver quadros de
sofrimento intenso.

Outros estudos que corroboram com esses achados, apontam que os


fatores de risco associados ao contexto familiar englobam: baixa renda,
baixa escolaridade dos genitores, alto nível de estresse no ambiente
familiar, pouco suporte social, relacionamento conflituoso entre os pais,
depressão e outros transtornos psíquicos nos genitores (FLEITLICH;
GOODMAN, 2000; HALPERN; FIGUEIRAS, 2004 apud MATSUKURA et al.,
2012).

Em resumo, os fatores de risco podem ser divididos em biológicos, como


a desnutrição, infecções, exposição à ambiente insalubre, entre outros;
genéticos, relacionados à história genética de cada família; psicossociais,
que incluem os conflitos parentais, o envolvimento com a criminalidade
por parte de um (ou ambos) genitor, ausência de laço afetivo,
adoecimento psíquico materno ou paterno, entre outros; eventos
estressantes, como morte ou separação familiar; exposição à situações
de maus-tratos e violência; e ambientais, relacionados à comunidade
em que as crianças e os adolescentes estão inseridos (BORDIN; PAULA,
2007; UNITED STATES DEPARTMENT OF HEALTH AND HUMAN SERVICES,
1999 apud RAMIREZ et al., 2002).

O contraponto dos fatores de risco são os fatores de proteção. Para


minimizar o impacto das vulnerabilidades vividas, é fundamental que
crianças e adolescentes possam contar com uma rede protetiva de
cuidados. Essa rede pode se desenhar no sentido familiar, geralmente,

43
incluindo a família extensa (avós, tios etc) ou comunitário, que envolve
tanto vizinhos e figuras de cuidado extrafamiliar, como instituições
(escola, instituição religiosa, serviços de saúde, serviços de convivência
familiar e comunitária, atividades esportivas, entre outros). Quanto
maior for a rede protetiva da criança e do adolescente, menores serão
os impactos dos fatores de riscos existentes.

Portanto, a prevenção em saúde mental nos indica a necessidade


de intervenção em múltiplos contextos (culturais, sociais, políticos e
familiares) e demanda a integração das ações de enfrentamento aos
fatores de risco e de fortalecimento dos fatores protetivos.

1.3 Promoção em saúde mental infanto-juvenil

Promover significa “dar impulso, fomentar, trabalhar a favor”


(MELHORAMENTOS, 2006, p. 416). Trabalhar a favor da saúde mental
da população infanto-juvenil é ofertar possibilidades para desenvolver
suas potencialidades, suas ações criativas, para estabelecer relações
saudáveis entre os pares e a sociedade.

Por muito tempo, no Brasil, a saúde mental infanto-juvenil foi


negligenciada. Após a luta antimanicomial, movimento que teve início
na década de 1970, baseado na experiência italiana, e que inaugurou
a desconstrução do modelo asilar e manicomial de assistência à saúde
mental, muito se investiu em modelos substitutivos para o atendimento
à população adulta, como as residências terapêuticas e os Centros de
Atenção Psicossociais (CAPS). Contudo, apesar da Portaria n. 336/2002,
do Ministério da Saúde, prever a criação de dispositivos infanto-
juvenis (CAPSij), Couto e Delgado (2015) apontam a incipiência desses
equipamentos no Brasil.

Essa incipiência também pode ser observada quando realizamos


pesquisa no sistema DATASUS. Por meio dessa base de dados do
Ministério da Saúde, podemos identificar a quantidade de CAPSij

44
cadastrados no país. Utilizando os descritores CAPSij, CAPSi, CAPS
infanto juvenil, Centro de Atenção Psicossocial Infantil e Centro
de Atenção Psicossocial Infanto Juvenil, identificamos apenas 203
estabelecimentos de administração pública cadastrados em todo país
(MINISTÉRIO DA SAÚDE, 2019). Contudo, quando utilizamos somente
o descritor CAPS, aparecem 3062 estabelecimentos sinalizando a
problemática apontada por Couto e Delgado (2015).

Vamos nos concentrar nas ações que podemos desenvolver para


promover ações de saúde mental nos microssistemas, uma vez que
os interesses políticos nem sempre estão ao nosso alcance (apesar da
democracia nos possibilitar questionamentos).

Merhy (1997), médico, pesquisador e autor de múltiplos trabalhos a


respeito do Sistema Único de Saúde (SUS), desenvolveu uma divisão
interessante sobre as tecnologias que envolvem o cuidado em saúde.
Segundo ele, essas tecnologias podem ser classificadas em leves,
duras e leve-duras. As tecnologias leves seriam aquelas que envolvem
as relações humanas, o encontro sujeito-sujeito; as duras são as que
envolvem exames e aparatos tecnológicos para diagnóstico; e as leve-
duras uma combinação entre ambas e que possibilita a reflexão sobre a
necessidade do sujeito, podendo tender para a tecnologia dura ou leve.

No campo da saúde mental, pode-se afirmar que, apesar de todas essas


tecnologias serem importantes, as consideradas leves são fundamentais
para a promoção da saúde, pois é no encontro com o outro que a
construção de vínculo e de confiança se tornam possíveis. Sem vínculo,
não há possibilidade de cuidado. Se não confiarmos no profissional que
nos atende, como poderemos seguir suas orientações terapêuticas?

As tecnologias leves, tão fundamentais para o trabalho de promoção em


saúde, encontram um campo árido a ser semeado.

45
Na prática cotidiana dos serviços de saúde, deve-se priorizar a tecnologia
leve como instrumento para atingir a integralidade e a humanização
do cuidado. Essa prática pode ser fundamentada no acolhimento, no
diálogo, no vínculo, na corresponsabilidade e na escuta ativa entre
profissional e usuário dos serviços de saúde. Isto porque a integralidade
está presente no encontro, na conversa, na atitude do profissional que
busca prudentemente reconhecer, para além das demandas explícitas, as
necessidades dos cidadãos no concernente à sua saúde. A integralidade
está presente também na preocupação desse profissional com o uso
das técnicas de prevenção, tentando não expandir o consumo de bens e
serviços de saúde, nem dirigir a regulação dos corpos (GOMES; PINHEIRO,
2009 apud JORGE et al., 2011, p. 3052).

A integralidade de que tratam os autores é a construção de um olhar


ampliado para as necessidades dos sujeitos. Ao ouvirmos a demanda do
outro de modo amplo estaremos atuando, direta ou indiretamente, na
prevenção ao agravo ou adoecimento psíquico e na promoção em saúde
mental. Em termos práticos, como podemos promover ações de saúde
mental infanto-juvenis?

Possibilitar que as crianças e os adolescentes expressem seus


sentimentos, ajudando-os a colocar em palavras o que pensam diante
de determinada situação ou como se sentem quando algo lhes acontece.
É fundamental auxiliá-los expor seus afetos, entrar em contato com
suas tristezas e angústias, ajudando-os a não atuar (a não sinalizar, pela
via do comportamento, seu sofrimento). Por exemplo, uma criança que
agride o colega, pode estar sinalizando que é vítima de violência, por
isso, é importante compreender mais do que o comportamento que se
apresenta.

Explicitando de forma mais detalhada: no caso de crianças, elaborar


uma caixa para depositar os sentimentos poderá ser um recurso
interessante. Nessa atividade, sugere-se que esta caixa seja
confeccionada pela criança, juntamente com o adulto que lhe explicará

46
que ali serão depositados seus sentimentos, seus afetos e medos
(explicar a ela a diferença entre eles).

Se a criança souber escrever, poderá utilizar este recurso para expressar


suas emoções. Se não souber, ou se desejar, poderá fazer um desenho
ou buscar uma figura (pode-se utilizar revistas) que simbolize o que
está sentindo. Feito isso, deposita o que produziu dentro da caixa e, em
seguida, entrega-a para um adulto confiável, que possa acolher o que
ela fez e, a partir de então, abrir o diálogo. Por vezes, a criança pode não
querer mostrar o que depositou logo após a atividade e, nesse caso, é
importante o adulto ofertar o tempo necessário para que a confiança se
estabeleça, mantendo-se atento aos seus comportamentos.

No caso dos adolescentes, os diários podem ser um instrumento


interessante de expressão de sentimentos. Nesses diários, também
podem ser utilizados desenhos e figuras que retratem suas emoções. A
lógica de entrega do que foi produzido a um adulto é a mesma aplicada
à caixa de sentimentos das crianças.

Formas de expressão como as artes (desenho, dança, teatro, música)


podem facilitar a canalização e o entendimento dos sentimentos
mobilizados e contribuir para a promoção da saúde mental. Espaços
de compartilhamento de experiências também são importantes,
especialmente aos jovens, pois possibilitam a identificação com o outro,
a construção do sentimento de pertencimento e a divisão das angústias
com seus pares.

Outra possilidade de trabalho é a seguinte: reunir de quatro a seis


adolescentes. Nesse grupo, sugere-se que todos escrevam em pequenos
pedaços de papel os temas de seus interesses. Deixe à disposição
materiais como tesoura, cola, revistas para recortes, canetinhas, lápis de
diversas cores (o que for possível dentro de sua realidade profissional).
Esses papeis são recolhidos pelo profissonal. Para quebrar o gelo que
pode haver entre os jovens, pode-se pedir que um dos adolescentes

47
sorteie um tema. Em seguida, sugere-se que desenhem ou trabalhem
com colagem, de forma individual ou em grupo, o que vier à cabeça, a
partir do que foi sorteado. Ao final, o profissional poderá perguntar: o
que motivou a fazer tal desenho ou colagem?. O que você sente quando
olha para ele? Como é para você entrar em contato com este tema?Essas
são apenas algumas sugestões de perguntas que podem disparar o
diálogo.

Com crianças, pode-se elaborar cartões a partir de temas relacionados


aos afetos. Você poderá recortar pequenas cartas (pode-se utilizar o
padrão de uma carta de baralho, ou um pouco maior) com papel A4
ou cartolina. Utilizando-se de materiais como lápis de cores, canetinha
e outros, pede-se para que cada criança desenhe em seu cartão um
sentimento (ou uma cena que represente um sentimento). Depois,
embaralha-se as cartas, como em um jogo, e distribui aleatoriamente
para cada uma das crianças, pedindo para que diga o que está vendo.
Se alguma carta possibilitar, pode-se perguntar: como você agiria nessa
situação?

O importante não é que o desenho seja bem feito, mas que as


crianças se expressem, por meio da elaboração das cartas, e também
coloquem-se nos lugares umas das outras ao verbalizar o que fariam
em determinada situação ou ao descrever o que estão vendo. Cabe ao
profissional de saúde mental explorar essas falas, fazendo perguntas a
partir dos conteúdos que forem emergindo, conduzindo as crianças para
o contato com os afetos e buscando construir saídas saudáveis para
determinadas situações.

Uma outra sugestão é que, no lugar do desenho nas cartas, o


profissional apresente imagens (vídeos ou recortes) de situações que
deseja trabalhar com as crianças. Após a apresentação, pode perguntar:
o que vocês fariam? Como vocês se sentiriam se estivessem nessa
situação? São alguns exemplos.

48
No âmbito escolar, é fundamental que professores, coordenadores,
diretores e demais trabalhadores, estejam preparados para ouvir as
demandas internas dos estudantes, possibilitando entrar em contato
com seus afetos, sem negá-los, mas trazendo-os à consciência de forma
construtiva.

Na escola, também podem ser utilizados os recursos descritos acima. No


caso dos adolescentes, pode-se trabalhar com músicas. O profissional
escolhe uma música disparadora do tema a ser dialogado ou solicita que
os próprios adolescentes indiquem músicas de suas preferências. Outra
atividade interessante é compor uma música juntamente com eles.

Para atividades desse tipo, sugere-se um grupo de, no máximo, seis


adolescentes para que o profissional tenha condições de escutar as
demandas individuais.

No âmbito comunitário, as instituições religiosas também têm uma


função muito importante na promoção de saúde mental, ao abordar o
tema do adoecimento com seus frequentadores, trazendo informações
importantes que sinalizem a necessidade de um cuidado que se soma à
fé, mas que não pode ser anulado por ela.

O cultivo da espiritualidade é um fator protetivo significativo, alvo de


muitas pesquisas científicas, como: RODRIGUEZ-YUNTA (2016); SOARES
e AMORIM (2015); PERES et al. (2007); PANZINI e BANDEIRA (2007).
Entretanto, é necessário que líderes religiosos não produzam a alienação
de seus seguidores, como quando os convencem a abandonar os
tratamentos científicos em nome da religião.

No âmbito do esporte e do lazer, desenvolver atividades que trabalhem


a cooperação, a empatia, o respeito mútuo, a construção coletiva, a
solidariedade também pode construir rede protetiva e promover saúde
mental, tanto na infância e adolescência como para adultos (SILVA et al.,
2019; FURTADO et al., 2018; CEVADA et al., 2012; FONSECA, 1997).

49
No âmbito familiar, sugere-se estimular a escuta, buscando
compreender o momento de vida de crianças e adolescentes ao
mesmo tempo em que apresenta-se dados de realidade e limites,
que são importantes para que compreendam o funcionamento dos
sistemas sociais, contudo, estimulando a expressão de seus afetos, o
compartilhamento das dúvidas, procurando construir a abertura de
diálogos saudáveis.

As atividades propostas anteriormente também poderão ser aplicadas


no contexto familiar em que os responsáveis, ao produzir as atividades
aos lado de crianças e adolescentes, aproximam-se deles, possibilitando
a abertura para o diálogo.

Assim, compreendemos que, independentemente do lugar e do


momento, trabalhar a prevenção e a promoção da saúde mental infanto-
juvenil dependerá dos adultos envolvidos. A prevenção e a promoção
em saúde são um rico e precioso mosaico composto por inúmeras
experiências e múltiplos atores. Não se realizam sozinhas, nem se
sustentam na lógica das relações fluidas de um ambiente líquido.

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53
Principais transtornos na infância
e adolescência.
Autoria: Cláudia Capelini Picirilli
Leitura crítica: Luiza Elena Casaburi

Objetivos
• Conhecer as principais psicopatologias na infância e
adolescência, visando a aplicação na prática clínica.

• Diferenciar as psicopatologias infanto-juvenis.

• Compreender os múltiplos fatores que envolvem o


diagnóstico em saúde mental infanto-juvenil.

54
1. Compreendendo o que envolve a elaboração
do diagnóstico psicopatológico

Em tempos de diagnósticos indiscriminados e de medicalização da vida


de crianças e adolescentes, é fundamental compreender que antes de
elaborar uma hipótese psicodiagnóstica se faz necessário analisar a
dinâmica cotidiana dos sujeitos.

O que nomeamos aqui como diagnósticos indiscriminados, Frances


(2015 apud MARTINHAGO, 2017, p.38) denomina como inflamação
diagnóstica. Segundo Martinhago (2017), o que tratamos, muitas vezes,
não são as doenças, mas as dificuldades que fazem parte do cotidiano
das pessoas porque, prossegue a autora, somos levados a acreditar que
não seremos capazes de retomar o equilíbrio natural de nosso corpo e,
assim, nos medicamos.

Quando uma pessoa relata conversar com entidades divinas, por


exemplo, antes de pensar sobre quadros psicóticos, o profissional deve
compreender se esse sujeito está vinculado a alguma cultura religiosa
que fundamente a experiência que relata viver. Se ignorarmos essas
informações, corremos um sério risco de alimentarmos o movimento de
patologização da vida e reduzir as amplas vivências humanas à sinais e
sintomas que podem ser medicados.

Entretanto, os transtornos mentais existem e são inúmeros os estudos


que se dedicam à exploração de suas etiologias. Nessa amplidão
científica, citamos dois deles, caso você se interesse em aprofundar seus
conhecimentos: Polanczyk (2009) e Freitas-Silva e Ortega (2016).

Contudo, apesar disso, os motivos que determinam a eclosão das


psicopatologias ainda são incertos. Alguns estudos caminham para
integrar conhecimentos a respeito da genética e do meio ambiente,

55
apontando que este último pode provocar alterações significativas no
genoma humano, segundo Toledo (2013).

Apesar das incertezas etiológicas, compreender do que sofre (ou seja,


elaborar hipótese psicodiagnóstica) e como este sofrimento afeta a
vida das pessoas é imprescindível para a construção de um projeto
terapêutico singular (PTS) que contemple a realidade e as necessidades
de cada sujeito atendido.

Com relação aos transtornos mentais infanto-juvenis, é importante


registrar que a investigação clínica deve abarcar uma série de fatores
antes de ser finalizada, isso porque crianças e adolescentes estão
em pleno desenvolvimento biopsicossocial e também porque se faz
necessário trazer à luz desta análise os fatores que envolvem o contexto
infanto-juvenil e que são comumente relegados à segundo plano, tais
como a família, a escola e as políticas (COLLARES; MOYSÉS, 1994 apud
MARTINHAGO, 2017).

Entender a importância de outros fatores pode evitar o uso


indiscriminado de psicodiagnósticos que, apesar de serem norteadores
do cuidado, também estão associados ao estigma da loucura, ainda
muito enraizado em nossa sociedade.

Segundo o DSM-5:

Os transtornos mentais são definidos em relação a normas e valores


culturais, sociais e familiares. A cultura proporciona estruturas de
interpretação que moldam a experiência e a expressão de sintomas, sinais
e comportamentos que são os critérios para o diagnóstico (...). A avaliação
diagnóstica, portanto, deve considerar se as experiências, os sintomas e
os comportamentos de um indivíduo diferem das normas socioculturais
e conduzem a dificuldades de adaptação nas culturas de origem e em
contextos sociais ou familiares específicos (APA, 2014, p. 14).

56
Para identificar os aspectos culturais, sociais, as histórias de vida e
familiares, além dos sinais e sintomas, o profissional da saúde mental
poderá utilizar alguns instrumentos, como os descritos a seguir:

• Entrevista inicial e anamnese: constitui-se por entrevista


estruturada ou semiestruturada, no qual levanta-se a queixa inicial,
os antecedentes familiares e pessoais, o histórico da evolução dos
sinais e dos sintomas relatados e as relações sociais do indíviduo,
segundo Dalgalarrondo (2008). Pode ser realizada em mais de um
atendimento.

• Exame psíquico: também conhecido como Exame do Estado


Mental, é a avaliação focada especificamente nos sinais e sintomas
psicopatológico. Segundo Dalgalarrondo (2008), por meio da
entrevista com o paciente, avaliamos os aspectos globais (postura,
vestimenta etc.) e as alterações relacionadas às funções psíquicas
(consciência, atenção, orientação, compreensão de tempo e
espaço, sensopercepção, memória, afetividade, vontade, juízo
de realidade, pensamento, linguagem etc.). Importante destacar
que sinais se referem às manifestações visíveis ao profissional de
saúde, enquanto sintoma refere-se ao relato do sujeito. Portanto,
o primeiro é objetivo (o que você vê enquanto avalia a pessoa) e o
segundo é subjetivo (o que o sujeito relata sentir).

• Genograma: constitui-se de imagem gráfica elaborada pelo


profissional de saúde, a partir dos relatos dos sujeitos atendidos
ou seus familiares. Com ele, é possível identificar os membros da
família e suas dinâmicas relacionais (BRASIL, 2012). O genograma
é composto por símbolos que identificam gênero, sexualidade,
presença de doenças/ psicopatologias, entre outros, e de linhas
que indicam a qualidade das relações entre as pessoas e a
composição do núcleo familiar (BRASIL, 2012).

• Ecomapa: também constitui-se de imagem gráfica, porém,


é utilizado para identificar as relações da família e do sujeito

57
com o meio em que vivem, apontando as ausência de suporte
comunitário e os recursos disponíveis (BRASIL, 2006).

Figura 1 – Símbolos comumente utilizados no genograma

Fonte: WENDT (2008).

Figura 2 – Exemplo de genograma

Fonte: https://commons.wikimedia.org/wiki/File:Genograma_romanov.png. Acesso em: 21


maio 2020.

58
2. Os principais transtornos mentais infanto-
juvenis

2.1 Infância: transtornos do neurodesenvolvimento

Segundo Boarati, Pantano e Scivoletto (2016), os transtornos do


neurodesenvolvimento compõem um grupo no qual a característica
fundamental é o surgimento na infância. De acordo com o DSM-5 (APA,
2014), esse grupo compreende seis diagnósticos distintos, porém, alguns
sinais e sintomas podem ser observados em vários deles.

Os diagnósticos que compõe esse grupo são: o transtorno do


desenvolvimento intelectual; os transtornos da comunicação; o
transtorno do espectro autista (TEA); os transtornos motores do
desenvolvimento; o transtorno do déficit de atenção e hiperatividade; e
os transtornos de aprendizagem.

Em linhas gerais, o transtorno do desenvolvimento intelectual


(também conhecido como deficiência intelectual–DI) engloba déficits nas
capacidades mentais (raciocínio, planejamento, pensamento abstrato,
aprendizagem etc.), que provocam prejuízos na adaptação cotidiana dos
sujeitos, fazendo com que mesmo na vida adulta a pessoa não consiga
desenvolver independência ou responsabilidade em uma ou mais
situações de sua vida diária. Esse transtorno pode ser considerado leve,
moderado, grave ou profundo, dependendo do impacto que os sinais e
sintomas produzem na autonomia das pessoas (APA, 2014).

O surgimento do quadro pode estar associado a questões genéticas


(como problemas cromossômicos) e influências ambientais (uso de
álcool e outras drogas na gestação, questões relacionadas ao parto etc).
Pode também estar associado à lesão cerebral traumática, doenças
convulsivas, graves privações sociais (falta de estímulo), intoxicações por
chumbo e mercúrio, entre outras (APA, 2014).

59
Os transtornos da comunicação incluem: transtorno da linguagem,
da fala, da comunicação social (pragmática) e da fluência com início na
infância (gagueira). Ainda de acordo com o DSM-5 (APA, 2014), os três
primeiros estão relacionados à prejuízos no desenvolvimento e no uso
da linguagem, da fala e da comunicação respectivamente.

Por sua vez, o transtorno da fluência se caracteriza por prejuízos na


fluidez da fala, na emissão de sons e sílabas, na interrupção ou bloqueio
ao pronunciar as palavras. (APA, 2014).

Um dos diagnósticos mais conhecidos, e que tem sido amplamente


discutido na sociedade, é o Transtorno do Espectro Autista (TEA).
As principais características desse diagnóstico são os prejuízos na
comunicação e na interação social, além de comportamentos, interesses
e atividades restritas e repetitivas.

Anteriormente à publicação da quinta edição do DSM, os diagnósticos


desse grupo eram divididos em: autismo infantil, síndrome de Asperger,
transtorno desintegrativo do desenvolvimento e transtorno global do
desenvolvimento. Contudo, após a última revisão deste manual, essas
categorias passaram a compor o amplo espectro relacionado ao autismo
e são divididos em três níveis, segundo a APA (2014), exigindo: 1) apoio;
2) apoio substancial; 3) apoio muito substancial.

A edição anterior tratava também da Síndrome de Rett, que permaneceu


como diagnóstico separado por sua condição genética (BOARATI;
PANTANO; SCIVOLETTO, 2016).

Os sintomas relacionados ao espectro autista são comumente


observados no segundo ano de vida, apesar de haver indícios antes
mesmo da criança completar um ano de idade. Importante sinalizar que
as crianças/adolescentes apresentam importante sensibilidade aos sons
e luminosidade, além de muita dificuldade em lidar com mudanças de
rotina. A etiologia do TEA ainda é alvo de muitas discussões.

60
Os transtornos motores do desenvolvimento incluem, segundo o
DSM-5:

• Transtorno do desenvolvimento da coordenação: está


relacionado à insuficiência na aquisição e execução de habilidades
motoras, manifestando-se por meio de lentificação ou imprecisão
motora, causando prejuízos na vida diária das crianças (APA, 2014).

• Transtorno do movimento estereotipado: está relacionado à


produção de movimentos repetitivos, que parecem ser executados
sem objetivo, tais como balançar as mãos, morder-se, entre outros
(idem).

• Transtorno de tique: podem ser motores ou vocais e ocorrem


de modo repentino, de forma rápida e recorrente, mas não são
estereotipados e não apresentam ritmo, ainda de acordo como
DSM-5 (APA, 2014). Dentre esses, encontra-se o diagnóstico de
Transtorno de Tourett, que envolve a presença de múltiplos
tiques motores e vocais, por pelo menos um ano (idem).

Segundo a APA (2014), os transtornos motores podem se desenvolver


quando a gestante faz uso de álcool e em crianças nascidas pré-termo e
com baixo peso e, no caso do movimento estereotipado, podem eclodir
a partir do isolamento social e do estresse provocado pelo ambiente.
Ainda segundo os autores, esses movimentos são comuns em pessoas
com deficiência intelectual de moderada a grave/profunda e, no caso do
tique, há uma correlação com quadros ansiosos.

Outro ponto importante, destacado pelo DSM-5, é que a criança pode


aprender a repetição dos movimentos ao observar um adulto de sua
referência que apresente transtorno de tique.

O transtorno do déficit de atenção e hiperatividade (TDAH)


envolve prejuízos na atenção e na organização da vida, podendo incluir
comportamento hiperativo e impulsivo (APA, 2014).

61
É necessário que os prejuízos estejam presentes em mais de um
ambiente frequentado pela criança e que sejam significativos. Segundo
Boarati; Pantano e Scivoletto (2016) quando não diagnosticado
corretamente o quadro pode evoluir para outras complicações
psiquiátricas, como questões relacionadas ao comportamento disruptivo
(transtorno de conduta, por exemplo) e à relação abusiva com álcool e
outras drogas.

De acordo com o DSM-5 o surgimento do TDAH está associado à


presença de afetividade negativa familiar, muito baixo peso ao nascer
(ampliando significativamente o risco), à vivências relacionadas ao abuso
infantil, negligência, múltiplos lares, exposição à chumbo, infecções
(como encefalite), uso de álcool pela gestante, entre outros (APA, 2014).

Por fim, os transtornos de aprendizagem são observados quando


há déficits na habilidade para processar ou perceber informações
com precisão, por isso, são melhor observados nos anos iniciais
da escolaridade e caracterizam-se pela dificuldade persistente no
desenvolvimento de habilidades básicas, como leitura, escrita e/
ou matemática, segundo a APA (2014). Essas dificuldades impactam
profundamente no desempenho da criança, produzindo importantes
prejuízos que podem se estender à vida adulta. Podem ser classificados
como leve, moderado ou grave (idem).

Ainda segundo o DSM-5, a prematuridade no parto e o baixo peso


ao nascer são fatores de risco associados a este transtorno, além
dos aspectos hereditários, sendo observados com mais frequência
em crianças que possuem parentes de primeiro grau também
diagnosticados com transtornos de aprendizagem.

2.2 Outros transtornos mentais infanto-juvenis

Crianças e adolescentes, além dos transtornos já relatados, podem


manifestar transtornos de humor (como depressão e transtorno

62
bipolar), transtornos de ansiedade, transtornos alimentares, entre
outros. Os transtornos relacionados a quadros psicóticos, geralmente,
incidem na adolescência e início da vida adulta, como é o caso da
esquizofrenia.

Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS, 2018), entre 10 e


20% dos adolescentes de todo o mundo apresentam algum tipo de
transtorno mental. Contudo, o grande desafio é sensibilizar familiares e
sociedade para o olhar cuidadoso à manifestação do sofrimento juvenil.
Há certo consenso social de que o adolescente é um sujeito trabalhoso
e difícil e, por isso, muitos são negligenciados e não recebem cuidados
adequados quando sofrem. Entretanto, a mudança deste paradigma
é condição para a preservação da vida dos adolescentes, uma vez que
o suicídio se configura enquanto a segunda causa de morte de jovens
entre 15 e 29 anos (OMS, 2014 apud CICOGNA; HILLESHEIM, 2019),
indicando que estamos impossibilitando que o cuidado chegue em
tempo de garantir a vida (física e psíquica) de tantos jovens.

No Brasil, em uma década, observou-se o crescimento de 40% dos casos


de suicídio entre crianças com 10 e 14 anos de idade e de 33,5%, entre
adolescentes com 15 e 19 anos de idade (BOUZAS; JANNUZZI, 2017).

Esse tema, ainda tabu, tem encontrado espaços de diálogos a partir de


produções artísticas e culturais, como alguns seriados que, apesar de
polêmicos, mobilizam discussões em espaços coletivos como a escola e
os serviços de saúde, possibilitando a problematização desse fenômeno
extremamente grave de nossa sociedade contemporânea.

Outros disparadores dessa discussão, no âmbito social, estão


relacionados à iniciativas como o Centro de Valorização da Vida (CVV),
associação civil sem fins lucrativos, reconhecida como Utilidade Pública
Federal desde 1973 (CVV, 2020), e à agendas específicas de campanha
como o Setembro Amarelo, protagonizada pelo Conselho Federal de
Medicina e pela Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP; CFM, 2019).

63
As causas para o suicídio na adolescência são inúmeras: traços de
impulsividade e agressividade, identificação com pessoas próximas
ou artistas admirados que cometeram suicídio, relações familiares
conflituosas, violência doméstica, abuso físico e sexual, questões
relacionadas à manifestação da sexualidade, problemas interpessoais
(dificuldades para fazer amizades, por exemplo), bullying, característica
perfeccionista e autocrítica exacerbada, além dos fatores associados aos
transtornos mentais, segundo Botega (2015).

A OMS (2018) afirma que a depressão é a nona causa de incapacidade


nessa faixa etária, a ansiedade é a oitava causa.

O DSM-5 classifica os quadros depressivos como Transtorno


Depressivo Maior. Nessa psicopatologia, necessariamente, um dos
sintomas deve ser o humor deprimido ou a perda de interesse/prazer
(podendo existir a manifestação dos dois sintomas). Além desses, mais
quatro dos seguintes devem estar presentes, por um período mínimo
de duas semanas, manifestando-se na maior parte do dia, durante
quase todos os dias: insônia ou hipersonia (aumento do sono); agitação
ou retardo psicomotor; perda ou ganho de peso significativo; fadiga
ou perda de energia; sentimento de culpa ou de inutilidade excessivo;
diminuição na capacidade para raciocinar e se concentrar; pensamentos
recorrentes de morte, ideação suicida recorrente, tentativa de suicídio
ou plano suicida (APA, 2014).

Pode acontecer do quadro depressivo estar associado a um quadro


ansioso. Dentre os transtornos ansiosos, encontram-se as seguintes
psicopatologias, de acordo com a APA (2014):

• Transtorno de ansiedade de separação: produz apreensão ou


ansiedade relacionadas à separação de pessoas com as quais
crianças ou adolescentes desenvolvem forte apego.

64
• Mutismo seletivo: impossibilidade de se expressar verbalmente
em situação sociais.

• Fobia específica: produz medo ou ansiedade diante de objetos ou


situações específicas.

• Transtorno de ansiedade social: constitui-se enquanto medo ou


a ansiedade, diante de situações sociais em que o sujeito sinta-se
avaliado.

• Transtorno de pânico: a pessoa vivencia ataques de pânico


de forma contínua, permanecendo em estado de apreensão e
preocupação constantes.

• Agorafobia: envolve o medo e a ansiedade em algumas situações,


como utilização de transporte público, permanecer em espaços
abertos, estar em lugares fechados, estar no meio de uma
multidão, ficar em fila, estar fora de casa sozinho.

• Transtorno de ansiedade generalizada: como o próprio nome


indica, são situações ansiosas que ocorrem em grande parte da
vida do sujeito.

• Transtorno de ansiedade induzido por substância/


medicamento: relacionado à intoxicação ou abstinência de
substâncias psicoativas ou medicações.

• Transtornos de ansiedade devido a outra condição médica:


cujos sintomas decorrem de outras condições clínicas.

Como descrito anteriormente, outro quadro psicopatológico que poderá


ter início na adolência é a esquizofrenia. Segundo a APA (2014), nesse
diagnóstico, estão contemplados ao menos dois dos seguintes sinais ou
sintomas: delírios, alucinações, discurso desorganizado, comportamento
extremamente desorganizado ou catatônico e sintomas negativos
(diminuição na expressão emocional ou ausência de vontade – avolia).

65
É preciso estar atento porque, de acordo com o DSM-5, em quadros
depressivos graves, pode-se observar a presença de sintomas psicóticos,
devendo ser descartada esta hipótese antes de se atribuir o diagnóstico
de esquizofrenia (APA, 2014). A mesma orientação está incluída na
análise do transtorno esquizoafetivo e do transtorno bipolar, que
comumente se manifestam na vida adulta, mas, eventualmente, podem
surgir na adolescência, de acordo com os autores.

Contudo, deve-se realizar uma análise criteriosa dos sinais e


sintomas das psicopatologias que envolvem alterações de humor e
comportamentos significativas, uma vez que crianças e adolescentes
encontram-se em pleno desenvolvimento físico e emocional.

Esse mesmo cuidado se deve ao se atribuir o diagnóstido de Transtorno


de Personalidade Bordeline na adolescência, pois é preciso considerar
que, nessa fase da vida, a personalidade encontra-se em formação,
exigindo do profissional atenção redobrada ao analisar sinais e sintomas
associados a esta psicopatologia.

Entretanto, apesar de ser um diagnóstico complexo, quando analisado


na perspectiva da adolescência, consideramos importante incluí-lo por
conta da manifestação de um sintoma muito particular, a automutilação,
que tem sido um comportamento recorrentemente observado nesse
período da vida.

No Brasil, não há dados estatísticos sobre a prevalência desse


comportamento na adolescência, mas, no Reino Unido, sua prevalência
encontra-se entre 4,6% e 6,6%, sendo mais característico em pessoas
do gênero feminino (NICHOLSON; JENKINS; MELTZER, 2009 apud SILVA;
BOTTI, 2018).

O Transtorno de Personalidade Bordeline é descrito como um padrão


de comportamento que envolve instabilidade nas relações pessoais,
na autoimagem e nos afetos, com acentuada impulsividade, no qual os

66
sinais e sintomas estão presentes em vários contextos, sendo necessária
a presença de ao menos cinco destes: 1) esforço expressivo para se
evitar o abandono; 2) relacionamentos interpessoais instáveis e intensos,
alternando entre idealização das pessoas e desvalorização destas; 3)
instabilidade persistente em relação a autoimagem ou a compreensão
de si mesmo; 4) comportamento impulsivo em pelos menos duas
áreas (gastos, sexo, abuso de substâncias, direção irresponsável,
compulsão alimentar); 5) comportamentos suicidias e/ou automutilantes
recorrentes; 6) instabilidade afetiva; 7) sentimento crônico de vazio; 8)
raiva intensa e inapropriada, ou dificuldade em controlá-la; 9) ideação
paranoide transitória associada ao estresse ou sintomas dissociativos
intensos (APA, 2014, p. 663).

O DSM-5 aponta também que os sinais e sintomas descritos nos


transtornos de personalidade precisam estar presentes por mais de um
ano quando analisamos pessoas com menos de 18 anos, com exceção
do Transtorno de Personalidade Antissocial que somente poderá ser
atribuído após esta idade (APA, 2014).

3. Considerações Finais

Para concluir, os cuidados na identificação dos sinais e sintomas


relacionados às psicopatologias infanto-juvenis não devem ser
considerados somente quando estivermos diante de quadros associados
aos transtornos de personalidade.

A análise criteriosa é imprescindível ao elaborarmos qualquer hipótese


diagnóstica, justamente por conta da transitoriedade física e emocional
que envolve essas fases da vida humana. Ademais, apesar de serem
importantes, os critérios diagnósticos precisam ser problematizados
dentro do contexto de cada sociedade e cultura, como aponta o próprio
DSM-5 (APA, 2014).

67
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Acesso em: 21 maio 2020.

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