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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE MEDICINA E CIÊNCIAS DA VIDA


CURSO DE PSICOLOGIA

MANOELA SANTOS BATISTA


MARIA LUIZA ELIAS BATISTA
PAULA MANSUR FERREIRA DOS SANTOS

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL: ANÁLISE DOS


COMPORTAMENTOS DOS PERSONAGENS DE “LARANJA MECÂNICA” E “O
ABUTRE”

CURITIBA

2022
MANOELA SANTOS BATISTA
MARIA LUIZA ELIAS BATISTA
PAULA MANSUR FERREIRA DOS SANTOS

TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL: ANÁLISE DOS


COMPORTAMENTOS DOS PERSONAGENS DE “LARANJA MECÂNICA” E “O
ABUTRE”

Relatório de pesquisa apresentado na


disciplina de “Produção Cientifica”, da
Escola de Medicina e Ciências da Vida, da
Pontifícia Universidade Católica do
Paraná, como requisito parcial à obtenção
do título de Bacharelado em Psicologia.

Orientador: Prof.ª Dr.ª Antoniela Yara


Marques da Silva.

CURITIBA

2022
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 - Orçamento ............................................................................................. 18
Quadro 2 - Cronograma ........................................................................................... 19
Quadro 3 - Critérios diagnósticos dos personagens Alex DeLarge e Louis Bloom .. 23
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 - Avaliação dos personagens Alex DeLarge e Louis Bloom com base na
escala PCL-R ............................................................... Erro! Indicador não definido.

2
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
APA American Psychological Association
DSM Diagnostic and Statistical Manual of Mental Disorders
PCL-R Psychopathy Checklist-Revised
TP Transtorno de personalidade
TPAS Transtorno de personalidade antissocial

3
SUMÁRIO
RESUMO
PARTE I – PROJETO DE PESQUISA ........................................................................ 7
1. INTRODUÇÃO ........................................................................................................ 8
2. PERGUNTA NORTEADORA .................................................................................. 8
3. OBJETIVOS ............................................................................................................ 9
3.1 OBJETIVO GERAL ............................................................................................... 9
3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS ................................................................................. 9
4. REFERENCIAL TEÓRICO...................................................................................... 9
4.1 O TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL .................................. 9
4.2 NUANCES DO TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL ........... 11
5. MATERIAIS E MÉTODOS .................................................................................... 14
5.1 TIPO DE PESQUISA .......................................................................................... 14
5.2 AMOSTRAS ........................................................................................................ 14
5.3 SINOPSE DOS FILMES...................................................................................... 14
5.4 SITUAÇÃO E AMBIENTE................................................................................... 15
5.5 EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTOS PARA A COLETA DE DADOS ............ 15
5.6 PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS E ANÁLISE DE DADOS ... 16
5.7 ASPECTOS ÉTICOS .......................................................................................... 17
6. RECURSOS E CRONOGRAMA ........................................................................... 17
6.1 RECURSOS HUMANOS..................................................................................... 17
6.2 RECURSOS FÍSICOS ......................................................................................... 17
6.3 RECURSOS MATERIAIS ................................................................................... 18
6.4 RECURSOS TÉCNICOS..................................................................................... 18
6.5 ORÇAMENTO ..................................................................................................... 18
6.6 CRONOGRAMA ................................................................................................. 18
PARTE II – EXECUÇÃO DA PESQUISA ................................................................. 20
1. MÉTODO............................................................................................................... 21
1.2 TIPO DE PESQUISA .......................................................................................... 21
1.3 AMOSTRAS ........................................................................................................ 21
1.4 SINOPSE DOS FILMES...................................................................................... 21
1.5 SITUAÇÃO E AMBIENTE................................................................................... 22
1.6 EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTOS PARA A COLETA DE DADOS ............ 22

4
1.7 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS E ANÁLISE DE DADOS ...... 23
2. RESULTADOS...................................................................................................... 23
3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS ....................................................................... 38
4. CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................. 41
AGRADECIMENTOS ................................................................................................ 42
REFERÊNCIAS......................................................................................................... 43
ANEXO A - Escala de psicopatia de Robert D. Hare ............................................ 45

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RESUMO

Introdução: O transtorno de personalidade antissocial é relacionado, principalmente,


à frequente violação das normas, manipulação, impulsividade, agressividade e
indiferença com relação à segurança e sentimentos alheios, podendo se manifestar
em diferentes nuances. O TPAS acomete cerca de 1% a 2% da população mundial,
no entanto, há pouca exploração do tema no ambiente universitário. Objetivos:
Relacionar e identificar os critérios diagnósticos do TPAS nos personagens Alexander
DeLarge e Louis Bloom, dos filmes Laranja Mecânica e O Abutre, além de explorar as
manifestações severas e brandas do espectro nestes protagonistas. Materiais e
métodos: Foi realizada uma pesquisa descritiva com o levantamento das amostras
Laranja Mecânica e O Abutre, que retratam um personagem com uma personalidade
violenta e outra personalidade calculista, a fim de observar e anotar os
comportamentos compatíveis ao TPAS e suas nuances. Para essa coleta de dados,
foram utilizados os instrumentos DSM-V e a escala PCL-R com o objetivo de elaborar
um quadro e uma tabela para comparar quais critérios diagnósticos os protagonistas
apresentam, levando em consideração o que cada instrumento analisa e avalia. A fim
de discutir os resultados do quadro e da tabela, realizou-se uma busca de referências
publicadas em português e inglês que citassem sobre o transtorno de personalidade
antissocial e seus graus de manifestações. Resultados: O personagem de Laranja
Mecânica apresentou todos os critérios diagnósticos apresentados no DSM-V,
fechando o diagnóstico para o TPAS. Com relação ao instrumento PCL-R, ele obteve
32 pontos, portanto, o personagem pode ser considerado como psicopata, já que,
segundo a descrição da escala, a linha de corte para essa categoria é de 29 pontos.
O personagem de O Abutre apresentou 4 dos 7 critérios do DSM-V e também fecha o
diagnóstico para o transtorno. A respeito da escala PCL-R, ele obteve um escore de
22 pontos, sendo considerado um psicopata moderado, já que de acordo com o
instrumento, os que obtêm entre 20 e 29 pontos se inserem dentro da categoria em
questão. O item de mais similaridade entre eles foi referente à ausência de remorso e
de mais divergência foi o fracasso em fazer planos para o futuro. Considerações
finais: O objetivo do presente estudo foi relacionar os critérios diagnósticos do
transtorno de personalidade antissocial e explorar suas manifestações severas e
brandas a partir dos personagens Alexander DeLarge e Louis Bloom, nos filmes
Laranja Mecânica (1971) e O Abutre (2014), respectivamente. No entanto, algumas
limitações foram observadas, como não ter tido acesso ao passado dos personagens
associado ao desenvolvimento do transtorno e seus comportamentos diários,
portanto, alguns critérios não foram totalmente elucidados pelas cenas, dispondo da
interpretação do observador. Mas acaba contribuindo para profissionais da área da
saúde e jurídica a compreenderem como o transtorno pode ser manifestado em
diferentes níveis e como seus comportamentos podem ser identificados no dia a dia.

Palavras-chave: transtorno de personalidade antissocial; nuances; critérios


diagnósticos; manifestação.

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PARTE I – PROJETO DE PESQUISA

7
1. INTRODUÇÃO

O cinema é uma forma de arte que em muitos momentos retrata a essência da


vida. Esse aspecto audiovisual fornece ao telespectador não somente o
entretenimento, mas um espaço de propagações ideológicas, manifestações,
representações de eventos, demonstrações dos cotidianos, comportamentos,
relações, dentre muitos outros fatores. O cinema dispõe de uma grande importância
social e cultural na sociedade e, consequentemente, se torna uma ferramenta didática
para o processo de ensino-aprendizagem, inclusive para os estudantes de Psicologia,
uma vez que as diversas nuances dos transtornos mentais já foram ou ainda são, de
alguma forma, representadas em muitos filmes. A partir das análises de recursos
audiovisuais, é possível compreender como a teoria estudada é capaz de ser
reproduzida na prática (HONORATO et al., 2018).
A partir deste entendimento, o presente projeto de pesquisa visa, de alguma
forma, elucidar o transtorno de personalidade antissocial com base nas análises dos
filmes escolhidos, Laranja Mecânica (1971) e O Abutre (2014). Espera-se que ao
longo do trabalho seja possível, através dos filmes, identificar os traços e as nuances
do transtorno de personalidade antissocial nos protagonistas.
O tema abordado no trabalho foi escolhido especialmente por curiosidade sobre
o transtorno de personalidade antissocial, já que este é raramente abordado nos
estudos da Psicologia durante a formação acadêmica formal, ainda que acometa
cerca de 1% a 2% da população mundial (MARCHIORI, 2021). O tópico em questão
obtém um espaço de um assunto muito complexo e trazer ele em pauta, de alguma
forma, poderá auxiliar indivíduos que compartilham do mesmo sentimento, sendo
estes estudantes da área ou leigos sobre o tópico. Para uma melhor visualização, foi
pensado em trazer os dois filmes clássicos citados anteriormente como um meio de
apresentar às pessoas a forma em que a arte imita a vida, tratando acerca de histórias
inventadas no qual o TPAS está presente e, de algum modo, trazendo isso igualmente
para a realidade.

2. PERGUNTA NORTEADORA

Quais são as manifestações e os diferentes níveis do espectro do transtorno


de personalidade antissocial e como se expressam tais comportamentos no cotidiano?

8
3. OBJETIVOS

3.1 OBJETIVO GERAL

Relacionar os critérios diagnósticos do transtorno de personalidade antissocial


com os personagens Alexander DeLarge e Louis Bloom, nos filmes Laranja Mecânica
(1971) e O Abutre (2014), respectivamente.

3.2 OBJETIVOS ESPECÍFICOS

Os objetivos específicos do trabalho são:

a) explorar as manifestações severas e brandas do transtorno de


personalidade antissocial;
b) identificar comportamentos dos personagens principais dos filmes Laranja
Mecânica (1971) e O Abutre (2014) compatíveis com o transtorno de
personalidade antissocial.

4. REFERENCIAL TEÓRICO

4.1 O TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL

Para entendermos o transtorno de personalidade antissocial, é preciso,


inicialmente, trazer uma breve introdução e explicação sobre como é caracterizado o
transtorno de personalidade conforme os escritos do Manual Diagnóstico e Estatístico
dos Transtornos Mentais (DSM-V).
O transtorno de personalidade, com base no DSM-V (APA, 2014), é retratado
através de seis critérios diagnósticos, sendo caracterizados por Critério A, Critério B,
Critério C, Critério D, Critério E e Critério F. Estes critérios são descritos por padrões
no qual o sujeito que possui o transtorno perpassa, portanto, em síntese, o Critério A
consiste em padrões comportamentais e de vivência do indivíduo que fogem da curva
de expectativa cultural; no Critério B há a descrição de um padrão irredutível que
aborda vários contextos tanto sociais quanto pessoais; o Critério C se desdobra pelo
sofrimento que o padrão de comportamentos transporta às esferas da vida, como a
social, pessoal e profissional; o Critério D aborda o período destes padrões, portanto,
se manifesta no período da adolescência ou no começo da vida adulta e tem como
característica um padrão estável e longo. E, por fim, os critérios E e F descrevem,
respectivamente, que o transtorno de personalidade não possui grande êxito no
9
diagnóstico quando entendido como consequência de um outro transtorno e que não
se pode diagnosticar estes padrões como resultado de uso de substâncias.
Perante a breve explicação sobre como o transtorno de personalidade é
definido, será apresentado, então, sobre as descrições gerais e critérios de
diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial.
O diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial se baseia em 5
critérios divididos entre Critério A, B, C e D. O Critério A que consiste em
comportamentos de desconsideração e violação dos direitos de outrem se desdobra
em 7 características: Critério A1 é a incapacidade de se ajustar às normas sociais
acerca de comportamentos legais; Critério A2 é a tendência à falsidade e trapaças a
fim de ter ganho ou prazer próprio; Critério A3 refere-se à impulsividade ou então
fracasso para planejamento do futuro no qual o indivíduo desconsidera as
consequências dos atos; Critério A4 consistem em irritabilidade e agressividade;
Critério A5 diz respeito à indiferença pela própria segurança e a de outros; Critério A6
é a irresponsabilidade, como em comportamentos laborais e no âmbito financeiro; e
por fim, o Critério A7 se baseia na ausência de remorso pelo resultado de seus atos
(APA, 2014).
Os critérios B, C e D, na perspectiva do DSM-V (APA, 2014), referem-se, na
devida ordem, que para o diagnóstico do transtorno de personalidade antissocial o
sujeito precisa ter no mínimo 18 anos de idade, ter apresentado transtorno de conduta
antes dos 15 anos de idade e não ser manifestado somente junto à esquizofrenia ou
transtorno bipolar. Além disso, é necessário haver pelo menos três das características
supracitadas no parágrafo anterior.
Explicando de forma prática, Dalgalarrondo (2018) aponta que aqueles que
possuem o TPAS apresentam dificuldade em estabelecer interações recíprocas e
respeitosas e se mostram indiferentes às outras pessoas, constantemente, as
manipulando, enganando e prejudicando. Uma das principais características do
sujeito com transtorno de personalidade antissocial refere-se à satisfação e prazer
com o sofrimento alheio. Outro fator importante de ser ressaltado é que, de acordo
com Goleman (2001 apud AGUIAR; DECARLO, 2020), eles possuem emoção, mas
diferentemente das demais pessoas: não se deixam levar por elas. O sujeito aprende
a lidar com seus sentimentos de acordo com seus objetivos, no entanto, não significa
que ele não tenha apreço por algo ou alguém.

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Os transtornos de personalidade são raramente diagnosticados pelos
psiquiatras, devido ao fato de serem muitas vezes difíceis de serem identificados e,
principalmente, por serem “permanentes e refratárias ao tratamento”. Em
consequência desses fatores, os profissionais demonstram desinteresse e acreditam
que o sujeito que apresenta transtornos dessa natureza não necessita de atendimento
especializado (MORANA; STONE; ABDALLA-FILHO, 2006).

4.2 NUANCES DO TRANSTORNO DE PERSONALIDADE ANTISSOCIAL

Assim como outros transtornos, o transtorno de personalidade antissocial


também apresenta graus de manifestações, uma vez que cada indivíduo desfruta de
diferentes formas de expressão. Sabe-se que o desenvolvimento de traumas e
transtornos se dá pela história de vida e predisposição genética que o sujeito vivencia
e carrega.
De acordo com Eysenck & Gudjonsson sobre sua Teoria da Excitação Geral da
Criminalidade (1989 apud MORANA; STONE; ABDALLA-FILHO, 2006), psicopatas
apresentam uma condição biológica velada aos seus comportamentos, essa condição
refere-se a um “sistema nervoso relativamente insensível a baixos níveis de
estimulação”, com base nisso, estes indivíduos consequentemente acabam sendo
estimulados a cometerem crimes ou atividades que envolvam um risco alto. No
entanto, é importante ressaltar que os fatores genéticos não definem de fato o
transtorno de personalidade e sim equivale à uma predisposição para se desenvolver,
já que o contexto em que o sujeito está inserido corresponde também a uma das
diversas causas do TP. Em relação ao contexto de vivência, pode-se ter como por
exemplo a negligência e os maus-tratos que a criança experiencia no seu período de
crescimento – uma das fases em que acontece a maturação do cérebro. Em
consequência disso, há a possibilidade de ocorrer um circuito cerebral que consiste
no encontro acidental entre dois neurônios, fazendo com que o sujeito desenvolva
“agressividade, hiperatividade, distúrbios de atenção, delinquência e abuso de droga”.
Muitos autores debatem sobre as diferenças e graus entre os psicopatas,
alguns relatam existir quatro subtipos deles, já outros fomentam sobre a existência de
dois. O primeiro autor a falar a respeito das nuances da psicopatia foi Karpman (1948
apud RIBEIRO, 2017), o qual diferenciou em seus escritos o psicopata primário do
psicopata secundário. Ele se apropria de outros termos como psicopata idiopático e

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psicopata somático. A distinção entre esses dois sujeitos é que o primeiro se refere a
alguém que “não tem consciência, é calculista, egoísta e indiferente”, ao passo que o
segundo representa um ser que pode apresentar sentimento de culpa, empatia e
vontade de ser aceito na sociedade. Ainda com base na obra de Ribeiro (2017), a
autora cita Warburton e Anderson (2015) que apresentam os psicopatas secundários
como seres impulsivos e que não se importam com as consequências de seus atos,
seja consequências para si mesmo ou para as vítimas.
Carvalho (2013) também traz em sua dissertação os escritos de Karpman sobre
a diferença entre as psicopatias. Os comportamentos e a adaptação emocional dos
psicopatas secundários podem ser compreendidos como resultado de algum fator
determinante como a rejeição ou abuso dos pais, e podem apresentar um nível mais
alto de emoções em comparação aos psicopatas primários, já que estes são
insensíveis, calculistas e manipulam para conseguir o que desejam. Em contrapartida,
os secundários adotam um estilo de vida parasita, pois, para obter o que querem,
normalmente necessitam de ajuda e simpatia de terceiros. Basicamente, o diferencial
entre esses dois indivíduos é que um atua com o objetivo de obter mais ganhos e
priorizar seu prazer pessoal e o outro atua conforme suas emoções.
Há também outros estudos que debatem sobre o tema de psicopatia como os
trabalhos desenvolvidos por Blackburn (1971, 1975, 1986 apud SOEIRO;
GONÇALVES, 2010). O autor realizou uma pesquisa com amostras de agressores
violentos, a qual resultou em quatro subdivisões da psicopatia: psicopatas primários,
secundários, inibidos e conformados, cada qual com diferenças na personalidade e
comportamento. Os primários apresentam baixa ansiedade e elevada extroversão.
Em contrapartida, os secundários são caracterizados com alta ansiedade e
introvertidos. Essas definições foram igualmente confirmadas por diversos autores da
área, como Lykken (1995), Levenson, Kiehl & Fitzpatrick (1995), Ross, Lutz & Bailley
(2004), Howells & Hollin (1998) (SOEIRO; GONÇALVES, 2010). A partir desses
variados estudos, a psicopatia primária foi tipificada como casos de pessoas
insensíveis, calculistas, manipuladores e pouco ansiosos, ao passo que a psicopatia
secundária foi descrita como casos em que há uma desordem neurótica (SOEIRO;
GONÇALVES, 2010).
Com base nos dados obtidos, pode-se observar que psicopatas primários se
diferem por serem marcadamente insensíveis, manipuladores e possuintes de

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relações interpessoais superficiais e sentimentos negativos como ansiedade, medo e
culpa. Enquanto que os secundários desenvolveram o transtorno a partir de
contingências ambientais desfavoráveis, como abusos ou rejeições significativas,
resultando em comportamentos impulsivos, agressivos e neuroticismo (DEAN;
ALTSTEIN; BERMAN et al., 2013 apud HIDALGO; SERAFIM, 2016).
O psicólogo Robert D. Hare identificou que indivíduos psicopatas são, de
alguma forma, diferentes de outros sujeitos que cometem crimes. Com base neste
fundamento, ele decidiu realizar uma pesquisa para encontrar quais critérios diferem
sob a condição de psicopatia (MORANA, 2004 apud MORANA; STONE; ABDALLA-
FILHO, 2006). Criou então a escala PCL-R que tem como objetivo diagnosticar e
identificar em cada sujeito a psicopatia e suas nuances (AGUIAR; DECARLO, 2020).
Essa escala é composta por uma lista de 20 itens que avaliam a personalidade
do indivíduo. Estes itens são divididos em duas categorias que abordam critérios como

charme superficial, superestima, mentira patológica, manipulação, ausência


de remorso ou culpa, insensibilidade afetivo-emocional, indiferença/falta de
empatia e incapacidade de aceitar a responsabilidade por seus atos (SOUZA,
2020).

A outra categoria do instrumento que tem como foco o comportamento


desviante do indivíduo avalia fatores como

necessidade de estimulação/tendência ao tédio, estilo de vida parasitário,


descontroles comportamentais, transtornos de conduta na infância, ausência
de metas realistas, impulsividade, irresponsabilidade, delinquência juvenil e
revogação da liberdade condicional. Além dessas características, também
serão pontuadas na entrevista fatores como: promiscuidade sexual,
relacionamentos conjugais de curta duração e versatilidade criminal (SOUZA,
2020).

A avaliação se dá por uma pontuação entre 0 a 2 pontos para cada item, no


qual a pontuação 0 (zero) corresponde a falta de determinada característica; a
pontuação 1 (um) consiste no indivíduo apresentar parcialmente a característica e a
pontuação 2 (dois) é quando o sujeito apresenta totalmente aquela característica
(MORANA, 2011 apud SOUZA, 2020). Posteriormente à avaliação, é realizado a soma
de todos os pontos obtidos para cada critério, sendo 40 a pontuação máxima.
Segundo Souza (2020), a cultura é levada em consideração para a pontuação de
corte, a qual determina se o sujeito é psicopata ou não. Como exemplo, nos Estados
Unidos e Canadá o ponto de corte para definir a psicopatia é de 30 pontos, em
contrapartida, no Brasil é 25. Não obstante, conforme os escritos de Morana, Stone &

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Abdalla-Filho (2006) “o ponto de corte não é estabelecido de forma rígida, mas um
resultado acima de 30 pontos traduziria um psicopata típico.”
Além disso, como a escala PCL-R tem foco na população criminal, as faixas de
pontuações consideradas para avaliar os níveis de psicopatia em criminosos
consistem em
não criminoso (0 a 12); transtorno parcial (12 a 23); e transtorno global (23 a
40). O grupo com transtorno parcial tem uma manifestação caracterológica
significativamente atenuada do grupo da psicopatia, por meio da pontuação
na escala PCL-R. A análise de cluster pode comprovar que a condição de
transtorno parcial é uma atenuação do transtorno global da personalidade.
Isto se torna relevante para a diferenciação do risco de reincidência criminal
entre a população de criminosos (MORANA; STONE; ABDALLA-FILHO,
2006).

Com base nas teorias encontradas, pode-se concluir que o psicopata


secundário diz respeito a um indivíduo que se baseia em suas emoções para agir
impulsivamente, além de ter vivenciado uma situação determinante para motivação
de sua personalidade. Em contrapartida, o psicopata primário é calculista, sabe
exatamente das consequências de seus comportamentos, mas não sente culpa nem
empatia; tudo é premeditado para seu ganho e prazer pessoal. Para identificar essas
nuances e a presença da psicopatia, Hare cria a escala PCL-R, cujo instrumento tem
grande sucesso no contexto forense e na psiquiatria.

5. MATERIAIS E MÉTODOS

5.1 TIPO DE PESQUISA

Para o presente trabalho, será realizada uma pesquisa descritiva, a qual se


caracteriza, principalmente, pela descrição de fatos e fenômenos de uma dada
realidade (TRIVIÑOS, 1987).

5.2 AMOSTRAS

Filmes: Laranja Mecânica dirigido por Stanley Kubrick, lançado em 19 de


dezembro de 1971; e O Abutre dirigido por Dan Gilroy, lançado em 5 de setembro de
2014.

5.3 SINOPSE DOS FILMES

Laranja Mecânica (1971) inicialmente retrata uma gangue de adolescentes que


vagam pela noite, em uma cidade de um futuro distópico no Reino Unido, cometendo

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roubos e atos violentos. O personagem principal, Alexander DeLarge, é o líder deste
grupo e aos poucos a história do filme se diverge tendo um foco principal no
protagonista, dado que em uma noite na qual planejam invadir uma casa, Alexander
acaba sendo pego pela polícia ao passo que seus colegas conseguem fugir. Já na
prisão, DeLarge é submetido à alguns testes de um projeto realizado pelo Estado que
aplicam técnicas de condicionamento com o propósito de ser reeducado e restituído
à sociedade.
O Abutre (2014) é um longa-metragem que transcorre sobre a vida de Louis
Bloom, o qual, ao que tudo indica, é um jovem sem muito a oferecer e que vive em
seu pequeno apartamento em Los Angeles. Em uma dada noite, o personagem se
depara com uma cena de acidente de trânsito e logo ao lado há um jornalista
autônomo gravando todos os presentes acontecimentos. A partir deste evento, Louis
fica fascinado e decide mergulhar neste mundo de freelancer de jornalismo criminal,
em que é preciso vender as filmagens para empresas de rede de televisão. O enredo
se inicia quando Louis Bloom se torna obcecado pelo serviço e adota uma postura
manipuladora e calculista.

5.4 SITUAÇÃO E AMBIENTE

Tendo como base os filmes que retratam uma personalidade violenta e, em


contrapartida, outra personalidade calculista, será realizado uma pesquisa em que irá
relacionar e analisar os comportamentos destes personagens de acordo com os
critérios diagnósticos do transtorno de personalidade antissocial. Além disso, será
apresentado as nuances no qual o TPAS pode se apresentar, já que ambos os
personagens apresentam diferentes formas de manifestações deste espectro – um
apresenta o transtorno de forma mais severa e o outro de forma mais branda, e este
é um ponto a ser levado em consideração para o trabalho, visto que muitas vezes os
comportamentos do transtorno são imperceptíveis por terceiros.

5.5 EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTOS PARA A COLETA DE DADOS

Os equipamentos e instrumentos utilizados para a coleta de dados serão:

a) notebook marca Dell modelo Inspiron 14, sistema operacional Windows 10,
processador Intel(R) Core (TM) i5-8265U CPU @ 1.60GHz 1.80 GHz, memória
RAM 8.00 GB;

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b) notebook marca Dell modelo Inspiron 3480, sistema operacional Windows 11,
processador Intel(R) Core (TM) i5-8265U CPU @ 1.60GHz 1.80 GHz,
memória RAM 4.00 GB;
c) notebook marca Apple modelo A1708, sistema operacional IOS, processador
2,3 GHz Intel Core i5, memória 8GB 2133 MHz LPDDR3;
d) Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V), sendo
considerado os critérios: fracasso em ajustar-se às normas sociais; tendência
à falsidade; impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro;
irritabilidade e agressividade; descaso pela segurança de si ou de outros;
irresponsabilidade e ausência de remorso do transtorno de personalidade
antissocial;
e) escala Psychopathy Checklist-Revised (PCL-R): escala de 20 itens que
pondera traços de personalidade típicos do TPAS. Os itens podem ser
classificados entre 0 (zero), 1 (um) ou 2 (dois). A pontuação de cada item é
estabelecida dependendo do grau de representação deste, sendo: 0 (zero)
quando o indivíduo não apresentar qualquer característica; 1 (um) caso
apresente alguns traços e 2 (dois) se as características em questão são
compatíveis com as do sujeito avaliado. Os itens de avaliação do instrumento
são: loquacidade/encanto superficial; egocentrismo/sensação grandiosa de
autovalia; necessidade de estimulação/tendência ao tédio; mentira patológica;
direção/manipulação; falta de remorso e culpabilidade; pouca profundidade de
afeto; insensibilidade/falta de empatia; falta de controle comportamental;
conduta sexual promíscua; impulsividade; irresponsabilidade; incapacidade de
aceitar as responsabilidades de seus próprios atos; versatilidade criminal;
problemas de conduta precoces; delinquência juvenil; revogação da liberdade
condicional; relacionamento conjugais curtos; fracasso em fazer planos a longo
prazo e estilo de vida parasita.

5.6 PROCEDIMENTOS PARA A COLETA DE DADOS E ANÁLISE DE DADOS

Inicialmente, será necessário assistir aos filmes Laranja Mecânica (1971) e O


Abutre (2014), disponíveis na plataforma HBO Max, a fim de identificar
comportamentos nos personagens que condizem com os critérios diagnósticos para
o transtorno de personalidade antissocial. Após assistir ambos os filmes, será

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desenvolvida uma tabela, em forma de check-list, com os critérios diagnósticos do
DSM-V, a fim de verificar quais e quantos deles estão presentes nos personagens
principais de cada filme, possibilitando comparar suas nuances do transtorno. O
mesmo procedimento será realizado com o instrumento PCL-R que consiste em uma
escala de 20 itens que analisam critérios tanto clínicos quanto antissociais do
indivíduo.
Na análise de dados serão explorados os comportamentos dos personagens
Alexander DeLarge e Louis Bloom por meio dos critérios diagnósticos disponíveis no
DSM-V, assim como na escala PCL-R e das nuances identificadas na literatura da
área.

5.7 ASPECTOS ÉTICOS

Por se tratar de um estudo descritivo, não será necessária a consulta ao Comitê


de Ética da Pontifícia Universidade Católica do Paraná para a realização do referente
trabalho.

6. RECURSOS E CRONOGRAMA

Com base no objetivo do trabalho e a demanda para o alcance deste, segue


abaixo os recursos e o cronograma necessários para tal.

6.1 RECURSOS HUMANOS

Para a elaboração do artigo, os recursos humanos serão compostos pelas


graduandas de psicologia Manoela Santos Batista, Maria Luiza Elias Batista e Paula
Mansur Ferreira dos Santos, e pela orientadora Prof.ª Dr.ª Antoniela Yara Marques da
Silva.

6.2 RECURSOS FÍSICOS

Como recurso físico, será utilizada a casa de cada integrante da equipe e a sala
103 do Bloco 4 da Pontifícia Universidade Católica do Paraná, oferecida para a
realização das supervisões e a sala 111 do mesmo bloco para a matéria de Produção
Científica ofertada com a finalidade de dar orientação para a realização da pesquisa.

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6.3 RECURSOS MATERIAIS

Para assistir os filmes e realizar as pesquisas teóricas, será necessário o uso do


notebook. E, além disso, para a apresentação final do presente artigo na I Mostra de
Pesquisa de EMCV precisará adquirir um pôster, no qual irá conter as informações
necessárias do projeto.

6.4 RECURSOS TÉCNICOS

Como recursos técnicos serão utilizadas as bases de dados Scielo, Google


Acadêmico, ERIC, PubMed e Science.gov.

6.5 ORÇAMENTO

O Quadro 1 foi elaborado a fim de expor e organizar de forma sintética os recursos


previstos para a produção do trabalho.

Quadro 1 - Orçamento

Item Descrição/Justificativa Valor


Apresentação oral final, na “I Mostra de
Pôster R$100,00
Pesquisa de EMCV”
Realização do trabalho de forma online
Internet R$520,00
(R$130,00 mensal)
Funcionamento da internet e
Energia carregamento dos notebooks R$1.000,00
(R$250,00 mensal)
Xerox do teste encontrado no Núcleo
Fotocópia do PCL-R R$ 2,50
de Práticas de Psicologia (NPP)

Total - R$1.622,50
Fonte: as autoras, 2022.

6.6 CRONOGRAMA

Para o cumprimento do objetivo, foi planejado o cronograma de forma que os


meses de março a maio serão destinados à revisão de literatura. Nos meses maio e
junho será realizado o restante do trabalho, isto é, a coleta de dados, a organização
do banco de dados e respectiva análise e a escrita do artigo. Por fim, o artigo será
submetido no mês de junho.

18
Quadro 2 - Cronograma

2022
TAREFAS
FEV MAR ABR MAIO JUN
Revisão de literatura X X X
Coleta de dados X X
Organização do banco de dados X X
Análise dos dados X X
Escrita do artigo X X
Revisão e submissão X
Fonte: as autoras, 2022.

19
PARTE II – EXECUÇÃO DA PESQUISA

20
1. MÉTODO

1.2 TIPO DE PESQUISA

Para o presente trabalho, foi realizada uma pesquisa descritiva, a qual se


caracteriza, principalmente, pela descrição de fatos e fenômenos de uma dada
realidade (TRIVIÑOS, 1987).

1.3 AMOSTRAS

Filmes: Laranja Mecânica dirigido por Stanley Kubrick, lançado em 19 de


dezembro de 1971; e O Abutre dirigido por Dan Gilroy, lançado em 5 de setembro de
2014.

1.4 SINOPSE DOS FILMES

Laranja Mecânica (1971) inicialmente retrata uma gangue de adolescentes que


vagam pela noite, em uma cidade de um futuro distópico no Reino Unido, cometendo
roubos e atos violentos. O personagem principal, Alexander DeLarge, é o líder deste
grupo e aos poucos a história do filme se diverge tendo um foco principal no
protagonista, dado que em uma noite na qual planejam invadir uma casa, Alexander
acaba sendo pego pela polícia, ao passo que seus colegas conseguem fugir. Já na
prisão, DeLarge é submetido à alguns testes de um projeto realizado pelo Estado que
aplicam técnicas de condicionamento com o propósito de ser reeducado e restituído
à sociedade.
O Abutre (2014) é um longa-metragem que transcorre sobre a vida de Louis
Bloom, o qual, ao que tudo indica, é um jovem sem muito a oferecer e que vive em
seu pequeno apartamento em Los Angeles. Em uma dada noite, o personagem se
depara com uma cena de acidente de trânsito e logo ao lado há um jornalista
autônomo gravando todos os presentes acontecimentos. A partir deste evento, Louis
fica fascinado e decide se inserir neste mundo de freelancer de jornalismo criminal,
em que é preciso vender as filmagens para empresas de rede de televisão. O enredo
se inicia quando Louis Bloom se torna obcecado pelo serviço e adota uma postura
manipuladora e calculista.

21
1.5 SITUAÇÃO E AMBIENTE

Tendo como base os filmes que retratam uma personalidade violenta e, em


contrapartida, outra personalidade calculista, foi realizada uma pesquisa em que
relacionou e analisou os comportamentos destes personagens de acordo com os
critérios diagnósticos do transtorno de personalidade antissocial. Além disso, foi
apresentado como as nuances do TPAS podem se apresentar, já que ambos os
personagens apresentam diferentes formas de manifestações deste espectro – um
apresenta o transtorno de forma mais severa e o outro de forma mais branda, e este
foi um ponto levado em consideração para o trabalho, visto que muitas vezes os
comportamentos do transtorno são imperceptíveis por terceiros.

1.6 EQUIPAMENTOS E INSTRUMENTOS PARA A COLETA DE DADOS

Os equipamentos e instrumentos utilizados para a coleta de dados foram:

a) notebook marca Dell modelo Inspiron 14, sistema operacional Windows 10,
processador Intel(R) Core (TM) i5-8265U CPU @ 1.60GHz 1.80 GHz, memória
RAM 8.00 GB;
b) notebook marca Dell modelo Inspiron 3480, sistema operacional Windows 11,
processador Intel(R) Core (TM) i5-8265U CPU @ 1.60GHz 1.80 GHz,
memória RAM 4.00 GB;
c) notebook marca Apple modelo A1708, sistema operacional IOS, processador
2,3 GHz Intel Core i5, memória 8GB 2133 MHz LPDDR3;
f) Manual Diagnóstico e Estatístico dos Transtornos Mentais (DSM-V) sendo
considerado os critérios da categoria A, ou seja: fracasso em ajustar-se às
normas sociais; tendência à falsidade; impulsividade ou fracasso em fazer
planos para o futuro; irritabilidade e agressividade; descaso pela segurança de
si ou de outros; irresponsabilidade e ausência de remorso do transtorno de
personalidade antissocial;
d) escala Psychopathy Checklist-Revised (PCL-R): escala de 20 itens que
pondera traços de personalidade típicos do TPAS. Os itens podem ser
classificados entre 0 (zero), 1 (um) ou 2 (dois). A pontuação de cada item é
estabelecida dependendo do grau de representação deste, sendo: 0 (zero)
quando o indivíduo não apresentar qualquer característica; 1 (um) caso
apresente alguns traços e 2 (dois) se as características em questão são
22
compatíveis com as do sujeito avaliado. Os itens de avaliação do instrumento
são: loquacidade/encanto superficial; egocentrismo/sensação grandiosa de
autovalia; necessidade de estimulação/tendência ao tédio; mentira patológica;
direção/manipulação; falta de remorso e culpabilidade; pouca profundidade de
afeto; insensibilidade/falta de empatia; falta de controle comportamental;
conduta sexual promíscua; impulsividade; irresponsabilidade; incapacidade de
aceitar as responsabilidades de seus próprios atos; versatilidade criminal;
problemas de conduta precoces; delinquência juvenil; revogação da liberdade
condicional; relacionamento conjugais curtos; fracasso em fazer planos a longo
prazo e estilo de vida parasita.

1.7 PROCEDIMENTOS PARA COLETA DE DADOS E ANÁLISE DE DADOS

Inicialmente, foi necessário assistir aos filmes Laranja Mecânica (1971) e O


Abutre (2014), disponíveis na plataforma HBO Max, para identificar comportamentos
nos personagens que condizem com os critérios diagnósticos do transtorno de
personalidade antissocial. Após assistir ambos os filmes, foi desenvolvida um quadro,
em forma de check-list, com os critérios diagnósticos do DSM-V, a fim de verificar
quais e quantos deles estão presentes nos personagens principais de cada filme,
possibilitando comparar suas nuances do transtorno. O mesmo procedimento foi
realizado com o instrumento PCL-R que consiste em uma escala de 20 itens que
analisam critérios tanto clínicos quanto antissociais do indivíduo.
Na análise de dados foram explorados os comportamentos dos personagens
Alexander DeLarge e Louis Bloom por meio dos critérios diagnósticos disponíveis no
DSM-V, assim como na escala PCL-R e das nuances identificadas na literatura da
área.

2. RESULTADOS

Para apresentar os resultados das análises dos filmes Laranja Mecânica e O


Abutre foi elaborado o Quadro 3 abrangendo os critérios diagnósticos contidos no
DSM-V referentes à Categoria A – a qual diz respeito aos padrões de desconsideração
e violação dos direitos de outrem. A partir disso, foram analisados quais critérios foram
observados nos personagens Alexander DeLarge e Louis Bloom. Apesar de os
critérios serem apresentados de forma breve, para a análise dos personagens, levou-
se em consideração a descrição completa contida no DSM-V.
23
Quadro 3 - Critérios diagnósticos do DSM-V dos personagens Alexander DeLarge e Louis Bloom

Alexander DeLarge Louis Bloom


Critérios diagnósticos baseados no DSM-V
(Laranja Mecânica) (O Abutre)

A1 - Fracasso em ajustar-se às normas sociais X

A2 - Tendência à falsidade X X

A3 – Impulsividade ou fracasso em fazer planos


X
para o futuro

A4 – Irritabilidade e agressividade X X

A5 - Descaso pela segurança de si ou de outros X X

A6 – Irresponsabilidade X

A7 - Ausência de remorso X X

Fonte: as autoras, 2022.

A Tabela 1 foi desenvolvida com base na escala PCL-R de Robert D. Hare,


onde foram descritos brevemente os 20 itens de avaliação da escala e, ao lado, a
pontuação que cada um dos personagens analisados obteve no respectivo item. Para
a confecção da Tabela 1, utilizou-se a sigla N/O (não observável) nos itens que não
foram possíveis analisar nos dois filmes.

24
Tabela 1 - Avaliação dos personagens Alexander DeLarge e Louis Bloom com base na escala PCL-R

Alexander DeLarge Louis Bloom


Itens de avaliação
(Laranja Mecânica) (O Abutre)

Loquacidade/Encanto superficial 1 2

Egocentrismo/Sensação grandiosa de autovalia 2 2

Necessidade de estimulação/Tendência ao tédio 2 1

Mentira patológica 2 2

Direção/Manipulação 1 2

Falta de remorso e culpabilidade 2 2

Pouca profundidade de afeto 1 2

Insensibilidade/Falta de empatia 2 2

Estilo de vida parasita 2 0

Falta de controle comportamental 2 1

Conduta sexual promíscua 2 1

Problemas de conduta precoces N/O* N/O*

Fracasso em fazer planos a longo prazo 2 0

Impulsividade 2 0

Irresponsabilidade 2 2
Incapacidade de aceitar as responsabilidades de
2 2
seus próprios atos
Relacionamentos conjugais curtos N/O* N/O*

Delinquência juvenil 2 N/O*

Revogação da liberdade condicional 1 0

Versatilidade criminal 2 1

ESCORE 32 22
Fonte: as autoras, 2022. *Não observável

Alexander DeLarge (Laranja Mecânica)


Em relação ao personagem Alexander DeLarge, de Laranja Mecânica, com
base no Quadro 3, observa-se a presença de todos os critérios diagnósticos
apresentados no DSM-V: fracasso em ajustar-se às normas sociais (A1), tendência a

25
falsidade (A2), impulsividade ou fracasso em fazer planos para o futuro (A3),
irritabilidade e agressividade (A4), descaso pela segurança de si e de outros (A5),
irresponsabilidade (A6) e ausência de remorso (A7). Como consta no manual, para o
diagnóstico do TPAS, o paciente deve apresentar ao menos três padrões de
comportamento da Categoria A, além de ter no mínimo 18 anos de idade e manifestar
traços do transtorno de conduta antes dos 15 anos – fatores que não foram possíveis
observar nos filmes, portanto, não foram considerados para a análise dos
personagens. Dessa forma, com os dados obtidos, o transtorno de personalidade
antissocial pode ser verificado no personagem Alexander DeLarge.
Já a partir da Tabela 1, referente aos critérios da escala PCL-R, constata-se
que o personagem Alexander DeLarge obteve a pontuação 1 (um) para os itens sobre
loquacidade/encanto superficial, direção/manipulação, pouca profundidade de afeto e
revogação da liberdade condicional. Além disso, o personagem pontuou 2 (dois) para
os itens de egocentrismo/sensação grandiosa de autovalia; necessidade de
estimulação/tendência ao tédio; mentira patológica; falta de remorso e culpabilidade;
insensibilidade/falta de empatia; estilo de vida parasita; falta de controle
comportamental; conduta sexual promíscua; fracasso em fazer planos a longo prazo;
impulsividade; irresponsabilidade; incapacidade de aceitar as responsabilidades de
seus próprios atos; delinquência juvenil e versatilidade criminal. Os tópicos acerca de
problemas de conduta precoces e relacionamentos conjugais curtos não foram
possíveis avaliar no protagonista do filme Laranja Mecânica. Como Alexander obteve
32 pontos, o personagem pode ser considerado como psicopata, já que, segundo a
descrição do instrumento PCL-R, a linha de corte para essa categoria é de 29 pontos.
As cenas que possibilitaram a análise dos critérios descritos no Quadro 3 e na
Tabela 1 se apresentaram logo no início do longa-metragem. O critério referente à
insensibilidade/falta de empatia (Tabela 1) descreve um indivíduo completamente
incapaz de compreender e respeitar os sentimentos e direitos alheios, agindo de forma
a menosprezar os outros, especialmente pessoas que se encontram vulneráveis, e
não se importam nas consequências que seus comportamentos podem gerar. Nota-
se essa atitude logo no início do filme, na cena de minuto 3, quando Alexander e sua
gangue encontram um idoso embriagado e, antes de proferir ataques físicos ao
senhor, o personagem declara aos ouvintes: “uma coisa que nunca suportei era ver
um bêbado velho e imundo […] fazendo ‘blurp blurp enquanto cantava […] Eu nunca

26
suportei ver ninguém assim, mas suportava menos ainda alguém bem velho, como
este”, caracterizando exatamente o descritivo anterior referente à escala, sobre
menosprezar e agredir um indivíduo em situação de vulnerabilidade.
Ao analisar o Critério A5 do DSM-V (descaso pela segurança de si ou dos
outros), entende-se um indivíduo que é inconsequente em suas atitudes, se envolve
em comportamentos de risco ou coloca as demais pessoas em perigo, o que
possivelmente acarreta em graves consequências. Portanto, a conduta que Alexander
apresenta durante o filme pode ser pontuada por este critério, visto que na cena de
minuto 9 ele aparece dirigindo um carro em alta velocidade – após fugir de uma briga
– e aparenta não se importar com os outros veículos na rua, pois anda na contramão
fazendo piadas e rindo dos outros, os quais são forçados a desviarem de seu caminho
para não se acidentarem. Além disso, é perceptível que Alex e seus colegas estão
sem cinto de segurança, e sequer diminuem a velocidade quando se deparam com
algum perigo à frente.
O Critério A2 do DSM-V, equivalente à tendência à falsidade, e o item
direção/manipulação do PCL-R, podem ser relacionados às cenas apresentadas nos
minutos 10 e 38 em que Alexander planeja invadir a residência de um casal e de uma
mulher, respectivamente. Ele tenta se passar por alguém que sofreu um acidente de
trânsito o qual necessita utilizar um telefone para chamar a ambulância. No primeiro
caso, o casal permitiu que o protagonista entrasse, porém, ao entrar com sua gangue,
ele abusa sexualmente da esposa e agride seu marido, sendo ambos os atos
realizados e liderados por Alex. As duas cenas são claramente caracterizadas por tal
falsidade, visto que de acordo com o DSM-V e o PCL-R os critérios referem-se à
pessoas que não respeitam os desejos ou direitos daqueles que fazem sofrer, sem
avaliar os efeitos nas vítimas, ocorrendo então a enganação e manipulação através
de nomes e identidades falsas buscando a satisfação própria.
Referente ao Critério A6 do DSM-V, que corresponde à irresponsabilidade, e
ao item de mesma nomenclatura do PCL-R dizem respeito à falta de responsabilidade
cotidiana, assim como a irresponsabilidade perante algum acordo realizado com
outros. É notável a característica citada em Alexander, visto que este não possui
emprego e, mesmo com pouca idade, não demonstra frequentar a escola, somente
comete crimes – especificamente durante a madrugada até o amanhecer – e,
consequentemente, ao chegar em casa acaba por dormir o dia inteiro. Um exemplo

27
desse comportamento acontece nas cenas do minuto 20 ao 22, quando a mãe do
protagonista o chama a fim de acordá-lo para a aula, e este diz que está com dor e,
portanto, se encontra impossibilitado de ir. A mãe reitera que o filho já faltou muitas
aulas durante a semana e Alex afirma que precisa melhorar da dor, caso contrário,
faltará mais aulas.
Em relação ao item necessidade de estimulação/tendência ao tédio (PCL-R) é
relevante citar a conduta de Alexander pela maior parte do longa, pelo menos durante
uma hora de filme até o jovem ser detido. Afinal, o personagem possui uma gangue
com quem se encontra, uniformizados, todas as noites, no mesmo ambiente e com a
finalidade de cometer crimes nos arredores da cidade. O prazer sentido por Alex é
visível já na cena de minuto 10, onde ele, ao passo que tortura e abusa sexualmente
de uma vítima, canta e dança a música “Singing in the rain". Outra caraterística
explicada no critério é a aversão a atividades rotineiras, como escola e trabalho, em
que novamente é notoriamente aplicado ao protagonista, já que este não possui
emprego e mal comparece às aulas, como já descrito no parágrafo anterior.
Posterior à cena do minuto 10, os pais de Alex conversam na cozinha sobre o
horário tardio em que ele chegou em casa e indagam sobre qual seria o trabalho que
arranjou no período noturno. Pode-se, portanto, verificar outro critério descrito contido
no PCL-R, o de mentira patológica, sendo que o jovem consegue manipular o cenário,
como se realmente possuísse ocupações informais à noite e os pais acreditam que
este é o motivo do cansaço, mantendo-o sem cobrança alguma dentro de casa.
Considerando que Alexander tem permissão de faltar uma semana consecutiva de
aula, mesmo sem emprego fixo, o personagem caracteriza mais um item da Tabela 1,
o estilo de vida parasita, visto que ele usufrui dos pais em benefício próprio, sem
apresentar nenhum esforço para obter um emprego remunerado nem se importar com
o sentimento deles, como exemplo. Esse comportamento parasita também pode ser
relacionado ao sentido de amizade para Alex, a qual é importante apenas para
conseguir ajuda de seus amigos na conclusão de crimes ou para torná-lo líder.
De acordo com o PCL-R, outro fator a ser analisado é a conduta sexual
promíscua em que o sujeito possui relações casuais curtas, sem uma seleção
criteriosa dos parceiros ou cuidados em relação a todo o processo. O comportamento
é observável em Alex no minuto 28 quando aborda duas garotas em uma feira musical

28
e, ao demonstrar interesse, as leva para seu quarto e tem relações sexuais com
ambas ao mesmo tempo.
De acordo com o critério irritabilidade e agressividade (A4 no DSM-V), indicado
pela constante luta corporal ou agressão física, pode-se utilizar como exemplo a cena
de minuto 34 em que a gangue questiona a liderança de Alexander, em um primeiro
momento ele finge aceitar as críticas que recebeu, porém, logo após, quando saem
para caminhar, o protagonista agride um integrante do grupo, empurrando-o em um
lago. Na mesma cena é visível novamente a tendência à falsidade, já que ao oferecer
ajuda para tirá-lo da água, Alexander corta a mão do colega, em vez de concluir o ato,
de maneira a reiterar a liderança que estava sendo questionada.
A falta de controle comportamental, item do PCL-R, é descrito sobre um sujeito
que tem pouca tolerância para qualquer palavra contra ele, e que contraria de maneira
agressiva. São situações breves que demonstram literalmente o descontrole sobre
uma ação, como a cena de minuto 44 em que Alex agride o guarda rapidamente
durante seu interrogatório, demonstrando impaciência frente às atitudes afrontosas e
cínicas do policial.
No minuto 45 do longa-metragem, Alexander aparece sendo interrogado pelos
oficiais de justiça em decorrência de um crime cometido por ele minutos antes, crime
este em que invadiu uma propriedade e agrediu a residente. Ao ser notificado de que
sua vítima havia falecido, ele esbraveja: “interceda por mim, diga que não sou tão mal.
Fui levado a isto pela traição dos outros. Forçaram-me a participar. Sou inocente!”, o
que reforça o critério acerca da ausência de remorso (A7 do DSM-V) e da falta de
remorso e culpabilidade (PCL-R), já que Alex se mostra mais preocupado com a
sentença que receberá pelo assassinato em vez da vida que ele mesmo tirou,
tornando evidente em seu diálogo a indiferença com relação a morte da mulher. Além
disso, ele responsabiliza os outros pelos seus crimes, de modo a terceirizar a culpa –
aspectos característicos do item avaliativo incapacidade de aceitar as
responsabilidades de seus próprios atos contido na Tabela 1. Alex primeiramente
tenta amenizar a situação, relutante em assumir a responsabilidade e, em seguida,
culpabiliza seus amigos, indicando que a ideia teria sido iniciada por eles e que
continuou forçadamente. Com esse diálogo, ele externaliza um sentimento superficial
de culpa, dramatizando o acontecimento para que pareça a vítima, indicando piedade
de si mesmo e não pela vítima, características exemplificadas, principalmente, pelo

29
item de pouca profundidade de afeto do PCL-R. Entretanto, mesmo com a tentativa
de manipulação, Alexander é detido e segue para o presídio.
Em relação ao item da Tabela 1 referente ao egocentrismo/sensação grandiosa
de autovalia indica um indivíduo que se aliena de seus atos, supervalorizando-se e
não percebendo-os como problemáticos, além de desdenhar do trabalho exercido na
prisão, como se este fosse capaz de algo muito maior. É possível notar este
comportamento no minuto 55, quando Alexander afirma que "não tinha sido edificante
[...] ficar num infernal zoológico humano por dois anos [...] encontrando criminosos
depravados e pervertidos prontos para babar em cima de um jovem e formoso
maltchique como o que vos fala”, insinuando que os outros presos são piores que ele,
pois, além de depravados e pervertidos, não possuem a formosura que cita,
demonstrando sentimentos de autovalorização.
No ambiente prisional, para conseguir a liberdade antecipadamente, o
protagonista decide adotar bons comportamentos, demonstrando interesse pela Bíblia
e sempre citá-la a seus superiores, com trechos decorados, insinuando que os usa
para seu dia-a-dia, além de usar vocabulário polido e formal ao falar com policiais e
outros profissionais. Essas características podem ser atribuídas ao item do PCL- R:
loquacidade/encanto superficial, que apresenta uma pessoa com grande
entendimento, com facilidade para comunicação e para manipulação através das
palavras e da maneira de se expressar. Essa atitude pode ser analisada
especialmente nas cenas que são apresentadas do minuto 57 ao minuto 60, em que
ele conversa com o padre e pede mais informações sobre um tratamento experimental
que quer realizar. O padre hesita em repassá-las, porém, Alexander consegue reverter
a situação dizendo que está se esforçando para melhorar e que não se importa com
o fato de participar de um novo experimento com risco, quando afirma que “eu não
ligo para os perigos, eu só quero ser bom”, cortejando o padre, porém com notável
falsidade nas palavras.
Para a compreensão do Critério A3 do DSM-V de impulsividade ou fracasso em
fazer planos para o futuro e do item de impulsividade do PCL-R, explica-se que a
ascendência deste fracasso decorre de um padrão de impulsos que impossibilita o
indivíduo de prever ou planejar um futuro funcional, já que este não consegue
organizar-se mentalmente para manter-se em uma profissão ou capacitar-se para
conquistar estabilidade. Cada decisão é tomada no acontecimento do ato e sem

30
pensar em si ou nas consequências com os outros. Algo semelhante se encontra na
escala PCL-R (Tabela 1) no item fracasso em fazer planos a longo prazo, o qual
descreve um indivíduo que pode possuir a capacidade de planejamento, mas sem
considerar objetivos com grande gerenciamento e se este é citado, não há
desenvolvimento da fala de maneira realista. O critério pode ser aplicado a Alex pela
razão de que não se encontra no filme uma cena – de maneira funcional – no qual ele
se planeja para encontrar um emprego ou qualquer encaminhamento para ensino
superior. Os únicos planejamentos efetivos que o longa explicita é a melhora na
conduta de Alexander dentro do encarceramento para restaurar sua liberdade antes
do cumprimento total de sua pena, possibilitada pela participação do personagem em
um estudo, como aparece no minuto 66, cena em que ele compartilha com os
ouvintes: "para ser um maltchique livre em duas semanas, eu estava disposto a
aguentar muita coisa meus irmãos”. Porém, ambos os feitos não podem caracterizar-
se efetivamente como planos em relação ao futuro porque se mostram com efeitos a
curto prazo, e visando um único objetivo de retorno para comportamentos impulsivos
e que ferem a conduta normativa social, e não objetivos para ascensão funcional, o
que designa o personagem como cumpridor do critério.
A atribuição dada ao personagem quanto ao Critério A1 (fracasso em ajustar-
se às normas sociais) do DSM-V (Quadro 3) podem ser relacionadas com o fato do
protagonista já ter sido preso por mau comportamento – sendo evidente no filme, pois
era acompanhado em algumas cenas por um agente de liberdade condicional – e
mesmo assim, permaneceu dispondo de condutas violentas tal como roubos,
latrocínios e abusos sexuais. Em consequência destes atos, o Alex reincidiu no crime
pouco tempo depois, no momento em que foi pego pela polícia por ter invadido a casa
de uma mulher, ou seja, continuou com os mesmos comportamentos desviantes.
O fato de Alex cometer crimes antes dos 17 anos, além de reincidir novamente
nos delitos, possibilita a visualização de outros dois itens do PCL-R: delinquência
juvenil e revogação da liberdade condicional. Pode-se afirmar isto devido ao fato de a
escala descrever primeiramente um menor de idade com contravenções e que
possuem contato direto com o sistema prisional, seja através do presídio ou consultor
pós correcional. Já o segundo item descreve um sujeito que revoga sua liberdade
condicional ao permanecer no caminho no qual praticava condutas desviantes.

31
O item de versatilidade criminal presente na escala da Tabela 1 apresenta uma
lista contendo 15 categorias de comportamentos criminais para contabilizar qual a
pontuação do indivíduo, a partir da quantidade e variedade dos crimes cometidos,
pontuando 0 (zero) quando comete de 1 a 3 crimes; um ponto quando comete 4 ou 5
delitos e dois pontos quando realiza 6 ou mais crimes. A partir disso, o personagem
de Laranja Mecânica obteve 2 pontos, já que cometeu 7 dos 15 crimes analisados*:
roubo com violência; agressão e crime sexual na cena em que Alex invade a moradia
de um casal e, após agredir o marido abusa sexualmente da esposa, posteriormente,
aparece em seu quarto guardando dinheiro e um relógio que possivelmente pertencia
ao casal; homicídio, sendo este o motivo pelo qual foi preso em regime fechado, na
quando assassinou uma mulher após invadir sua residência; fuga, sendo possível
visualizar na cena em que após entrar em conflito com uma gangue Alex e seus
amigos fogem antes da polícia chegar e, em seguida, cometem outra categoria de
crime, a negligência criminal (infração grave de segurança de trânsito) quando Alex,
de maneira imprudente, dirige na contramão e em alta velocidade, expondo todos que
estavam passando à grande risco, visto que em nenhum momento ele tentou
continuar mais devagar ou desviar de quem passava e, por fim, posse de armas, já
que em grande parte do filme o personagem principal aparece usando um cassetete,
considerado uma arma branca.
Por fim, destaca-se que os itens de problemas de conduta precoces e
relacionamentos conjugais curtos do PCL-R não foram possíveis de explorar no filme,
inviabilizando suas análises.

Louis Bloom (O Abutre)


O personagem Louis Bloom, de O Abutre, apresenta quatro dos critérios
descritos no Quadro 3, referente ao DSM-V, sendo eles os A2, A4, A5 e A7, relativos
à tendência a falsidade; irritabilidade e agressividade; descaso pela segurança de si

*1. Furto, roubo em estabelecimentos, posse de instrumentos para furtar, posse de objetos roubados. 2. Roubo,
assalto à mão armada, roubo com violência, extorsão, etc. 3. Crimes relacionados com drogas (posse, tráfico). 4.
Agressão, agressão causando lesão corporal. 5. Homicídio, tentativa de homicídio, homicídio doloso, etc. 6. Posse
de armas ou explosivos. 7. Crimes sexuais. 8. Negligência criminal, incluindo infrações graves de segurança de
trânsito (condução imprudente, bater, correr). 9. Fraude, falsificação, usurpação de personalidade, engano, etc.
10. Fuga, ilegalidade em liberdade, falta de fiança, falta de confissão. 11. Sequestro, detenção ilegal, retenção
forçada, sequestro de veículos. 12. Incêndio intencionado. 13. Obstrução da justiça, perjúrio. 14. Crimes contra o
Estado, incluindo traição, espionagem, contrabando e evasão de impostos. 15. Contravenções mistas, incluindo
vandalismo, causando distúrbios e danos, sendo intencionais ou não e pequenas infrações de segurança no
trânsito (por exemplo, dirigir com carteira de habilitação suspensa).
32
ou de outros e ausência de remorso, respectivamente. Portanto, como é necessário
apresentar ao menos três padrões de comportamento da Categoria A para fechar
diagnóstico do TPAS, o transtorno de personalidade antissocial também pode ser
verificado no personagem Louis Bloom, a partir dos critérios do DSM-V.
Quanto ao exposto na Tabela 1, o personagem Louis Bloom obteve a
pontuação 0 (zero) nos itens de estilo de vida parasita; fracasso em fazer planos a
longo prazo; impulsividade e revogação da liberdade condicional. Pontuou 1 (um) nos
tópicos acerca da necessidade de estimulação/tendência ao tédio; falta de controle
comportamental; conduta sexual promíscua e versatilidade criminal. Além disso, o
protagonista de O Abutre obteve a pontuação 2 (dois) em 9 dos 20 itens, sendo eles:
loquacidade/encanto superficial; egocentrismo/sensação grandiosa de autovalia;
mentira patológica; direção/manipulação; falta de remorso e culpabilidade; pouca
profundidade de afeto; insensibilidade/falta de empatia; irresponsabilidade e
incapacidade de aceitar as responsabilidades de seus próprios atos. Os itens
problemas de conduta precoces; relacionamentos conjugais curtos e delinquência
juvenil não foram passíveis de análise no longa-metragem, visto a ausência de cenas
que abordassem a descrição dos referentes critérios. Como Louis Bloom obteve 22
pontos, o personagem pode ser considerado como psicopata moderado, já que
segundo a descrição do instrumento PCL-R, os que obtêm entre 20 e 29 pontos se
inserem dentro desta categoria.
Pode-se observar, logo nas cenas iniciais do filme, a manifestação de alguns
padrões comportamentais do protagonista contidos no Quadro 3 e na Tabela 1. No
início do longa, Louis tenta invadir e ultrapassar uma área restrita, mas é impedido por
um guarda, o qual o aborda, questiona sobre sua presença no local e pede sua
identidade. Bloom, por sua vez, desconversa e busca manipular a situação a seu
favor, dizendo que achava ser uma área de desvio, entretanto, sabe-se que Louis
havia arrombado a grade de propósito para entrar na propriedade. Dessa forma, pode-
se verificar a presença dos critérios de tendência à falsidade (A2 do DSM-V) e mentira
patológica (PCL-R), os quais descrevem, respectivamente, comportamentos de
enganação e manipulação para obtenção de ganho ou prazer pessoal e uso de
esclarecimentos, desculpas e promessas que geralmente são inconsistentes com sua
conduta real. Já depois de o personagem perceber que sua manipulação não está
sendo eficaz, ele nocauteia o policial com um soco e rouba seu relógio antes de fugir,

33
evidenciando a presença dos critérios A4 e A7 do DSM-V: irritabilidade e
agressividade e ausência de remorso.
O item de loquacidade/encanto superficial diz respeito a facilidade verbal e a
capacidade de sempre ter uma resposta rápida e inteligente, assim como histórias
incríveis e convincentes, que o colocam em um bom lugar. Este e o item de mentira
patológica, ambos da escala PCL-R, são evidentes em diversos momentos do filme,
visto que Louis apresenta forte capacidade para negociar, argumentar e persuadir
pessoas, incluindo situações em que ele mentiu para se favorecer. Isso pode ser visto
na cena em que realizou uma entrevista de emprego (minuto 23) com um homem a
fim de contratá-lo para ser seu assistente. Sabendo que o rapaz era inexperiente,
Louis se aproveita da situação e mente dizendo que, em sua organização, ele
primeiramente oferece uma vaga de estágio para posteriormente efetivar o funcionário
– com o objetivo de pagar um salário mais baixo. No entanto, Bloom ainda não possuía
nenhuma empresa muito menos um colaborador, pois havia começado a trabalhar no
jornalismo criminal como freelancer recentemente.
No minuto 50 do filme é observável o item sobre conduta sexual promíscua da
escala PCL-R, no momento em que Louis Bloom, em um encontro com a diretora de
notícias da emissora KWLA, sugere ter relações sexuais com ela para manter a
exclusividade de suas gravações, caso contrário, ela perderia as próximas filmagens,
visto que ele iria ofertá-las a outros canais.
Já o item de avaliação do PCL-R sobre a incapacidade de aceitar as
responsabilidades de seus próprios atos – onde o indivíduo, geralmente, possui
alguma desculpa para seu comportamento, como por exemplo colocar a culpa nos
outros – é visível na cena de minuto 53. Nesta situação, Louis discute com seu
assistente no carro e o culpabiliza pelo trânsito que irão enfrentar para chegar em um
acidente, o que os faria perder a exclusividade do acontecimento, visto que o ajudante
é o responsável por guiar a rota para o motorista (Louis). No entanto, no meio da
discussão Louis expõe que já havia conhecimento de quais seriam as ruas que
estariam bloqueadas, portanto poderia desviar do trânsito por conta própria. Nesta
cena, além do critério supracitado, pode-se observar a presença do item de
egocentrismo/sensação grandiosa de autovalia, contido na Tabela 1, considerando
que sua descrição abrange uma postura grosseiramente inflada de suas habilidades

34
e autovalorização, e frequentemente bastante autoconfiante, teimoso e arrogante,
comportamentos apresentados por Louis Bloom.
O critério referente à falta de controle comportamental do PCL-R refere-se à
adoção de comportamentos violentos, ameaças ou agressões verbais frente a
frustrações, sendo que esta conduta geralmente é breve e é considerada inadequada
aos olhos dos outros. Este critério é observável aos 57 minutos do longa quando Louis
se revolta pelo fato de não ter conseguido gravar um acidente crítico envolvendo
diversas vítimas, e, consequentemente, não foi recompensado monetariamente pela
emissora de televisão. Em consequência disso, o protagonista responde à essa
frustração de forma violenta, gritando e socando o espelho, fazendo o quebrar.
Já a presença do Critério A5 (descaso pela segurança de si ou de outros) do
DSM-V e do item irresponsabilidade do PCL-R são visíveis em duas situações em que
Louis dirige seu carro em alta velocidade, ultrapassando outros veículos de forma
arriscada e avançando em sinal vermelho. Isso deve-se ao fato de que a descrição
dos critérios abrange, entre outras questões, a de comportamentos irresponsáveis na
direção, como velocidade excessiva e condutas que colocam os outros em risco. O
primeiro acontecimento a respeito dessa irresponsabilidade se sucedeu aos 58
minutos do filme, no momento em que Louis pretendia chegar o mais rápido possível
em um acidente para ser um dos primeiros a gravar as cenas. O segundo
acontecimento que o protagonista agiu com este padrão de comportamento foi no
minuto 99, onde tentava alcançar uma perseguição de carro entre policiais e
criminosos. Em ambas situações seu assistente, chamado Rick, pede para que ele vá
mais devagar e dirija com mais cuidado, mas Louis não esboça uma reação e sequer
demonstra se importar com sua segurança e com a de seu colega.
Há outra cena que se destaca no minuto 92 do filme, a qual consiste no
momento em que Louis liga para a polícia com o objetivo de contar o local no qual os
criminosos – que cometeram latrocínio com os moradores de uma mansão – estão.
Porém, o personagem já tinha conhecimento de quem eram estes assaltantes por
conta da gravação que havia feito no momento da invasão na casa. Quando a agente
policial vai atrás dele indagando se nas filmagens os rostos dos criminosos aparecem,
Louis nega, pois já idealizava, em breve, telefonar para a polícia e entregá-los em um
momento que fosse oportuno para si, já que assim teria a oportunidade de realizar
gravações exclusivas do confronto. E assim o fez: o protagonista realizou o contato

35
com as autoridades quando identificou os assaltantes em um restaurante, mesmo
sabendo que ali haviam inocentes que poderiam se tornar vítimas dessa fatalidade,
sendo alertado inclusive por seu assistente sobre esse possível acontecimento, mas
o protagonista demonstrou não se importar e disse: “trabalharemos com o que temos”.
Quando os policiais começaram a trocar tiros com os criminosos, essas vidas que não
estavam envolvidas no confronto foram perdidas. Em toda essa cena, é notória a
presença dos critérios de avaliação de direção/manipulação, falta de remorso e
culpabilidade, insensibilidade/falta de empatia e versatilidade criminal, contidos no
PCL-R, sendo que o primeiro desses diz respeito ao uso de engano, trapaça, fraude
ou manipulação dos outros, referente à omissão de provas contra os criminosos que
Louis realizou, até que surgisse um momento oportuno.
Como consequência da perseguição, a viatura dos policiais e o carro dos
criminosos se envolvem em um grave acidente. Louis, assistindo a cena de
retaguarda, decide parar seu carro e pedir para Rick gravar o acidente mais de perto,
mesmo sabendo que um dos assaltantes ainda estava vivo e armado dentro do carro
capotado. Quando o assistente se aproxima para realizar a gravação, acaba por ser
baleado e morto pelo criminoso. A cena corta para Louis filmando todo o
acontecimento, desde o momento do acidente até o momento de óbito de seu
funcionário – sem ter uma reação de surpresa, tristeza ou preocupação – com o
objetivo de vender as filmagens para obter ganho financeiro. Dessa forma, também é
evidente a presença de outros três itens de avaliação da escala PCL-R: falta de
remorso e culpabilidade, insensibilidade/falta de empatia e pouca profundidade de
afeto, configurados, respectivamente, como a falta geral de interesse – em
consequências de suas ações e que não oferece demonstrações convincentes de
culpa e remorso por sua conduta ou pelos efeitos que ela tem sobre os outros –,
insensibilidade, que dispensa os sentimentos, os direitos e a felicidade dos outros, e
incapacidade de expressar emoções intensas.
Na escala PCL-R, o item de versatilidade criminal é avaliado conforme a
variedade e quantidade de crimes cometidos pelo sujeito, sendo pontuação 0 (zero)
quando comete entre 1 a 3 crimes da lista apresentada; pontuação 1 (um) quando
comente entre 4 a 5 e pontuação 2 (dois) quanto comete 6 ou mais delitos. No caso
do filme em questão, O Abutre, Louis Bloom obteve 1 (um) ponto, visto que cometeu

36
4 dos 15 crimes descritos no teste**. O primeiro deles refere-se ao furto realizado pelo
protagonista na primeira passagem do filme, onde ele furta tampas de esgoto e uma
expressiva quantidade de fios de cobre e tela de arame para conseguir vender.
Também ocorre mais um furto no minuto 11, quando o personagem rouba uma
bicicleta. Além dos furtos, Louis comete outro crime quando realiza um roubo junto de
violência, onde pode ser visualizado no momento em que pega o relógio do policial
depois de nocauteá-lo. O próximo tipo de crime praticado pelo protagonista refere-se
à negligência criminal em que comete uma infração grave de segurança de trânsito,
como condução imprudente e direção em alta velocidade. E por fim, a última categoria
de crime cometida diz respeito à obstrução da justiça, sendo observado na ocasião
em que Louis omite informações acerca dos criminosos foragidos, escolhendo delatar
posteriormente em uma situação favorável para si.
Por fim, o item avaliativo de necessidade de estimulação/tendência ao tédio
(Tabela 1) refere-se à necessidade excessiva de estimulação nova e à propensão
incomum ao tédio. Esse padrão de comportamento, que frequentemente se expressa
com um forte interesse em aproveitar as oportunidades e fazer o que é excitante,
arriscado ou desafiador, pode ser observado pela própria escolha de carreira de Louis
Bloom de freelancer no jornalismo criminal, considerando as atividades exercidas pelo
personagem, como por exemplo buscar acidentes cada vez mais graves e manipular
cenas de crime.
Vale ressaltar que em ambos os filmes, as cenas descritas não são as únicas
capazes de exemplificar os critérios do DSM-V e do PCL-R, contidos no Quadro 3 e
Tabela 1, respectivamente. De modo que, dentre todas as cenas que os personagens
apresentaram comportamentos que condizem com o TPAS, foram escolhidas as que
melhor possibilitariam a visualização para o leitor dos critérios na prática.

**1.Furto, roubo em estabelecimentos, posse de instrumentos para furtar, posse de objetos roubados. 2. Roubo,
assalto à mão armada, roubo com violência, extorsão, etc. 3. Crimes relacionados com drogas (posse, tráfico). 4.
Agressão, agressão causando lesão corporal. 5. Homicídio, tentativa de homicídio, homicídio doloso, etc. 6. Posse
de armas ou explosivos. 7. Crimes sexuais. 8. Negligência criminal, incluindo infrações graves de segurança de
trânsito (condução imprudente, bater, correr). 9. Fraude, falsificação, usurpação de personalidade, engano, etc.
10. Fuga, ilegalidade em liberdade, falta de fiança, falta de confissão. 11. Sequestro, detenção ilegal, retenção
forçada, sequestro de veículos. 12. Incêndio intencionado. 13. Obstrução da justiça, perjúrio. 14. Crimes contra o
Estado, incluindo traição, espionagem, contrabando e evasão de impostos. 15. Contravenções mistas, incluindo
vandalismo, causando distúrbios e danos, sendo intencionais ou não e pequenas infrações de segurança no
trânsito (por exemplo, dirigir com carteira de habilitação suspensa).
37
3. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS

A partir dos resultados obtidos no Quadro 3 e na Tabela 1, abre-se a


possibilidade de uma análise sobre as diferentes nuances do transtorno de
personalidade antissocial nos personagens principais de cada filme.
Uma classificação acerca do tema é relatada por Karpman (1948 apud
RIBEIRO, 2017), o qual descreve a distinção entre psicopata primário e secundário.
O primeiro é caracterizado como sendo um indivíduo que é incapaz de sentir empatia,
é calculista, insensível e manipulador, de forma que tudo que faz tem como finalidade
obter ganho ou prazer próprio. Essas características são perceptíveis por meio dos
padrões comportamentais adotados em diversos momentos na trajetória de Louis
Bloom, uma vez que quanto mais o personagem foi se inserindo no mundo do
jornalismo criminal, mais ficou deslumbrado, gerando alternativas não tão positivas
como roubos, chantagens, mortes e obsessão a fim de obter o que desejava: o
sucesso profissional. Soeiro e Gonçalves (2010) apontam que outro fator
característico dos psicopatas primários é a baixa ansiedade e elevada extroversão,
aspectos também observáveis na história de Louis, tendo em vista sua notável
loquacidade e encanto superficial que o proporcionou conhecer diversas pessoas que
o estabeleceu como profissional.
O padrão de comportamento apresentado por Alexander DeLarge, por sua vez,
pode ser associado à psicopatia secundária, caracterizada pela impulsividade e
indiferença com as consequências de seus atos, seja para si mesmo ou para as
vítimas (WARBURTON; ANDERSON, 2015 apud RIBEIRO, 2017). Os
comportamentos e a adaptação emocional dos psicopatas secundários se
desenvolveram a partir de contingências ambientais desfavoráveis, como a rejeição
ou abusos significativos, resultando em comportamentos impulsivos, agressivos e
neuroticismo (CARVALHO, 2013; DEAN et al., 2013 apud HIDALGO; SERAFIM,
2016). Em vista disso, pode-se concluir que o personagem Alex DeLarge, de Laranja
Mecânica (1971), se enquadra perfeitamente ao que a teoria diz sobre o psicopata
secundário.
Outra forma de classificação foi descrita pelo autor da escala PCL-R, Robert
Hare (1991 apud MORANA, 2003). O psicólogo dividiu a população forense em três
categorias, de acordo com a pontuação obtida no referente teste, de forma que os que
pontuam abaixo de 20 são classificados como não-psicopatas. Enquanto que os que

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obtêm entre 20 e 29 pontos são identificados como psicopatas moderados e acima
dessa pontuação, o indivíduo será reconhecido como psicopata. A partir disso, pode-
se enquadrar o personagem Louis Bloom como psicopata moderado considerando
que sua pontuação na escala PCL-R (Tabela 1) foi de 22 pontos. Já Alexander
DeLarge, pode ser reconhecido como psicopata, tendo em vista os 32 pontos que
obteve no PCL-R, descrito na Tabela 1. Em contrapartida, Masnini e Macedo (2019)
trazem três subdivisões da psicopatia descritas por Silva (2017): psicopatia de grau
leve, moderado e grave. O menor grau se refere a indivíduos que frequentemente se
colocam no papel de vítima, culpabilizando os demais por suas atitudes, além de não
cometerem efetivamente crimes violentos. Essa categoria é difícil de ser
diagnosticada, já que fazem parte do convívio social, onde manipulam e não
preenchem todos os critérios estabelecidos. A partir disso, pode-se identificar
perfeitamente Louis Bloom dentro da categoria de psicopata de grau leve, o que
diverge da classificação descrita acima de psicopata moderado. Já o grau de
psicopatia grave descrito diz respeito ao indivíduo que manifestam perigo para a
sociedade, tendo em vista seus comportamentos que ferem a integridade física das
vítimas, assim como apresentam um prazer irresistível “em enganar, torturar e matar
e planejam suas ações visando despertar o maior sofrimento possível na vítima”.
Portanto, o personagem Alexander DeLarge se insere dentro da classificação mais
grave de ambos os autores, Hare (1991 apud MORANA, 2003) e Silva (2017, apud
MASNINI; MACEDO, 2019). Enquanto que a psicopatia de grau moderado não se
encaixa em nenhum dos protagonistas, já que considera os indivíduos que realizam
golpes e trapaças em escala maior que os de grau leve, assim como apresentam
sentimentos de tédio e sintomas de depressão e ansiedade.
Os personagens escolhidos também exemplificam perfeitamente a teoria
defendida por Dutton (2018), o qual considera que há uma ampla inserção de pessoas
com TPAS na sociedade em papéis inimagináveis, com natureza competitiva,
agressiva, coercitiva ou então que exigem um certo nível de frieza e foco acima do
comum, como políticos, líderes empresariais, cirurgiões, militares e seguranças
públicos. Dessa forma, a combinação entre os dois principais pilares do transtorno –
baixa aversão ao risco e ausência de remorso – proporcionam uma carreira de
sucesso, tanto no crime quanto nos negócios, devido à presença de insensibilidade
com os outros.

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A presença do transtorno de personalidade antissocial em pessoas pode ser
igualmente identificada em ambientes prisionais e corporativos, neste último onde
desempenham papeis de poder e controle sobre outras pessoas (HARE et al., 2010
apud DUTTON, 2018). Assim como aponta Deutschman (2005 apud DUTTON, 2018),
o caos organizacional gera intensos estímulos, necessários para a busca psicopática
pela emoção, visto que esses indivíduos apresentam uma condição biológica velada
aos seus comportamentos. Explicada pela Teoria da Excitação Geral da Criminalidade
(EYSENCK; GUDJONSSON, 1989 apud MORANA; STONE; ABDALLA-FILHO,
2006), essa condição refere-se a um “sistema nervoso relativamente insensível a
baixos níveis de estimulação”, com base nisso, estes indivíduos consequentemente
acabam sendo estimulados a cometerem crimes ou atividades que envolvam um risco
alto.

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O objetivo do presente estudo foi relacionar os critérios diagnósticos do


transtorno de personalidade antissocial e explorar suas manifestações severas e
brandas a partir dos personagens Alexander DeLarge e Louis Bloom, nos filmes
Laranja Mecânica (1971) e O Abutre (2014), respectivamente. Os resultados
encontrados que se destacaram foram à similaridade da manifestação do item
referente a falta de remorso nos personagens, tanto do DSM-V quanto do PCL-R, já
que em ambos os casos houve a presença de atitudes frias e insensíveis. Enquanto
que o fracasso em fazer planos a longo prazo foi o critério de maior discrepância entre
as manifestações, considerando que um dos personagens se mostrou bastante
ambicioso para realizar seus objetivos profissionais e, em contrapartida, o outro
apresentou comportamentos impulsivos, o que torna possível a visualização das
diferentes nuances do TPAS. No entanto, algumas limitações foram observadas,
como não ter tido acesso ao passado dos personagens associado ao desenvolvimento
do transtorno e seus comportamentos diários, portanto, alguns critérios não foram
totalmente elucidados pelas cenas, dispondo da interpretação do observador.
Apesar do TPAS acometer cerca de 1% a 2% da população geral, o tema não
é muito explorado no contexto acadêmico. Portanto, o presente estudo contribui para
profissionais da área da saúde e jurídica a compreenderem como o transtorno pode
ser manifestado em diferentes níveis e como seus comportamentos podem ser
identificados no dia a dia. Para isso, utilizou-se dois filmes que abordem indivíduos
iguais em relação à presença do TPAS, mas ao mesmo tempo totalmente diferentes
em relação à forma como cada um se comporta, proporcionando um melhor
entendimento de como o espectro é na vida real.
Para além do referente trabalho, sugere-se pesquisas que explorem e
descrevam detalhadamente as nuances das manifestações do TPAS, já que a maioria
dos trabalhos encontrados se referem a psicopatia, e não ao transtorno propriamente
dito.

41
AGRADECIMENTOS

Agradecemos primeiramente aos nossos pais pelo apoio financeiro durante


toda trajetória da faculdade e por todo suporte emocional para que pudéssemos
evoluir nessa nova fase.
Agradecemos também a todos os professores do curso de Psicologia da
Pontifícia Universidade Católica do Paraná que nos ajudaram a chegar até aqui, mas
em específico à professora Drª. Antoniela Yara Marques da Silva que acreditou no
nosso potencial para realizar este projeto e ofereceu a ajuda necessária para que
pudéssemos concluí-lo.
E por fim, agradecemos umas às outras, pois começamos esta trajetória juntas
e iremos finalizá-la da mesma forma. Se não houvesse as três partes para a realização
deste projeto, ele não seria tão especial.

42
REFERÊNCIAS

AMERICAN PSYCHIATRIC ASSOCIATION. Manual diagnóstico e estatístico de


transtornos mentais: DSM-5. 5. ed. Porto Alegre: Artmed, 2014. 992p.
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43
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TRIVIÑOS, A. N. S. Introdução à pesquisa em ciências sociais: a pesquisa qualitativa
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44
ANEXOS

ANEXO A - Escala de psicopatia de Robert D. Hare

Fonte: Hare, 2003.

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