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PONTIFÍCIA UNIVERSIDADE CATÓLICA DO PARANÁ

ESCOLA DE CIÊNCIAS DA VIDA

CURSO DE PSICOLOGIA

LARISSA BRAZ LOYOLA

MANOELA SANTOS BATISTA

MARIA LUIZA ELIAS BATISTA

MARÍLIA BERTINATO BACH

PAULA MANSUR FERREIRA DOS SANTOS

ORIENTAÇÕES SOBRE O TRABALHO FINAL DA DISCIPLINA

CURITIBA

2021
QUESTÕES

1) Apontem a estrutura mítica do sistema familiar envolvendo a relação


entre mito, rituais, mandatos e lealdades.

O mito busca dar sentido e dar uma resposta a acontecimentos, além de


criar uma realidade que permite suprir necessidades afetivas para manter um
vínculo, os quais podem ser construtivos ou desorganizadores. O rito é uma série
de comportamentos codificados que se repetem no tempo, sendo usados para
transmitir valores ou crenças peculiares e servem como suporte ao significado
que cada um se atribui. A partir destes conceitos, o primeiro mito demonstrado
no filme pode ser relacionado à crença da necessidade de união entre todos,
assim foram estabelecidas ordens através do rito da concha. Este consiste em
organizar as falas e vontades de cada integrante, uma vez que aquele que
desejasse expressar seus pensamentos deveria estar com a concha em mãos.
Tal mito citado anteriormente foi derrubado pela barbárie apresentada quando a
maioria se uniu contra outro mito: o monstro. Dessa forma, como um ritual, essa
tribo pintava os rostos e dançava em volta da fogueira contra o inimigo comum
e contra quem não estava ligado a eles, ou que oferecia riscos aos seus
propósitos. Sua lealdade pertencia a quem oferecia maiores benefícios naquele
determinado momento, mesmo que isso demonstrasse ódio ao primeiro grupo
antes da separação.
O mandato consiste na designação de papéis e deveres, por exemplo no
início do filme na cena em que Ralph, enquanto líder, estipulava a cada um do
grupo o dever de caçar, pescar e ajudar nas tarefas necessárias. No entanto,
quando os indivíduos começaram a se separar e a maioria procurou pela equipe
de Jack, havia também outros diferentes mandatos advindos deste novo grupo
que, consequentemente, gerou uma certa lealdade dos participantes para com
o líder, no qual eles o seguiam e o obedeciam, além de criarem expectativas
sobre o que aquele grupo poderia proporcionar, como por exemplo a
alimentação, a eficiência, a diversão e a caça. Em contrapartida, a lealdade
também está presente na relação de Piggy e Ralph que permaneceram juntos
até o final, uma vez que Piggy acreditava nos conceitos de Ralph e o
aconselhava quando necessário. Pode-se dizer então que a lealdade consiste
em um indivíduo que demonstra afetividade e compromisso para os demais do
sistema, no entanto, para isso o líder exige o respeito e obediência às regras.
Em analogia ao filme, esse processo está mais presente no grupo de Jack, pois
era uma pessoa que gostava do poder e também de controlar os outros
integrantes.

2) Demonstrem os padrões de relação existentes ao longo da história desta


família (mínimo dois) e a forma recursiva de sua manutenção. Relacioná-
los com a estrutura mítica da família.

A partir do filme, conseguimos analisar e concluir que o grupo do Jack


possuía um padrão individualista autocrático de violência, de caça, de eficiência,
de poder, mas também de diversão, onde eles dançavam e corriam em volta do
fogo, praticavam cultos onde pintavam o rosto e insultavam os membros da outra
equipe. Já o grupo de Ralph era baseado no padrão da escuta ativa e empatia,
no qual era utilizado uma concha para quem quisesse falar na assembleia,
fazendo uma analogia com o caráter democrático. Eram organizados, onde havia
tempo para tomar banho, para comer, para pescar, para trabalhar e para se
divertir. Ralph procurava ser salvo, tanto que se importava bastante com a
fogueira no alto da montanha que servia como um sinal para helicópteros,
enquanto Jack parecia gostar do ambiente e querer permanecer na ilha, isso
pode ser justificado nas cenas em que ele dizia ter se livrado de todas as
obrigações: escola, professores, mulheres, etc. além de não se importar quando
a fogueira era apagada. Ademais, Jack sempre possuía pensamentos
pessimistas dizendo que todos deveriam aceitar seus destinos, ou seja, o
destino de ficarem presos para sempre. Em suma, foi possível identificar que os
padrões do grupo de Ralph e do grupo de Jack serviam como base para a
construção da estrutura familiar de cada um deles.

3) Expliquem e apontem o sentido sistêmico de dois sintomas existentes


nas relações familiares e sua relação com o ciclo vital familiar.

A exposição dos meninos na ilha às situações adversas como a


necessidade de sobrevivência, de segurança, de alimentação, de proteção, de
competição e de convívio trouxeram exigências para que todos desenvolvessem
habilidades adaptativas ao contexto que estão inseridos. Estes fatores
configuram um conjunto de estressores, os quais provocam sintomas que por
sua vez surgem como soluções inadequadas às dificuldades e podem se
apresentar de múltiplas formas. Eles têm a função de revelar o que está
acontecendo, indicar mudanças estruturais necessárias e apontar
disfuncionalidades do sistema e sempre servem para algum propósito. Os
sintomas desencadeiam uma transformação do grupo, decorrendo, assim, o
processo de ciclo vital familiar. Este consiste em um processo de
desenvolvimento no sentido de sua evolução, o qual diz respeito à diferenciação
estrutural progressiva e à transformação do grupo.
Em relação ao longa-metragem, essa transformação ocorreu de forma
tanto positiva quanto negativa, pois do mesmo modo que conseguiram evoluir
para sobreviver em uma ilha deserta aprendendo a construir abrigo, a procurar
alimento e a instituir uma comunidade com princípios organizadores e regras
pré-estabelecidas visando um convívio saudável, acabaram por emitir
comportamentos violentos, selvagens e irracionais. Dessa forma, a falta de
alimento, a exposição ao perigo e a crença em seres míticos dentro da floresta
foram eventos estressores que resultaram no aparecimento dos sintomas
existentes, os quais são o aprendizado da pesca, da caça, da elaboração de fogo
e da confecção de armas, respectivamente.

4) Explicar os mecanismos sistêmicos de tendência integrativa, tendência


auto afirmativa, globalidade, movimento centrípeto ou centrífugo
(fronteiras) e auto-organização na dinâmica familiar ao longo da história
apresentada.

De acordo com Rosset (1996), um sistema possui duas tendências: a


tendência integrativa e a tendência auto afirmativa. A tendência integrativa
acontece quando um indivíduo se sente parte de um sistema podendo cooperar
e auxiliar no crescimento grupal, já a tendência auto afirmativa se baseia na
valorização individual garantindo a identidade própria do ser humano. Ambos
conceitos andam juntamente, visto que precisam encontrar um ponto de
equilíbrio entre eles (KOESTLER, 1969). No início do longa-metragem, após
terem ficado ilhados, os meninos começam a se organizar e estabelecer normas
para que o sistema funcionasse adequadamente. Vimos que Ralph foi nomeado
líder e que ele já iniciava uma tendência integrativa, na qual articulava sobre o
que cada um precisava fazer a fim de ajudar no trabalho em grupo e,
consequentemente, fazia com que todos se sentissem parte de uma
organização, além disso, valorizava a diferença e a individualidade, pois disse
que mesmo com cada um tendo ideias contrárias era claro que poderiam estar
com a concha e se expressarem.
O movimento centrípeto consiste na dificuldade de realizar movimentos
extrafamiliares, consequentemente, filhos sem autonomia, dependentes e com
pouca criatividade. Isso se encaixa no caráter do grupo de Jack, visto que os
meninos que costumavam segui-lo não possuíam identidade própria e,
basicamente, aceitavam tudo que vinham ao seu dispor, sem nenhuma
autonomia ou senso crítico. Além disso, havia uma fronteira rígida onde nada
entrava e nada saía, isto é, quando alguém do grupo demonstrava o mínimo de
autonomia e enfrentamento em relação a Jack, ou então não cumpria suas
regras, era punido. Em contrapartida, no primeiro grupo que se formou, onde
Ralph era o líder, existia a tendência centrífuga que representa pais ausentes,
filhos precocemente independentes com sentimento de abandono. Neste
movimento, há uma fronteira difusa onde se encontra alguns aspectos como a
falta de liderança e limites e, em consequência, os membros do grupo dispõe de
grande liberdade, autonomia, levando à rebeldia e desobediência. Em analogia
ao filme, o caráter do primeiro grupo formado possuía essas características de
rebelião, uma vez que Ralph, ao mesmo tempo que impunha deveres também
valorizava a individualidade de cada um, resultando em uma independência e
liberdade para realizarem o que quiserem (JANICE, 2021).
O conceito de globalidade consiste na influência dos laços para com o
meio, isto é, tudo afeta a rede, cada ação e cada movimento possuem uma
consequência. Em relação ao filme, pode-se citar a influência da violência e do
ódio do grupo de Jack contra o grupo de Ralph, onde no início do longa havia
uma boa convivência entre todos, mas, ao longo dos dias, a competitividade do
Jack sobre o Ralph obteve um reflexo nos demais integrantes. Ademais, outro
momento que se encaixa na concepção de globalidade é a questão da caça para
sobreviver habituou nos meninos um comportamento primitivo, e a necessidade
da criação de um inimigo (o monstro), o qual culminou a morte acidental de
Simon. Tantas atrocidades foram excluindo a sociabilidade dos garotos, até que
sobrou apenas o instinto de caça e territorialidade.
A auto-organização consiste na sobrevivência frente à mudança, isto é,
“toda mudança como empenho por manter uma certa constância, e pode ser
interpretado que toda constância se mante por meio da mudança” (BATESON
apud JANICE, 2021). No filme, este conceito se constitui através do
estabelecimento de regras e divisão de tarefas, visto que conseguiram se
reorganizar e se adaptar – desenvolvendo habilidades de trabalho em grupo – a
uma realidade bem diferente daquela em que viviam anteriormente, pois
estavam ilhados e precisavam se alimentar, se proteger e caçar para, assim,
desenvolver um instinto de sobrevivência e manter sua constância.

REFERÊNCIAS

KOESTLER, A. O fantasma da máquina. Rio de Janeiro: Zahar, 1969.

ROSSET, S. M. O uso da teoria geral de sistemas na prática clínica. 1996. Disponível


em: “<http://www.srosset.com.br/textos/uso_da_teoria_geral.html>". Acesso em 8 de
maio de 2021.

Slide da aula de abordagem sistêmica de família e casais. 24/03/2021. Prof. Janice


Strivieri S. Moreira.

Slide da aula de abordagem sistêmica de família e casais. 31/03/2021. Prof. Janice


Strivieri S. Moreira.

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