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A DIMENSÃO CLÍNICA GRUPAL NO

TRABALHO PSICOSSOCIAL COM


FAMÍLIAS NA ASSISTÊNCIA SOCIAL
Texto de Robles e Fernandes (2018)
Qual o lugar e a tarefa da (o) psicólogo(a)
social?

o campo da intersubjetividade e sua


relação com as questões sociais
SUJEITOS EM “RISCO”...COM VIOLAÇÃO
DE DIREITOS

 privações materiais, sofrimentos envolvendo a


intersubjetividade, conflitos relacionados aos
vínculos sociais, geracionais, intergeracionais e
transgeracionais

 fortalecimento do sujeito de direitos (sujeitos


coletivos e individuais) e vínculos familiares e
comunitários
RETOMANDO O CONCEITO DE
VÍNCULO
estrutura psíquica de ligação entre realidades
subjetivas distintas

...fundamentalmente, se trata desse entre os


corpos psíquicos individuais e coletivos que tem
como função a ligação, elaboração psíquica,
transformações e invenção subjetiva, espaço
potencial de produção desejante, espaço de
inscrição dos sujeitos na cultura, espaço de
produção de novas realidades psíquicas (p.46)
ALIANÇAS INCONSCIENTES (AI)
 Matéria psíquica dos vínculos...condição de
produção do inconsciente. 3 funções
1) Ligação: associado ao trabalho da pulsão de
vida como fortalecimento do sistema
psíquico.Também função de separação, contorno,
limite entre eu e o outro, fundamental para a
emergência do sujeito
2) Estruturante: introjeção das leis e contratos
estruturantes da psique, dos vínculos e do pacto
social: proibição do incesto, recalque da satisfação
direta das pulsões, inscrição da filiação, tornando
o sujeito elo e herdeiro, beneficiario da cadeia
(trans) geracional
3) FUNÇÃO DEFENSIVA

 se relaciona com o negativo, com os não ditos, os


conteúdos não simbolizados partilhados, já que
representam um conteúdo excessivo, que colocam
o sujeito em risco e formam a materia psíquica
do pacto denegativo
ESPAÇO INTERMEDIÁRIO
 No momento em que há Separação e ligação –
possibilitada pelas alianças incs - há o espaço
intermediário, uma fronteira permeável em que
para Kaes (e Freud e Winnicott) se operam as
transformações simbólicas, ou seja as
possibilidades de elaboração de conteúdos
que ate então compunham o registro do negativo,
porque excessivos para o psiquismo e que podem
a partir das trocas e do vínculos ser
metabolizados nessa zona comum no encontro dos
recursos psíquicos do eu e do outro e de mais de
um outro.
GRUPO OPERATIVO COMO TÉCNICA DE
TRABALHO

 ...grupo de aprendizagem com tarefa explicita...que apoia


tarefa implícita

 PR espiral dialética: afirmação, negação, negação da


negação:“processo de superação de uma contradição, em
que da reflexão entre dois elementos contrários forma-se
um novo termo” (p.48)

 Esquema conceitual referencial e operativo (ECRO)


que sustenta condutas, pensamentos, emoções, fantasias. O
Ecro deve ter mudanças de qualidade que reorganizam os
vínculos e o funcionamento do grupo em relação à
mobilidade de papeis e elaboração das ansiedade
paranoides e depressivas diante da necessidade de
abandono da ecro anterior...garantir um ganho de
aprendizagem.
PROCESSO GRUPAL
 Envolve: 1) enquadramento (função continente, não
processo); 2) estabelecer tarefas (processo)

 “...assentadas sobre o pacto denegativo, permite a


compreensão da relação entre a formação dos vínculos e
espaços psíquicos intermediários e compartilhados cuja
função é de elaboração (processo) e a possibilidade (ou não)
da continência do negativo na relação, ou seja dos restos
que devem ser correcalcados na relação (depositados no não
processo do enquadramento)
 O que escapa ao não processo e transborda o
processo grupal são os restos que convocam a nomeação
e a inscrição, por se tratar de conteúdos excessivos ao
psiquismo, em virtude da violência simbólica que carrega,
não podem ser correcalcados pelo pacto denegativo e
retornam como sintoma e mal estar
FUNÇÕES DO COORDENADOR
 1) INTERPRETAÇÃO: formulação de hipóteses
sobre aqui a agora do grupo
 2) Oferta de sentido para os restos:
Manifestações do negativo, que estão aquém da
representação

 Conteúdos que circulam no grupo compreendem 2


dimensões: vertical (cada elementos do grupo,
distinto e diferenciado do conjunto, por ex sua
história de constituição e seus processos psíquicos
internos)...horizontal (grupo pensando em sua
totalidade)
PROCESSO GRUPAL DE UM GRUPO
DE MULHERES EM
ACOMPANHAMENTO FAMILIAR NO
CRAS
Famílias em descumprimento de condicionalidades
do bolsa família...Extrema pobreza, falta de acesso a
direitos fundamentais
Atendimentos semanais; 14 semanas, uma hora e
meia
OBJETIVO:

 Propiciar a superação das situações que levaram


as famílias ao descumprimento de
condicionalidades, o que transversalmente
comporta a compreensão das vicissitudes e
transformações presentes nos ciclos de vida
específicos (infância e adolescência), o
fortalecimento dos vínculos familiares, as
reflexões sobre as relações entre os pais, os filhos-
alunos e as instituições de ensino, a apropriação
dos mecanismos de participação popular e
controle social e o acesso aos direitos de
cidadania.
COM REPRESENTANTES DE 15 FAMÍLIAS
 Jessica, Jerusa, Fabiana, Gisele (e a filha Juliana) , Neide,
Lucia, Teresa (e a filha Caroline), Lucia, Denise e Celia.

 tarefa do grupo: refletir sobre as causas que levam os filhos


a terem muitas faltas na escola ou terem abandonado a escola

 a cada encontro uma tarefa do dia atravessada por tarefa


maior

 Emergentes: violência domestica, violência geracional e


intergeracional, desamparo, encarceramento feminino,
humilhação, vergonha.

 Sem possibilidade de nomeação, estavam sendo depositados


nos vínculos familiares, expressando-se através, entre outros,
do sintoma da evasão escolar das crianças e adolescentes
PRIMEIRO ENCONTRO:

 Definição de enquadre, tarefa, uma vez por


semana com horário de inicio e fim, sigilo.
 Primeiro emergente grupal: regulação
psíquica necessária à formação do processo
grupal – o que é suportável e o que não é
permitido - resignação religiosa
 Principais emergentes: violência doméstica,
encarceramento feminino, opressão e desamparo
 ECRO que organiza produção subjetiva e conduta
do grupo com relação à violencia ganha evidencia
e compoe a cadeia associativa grupal, colocando
em movimento a espiral dialética.
PRIMEIRO ENCONTRO:

 Conversa sobre Maria da Penha...alicerces para


construção do aparelho psíquico grupal cuja primeira
fantasia é a impotência diante da violência
doméstica apoiada na defesa pela resignação
com os desígnios de deus.
 reconhecimento da introjeção do processo de
dominação da vitima pelo agressor.
 Afetos presentes: medo, vergonha humilhação
 Fabiana como porta ideal: quase morte, denuncia o
marido, reconstrução da relação com o marido
agressor, mudança do marido “porque deus
transforma”
 Jessica: ciclo da violência...naturalizado pela família
PRIMEIRO ENCONTRO:

 Coordenadora (buscando acionar espiral


dialética): O que te impede de construir uma vida
longe dele?
 Dependência financeira, apatia, apelo religioso
DECIMO QUARTO ENCONTRO

 Cha de bebé,
 avaliação do percurso: algumas mudanças nas
rels com os filhos; grupo oferecer conforto e
proteção com base na formação de novos vínculos
 Tereza como portavoz do grupo...pergunta à coord
como foi para ela... resgata su condição de
sujeito...mulher diferente de mãe...um espaço
para si
ANALISE DO PROCESSO GRUPAL:

 O que esta denegado e que sustenta a aliança


inconsciente pelo pacto denegativo é a própria
condição de sujeito: “ninguém pode desejar,
pensar, mudar. A fantasia revela o par
onipotência divina-impotencia feminina como
mecanismo de defesa, encobrindo o acesso à
potencia de cada uma em emergir como sujeito”
(p.83)
HIPÓTESES
 Contratos narcísico (ser um fim para si mesmo e
para a transmissão da cadeia transgeracional) e
civilizatório (troca simbólica da realização direta
das pulsões por segurança em sociedade) são
estruturantes e oferecem um metaenquadre para
um desenvolvimento psiquico mais seguro, para uma
malhagem com maior capacidade de continência e
elaboração.
 Quando fragilizadas fica evidente a fragilidade
psíquica e não apenas social dessas famílias,
convocando uma modalidade de atendimento
psicossocial, em que o psi opera como um campo
necessário no trabalho social, qual seja mobilizar os
espaços psíquicos intermediários que tem como função
a elaboração simbólica e a continência.
O TRABALHO PSI
 mobiliza a subjetividade dos atendidos e permite promover
o desenvolvimento dos recursos internos dos sujeitos
apoiado nos vínculos...diferente das palestras, reuniões de
orientação, informações ou socioeducativas

 Sentimentos de humilhação, vergonha e medo denunciam


intensidade do ataque narcísico

 Desejo de não pertencer ao local que se é obrigado a


pertencer

 Ofertar um lugar de fala e escuta talvez propicie um


lugar de reconhecimento dos afetos e possivelmente,
a apartir dai, uma transformação
RELAÇÃO ENTRE VIOLÊNCIA DE ESTADO E O
FUNCIONAMENTO PSÍQUICO
 Se fortalecem os pactos denegativos em sua dimensão
defensiva expressos em liberação de condutas irracionais e
violentas ou recurso ao pensamento místico como
consequencia de um reforçamento defensivo de certos
grupos de pertencimento e das ideologias que evitariam o
conflito com a estrutura de poder

Pactos denegativos em sua dimensão defensiva poderia


explicar:

 -Entrada de jovens de periferia no crime organizado...a luta


por reconhecimento promove muitas outras violações de
direitos.

 - Adesão a religiões como sustentação ideológica...com


resignação em relação com realidade social, politica,
econômica...ate justificativa da desigualdade social
 Os mecanismos psíquicos envolvidos ao invés de
estarem a serviço da defesa e manutenção do
vinculo instalam uma paralisia de atividade
mental e causam o esfacelamento do Eu
(alucinação negativa). Estamos na esfera do
impensável...a violência e a destituição que não
podem ser pensadas emergem como sintoma

 a técnica do grupo operativo – centrado na tarefa
– permitiu aprendizagem e mudança...cha de
fraldas...lugar de cuidado, protagonismo e rede de
apoio...projeto próprio...emergente grupal grupal
de seu processo de aprendizagem na espiral
dialética, acolhendo a vida em um lugar de tanta
morte

 Foi importante a mobilidade dos papeis de


portavoz porta sintoma, porta ideal (Teresa).

 Fabiana como líder;


PRINCIPAIS EMERGENTES:

 Vilencia urbana e familiar; desampararo em


relação com as instituições que seriam de
proteção, entre elas a família;
 Vulnerabilidade social associada ao gênero
feminino
 Modelo estereotipado de família nuclear (no lugar
do ideal do grupo)
 Resignifição ligada com a religião operando
defesas,
 Dimensão do direito sem nenhuma materialidade
ou sentido
 REPRODUÇOES INTERGERACIONAIS
PROJETO EMERGENTE:

 vivenciar uma continência a partir do cha de


bebe.
 O grupo pode (não dar um casa a Caroline) e sim
cultivar um espaço compartilhado que porta
experiencias como sonhadas pelo grupo, como
realizar um cha de bebe
ENCARCERAMENTO SIMBÓLICO

 VIOLENCIA de gênero e modelo de sociedade


machista e patriarcal afetam relações familiares,
especialmente as meninas...encarceramento
simbólico projetado e reproduzido nas filhas:
impotência na rel com maridos e
pais...onipotencia, controle e violência com as
filhas, transmitindo em negativo, sem elaboração
na cadeia psíquica transgeracional e
reproduzindo lugares estereotipados na filiação
 Nesses adolescentes que faltam à escola estão
depositadas questões da família, da comunidade,
do grupo escolar.
 Não se trata de só de um encaminhamento a
psicoterapia familiar ..mas de construir um
arranjo possível, com os diversos recursos
presentes no território que possam dar suporte ao
enfrentamento da vulnerabilidade em questão.
PSICOLOGIA SOCIAL E TRANSFORMAÇÃO
SOCIAL

 ...para o empoderamento dos sujeitos e no


horizonte, sua emancipação, através da
emergência do sujeito de direitos e da
apropriação da tal condição como cidadão de
 um sociedade democrática e capitalista
neoliberal...Isto pressupõe contradições
 Liberdade...responsabilidade ...autonomia...com
participação dos usuários das politicas publicas
como sujeito de direitos, mas também como
sujeito dos vínculos
NOVA ESCRITA...
 ...baseada no reconhecimento...em que os vínculos
ganham novos sentidos..
 Operar na realidade compartilhada com abertura
para a escritura de novas narrativas...onde
cabem os movimentos sociais implicados

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