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O conceito de Grupo

Grupo pode ser definido como "um conjunto de indivíduos que interagem entre
si compartilhando certas normas numa tarefa" BLEGER (1998, p. 114). Osório (2003)
utiliza o termo sistema humano: "Sistema humano é, em nosso entender, todo aquele
conjunto de pessoas capazes de se reconhecer em sua singularidade e que estão
exercendo uma ação interativa com objetivos compartilhados" (OSÒRIO, 2003. p. 56).

Grupos são no seu sentido mais geral, configurações sociais de mediação da


relação entre indivíduo e a totalidade social a que ele se vincula; entre a universalidade
da sociedade a particularidade do indivíduo. São, pois, instâncias intermediárias que
articulam a relação do indivíduo com a totalidade social, servindo como elementos de
mediação (FONSECA, 1988, p. 184).

Existem dois tipos de grupos, sendo a família um grupo primário e os grupos


secundários se referindo ao trabalho, estudos, instituições entre outros. Nos grupos, cada
sujeito possui seu lugar e papel, seu modo de ser em coletividade, e o que constitui sua
identidade. É possível compreender que mesmo pertencentes a determinado grupo, com
regras e normas que regem o processo relacional, cada um de seus integrantes, imprime
sua identidade sobre o mesmo, por meio de sua forma de agir, pensar, falar,
contribuindo assim para a ampliação de conhecimentos que constitui aquele grupo,
definindo-o em sua multiplicidade (Grossi; Bordin, 1992).

Segundo Pichon-Riviére, a estrutura dos grupos se compõe pela dinâmica dos 3


D. O depositado, o depositário e o depositante. O depositado é algo que o grupo, ou um
indivíduo, não pode assumir no seu conjunto e o coloca em alguém, que por suas
características permite e aceita. Estes que recebem nossos depósitos são nossos
depositários, nós que nos desembaraçamos destes conteúdos, colocando-os fora de nós,
somos os depositantes (GROSSI; BORDIN, 1992, p. 61).

Pichon-Riviére (2009) trouxe uma grande contribuição quando credita ao


"vínculo", o ponto necessário para se compreender um grupo. Sem o vínculo, tratar-se-
ia então, apenas de um agrupamento de pessoas em um determinado espaço e tempo.
Dado isso, pode se atribuir a esse conceito-chave o ponto necessário para se considerar
o que é um grupo.
Além disso, concebe-se o grupo como agente de mudança e transformação da
realidade, sendo que ao passo que o indivíduo vai se constituindo, o grupo também vai
ganhando, enquanto o grupo se fortalece o indivíduo também se caracteriza, e isso,
devido à interação e ao vínculo estabelecido (Pichon-Rivière, 2009).

Em sua obra "O Processo Grupal", Pichon-Riviére, traz a definição de grupos


operativos:

(...) se definem como grupos centrados na tarefa (...) a tarefa é o essencial do processo
grupal, portanto, temos nesta caracterização os três tipos: a) centrados no indivíduo, b)
centrados no grupo como um conjunto total, o c) os grupos centrados na tarefa.

Desde que nascemos, são os grupos dos quais fazemos parte que nos servem de
referência, que nos dão apoio afetivo, espiritual, material, intelectual. Esses grupos são a
família, a escola, os espaços de trabalho, lazer etc. (...) a história de vida dos indivíduos
é a história de pertencimento em inúmeros grupos. (ALEXANDRE, 2002, p.209)

Quando visualizamos em nossa mente uma pessoa que conhecemos,


involuntariamente também nos lembramos dos grupos aos quais está vinculada, da
equipe e organização onde trabalha, do seu grupo de amigos, de sua família. Pensar em
pessoas nos remete ao motivo primeiro de estudarmos processos grupais: as pessoas são
gregárias. Ou seja, o ser humano vive em grupos, agregado a outras pessoas, e necessita,
desfruta, sofre e se delicia com as interações com seus iguais e seus diversos. Vive com
as dores e os sabores da interdependência, do viver e conviver em grupos.

Esta vivência é assemelhada a uma arte, no sentido de que desenvolvemos


competências, características pessoais que nos permite nos relacionarmos com outras
pessoas, influenciando e sendo influenciados. Esta influência mútua pode gerar
melhorias em nossas competências ou pode dificultar as interações.

A convivência social tem um caráter construtivo do ser humano e, por isso, pode
gerar possibilidades de desenvolvimento de habilidades, de conflito, de laços de
solidariedade, de afetividade e problemas interpessoais, dentre outros, nos indivíduos
em particular. Estes aspectos das relações sociais são conhecidos como processo grupal.
O processo grupal, também chamado de dinâmica psicossocial, refere-se a uma rede de
relações equilibradas de poder entre os participantes de um determinado grupo.
Comunicação no processo grupal

Segundo ZIMERMAN (1993), "os indivíduos que estão fortemente fixados nos
primórdios da oralidade sempre partem de uma posição egocêntrica".

Esse primórdio grupal é o momento de se afiliar e ser aceito num universo ao


mesmo tempo novo e ameaçador, onde cada um representa para o outro uma fonte de
julgamento e crítica. Preservando-se contra tais ameaças, cada integrante volta-se a si
mesmo buscando o que julga ser o melhor para causar uma boa impressão no grupo.
Esse movimento favore o clima de competitividade entre as pessoas, interferindo no
processo de comunicação, uma vez que as falas assumiam características narcísicas.

O mesmo autor afirma que "falar não é o mesmo que comunicar", pois a fala
tanto pode ser instrumento essencial nos processos de troca, como "pode estar a serviço
da incomunicação".

Desenvolver mais conteúdo

Para Pichon-Rivière apud QUIROGA (1994), "o homem é um ser de


necessidades, que se satisfazem socialmente nas relações que o determinam". Partindo
dessa concepção, compactuamos com esse autor, no sentido de que os homens vivem
em grupo para atender suas necessidades (inclusive a necessidade de comunicação), e
nesse processo grupal a comunicação é considerada um fator fundamental para a
satisfação dessas necessidades. PICHON-RIVIÈRE (1995) considera a comunicação
enquanto uma necessidade: "aquilo que o homem tem de mais primitivo e imperioso é
sua necessidade de comunicação".

Para esse mesmo autor, uma das formas de se compreender ou analisar os


processos grupais é através dos vetores universais de avaliação, sendo os
seguintes: Afiliação, Pertença, Cooperação, Pertinência, Aprendizagem, Tele e a
Comunicação.

Considerado o mais importante de todos os vetores segundo Pichon, a


comunicação pressupõe um intercâmbio de significados, a mensagem vai circular por
um canal que inclui ruídos e deverá ser decodificada pelo receptor, podendo ser verbal
ou não verbal; esse vetor é tomado por Pichon como o lugar privilegiado pelo qual se
expressam os transtornos e dificuldades do grupo para enfrentar a tarefa. Na medida em
que cada transtorno da comunicação remete-se a um transtorno da aprendizagem,
veremos os sujeitos grupais tratarem de desenvolver velhas atitudes, em geral mal
aprendidas, com a intenção de abordar os objetos novos de conhecimento. Na visão do
autor em pauta, toda alteração da comunicação grupal se deve a uma dificuldade na
aprendizagem e vice-versa. 

Outro conceito importante é o de operatividade, que se relaciona com mudança.


Operar, para Pichon-Rivière apud LEMA (1996), é "promover uma modificação criativa
da realidade".

Os grupos são vivenciados de maneira peculiar pelos seus integrantes, sendo


cada um único, mas alguns movimentos da dinâmica grupal vão estar presentes, tais
como: as fases e mitos, o medo do ataque e da perda, a alternância entre tarefa e pré-
tarefa.

PICHON-RIVIÈRE (1994) relata que "a aprendizagem se realiza através do


confronto, manejo e solução integradora dos conflitos; enquanto cumpre-se esse
itinerário, a rede de comunicação é constantemente ajustada e só assim é possível
elaborar um pensamento capaz de um diálogo com o outro e enfrentar o medo".

ALEXANDRE, M. Breve descrição sobre processos grupais. V.7. Comum- Rio de


janeiro, p. 209-219, 2002. Disponível em:
< http://www.sinpro-rio.org.br/admin/assets/uploads/files/ef37e-breve-descricao-
sobre-processos-grupais.pdf>

BLEGER, J. O grupo como instituição e o grupo nas instituições. In: Temas de


Psicologia, entrevista e grupos. 2 ed. São Paulo: Martins Fontes, 1998. p.101- 122.

Pichón-Riviére, E. (1982). Teoria do vínculo. Rio de Janeiro: Zahar.

Pichon-Rivière, E. (1988). O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes.

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