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Processos Grupais

Contribuições de Pichon-Riviére, Kurt Lewin e Bion

Professora : Andrielli Bastos

"O ser humano é simultaneamente um


ser sociável e um ser socializado, que
aspira comunicar com os membros
de uma sociedade que o forma e o
controla" (ALEXANDRE, 2002, p. 209),
isso nos remete ao fato de que estamos
sempre inseridos em grupos e são eles
que nos conectam com a chamada
sociedade, o grupo maior.

Anzieu (1996) esclarece que o surgimento do vocábulo grupo, deriva do


Italiano Groppo ou Gruppo, que por sua vez deriva do “grop – nó” e esse derivaria da
palavra alemã “Kruppa” que tem significado de massa circular. Segundo o dicionário a
palavra groppo quer dizer: emaranhado, grande nó, dificuldade. Anzieu (1996) escreve
ainda que Groppo é um termo técnico, das artes, para definir uma pintura ou escultura
de várias pessoas juntas, compondo um tema. Segundo ele, as línguas antigas não
dispõem de nenhum termo para designar uma reunião de pessoas e o termo grupo,
como hoje o conhecemos, com sentido de reunião de pessoas, surge em francês na
metade do século XVIII e, simultaneamente, em Alemão e Inglês, surgem vocábulos
análogos: Grupp e Group. Então, essas origens, de nó e de massa circular, são a base
do modelo de reuniões em grupo conforme conhecemos (obviamente não é o único).
Isso porque, as práticas se dão quase sempre em círculo, de modo que todos possam
se ver e que haja intercâmbio entre os participantes do grupo.
No dicionário atual, temos a definição de grupo como “conjunto de pessoas ou
de objetos reunidos num mesmo lugar, que formam um todo”.
Para Pichon-Riviére (autor que se torna referência em processo grupais )
grupo é “um conjunto de pessoas que possuem necessidades semelhantes e buscam
a priori, o cumprimento de uma tarefa específica. Para a efetivação e realização da
tarefa que se propõem a cumprir, esses indivíduos, deixam de ser um amontoado de
pessoas, e cada um assume seu papel enquanto participante do grupo, com um
objetivo mútuo, mas ainda sim, cada qual com sua identidade”.
O termo adequado para a compreensão dos grupos é “processo grupal”, o que
implica a quem o analisa uma compreensão do contexto social no qual ele se constitui,
das forças internas e externas que interferem na constituição dos sujeitos do grupo.
Pichon-Riviére (2009) trouxe uma grande contribuição quando credita ao
"vínculo", o ponto necessário para se compreender um grupo. Sem o vínculo, tratar-
se-ia então, apenas de um agrupamento de pessoas em um determinado espaço e
tempo. Dado isso, pode se atribuir a esse conceito-chave o ponto necessário para se
considerar o que é um grupo.
Além disso, concebe-se o grupo como agente de mudança e transformação da
realidade, sendo que ao passo que o indivíduo vai se constituindo, o grupo também vai
ganhando, enquanto o grupo se fortalece o indivíduo também se caracteriza, e isso,
devido à interação e ao vínculo estabelecido (Pichon-Rivière, 2009).
Existem, portanto, grupos de diversos tipos. Uma subdivisão com implicações
quantitativas permite diferenciar os grandes grupos sociais e os pequenos grupos ou
microgrupos.
Para Luft o microgrupos é:
[...] o estudo dos indivíduos em interação dentro de grupos cujo número é
suficientemente limitado para permitir aos participantes estabelecerem entre si
relações explícitas e terem uma percepção recíproca uns dos outros – a expressão
face a face resulta desta situação. (LUFT, 1970, p.15).
Em outras palavras, nos microgrupos todos os participantes estão frente a
frente e têm a possibilidade de estabelecer relacionamentos interpessoais sem a
mediação de terceiros. Assim, a interdependência grupal costuma possibilitar coesão
grupal, clima gerado pelo compromisso assumido, possibilitando, entre outros
aspectos, o ambiente acolhedor para a aprendizagem e a solidariedade.
Para o estudo dos microgrupos é necessário ter outras conceituações. A partir
de Mucchielli (1979) e Minicucci (1982), podemos estabelecer a seguinte classificação
para a gênese dos microgrupos: naturais espontâneos ou artificiais.
Os naturais espontâneos são caracterizados por relações afetivas, enraizadas
na existência natural como a família, a comunidade de nascimento, entre outros. Os
microgrupos artificiais caracterizam-se pelo fato de que a razão do agrupamento é,
pelo menos na origem, exterior à vontade direta dos membros.
Nos grupos, cada sujeito possui seu lugar e papel, seu modo de ser em
coletividade, e o que constitui sua identidade. É possível compreender que mesmo
pertencentes a determinado grupo, com regras e normas que regem o processo
relacional, cada um de seus integrantes, imprime sua identidade sobre o mesmo, por
meio de sua forma de agir, pensar, falar, contribuindo assim para a ampliação de
conhecimentos que constitui aquele grupo, definindo-o em sua multiplicidade.

O desenvolvimento das práticas de intervenção grupal

Por causa do seu caráter amplo, a expressão “dinâmica de grupo” nem sempre
é empregada num sentido acurado. A expressão caiu em descrédito devido à
aplicação que, às vezes, dela se fez para se referir a atividades utilizadas com
objetivos ilustrativos, recreativos, místicos, entre outros. Certamente, contribuiu para o
descrédito a aplicação inconsequentemente realizada por profissionais
descomprometidos ética e cientificamente. Kurt Lewin , utilizou a expressão em
oposição ao termo “estática”, que significa sem movimento . Denominamos
movimento, o conjunto de processos e atividades na direção da realização grupal e
esse é um o conceito fundamental para quem pretende trabalhar com e em grupo.
Utilizam-se expressões tais como: “dinâmicas” ou “técnicas de relações humanas”,
que confundem mais do que revelam o seu significado. Dinâmicas de grupo, vai além
das técnicas aplicadas com objetivos pautados, é um espaço potente de ajuda e
decisões no quais há técnicas a serem utilizadas.
A dinâmica de grupo está intimamente
ligada à teoria de campo aplicada à psicologia social. Kurt Lewin é considerado o
fundador da moderna dinâmica de grupo. Com seu trabalho na Universidade de Iowa,
por volta dos anos 1940, e, mais tarde, no Massachusetts Institute of Technology
(MIT), Lewin estabeleceu esse campo de estudo e atraiu pesquisadores e recursos
financeiros para este tipo de pesquisa. Os artigos de Lewin publicados na década de
quarenta do século XX e depois reunidos nos livros Teoria de campo em Ciência
Social (1965) e Problemas de dinâmicas de grupo (1978), prepararam o terreno para
investigações e publicações do pós-guerra.
Há que se reconhecer que, embora existam diversas orientações teóricas, é
válido partir do princípio de que, basicamente, a essência dos fenômenos grupais, a
interdependência entre seus membros, é a mesma em qualquer tipo de grupo e o que
determina as diferenças entre os distintos grupos é o objetivo e fins para os quais
foram criados e compostos e a diversidade da cultura (ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997)
Numa perspectiva psicanalítica, Bion (1975) identificou dois modos de solução
dos problemas grupais , que são dois os planos no qual os grupos agem: o plano do
trabalho-tarefa e o plano da emoção. No plano do trabalho-tarefa a estratégica
caracteriza-se por esclarecer a situação, buscar informações relevantes, elaborar
alternativas e testá-las. Este é um modo racional de reagir que Bion denominou
trabalho-tarefa. Esta modalidade refere-se à maneira racional e consciente de um
grupo buscar soluções para suas dificuldades.
Porém, é no plano da emoção que os grupos se defrontam com as dificuldades
maiores em lidar com os problemas e seus reflexos recaem sobre o plano da tarefa,
impedindo muitas vezes de um grupo realizar seu objetivo. É no plano da emoção que
se inserem as necessidades interpessoais e que dão o clima para a realização da
tarefa grupal.
Para Bion (1975), as respostas emocionais podem apresentar uma das
seguintes hipóteses: a dependência, a luta-fuga e a união ou acasalamento. A
dependência refere-se à condição que toda pessoa apresenta de depender de algo ou
alguém para a realização de seus objetivos. Pressupõe que um dos motivos para os
indivíduos buscarem os grupos é a necessidade primária de obter deles a segurança,
cuidado e proteção. Assim, a fase da dependência caracteriza-se pela necessidade
grupal de um líder, ou seja, de esperar que alguém diga o que o grupo deve fazer,
como e quando realizar ações.
O grupo tem necessidade de centrar o poder em alguém, que normalmente
representa a figura de autoridade. Há também, nessa fase, a necessidade de se
estabelecer normas explícitas e códigos de funcionamento que sejam respeitados por
todos, pois tais aspectos marcam a formação da cultura humana.
A luta-fuga refere-se ao desejo de não mais depender do outro e de perceber a
relação de dependência como uma ameaça. A relação é percebida como perigosa e a
forma de neutralizá-la passa a ser a agressão ou a fuga do grupo. Assim, na fase de
luta- fuga o grupo sente desconforto pela condição de dependência e o demonstra
com manifestações de sentimentos de raiva, hostilidade e agressão dirigidos aos
membros ou ainda ao coordenador ou líder. Os conflitos tornam-se mais evidentes,
bem como se acentuam as diferenças individuais. Neste momento, surgem o
esvaziamento do grupo, a queda de energia para realização de tarefas, o descrédito e
possíveis questionamentos sobre o sentimento de pertença ao grupo.
A união ou o acasalamento refere-se ao momento em que os integrantes do
grupo não se sentem mais ameaçados pelos sentimentos advindos da relação de
dependência e buscam, então, uma forma mais saudável de se agrupar com vistas a
alcançar os seus objetivos. Uma vez atingida a fase da união, o grupo apresenta
maturidade para tratar os conflitos, as diferenças individuais, as incertezas e as
emoções. Vale lembrar, no entanto, que a fase de união não significa necessariamente
que o grupo atingiu o ideal de crescimento, mas sim que este foi capaz de integrar as
diferenças em prol de um objetivo comum.
Ainda, há duas estruturas distintas de grupos, os grupos
terapêuticos/psicoterápicos e os grupos operativos/institucionais.
Os operativos ou institucionais cobrem o campo institucional, organizacional,
comunitário, com foco psico-educativo, portanto, na modificação desses campos.
São atividades dentro de uma linha de Grupos de Sensibilização,
Desenvolvimento Individual, Desenvolvimento Interpessoal, Administração de
Conflitos, Análise Transacional, etc., e que são estruturados de acordo com a
demanda apresentada pela instituição . Nos grupos institucionais existem fenômenos
como o poder, a comunicação entre os membros do grupo, que já preexistem antes
mesmo do início dos encontros.
Já os grupos terapêuticos ou psicoterápicos, que são estruturados pelo
facilitador, que seleciona como participantes seus clientes de terapia individual ou
pessoas que buscam de maneira espontânea o grupo, se inscrevendo e aguardando
realização da chamada para o início dos encontros grupais. Existem vários critérios
que o facilitador pode utilizar para a construção de um grupo como, idade, sexo,
profissões, etc, para a estruturação e grupos homogêneos e heterogêneos, com
objetivos direcionados a demanda tratada em grupo. Esses grupos podem ser abertos,
onde havendo a saída de um integrante, outro pode ocupar o seu lugar, ou fechados,
em que há desde o contrato grupal a impossibilidade de entrada de novos integrantes
ao grupo e teoricamente aqueles que se iniciaram no grupo, devem permanecer até a
data aprazada. Os grupos psicoterápicos são classificados a partir da abordagem
teórica e têm perspectiva terapêutica. Neste último caso, temos as perspectivas
psicodramática, psicanalítica, cognitivo-comportamental e teoria sistêmica
(ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997).
BIBLIOGRAFIA

- BION, W.R – Experiências com Grupos . os fundamentos da psicoterapia em


grupo – São paulo – EDUSP,1975

- LEWIN, K. (1965). Fronteiras na Dinâmica de Grupo. In K. Lewin (Org.), Teoria


de campo em Ciência Social (pp. 213-266). São Paulo: Livraria Pioneira.

-LUFT, J. Introdução à dinâmica de grupo. Lisboa: Moraes, 1970.

-RIVIÈRE, Pichon – E ; O processo grupal – São Paulo – Martins Fontes, 1994

- ZIMERMAN, D. E. (1999). Classificação geral dos grupos. In D. E. Zimerman,


& L. C. Osório, Como trabalhamos com grupos. Porto Alegre: Artmed.

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