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Por causa do seu caráter amplo, a expressão “dinâmica de grupo” nem sempre
é empregada num sentido acurado. A expressão caiu em descrédito devido à
aplicação que, às vezes, dela se fez para se referir a atividades utilizadas com
objetivos ilustrativos, recreativos, místicos, entre outros. Certamente, contribuiu para o
descrédito a aplicação inconsequentemente realizada por profissionais
descomprometidos ética e cientificamente. Kurt Lewin , utilizou a expressão em
oposição ao termo “estática”, que significa sem movimento . Denominamos
movimento, o conjunto de processos e atividades na direção da realização grupal e
esse é um o conceito fundamental para quem pretende trabalhar com e em grupo.
Utilizam-se expressões tais como: “dinâmicas” ou “técnicas de relações humanas”,
que confundem mais do que revelam o seu significado. Dinâmicas de grupo, vai além
das técnicas aplicadas com objetivos pautados, é um espaço potente de ajuda e
decisões no quais há técnicas a serem utilizadas.
A dinâmica de grupo está intimamente
ligada à teoria de campo aplicada à psicologia social. Kurt Lewin é considerado o
fundador da moderna dinâmica de grupo. Com seu trabalho na Universidade de Iowa,
por volta dos anos 1940, e, mais tarde, no Massachusetts Institute of Technology
(MIT), Lewin estabeleceu esse campo de estudo e atraiu pesquisadores e recursos
financeiros para este tipo de pesquisa. Os artigos de Lewin publicados na década de
quarenta do século XX e depois reunidos nos livros Teoria de campo em Ciência
Social (1965) e Problemas de dinâmicas de grupo (1978), prepararam o terreno para
investigações e publicações do pós-guerra.
Há que se reconhecer que, embora existam diversas orientações teóricas, é
válido partir do princípio de que, basicamente, a essência dos fenômenos grupais, a
interdependência entre seus membros, é a mesma em qualquer tipo de grupo e o que
determina as diferenças entre os distintos grupos é o objetivo e fins para os quais
foram criados e compostos e a diversidade da cultura (ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997)
Numa perspectiva psicanalítica, Bion (1975) identificou dois modos de solução
dos problemas grupais , que são dois os planos no qual os grupos agem: o plano do
trabalho-tarefa e o plano da emoção. No plano do trabalho-tarefa a estratégica
caracteriza-se por esclarecer a situação, buscar informações relevantes, elaborar
alternativas e testá-las. Este é um modo racional de reagir que Bion denominou
trabalho-tarefa. Esta modalidade refere-se à maneira racional e consciente de um
grupo buscar soluções para suas dificuldades.
Porém, é no plano da emoção que os grupos se defrontam com as dificuldades
maiores em lidar com os problemas e seus reflexos recaem sobre o plano da tarefa,
impedindo muitas vezes de um grupo realizar seu objetivo. É no plano da emoção que
se inserem as necessidades interpessoais e que dão o clima para a realização da
tarefa grupal.
Para Bion (1975), as respostas emocionais podem apresentar uma das
seguintes hipóteses: a dependência, a luta-fuga e a união ou acasalamento. A
dependência refere-se à condição que toda pessoa apresenta de depender de algo ou
alguém para a realização de seus objetivos. Pressupõe que um dos motivos para os
indivíduos buscarem os grupos é a necessidade primária de obter deles a segurança,
cuidado e proteção. Assim, a fase da dependência caracteriza-se pela necessidade
grupal de um líder, ou seja, de esperar que alguém diga o que o grupo deve fazer,
como e quando realizar ações.
O grupo tem necessidade de centrar o poder em alguém, que normalmente
representa a figura de autoridade. Há também, nessa fase, a necessidade de se
estabelecer normas explícitas e códigos de funcionamento que sejam respeitados por
todos, pois tais aspectos marcam a formação da cultura humana.
A luta-fuga refere-se ao desejo de não mais depender do outro e de perceber a
relação de dependência como uma ameaça. A relação é percebida como perigosa e a
forma de neutralizá-la passa a ser a agressão ou a fuga do grupo. Assim, na fase de
luta- fuga o grupo sente desconforto pela condição de dependência e o demonstra
com manifestações de sentimentos de raiva, hostilidade e agressão dirigidos aos
membros ou ainda ao coordenador ou líder. Os conflitos tornam-se mais evidentes,
bem como se acentuam as diferenças individuais. Neste momento, surgem o
esvaziamento do grupo, a queda de energia para realização de tarefas, o descrédito e
possíveis questionamentos sobre o sentimento de pertença ao grupo.
A união ou o acasalamento refere-se ao momento em que os integrantes do
grupo não se sentem mais ameaçados pelos sentimentos advindos da relação de
dependência e buscam, então, uma forma mais saudável de se agrupar com vistas a
alcançar os seus objetivos. Uma vez atingida a fase da união, o grupo apresenta
maturidade para tratar os conflitos, as diferenças individuais, as incertezas e as
emoções. Vale lembrar, no entanto, que a fase de união não significa necessariamente
que o grupo atingiu o ideal de crescimento, mas sim que este foi capaz de integrar as
diferenças em prol de um objetivo comum.
Ainda, há duas estruturas distintas de grupos, os grupos
terapêuticos/psicoterápicos e os grupos operativos/institucionais.
Os operativos ou institucionais cobrem o campo institucional, organizacional,
comunitário, com foco psico-educativo, portanto, na modificação desses campos.
São atividades dentro de uma linha de Grupos de Sensibilização,
Desenvolvimento Individual, Desenvolvimento Interpessoal, Administração de
Conflitos, Análise Transacional, etc., e que são estruturados de acordo com a
demanda apresentada pela instituição . Nos grupos institucionais existem fenômenos
como o poder, a comunicação entre os membros do grupo, que já preexistem antes
mesmo do início dos encontros.
Já os grupos terapêuticos ou psicoterápicos, que são estruturados pelo
facilitador, que seleciona como participantes seus clientes de terapia individual ou
pessoas que buscam de maneira espontânea o grupo, se inscrevendo e aguardando
realização da chamada para o início dos encontros grupais. Existem vários critérios
que o facilitador pode utilizar para a construção de um grupo como, idade, sexo,
profissões, etc, para a estruturação e grupos homogêneos e heterogêneos, com
objetivos direcionados a demanda tratada em grupo. Esses grupos podem ser abertos,
onde havendo a saída de um integrante, outro pode ocupar o seu lugar, ou fechados,
em que há desde o contrato grupal a impossibilidade de entrada de novos integrantes
ao grupo e teoricamente aqueles que se iniciaram no grupo, devem permanecer até a
data aprazada. Os grupos psicoterápicos são classificados a partir da abordagem
teórica e têm perspectiva terapêutica. Neste último caso, temos as perspectivas
psicodramática, psicanalítica, cognitivo-comportamental e teoria sistêmica
(ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997).
BIBLIOGRAFIA