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Módulo 1: O PROCESSO GRUPAL

Leitura Obrigatória:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
Leitura para Aprofundamento:

BOCK, A. M. B. (Org.). Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999
LANE, S.M. O processo grupal. In: LANE, S.M.; CODO, W. (Orgs.) Psicologia Social: o homem em movimento.
São Paulo: Brasiliense, 1986.
LE BON, G. Psicologia das multidões. São Paulo: WMF Martins Fontes, 2008.
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. Petrópolis: Vozes, 2013.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.

O conceito de grupo e o processo grupal


Todos nós pertencemos a grupos. Determinadas concepções da Psicologia Social chegam a afirmar que só
“somos”, efetivamente, em grupo. E você? Consegue se ver “sendo” a partir dos grupos, ou seria suficiente
dizer que “somos” singulares, únicos, autônomos e, então, podemos pertencer a grupos humanos,
especialmente aqueles dos quais escolhemos participar?
Sabemos que ninguém vive isolado e, ainda, que não se pode compreender o comportamento do indivíduo
sem considerar a influência de outras pessoas. Estabelecemos relações onde há, naturalmente, uma intenção
particular de cada uma das pessoas envolvidas. A nossa formação individual depende então, necessariamente,
desse relacionamento, seja ele em qualquer tipo de grupo ao qual pertencemos, família, trabalho, clube,
futebol, entre outros. A identidade historicamente construída tem como um de seus elementos mais
importantes a ligação a grupos sociais.
Se pensarmos sobre a origem da palavra grupo, observamos que ela remonta a um termo técnico italiano das
Artes Plásticas (groppo, gruppo), que designa vários indivíduos, pintados ou esculpidos, compondo um tema
(ANZIEU; MARTIN, 1975). Somente no século XVIII, a palavra grupo vai designar um ajuntamento de pessoas.
Além da “novidade” do conceito, Anzieu e Martin (1975), ao apresentarem diferentes concepções sobre
grupos, indicam também que, até há pouco tempo, nas Ciências Sociais, havia um preconceito bem-
estabelecido contra a ideia do grupo, do pequeno grupo. Esse mal-estar em relação ao conceito estaria
presente porque seria entendido como categoria para o entendimento do social, e esta supostamente
comportaria a negação do indivíduo. Para outros, esse incômodo se estenderia ao próprio fenômeno grupo,
como perturbador da personalidade – os grupos de jovens e os grupos partidários, por exemplo.
Contemporaneamente, podemos reconhecer grupos definidos a partir de uma metáfora biológica (o grupo-
organismo) ou mecânica (o grupo-maquina), ou simplesmente pelo ajuntamento de pessoas, nas multidões,
nos bandos, nas aglomerações. A ideia de grupo também está presente em grupos nos quais os indivíduos se
encontram face a face, os pequenos grupos sociais, ou nas organizações das quais todos participamos e por
meio das quais temos um papel no jogo social.
Para discutir qual ou quais os sentidos de um grupo social e tentar traçar uma dinâmica dos grupos, isto é, o
movimento de uns em relação a outros, é necessário descrever algo da história dos estudos sobre grupos a
partir das maneiras como eles têm sido definidos. Algumas das referências para essas definições tem sido a
quantidade de membros (se são pequenos grupos, categorias sociais, a “massa”), a medida da sua organização
(aglomerados, categorias sociais, grupos estruturados, organizações, instituições) ou a medida do
relacionamento entre seus membros (face a face ou não).
Bock (1999) explica que a instituição consiste em um valor ou regra social que reproduzimos em nosso
cotidiano, enquanto um guia básico de comportamento e de padrão ético. Ela atravessa de forma sutil as
nossas relações sociais (organização social e grupo social). Organização consiste na base concreta da
sociedade, um aparato que reproduz o quadro de instituições no cotidiano da sociedade. Podemos identifica-
la em um complexo organizacional (ministério da saúde ou igreja católica, por exemplo); uma grande empresa
(como a Volkswagen do Brasil) ou mesmo em uma pequena creche. Percebemos que as instituições sociais
serão mantidas e reproduzidas nas organizações. Por fim:
“O elemento que completa a dinâmica de construção da realidade é o grupo – o lugar onde a instituição se
realiza. Se a instituição constitui o campo de valores e das regras (portanto, um campo abstrato) e se a
organização é a forma de materialização destas regras (portanto, um campo abstrato), e se a organização é
forma de materialização destas regras através da produção social, o grupo, por sua vez, realiza as regras e
promove valores. O grupo é o sujeito que reproduz e que, em outras oportunidades, reformula tais regras. É
também o sujeito responsável pela produção dentro das organizações e pela singularidade – ora controlado,
submetido de forma crítica a essas regras e valores, ora sujeito da transformação, da rebeldia, da produção do
novo.” (BOCK, 1999, p.217)
Geralmente, quando falamos em grupos, pensamos nos pequenos, aqueles dentro dos quais seus membros
tem contato face a face, grupos que são estruturados, organizados por regras e com objetivos definidos, cuja
ação está delimitada no espaço – por uma sala, um campo, uma instituição. Menos comum é chamarmos de
grupos os agregados mais ou menos numerosos de indivíduos que não tem propriamente nenhum contato
entre si, os amontoados percebidos por Sartre numa fila a espera do ônibus (uma serie) que não estão sujeitos
a normas claras de comportamento comum, conjuntos que compreendem meros aglomerados ou categorias
sociais que indicam um relacionamento de ordem simplesmente distributiva.
Estes últimos são aqueles das nacionalidades, da cor da pele, dos matizes ideológicos, do sexo ou da opção
sexual. Contudo, mesmo nessa outra ordem de agrupamentos que se constitui a partir de sua simples
nomeação, por um critério burocrático, filosófico, político e mesmo biológico ou étnico, tendemos a dizer dos
indivíduos a eles pertencentes que se “comportam como um grupo”.
Ao nos referirmos a grupos, sabemos que a Psicologia Social tem ampla contribuição no tema, por iniciar os
estudos nesta área. Os primeiros estudos sobre grupos foram iniciados no século XIX (“Psicologia de Massas”,
por Gustav Le Bon, por exemplo), em que muitos pesquisadores foram influenciados pela revolução francesa.
Nesta época se perguntava no campo da Psicologia: o que levaria uma multidão a seguir a um líder mesmo
com risco a sua própria vida?.
No debate sobre a Psicologia dos Grupos, a literatura psicológica e sociológica trata dos grandes conjuntos
humanos nas sociedades contemporâneas como “massa”, isto é, um agregado informe de indivíduos que não
se conhecem pessoalmente, sem vínculos, sem objetivos comuns, entre os quais não se pode reconhecer
autonomia, mas apenas a sujeição a ideias e opiniões produzidas em outros lugares e impostas a esses
conjuntos, usualmente, pela mídia. De fato, quando falamos “massa”, normalmente tratamos dela com
desdém – afinal, nesse caso, as pessoas não têm nomes nem ligações e, ainda mais, são necessariamente
dominadas, controladas.
Seu comportamento, segundo cientistas sociais como Le Bon (2008), pode ser entendido como o de uma
“manada”, sujeita a interferências sem a mediação da razão. A multidão reunida em grandes eventos ou em
situações cotidianas nas ruas, nos terminais de transporte público ou nos estádios de futebol, por exemplo,
teria comportamento imprevisível, que se caracterizaria pela possibilidade de os indivíduos realizarem atos de
que, em outras situações, sem a presença da multidão, não seriam capazes. A violência de um quebra-quebra
e de um linchamento seria a marca desse comportamento coletivo marcado pela diminuição do
funcionamento intelectual, a razão, e pela ampliação da afetividade.
Freud, em Psicologia das Massas e Análise do Ego (2011), entra nesse debate a partir da discussão sobre a
obra de Le Bon. Para ele, a psicologia individual não poderia ser separada da social, e toda psicologia é, num
certo sentido, social, na medida em que se verificam nos indivíduos os traços recolhidos das suas relações
sociais. Freud também considera entre os seres humanos um instinto gregário, chave para algo como uma
mente grupal, cujo estudo da razão que sustenta o funcionamento dos grupos e parte desse trabalho.
Reconhece também como as massas são influenciadas pela presença “fascinante”, hipnotizante, de um líder.
As dimensões inconscientes envolvidas na constituição do grupo e sua incidência no indivíduo ajudam a
compreender fenômenos já descritos por Le Bon, como a potência do indivíduo quando se vê pertencente ao
grupo, ou mesmo a submissão, no grupo, a entendimentos até mesmo contrários às crenças individuais.
A suposição fundamental de Freud formulada nesse texto é de que as relações amorosas (laços emocionais)
constituem a essência da mente grupal, e é nesse suporte que está, por exemplo, a importância do líder.
Você pode perceber a diversidade de conceitos e a complexidade que existe na literatura com relação a
grupos.
Neste sentido, parece haver concordância entre alguns dos diversos autores quanto a haver um objetivo
comum para duas ou mais pessoas. As concepções tradicionais sobre grupos usualmente os caracterizam
como um conjunto de pessoas que compartilham um objetivo comum. Entretanto, numa perspectiva social
critica, a melhor definição do processo grupal corresponde à sua inevitável sujeição à passagem do tempo e a
inserção social.
Vale aqui indicar o entendimento de Lane (1986) sobre os grupos, para os quais ela reivindica a mesma
preocupação quanto à importância da história na sua instituição. Lane (1986) insiste em tratar o grupo como
processo ao caracterizá-lo como uma unidade que não se faz como permanente, que se constitui
fundamentalmente de pessoas e relações e que está inserida num determinado contexto histórico e social.
Ora, tudo isso que irá compor a concepção e a materialidade dos grupos é sujeito a passagem do tempo, isto
é, muda, transforma-se, por conta dessa passagem. É por isso que se poderá, assim, falar em processo, porque
o grupo só existe sendo; não é coisa que possa ser abstraída de sua condição histórica.
Assim, é importante considerar que a ideia de grupo dá conta de uma variedade importante de conjuntos de
indivíduos. Se ela se presta a caracterização de uma categoria social que compreende determinada identidade
profissional (o grupo de psicólogos, por exemplo), a ideia de grupo também estará presente quando falamos
de pequenos grupos, quando os indivíduos estão face a face, envolvidos em uma pratica social determinada,
como numa empresa (os funcionários da empresa X), na escola (os alunos ou os professores) ou em uma ação
de assistência social (educadores, técnicos, gestores).
Dentre os diferentes entendimentos sobre os grupos e as tradições históricas e filosóficas as quais estão
vinculados, uma chave para sua apresentação é percorrer a incidência do imaginário nesses universos.
Destacamos, inicialmente, a Psicologia dos Grupos voltada para as questões individuais, marcadamente
ideológicas, de ordem funcionalista, uma Psicologia Social dos pequenos grupos naturais. Esta se verifica mais
intensamente no âmbito da Psicologia Social americana, com autores como Lewin, Newcomb, Asch, Stoessel e
Maisonnave, e é voltada para os problemas de produção e de eficiência, seja num grupo de soldados ou de
operários, seja num grupo terapêutico, estudando os relacionamentos intragrupo, a liderança e a motivação.
Na outra ponta, na Psicologia Social das categorias sociais, estão os estudos sobre grupos que colocam em
jogo os elementos da história e da cultura nas quais os grupos estão inseridos. Alinhados a Psicologia Social
“sociológica”, que veio se desenvolvendo principalmente na Europa do Pós-guerra, esses estudos que
privilegiam os fatores históricos, ideológicos e políticos identificam a Psicologia Social europeia e os trabalhos
de autores como Tajfel, Doise e Moscovici.
Numa posição intermediaria em relação a essas duas vertentes, no que diz respeito aos estudos sobre grupos,
estariam os trabalhos sobre Psicoterapia de Grupo, sejam ou não de inspiração freudiana, mais ou menos
próximos da vertente americana, como Moreno, ou da vertente europeia, como Guattari, e os desenvolvidos
por psicólogos sociais sul-americanos, como Baremblitt, Bauleo, Bleger e Pichon-Riviere.
Em qualquer das vertentes da Psicologia Social – a Psicologia Social dos pequenos grupos naturais, a
Psicoterapia de Grupo ou a Psicologia Social das categorias sociais –, a presença do imaginário como elemento
para identificação e mediação entre os grupos traz, de maneira indiscutível, a tensão entre a ordem e a
desordem no âmbito dos grupos.
É importante ressaltar que a representação que se tem de um grupo social compreende aquilo que se “vê” e o
que se espera dele numa determinada circunstância. Assim, é preciso estar atento não apenas ao que está
sendo representado e em qual contexto, mas também a quem representa, para se poder compreender, na
história das ideias sobre grupo, as explicações que se oferecem a como e por que os indivíduos se associam,
classificam e categorizam uns aos outros, assim como os efeitos dessas associações nos relacionamentos que
ocorrem dentro dos grupos e entre eles.
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as abordagens e etapas históricas definidas
pelos autores e sua relação com os conceitos de grupo.
2) A partir da leitura, procure elaborar um quadro, estabelecendo as diferenças entre os diversos conceitos de
grupo.
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Na perspectiva da Psicologia Social sócio histórica, o grupo é compreendido a partir de sua inserção no espaço
e no tempo, o que o caracteriza como processo ao invés de “coisa”. Nestas condições, as relações entre os
membros do grupo devem ser estudadas porque:
(a) definem lugares pré-estabelecidos e prontos;
(b) explicam o porquê do comportamento dos indivíduos;
(c) estão submetidas a mudanças com o passar do tempo;
(d) organizam as funções dentro do grupo;
(e) são perturbadoras do bom funcionamento do grupo.
Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa ao conceito de grupo na perspectiva sócio
histórica, assinalou a alternativa c. As afirmações a-b-d-e não partem do princípio de que o grupo é visto como
processo, mas como uma unidade estanque e sem considerar sua história. A visão sócio histórica caracteriza o
grupo como uma unidade que não se faz como permanente, que se constitui fundamentalmente de pessoas e
relações e que está inserida num determinado contexto histórico e social. Ora, tudo isso que irá compor a
concepção e a materialidade dos grupos é sujeito a passagem do tempo, isto é, muda, transforma-se, por
conta dessa passagem. É por isso que se poderá, assim, falar em processo, porque o grupo só existe sendo;
não é coisa que possa ser abstraída de sua condição histórica.

A instituição do grupo
Leitura Obrigatória:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
Leitura para Aprofundamento:
ADORNO, T.; HORKHEIMER, M. Temas básicos da sociologia. São Paulo: Cultrix, 1973.
BOCK, A. M. B. (Org.). Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999
LANE, S.M. O processo grupal. In: LANE, S.M.; CODO, W. (Orgs.) Psicologia Social: o homem em movimento.
São Paulo: Brasiliense, 1986.
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. Petrópolis: Vozes, 2013.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
Você já percebeu que muitas vezes nos colocamos diante de grupos com que não tínhamos nenhum contato?
Por exemplo, quando você entrou para a faculdade e passou a fazer parte de uma turma de 40 ou 50 pessoas
desconhecidas e teve que realizar atividades em pequenos grupos. A este tipo de convívio podemos chamar
de solidariedade mecânica, quando a filiação a algum grupo independe de nossa vontade. No entanto,
a solidariedade orgânica consiste no convívio com nossos pares, pessoas escolhidas por nós. É o caso das ditas
“panelinhas” da sala de aula. Quando os fenômenos grupais passam a atuar sobre os indivíduos e sobre o
grupo, chamamos isto de processo grupal. Neste sentido, a coesão grupal é uma forma que os indivíduos têm
para que seus membros sigam as regras estabelecidas e se obtenha a fidelidade dos mesmos. Os grupos
podem apresentar maior ou menor coesão, de acordo com suas características, bem como a fidelidade ao
grupo dependerá do tipo de pressão exercida. (BOCK,1999).

Então, o que faz com que o indivíduo queira se agregar a um grupo?


Se considerarmos que as pessoas vão gradativamente descobrindo uma forma mais simples e econômica de
desempenhar suas atividades cotidianas, começam por estabelecer regularidades comportamentais. Um
hábito estabelecido por razões concretas, com o passar do tempo e gerações, transforma-se em tradição,
onde as bases estabelecidas não são mais questionadas. Quando a regra social estabelecida após a passagem
de gerações perde sua referência de origem, dizemos que ela foi institucionalizada. Na verdade, vivemos
imbuídos de instituições. De acordo com Berger e Luckmann (apud BOCK,1999), o processo de
institucionalização se inicia com o estabelecimento de regularidades comportamentais.
No entanto, segundo Schutz (apud BERGAMINI, 2006), todo o indivíduo tem três necessidades interpessoais:
Inclusão, Controle e Afeição e, ao associar-se a um grupo, cada pessoa passará por diferentes formas de
atendimento de suas necessidades.
De acordo com Borges e Albuquerque (apud ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004), o processo de
socialização, implica sempre em certo conformismo porque o indivíduo se insere em um contexto de normas e
costumes previamente definidos por outros. Realmente, para melhor compreensão do funcionamento dos
grupos precisamos entender a natureza da influência social, pois:

As pressões para uniformidade se exercem mediante a interação social na qual


os membros tentam modificar suas crenças, atitudes e ações de forma mútua
(...). Surgem processos similares sempre que um grupo tenta tomar uma
decisão sobre metas a escolher ou sobre a maneira de alcançá-las. Coordenar
as atividades de grupo exige que a conduta de cada membro se ajuste a dos
outros, e se efetue a liderança mediante o processo de influência sobre os
demais. (ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004, p.53)
Na maioria das vezes, os grupos são formados de acordo com similaridades naquilo que as pessoas fazem ou
produzem. Podem ser agrupadas de acordo com as tarefas que executam – agrupamento por função - ou de
acordo com o fluxo de trabalho desde o início até a conclusão – agrupamento por fluxo de trabalho.
Neste contexto, Bergamini (2006) distingue dois tipos de pequenos grupos: o sociogrupo – aquele que se
organiza e se orienta em função da execução ou cumprimento de uma tarefa; e o psicogrupo – estruturado em
função da polarização dos seus próprios membros.
Adorno e Horkheimer (1973) apresentam uma classificação de grupos, diferenciando microgrupos de
macrogrupos. Os microgrupos, ou grupos primários, como a família, são importantes para a produção da
subjetividade e para a manutenção de ideias e ideais sociais. Sua presença é praticamente universal, porque
estes se encontram ao longo de toda a história civilizatória. Esses grupos estão vinculados a aprendizagem de
uma “natureza humana”, mais propriamente – o que significa que os microgrupos estão associados a
socialização dos indivíduos desde a infância. A ênfase nesses microgrupos justifica-se pela sua função
psicossocial: o contato direto entre aqueles que pertencem a tais grupos permite a identificação entre seus
membros e com o próprio grupo. Nos microgrupos, os indivíduos têm experiências de si simultaneamente
vinculadas às presenças de outras pessoas.
Macrogrupos ou grupos secundários são grupos de outra ordem e não se diferenciam dos microgrupos
necessariamente pelo tamanho. Neles, a privacidade dos membros é mais preservada.
Outra fórmula para tentar classificar os grupos é toma-los a partir de alguns elementos básicos. Um grupo
pode ser considerado de acordo com a maneira como está organizado, os seus objetivos compartilhados, a
quantidade de pessoas que o compõem e o contato e vínculo entre seus participantes, assim como quanto a
sua duração.
Vejamos alguns exemplos de grupos conforme essa classificação. Numa extremidade, encontramos nas
sociedades contemporâneas grandes conjuntos humanos, formados por milhares ou mesmo milhões de
pessoas, que podem ser caracterizados como grupos. Pouco organizados, neles, as pessoas não se conhecem
pessoalmente e mal compartilham objetivos comuns; mas, ainda assim, são reconhecidas como possuidoras
de uma mesma identidade. Não nos recusamos a prever seus comportamentos, as maneiras pelas quais
podem e irão resolver as situações cotidianas. São as categorias sociais, como “as mulheres”, “os psicólogos”,
“os playboys”, ou “os moradores da zona leste”.
No outro extremo, estão os pequenos grupos, os grupos de interação face a face, em que todos se conhecem e
se relacionam a partir de alguma organização, pelo exercício de determinadas funções dentro do grupo. Uma
variável importante no que diz respeito ao seu funcionamento é o vínculo, isto é, as relações simbólicas e
afetivas que se constroem ao longo da existência do grupo. O vínculo também é dependente da história e do
contexto, atualizado nas posições exercidas dentro do grupo. O psicólogo social Pichon-Riviere (2009) propõe
que se deva entender a interação dos membros de um grupo como um vaivém de determinações que ele
representa como uma espiral dialética, em que tanto sujeito quanto objeto realimentam-se mutuamente, num
processo que pode ser compreendido, por exemplo, nas relações entre profissional e cliente.

Pensando no processo grupal na visão da Psicologia Social Crítica, apesar de haver uma consistente crítica aos
modelos teóricos existentes, percebe-se um resguardo dos aspectos funcionais da dinâmica de grupos
concordantes com Lewin e uma consideração positiva sobre o enquadramento psicanalítico por levar em conta
a dinâmica interna dos grupos. A crítica prevalece sobre a visão a-histórica ou a maneira estática como alguns
teóricos enquadram o grupo. (BOCK, 1999).
Na perspectiva sócio histórica da psicologia social (Silvia Lane) chega-se a afirmar que só “somos”,
efetivamente, em grupo. Mas este entendimento não é “natural”. Ou ao menos é tão natural quanto dizer
exatamente o contrário. Isto é, que “somos” singulares, únicos, autônomos e, então, podemos pertencer a
grupos humanos, especialmente àqueles dos quais escolhemos participar.
As concepções tradicionais sobre os grupos usualmente os caracterizam como um conjunto de pessoas que
compartilham um objetivo comum. Silvia Lane (1984) ao falar sobre os grupos sociais, reivindica a
importância da história e das relações na sua instituição. Assim, numa perspectiva social crítica, se define o
processo grupal em função da sua inevitável sujeição à passagem do tempo e à inserção social.
Nesta visão, considera-se fundamental que não existe grupo abstrato mas sim um processo grupal que se
reconfigura a cada momento. Assim, Silvia Lane (apud BOCK, 1999, p. 224) detecta 3 categorias de produção
grupal:
Categoria de produção: a produção das satisfações de necessidades do grupo
está diretamente relacionada com a produção das relações grupais. O processo
grupal caracteriza-se como atividade produtiva de caráter histórico.
Categoria de dominação: os grupos tendem a reproduzir as formas sociais de
dominação. Mesmo um grupo de características democráticas tende a
reproduzir certas hierarquias comuns ao modo de produção dominante (no
nosso caso, o modo de produção capitalista).
Categoria grupo-sujeito (de acordo com Lourau): trata-se do nível de
resistência à mudança apresentada pelo grupo. Grupos com menos resistência
à autocrítica e, portanto, com capacidade de crescimento através da mudança,
são considerados grupos-sujeitos. Os grupos que se submetem cegamente às
normas institucionais e apresentam maior dificuldade para a mudança, são os
grupos-sujeitados.
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as abordagens e teorias definidas pelos autores
quanto a instituição do grupo.
2) A partir da leitura, procure elaborar um quadro, estabelecendo as diferenças entre as diversas abordagens e
configurações da instituição de um grupo.
3) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

O ser humano é um ser social que busca satisfazer sua necessidade de relacionar-se, formando ou agregando-
se a grupos. Com relação a instituição de um grupo, analise as afirmativas a seguir.
I – Há concordância entre vários autores quanto a um grupo ser formado pela união de pessoas que
interagem umas com as outras visando objetivos inter-relacionados
II – A interação das pessoas no grupo permite que as pessoas que o compõe não influenciem uns aos outros
III – Os grupos se constituem apenas pela necessidade de compartilhar conhecimentos
Sobre grupos podemos afirmar que:

A. Os itens I e III estão incorretos


B. Apenas o item III está incorreto
C. Os itens II e III estão incorretos
D. Os itens I e II estão incorretos
E. Os itens I, II e III estão incorretos

Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa a instituição de um grupo, assinalou a alternativa c.


As afirmações II está incorreta pois as relações sociais pressupõem a influência de uns sobre os outros, bem
como a III está incorreta pois as necessidades de afiliação não residem apenas no objetivo de compartilhar
conhecimentos mas também de afeição, controle e inclusão, como afirma Schutz (1994) por exemplo.

Módulo 2: A DINÂMICA GRUPAL E SEUS FUNDAMENTOS


Leitura Obrigatória:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
Leitura para Aprofundamento:
BOCK, A. M. B. (Org.). Psicologias: uma introdução ao estudo de Psicologia. 13ª ed. São Paulo: Saraiva, 1999
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. Petrópolis: Vozes, 2013.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
ZANELLI, J.C.; BORGES-ANDRADE, J.E.; BASTOS, A.V. (Orgs.) Psicologia, Organizações e trabalho no Brasil.
Porto Alegre, Artmed, 2004.
A dinâmica grupal
Neste momento, além de compreender as classificações possíveis de um grupo, você deve estar refletindo
sobre como se apresentam os estudos sobre os estágios de um grupo e/ou como pode se apresentar o seu
desenvolvimento. Diversos autores apontaram as fases de desenvolvimento de um grupo, tais como Buchanan
e Huczynski,1985; Greenberg e Baron,1995; Ivancevich e Matteson,1999; Tosi, Rizzo e Carroll,1994, (apud
ZANELLI,2004) e Lacoursiere,1980 (apud ROTHMANN e COOPER, 2009)
Segundo Scholtes (1992), uma equipe passa por estágios razoavelmente previsíveis:
Estágio 1 – Formação ou iniciação
Fase em que se inicia a formação da equipe, em que seus membros pesquisam as fronteiras do
comportamento adequado ao grupo. Estágio da transição da condição de indivíduo para membro.
Estágio 2 - Turbulência ou diferenciação
Fase em que os membros da equipe começam a perceber a quantidade de trabalho que têm à frente e é
comum entrarem em estado de pânico. É o estágio mais difícil para a equipe.
Estágio 3 - Normas ou integração
Fase do restabelecimento do propósito central da equipe. À medida que os membros da equipe se acostumam
a trabalhar em conjunto, sua resistência inicial vai desaparecendo.
Estágio 4 - Atuação ou maturidade
Neste estágio, a equipe já definiu seu relacionamento e suas expectativas.
Entretanto, Albuquerque e Puente-Palacios (2004) se referem aos estágios de desenvolvimento do grupo
como sendo: formação, conflito, normatização, desempenho e desintegração. Esta última fase de
desenvolvimento dos grupos (desintegração) ocorre quando objetivos que levaram á criação da equipe são
atingidos e não há mais motivo para ela continuar a existir. Também é possível que o grupo nunca atinja o
estágio final ou faça o possível para não atingi-lo.
A seguir, observamos a Figura 1 com a exemplificação dos diversos estágios de um grupo.

Figura 1: as etapas de desenvolvimento dos grupos e equipes de trabalho


Fonte: ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS, 2004, p. 374.

E neste momento você deve estar se perguntando: por que é importante identificar tais fases para a
psicologia? A importância em identificar tais estágios do desenvolvimento do grupo consiste em reconhecer
que certos períodos de turbulência fazem parte do processo grupal, sendo necessário identificar em qual
momento será interessante e prudente uma intervenção externa. Os autores ressaltam a importância de
reconhecer estas fases consiste justamente em saber quando intervir externamente com prudência, visto que
certa turbulência também faz parte do grupo.
Além de analisarem os estágios de um grupo, alguns autores buscam entender em que sentido as formas de
comunicação podem influenciar a relação grupal.
Wagner e Hollenbeck (1999) citam a estrutura de comunicação de um grupo como fator crucial para a eficácia
de um grupo, pois se os membros não conseguem trocar informações entre si, o grupo não consegue
funcionar eficazmente. Segundo eles, para uma boa gestão de um grupo é importante conhecer os diferentes
tipos de estrutura de comunicação grupal e ser capaz de implementar aqueles que estimulem a maior
produtividade do grupo.

Em pesquisas realizadas sobre comunicação e produtividade do grupo, cinco estruturas têm recebido especial
atenção: redes de comunicação radiais, em Y, encadeadas, circulares e de conexão total. As três primeiras são
mais centralizadas (um membro pode controlar os fluxos de informação no grupo) e nas redes
descentralizadas circulares e de conexão total, todos os membros são igualmente capazes de enviar e receber
mensagens. A rede de conexão total, por exemplo, coloca cada pessoa do grupo em contato com todas as
outras.

Podemos visualizar melhor as redes de comunicação a partir da figura 2 a seguir, a qual apresenta cada uma
de acordo com os aspectos de velocidade, precisão, saturação, e satisfação dos membros.

Figura 2: Redes de comunicação e trabalho em equipe


Fonte: Wagner III e Hollenbeck, Comportamento Organizacional, Ed. Saraiva: São Paulo, 1999, p. 225.

A composição do grupo também pode exercer a influência sobre o mesmo, tanto como grupo homogêneo
quanto heterogêneo. Um grupo homogêneo é considerado mais útil para tarefas simples e sequenciais, que
exijam cooperação e requeiram rapidez. Um grupo heterogêneo é mais útil para tarefas complexas, coletivas,
que exijam criatividade e que não dependam de rapidez (GRIFFIN; MOORHEAD, 2006).
Além da influência da disposição e comunicação do grupo, também existe a influência do tamanho do grupo
sobre seu desempenho.
Sobre isto, Griffin e Moorhead (2006) apontam que uma equipe com muitos membros tem mais recursos
disponíveis e completa um grande número de tarefas relativamente independentes, com interações e
comunicações provavelmente mais formais e, consequentemente, uma grande parcela do tempo é utilizada
para questões administrativas. Os autores sugerem que o tamanho mais adequado a um grupo é determinado
pela capacidade de seus membros interagirem uns aos outros de modo eficaz.
Entretanto, Robbins (2004) sugere que as equipes mais eficazes são justamente nem muito pequenas e nem
muito grandes, com cerca de 4 a 12 pessoas:

“As muito pequenas costumam apresentar diversidade de pontos de vista. No


entanto, quando possuem mais de 10 ou 12 membros, torna-se difícil realizar
alguma coisa. Os membros sentem dificuldade de interagir construtivamente
enquanto para chegar a um consenso, e muitas pessoas não conseguem
desenvolver a coesão, o comprometimento e a responsabilidade mútua,
necessários para um bom desempenho.” (ROBBINS, 2004, p.112).

Considerando os aspectos que influenciam a estrutura de um grupo, também precisamos ressaltar a


importância das normas, as quais consistem em padrões de comportamentos e desempenhos tolerados,
aceitos e esperados, sustentados pelos membros do grupo. As normas regulamentam e estabelecem o que se
pode e o que não se pode fazer, as quais são informalmente estabelecidas pelos membros do grupo. Elas se
apresentam mais explícitas do que implícitas, pois é comum que os membros do grupo entendam o que se
espera deles, como por exemplo, o tipo de vestimenta ou conduta social de cooperação. Cada grupo
desenvolve as normas através da comunicação com os outros e podem evoluir através de um processo
interpessoal de negociação, construindo historicamente o que é um comportamento aceitável. (ZANELLI,
BORGES-ANDRADE E BASTOS, 2004; GRIFFIN; MOORHEAD, 2006; ROTHMANN e COOPER, 2009).

Diante da diversidade de aspectos pesquisados sobre o processo grupal, consideramos que apesar da
Psicologia Social ter surgido com a pesquisa das massas, podemos observar como as pesquisas de grupos
menores é que se constitui então seu objeto, particularmente por terem objetivos claramente
definidos. Historicamente, foi com as pesquisas de Kurt Lewin (professor alemão refugiado do nazismo) em
Massachusetts Institute of Technology – MIT, que se desenvolveu a primeira teoria consistente sobre grupos,
principalmente contribuindo para aplicação e estudo das relações humanas no trabalho. (BOCK,1999).
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando os aspectos que influenciam o funcionamento
de grupos.
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Para Wagner III e Hollenbeck apud Fiorelli (2000, p.41) “grupo é um conjunto de duas ou mais pessoas que
interagem entre si de tal forma que cada uma influencia e é influenciada pela outra”. Nesta relação social
ZANELLI; BORGES-ANDRADE; BASTOS (2004) apresentam a existência de fases no caminho de um grupo.
Indique a alternativa incorreta quanto as etapas de desenvolvimento de grupos:
a) Iniciação ou Formação
b) Diferenciação ou Conflito
c) Integração ou Normatização
d) Incorporação ou anexação
e) Maturidade ou desempenho.
Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa a etapas de desenvolvimento de um grupo,
assinalou a alternativa d. As demais alternativas correspondem as etapas descritas por ZANELLI et al
(2204): formação, conflito, normatização, desempenho e desintegração. A alternativa (d) não corresponde a
uma das fases apontadas pelos autores pois não se percebe uma fase específica em que exista a incorporação
ou anexação do grupo a outro grupo ou de um indivíduo ao grupo.
Fundamentos teóricos em Dinâmica de Grupo: Kurt Lewin.
Kurt Lewin tem como uma das principais contribuições de sua Psicologia Social as investigações sobre a
solução de conflitos nos pequenos grupos, por elaborar conceitos e uma metodologia que pudesse ampliar o
entendimento dos pequenos grupos para também intervir nos grupos sociais.
Os estudos sobre a dinâmica dos pequenos grupos realizados por Lewin buscariam responder a duas
perguntas relativas ao funcionamento dos grupos sociais nesse contexto tão decisivo da nossa história: como
se pode produzir o nazismo como fenômeno psicológico? Qual a prevenção psicológica contra ele? Temas de
seu grande interesse – ele próprio judeu e egresso da Europa durante a guerra.
De acordo com BOCK (1999) a teoria dos grupos desenvolvida por Lewin abordou temas como coesão do
grupo (condições necessárias para a sua manutenção); pressões e padrão do grupo (argumentos reais ou
imaginários, manifestos ou velados utilizados para garantia de fidelidade); motivos individuais e objetivos do
grupo; liderança e realização do grupo e, por fim, as propriedades estruturais dos grupos (forma de
comunicação, papéis, dentre outros).
Kurt Lewin (apud BERGAMINI, 2006) considera que a dinâmica do grupo é determinada pelo conjunto de
interações existentes no interior de um espaço psicossocial. O comportamento dos indivíduos ocorre em
função dessa dinâmica grupal, independente das vontades individuais. Portanto, foram por ele elaborados
quatro pressupostos:
• A interação do indivíduo no grupo depende de uma clara definição de sua participação no seu espaço vital;
• O indivíduo utiliza-se do grupo para satisfazer às suas necessidades próprias;
• Nenhum membro de um grupo deixa de sofrer o impacto do grupo e não escapa à sua totalidade;
• O grupo é considerado como um dos elementos do espaço vital do indivíduo.

O espeço vital psicológico ou espaço de vida corresponde a um conceito desenvolvido por Kurt Lewin que
designa “a totalidade de fatos que determinam o comportamento de um indivíduo em um certo momento”
(Lewin,1973, p.28). O autor se refere a totalidade de fatos como situação e, portanto, o comportamento do
indivíduo é determinado em função da situação.
Nas pesquisas com grupos de crianças em que se variava o clima das relações com um monitor (autoritário,
democrático, laissez-faire), ele procurou identificar o efeito do ambiente político e de suas mudanças sobre a
capacidade dos indivíduos de realizarem tarefas, assim como suas repercussões sobre a satisfação e a
agressividade.
Com relação ao desempenho de um grupo, observa-se que apresenta características situacionais, dinâmicas e
evolutivas, modificando suas estratégias e comportamentos para ajustá-los às circunstâncias. Por exemplo,
uma orquestra sinfônica possui certas características no momento de desempenho perante a plateia e outras
bem diferentes durante os ensaios. Mais do que isso, a orquestra muda o comportamento dependendo da
plateia.
A importância alcançada por Lewin na Psicologia Social americana pode também ser encontrada no seu
linguajar físico, ao tratar do confronto de forças intragrupos e intergrupos, o que conferiria um maior
reconhecimento cientifico as suas teorias. Com seu interesse aumentado pelo fascínio que o desenvolvimento
de tecnologia, inclusive para a manipulação de seres humanos, produziu a partir das Grandes Guerras, como
“arma” contra literalmente quaisquer problemas, inclusive os sociais, as teorias de Lewin viriam a reafirmar as
concepções sobre pequenos grupos, que, desenvolvidos em ambiente de guerra, serviriam para a otimização
de seus comportamentos. É importante reconhecer que Lewin foi inovador ao abordar aspectos da
personalidade como referidos ao contexto cultural e, mais do que isso, político, ao tratar da presença da
democracia, dando status cientifico a essas considerações. Também é importante considerar o contexto em
que são feitas suas pesquisas: em meio as Grandes Guerras, num ambiente em que parecia ser preciso marcar
a diferença entre o “povo alemão” e o “povo americano” – de sua nova pátria. Ainda assim, mesmo
reconhecendo os aspectos históricos dos fenômenos grupais, herança notável de sua formação cientifica
europeia, Lewin elabora nessa mesma tradição um entendimento sobre grupos tratando daquilo que e
“visível”, ainda que seja seu efeito, como as forças de atração e de repulsão interindividuais. Nas suas
considerações, em que pese a importância da valoração dos grupos e de suas diferenças, elementos
essencialmente simbólicos, o grupo continua mantendo uma existência natural. Portanto, não são
consideradas as dimensões imaginarias (isto é, afetivas, sócio históricas) nos fenômenos grupais, as quais
poderiam auxiliar na explicação do que produz e sustenta essas valorações e diferenças.

Como você pode perceber, o ideário de Kurt Lewin torna-se referência indispensável nos estudos relacionados
a dinâmica de grupo, pois suas pesquisas praticamente marcaram o aparecimento desse campo. Foi a partir
desta referência que vários pesquisadores puderam contribuir para a construção desse saber, tais como
Moreno, Piaget, Bales, Mucchielli, entre outros. Moreno trouxe uma abordagem baseada em uma conotação
psicanalítica, criando os grupos de psicodrama, sociograma, role-playing e outras técnicas. Piaget criou a
corrente da epistemologia genética, na psicologia do desenvolvimento, enfatizando o grupo como elemento
fundamental na educação do pensamento lógico. Bales, na comunicação no grupo, desenvolveu um
referencial acerca do chamado grupo de trabalho. Nestes referenciais, as definições de relações humanas
estão ligadas à experiência vivencial dos indivíduos, que se desempenham dentro dos roles correspondentes a
seus agrupamentos biológicos (sexo, idade), e a sua adaptação social, adquirida através de seu crescimento e
capacitação. (MINICUCCI, 2001).

“Os acontecimentos mais significativos para a vida dos indivíduos e dos grupos
estão vinculados ao esclarecimento dessas diferenças funcionais e biológicas,
referentes a cada ser humano. As comparações, imitações, rivalidades,
satisfações e desilusões de cada um constituem o drama dos seres humanos,
que convivem e que se empenham em encontrar a maneira de manter sua
posição individual num mundo que pertence aos demais. As inter-relações
existentes dos grandes e dos pequenos, dos jovens e dos velhos, dos homens e
das mulheres satisfazem a esta descrição universal das diferenças possíveis
com uma significação dinâmica para cada ser
humano.” Fonte: https://psicologado.com/psicologia-
geral/desenvolvimento-humano/dinamica-de-grupo-e-sua-contribuicao-
para-a-qualidade-de-vida-na-terceira-idade © Psicologado.com, acessado em
01/02/2016
É importante reconhecer que Lewin foi inovador ao abordar aspectos da personalidade como referidos ao
contexto cultural e, mais do que isso, político, ao tratar da presença da democracia, dando status científico a
essas considerações. Mesmo reconhecendo os aspectos históricos dos fenômenos grupais, herança de sua
formação científica europeia, Lewin elabora dentro dessa mesma tradição um entendimento sobre grupos
tratando daquilo que é “visível”, ainda que seja seu efeito, como as forças de atração e de repulsão
interindividuais.
Assim, na perspectiva sócio histórica, a teoria de Lewin não considera as dimensões afetivas e sócio históricas
nos fenômenos grupais, as quais poderiam auxiliar na explicação do que produz e sustenta essas valorações e
diferenças.
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as origens históricas dos estudos sobre grupos
e a relevância do escopo teórico desenvolvido por Kurt Lewin.
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
A proposta de trabalho com grupos de Kurt Lewin, a partir da compreensão e intervenção sobre sua
dinâmica, abre uma nova frente de atuação para a psicologia. A novidade desta proposta pode ser
reconhecida:
(a) na compreensão do grupo como lugar de forças e interações;
(b) na concepção de grupos numa perspectiva positivista;
(c) na tentativa de construir um teoria psicológica de forte concepção matemática e física;
(d) no desafio às concepções humanistas em psicologia;
(e) na submissão de Lewin aos fundamentos da psicologia social americana.

Se você compreendeu adequadamente a proposta teórica apresentada por Kurt Lewin, assinalou a
alternativa a. As demais alternativas não correspondem ao arcabouço teórico proposto por Lewin pois o autor
não corresponde a uma corrente positivista e, apesar de ter se utilizado de conceitos da matemática e física,
não se constituiu o foco da construção de sua teoria. Apesar de Lewin dar um status científico a essas
considerações, tão pouco elaborou uma teoria especificamente para contrapor as concepções humanistas ou
foi submisso a psicologia social americana, visto seu caráter inovador, ao abordar aspectos da personalidade
como referidos ao contexto cultural e, mais do que isso, político, ao tratar da presença da democracia.

Módulo 3: ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE GRUPOS-1


Leitura Obrigatória:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
Leitura para Aprofundamento:
MAILHIOT, G. B. Dinâmica e Gênese dos Grupos. Petrópolis: Vozes, 2013.
PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1994. (Capítulo 13)
Neste momento vamos identificar algumas das principais abordagens teóricas que estudaram e
desenvolveram um compêndio teórico e prático sobre a dinâmica grupal.
Dentre eles, nos ateremos neste módulo a: Moreno, Piaget e Pichón-Revière.
Contribuições teóricas: Moreno
Jacob Levy Moreno, o criador do Psicodrama, nasceu em 6 de maio de 1889, na cidade de Bucareste, na
Romênia e morreu em Beacon, em 14 de maio de 1974, aos 85 anos de idade. Era de origem judaica (sefardim)
e sua família veio da península ibérica e radicou-se na Romênia na época da Inquisição. Aos cinco anos de
idade mudou-se com a família para Viena e foi neste local que vivenciou a brincadeira de ser deus, que ele,
com humor, relaciona a sua ideia de espontaneidade como centelha divina que existe em cada um de nós.
Até 1920, Moreno teve uma intensa vida religiosa, fazendo parte de um grupo que fundou a "Religião do
Encontro". Eles expressavam sua rebeldia diante dos costumes estabelecidos usando barbas, vivendo pelas
ruas à maneira dos mais pobres e procurando novas formas de interação com o povo. Neste período, ele ia aos
jardins de Viena e criava jogos de improviso com as crianças, favorecendo-lhes a espontaneidade, e participou,
no ano de 1914, em Amspittelberg, juntamente com um médico venereologista e um jornalista, de um
trabalho com prostitutas vienenses através do qual, utilizando técnicas grupais, conscientizou-as de sua
condição, o que proporcionou que organizassem uma espécie de sindicato. Formou-se em medicina em 1917.
Interessou-se pelo Teatro, fundando, em 1921, o Teatro Vienense da Espontaneidade, experiência que
constituiu a base de suas ideias da Psicoterapia de Grupo e do Psicodrama. A proposta do Teatro da
Espontaneidade consistia na criação de uma representação espontânea, sem texto pronto e decorado, com os
atores criando no momento e assim relacionando-se com a plateia. A partir daí ele criou o "jornal vivo", em
que dramatizava as notícias do jornal diário junto com o grupo participante, lançando naquele momento as
raízes do Sociodrama. Ao trabalhar com os pacientes do hospital psiquiátrico usando o "Teatro da
Espontaneidade", criou o Teatro Terapêutico, que depois foi chamado "Psicodrama Terapêutico". Em 1925
emigrou para os EUA, onde, dois anos depois, fez a primeira apresentação do Psicodrama fora da Europa. Em
1931 introduziu o termo Psicoterapia de Grupo e este ficou sendo considerado o ano verdadeiro do início da
Psicoterapia de Grupo científica, embora as fundamentações e experiências tenham iniciado em Viena.
(ALMEIDA, GONÇALVES e WOLFF, 1988)
A palavra "Drama" significa "ação" em grego e, neste sentido, o. Psicodrama pode ser definido como uma via
de investigação da alma humana mediante a ação. O Psicodrama consiste em um método de pesquisa e
intervenção nas relações interpessoais, nos grupos, entre grupos ou de uma pessoa consigo mesma. O
objetivo se relaciona a mobilizar para vivenciar a realidade a partir do reconhecimento das diferenças e dos
conflitos e facilita a busca de alternativas para a resolução do que é revelado, expandindo os recursos
disponíveis. Tem sido amplamente utilizado na educação, nas empresas, nos hospitais, na clínica, nas
comunidades.
O Psicodrama é uma parte de uma construção muito mais ampla, criada por Jacob Levy Moreno, a Socionomia.
Na verdade, a denominação da parte foi estendida para o todo e, quando as pessoas usam o termo
Psicodrama, estão, geralmente, se referindo à Socionomia - ciência das leis sociais e das relações, que se
caracteriza fundamentalmente por seu foco na intersecção do mundo subjetivo, psicológico e do mundo
objetivo, social, contextualizando o indivíduo em relação às suas circunstâncias. Divide-se em três ramos: a
Sociometria, a Sociodinâmica e a Sociatria, que guardam em comum a ação dramática como recurso para
facilitar a expressão da realidade implícita nas relações interpessoais ou para a investigação e reflexão sobre
determinado tema.
A Sociometria, através do teste sociométrico, mensura as escolhas dos indivíduos e expressa-as através
de gráficos representativos das relações interpessoais, possibilitando a compreensão da estrutura grupal.
A Sociodinâmica investiga a dinâmica do grupo, as redes de vínculos entre os componentes dos grupos.
A Sociatria propõe-se à transformação social, à terapia da sociedade.
A Sociodinâmica e a Sociatria têm objetivos complementares e utilizam-se das mesmas técnicas: o Psicodrama,
o Sociodrama, o Role Playing, o Teatro Espontâneo, a Psicoterapia de Grupo. Enquanto técnicas, a diferença
entre o Psicodrama e o Sociodrama consiste em que no primeiro o trabalho dramático focaliza o indivíduo -
embora sempre visto como um ser em relação - e no segundo focaliza o próprio grupo.
De acordo com a FEBRAP – Federação Brasileira de Psicodrama (http://www.febrap.org.br, 2016), a
transformação social e o trabalho com a comunidade era o grande sonho de Moreno. No começo do século
XX, ele buscava relacionar-se com crianças e adultos nas praças e ruas de Viena, estimulando-os a descobrirem
novas formas de estar no mundo. A filosofia do momento, que embasa a teoria e a prática psicodramática, foi
sendo configurada através de sua observação do potencial criativo do ser humano. Desde então, o Psicodrama
vem se transformando, desenvolvendo-se como teoria e como prática. Profissionais da área clínica adaptaram-
no para o atendimento processual em consultório, muitas vezes num enquadre de psicoterapia individual,
trazendo novas contribuições para a teoria psicodramática do desenvolvimento emocional e para a
compreensão da psicopatologia, assim como para a configuração de modelos referenciais na compreensão da
experiência emocional humana e dos grupos. Neste contexto, mais comumente, a expressão dos
impedimentos e conflitos envolve tensão, agressividade e, principalmente, o reconhecimento e acolhimento
da dor psíquica.
A prática psicodramática, em suas inúmeras modalidades, começa pelo envolvimento das pessoas com o tema
ou com a experiência a ser vivenciada, através de lembranças ou histórias do cotidiano dos indivíduos e/ou das
organizações. Cabe ao diretor manejar as técnicas psicodramáticas, como recursos de ação, para garantir o
envolvimento do grupo e a escolha da cena protagônica, que refletirá a experiência dos presentes. Ele vai
convidando todos para participarem na criação conjunta do enredo, favorecendo a emergência da realidade
grupal.

Neste sentido, o Psicodrama é facilitador da manifestação das ideias, dos conflitos sobre um tema, dos dilemas
morais, impedimentos e possibilidades de expressão em determinada situação. Fundamentado na teoria do
momento e no princípio da espontaneidade, promove a participação livre de todos e estimula a criatividade na
produção dramática e na catarse ativa. Finaliza-se com os comentários, inicialmente dos participantes da cena
e depois do grande grupo, com a identificação da realidade que acaba de ser vivenciada e com o levantamento
de soluções possíveis para as questões abordadas.

Nas atividades desenvolvidas no âmbito social, buscam-se soluções práticas e reais para os problemas,
contribuindo para a descoberta de alternativas que promovam o desenvolvimento sustentável nas
comunidades.

O principal objetivo da ação dramática é favorecer aos membros do grupo a descoberta da riqueza inerente
em vivenciar plenamente o status nascendi da experiência grupal, participando com a maior honestidade
possível no momento. Desta maneira, os participantes recriarão no grupo seus modelos de relacionamento,
confrontando e sendo confrontados com as diferenças individuais, condição necessária para apreenderem a
distinção entre sua experiência emocional e a dos outros, sendo cada um deles agente transformador dos
demais. O Psicodrama vem expandindo suas fronteiras, ampliando a diversidade de experiências de
intervenção psicossocial. Acompanhando esta expansão, a produção científica tem procurado aprofundar as
questões provocadas por esta prática renovada. (http://www.febrap.org.br/psicodrama/default.aspx?idm=20,
acessado em 01/02/2016).

Contribuições teóricas: Piaget


Jean Piaget nasceu em 1896 e faleceu em 1980, renomado psicólogo e filósofo suíço, conhecido por seu
trabalho pioneiro no campo da inteligência infantil. Piaget passou grande parte de sua carreira profissional
interagindo com crianças e estudando seu processo de raciocínio, obtendo com isso um significativo impacto
sobre os campos da Psicologia e Pedagogia. Piaget aos 11 anos de idade publicou seu primeiro trabalho sobre
sua observação de um pardal albino, estudo que é considerado o início de sua brilhante carreira científica. Ele
frequentou a Universidade de Neuchâtel, onde estudou Biologia e Filosofia, recebendo seu doutorado em
Biologia em 1918, aos 22 anos de idade.
Após formar-se, Piaget foi para Zurich, onde trabalhou como psicólogo experimental. Lá ele frequentou aulas
lecionadas por Jung e trabalhou como psiquiatra em uma clínica, experiências que muito o influenciaram em
seu trabalho. Ele passou a combinar a psicologia experimental, que é um estudo formal e sistemático, com
métodos informais de psicologia: entrevistas, conversas e análises de pacientes. Em 1919, Piaget mudou-se
para a França, onde foi convidado a trabalhar no laboratório de Alfred Binet, um famoso psicólogo infantil que
desenvolveu testes de inteligência, padronizados para crianças. Piaget notou que crianças francesas da mesma
faixa etária cometiam erros semelhantes nesses testes e concluiu que o pensamento lógico se desenvolve
gradualmente. Foi então em 1919 que Piaget iniciou seus estudos experimentais sobre a mente humana e
começou a pesquisar também sobre o desenvolvimento das habilidades cognitivas. Seu conhecimento de
Biologia levou-o a enxergar o desenvolvimento cognitivo de uma criança como sendo uma evolução gradativa.
Jean Piaget revolucionou as concepções de inteligência e de desenvolvimento cognitivo partindo de pesquisas
baseadas na observação e em entrevistas que realizou com crianças. Buscando analisar as relações que se
estabelecem entre o sujeito que conhece e o mundo que tenta conhecer, considerou-se um epistemólogo
genético porque investigou a natureza e a gênese do conhecimento nos seus processos e estágios de
desenvolvimento. Em 1921, Piaget voltou à Suíça e tornou-se diretor de estudos no Instituto J. J. Rousseau da
Universidade de Genebra, buscando observar crianças brincando e registrando meticulosamente as palavras,
ações e processos de raciocínio delas. As teorias de Piaget foram, em grande parte, baseadas em estudos e
observações de seus filhos que ele realizou ao lado de sua esposa. Piaget lecionou em diversas universidades
europeias, dentre elas a Universidade de Sorbonne (Paris, França), onde permaneceu de 1952 a 1963. Até a
data de seu falecimento, Piaget fundou e dirigiu o Centro Internacional para Epistemologia Genética. Ao longo
de sua brilhante carreira, Piaget escreveu mais de 75 livros e centenas de trabalhos científicos. Piaget
desenvolveu diversos campos de estudos científicos: a psicologia do desenvolvimento, a teoria cognitiva e o
que veio a ser chamado de epistemologia genética, as quais tinham o objetivo de entender como o
conhecimento evolui. Piaget parte do pressuposto de que o conhecimento evolui progressivamente por meio
de estruturas de raciocínio que substituem umas às outras por meio de estágios. Isso significa que a lógica e
formas de pensar de uma criança são completamente diferentes da lógica dos adultos.
A essência do trabalho de Piaget ensina que ao observarmos cuidadosamente a maneira com que o
conhecimento se desenvolve nas crianças, podemos entender melhor a natureza do conhecimento humano.
Em sua teoria identifica os quatro estágios de evolução mental de uma criança, sendo que cada estágio é um
período onde o pensamento e comportamento infantil é caracterizado por uma forma específica de
conhecimento e raciocínio: sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e operatório formal.
A capacidade de adaptar-se para Piaget é o processo de funcionamento do organismo a uma nova situação, e
como tal, implica a construção contínua do modo como as partes ou elementos se relacionam, e que
determina as características ou o funcionamento do todo. Essa adaptação refere-se ao mundo exterior, como
toda adaptação biológica. De tal forma, indivíduos progridem intelectualmente a partir do ato de exercitar e
estímulos oferecidos pelo meio que os cercam. Ramozzi-Chiarottino citado por Chiabal (1990) diz que o que
vale igualmente dizer que a inteligência humana pode ser praticada, buscando um aperfeiçoamento de
potencialidades, que passam gradativamente de um estado a outro desde o nível mais primitivo da existência,
caracterizado por trocas bioquímicas até o nível das trocas simbólicas.
Para Piaget o comportamento dos seres vivos não é inato, nem resultado de condicionamentos. Para ele o
comportamento é construído numa interação entre o meio e o indivíduo, sendo caracterizada como uma
teoria interacionista. A inteligência do indivíduo, como adaptação a situações novas, portanto, está
relacionada com a complexidade desta interação do indivíduo com o meio. Em outras palavras, quanto mais
complexa for esta interação, mais “inteligente” será o indivíduo. As teorias piagetianas abrem campo de
estudo não somente para a psicologia do desenvolvimento, mas também para a sociologia e para a
antropologia, além de permitir que os pedagogos tracem uma metodologia baseada em suas descobertas. A
adaptação intelectual constitui-se então em um "equilíbrio progressivo entre um mecanismo assimilador e
uma acomodação complementar". Piaget situa o problema epistemológico no âmbito de uma interação entre
o sujeito e o objeto. E de acordo com Piaget (1982) essa dialética resolve todos os conflitos nascidos das
teorias, associacionistas, empiristas, genéticas sem estrutura, estruturalistas sem gênese, e permite seguir
fases sucessivas da construção progressiva do conhecimento.
O construtivismo piagetiano analisa os processos de desenvolvimento e aprendizagem como resultados da
atividade do homem na interação com o ambiente. E para explicar tal interação Piaget citado em Goulart
(1983) propõe alguns conceitos centrais como: assimilação, acomodação e adaptação.
A assimilação é considerada como a incorporação dos dados da realidade nos esquemas disponíveis no sujeito,
ou seja, o indivíduo assimila tudo o que ouve, transformando isso em conhecimento próprio. “No processo de
acomodação o sujeito modifica os esquemas para internalizar os elementos novos. Do equilíbrio desses dois
processos ocorre uma adaptação ao mundo cada vez mais adequada e uma consequente organização mental”.
(GOULART, 1983).
Piaget (1982) apresenta o pressuposto de que a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em
função de interações sociais que são, em geral, negligenciadas. Porém, apesar de tal afirmação, Piaget não se
deteve sobre essa questão do papel dos fatores sociais no desenvolvimento humano e sim, das influências e
determinações dessa mesma interação sobre a inteligência do ser humano.

As observações de Piaget põem em foco as condições intelectuais que tornam a pessoa capaz de cooperar e
explicam o efeito da cooperação na formação de sua mente. A estruturação do pensamento em agrupamentos
e em grupos móveis permite que cada indivíduo adote múltiplos pontos de vista. Outro tipo de
comportamento que a atividade grupal desenvolve, segundo a linha de Piaget, é chamado de reciprocidade.
No momento em ocorre contribuições de ajuda mútua, colaboração. O indivíduo raciocina com mais lógica
quando discute com os outros, em reciprocidade. (MINICUCCI, 1997). Para o autor o indivíduo raciocina com
mais lógica quando discute com outro, pois, frente ao companheiro, a primeira coisa que procura é evitar a
contradição. Por outro lado, a objetividade, o desejo de comprovação, a necessidade de dar sentido ás
palavras e ás idéias são não só obrigações sociais, como também condições de pensamento operatório.
(MINICUCCI, 1997).
Mediante experiências em grupo, o indivíduo aprende que, ante algo objetivo, pode - se adotar diferentes
pontos de vista correlatos e que as diversas observações extraídas não são contraditórias, mas
complementares. O indivíduo que intercambia em grupo suas idéias, com seus semelhantes, tende a organizar
de maneira operatória seu próprio pensamento, portanto, o grupo favorece o desenvolvimento do chamado
pensamento operatório. (MINICUCCI, 1997).
Considerando estes conceitos centrais, o educador deve tornar a atividade grupal proporcional ao nível de
desenvolvimento cognitivo dos alunos, não podendo ir além das suas capacidades, nem deixá-los agindo
sozinhos, uma vez que, busca-se que o sujeito seja capaz de formar esquemas conceituais de conteúdos com
flexibilidade de pensamento, estimulando-se a reflexão e construção de conceitos e princípios ao interagir
com o outro.

Contribuições teóricas: Pichón-Revière

Enrique Pichon Rivière nasceu em Genebra (1907) tendo migrado para Buenos Aires em 1977, sendo um
médico psiquiatra e psicanalista suíço, nacionalizado argentino. A técnica dos grupos operativos começou a ser
sistematizada por Enrique Pichon-Rivière, a partir de uma experiência no hospital de Las Mercedes, em Buenos
Aires, por ocasião de uma greve de enfermeiras. Esta greve inviabilizaria o atendimento aos pacientes
portadores de doenças mentais no que diz respeito à medicação e aos cuidados de uma maneira geral. Diante
da falta do pessoal de enfermagem, Pichon-Rivière propõe, para os pacientes “menos comprometidos”, uma
assistência para com os “mais comprometidos” e a experiência foi muito produtiva para ambos os pacientes,
os cuidadores e os cuidados, por ter havido maior identificação entre eles e pôde-se estabelecer uma parceria
de trabalho, uma troca de posições e lugares, trazendo melhor integração. Pichon-Rivière começou a trabalhar
com grupos na medida em que observava a influência do grupo familiar em seus pacientes. Sua prática
psiquiátrica esteve subsidiada principalmente pela psicanálise e pela psicologia social, sendo ele o fundador
tanto da Escola Psicanalítica Argentina (1940) como do Instituto Argentino de Estudos Sociais (1953). Para o
autor, o objeto de formação do profissional deve instrumentar o sujeito para uma prática de transformação de
si, dos outros e do contexto em que estão inseridos, defendendo a ideia de que aprendizagem é sinônimo de
mudança, na medida em que deve haver uma relação dialética entre sujeito e objeto e não uma visão
unilateral, estereotipada e cristalizada.

A aprendizagem centrada nos processos grupais coloca em evidência a possibilidade de uma nova elaboração
de conhecimento, de integração e de questionamentos acerca de si e dos outros. A aprendizagem é um
processo contínuo em que comunicação e interação são indissociáveis, na medida em que aprendemos a
partir da relação com os outros. A técnica de grupo operativo consiste em um trabalho com grupos, cujo
objetivo é promover um processo de aprendizagem para os sujeitos envolvidos, através de uma leitura crítica
da realidade, uma atitude investigadora, uma abertura para as dúvidas e para as novas inquietações. Neste
conceito, a constituição do sujeito é marcada por uma contradição interna: ele precisa, para satisfazer as suas
necessidades, entrar em contato com o outro, vincular-se a ele e interagir com o mundo externo. Deste
sistema de relações vinculares emerge o sujeito, sujeito predominantemente social, inserido numa cultura,
numa trama complexa, por meio da qual internalizará vínculos e relações sociais que vão constituir seu
psiquismo.

Para Pichon-Rivière (1988), a teoria do vínculo tem um caráter social na medida em que compreende que
sempre há figuras internalizadas presentes na relação, quando duas pessoas se relacionam, ou seja, uma
estrutura triangular. O vínculo é bi-corporal e tripessoal, isto é, em todo vínculo há uma presença sensorial
corpórea dos dois, mas há um personagem que está interferindo sempre em toda relação humana, que é o
terceiro. Neste sentido, vínculo é uma estrutura psíquica complexa. O circuito vincular tem direção e sentido,
tendo um porquê e um para quê. Quando somos internalizados pelo outro e internalizamos o outro dentro de
nós, podemos identificar o estabelecimento do vínculo de mútua representação interna. Considera-se que
este vínculo consiste em uma estrutura complexa de relação que vai sendo internalizada e que possibilita ao
sujeito construir uma forma de interpretar a realidade própria. Na vivência com os outros nós nos
constituímos por meio de uma história vincular que vai se tecendo nessa relação. Assim, o grupo operativo é
considerado como uma estrutura operativa que possibilita aos integrantes meios para que eles entendam
como se relacionam com os outros (GAYOTTO, [1992]).

Atividades recomendadas:

1. Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as origens históricas dos estudos de
Moreno, Piaget e Pichón-Revière sobre grupos e a relevância do escopo teórico desenvolvido por eles.
2. Procure identificar as nuances diferenciais entre os autores.
3. Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

“Todo conjunto de pessoas, ligadas entre si por constantes de tempo e de espaço e articuladas por sua mútua
representação interna, se coloca explícita ou implicitamente na tarefa que constitui sua finalidade”.
Essa síntese constitui um pensamento do autor:

a) Levy Moreno
b) Félix Guattari
c) Pichon-Rivière
d) Jean Piaget
e) Gregorio Baremblit
Se você compreendeu adequadamente a proposta teórica apresentada por Kurt Lewin, assinalou a
alternativa c. As demais alternativas não correspondem a definição de grupo apresentada no enunciado. A
definição faz menção a tarefa enquanto finalidade do grupo, fator explicitamente ressaltado por Pichón-
Revière e não pelos demais autores.

Módulo 4: ABORDAGENS TEÓRICAS SOBRE GRUPOS-2


Leitura Obrigatória:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.

Leitura para Aprofundamento:


MINICUCCI, A. Técnicas do trabalho de grupo. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.

Neste momento vamos identificar algumas das principais abordagens teóricas que estudaram e
desenvolveram um compêndio teórico e prático sobre a dinâmica grupal.
Dentre eles, nos ateremos neste módulo às contribuições teóricas de Schutz e à Avaliação dos fenômenos da
interação humana em grupos de Bales.

Contribuições teóricas: Schutz

Will C. Schutz foi um estudioso das dinâmicas de grupos e desenvolveu ao longo de 30 anos suas pesquisas
sistemáticas, realizando novas experiências sobre o fenômeno estudado por Kurt Lewin.
Schutz (1958) destacou as implicações de suas descobertas como a interdependência e a estreita correlação
que existe em todo grupo de trabalho entre seu grau de integração e seu nível de criatividade. O autor
também considera as dimensões de dependência e interdependência como fatores centrais de
compatibilidade de grupo, indicando que o determinante estratégico de compatibilidade é a dosagem
específica de orientações para autoridade com orientações para intimidade pessoal. A concepção de
compatibilidade de grupo é importante na constituição de equipes de trabalho, que tem metas bem definidas
a alcançar, que poderia, ou deveria, funcionar adequadamente pela competência técnica de seus integrantes,
mas que, por vezes, não rendem o esperado, certamente pelas dificuldades interpessoais no trabalho grupal.
No desenvolvimento do grupo, portanto, precisam também ser considerados os aspectos de personalidade de
seus membros com relação as dimensão de dependência (autoridade) e interdependência (intimidade) além
da dimensão tempo e outros fatores, tais como: objetivos do grupo, contexto físico-social, dentre outros. Esta
formulação permite a Schutz a elaboração de um teste chamado FIRO (Fundamental Interpessoal Relations
Orientations), capaz de medir conflitos e/ou independência em relação a cada uma das dimensões, bem como
o grau com que o indivíduo fará sentir os seus pontos de vista ao expressar-se em um grupo. O autor inova o
fenômeno grupal com sua teoria das “Necessidades Interpessoais” na formação e desenvolvimento de um
grupo, conceito usado para especificar que a integração dos membros de um grupo acontece quando certas
necessidades fundamentais são satisfeitas, pois só em grupo e pelo grupo essas necessidades podem ser
satisfeitas, sendo fundamentais porque são vivenciadas por todo ser humano em um grupo qualquer.
Schutz (1958) nota 3 zonas de necessidades interpessoais existentes em todos os grupos:

· NECESSIDADE DE INCLUSÃO; que significa a necessidade de se sentir considerado pelos outros, de sua
existência no grupo ser de interesse para o outros. Cada membro do grupo procura seu lugar através de
tentativas para encontrar e estabelecer os limites de sua participação no grupo, o quanto vai dar de si, o
quanto espera receber, como se mostrará ou que papel desempenhará primordialmente. É uma fase de
introdução do grupo de forma ativa e experimental.
A necessidade de inclusão é o sentir-se aceito, integrado e valorizado totalmente pelo grupo, além de procurar
provas de que não é ignorado, isolado ou rejeitado. Em todas as três etapas, a maturidade social (o nível de
socialização), e a necessidade de inclusão, condicionarão e determinarão atitudes mais ou menos adultas,
evoluídas. Logo, os menos socializados nesta fase, comportam-se como membros infantis, com atitudes de
dependência ou como membros da fase típica da revolta adolescente com atitudes de contra-dependência,
forçando a inclusão. Esta fase refere-se ao significado que cada pessoa pensa ou sente ter para as outras
pessoas que compõem o grupo. Assim, aquelas que se sentem com autoestima baixa comportam-se de
maneiras extremadas e ansiosas, sendo sub-social com atitudes retraídas e afastando-se das pessoas, ou ultra
social com atitudes extrovertidas, não suportando ficar sozinhas.

Os sentimentos inconscientes são iguais tanto no comportamento do sub-social quanto no comportamento do


ultra social, mesmo que manifestos e opostos, a técnica sutil utilizada por ambos é de ser querido e poderoso.
Os mais socializados podem participar muito ou pouco numa situação de grupo sem sentir-se ansioso, tendo
atitudes de autonomia e interdependência e encontram satisfação pelos laços que estabelecem entre os
membros do grupo. Para Schutz (1958), somente estes se tornam capazes de dar e receber afeição e
estabelecem suas relações em nível autenticamente interpessoal. Os problemas apontados nesta fase de
inclusão é o da decisão, ficar dentro ou fora do grupo. As interações de inclusão concentram-se nos encontros
e a ansiedade da inclusão é de ser insignificante.

· NECESSIDADE DE CONTROLE: significa respeito pela competência e responsabilidade dos outros e


consideração dos outros pela competência e responsabilidade do indivíduo. Encontrado o seu lugar, cada
membro passa a interessar-se pelos procedimentos que levem às decisões, ou seja, pela distribuição do poder
no grupo e controle das atividades dos outros. É uma fase de jogo de forças, competição por liderança,
discussões sobre metas e métodos, atuação no grupo e formação de normas de conduta dentro do grupo.
Cada um busca atingir um lugar satisfatório às suas necessidades de controle, influência e responsabilidade.
A necessidade de controle faz referência ao poder, influência, autoridade, como também os indivíduos
definirão para si mesmo suas próprias responsabilidades e as de cada membro dentro do grupo. Surgem
então, questões como o grupo está controlado e por de quem? Quem tem autoridade sobre quem, em que
momento e por quê? Respostas a estas perguntas trazem segurança para o indivíduo e vai delineando as
estruturas do grupo e da autoridade.
A socialização determinará os comportamentos assim como o seu grau, sendo que os menos socializados
permanecerão com atitudes infantis e dependentes procurando livrar-se das responsabilidades e passando-as,
por exemplo, para aqueles que denominam como mais carismáticos. O desejo de controle varia entre desejo
de ser controlado, isentando-se de responsabilidade e o desejo de controlar, que é ter autoridade sobre os
outros com objetivo de ter controle sobre o próprio futuro. O comportamento de controle não implica em
destacar-se como na inclusão. pois está subjacente à competência, ou seja, sentir-se competente ou sentir-se
incapaz. Aqueles que se sentem incapazes têm comportamentos extremados e ansiosos com atitudes
autocratas, pois tentam dominar, sendo fanático pelo poder e competidor. Os de atitudes abdicrata afastam-
se de posições de poder e responsabilidades. A sensação latente tanto no autocrata quanto no abdicrata é a
mesma, a incapacidade de se desincumbir de obrigações; não ser competente. Aqueles que se sentem
capazes, denominados como democrata, que teve o seu problema de controle resolvido na infância, sentem-
se confiável, dando ou recebendo. Pensa e quer o controle do grupo em termos de responsabilidades
partilhadas. O problema do controle é estar por cima ou por baixo. A interação primária do controle é o
confronto devido papéis diversificados e as lutas pelo poder. Competição e a influência passam a ter uma
importância central e a ansiedade do controle corresponde a de ser incompetente.

· NECESSIDADE DE AFETO: significa sentimentos mútuos ou recíprocos de amar os outros e ser amado, ou
seja, sentir-se amado. Uma vez resolvidos razoavelmente os problemas de controle, os membros começam a
expressar e buscar integração emocional. Surgem abertamente manifestações de hostilidade direta, ciúmes,
apoio, afeto e outros sentimentos. Cada um procura conhecer as possibilidades de intercâmbio emocional,
estabelecer limites quanto à intensidade e qualidade das trocas afetivas. O clima emocional do grupo pode
oscilar entre momentos de grande harmonia e momentos de insatisfação, hostilidade e tensão. A tendência é
o estabelecimento de um clima afetivo positivo dentro do grupo e que traz satisfações a todos, mas que não
perdura muito tempo, passando ao polo oposto.
Esta é a fase dos vínculos emocionais que se refere às proximidades pessoais e emocionais entre as pessoas. É
a última fase a emergir no desenvolvimento de uma relação humana ou de um grupo. Os indivíduos querem
obter provas de serem totalmente valorizados. Desejam ser percebidos como insubstituíveis e aspiram ser
respeitados por suas competências, aceitos como seres humanos não apenas pelo que têm, mas também pelo
que são. De acordo com a maturidade social haverá variação de comportamentos, sendo que os indivíduos
dependentes tentam satisfazer suas necessidades de afeto através de relações privilegiadas, exclusivas e
geralmente possessivas, desejam relações hiperpessoais. Para esses indivíduos, os comportamentos estão
classificados como subpessoal. Esse comportamento é o de evitar elos íntimos com as pessoas.
Inconscientemente, temem não ser amados e sentem dificuldades de gostar das pessoas, além de
desconfiarem dos sentimentos das mesmas. Enquanto, os indivíduos com o comportamento superpessoal
procuram estar extremamente próximo das pessoas, inconscientemente ser querido é essencial como
tentativa de aliviar a ansiedade de ser rejeitado. Usam a manipulação e a possessividade como técnicas sutis
de relacionamento.
Os indivíduos mais socializados, denominados de pessoal, que tiveram as relações de afeto bem resolvidas na
infância e interação íntima com outras pessoas, são capazes de dar e receber afeto genuíno. O problema de
afetividade é estar próximo ou distante. A interação afetiva será o abraço e a ansiedade: é de ser ou não capaz
de ser amado.
Alguns anos depois, Schutz retoma estes conceitos, ampliando com mais dois: A ciclagem e a separação. Para
ele, a ciclagem representa o momento em que forças externas podem se impor ao funcionamento do grupo,
chegando a fase de separação, o grupo se desfaz resolvendo suas relações de forma oposta, ou seja, do afeto
para a inclusão. O comportamento individual é uma combinação de 4 tipos de comportamentos nestas zonas
(e fases): o comportamento deficiente, o excessivo, o patológico e o ideal, na medida em que as necessidades
são ativadas e satisfeitas.
O grupo passa pelas fases de inclusão, controle e afeção, em que há oportunidades para os membros
satisfazerem suas necessidades interpessoais e o ciclo das pode repetir-se várias vezes durante a vida de um
grupo, independente da sua situação.

Schutz (1958) relata ainda que cada dimensão pode apresentar doenças físicas especificas como enfermidades
da inclusão, enfermidades do controle e enfermidades do afeto.

As enfermidades da inclusão referem-se aos limites entre EU e o resto do mundo, assim se manifestam na
pele, nos órgãos sensoriais, olhos, ouvidos, nariz e boca, e com os sistemas corporais que entram em contato
com o ambiente, como o sistema respiratório e digestivo-excretor, como por exemplo espinhas, cravos ou
herpes, que podem ser uma manifestação de conflitos inconscientes relativos a inclusão, mantendo as pessoas
afastadas. Outro exemplo, e o câncer tradicional, onde tem-se a impressão de que os doentes têm um forte
desejo de viver, mas provavelmente existe neles uma poderosa dimensão inconsciente que deseja morrer.

As enfermidades do controle referem-se aos sistemas de órgãos que controlam o corpo: músculos, esqueleto,
sistema nervoso e glândulas endócrinas. Por exemplo: a interpretação da artrite pode ser vista como
contenção poderosa da raiva. Geralmente mulheres jovens que gostariam de bater nas próprias mães,
sentem-se culpadas, e a artrite e um caminho para o impedimento de golpear alguém fisicamente.

O afeto refere-se a expressão de amor com o coração e de sexo com os órgãos genitais e, sendo assim, as
enfermidades do afeto se manifestam no sistema circulatório. A circulação nutre o corpo todo, se esta
constrita, o organismo inteiro tem dificuldade para obter nutrição suficiente. Isto acontece quando o amor
está ruim ou ausente. Quando o sangue flui livremente através de um coração descontraído e aberto, e
porque o amor está dando certo. Enfermidades genitais podem acontecer se há culpa sexual, se há dificuldade
e um problema, se os costumes religiosos ou sociais são violados.
As necessidades interpessoais são satisfeitas normalmente por um equilíbrio de relações nas 3 zonas. As zonas
de necessidades interpessoais caracterizam 3 fases de desenvolvimento grupal, embora muitas vezes não
possam ser nitidamente distinguidas, pois os componentes do grupo não se enquadram todos na mesma
etapa ao mesmo tempo, ao procurar satisfazer suas necessidades de acordo com seu ritmo pessoal.

Schutz (1958) traça um paralelo entre a formação de um grupo e as dimensões que surgem no
desenvolvimento infantil. Aponta que inclusão, controle e afeto são aspectos interpessoais dos estágios oral,
anal e fálico, pois a necessidade de inclusão que refere a necessidade do vínculo humano e tem como objetivo
a sobrevivência, está ligada ao estágio oral que tem a boca como maior estimulação e maior necessidade para
a mesma. A necessidade de controle, que refere ao poder e responsabilidade, está ligada ao estágio anal,
período de luta e poder em torno da higiene pessoal, período da primeira barganha e negociação com a
retenção das fezes. Por fim, a necessidade de afeto que faz referência aos vínculos emocionais está ligada ao
estágio fálico, justamente na situação edípica, onde esses vínculos são elaborados através dos sentimentos de
amor, ciúmes rivalidade, por exemplo. Schutz (1958) enfatiza então que inclusão, controle e afeto
caracterizam todos os níveis de organização social. A inclusão, o controle e o afeto são dimensões presentes
no homem desde a sua concepção.
Com relação ao método de trabalho desenvolvido pelo autor, o mesmo baseia-se nos Programas de Formação
em grupos de encontro (grupos T). Estes grupos funcionam como laboratórios onde cada indivíduo possa ter a
oportunidade de desenvolvimento de suas capacidades através de dinâmicas, e a partir destes encontros as
relações interpessoais, os sentimentos de autoestima e as potencialidades de cada um possam ser trabalhados
com um objetivo de crescimento individual e grupal, até do contexto geral de uma instituição.

Atividades recomendadas:

1. Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as origens históricas e aspectos
relevantes dos estudos de Schutz.
2. Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

Segundo Schutz (1994), todo o indivíduo tem três necessidades interpessoais:


a) Iniciação, Formação e Normatização
b) Diferenciação, Conflito e Maturidade
c) Integração, Clonagem e Afeto
d) Incorporação, Desempenho e Afeição
e) Inclusão, Controle e Afeição

Se você compreendeu adequadamente a proposta teórica apresentada por Schutz, assinalou a alternativa e.
As demais alternativas não correspondem a definição das três necessidades apontadas por Schutz, mas sim a
fases de desenvolvimento de um grupo, como Iniciação ou Formação, Conflito, Maturidade, Desempenho.

Avaliação dos fenômenos da interação humana em grupos: Bales.


R. Bales (1950) em seu clássico estudo sobre o processo de interação discerniu 12 categorias que
representam funções de participação num grupo de trabalho, cujo objetivo principal consiste na resolução de
problemas.
As categorias distribuem-se em duas áreas de ocorrência: a área de tarefa e a área sócio emocional. A
primeira é considerada neutra, englobando os comportamentos de perguntas e tentativas de respostas. A
segunda pode ser positiva ou negativa, conforme as reações emocionais manifestadas dos participantes.
A área de tarefa compreende as funções ao nível de interação de conteúdo ou canalização de energia
para a consecução dos objetivos comuns do grupo, enquanto a área sócio emocional compreende as funções
de manutenção do próprio grupo. O quadro 1 mostra as categorias de interação e suas expressões
comportamentais.
Os indivíduos do grupo desempenham papéis relacionados às categorias de interação nos dois níveis, tarefa e
sócio emocional. Esses papéis são assumidos formal ou informalmente no curso dos processos de interação.
Mesmo quando um papel formal é atribuído a um indivíduo, ele geralmente assume, também, outro papel
informal.
Os papéis assumidos com mais frequência tendem a caracterizar a atuação do indivíduo no grupo.
Assim, ao nível da tarefa, uma pessoa quase sempre inicia as atividades, propõe ou sugere ao grupo maneiras
de abordar as tarefas ou cursos de ação, enquanto outra pessoa dinamizará os esforços, estimulando o grupo
para melhor qualidade dos resultados, outra ainda ficará mais como observadora, etc. ao nível sócio
emocional, alguns indivíduos aliviarão habilmente as tensões que surgem, outros mostrarão solidariedade, ou
discordância, ou aumentarão as tensões, por exemplo.

QUADRO 1: CATEGORIAS DE INTEGRAÇÃO NO GRUPO – BALES

ÁREA CATEGORIAS PROBLEMAS SUBCATEGORIAS COMPORTAMENTOS


1. Mostra Eleva o status do outro,
f solidariedade ajuda, gratifica, é
SÓCIO-
Reações positivas amistoso.
EMOCIONAL
e 2. Mostra alívio de Partilha, ri, demostra
tensão satisfação.

3. Mostra Aceita passivamente,


d
concordância compreende, concorda.

Sugere direções sem


c
4. Dá sugestão tirar a autonomia dos
outros.
Tentativas de
TAREFA Analisa, avalia, expressa
resposta 5. Dá opinião desejos e sentimentos.
b

6. Dá informação Orienta, repete,


a
esclarece, confirma.
e 7. Pede informação
Solicita orientação,
repetição,
TAREFA Perguntas
esclarecimento,
confirmação.
8. Pede opinião
b
Solicita análise,
avaliação, expressão de
desejos e sentimentos.
9. Pede sugestão
Solicita direção,
c possíveis formas de
ação.

Rejeita passivamente,
10.Mostra discordância recorre a formalidade,
nega ajuda.
d

SÓCIO- Reações
EMOCIONAL negativas
Pede ajuda, devaneia,
e 11. Mostra tensão
evade-se.
Rebaixa o status do
f 12.Mostra antagonismo outro e defende ou
afirma o seu, é hostil.

Legenda de problemas:
a. de orientação
b. de avaliação
c. de controle
d. de decisão
e. de tensão
f. de integração
FONTE: Bales (1950)

Os estudos de Bales registrarão a seguinte distribuição típica de comportamentos de interação dos


membros no grupo: cerca de 12% de reações negativas, 25% de reações positivas, 7% de perguntas e 56% de
respostas. Este resultado indica, claramente, que a maior parte da interação no grupo é realizada sob forma de
respostas sem perguntas equivalentes, isto é, informações, opiniões e sugestões não-pedidas. Menos de
metade dos comportamentos interativos expressa reações positivas, negativas e perguntas.
Seria interessante comparar estes dados que se referem a grupos típicos, normais, de universitários
norte-americanos para resolução de problemas, com grupos nossos em reuniões de trabalho e verificar até
que ponto os participantes também manifestam opiniões (eu acho..., eu penso..., eu considero...) e
informações não-solicitadas com a mesma frequência, bem como a proporção das outras categorias. O leitor
poderia fazer esta observação, empiricamente, sem preocupar-se com o rigor da pesquisa científica, apenas
como base introdutória de reflexões pessoais sobre algumas dificuldades existentes no funcionamento e na
eficiência de grupos de trabalho.

As classificações de papéis funcionais no grupo em construtivos e não-construtivos, conforme o esquema


apresentado, não pode ser rigidamente aplicado. Um determinado papel desempenhado por um membro não
pode ser julgado em termos absolutos, pois a interação não se faz no vácuo. Um papel facilitará ou inibirá as
atividades e o desenvolvimento do grupo, sendo, portanto, construtivo ou não-construtivo, a depender das
necessidades do grupo e de seus membros naquela ocasião específica.
Assim, por exemplo, embora na classificação os esforços para harmonizar e realizar divergências entre
membros figurem como tipicamente facilitadores ou construtivos, haverá ocasiões na vida do grupo em que a
descoberta e a eclosão dos conflitos latentes, para posterior tentativa e possibilidade de resolução dos
membros, sejam altamente desejáveis. Os comportamentos de conciliação seriam inibidores do
desenvolvimento de grupo e, por conseguinte, papéis não-construtivos nessa circunstância.
A competência interpessoal dos membros do grupo é desenvolvida à medida em que eles se conscientizam da
variedade de papéis exigidos para o desempenho global do grupo e se sensibilizam para o que é mais
apropriado às necessidades existenciais do grupo e de seus membros num determinado momento da vida do
grupo.

Atividades recomendadas:

1. Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as origens históricas e aspectos
relevantes dos estudos de Bales.
2. Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

R. Bales (1950) em seu clássico estudo sobre o processo de interação discerniu 12 categorias que representam
funções de participação num grupo de trabalho, cujo objetivo principal consiste na resolução de problemas.
Estas categorias distribuem-se em duas áreas de ocorrência:

A. Tarefa e sócio emocional.


B. Concordância e discordância
C. Reações positivas e negativas
D. Orientação e avaliação
E. Controle e integração

Se você compreendeu adequadamente a proposta teórica apresentada por Bales, assinalou a alternativa a. As
demais alternativas não correspondem as duas categorias de ocorrência e sim a problemas, categorias ou
subcategorias de comportamentos.

Módulo 5: CONTRIBUIÇÕES CONTEMPORÂNEAS NO CONTEXTO GRUPAL


Leitura Obrigatória:
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
Leitura para Aprofundamento:
MINICUCCI, A. Técnicas do trabalho de grupo. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.
Neste momento vamos identificar alguns dos aportes atuais que têm subsidiado as práticas grupais.
Correntes contemporâneas em dinâmica de grupos e os diversos contextos de ação do psicólogo junto às
relações grupais.

Dentre as várias abordagens de dinâmica de grupo desenvolvidas nestes últimos anos, destacam-se as
contribuições de Deleuse e Guattari (apud Minicucci, 2012) que postulam a existência de um inconsciente
produtivo, e não restitutivo ou expressivo como tem sido compreendido nas dinâmicas de grupo até então.
Eles propõem pensar o grupo não exclusivamente como uma máquina verbal mas como certa subjetividade de
fluxo, trocando o intercâmbio predominantemente verbal pelo de intensidades, o que permite construir um
mapa cognitivo de cada grupo. Também se introduziu o conceito de transversalidade, na qual o grupo é
considerado não só uma unidade de análise, mas também uma unidade para análise. O conceito de
transversalidade busca alcançar uma comunicação máxima entre os diferentes níveis do grupo, da organização
e da instituição.
Os modernos teóricos propõem discutir o conceito de transversalidade, em substituição ou ampliação dos
conceitos de verticalidade (ligado à história de vida pessoal do indivíduo) ou horizontalidade (processo atual
que ocorre aqui e agora com a totalidade dos membros do grupo). A transversalidade busca sair de uma visão
restrita do pequeno grupo, sem procurar explicações no interior do mesmo, mas sim em suas múltiplas
determinações (sócio-econômico-ideológico-político-sexuais) permitindo maior amplitude em sua
compreensão.
Lapassade (apud Minicucci, 2012) propõe a mudança do termo dinâmica de grupo por dialética de grupo, em
função do continuo movimento do grupo em se construir, se destruir e se reconstruir novamente. Assim, ele
chamou de Análise Institucional o método que visa revelar nos grupos a dimensão oculta, não analisada (o
inconsciente do grupo), e portanto, determinante no seu funcionamento. O objetivo da análise institucional ou
socioanálise é a análise da transversalidade do grupo e a elucidação da transferência institucional. Diversas
pesquisas na área da Sociologia, Psicologia, Pedagogia, e em especial da Psicologia Social, surgiram a partir do
movimento de Análise Institucional.
Chega-se à conclusão que a Dinâmica ou Dialética dos grupos visa alguns objetivos, tais como: o estudo
teórico-técnico-metodológico de doutrinas ideologias e práticas do trabalho grupal; utilização de práticas
sociais de prestação de serviços; emprego da denominação dos termos por usuários e agentes praticantes da
técnica; a prática em instituições produtoras, reprodutoras ou reguladoras, organizadas, em estabelecimentos
(hospitais, escolas, empresas, dentre outras); movimentos politizados e ideológicos que exercem poder e
divulgam crenças (sindicatos ou partidos políticos, por exemplo).
Minicucci (2012) cita que Gregório Baremblitt possui um dos estudos mais completos sobre o movimento
contemporâneo da dinâmica de grupo, pois analisa a dinâmica originária do campo de vida social, dispondo de
três áreas principais de geração e ação: a medicina (com finalidades psicoprofiláticas e psicoterapêuticas), a
pedagogia (procedimentos grupais de ensino) e a sociologia (psicossociologia dos pequenos grupos na
indústria e no comércio, na comunidade, por exemplo).
A grande variedade de técnicas grupais tem abrangido os grupos terapêuticos, de diagnóstico, de trabalho, de
mães, de sensibilização, dentre outros, conforme sua aplicação. De acordo com sua teoria, tem se distribuído
em psicodrama, psicanalítico, gestáltico, operativos, dentre outros. Na aplicação clínica, tem sido distribuídos
em adultos, adolescentes, crianças, casais, família, dentre outras modalidades.
Minicucci (2012) cita algumas correntes teórico-metodológicas em atuação com grupos, particularmente as
surgidas em:
• EUA (Psicofisiologia no trabalho e depois psicossociologia do trabalho iniciada por Elton Mayo, que
originou a psissociologia das organizações que, após diversificações e inclusão dos pequenos grupos,
incorporam a teoria de campo de Lewin, a teoria das comunicações e desemboca na aplicação atual da Teoria
dos Sistemas, chamado Desenvolvimento Organizacional);
• Inglaterra (psicologia Kleiniana e diversas concepções sociológicas anglo-saxãs e Elliot Jacques especifica a
Psicologia Institucional, considerando as instituições como sistemas de defesa contra ansiedades
inconscientes);
• Argentina (Pichon-Reviere e seus discípulos como Bleger e Baremblit, em uma perspectiva freudo-marxista
e materialismo histórico, difundem suas ideias na américa latina, especialmente no Uruguai e Brasil, vinculadas
a um enfoque grupalista);
• França (corrente institucionalista em psiquiatria, pedagogia e empresa, representada por Vasquez,
Lapassade, Pagés, Guattari, dentre outros).

Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as correntes contemporâneas que influenciam
a atuação com grupos.
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Lapassade propõe um método que visa revelar nos grupos a dimensão oculta, não analisada (o inconsciente do
grupo), e portanto, determinante no seu funcionamento, cujo objetivo é a análise da transversalidade do
grupo. Este método é denominado:
a) Inconsciente coletivo
b) Psicologia Institucional
c) Dinâmica de grupo
d) Análise Institucional
e) Horizontalidade do grupo
Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa a abordagem de Lapassade, assinalou a
alternativa d. Lapassade propõe a mudança do termo dinâmica de grupo por dialética de grupo, em função do
continuo movimento do grupo em se construir, se destruir e se reconstruir novamente, bem como chamou de
Análise Institucional o método que visa revelar nos grupos a dimensão oculta. As demais alternativas
correspondem a outros termos utilizados por outros autores.

O Ciclo de Aprendizagem Vivencial.


Uma dos métodos utilizados para processos grupais consiste no modelo desenvolvido por David Kolb (1984) - o
Ciclo de Aprendizagem Vivencial (CAV). Este modelo correspondente a uma metodologia que possibilita a
reflexão sobre a atividade na busca de um aprendizado efetivo que resulte em mudança de comportamento.
Para Kolb (1984), desenvolvimento psicológico e aprendizagem se influenciam mutuamente: o
desenvolvimento possibilita novas aprendizagens, as novas aprendizagens impulsionam o desenvolvimento.
Esse processo recursivo ocorre nas dimensões: Afetiva (vivências afetivas, que modificam e enriquecem os
sentimentos); Perceptual (observações reflexivas, que acentuam as percepções); Simbólica (conceituações
abstratas que estimulam as ideias) e Comportamental (experimentações ativas que resultam em atos
gradativamente complexos).
Existem cinco etapas básicas do CAV, como podemos visualizar na Figura 3: Vivência, Relato, Processamento,
Generalização e Aplicação.
A Vivência é a experimentação, uma atividade lúdica e motivacional. O participante é estimulado e desafiado,
é o momento que expressa seus conhecimentos, habilidades e sentimentos. A atividade é em grupo, mas cada
participante colabora com suas iniciativas. Por vivência podemos caracterizar a atividade inicial, o jogo em si
mesmo, ou seja, ao fazer, realizar, construir. Após a vivência de um jogo ou simulação, o facilitador passa à
fase do Relato. Nesse momento ele oferece espaços ao grupo para compartilhar sentimentos, reações e
emoções. Após a vivência de um jogo ou simulação, o facilitador passa à fase do Relato. Nesse momento ele
oferece espaços ao grupo para compartilhar sentimentos, reações e emoções. O Processamento é a etapa da
reflexão e observação, uma das fases mais importantes do ciclo da aprendizagem vivencial, por ser o momento
em que os participantes têm a oportunidade de analisar o ocorrido durante o jogo, avaliando sua situação e
estabelecendo relações com o resultado obtido. Nesse momento são discutidos os padrões de desempenho e
o nível de interação entre os jogadores, analisando as atuações com relação aos resultados obtidos, pontos
positivos e negativos. O facilitador propõe alguns questionamentos aos participantes estimulando a percepção
das reações e sentimentos manifestados durante a experimentação. A Generalização é a etapa do ciclo em
que o facilitador estimula o grupo a pensar nas correlações com o cotidiano, em que o grupo faz comparações
e analogias do jogo com a vida real, o concreto. Neste momento é importante que os participantes percebam
que não é simplesmente uma brincadeira e que os aspectos lúdicos da atividade fazem parte deste processo
de aprendizagem vivencial. Aplicação é o momento de questionar o que se aprendeu e como refazer suas
ações mais alinhadas ao aprendizado obtido. Para fechar o ciclo é necessário preparar atividades que
estimulem a aplicação do que foi vivenciado e discutido (facilidades ou dificuldades), momento em que o
grupo parte para o planejamento de novos rumos.
Neste processo é muito importante o papel do facilitador que deve criar condições para uma aprendizagem
ativa, participativa e transformadora.
Figura 3: Ciclo de Aprendizagem Vivencial
Quando as pessoas vivenciam um jogo em todas as fases, além de maiores chances de alcançar a
aprendizagem, têm a oportunidade de trabalhar com os dois hemisférios cerebrais de forma harmônica, sem
que haja predominância de um deles durante todo o tempo. O objetivo consiste em que essas dimensões se
tornem cada vez mais integradas no ser humano. No entanto, muitas vezes, ao longo de seu processo de
desenvolvimento, as pessoas podem enfatizar uma dimensão mais do que outra, tendendo preferencialmente
a realizar atividades práticas e fazer coisas concretas, observar e refletir a partir dessas observações, teorizar e
generalizar, aplicar conceitos e teorias para resolver problemas, ou mesmo perceber, sentir e/ou imaginar
situações sob diferentes pontos de vista.
Dessas tendências derivam quatro estilos de aprendizagem, que Kolb (1984) denominou de: acomodativos,
assimilativos, convergentes e divergentes (Figura 4).
Acomodativos: têm capacidade de aprender basicamente a partir da experiência prática, pois gostam de
colocar os planos em ação, de se envolver em experiências novas e desafiantes. Tendem a agir de acordo com
a intuição em detrimento da análise lógica. Na resolução de problemas, podem confiar mais nas pessoas para
obter informações do que propriamente na sua análise técnica. Em situações de aprendizagem formal,
preferem trabalhar com outras pessoas para que elas realizem os projetos, definam os objetivos, façam o
trabalho de campo e testem diferentes abordagens para a conclusão do projeto.
Assimilativos: têm mais facilidade em compreender uma variedade de informações e organizá-las de uma
forma concisa e lógica. Centram-se menos nas pessoas e interessam-se mais por ideias e conceitos abstratos.
Em geral, consideram mais importante que a teoria tenha sentido lógico do que valor prático. Em situações de
aprendizagem formal, podem preferir palestras, leituras, exploração de modelos analíticos e tempo sozinho
para refletir sobre vários aspectos tratados.

Convergentes: têm grande facilidade em encontrar finalidades práticas para ideias e teorias. Apreciam
resolver problemas e tomar decisões com base na descoberta de soluções para as questões ou desafios.
Preferem tratar de tarefas e assuntos técnicos a lidar com questões sociais e interpessoais. Nas situações de
aprendizagem formal, gostam de experimentar novas ideias, simulações, tarefas laboratoriais e aplicações
práticas.
Divergentes: têm mais facilidade em observar situações concretas a partir de diferentes pontos de vista. Sua
abordagem às situações é mais no sentido da observação que da intervenção. Preferem situações que exigem
a produção de grande variedade de ideias e de interesses culturais e gostam de recolher informações (por
exemplo, como nas sessões de brainstorming). Em situações de aprendizagem formal, preferem trabalhar em
grupo para recolher informações, ouvir com espírito aberto e receber feedback personalizado.

Segundo Kolb (1994), algumas pessoas podem apresentar preferências equilibradas entre os quatro estilos,
enquanto em outras, apenas um estilo pode ser bastante predominante. Considera-se que todos nós temos
todas as dimensões desenvolvidas até determinado ponto. A proposta de Kolb é sabermos identificar os estilos
predominantes e planejarmos experiências de aprendizagem que deem oportunidade das pessoas
desenvolverem todos os estilos. Assim, precisamos diagnosticar os estilos predominantes de cada aluno, criar
dinâmicas de aprendizagem com base nesse diagnóstico e, também, aprimorar estilos pouco usados. Dessa
forma, propõe um ciclo de aprendizagem experiencial em que haja uma mobilização de todos os estilos, tendo
em vista o seu desenvolvimento. Essas dimensões se combinam em quadrantes que correspondem aos estilos
listados anteriormente.
O ciclo de aprendizagem experiencial apresentado na figura 4 gira em torno de dois eixos: o primeiro, que vai
do concreto ao abstrato, refere-se à forma de preensão (agarrar ou apossar-se) do mundo pelos indivíduos -
via representação simbólica (compreensão) ou via sentido das experiências tangíveis imediatas (apreensão); o
segundo, que vai da observação à experimentação, refere-se à forma de manipular ou transformar o mundo,
seja internamente pela reflexão (intenção), seja externamente (extensão) (KOLB, 1984).

Figura 4: Ciclo da Aprendizagem Experiencial, adaptado de Kolb,1984, p. 42

Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando os aspectos que influenciam na atuação com
grupos referente ao Ciclo de Aprendizagem Vivencial – CAV.
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
No que se refere ao CAV (Ciclo da Aprendizagem Vivencial) marque a alternativa que melhor representa esse
momento: “consiste na experimentação, uma atividade lúdica e motivacional. O participante é estimulado e
desafiado, é o momento que expressa seus conhecimentos, habilidades e sentimentos. A atividade é em
grupo, mas cada participante colabora com suas iniciativas e a podemos caracterizar a atividade inicial, o jogo
em si mesmo”. Este momento corresponde a:
a) Aplicação;
b) Generalização;
c) Vivência;
d) Relato;
e) Processamento.
Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa a abordagem de Kolb referente ao CAV, assinalou a
alternativa c. pois corresponde ao momento em que ocorre a atividade em si mesma.

Módulo 6: A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM CONTEXTOS GRUPAIS


Leitura Obrigatória:
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
Leitura para Aprofundamento:
MINICUCCI, A. Técnicas do trabalho de grupo. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.
PICHON-RIVIÈRE, E. O processo grupal. São Paulo: Martins Fontes, 1994.
Neste momento vamos identificar uma das correntes atuais que tem subsidiado as práticas grupais: os grupos
operativos de Pichon-Rivière.

Os grupos operativos
A técnica dos grupos operativos começou a ser sistematizada por Enrique Pichon-Rivière, a partir de uma
experiência no hospital de Las Mercedes, em Buenos Aires, por ocasião de uma greve de enfermeiras. Esta
greve inviabilizaria o atendimento aos pacientes portadores de doenças mentais no que diz respeito à
medicação e aos cuidados de uma maneira geral. Diante da falta do pessoal de enfermagem, Pichon-Rivière
propõe, para os pacientes “menos comprometidos”, uma assistência para com os “mais comprometidos” e a
experiência foi muito produtiva para ambos os pacientes, os cuidadores e os cuidados, por ter havido maior
identificação entre eles e pôde-se estabelecer uma parceria de trabalho, uma troca de posições e lugares,
trazendo melhor integração. Pichon-Rivière começou a trabalhar com grupos na medida em que observava a
influência do grupo familiar em seus pacientes. Sua prática psiquiátrica esteve subsidiada principalmente pela
psicanálise e pela psicologia social, sendo ele o fundador tanto da Escola Psicanalítica Argentina (1940) como
do Instituto Argentino de Estudos Sociais (1953).
Para Pichon-Rivière, o objeto de formação do profissional deve instrumentar o sujeito para uma prática de
transformação de si, dos outros e do contexto em que estão inseridos, defendendo a ideia de que
aprendizagem é sinônimo de mudança, na medida em que deve haver uma relação dialética entre sujeito e
objeto e não uma visão unilateral, estereotipada e cristalizada. A aprendizagem centrada nos processos
grupais coloca em evidência a possibilidade de uma nova elaboração de conhecimento, de integração e de
questionamentos acerca de si e dos outros. A aprendizagem é um processo contínuo em que comunicação e
interação são indissociáveis, na medida em que aprendemos a partir da relação com os outros.
A técnica de grupo operativo consiste em um trabalho com grupos, cujo objetivo é promover um processo de
aprendizagem para os sujeitos envolvidos, através de uma leitura crítica da realidade, uma atitude
investigadora, uma abertura para as dúvidas e para as novas inquietações. Neste conceito, a constituição do
sujeito é marcada por uma contradição interna: ele precisa, para satisfazer as suas necessidades, entrar em
contato com o outro, vincular-se a ele e interagir com o mundo externo. Deste sistema de relações vinculares
emerge o sujeito, sujeito predominantemente social, inserido numa cultura, numa trama complexa, por meio
da qual internalizará vínculos e relações sociais que vão constituir seu psiquismo.
Para Pichon-Rivière (1988), a teoria do vínculo tem um caráter social na medida em que compreende que
sempre há figuras internalizadas presentes na relação, quando duas pessoas se relacionam, ou seja, uma
estrutura triangular. O vínculo é bi-corporal e tripessoal, isto é, em todo vínculo há uma presença sensorial
corpórea dos dois, mas há um personagem que está interferindo sempre em toda relação humana, que é o
terceiro. Neste sentido, vínculo é uma estrutura psíquica complexa. O circuito vincular tem direção e sentido,
tendo um porquê e um para quê. Quando somos internalizados pelo outro e internalizamos o outro dentro de
nós, podemos identificar o estabelecimento do vínculo de mútua representação interna. Considera-se que
este vínculo consiste em uma estrutura complexa de relação que vai sendo internalizada e que possibilita ao
sujeito construir uma forma de interpretar a realidade própria. Na vivência com os outros nós nos
constituímos por meio de uma história vincular que vai se tecendo nessa relação. Assim, o grupo operativo é
considerado como uma estrutura operativa que possibilita aos integrantes meios para que eles entendam
como se relacionam com os outros (GAYOTTO, 1992).
A técnica do grupo operativo pressupõe a tarefa explícita (aprendizagem, diagnóstico ou tratamento), a tarefa
implícita (o modo como cada integrante vivencia o grupo) e o enquadre que são os elementos fixos (o tempo,
a duração, a frequência, a função do coordenador e do observador). Para Pichon-Rivière (1998), o processo
grupal se caracteriza por uma dialética na medida em que é permeado por contradições, sendo que sua tarefa
principal é justamente analisar essas contradições. O autor utiliza uma representação para mostrar o
movimento de estruturação, desestruturação e reestruturação de um grupo, que é o cone invertido, um
instrumento que visualiza uma representação gráfica em que estão incluídos seis vetores de análise
articulados entre si, que possibilitam verificar os efeitos da mudança.
Entendido como teoria e técnica que se presta à formação de equipes (grupos), o grupo operativo de Enrique
Pichon-Rivière procurava responder a algumas questões: o que é preciso para trabalhar em grupo? Como
contribuir para a elaboração de uma tarefa em grupo?
Para tentar respondê-las, o psicanalista franco-argentino propôs a prática dos grupos operativos, instituída
inicialmente para seu trabalho como professor e educador.
A partir das considerações de Kurt Lewin sobre grupos e da psicanálise de Melanie Klein, o interesse de
Pichon-Rivière era promover dinâmicas que levassem em conta as condições sócio históricas, isto é, o contexto
social e político no qual aquele grupo se realizava, assim como seu contexto institucional.
A partir de uma definição mínima do que é um grupo social, isto é, um conjunto de pessoas com um objetivo
comum que procura trabalhar em equipe (BLEGER, 2007), o grupo operativo pode ser assim compreendido
como um treinamento para trabalhar como equipe.
Na formação de todo grupo, passa-se continuamente da serialidade ao grupo. Para dar conta disso, o grupo
deve lidar, em meio à presença de subjetividades e intersubjetividades, assim como dos afetos que as
atravessam, com as diferentes histórias, experiências e objetivos presentes entre os seus componentes, com
os problemas e conflitos provenientes das relações grupais e com os recursos que o grupo possui, ou virá a
construir, para esses enfrentamentos. Nos termos de Pichon-Rivière, o grupo vai ser tomado como o lugar
para uma teoria da ação, compreendido num processo em que se trabalha o grupo para o grupo poder
trabalhar.
Uma ideia importante para a compreensão do trabalho grupal é o Esquema Conceitual, Referencial e
Operativo (ECRO) grupal. Os participantes do grupo trazem para o encontro um esquema, uma série de
saberes, de conhecimentos e entendimentos do mundo que, no grupo, irão se atualizar, confrontando os
esquemas uns dos outros. Na prática do grupo, acompanhada por um coordenador, coloca-se no horizonte a
possibilidade de construir um esquema comum, o ECRO grupal, que, sem suprimir as diferenças, encontra
espaço para a expressão desses conflitos. Em meio à heterogeneidade dos grupos, trata-se de conduzir nesse
encontro à homogeneidade da tarefa.
Outro aspecto importante nas relações construídas no grupo operativo é a subversão dos papéis
estereotipados e das relações entre esses papéis, como o professor-aluno, profissional-cliente, autoridade-
sujeito. A “aprendizagem” do grupo deve ser compreendida como um processo contínuo e com oscilações –
momentos de ensinar e de aprender. Nesse sentido, em vez do uso das expressões “ensino” e
“aprendizagem”, vai se construir um neologismo, isto é, inventar uma palavra que contemple uma relação
horizontal entre esses dois polos sem suprimir diferentes funções; a palavra “ensinagem” irá apontar essa
novidade.
As funções exercidas num grupo, de acordo com Pichon-Rivière, contam das maneiras de, no grupo, lidar com
os temores envolvidos na sua instituição e manutenção. Essas funções, que não são fixas e podem circular no
grupo, entre os participantes e de um encontro para outro, têm diferentes formulações, mas podem ser
resumidas nas seguintes: porta-voz, bode expiatório, líder, líder da resistência, detentor do silêncio. Dentro do
grupo, os participantes eventualmente ocupam esses lugares durante o embate para a elaboração das
ansiedades básicas que acompanham a instituição do grupo e seu direcionamento para um projeto comum: a
ansiedade paranoide e a ansiedade depressiva. Apoiadas na teoria psicanalítica de Melanie Klein, a primeira
conta do temor de, no contato com o grupo, o indivíduo ver-se alvo de ataques destrutivos. Já na segunda, a
ansiedade depressiva, o temor está associado ao desaparecimento do sujeito dentro do grupo, que passaria a
ser a unidade de entendimento e de ação daqueles indivíduos.
Em relação ao caminho que deve ser percorrido na construção de um projeto comum, este pode ser descrito
como possuindo três momentos: a pré-tarefa, a tarefa e o projeto. A pré-tarefa é a situação que paralisa o
prosseguimento do grupo, apoiada em defesas que estruturam a resistência à mudança (protelar, gastar o
tempo, movimentos que aparentam a ação, mas que na verdade não o são). Já o momento da tarefa consiste
na abordagem e elaboração das ansiedades do grupo (perda da estrutura e ataque à nova situação
estruturada) e emergência da posição depressiva básica (consciência dos próprios limites), o que possibilitaria
estruturar a tarefa possível no tempo e no espaço. Nesse sentido, o grupo percebe os elementos em jogo e
pode instrumentalizá-los. Finalmente, o projeto constitui-se de estratégias e táticas para produzir mudanças
que modificam o(s) sujeito(s) que voltam a produzir mudanças, e assim sucessivamente.
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando as origens históricas dos estudos de Pichón-
Revière sobre grupos e a relevância do escopo teórico desenvolvido por ele.
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
“Todo conjunto de pessoas, ligadas entre si por constantes de tempo e de espaço e articuladas por sua mútua
representação interna, se coloca explícita ou implicitamente na tarefa que constitui sua finalidade”.
Essa síntese constitui um pensamento do autor:
a) Levy Moreno
b) Félix Guattari
c) Pichon-Rivière
d) Jean Piaget
e) Gregorio Baremblit

Se você compreendeu adequadamente a proposta teórica apresentada por Kurt Lewin, assinalou a
alternativa c. As demais alternativas não correspondem a definição de grupo apresentada no enunciado. A
definição faz menção a tarefa enquanto finalidade do grupo, fator explicitamente ressaltado por Pichón-
Revière.

Módulo 7: A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM CONTEXTOS GRUPAIS


Leitura Obrigatória:
AFONSO, M. L. M. Oficinas em Dinâmica de Grupo: um método de intervenção psicossocial. São Paulo: Casa do
Psicólogo, 2006.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
Leitura para Aprofundamento:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
MINICUCCI, A. Técnicas do trabalho de grupo. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.
Neste momento vamos identificar uma das correntes atuais que tem subsidiado as práticas grupais,
denominada Oficina de dinâmica de grupo.
Oficina de Dinâmica de Grupo
Uma técnica utilizada na ação junto a grupos sociais é a Oficina de Dinâmica de Grupo (AFONSO, 2006). Esta
prática pode ser utilizada com diferentes sujeitos: crianças e adolescentes; adultos; idosos. E em diferentes
contextos: saúde; trabalho; educação; assistência social.
Desde Lewin (MAILHIOT, 2013), o trabalho em grupo é compreendido como decisivo para o enfrentamento de
problemas e a construção de soluções. Paradoxalmente, numa sociedade marcada pelo individualismo
exacerbado, o trabalho em grupo é quase sempre confundido com uma atividade na qual é preciso
estabelecer, logo de início, mandantes e mandados.
Assim, o trabalho em grupo, construído como ação solidária e compartilhada nas responsabilidades e
sucessos, fica colocado em segundo plano.
A Oficina de Dinâmica de Grupo é oportunidade de “aprender” a trabalhar em grupo. E trabalhar significa
enfrentar medos, estereótipos e fantasias. E ainda reconhecer o outro como um colaborador e associado e
não como inimigo numa disputa.
O objetivo de uma Oficina é construir um espaço de encontro e compartilhamento. Além disso, a Oficina pode
promover a aproximação entre os indivíduos, de maneira a se perceberem como sujeitos em seus contextos
de atuação. Isto possibilita desenvolver a habilidade de confrontar as condições grupais e preparar-se para
novos e diferentes encontros grupais.
A Oficina pode ser construída como um jogo no qual, de acordo com os interesses postos para aquele trabalho
vai se construir a possibilidade do encontro e da parceria. Dadas as condições concretas da Oficina, uma
sugestão é instituir um processo no qual se verifiquem três momentos diferentes:
• aquecimento: a realização de uma atividade que aproxime os participantes; pode ser sem tema específico;
• dinâmica: o jogo propriamente dito, no qual os participantes são convidados a, em grupo, desenvolver
uma tarefa, solucionar um problema, construir algo comum;
• elaboração: é o momento de discussão e de compartilhamento.
Um aspecto que deve ser reconhecido como resultado da condução de uma Oficina de Dinâmica de Grupo, é
que lá acontece a aprendizagem de todos, profissional e participantes. Isto é, na Oficina, os profissionais
também são convidados, assim como os participantes, a descobrir possibilidades que antes não estavam
presentes. Desta forma, apesar da diferença entre estas posições (profissional e participantes), no que diz
respeito ao aprendizado presente na Oficina, todos ensinam e todos aprendem.
Vale ressaltar que diferentes concepções surgiram, ao longo do desenvolvimento de práticas como esta, da
teorização e do ensino da dinâmica de grupo, direcionando a atuação do profissional que trabalha neste
campo, de acordo com a crença em uma concepção. Porém qualquer técnica só terá êxito nas mãos daquele
que a utilizam com responsabilidade, ética e espontaneidade
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando os aspectos que influenciam a dinâmica de
grupo.
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:

Alguns aspectos devem ser identificados para uma condução aceitável de uma Oficina de Dinâmica de Grupo.
Indique a alternativa INCORRETA quanto aos resultados pretendidos em uma Oficina de dinâmica de grupo:
a) neste processo acontece a aprendizagem de todos, profissional e participantes.
b) os profissionais também são convidados, assim como os participantes, a descobrir possibilidades que antes
não estavam presentes
c) apesar da diferença entre estas posições (profissional e participantes), no que diz respeito ao aprendizado
presente na Oficina, todos ensinam e todos aprendem.
d) diferentes concepções surgiram da teorização e do ensino da dinâmica de grupo, direcionando a atuação do
profissional que trabalha neste campo, de acordo com a crença em uma concepção
e) qualquer técnica só terá êxito com o desenvolvimento de práticas a partir de um referencial teórico
específico, independente da responsabilidade ou ética presente nas mãos de quem a utiliza.
Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa a etapas de desenvolvimento de um grupo,
assinalou a alternativa e. As demais alternativas correspondem as preocupações e resultados obtidos na
condução das oficinas de dinâmica de grupo. No entanto, a alternativa (e) não corresponde a uma das
preocupações pois é imprescindível a responsabilidade, ética e espontaneidade de quem aplica e conduz uma
oficina de dinâmica de grupo.

Módulo 8: A ATUAÇÃO DO PSICÓLOGO EM CONTEXTOS GRUPAIS


Leitura Obrigatória:
BARRETO, M. F. M. Dinâmica de grupo: história, práticas e vivências. Campinas: Alínea, 2006.
MINICUCCI, A. Dinâmica de Grupo, Teorias e Sistemas. São Paulo: Atlas, 2007.
Leitura para Aprofundamento:
MINICUCCI, A. Técnicas do trabalho de grupo. 3ª ed. São Paulo: Atlas, 2001.
Neste momento vamos identificar uma das formas de atuação do psicólogo que tem subsidiado as práticas
grupais: a intervenção e o acompanhamento psicossocial.
Intervenção e Acompanhamento Psicossocial
O enfrentamento de questões típicas dos indivíduos envolvidos em grupos e instituições sociais tem sido alvo
constante da Psicologia, encampando áreas como o trabalho, a educação, a saúde e a assistência social. Tais
áreas têm se valido dos conhecimentos vindos de uma psicologia atenta aos fenômenos grupais e
institucionais e que, numa de suas vertentes, reconhece os determinantes sociais, políticos e éticos dessas
esferas, assim como o envolvimento e o compromisso dos profissionais com tais questões como suportes
necessários para o enfrentamento. As famílias e as comunidades estão entre esses grupos. Para as vertentes
críticas da psicologia dos grupos, estão no centro do embate as relações entre os atores presentes em tais
cenas e as dimensões simbólicas e imaginárias que as demarcam, acessíveis pelo discurso, pelo
comportamento e pelos afetos envolvidos numa situação grupal (LANE; SAWAIA, 1994).
Experiências de ação com grupos sociais, como têm sido descritas na literatura (CAMPOS, 2002), indicam que
as ações que promovem mudanças se dão tanto nos espaços macrossociais, do formato e da organização do
grupo, quanto nos microssociais, da dinâmica dos relacionamentos e afetos nos grupos. Em tais circunstâncias,
os mediadores são colocados com os atores institucionais como sujeitos e protagonistas desse processo.
Assume-se, aqui, que a discussão sobre a neutralidade do mediador tem dois obstáculos. O primeiro vai ser
superado pelo entendimento de que sua ação está fundada em um compromisso crítico em que, respeitada a
alteridade, o reconhecimento da diferença do outro, o mediador, se apresente não apenas como detentor de
conhecimento e técnica, mas também como sujeito da mediação. Na constatação de que a ação implica uma
relação intersubjetiva que derruba a separação necessária entre sujeito e objeto (MINAYO, 2010) recai a
primeira crítica à neutralidade.
O segundo obstáculo, mais delicado, diz respeito à outra neutralidade, aquela que coloca o mediador fora da
cena como figura inerte cuja presença, como já foi dito, é mera função. As práticas psicológicas têm, a duras
penas, sustentado a separação da corporeidade do profissional/mediador, que garantiria a efetividade de sua
ação. No entanto, na experiência concreta do trabalho com grupos, essa separação é dificilmente efetivada.
Como atuar num campo de maneira inerte quando se ocupa também a posição de “jogador”? Como isolar no
papel de “conselheiro”, “assessor” ou “consultor” uma ação que não é apenas técnica, mas também ética e
política, na qual o mediador também é protagonista? Dessa forma, na instalação de relações que, guardadas
as diferenças de saberes e posições, suportem a construção de projetos comuns é que decai essa neutralidade.
O mediador não é aquele que oferece conhecimento e disposição para o trabalho, mas o que faz do projeto do
grupo – ou da comunidade – também seu próprio projeto de mudanças para um grupo do qual ele também faz
parte.
A literatura sobre as ações com grupos sociais preconiza diferentes momentos (BAREMBLITT, 1986). O
primeiro deles diz respeito à caracterização, o que vai acontecer, de fato, durante todo o processo da
intervenção. Consiste em localizar quais são seus membros e os lugares por eles ocupados, o mapeamento das
posições relativas empregadas pelos atores institucionais, a localização das forças de coesão e afastamento
envolvidas nesses relacionamentos e a identificação das fantasias associadas a esses lugares.

Tal reconhecimento implica conhecer e analisar a própria história do grupo como parte daquilo que determina
sua dinâmica de lugares e afetos. Isso deve levar também a uma análise crítica das demandas do grupo, em
função não apenas das especificidades locais, mas também em vista das condições sociais, econômicas e
políticas nas quais ele se encontra (o que pode apontar instâncias como globalização ou políticas públicas).
A ação do profissional/mediador vai ser localizada quanto à sua dimensão política, situando-o como
responsável, também, pelo combate à discriminação e à exclusão social, instrumentalizando-o para colocar à
vista os discursos de grupos marginalizados e fora do “jogo” social. Nesse sentido, “transformação e mudança”
significam que ele irá realizar intervenções que levem à instrumentalização do grupo para que ele próprio
trate de sua dimensão imaginária, o que significa intervenções que produzam nele os meios ou as condições
necessárias para que este possa alcançar sua “consciência de grupo”, isto é, a posição de grupo-sujeito
(GUATTARI, 2005), recuperando ou instituindo sua cidadania.
Essas ações não visam às coletividades como unidades totais, mas concebem que o coletivo e o social estão
indissociavelmente ligados. Assim, o reconhecimento dessa perspectiva faz com que as ações possam ser
nomeadas como “psicossociais”. No Brasil, ações psicossociais têm alcançado as famílias e comunidades e são
conduzidas como instrumentos para a realização e disseminação de diversas políticas públicas, especialmente
nos campos da saúde e da assistência social.
De acordo com Neiva (2010), as intervenções psicossociais como práticas de transformação e de pesquisa têm
uma presença recente no âmbito da psicologia, embora a preocupação com o bem-estar de indivíduos e
grupos tenha estado sempre no horizonte dos interesses dos psicólogos. Segundo a autora, esse seria um
campo recente de ação profissional, surgindo da interface das práticas clínicas com a psicologia social. Se na
perspectiva clínica a psicanálise destaca-se como referencial teórico para essas ações, do lado da psicologia
social dos grupos, vários dos autores que têm sido referidos neste livro-texto são reconhecidos como
estudiosos que trouxeram contribuições importantes para a caracterização das práticas psicossociais: Kurt
Lewin e sua dinâmica de grupo; Moreno, fundador da sociometria e do psicodrama; além de Bion e de Pichon-
Rivière, autores decisivos na elaboração de conhecimento sobre os processos grupais e sobre as formas de
atuação e desenvolvimento dos grupos.
Na perspectiva de Sarriera (2004), a intervenção psicossocial pode ser compreendida como uma ação que se
dirige à realidade de outro, produzindo interferência e modificação, buscando melhores condições humanas e
qualidade de vida. Para Neiva (2010, p. 16), “Considera-se, portanto, que a intervenção psicossocial tem um
caráter de pesquisa-ação que visa facilitar o bem-estar psicossocial de indivíduos, grupos, instituições,
organizações e/ou comunidades”.
As características básicas das intervenções psicossociais são: seu caráter científico, unindo pesquisa à ação;
preocupação em gerar mudança e desenvolvimento; foco em grupos, instituições e comunidades; ação sobre
os problemas atuais da sociedade e necessidades psicossociais de grupos, instituições e/ou comunidades;
intervenção focada; caráter predominantemente preventivo; levar em conta o contexto social e cultural; e
incluir a diversidade do grupo, instituição e/ou comunidade (NEIVA, 2010).
É importante fazer a distinção entre processos psicossociais e ações psicossociais. Esse constructo, o processo
psicossocial, tem sido utilizado na literatura psicológica nem sempre com a devida acuidade, muitas vezes
indicando um campo impreciso entre o individual e o social, ou apenas referindo certa prática (“intervenção
psicossocial”). Segundo Montero (2011), os processos psicossociais propriamente comunitários são a
habituação, a familiarização, a problematização (Paulo Freire), a desideologização, a naturalização e a
desnaturalização, a conscientização e a conversão. Alguns desses processos, como a habituação, a
naturalização e a ideologização, configuram estruturas estáveis de comportamento, alienadas do pensamento
crítico, e assim contribuem para manter o status quo. Outros processos, como a problematização, a
desnaturalização, a desideologização e a conscientização, oferecem recursos para a superação e assim a
transformação comunitária.
A preocupação com os grupos sociais face a face, como numa família, vai constituir o primeiro objeto daqueles
interessados em tratar da dinâmica dos (pequenos) grupos no caminho da mudança e do combate à exclusão.
No caso da família, ela é reconhecida como o lugar por excelência dos encontros afetivos e dos seus
desdobramentos simbólicos e imaginários, sendo determinante na constituição e na socialização dos sujeitos
(BERGER; LUCKMAN, 2006).
As ações com as famílias, como nos casos da saúde (Estratégia Saúde da Família) e da Assistência Social
(Programa de Assistência Integral à Família – PAIF), como políticas públicas, aproveitam-se dessa circunstância
para construir uma porta de entrada aos serviços públicos que se apoiem nas especificidades de estrutura,
relacionamento e cultura de famílias de certo território. Tais singularidades serão decisivas para que se possa
intervir nas relações dos indivíduos com a cultura da saúde (o cuidado com o corpo, o saber sobre o processo
saúde-doença, as modalidades de cura e tratamento) e na busca de bem-estar e no combate à exclusão, à
vulnerabilidade e ao sofrimento social. É nesse cenário que os indivíduos e as comunidades – tendo a família
como lugar de mediação – poderão se associar aos profissionais para a construção de um projeto comum no
qual todos são protagonistas.
Atividades recomendadas:
1) Faça uma leitura criteriosa do texto obrigatório, observando os aspectos que influenciam a intervenção
psicossocial.
.
2) Acompanhe o seguinte exemplo de exercício:
Existem algumas características básicas das intervenções psicossociais, as quais foram identificadas por Neiva
(2010), Á EXCEÇÃO DE:
a) seu caráter científico, unindo pesquisa à ação;
b) preocupação em gerar mudança e desenvolvimento;
c) foco em indivíduos e seus familiares;
d) ação sobre os problemas atuais da sociedade e necessidades psicossociais de grupos, instituições e/ou
comunidades;
e) intervenção focada.
Se você compreendeu adequadamente a proposta relativa a etapas de desenvolvimento de um grupo,
assinalou a alternativa c. As demais alternativas correspondem as características das intervenções
psicossociais identificadas por Neiva (2010). No entanto, a alternativa (c) não corresponde a uma das
preocupações pois é imprescindível o foco em grupos, instituições e comunidades, ao invés de direcionar as
intervenções a situações particularizadas ou individualizadas.

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