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PSICOLOGIA SOCIAL I

PROCESSOS GRUPAIS

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Olá!
Através desta aula você irá:

1. Entender a dinâmica interna dos grupos;

2. Definir grupos sociais, não sociais e outros tipos de grupos;

3. Entender e reconhecer diversos processos e interações grupais;

4. Reconhecer a importância do tipo de grupo e tarefas desempenhadas na facilitação social, vadiagem e

liderança.

1 Introdução
Não podemos negar que somos seres sociais. Nascemos e crescemos dentro de um grupo que é a nossa família

(seja ela natural ou não) e à medida que o tempo passa, entramos e saímos de diferentes grupos nos permitindo

ser o que somos.

Alguns desses grupos se mantêm ao longo de nossas vidas como família e amigos. Outros fazem parte de

momentos específicos do nosso desenvolvimento como nossos amigos da adolescência e os colegas de faculdade.

E, ainda, outros cobram força na nossa fase adulta, como, por exemplo, os companheiros de trabalho e os pais

dos colegas de escola de nossos filhos.

Como já ressaltamos nas aulas anteriores, a verdade é que todos nós precisamos das outras pessoas e dos grupos

para poder ser o que somos e para poder viver nossa vida como seres sociais.

Portanto, os grupos desempenham um importante papel em nossa existência. De tal forma, se faz necessário que

entendamos melhor a natureza, a formação, a evolução, a composição e a estrutura deles.

Na presente aula, explicaremos melhor a dinâmica interna dos grupos e os diversos processos grupais.

Com todas estas informações poderemos entender mais por que as pessoas agem de determinadas maneiras, e

como podemos auxiliá-las a encontrar condições mais favoráveis em contextos específicos para alcançar padrões

de comportamentos que respondam às normas e aos valores predominantes.

Primeiros Estudos

Na Segunda Guerra Mundial, surgiram os primeiros estudos dos grupos na Psicologia Social evidenciados em

experimentos de laboratório, conduzidos por Sherif (1936), Lewin (1939) e Newcomb (1943).

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Seguidamente, Festinger (1950) e pesquisas sobre conflito, liderança, conformidade e outros processos grupais

foram sendo desenvolvidas mostrando o interesse da época pela dinâmica de grupo como Zander (1968)

chamou.

Não entanto, todo este entusiasmo pela dinâmica de grupo foi minguando nas últimas décadas por diversos

motivos. De fato, como Rodrigues, Assmar e Jablonski (2000) assinalam:

“(...) a Psicologia Social norte-americana passou a se especializar, progressivamente, no estudo de fenômenos

intrapsíquicos, interpessoais e microgrupais, inicialmente com a teoria da dissonância cognitiva e, em seguida,

com as teorias sobre a atribuição de causalidade e sobre processamento da informação social, constitutivas da

cognição social, hoje seu paradigma dominante. (...) Nesse sentido, o estudo dos processos de influência social de

minorias, de identidade social e relações intergrupais, bem como de conflito e cooperação entre grupos, continua

sendo foco privilegiado de interesse da Psicologia Social europeia” (Rodrigues, Assmar e Jablonski, 2000, p. 346-

347).

Mas como podemos definir grupo social?

É difícil encontrar um consenso em relação a este termo.

Estudaremos, a seguir, como se dá sua definição.

2 Definição de grupo
Em primeiro lugar, é importante diferenciar o grupo social do grupo não social.

Grupo não social

Com o termo grupo não social estamos nos referindo a um conjunto de pessoas que se encontram em um mesmo

lugar ao mesmo tempo sem necessariamente interagir ou se influenciar significativamente.

Este é o caso de pessoas que se encontram em uma sala de cinema, em um domingo a tarde assistindo o mesmo

filme.

Eles são um exemplo de grupo não social.

É claro que o fato de simplesmente estar na presença de mais alguém já modifica o nosso comportamento. Isto já

foi mencionado em aulas anteriores. Mas a maioria dos psicólogos quando se refere a grupo está falando de algo

mais do que um bando de pessoas, que por qualquer motivo, ocupam um espaço em comum.

Para Cottrell (1968) a presença de outras pessoas pode levar à facilitação social ou à indolência social. Mais

explicitamente, quando as pessoas estão na presença de outras ficam mais excitadas ou agitadas e este fato pode

facilitar certos comportamentos como desempenhar tarefas mundanas e conhecidas, mas também pode

atrapalhar outras funções como, por exemplo, aprender novas informações ou comportamentos.

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Grupo social

No caso de grupo social contamos com a definição de Cartwright e Zander (1968) que consideram esse grupo

como duas ou mais pessoas que não só interagem entre si, mas que também são interdependentes em relação às

suas necessidades e objetivos.

Assim, um grupo seria várias pessoas que possuem uma relação estável e partilham objetivos em comum com a

consciência de que fazem parte de um mesmo grupo (neste caso, podemos citar diversos exemplos como família,

amigos, colegas de trabalhos, colegas de faculdade, entre outros).

Quando estamos em grupo somos mais do que observadores passivos uns dos outros. Quando estamos em grupo

nos socializamos, nos misturamos, nos tornamos íntimos. Em outras palavras, interagimos e nos influenciamos.

Este é o caso de grupos sociais.

Para sermos mais claros nesta diferenciação contamos com o conceito de grupo de McGrath (1984) que se

fundamenta na noção de conjuntos vazios da matemática. Para este autor, a definição de grupo pode ser

entendida em termos de grau. Mais explicitamente, um conjunto de pessoas pode ser melhor identificado como

grupo em função de quatro condições:

• na medida que o número de membros seja mais reduzido;

• na medida que estes poucos membros mantenham interações mais estreitas;

• na medida que estas interações se mantenham por mais tempo e;

• na medida que conservem perspectivas futuras compartilhadas.

A partir desta definição, temos a possibilidade de caracterizar diversos tipos de grupos. Assim, podemos reunir

os grupos em vários sistemas de classificação considerando várias dimensões e critérios, como veremos a seguir.

Tipos de grupos e definições básicas

Categoria social: é um conjunto de pessoas que se distingue de outras por ter em comum um atributo

reconhecível a partir da perspectiva de um observador externo.

Este é o caso de grupos formados pela categoria gênero, ou idade, ou profissão etc. São chamados de grupos

sociológicos.

Grupo psicológico: os próprios membros do grupo se identificam como fazendo parte dele por pertencer à

mesma categoria social.

A diferença com os grupos sociológicos é que eles não precisam da perspectiva de um observador externo.

Grupo mínimo: são pessoas que passam a ser classificadas de forma casual dentro de um mesmo grupo e que

começam a atuar em função dessa identificação, chegando a interagir uns com os outros.

Na medida em que estas pessoas adquirem consciência de objetivos em comum elas passam a formar grupos

sociais.

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Grupos compactos: são grupos sociais onde seus membros passam a cooperar entre si visando o alcance de

objetivos interdependentes.

Organização social: são grupos sociais que se organizam definindo uma estrutura de poder reconhecível com

papéis e normas que regulam as interações entre seus membros e formando um sistema social hierarquizado

que pode competir com outros grupos.

Grupos naturais: podem ser permanentes ou temporários, formais ou informais, mas se diferenciam pelo fato

de existirem independentemente das considerações de estudiosos e especialistas.

Grupos artificiais: estes grupos são organizados e identificados pelo pesquisador com o fim de avaliar os efeitos

da manipulação de variáveis sobre seus membros, na observação sistemática de uma pesquisa ou experimento.

3 Interações sociais e processos grupais


Certos fenômenos estudados na Psicologia Social costumam ser identificados como efeitos da mera presença de

outras pessoas e, portanto, só podem ser observados nas interações dos indivíduos de um determinado grupo

onde há uma interação social mínima.

Alguns destes fenômenos são:


• Facilitação social
• Vadiagem social
• Liderança
• Conflito e cooperação
• Coesão grupal e normas
Estudaremos, a seguir, detalhadamente, cada fenômeno.

Facilitação social

Várias pesquisas na Psicologia Social procuraram entender como a mera presença de outros pode afetar o

comportamento dos indivíduos. Ao se falar de mera presença nos referimos às pessoas que não estão

diretamente competindo ou sendo recompensadas, ou punidas, mas simplesmente se encontram presentes como

uma espécie de audiência ou coatores.

Em 1898, Triplett observou que ciclistas eram mais rápidos quando corriam juntos do que quando corriam

sozinhos contra o relógio. De forma similar, este pesquisador observou que crianças solicitadas para enrolar o

mais depressa possível a linha em um molinete, eram muito mais rápidas quando trabalhavam na presença de

coatores do que quando realizavam a mesma tarefa sozinhas.

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Estes casos envolvem o fenômeno chamado de facilitação social. A presença de outros melhora o nosso

desempenho em tarefas simples, as quais executamos de maneira mais rápida e efetiva do que quando estamos

sozinhos.

Por volta de 1940 as pesquisas sobre facilitação social ficaram estagnadas pela observação de resultados,

aparentemente contraditórios, evidenciando que a presença dos outros ora facilita o desempenho ora atrapalha.

Somente em 1965 foi esclarecida esta contradição quando Zajonc observou que

“(...) a ativação acentua qualquer tendência à reação que seja dominante. O aumento da ativação acentua o

desempenho em tarefas fáceis para as quais a reação mais provável – “dominante” – é a correta. (...) Em tarefas

complexas, para as quais a resposta correta não é dominante, o aumento da ativação promove a reação

incorreta” (apud Myers, 2000, p. 156).

Desta forma, o conceito de facilitação social pode ser definido de duas formas.

Em primeiro lugar, facilitação social é quando o grupo social atua como elemento facilitador e as pessoas tendem

a ter um melhor desempenho em tarefas simples ou familiares frente à presença dos outros.

Em segundo lugar, a facilitação social pode ser entendida na verdade como um fator fortalecedor das reações

dominantes ou prevalentes em decorrência da presença dos outros. Esta última seria a definição mais utilizada

atualmente.

Vadiagem Social

Conceito que representa outro fenômeno comumente observado em grupos sociais. Refere-se à tendência de

membros de um grupo gastar menos esforços na realização de tarefas em grupo em comparação dos esforços

mostrados quando realizam as mesmas tarefas sozinhos.

Podemos observar isto na escola, no trabalho ou até mesmo em casa. Na verdade, o grupo oferece a

oportunidade de juntar esforços de forma cooperativa para alcançar objetivos comuns, já que ao final, é difícil

que nossos esforços individuais sejam apreciados separadamente do grupo. Aos olhos de observadores externos,

os esforços individuais não se diferenciam dos esforços de todos e ficam diluídos nos empenhos do grupo em

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geral. Isto fica mais evidente especialmente quando os benefícios que cada indivíduo receberá serão divididos

por igual entre todos os membros de grupo.

Nesses casos, muitas pessoas passam a economizar seus esforcos e tentam, inclusive, se beneficiar da situação. E

claro, que estamos falando de tendências e que existem particularidades na forma como cada indivíduo age

nestas situações.

Vadiagem Social – Realização das tarefas

O fenômeno da vadiagem social pode ser visto como contrário à facilitação social, em que o esforço do sujeito

quando avaliado na presença dos outros sofre uma excitação emocional.

No caso da vadiagem a excitação provocada pela avaliação dos outros é trocada por certo relaxamento.

Mas será que o desempenho melhora ou piora?

Novamente, a resposta a esta questão depende do nível de complexidade das tarefas realizada.

No caso de tarefas simples, como foi estudado por Ringelmann (1913), o esforço coletivo da equipe é apenas a

metade da soma dos esforços individuais. Podemos pensar que os membros da equipe se sentem menos

motivados quando desempenham tarefas aditivas onde a realização do grupo depende da soma dos esforços

individuais.

O sujeito sente que o seu esforço não se diferencia dos outros. Este fenômeno de preguiça social pode ser visto

como se os sujeitos pegassem carona no esforço do grupo.

Por outro lado, quando a tarefa realizada implica um nível maior de complexidade, como os participantes do

grupo não se sentem diretamente avaliados, podem inclusive melhorar o seu desempenho.

Em outras palavras, os fenômenos de vadiagem social e facilitação social se diferenciam em relação à força

psicológica da apreensão frente à avaliação. Como no fenômeno de vadiagem o medo da avaliação diminui pelo

fato da pessoa se sentir diluída no grupo, ela pode até melhorar o desempenho em tarefas mais complexas que,

em outras condições, poderia se sentir mais nervosa.

Vadiagem Social – Formas de diminuição

Existem várias formas de diminuir a vadiagem social, tais como:

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Liderança

Uma das teorias para explicar liderança é a teoria do indivíduo superior.

Segundo este princípio, existem certos traços de personalidade decisivos e que nos permitem identificar quem é

líder de quem não é, qualquer que seja a natureza da situação a ser enfrentada.

No entanto, um dos mais importantes conceitos da Psicologia Social é que para compreender o comportamento

social não basta levar somente em conta os traços de personalidade, pois temos sempre que considerar também

a situação.

Desta forma, várias teorias de liderança centram-se nas características do líder, de seus seguidores e da situação.

Uma delas é a teoria da contingência da liderança de Fiedler (1967 e 1978). Ele afirma que a efetividade de todo

líder depende do quão orientado ele é para a tarefa ou para o relacionamento e como ele controla sua influência

sobre o grupo.

Para este autor existem dois tipos de líderes...

... o líder orientado para sua tarefa: que se preocupa mais em conseguir com o trabalho a ser feito do que com

os sentimentos das pessoas envolvidas e

... o líder orientado para o relacionamento: que se preocupa mais com os sentimentos e a forma como as

pessoas envolvidas se relacionam.

Mas na verdade, um dos problemas desta teoria é que nenhum dos dois tipos de líder é invariavelmente mais

efetivo que o outro, já que tudo depende da natureza da situação.

Conflito e cooperação

Conflito e cooperação são fenômenos que também formam parte dos grupos sociais.

O conflito ocorre frequentemente quando há tensão entre dois ou mais indivíduos como é no caso do dilema

social, onde a ação que seria mais benéfica para um indivíduo, se escolhida pela maioria, produziria efeitos

prejudiciais para o grupo como um todo.

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Um dos dilemas sociais mais comuns é o dilema do prisioneiro. Este é um clássico porque coloca o desejo de uma

pessoa em cuidar de seus próprios interesses contra o seu desejo de também cuidar dos interesses de seu

parceiro. Para chegar a uma solução desejável a ambas as partes, as pessoas devem confiar umas nas outras.

Uma boa estratégia para lidar como este conflito dentro do grupo é permitindo ao indivíduo responder de

maneira cooperativa ou competitiva a partir da resposta da outra pessoa. Esta estratégia é conhecida como

"pagar na mesma moeda" e o sujeito tem a oportunidade de reagir da maneira como agiu o adversário na jogada

anterior e assim poder comunicar a sua disposição de cooperar e ou a recusa de ser explorado.

Outro tipo de dilema social é o dilema do bem público. Neste caso, os indivíduos têm de contribuir para um

fundo comum a fim de manter o bem público.

Um exemplo deste dilema são os bancos de sangue. Para que eles possam continuar funcionando, todos devem

contribuir com ele.

A melhor maneira de poder solucionar estes dilemas é através de negociação, procurando uma solução

integrativa, na qual cada parte concede o máximo em assuntos que são sem importância para ela, mas muito

importantes para a(s) outra(s) parte(s).

Coesão grupal e normas

• Coesão grupal

Coesão grupal pode ser definida como a quantidade de pressão exercida sobre os membros de um grupo

a fim de que nele permaneçam. Na verdade, os grupos tendem a produzir pressões para a conformidade

entre os membros.

Podemos entender que as pressões em geral se dirigem mais especificamente para os dissidentes com o

objetivo de persuadi-los. Caso não tenha sucesso a tendência do grupo será marginalizar os membros

não conformistas.

• Normas

No caso das normas, elas fazem parte de todo grupo social. Sem elas o grupo não sobreviveria. Desta

forma, as normas são aprendidas e constituem um dos mecanismos mais importantes de controle social.

Assim, os membros de um grupo usam as mesmas para julgar e avaliar as percepções, sentimentos e

ações de seus seguidores.

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Na verdade, o estabelecimento de normas grupais representa um excelente substituto para o uso de

poder. Este último, muitas das vezes, provoca tensão e desgaste aos membros do grupo. Em outras

palavras, em vez do líder precisar usar constantemente sua capacidade de influenciar seus orientados, a

presença de normas facilita seu trabalho e dispensa o exercício constante de demonstração de poder.

O que vem na próxima aula


•Definição, função e origem das atitudes;

• Relação entre atitudes e comportamento;

• Mudança e medição de atitudes sociais;

• Diferenças entre crenças, atitudes e valores.

CONCLUSÃO
Nesta aula, você:
• aprendeu a reconhecer os diversos tipos de grupos;
• entendeu a importância dos processos grupais como facilitação social, liderança e cooperação;
• conheceu melhor sobre coesão grupal e normas.

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