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Armando Sérgio Emerenciano

de Melo I

Osterne Nonato Maia


Filho Hamilton Viana
II

ChavesI,III
I
Universidade de Fortaleza - Unifor
II
Universidade Estadual do Ceará - UECE
III
Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará – IFCE

Encontro Revista de
Psicologia (Volume 17/ 26 -
2014)

O ser humano é ser social e somente existe em função de seus


relacionamentos grupais. O campo do conhecimento sobre a
convivência em grupo e de suas relações com os outros grupos e
com as instituições mais amplas foi denominado dinâmica dos
grupos. Este artigo tem por objetivo explicitar elementos
conceituais básicos em relação à dinâmica de grupos. Para tanto,
objetivos, estrutura, necessidades interpessoais, tarefas e
emoção na interação, papéis, entre
outros elementos são destacados. A abordagem da dinâmica de
grupos aplica-se as mais variadas estratégias de pesquisa e de
intervenção em instituições. Presta-se ao serviço de
transformação das relações humanas uma vez que põe em
destaque o entrelaçamento de desejos pessoais e objetivos
coletivos.
1. INTRODUÇÃO
O ser humano é um ser social e somente existe em função de seus
relacionamentos grupais. O fato de que o indivíduo nasce, aprende, trabalha e
morre em grupo, torna evidente a necessidade do estudo da vida grupal. Para
Zimerman e Osório (1997), todo indivíduo é um grupo na medida em que, no
seu mundo interno, há um grupo de personagens introjetados, como os pais, os
irmãos entre outros, que convivem e interagem entre si. Este fato indica que,
se quisermos compreender o ser humano, devemos estudar sua vida em grupo.

Grinberg, Sor e Bianchedi (1973) discutem a importância da formação grupal


e a sua consequente conversão em objeto de observação e pesquisa. As
pessoas reunidas em grupos apresentam maior riqueza e complexidade das
qualidades da dimensão humana, dentre as quais a comunicação. Watzlawick,
Beavin e Jackson (2007, p.44) afirmam que há, na verdade, uma
“impossibilidade de não comunicar”. Ora, se não é possível não comunicar,
então toda observação é também uma forma de comunicação e, portanto,
algum tipo de intervenção “comunicativa”. Assim, o estudo de um grupo no
campo é ao mesmo tempo observação, pesquisa e intervenção e, por isto, uma
pesquisa-ação.

O campo do conhecimento sobre a convivência em grupo e de suas relações


com os outros grupos e com as instituições mais amplas foi denominado
dinâmica de grupo. Seu desenvolvimento é um fenômeno do século XX e deu
se de forma diferenciada dos estudos realizados nos séculos anteriores. É neste
período que, sobretudo, psicólogos e sociólogos passaram a dar um tratamento
mais científico ao estudo de grupo.

A dinâmica de grupo está intimamente ligada à teoria de campo aplicada à


psicologia social. Kurt Lewin é considerado o fundador da moderna dinâmica
de grupo. Com seu trabalho na Universidade de Iowa, por volta dos anos
1940, e, mais tarde, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), Lewin
estabeleceu esse campo de estudo e atraiu pesquisadores e recursos
financeiros para este tipo de pesquisa. Os artigos de Lewin publicados na
década de quarenta do século XX e depois reunidos nos livros Teoria de
campo em Ciência Social (1965) e Problemas de dinâmicas de grupo (1978),
prepararam o terreno para investigações e publicações do pós-guerra.

Para Lewin (1978), um grupo é mais do que a soma de seus membros:


consiste numa totalidade dinâmica que não resulta apenas da soma de seus
integrantes, tendo propriedades específicas enquanto totalidade, princípio da
Escola da Gestalt. Possui estrutura própria, objetivos e relações com outros
grupos. A essência de um grupo não é a semelhança ou a diferença entre seus
membros, mas sua interdependência. Lewin caracteriza um grupo como sendo
um todo dinâmico, o que significa que uma mudança no estado de uma das
suas partes provoca mudança em todas as outras.

Nesse sentido, as tentativas com vistas à realização dos objetivos grupais


criam no grupo um processo de interação entre as pessoas, que se influenciam
reciprocamente e pode haver a produção de novos significados e metas.

Há que se reconhecer que, embora existam diversas orientações teóricas, é


válido partir do princípio de que, basicamente, a essência dos fenômenos
grupais, a interdependência entre seus membros, é a mesma em qualquer tipo
de grupo e o que determina as diferenças entre os distintos grupos é o objetivo
e fins para os quais foram criados e compostos e a diversidade da cultura
(ZIMERMAN; OSÓRIO, 1997).

Existem, portanto, grupos de diversos tipos. Uma subdivisão com implicações


quantitativas permite diferenciar os grandes grupos sociais e os pequenos
grupos ou microgrupos. Na presente discussão estamos abordando o
microgrupo, pois a qualidade das relações entre os participantes nesse tipo de
formação explicita mais claramente a força do próprio grupo na dialética da
interação grupal. Neste sentido, para Luft (1970) o microgrupos é:

[...] o estudo dos indivíduos em interação dentro de grupos cujo número é


suficientemente limitado para permitir aos participantes estabelecerem entre si
relações explícitas e terem uma percepção recíproca uns dos outros – a expressão
face a face resulta desta situação. (LUFT, 1970, p.15).
Em outras palavras, nos microgrupos todos os participantes estão frente a
frente e têm a possibilidade de estabelecer relacionamentos interpessoais sem
a mediação de terceiros. Assim, a interdependência grupal costuma
possibilitar coesão grupal, clima gerado pelo compromisso assumido,
possibilitando, entre outros aspectos, o ambiente acolhedor para a
aprendizagem e a solidariedade.

Devido à importância que o objetivo do grupo tem para sua existência parece
nos oportuno uma classificação que considere esta característica como
balizadora. Assim, há os grupos operativos e os psicoterápicos. Os operativos
cobrem o campo institucional, organizacional, comunitário, com foco psico
educativo, portanto, na modificação desses campos. Os psicoterápicos são
classificados a partir da abordagem teórica e têm perspectiva terapêutica.
Neste último caso, temos as perspectivas psicodramática, psicanalítica,
cognitivo-comportamental e teoria sistêmica (ZIMERMAN; OSÓRIO,
1997).
Para o estudo dos microgrupos é necessário ter outras conceituações. A partir
de Mucchielli (1979) e Minicucci (1982), podemos estabelecer a seguinte
classificação para a gênese dos microgrupos: naturais espontâneos ou
artificiais.

Os naturais espontâneos são caracterizados por relações afetivas, enraizadas


na existência natural como a família, a comunidade de nascimento, entre
outros. Os microgrupos artificiais caracterizam-se pelo fato de que a razão do
agrupamento é, pelo menos na origem, exterior à vontade direta dos membros.
Exemplo desses microgrupos são o serviço militar obrigatório e os cursos de
graduação universitários.

Os microgrupos podem ser ainda momentâneos ou duráveis. Os microgrupos


momentâneos e caracterizam-se por uma limitada duração da sua existência.
Exemplos desses microgrupos são as reuniões eventuais, como eventos de
secretários municipais de uma determinada área de trabalho, ou os
microgrupos de discussão por tema de uma comunidade, escola, entre outras.
Já o microgrupo natural e durável pode ser exemplificado pela família e as
organizações militares.

1.1. O desenvolvimento das práticas de


intervenção grupal
Por causa do seu caráter amplo, a expressão “dinâmica de grupo” nem sempre
é empregada num sentido acurado. Por isto, é necessário precisar o seu
emprego. A expressão caiu em descrédito devido à aplicação que, às vezes,
dela se fez para se referir a atividades utilizadas com objetivos ilustrativos,
recreativos, místicos, entre outros. Certamente, contribuiu para o descrédito a
aplicação inconsequentemente realizada por profissionais descomprometidos
ética e cientificamente.

Utilizam-se expressões tais como: “dinâmicas” ou “técnicas de relações


humanas”, que confundem mais do que revelam o seu significado. Para
Cartwright e Zander (1975), a expressão “dinâmica de grupo” popularizou-se
após a segunda grande guerra e tem três empregos mais conhecidos: numa
concepção ideológica; como um conjunto técnicas aplicadas ao grupo
destituídas de articulação teórica; e o estudo dos grupos, de sua essência e
funcionamento. No caso da concepção ideológica trata-se de:

[...] um tipo de ideologia política, interessada nas formas de organização e


direção dos grupos. Essa ideologia acentua a importância da liderança
democrática, a participação dos membros nas decisões e as vantagens, tanto para
a sociedade quanto para os indivíduos, das atividades cooperativas em grupos.
(CARTWRIGHT; ZANDER, 1975, p.5).
Observamos que os cientistas que trabalharam junto aos aliados ocidentais na
época da segunda guerra mundial foram fortemente influenciados pelos
valores sociais dessa época. Não é difícil imaginar o envolvimento dos
pesquisadores dos países aliados com certas ideias de democracia ao
atribuírem este significado aos estudos de dinâmica de grupo, já que se está se
contrapondo ali à perspectiva autoritária de organização social dos países do
eixo.

Além disso, essa perspectiva comete o engano ao considerar semelhantes os


processos grupais amplos da sociedade e do microgrupo, sem avaliar a
diferença de contextos. A proposta de participação aplicada aos contextos da
dinâmica de grupos é bem diferente da participação no contexto político
social mais amplo.

A participação da população nas decisões do contexto político-social mais


amplo pode redundar em democracia. Desta maneira, democracia implica em
uma forma de participação com poderes de decisão que a participação no
contexto da dinâmica de grupo não logra. A proposta de participação dos
membros do microgrupo nas intervenções grupais não tem as mesmas
implicações que a participação democrática proposta para o contexto político
mais amplo da sociedade. Para o contexto da dinâmica de grupo, utiliza-se a
participação como uma estratégia limitada às decisões do escopo grupal,
enquanto que a democracia situa-se no contexto maior das questões políticas
da sociedade.

Uma segunda definição de dinâmica de grupo refere-se a um conjunto de


técnicas, tais como o desempenho de papéis, grupos de discussão, feedback de
processos coletivos, entre outras. Desta perspectiva resulta a expressão técnica
“dinâmica de grupo”. A preposição “de” propõe uma aplicação ampla em
qualquer grupo, independente de sua finalidade e especificidade e, como
sabemos, as técnicas quando aplicadas sem o alicerce de uma teoria e uma
perspectiva metodológica mais ampla, desconstroem o espaço grupal. Assim,
a preposição “de” fornece à expressão “dinâmica de”, o sentido que pode ser
aplicado a qualquer grupo em qualquer momento, desconhecendo que o termo
“dinâmica” implica forças interdependentes agindo no interior e no exterior de
um campo mutável como são os grupos e as pessoas que a eles se integram.

Por isso estamos propondo o uso da preposição “do(s)” para dá a expressão


dinâmica a intensidade e a versatilidade que precisa. Considerar a dinâmica
dos grupos apenas como técnica, independente do método e da teoria,
destitui-
a de implicações sociais e psicológicas mais amplas, que realmente lhe dão
sentido. Evidente que precisamos de técnica, porém técnica sem método e
teoria é cegueira intelectual. É neste sentido que denominamos este campo
como dinâmica “dos” e não “de”, como é conhecido, apenas por sua prática e
não por sua teoria/método.

Um terceiro emprego apresentado pelos autores para a expressão “dinâmica de


grupo” se refere ao campo de pesquisa dedicado a obter conhecimento a
respeito da natureza dos grupos, dos seus axiomas, de seu desenvolvimento e
das interrelações entre os indivíduos, outros grupos e instituições mais amplas.
É lamentável constatar que esse campo de pesquisa teve um excelente
momento na época de sua fundação, mas que atualmente dispõe de poucas
pesquisas no âmbito acadêmico.

O que se observa é que as transformações econômicas, tecnológicas e


culturais na sociedade têm promovido mudanças significativas em sua forma
de perceber, pensar e agir nas organizações humanas. Os grupos têm sido, na
maioria das vezes, a via de acesso aos processos de mudanças e isso requer
que as pessoas aprendam a trabalhar em grupo. Podemos juntar a esta
necessidade o fato de que todas as pessoas trazem experiências de vida em
grupo e têm um conhecimento tácito sobre o grupo. Ocorre que esse
conhecimento algumas vezes é insuficiente para coordenar e participar de
grupos, mas algumas pessoas não se dão conta desta característica do
conhecimento sobre grupos e enganam-se com o trabalho em e com grupos e
seguem culpando os outros por sua própria incapacidade de lidar com o
mundo.

Podemos concluir que a expressão “dinâmica de grupo” continua sendo


percebida como uma técnica, que o sentido ideológico do termo encontra-se
valorizado e a pesquisa científica ausente. Mas não podemos nos esquecer de
que as tendências socioeconômicas têm proposto o trabalho em grupo como
estratégia de gestão e, assim como na sua gênese, esse panorama pode trazer
pesquisadores e recursos para investir em novas pesquisas.

1.2. A definição de processo grupal


Para Mucchielli (1979) a dinâmica dos grupos, como passaremos a denominar
a partir de agora esse campo de conhecimento, compreende dois conjuntos
diferentes de processos: O conjunto dos fenômenos psicossociais que se
produzem nos pequenos grupos, assim como as leis naturais que os regem.

O conjunto dos métodos que permitem atuar sobre a personalidade através dos
grupos, assim como os que possibilitam aos pequenos grupos atuar sobre as
organizações sociais mais amplas (ou organizações complexas intergrupais)
(MUCCHIELLI, 1979, p.11).

Nos dois sentidos atribuídos pelo autor para a expressão dinâmica dos grupos,
podemos concluir que se trata de um campo da ciência, pois investiga os
fenômenos de sujeitos em microgrupo; também se trata de uma ciência
aplicada, pois se propõe uma intervenção.

A expressão “dinâmica” foi primeiramente utilizada neste contexto por Kurt


Lewin. Como já destacamos anteriormente, ele utilizou a expressão em
oposição ao termo “estática”, que significa sem movimento – como a física o
define. Em tempo, Lewin graduou-se em física antes de estudar psicologia.
Cabe destacar que a expressão dinâmica enfatiza o movimento. Que
movimento é esse? Denominamos movimento o conjunto de processos e
atividades na direção da realização grupal e esse é um o conceito fundamental
para quem pretende trabalhar com e em grupo. Mas o grupo não é apenas um
processo, como destaca Ribeiro (1994, p.34) quando afirma “que o grupo tem
um elemento permanente, que chamamos matriz, e um transitório, que
chamamos processo, mas ambos contêm em si permanência e transitoriedade,
ao seu modo”. Para ele, o termo “processo” encerra a ideia de movimento
existencial e transformação. De acordo com Zimerman e Osório (1997),
embora o grupo sofra influências externas, o locus do processo é endógeno, ou
seja, o lugar do processo é determinado pela identidade do grupo e suas
possibilidades. Isto traz implicações para a coordenação do trabalho em grupo,
tão peculiar à pesquisa-ação. Significa dizer que a mudança prevista na
pesquisa-ação é uma intervenção nos processos internos e corresponde a uma
modificação na estrutura do grupo.

Para Schein (1982, p.128) os grupos funcionam a partir dos “padrões de


comunicação, métodos de tomada de decisão, técnicas de resolução de
problemas, atividades formadoras de normas, sentimentos e percepções
interpessoais e formação de simpatias e antipatias.” No entanto, mais
importante que sua função é sua intencionalidade.

Nesse sentido, para Pichon-Rivière (1994), o processo grupal decorre da


mudança inerente à realização do objetivo do grupo. No processo de mudança,
os grupos convivem com dois medos básicos, relativos a perdas de suas
conquistas e aos desafios diante do novo. Medo de perder o equilíbrio
conseguido; medo de ser atacado ao enfrentar situações novas em que os
antigos parâmetros de ação já não valem e os novos ainda não estão postos e,
portanto, não são suficientes. Assim, é instalada uma resistência no grupo que
requer a elaboração desses medos como condição para a realização da tarefa
grupal. Noutras palavras, a característica de mudança (transitoriedade), que os
processos grupais apresentam, tem como consequência a necessidade de
vencer os medos que geram resistência. Apenas assim a aprendizagem
implícita no processo grupal transformará a questão central do processo
coletivo: a elaboração do medo e da resistência às mudanças.

Por fim, é importante estabelecer a diferença entre processo (método) e


procedimento (técnica). Scholtes (1992) define procedimento como a
descrição detalhada de ações necessárias para alcançar determinado resultado.
Assim, o que caracteriza o procedimento não é o tipo de resultado esperado,
mas a descrição minuciosa e rígida dos passos que devem ser obedecidos para
atingir o resultado definido. Já nos processos encontramos também a definição
de um resultado a ser alcançado, mas os resultados são definidos de forma a
permitir diversas estratégias de ação. Em um grupo, o resultado do processo é
a realização do objetivo do grupo e o processo de realização da tarefa.

1.3. Os objetivos e necessidades grupais


Para Amado e Guittet (1982, p.99), “os grupos nascem da tomada de
consciência de indivíduos isolados de seus interesses comuns e de sua
interdependência”. Compreendidos assim, os grupos são fundados a partir do
compartilhamento de fins que justificam sua existência e pelo reconhecimento
da dependência em relação ao “outro” para alcançar esse resultado. Os
objetivos direcionam as ações grupais. Quando trabalhamos com grupos,
devemos saber como o objetivo do grupo foi estabelecido, como o objetivo
grupal está em interação com os objetivos de cada membro e como o objetivo
do grupo influenciou o processo de inclusão grupal. Quando os motivos que
levam os indivíduos a fazerem parte de um grupo ficam muito destoantes
entre si há uma tendência a surgirem insatisfações e angústias que geram
estresses e conflitos. Os objetivos individuais e grupais podem modificar-se
ao longo da existência do grupo. Assim, é necessário rever os objetivos
através de uma discussão explícita no grupo. Merece atenção especial e
acompanhamento sistemático da relação entre os objetivos individuais e
coletivos.

Seguindo os achados de Lewin (1978) sobre os efeitos favoráveis da


cooperação e da solidariedade nas relações interpessoais para a eficácia
grupal, Schutz (1989) formulou uma teoria sobre as necessidades interpessoais
e sua relação com os objetivos grupais. Para ele, as pessoas em um grupo não
consentem em integrar-se senão a partir do momento em que certas
necessidades podem ser satisfeitas. O autor postula que o ser humano que se
reúne em grupo tem, em maior ou menor grau, necessidades específicas e que
é apenas no grupo e através do grupo que estas necessidades podem ser
satisfeitas. Ele identificou três necessidades interpessoais típicas: necessidades
de inclusão, necessidades de controle e necessidades de afeição. Estas
necessidades são experimentadas por todas as pessoas, ainda que em graus
diferentes.

A necessidade que toda pessoa tem de sentir-se fazendo parte do grupo e de


sentir-se aceito, valorizado e respeitado é definida pelo autor como
necessidade de inclusão. Nesta fase, as pessoas procuram evidências de que
são aceitas pelos membros do grupo. A inclusão se processa na plenitude
quando o indivíduo sente-se fazendo parte dos processos decisórios do grupo.
A inclusão se refere ao estabelecimento de interação com outras pessoas:
manter contatos, travar conhecimentos, comunicar-se, participar de encontros
e cultivar o companheirismo e a cooperação. As pessoas que têm alto nível de
inclusão se dão facilmente com todos e têm grande círculo de relações, gozam
de prestígio, valorizam a fama e a popularidade. As pessoas que têm inclusão
negativa são retraídas, desligam-se das funções sociais e apreciam o
isolamento.

A necessidade de controle se refere ao estabelecimento de relações de


comando e de autoridade (poder). Diz respeito ao domínio e aos termos do
processo decisório entre as pessoas. Na fase de controle, a necessidade de
relacionamento implica no respeito pela competência e pela responsabilidade
dos outros e a consideração dos outros por sua própria competência e
responsabilidade. As pessoas que têm alto índice de controle gostam de
influir, de liderar, de persuadir e de chefiar. As pessoas que expressam
controle negativo não dominam, pelo contrário, ou são submissas e
seguidoras, ou são rebeldes e resistentes. Isto é, ou se submetem ao controle
dos outros ou a ele se opõem, mas não assumem o controle delas próprias.

A necessidade de afeição se refere ao estabelecimento de relações afetivas, de


sentimentos íntimos e particulares e de contatos amistosos não
indiscriminados, mas efetivos. Concerne à aproximação emocional. Esta
necessidade está ligada ao sentimento de amar e ser amado e de sentir-se
amável, ou seja, ao sentimento de amor mútuo e recíproco. As pessoas
buscam no grupo a afirmação de que sua presença e isso é fundamental, pois
mostra um grande desejo de interação emocional. Os sujeitos com afeição
negativa são mais distantes, menos amorosos, menos íntimos e confidenciam
menos.

Todos nós usamos as três formas de interação: ora uma, ora outra, mas uma
delas predomina no nosso estilo pessoal. Schutz (1989) ainda destaca que as
três necessidades ocorrem em diferentes momentos ou fases dos grupos
(inclusão, controle e afeição).
A fase de inclusão se apresenta sempre no período inicial do grupo quando os
participantes, confrontando-se uns com os outros, buscam e encontram o lugar
que lhes convém. É o momento em que o grupo estabelece seus limites e cada
um decide se vai implicar-se ou comprometer-se, até que ponto vai tornar-se
membro do grupo e ser aceito e respeitado. É neste período que cada um
avalia com quem pretende comunicar-se e ter contato. Os subgrupos são
criados a partir do momento em que cada um escolhe seus parceiros. A ideia
inicial do objetivo e da composição do grupo, assim como o tipo de papel que
se espera representar é formada nesta fase. Na teoria do grupo operativo de
Pichon-Rivière (1994), a inclusão recebe, nos momentos iniciais de um grupo,
a denominação de afiliação e, quando plenamente construída, gera o
sentimento de pertença.

Já incluídas pelo grupo, as pessoas sentem-se responsáveis por tudo aquilo


que constitui o grupo, passando à fase de controle. Esse momento corresponde
ao momento no qual o jogo de forças assume caráter importante, uma vez que
os membros, ao procurarem firmar seu lugar no grupo, tentam também a
mostrar seu poder de influência. Compreendem as lutas, as disputas pessoais
pela liderança e pela distribuição de poder; refere-se ao domínio entre as
pessoas, à competição fraternal, às discussões sobre os objetivos, às normas, à
organização interna e aos métodos de ação e a tomada de decisão.

Na afeição, por sua vez, o grupo torna-se mais produtivo, criativo, construtivo,
interdependente, sinérgico e amoroso. Em contrapartida, também aparecem o
ciúme, a hostilidade e as manifestações de sentimentos negativos. Cada
indivíduo estabelece sua norma pessoal no que concerne a dar e a receber
afeto. Nesta fase, o grupo sente confiança de expressar sentimentos de
qualquer natureza na busca do crescimento individual e grupal.

A compreensão de como as necessidades interpessoais apresenta-se no grupo


é importante para situar seus integrantes (membros, coordenadores e lideres).
Possibilita o entendimento dos momentos vivenciados nos grupos e por isso
possibilita fundamentar as intervenções que contribuem para a eficácia
grupal.

Com a aproximação do fim do grupo, costumam emergir momentos afetivos


como a avaliação e feedback em relação aos sentimentos vividos
coletivamente. Algumas tomadas de consciência tornam-se claras nessa etapa.
Quanto maior o nível de envolvimento afetivo do grupo, maior o estado de
coesão grupal. Uma dinâmica emerge e pode-se observar a inversão das fases
anteriores na seguinte ordem: afeição, controle e inclusão.
Como decorrência desta teoria, Schutz elaborou técnicas de diagnostico capaz
de mensurar como essas necessidades se manifestam nas pessoas e de técnicas
para a construção de relações interpessoais grupais saudáveis, produtivas e
articuladas com os objetivos grupais.

1.4. Grupo é estrutura, estrutura é grupo:


Composição
A estrutura do grupo se define pelas posições específicas que as pessoas
ocupam nele. Reflete as relações internas entre os membros do grupo e
representam a maneira pela qual as pessoas e seus papéis estabelecem esses
relacionamentos. Segundo Cartwright e Zander (1975, p.802), “parece quase
impossível descrever o que acontece nos grupos sem usar termos que indicam
o „lugar‟ dos membros na sua relação mútua”.

Quando um grupo adquire estabilidade na disposição entre seus membros, diz


se que está estruturado. Sabe-se que os vínculos estabelecidos podem se tornar
rígidos e dificultar as mudanças necessárias à realização dos objetivos grupais.
Assim, a rigidez torna difícil o relacionamento interno. Por outro lado, a
ausência de uma estrutura interna, ou mesmo a informalidade num grupo pode
levar a dificuldades para se lidar com seus problemas.
As pessoas levam seu universo pessoal ao grupo: experiências de vida,
conhecimentos pessoais fazem parte deste background. Ao se encontrarem
numa situação grupal, os indivíduos agem a partir deste conjunto basilar, mas,
uma vez em grupo, é num processo de interação que as ações e as reações
individuais influem e são influenciadas pelo grupo.

Pagès (1975) define os grupos como conjuntos de pessoas que, em razão de


sua história individual, de relações interpessoais anteriores ou de sua cultura,
demonstram um conflito efetivo sentido por um conjunto mais vasto de
pessoas do qual fazem parte, destacando a composição como uma categoria
importante de análise da eficácia grupal.

Uma vez observadas as características pessoais dos membros do grupo, deve


se atentar às semelhanças e às diferenças entre eles. As pessoas levam para o
grupo as suas vivências pessoais, as características de sua personalidade e a
experiência profissional para compor o seu background.

O motivo para ingressar no grupo e a experiência de vida são consideradas


como componentes influentes naquilo que Pichon-Rivière (1994) denominou
heterogeneidade do grupo. A tese do autor é a de quanto mais heterogêneo é
um grupo, maior a probabilidade de ser eficaz e atingir o seu objetivo. A
homogeneidade e heterogeneidade de um grupo afetam os seus resultados.
Para Pichon os grupos heterogêneos apresentam mais recursos, pois a
presença de mais diferença pode implicar em mais diversidade para a troca do
que em grupos homogêneos. Entretanto os grupos heterogêneos, pela sua
diversidade, apresentam maior dificuldade em seu funcionamento do que os
grupos homogêneos, porém o processo de crescimento torna-se mais eficaz
em função das trocas interpessoais.

Ao trabalhar com o grupo, o coordenador grupal deve levar em consideração


estas características pessoais, interpessoais, profissionais (econômico-sociais)
e culturais. Neste contexto, é de fundamental importância que o coordenador
compreenda a realidade sócio histórica na qual estão inseridos ele próprio e as
pessoas que participam do grupo.

1.5. Desempenho de tarefas e a comunicação


grupal
Para a realização do objetivo grupal ocorre necessariamente a interação entre
os membros do grupo. Bales (1970), em seu estudo sobre a tomada de decisão
na solução de problema em grupo, identificou, através da observação da
comunicação, categorias que representam os seus principais momentos.

Ele observou, na execução das atividades grupais, uma distribuição


diferenciada das atribuições entre os membros do grupo. Uma parte dos
membros buscava manter o grupo unido enquanto outra parte esforçava-se
pela execução da tarefa grupal. Essa classificação de atribuições corresponde
à principal distinção entre as categorias grupais.

Assim tais categorias foram agrupadas em níveis ou processos de ocorrência:


o da tarefa e o sócio emocional ou interpessoal. O nível da tarefa abrange as
atividades relacionadas diretamente à realização do objetivo do grupo
enquanto que o nível sócio emocional abrange os processos interpessoais
responsáveis pela manutenção de um clima favorável à realização da tarefa
grupal. As atividades relacionadas com o nível sócio emocional remete para
os sentimentos e as trocas afetivas gerados na convivência do grupo.

Numa perspectiva psicanalítica, Bion (1975) identificou dois modos de


solução dos problemas grupais semelhantes aos níveis de Bales (1970). Para
Bion são dois os planos no qual os grupos agem: o plano do trabalho-tarefa e
o plano da emoção. No plano do trabalho-tarefa a estratégica caracteriza-se
por esclarecer a situação, buscar informações relevantes, elaborar alternativas
e testá-las. Este é um modo racional de reagir que Bion denominou trabalho
tarefa. Esta modalidade refere-se à maneira racional e consciente de um grupo
buscar soluções para suas dificuldades.

Porém, é no plano da emoção que os grupos se defrontam com as dificuldades


maiores em lidar com os problemas e seus reflexos recaem sobre o plano da
tarefa, impedindo muitas vezes de um grupo realizar seu objetivo. É no plano
da emoção que se inserem as necessidades interpessoais e que dão o clima
para a realização da tarefa grupal.

Para Bion (1975), as respostas emocionais podem apresentar uma das


seguintes hipóteses: a dependência, a luta-fuga e a união ou acasalamento. A
dependência refere-se à condição que toda pessoa apresenta de depender de
algo ou alguém para a realização de seus objetivos. Pressupõe que um dos
motivos para os indivíduos buscarem os grupos é a necessidade primária de
obter deles a segurança, cuidado e proteção. Assim, a fase da dependência
caracteriza-se pela necessidade grupal de um líder, ou seja, de esperar que
alguém diga o que o grupo deve fazer, como e quando realizar ações.

O grupo tem necessidade de centrar o poder em alguém, que normalmente


representa a figura de autoridade. Há também, nessa fase, a necessidade de se
estabelecer normas explícitas e códigos de funcionamento que sejam
respeitados por todos, pois tais aspectos marcam a formação da cultura
humana.

A luta-fuga refere-se ao desejo de não mais depender do outro e de perceber a


relação de dependência como uma ameaça. A relação é percebida como
perigosa e a forma de neutralizá-la passa a ser a agressão ou a fuga do grupo.
Assim, na fase de luta- fuga o grupo sente desconforto pela condição de
dependência e o demonstra com manifestações de sentimentos de raiva,
hostilidade e agressão dirigidos aos membros ou ainda ao coordenador ou
líder. Os conflitos tornam-se mais evidentes, bem como se acentuam as
diferenças individuais. Neste momento, surgem o esvaziamento do grupo, a
queda de energia para realização de tarefas, o descrédito e possíveis
questionamentos sobre o sentimento de pertença ao grupo.

A união ou o acasalamento refere-se ao momento em que os integrantes do


grupo não se sentem mais ameaçados pelos sentimentos advindos da relação
de dependência e buscam, então, uma forma mais saudável de se agrupar com
vistas a alcançar os seus objetivos. Uma vez atingida a fase da união, o grupo
apresenta maturidade para tratar os conflitos, as diferenças individuais, as
incertezas e as emoções. Vale lembrar, no entanto, que a fase de união não
significa necessariamente que o grupo atingiu o ideal de crescimento, mas sim
que este foi capaz de integrar as diferenças em prol de um objetivo comum.

A habilidade para trabalhar em grupo está diretamente relacionada ao modo


como os indivíduos lidam com suas emoções e como estas impactam o plano
da execução das tarefas. A emoção é difícil de ser apreendida (percebida),
pois se localiza no território privado e pessoal. É, portanto, difícil de ser
acessada, mutável e transitória e está no âmbito da subjetividade. Essa
subjetividade permeia o grupo como uma teia que entrelaça as relações
interpessoais. O modo como os indivíduos se relacionam e trabalham em
grupo está implicado com a forma como se processam seus desejos, suas
frustrações, seus temores, suas fantasias. Os aspectos subjetivos em uma
pesquisa-ação são tão relevantes quanto à tarefa de coordenação e intervenção
grupal, a tal ponto que se não dermos conta deles, estaremos fadados ao
fracasso em facilitar esse processo.
A comunicação no grupo reflete como este está estruturado e como os papéis
assumidos pelos participantes atuam na realização do objetivo grupal. O canal
de comunicação mais utilizado é o verbal. É através da comunicação oral que
o líder do grupo prepara a utilização de outros canais. Para a observação da
comunicação, recomenda-se atentar também à comunicação não verbal e ao
que é percebido (sentido) no clima do grupo. Ou seja, devemos considerar o
que Watzlawick, Beavin e Jackson (2007) denominaram metacomunicação.

Para Lewin (1978) o ideal é que a comunicação entre os integrantes de um


grupo seja autêntica. Decorre da aceitação da proposição de autenticidade nas
comunicações de Lewin que os membros de um grupo devem ter as condições
para concretizar a comunicação autêntica. Para tanto, devemos observar como
o grupo na resolução de seus problemas relativos à tarefa grupal trata as
diferenças em termos de manifestações discursivas. Um grupo que não
apresenta espaço interno para que seus integrantes possam ser autênticos e se
comunicarem em todos os níveis, apresenta a possibilidade de desenvolver
redes paralelas e informais externas ao grupo, esvaziando, com isto, a força do
grupo.

1.6. O exercício de papéis e a liderança


Segundo Moreno (1991), os papéis representam as atitudes que o indivíduo
assume no momento em que reage a uma situação específica ou age sobre ela,
em que outras pessoas ou objetos estão envolvidos. Afirma também que os
papéis têm características e especificidades próprias da cultura em que foram
estruturados. Na maioria das vezes, os papéis são referendados pelas normas
de funcionamento de um grupo.
Pichon-Rivière (1994) destaca que os papéis podem ser impostos ou
escolhidos. Por isto, no trabalho grupal, deve-se observá-los a fim de
identificar aqueles que os membros do grupo assumem de forma espontânea
ou imposta. Deve-se observar, ainda, como o grupo lida com os papéis
assumidos formal e informalmente. Para Schein (1982), os papéis informais
surgem de espaços onde a organização formal não responde adequadamente às
demandas do grupo, mas que não são assumidos publicamente. Assim a
gênese dos papéis informais é permeada por conteúdos subjetivos pessoais e
grupais.

Para Bleger (1998, p.87), além da necessidade de um conjunto de pessoas que


atuem em interação entre si, no grupo é fundamental que uma sociabilidade
seja estabelecida a partir de um intercambio dos diferentes papéis grupais para
que entre eles possa emergir uma mudança, “com os papéis individuais refaz
se, no grupo, o processo total da aprendizagem, tendo em conta que cada
integrante pode assumir funcionalmente papéis diferentes conforme o tema, os
momentos ou níveis da aprendizagem.”

Entendido assim, o trabalho com grupos auxilia os participantes a exercitarem


os papéis dinamicamente, o que permite avaliar se os mesmos facilitam ou
dificultam o desenvolvimento do próprio grupo. Diante dos problemas grupais
alguns membros são capazes de alternar papéis com outros membros de
acordo com uma tarefa específica, tornando possível o fluxo e a troca de
experiências. Um grupo cujas pessoas assumem papéis rígidos tende a ser um
grupo com dificuldades de adaptar-se às mudanças e com grande possibilidade
de conflito interpessoal futuro.

Em síntese, os papéis construídos no grupo podem ser relacionados às


categorias de interação em dois níveis. Assim, no âmbito da tarefa há
membros do grupo que propõem o início das atividades, que sugerem ao
grupo alternativas ao que deve ser realizado para alcançar os objetivos ou
formas de abordar as tarefas; enquanto outros membros irão articular os
integrantes do grupo para uma melhor qualidade dos resultados; outros, ainda,
poderão ficar mais como observadores.

No que diz respeito ao nível sócio emocional, algumas pessoas sugerem


atividades que aliviem as tensões surgidas no grupo, outras articulam as
divergências para que elas não paralisem o curso da interação do grupo,
evocando a solidariedade entre os membros do grupo.

A liderança exerce papel importante no processo de produção do grupo. Os


grupos de trabalho apresentam, inevitavelmente, lideranças formais,
geralmente delegadas em função da estrutura organizacional. O que se
pretende, ao se desenvolver grupos, é verificar em que grau a liderança
impacta no objetivo do grupo e o quanto o grupo absorve, aceita e legitima a
liderança.

Por outro lado, sabe-se que, durante o processo, o grupo abre espaço para
emergirem lideranças que têm um papel catalizador das tensões grupais. Estas
lideranças podem ter maior competência para lidar com os processos grupais
da tarefa ou emocionais. Isto é, ao deparar-se com dificuldades na solução de
problemas, podem emergir no grupo pessoas com maior facilidade de lidar
com um determinado processo que auxiliarão o grupo na transposição das
adversidades.

Tanto no processo da tarefa quanto no processo interpessoal o grupo apresenta


o mesmo procedimento, atribuindo a uma ou mais pessoas a liderança. Esta é
distribuída alternadamente para diferentes membros, no sentido de facilitar a
resolução do problema que a todos incomoda. Neste momento são
equacionadas as trocas emocionais do grupo e, quanto à tarefa, se estabelece
uma estratégia geral de como atingir os resultados desejados. Entre os
membros do grupo que exercem a liderança, todos têm competência nos dois
processos com qualidades e em quantidades diferentes (PICHON-RIVIÈRE,
1994).

1.7. Grupo é cultura, grupo produz cultura: normas


e valores
Segundo Schein (1982), cultura é um conjunto de pressupostos básicos
desenvolvidos (utilizados, inventados, descobertos) por um determinado
grupo à medida que ele aprende a lidar com seus problemas de adaptação
externa e integração interna. Todo grupo adquire, portanto, a partir das
crenças, das normas, dos valores e de códigos implícitos e explícitos, padrões
de comportamento que formam sua cultura. Assim, uma organização contém
as diversas culturas dos grupos por ela formados.

Os participantes de um grupo tendem a se associar ou a escolher em


subgrupos os integrantes com quem compartilham valores semelhantes.
Sempre que um grupo se forma, os membros discutem o que devem fazer
como funcionar e como se comportar para atingir os objetivos grupais. Assim,
as normas são as regras de conduta que nascem pouco a pouco num grupo. As
normas são estabelecidas através de processos de identificação, incorporação,
aprendizado (MILLS, 1970).
Para Freitas (1991), as normas são comportamentos sancionados, através dos
quais as pessoas são recompensadas ou punidas, confrontadas ou encorajadas,
ou postas em ostracismo quando as violam. Se uma pessoa deseja continuar a
pertencer ao grupo, deve considerar-se dentro das normas. As normativas e
códigos têm a função de proteger o grupo quanto a fatores internos e externos
que possam vir a ameaçar seu funcionamento, para isso o grupo faz uso de
controles e sanções.
2. CONSIDERAÇÕES FINAIS
A abordagem da dinâmica dos grupos aqui proposta aplica-se as mais variadas
estratégias de intervenção e pesquisa em instituições. Presta-se ao serviço de
transformação das relações humanas uma vez que põe em destaque o
entrelaçamento de objetivos pessoais e objetivos coletivos. Destacam-se,
assim, os papéis assumidos e como estes corroboram na manutenção da
existência grupal ou mesmo desafiam sua preservação. Com isso, podemos
destacar que o grupo não é uma entidade que naturalmente se compõe, mas é
preciso que haja a intervenção da cultura, dos atributos humanos. Isso provoca
a emergência de uma rede colaboração e de outra parte, a explicitação dos
conflitos que, a depender da articulação de seus membros, particularmente da
liderança, pode provocar transformações estruturais na identidade grupal.

REFERÊNCIAS
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