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ANÁLISE NARRATIVA DO

CONTO "MARIDO" DE LÍDIA


JORGE

Grupo 2 | Monágela e Tainara


JORGE, Lídia. Marido e outros contos. 4. Edição. Editora
Dom Quixote,1998.

DE ABREU, ARI FRANCISCO, e BELO HORIZONTE.


"Estratégias Textuais em Marido e Outros Contos, de
Lidia Jorge".

CORDEIRO, Daniela Forte Martins. "A Violência Contra a


Mulher Retratada por Lídia Jorge: O ethos da
personagem Lúcia do conto Marido." Revista Geadel 1.1
(2020): 96-109.
Lídia Jorge
Romancista e contista
portuguesa;
Nasceu em 1946, no Algarve;
As suas obras têm uma grande
variedade temática. Mas o tema
da mulher e da sua solidão é uma
preocupação central nas obras de
Lídia Jorge.
Marido
(Lídia Jorge)

O conto "Marido" descreve o cotidiano de Lúcia, uma


porteira de um prédio de classe média que sofre
abusos do marido alcoólatra;
Lúcia não deseja se separar, mesmo quando outros
moradores do prédio lhe oferecem ajuda para tal
efeito;
Temática
Violência contra a mulher;
‌A violência doméstica não tem predominância apenas na classe
social baixa;
‌A violência doméstica acontece em todas as classes sociais: baixa,
média e alta;
O conto apresenta o antagonismo do papel feminino e masculino
na sociedade patriarcal, manifesto em uma família na qual há
problemas cuja origem está diretamente relacionada aos mesmos
papéis.
Análise dos personagens

Como a própria autora afirma deixar-se


dominar pelas personagens: “os modernistas
chutaram-nas, mas parece-me que aquilo que
marca a literatura do final do século XX é a
recuperação da personagem como elemento
fundamental da matéria da ficção.” (JORGE,
2002, p. 6).
Lúcia

doméstica e porteira de um prédio da zona urbana;


‌Sua vida é marcada pelo medo;
‌Ela tem uma visão bastante tradicional em relação
ao casamento e apresenta-se submissa a essa
concepção de matrimônio e ao papel conservador
e restrito que se espera da mulher na sociedade:
"Com quem ralharia, por quem iria ao talho, de quem
falaria quando fosse às compras, para quem pediria
protecção quando cantasse à janela por Salve Regina,
a quem pertenceria quando os domingos viessem, e
cada mulher saísse com seu homem, se ela nem mais
teria o seu. A vida pareceu-lhe completamente
absurda, como se todos se tivessem combinado para
lhe arrancarem metade do corpo. Se, mal tinha
deixado de ser criança, já procurava um homem, era
porque de facto metade de si andava nesse homem
desde sempre, por vontade de alguma coisa que o
sacramento elevara mediante uma cerimónia."
“doce” e “doçura”, características quase sempre
atribuídas à Lúcia, as quais, além de meiguice e
ternura, podem insinuar também sujeição,
subordinação "Aliás, também a porteira tem
imensa doçura. É com a voz muito doce que a
porteira ao cair da noite se põe a chamar à janela
pela Regina, [...]"
uma mulher submissa, dependente de um
casamento e da importância que havia em se ter
um marido:
"Que ideia triste aquela de a assistente social dizer que uma
mulher é um ser completo. Diante da vela. E quem
atarrachava as lâmpadas do tecto?Quem tinha força para
empurrar os móveis? Quem espantava os ladrões de carros
com dois tiros para o ar, do alto da varanda? Quem desarmava
a cama, empurrava o frigorífico, consertava o carro quando
avariava, reclamava o criado com voz grossa quando saíam a
comer caracóis à beira-mar? Quem enfrentava os polícias
quando na estrada faziam paragem? Quem conduzia e
percebia as coisas do carburador? Quem? Quem? Que papel
imprescindível, que pessoa necessária na vida da porteira."
Marido
O marido trabalha numa oficina, trabalho mecânico;
‌Ele jamais é indicado pelo nome, como se não tivesse uma
identidade;
‌Diante da rotina e submissão a que era submetido no trabalho,
marcadas, sobretudo, pela ênfase no horário, só lhe restava como
alternativa, num processo de libertação, buscar a compensação
em uma vida de aventuras etílicas: "Mas não, entre as cinco e as
sete, o marido prefere passar em sítios que a porteira nem
nomeia, e sair de lá com os olhos cheios do brilho do vidro. Como
se o que se espelhasse nos olhos do marido fosse a vasilha, não o
vinho. Além disso, o marido da porteira tem um vinho erecto,
porque quanto mais toma mais perfila as pernas, a coluna e o
corpo todo. "(p. 12-13)
alcoólatra;
‌por vezes sai do trabalho e não volta pra casa,
pois fica em bares bebendo e possivelmente a
traindo, afinal, ela não sabe onde ele está nessas
horas entre o horário de saída do trabalho e o
horário que ele chega em casa;
Moradores do prédio

Advogado, a assistente social e o médico;


‌se sentem incomodados com o barulho no
apartamento de Lúcia, devido ao fato de o marido
chegar bêbado e gritando seu nome;
Narrador
Narrador observador/heterodiegético: narra em terceira pessoa
Narrador Neutro/Parcial

Protege-a bem.
Protege-a a ela e ao marido dela. Protege o marido da porteira
até às sete. Porque ele trabalha na oficina até às cinco, ainda
que a oficina só feche às sete, às vezes às dez, por vezes nem
feche, e muitos fiquem a trabalhar pelo fim da tarde e pela
noite dentro. O marido da porteira sempre larga às cinco. Ao
quarto para as cinco ele arruma o guardanapo e a marmita
dentro da pasta e sai, mas só chega às sete.
Discurso

discurso direto: dá voz para o marido "Tropeça no sofá da


saleta e chama —Lúcia! Ó Lúcia! "
discurso Indireto Livre: "Não fugirá para o terraço, não
permitirá que ninguém lhe oiça os passos, nem correrá
diante dos brados do marido, Lúcia, ó Lúcia, aqueles gritos
que ele dá, alvoroçando o prédio. Ela mesma estará junto da
porta, e ele não precisará de chamar, porque a verá antes de
qualquer outro objecto da casa."
discurso Indireto: na maior parte do texto
Linguagem
Parágrafos extensos;
‌Frases cadenciadas, frases curtas;
‌Repetições da palavra proteger: A primeira vez que uma informação
aparece, ela indica, ensina a retórica. Repetida,a informação afirma – o
que devemos entender como “torna firme, consistente,” –assim fazendo
problemática e cada vez mais problemática – a realidade cuja
denominação / exibição se reitera. Ao conferir natureza de problema ao
que se diz, a repetição nos encaminha para o aprofundamento do nível
escritural do texto, e somos compelidos a perguntar-nos por que razões
se escreve assim. Simultaneamente, a repetição obriga-nos a enriquecer
o nível proposicional do mesmo texto: tanto mais somos compelidos a
interpretar quanto mais insistem em nos dar, com maiores ou menores
variantes, as mesmas informações. (LEPECKI, 1999, p. 119)
Linguagem

uso de uma linguagem que remete ao silêncio e à


lentidão;
‌O conto se estrutura em forma de uma grande oração:
“Salve, Regina, mater misericordiae, vita, dulcedo, spes,
imensa doçura, salva e vem. [...] bem como agora e na hora
da nossa morte, ámen”

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