Você está na página 1de 21

Cap 7.1(pag 37) – Só mais um dia de trabalho... fácil.

Elas não estavam acostumadas a dormir em um lugar tão bom a muito


tempo. Quatro paredes firmes, uma colchão macio e lençóis limpos fazem muita
falta nestes dias. A noite é tão confortável que horas passam como segundos. Tão
rápido quanto um piscar de olhos. Porém esta paz não iria durar para sempre, tão
pouco por muito tempo.
Jenny é a primeira a acordar e ainda com a vista embaçada consegue ver
alguém em pé encostado na parede próximo a porta. A luz no lugar não ajuda
muito então a pessoa se dirige até a janela e em um golpe rápido e sem hesitar
abre a cortina de uma vez deixando entrar um golpe de luz que atinge bem dentro
dos seus olhos, tão forte que que rapidamente cobre a seus olhos. Ela escuta a
voz:
- Tenham todas um excelente dia! Vamos... acordem... tenho planos para
hoje.
Gisis desperta logo depois da mesma forma dizendo:
- Que droga! Vocês não tinham trancado a porta?!? – Diz com voz zonza
de sono.
Juju acordando está confusa, mas tem certeza que antes de dormir fechou
a porta... Alias, todas as portas. Enquanto elas ainda vão se recompondo aos
poucos Renan aguarda já impaciente na porta:
- Vamos lá pessoal, temos um dia longo pela frente e você ainda vão ter
que comer alguma coisa antes...
Gisis já mais recomposta fala:
- Dia longo!?! Você não disse que iriamos ver o líder da comunidade?!? –
Diz Gisis em tom de desafio.
Renan demonstra um pouco de impaciência ao respirar fundo e olhar para
cima e responde:
- Acho que me precipitei... Existem algumas outras prioridades na
comunidade que não dei a devida atenção.
Jenny fica curiosa rapidamente pergunta:
- Prioridades!? Existem prioridades por aqui!?!
Renan novamente olha para o alto e em uma fala quase que automática
responde:
- Entendam desta maneira... como todo lugar precisa de regras este lugar
também é assim. Tipo “Eu juro fidelidade à bandeira dos Estados Unidos da
América e à República que ela representa, uma nação sob Deus, indivisível, com
liberdade e justiça para todos"... “blablabla”, politica, “blablabla”, hipocrisia,
“blablabla”, falso moralismo e etc... Agora... dá para sairmos logo para o café da
manhã? No caminho explico tudo que quiserem... Prometo.
Depois de alguns minutos eles finalmente saem e vão de encontro ao local
onde todos da comunidade se juntam para as refeições. Não é muito longe,
apenas cinco minutos de caminhada onde eles conseguem ver ainda mais a
comunidade e perceber o quanto o local é vivo e produtivo dando a impressão de
que a praga não atingiu ainda aquele lugar. Naquele chão não pavimentado de
terra batida podem ser vistos crianças brincando, idosos sentados em uma praça,
pessoas trabalhando em construções e ao longo um galpão.
Um galpão muito grande como um lugar que a muito tempo atrás era
usado para guardar aviões. De longe é possível ver símbolos das forças armadas
nas paredes. O local é tão grande que não seria exagero dizer que tem quase
trinta metros de altura. Suas portas tão gigantescas quanto estão abertas
expondo a parte de dentro. Ao se aproximar eles conseguem ver inúmeras mesas
juntas fazendo assim um grande salão de refeições. Várias pessoas já sentadas já
comendo, algumas chegando e outras já saindo. A esquerda da entrada dá para
ver uma fila enorme onde as pessoas entregam algo parecido com moedas para
um soldado e pegam uma bandeja.
Renan encaminha Gisis, Jenny e Juju para o inicio da fila. Quando eles
chegam para pegar as bandejas são questionados por um soldado dentro do
balcão:
- As fichas por favor...
Renan rapidamente intervêm em voz baixa quase que bem próximo ao
soldado:
- Hoje não vai dar, faz aquele esquema.
O soldado visivelmente contrariado responde:
- Hoje não vai dar cara, pessoal já está em cima de mim...
Renan interrompendo novamente e com visível pressa diz:
- Faz assim, você quebra esta e te trago carne extra esta semana. Tudo
bem?
O soldado demora uns dois segundos como se estivesse pensando em
algo, mas concorda ainda um pouco relutante:
- Está bem cara, mas... mas depois conversamos melhor. Tudo bem...
O soldado dá as bandejas não mãos deles e troca os pratos colocando
uma cor diferente. A maioria dos pratos é azul, e ele coloca um prato amarelo.
Gisis estranha a mudança e pergunta:
- Trocaram nossos pratos?
- Todos aqui estão com um prato azul, porque o nosso vai ser diferente? –
Jenny completa.
Renan sem olhar para trás se encaminha para o local onde se pega as
comidas e explicando para elas:
- As cores nos pratos dizem qual comida podem pegar. Com o prato
amarelo vocês podem pegar qualquer coisa que couber no prato.
Juju se espanta com a novidade e fica maravilhada com a notícia:
- Sério mesmo?! Qualquer coisa?
- Tudo que você quiser... Carnes de boi, porco, frango, peixes, bebidas...
até sobremesas com sorvetes, tortas, bolos e tudo mais. – Renan fala enquanto
coloca um pouco de arroz no prato.
Juju se encanta enquanto olha e espera a sua vez de colocar comida:
- Esse lugar pode ser mesmo o paraíso.
- É... Só estamos no momento em falta com carnes, bebidas... estamos
sem sorvetes, tortas, bolos e tudo mais. – Renan diz enquanto ri sem mesmo
mostrar os dentes.
Apesar da piada sem graça o cardápio é variado o que faz elas realmente
ficarem felizes por estarem ali, ao mesmo tempo que quando chegam na seção de
carne eles educadamente ficam se olhando e observam os olhos vidrados de
Renan. Mediante a tanta informação que é dita no som do silencio, elas resolvem
passar esta parte.
O grupo agora procura um canto para poder se sentar todos juntos, e
Renan ajuda:
- Não precisam se preocupar. Tenho uma mesa isolada para estes
momentos.
Ele aponta uma mesa em um local isolado e sem ninguém sentado. Eles
andam pelas pessoas e chegam na mesa e começam a comer e conversar. Gisis é a
primeira a perguntar:
- Este lugar é surreal. Tem comida e pessoas que trabalham. Não tem
como isso ser perfeito. Qual é o truque?
- Truque!?! – Diz Renan estranhando. – Porque tem que haver um truque?
Este lugar é o que ele é.
- Não sei... Lá fora tudo é tão diferente. Violência... Fome... Aqui parede
outro mundo. – Diz Jenny enquanto observa todo o lugar a sua volta.
- Este lugar aqui já foi uma base militar onde as pessoas traziam
sobreviventes. Este lugar recebia suprimentos de quando ainda existia algum tipo
de governo. Até que um dia os soldados simplesmente foram embora deixando
todos os civis para trás. Só levaram o que conseguiram e foi pouca coisa.
- A estrutura está intacta e não existem mordedores aqui dentro. Percebi
que este lugar se vira muito bem. Vocês mesmos fizeram estas bandejas e pratos?
Eles são pesados e brutos. – Diz Juju enquanto verifica o peso dos objetos.
- Você acertou. Grande parte do trabalho é feita pelos trabalhadores na
fazenda.
Juju desde que viu aquele lugar ficou encucada e a palavra “escravos” não
saiu de sua cabeça:
- Vocês não acham errado aquelas pessoas sendo obrigadas a trabalhar
por lá? – Fala com muita preocupação.
- Não se preocupe com elas. São pessoas que tentaram acabar com tudo
isso que vocês estão vendo. Nosso líder não queria matar então criou aquele lugar
para que eles pudessem reparar o erro que cometeram com a sociedade. – Diz
isso enquanto baixa o olhar para a comida e fica calado.
Jenny percebe a rápida mudança e pergunta para ele:
- Preocupado com alguma coisa?
- Não... Não é nada... Pode deixar.- Diz ele ainda sem levantar a cabeça.
Eles continuam comendo normalmente até que repentinamente alguém
coloca o mão sobre o ombro esquerdo de Renan com uma certa força. O
movimento é tão repentino que daria um susto em qualquer pessoa, mas Renan
parecia já esperar isso, porém dá para ver em seu comportamento que isso gera
muito incomodo tamanha a irritação em sua expressão contida. Ele diz
controlando sua raiva:
- Ola Augusto... Quanto tempo? Sabia que estava sentindo a sua falta?
- Não me faça rir. Eu também senti a sua... Assim como senti falta daquilo
que me deve... Lembra?
Ele aperta ainda mais o ombro de Renan enquanto sorri e Jenny percebe a
aproximação de mais duas pessoas atrás deles. Renan só consegue fechar e abrir
os olhos para conter sua raiva enquanto segura o garfo como se fosse derreter
aquele metal. Gisis entra na conversa:
- Renan... Quem é este cara?
Esta fala rapidamente atrai os olhares de Augusto que move toda sua
atenção para elas. Renan responde sem olhar nos olhos:
- Não é ninguém, não precisam se preocupar pois ele já está de saída.
- Não posso sair agora... Podemos ter uma linda amizade nos todos. Por
que não me apresenta suas amigas?
Renan segura o garfo como se fosse explodir enquanto dá uma boa
puxada de ar. Esse movimento chama atenção de Juju que olhando nos olhos de
Renan apenas gesticula negativamente com a cabeça. Em sua mente ela diz “Não,
não faz isso...”, mas não da tempo de dizer uma única palavra pois o problema já
aconteceu. Renan apenas olha para elas e diz:
- Me desculpem...
Em um movimento repentino ele enterra o garfo bem no meio das costas
da mão de Augusto que instantaneamente grita de dor chamando a atenção de
todos presentes no refeitório que se levantam de suas mesas. Aproveitando a
oportunidade Renan pega a cabeça dele e acerta com força na mesa fazendo
augusto ficar zonzo. Os outros dois Seguram por trás Gisis e Jenny, porém eles
não esperavam suas reações rápidas.
Jenny utiliza seus pés apoiando na mesa e empurrando seu corpo para
trás. O impulso é tão forte que projeta os dois para a mesa mais próxima fazendo
ambos rolarem por cima de vários pratos de comida e caírem do outro lado. Ele
cai de cabeça no chão o que dá tempo de Jenny pensar rápido e pegando uma
faca no chão a coloca no pescoço dele dizendo:
- Nem pense em se mexer filho da puta!
Neste mesmo tempo Gisis morde uma das mãos do seu agressor e
consegue se soltar dos braços. Ela aplica uma cotovelada no rosto dele, porem ele
é forte e aguenta o ataque e mesmo um pouco tonto consegue segurar com as
duas mãos no pescoço dela que utiliza seu joelho para colocar entre ela e o
agressor aliviando assim a pressão e ajudando a respirar. Ela tenta olhar a volta
buscando uma ideia ou quem sabe ajuda e pode ver Renan sentando ainda
comendo normalmente. Ao lado Juju está se levantando pois foi derrubada por
um dos agressores.
Juju tenta retirar os braços do agressor de cima de Gisis mas ele é muito
forte e não consegue. Neste momento parede durar uma eternidade, mas se
passa apenas em um segundo. Quando Juju percebe alguma coisa encostar nela e
quando ela percebe, era uma bandeja que Renan havia empurrado na direção
dela. Juju entende a mensagem, pega a bandeja e acerta em cheio o rosto do
agressor fazendo ele rapidamente soltar Gisis e cambalear para trás. Gisis não
perde tempo e aplica um chute frontal bem no externo do agressor fazendo ele
sair pela janela do galpão arrebentando os vidros e caindo na parte de fora
inconsciente. Antes mesmos que elas pudessem respirar são rendidas por um
grupo armado com uniforme militar dizendo:
- Parados e mantenham as mãos onda podemos ver. Sem movimentos
bruscos!!!
-Fiquem todos calmos... Foi só um mau intendido. Nos levem para a cede
e vamos poder explicar tudo. – Renan diz enquanto termina de limpar a boca com
um guardanapo.
Exatamente isso que acontece. Os soldados revistam o grupo e levam
todos eles para a centro administrativo da comunidade e os agressores vão junto
com Augusto para a enfermaria. Depois de uma caminhada eles conseguem ver
um casarão estilo muito antigo. Estilo colonial de três andares em excelente
estado de conservação. Assim que chegam próximos um soldado interrompe. Ele
é informado por outro soldado sobre o assunto que vão tratar:
- Este é o grupo responsável pela confusão no refeitório.
- Algum ferido ou morto?
- Só ferido, mas nada grave.
- Então vamos.
Assim que o grupo se encaminha para entrar na casa eles são
interrompidos pelo soldado que diz:
- Desculpem, mas a partir daqui só membros.
- Desculpem meninas... Sabem como é... Deixem os adultos conversarem
para resolver as coisas, mas podem deixar que vocês estão em boas mãos. Afinal
de contas nunca coloquei vocês em furada... Ou já coloquei? Bem... acho que não,
não lembro. – Diz enquanto se afasta rindo.
A partir deste momento são os minutos mais angustiantes de suas vidas. A
espera dura pouco mais de meia hora, porém para elas parece que é uma
eternidade. Elas ficam acompanhadas dos soldados o tempo todo até que a
espera finalmente tem um fim. Renan sai da casa totalmente sério e sem olhar
para o grupo. Assim que ele chega perto elas imediatamente perguntam:
- E ai, como foi? – Diz Gisis querendo saber alguma informação com
expressão preocupada.
- Anda... fala alguma coisa. – Diz Jenny preocupada com a demora na fala.
Juju apenas segura o rosto com as duas mãos e se prepara para a pior
notícia. Até que Renan finalmente fala:
- Olha... Eu sinto muito por vocês... – Respira fundo. - ...Mas vocês vão ser
expulsas.
A notícia cai como uma bomba no grupo que fica chocado.
- OQUE!?! A CULPA NÃO FOI NOSSA! – Diz Gisis sem se conter.
- ELES NOS AGRDEIRAM! FOI LEGITMA DEFESA! – Diz Jenny muito irritada
e gesticulando.
Juju apenas olha para o chão simplesmente não acreditando no que está
acontecendo.
- SEU BABACA!!! OLHA O QUE VOCÊ FEZ!!! – Diz Gisis já mostrando sinais
de raiva.
Todos ficam em silencio por alguns segundos. Até que Renan não
consegue se segurar e solta uma risada bem baixinha que assim que ela escapa se
transforma em uma gargalhada alta e sorridente... Quase chorando de rir e diz:
- Vocês acharam mesmo que iria deixar isso acontecer com vocês?!? É
Sério!?! Vocês estão comigo e eu protejo vocês de tudo... Lembrem-se disso.
Vocês só terão que reparar os danos.
- Como assim reparar os danos? – Diz Jenny estranhando a palavra.
- Não vamos ter que ir para aquele lugar, não é? – Diz Juju preocupada e
lembrando aquele lugar onde pessoas são forçadas a trabalhar.
- Não... Claro que não. Isso não vai ser problema para vocês. Vai ser
aquela basteirada de dinâmica de grupo, terapia de controle da raiva e por aí vai.
Vocês vão gostar. A noite passo na casa de vocês para levara vocês.

*******

Conforme vai chegando a noite, Gisis, Jenny e Juju conversam na sala


sobre o que aconteceu naquele dia e sobre o que esperava por elas naquela noite.
Suas ideias estavam tão no escuro quanto aquela sala que era iluminada apenas
por um lampião fraco. Gisis já havia participado de dinâmicas de grupo antes e dá
a sua experiência:
- Não sei mesmo como isso pode acontecer aqui, mas já participei de
algumas.
- Como funcionam estas dinâmicas? – Diz Jenny sentada no sofá apoiando
os cotovelos nos joelhos enquanto está inclinada para frente.
- Elas variam muito, mas no geral seremos separados em grupos e vão nos
apresentar um problema. Cada grupo tem que realizar as soluções de acordo com
as ferramentas que eles dão.
- ...Mas o que eles querem tirar destas dinâmicas? – Diz Juju intrigada pois
não consegue entender a ligação entre a dinâmica e sobre “reparar danos” que
Renan havia falado.
- Tudo bem... eu me entrego. Eu já coordenei algumas dinâmicas de grupo
onde trabalhava. Nestas dinâmicas procuramos encontrar características nas
pessoas como liderança, comunicação, estrategista, desinibição e etc...
- Ele falou algo sobre controle da raiva... Já ouvi falar sobre isso, mas
realmente não sei como poderia funcionar aqui. – Diz Juju tentando raciocinar
com o que conhece.
- Desta eu posso ter experiência. Quando atirei em um suspeito minha
agencia me fez participar deste tipo de coisa. Era basicamente falar sobre o que te
deixava puto enquanto batia em alguma coisa.
- E isso funcionava? – Diz Gisis estranhando a situação.
- Até que funcionava sim. – Diz Jenny com um leve sorriso no rosto
enquanto lembra do como era.
- Não sei vocês, mas eu ainda estou encucada com tudo isso. – Diz Gisis
preocupada com o futuro.
- Tudo está muito fácil, as coisas estão se resolvendo sozinhas e sabemos
que nunca foi assim lá fora. Tem que haver algum problema. – Diz Jenny não
acreditando que aquele lugar pode ser o que é.
- Temos alguém do nosso lado... Ele está nos ajudando a nos encaixar
neste lugar novo. – Diz Juju sem muito acreditar no que está dizendo.
- Você está falando de quem? Aquele monstro? – Gisis não precisa dizer
um nome, pois sua fala já ilustra na cabeça delas de quem se trata.
- Ele sempre fez algo que primeiro fosse ajudar ele e ajudar outros sempre
foi apenas consequência.
- Eu podia estar morta agora sabia? Ele me ajudou e é só isso que
importa... – Diz Juju revoltada com a dúvida das amigas.
- E ele ter te ajudado é o único motivo que nos faz dar algum credito a ele.
– Diz Gisis segurando a mão de Juju com um sorriso amigo.
Elas são interrompidas por batidas apressadas na porta. Isso chama
atenção dela até escutarem uma voz:
- Podem sair... Está na hora. – Era Renan do lado de fora e até sua voz soa
apressada.
Assim que elas abrem a porta encontram uma Kombi e dentro dela já
estão Carol e Lucas. Do lado de fora está Renan que encaminha elas diretamente
para dentro. Renan também entra no carro e Jenny não consegue ignorar o ar de
preocupação que está aparente no comportamento e na expressão de Renan. Ele
está inquieto e ela sabe que precisa de algo muito grande para deixar ele assim.
Essa inquietação acaba atingindo todo o grupo. Renan olhando para trás diz a
eles:
- Não importa o que acontecer... Se mantenham juntos. Nunca... Em
hipótese nenhuma se separem. Hoje vocês serão testados...
O grupo não entendo tamanha preocupação expressa em sua fala e
agumenta:
- Qual o motivo de tanta preocupação? – Diz Gisis desconfiando.
- Você mesmo disse que era só uma dinâmica, não é? – Diz Jenny
completando Gisis.
- Como isso poderia ser tão ruim? – Diz Juju enquanto olha penas janelas
laterais para buscar alguma coisa meio a escuridão.
- Sabe... Vocês tem razão, mas quando estiverem sendo avaliado ajam
como suas vidas dependessem disso, tipo... Façam o que melhor vocês sabem.
Esta informação se contrasta com tudo que elas haviam pensado. Como
uma dinâmica de grupo poderia ser tão preocupante. Milhares de perguntas
passam por suas cabeças. Será que ele está brincando novamente? Será que está
com medo que elas falem algo sobre ele? São dúvidas que nem mesmo respostas
podem ter. Elas são levadas através da escura comunidade. Passam por casas
apagadas, passam por locais que nem mesmo existem casas e percebem o quanto
a comunidade é grande e ainda pode ser expandida.
Depois de muito andar o grupo consegue avistar ao longe o que parece
ser um local que funciona como deposito. Não existe estrutura formada, é uma
enorme quantidade de containers formando uma parede e no meio existem
alguns refletores que iluminam o lugar. A poeira faz uma nuvem de fumaça que
deixa o lugar ainda mais frio do que parece.
O carro é parado em próximo a alguma arvores no meio da mata escura.
O grupo salta e eles vão até próximo aos containers e encontram dois homens e
um deles é Augusto. Assim que eles chegam perto conseguem ver a mão de
Augusto enfaixada e ele apresenta um olho roxo. Ele, com cara de poucos amigos,
logo diz:
- Até quem enfim. – Olha para a outra pessoa . – Levem o grupo dele para
o container 8... Vou levar este aqui para conversar com o chefe.
Renan rapidamente intervêm dizendo:
- Espera... Espera um pouco. Não posso nem dizer algo motivacional para
eles?
Faz o que você quiser... Só quero eles no container o mais rápido possível.
– Diz Augusto e logo depois dá as costas e vai embora.
Renan olha para o grupo com uma expressão de confiança e diz:
- Algumas vezes precisamos cavar bem fundo dentro de nós mesmos para
podermos encontrar as ferramentas certas para enfrentarmos as adversidades.
O grupo estranha aquilo e não entende exatamente o que significa. O
outro sujeito leva o grupo enquanto Renan fica olhando estático eles se afastando
cada vez mais e mais até sumirem meio a um emaranhado de container.
Eles andam por uns corredores de container até chegarem em um
container azul enferrujado com um numeral oito pintado à mão desgastado tão
antigo que quase não dá para ver. Neste container tem uma porta de metal
gradeada. O sujeito abre e pede que eles entrem. Assim que eles entram o sujeito
fecha a porta o sujeito entrega ao grupo algumas faixas de pano da cor azul e
pede que eles amarrem estas faixas no braço. Gisis pergunta:
- Tudo bem, mas para que elas servem?
- Servem para todos saberem que vocês são da mesma equipe. – Diz o
sujeito sem olhar na cara deles e já saindo.
O grupo passa do estranhamento, passa pela preocupação e chega no
estágio apreensão. O grupo fica ali por alguns minutos e conseguem ouvir outras
pessoas do lado de fora e muito outros barulhos de portas e dobradiças metálicas
se fechando. A sua frente tem uma porta de container que apenas passa uma
fresta de luz muito forte. Eles tentam ver algo, mas a escuridão lá dentro somada
ao excesso de luz lá fora impede que algo seja visto. Eles aguardam até que
finalmente algo acontece. Uma voz alta como se fosse um megafone é escutada.
Uma voz bonita, leve e alegre como de um apresentador da época em que ainda
existiam televisões. Ela diz exatamente:
- Sejam todos muito bem-vindos ao evento número 63. No dia de hoje
veremos o ser humano fazendo aquilo que ele faz desde as épocas mais
primitivas. Os competidores já estão apostos, os mordedores serão soltos a
qualquer momento e vocês lancem sua sorte e escolham o grupo que vai
conseguir a chave e vai chegar vivo até o final e abrir os portões para a sua
liberdade.
Aquelas palavras enterram como facas bem no estomago de cada um do
grupo. Eles simplesmente não sabem mais o que fazer. Eles se entreolham e
mesmo meio ao escuro é possível ver o branco de seus olhos arregalados como
faróis que buscam um socorro a distância. No fundo eles pensam que foram
vendidos, mas acreditam que foram traídos. Jenny é a primeira a se pronunciar:
- Vocês estão escutando isso? – Sua mão vai instintivamente a cintura
para buscar uma arma que não está lá.
- Isso não é possível. Vocês ouviram mordedores? – Diz Gisis não
acreditando no que acaba de ouvir.
- É isso mesmo... Aquele filho da puta fodeu tudo outra vez! – Diz Carol
olhando para o grupo sem nem conseguir piscar.
- Vamos todos fica calmos... Precisamos nos concentrar e achar uma saída
para isso... E rápido! – Diz Lucas tentando se controlar.
- Não estou acreditando nisso... Ele... Ele não faria isso... – Diz Juju
olhando para o chão como quem buscar uma resposta.
Gisis fica irada... Tomada de ódio vai na direção de Juju e quase gritando
diz:
- Você só pode estar de brincadeira! Olha onde nós estamos! Olha onde
aquele babaca nos colocou! Ele ainda teve a coragem de dizer aquela merda antes
de irmos! – Diz quase com o rosto colado no de Juju.
Aquela fala bate em Juju e como em um estalo, uma coisa passa em sua
cabeça. Como se tivesse despertado de um sono com um susto Juju arregala os
olhos e sobe sou olhar na altura do olhar de todos. Por não lembrar muito bem,
Juju pergunta ao grupo:
- Ele é sempre deixa algo... Sempre um plano. Vocês se lembram... Deve
ter alguma coisa. Algum de vocês se lembram da ultima coisa que ele disse antes
de sairmos?
- Não lembro mesmo... não tenho idéia! – Diz Lucas e continua pensando.
- Olha o que vocês estão falando... Estamos prestes a morrer e você
tentando lembrar o que um lunático falou?!? - Diz Carol desesperada.
Neste momento Jenny e Gisis param para pensar e puxar suas memorias.
Para elas de alguma forma aquilo faz sentido. Elas se esforçam ao máximo e
dizem:
- Não lembro exatamente... mas tinha algo haver com “precisamos cavar
bem fundo dentro de nós mesmos para”... para... Para alguma coisa!! – Gisis põe
as mãos a cabeça puxando cada palavra, mas nada sai.
- Isso... Isso mesmo... algo tipo “...podermos encontrar as ferramentas
certas para enfrentarmos as adversidades”. – Gisis e Jenny se entreolham como se
tivessem descoberto o mapa do tesouro ou a cura para o apocalipse zumbi.
- Tudo bem, mas algum de vocês sabe alguma coisa para nos tirar daqui? –
Diz Lucas sem entender o que significa a frase.
Neste momento Carol olha pela fresta e consegue ver um portão se
abrindo. A luz que estava virada para os containers agora ilumina um portão
metálico a longe. Duas pessoas abrem o portão pesado com dificuldade e logo
depois saem correndo. Depois de alguns segundos ela vê algo muito ruim.
Walkers agora começam a aparecer pelo portão aos bandos. Ela consegue contar
pelo menos vinte cinco e se vira para o grupo para explicar o que está vendo:
- Que porra!!! Eles estão enchendo este lugar com estas merdas podres!!!
Agora estamos fodidos de vez!
- Tudo bem pessoal... Vamos com calma. Deve haver alguma coisa que
possamos fazer. – Diz Gisis indo para o centro do grupo para manter o foco.
- Analisando a fala dele, deve ter algo aqui... Ele usou palavras como
“enterrado”, “ferramentas” e adversidade... – Diz Gisis usando sua experiencia e
tentando analisar as palavras de Renan.
- Tudo bem, mas temos que começar a cavar com as mãos? – Diz Lucas
sem saber o que fazer.
- Então seja lá que porra vocês vão fazer façam logo... Está cheio de
mortos aqui fora! – Diz Carol sem tirar os olhos de fora.
Gisis toma as rédeas da situação e diz ao grupo:
- Então vamos vasculhar este lugar... Não é grande... Parece que não
temos escolha. Estamos com pouco tempo!!!
Não demora muito, mas o desespero torna cada segundo uma tortura.
Principalmente quando alguns walkers do lado de fora estão já a gente da porta
do container e estão batendo como se quisessem fazer a sua ceia antes de dormir.
A eternidade tem seu fim quando Juju acaba pisando em algo que ela tem a
impressão que se desloca. Ela se abaixa e encontra uma placa de metal solta no
chão. Assim que ela remove descobre um buraco e pede ajuda dos outros:
- Pessoal me ajudem aqui. Descobri algo.
Eles se aproximam e Juju é a primeira a colocar a mão no buraco e tirar
um objeto. Uma pequena lanterna e assim que ela acende encontra um papel
enrolado . Ela abre e o le:

“Desculpe não poder estar aí para toda a diversão, afinal eu não queria
mesmo. Deixei neste buraco coisas que vocês podem precisar lá fora. Coisas para
sua proteção é claro. Coloquem estes objetos por baixo de suas roupas e não
deixem a mostra. Acreditem em mim quando digo que não vão querer ser pegos
trapaceando. “

Elas iluminam o buraco e encontram diversos itens casuais como revistas,


peças de couro, pedaços de cano de PVC cortados, cintos e muita fita silver tape.
Eles simplesmente não têm tempo para pensar. Felizmente eles estavam
preparados para o frio da noite com roupas longas. Eles precisam agir e colocar
todo aquele material para proteger partes do seu corpo por baixo das roupas. Eles
procuram colocar os pedaços de canos nas pernas como caneleiras enquanto
prendem o resto com fita nos braços e antebraços e Gisis tem uma ideia:
- Não podemos deixar isso assim... Temos que colocar de volta no buraco.
Então assim eles o fazem. Escondem todas as sobras no buraco e
encobrem com a placa de metal. Gisis apenas guarda o bilhete com ela caso
alguém encontre o buraco. Tudo isso a tempo e escutar em alto e bom som a voz
que vem do megafone do lado de fora:
- Está tudo pronto!!! Apostas encerradas!!! Competidores prontos!!!
Mordedores prontos!!! Galinha pronta!!! Vamos para a ação!!! Liberem os
portões!!! – Grita a pessoa como se estivesse anunciando um evento de
magnitude mundial e começa a tocar uma musica. Nada mais nada menos do que
“Don’t Stop Me now” da banda Queen.

“Esta noite eu vou me divertir de verdade;


Eu me sinto vivo;
E o mundo, eu vou virá-lo do avesso, yeah!
Estou flutuando por aí em êxtase;
Então não me pare agora;
Não me pare;”

Eles não têm nem tempo de pensar no que uma galinha faz em um
ambiente como aquele, apenas se põem apostos para encarar seja lá o que vier
pela frente. Lucas se põe a frente do grupo por ser o maior e mais forte então sem
qualquer tipo de anuncio um barulho de correntes ecoa pela parte de fora do
container e a porta se abre liberando de cara três walkers que já tentam entrar no
container, porém Lucas em um ato repentino corre na direção dos walkers e dá
um encontrão tão forte neles que acaba jogando ele para o lado de fora fazendo
ele relembrar os bons tempos em que defendia um quarterback quando jogava
futebol americano na sua universidade. Rapidamente Gisis diz:
- Vamos aproveitar a oportunidade... Vamos sair daqui e vamos ficar
juntos.

“Porque eu estou me divertindo, me divertindo;


Eu sou uma estrela cadente saltando pelo céu;
Como um tigre desafiando as leis da gravidade;
Eu sou um carro de corrida passando por aí, ousado como Lady Godiva;
Eu vou, vou, vou, vou;
E nada vai me deter;
Eu estou queimando pelo céu, yeah!
Duzentos graus;
É por isso que me chamam de Senhor Fahrenheit;
Estou viajando na velocidade da luz;
Eu quero transformá-lo num homem supersônico;”

Assim que eles saem do container conseguem ver uma cena desoladora.
Eles estão no que parece ser uma arena onde o chão é uma mistura de terra
batida e pedaços humanos podres. Ao lado existem outros containers e ao centro
um mar de walkers. São tantos que eles até se esbarram entre si. Jenny encontra
umas setas na parede e acompanhando percebe que elas levam até um portão
grandes de madeira então ela diz:
- Olhem!! É ali... a saída... temos que chegar lá rápido. – Diz ela como se
quisesse alcançar o pote de outro do outro lado do arco íris.
Infelizmente, para o grupo, o “pote de ouro” estava do outro lado do mar
de walkers. Eles olham a cima, bem onde estão as cadeiras da arena e conseguem
ver cinco pessoas e entre elas estão Renan e Augusto. Só que Renan está
separado do resto do grupo. Enquanto os outros estão em pé, alegres, torcendo
como crianças em um estádio de futebol e empolgados com o que estão vendo,
Renan está sentado preocupado e tenso como se seu time estivesse perdendo
faltando dois minutos para acabar o jogo.

“Não me pare agora;


Eu estou me divertindo tanto;
Estou aproveitando pra valer;
Não me pare agora;
Se você quiser se divertir, é só me ligar;
Não me pare agora (porque eu estou me divertindo);
Não me pare agora (sim, eu estou me divertindo);
Eu não quero parar de jeito nenhum;”

Apesar do desespero do grupo, Gisis consegue manter o foco:


- Vamos se manter juntos. Vamos pelas beiradas e com um pouco de sorte
vamos conseguir chegar no final.
- Se formos pela lateral vamos sem engolidos por uma onda destas
merdas. – Diz Carol visivelmente alterada.
- E se formos pelo meio vamos ficar cercados... aí acabou e vez. – Diz
Jenny reforçando o que Gisis planejava.
- Então vamos fazer logo... Só sei que não podemos ficar parados por
muito tempo. – Diz Juju olhando para os lados.
Parecia uma profecia pois assim que eles andam três walkers se desgarra
do meio da manada e vão em direção ao grupo. Lucas agarra o primeiro pela testa
e aplica um chute em suas pernas. Isso faz com que o walker caia no chão e ele
esmaga o seu crânio com os pés liberando um jato de sangue escuro em sua calça
e sapatos e um som de esponja molhada.

“Eu sou um foguete em direção a Marte;


Numa rota de colisão;
Eu sou um satélite, estou fora de controle;
Eu sou uma máquina de sexo pronta para recarregar;
Como uma bomba atômica prestes a;
Oh, oh, oh, oh, oh, explodir;”

Um dos walkers vai na direção do grupo e Gisis e Jenny atacam ele. Jenny
segura o walker com alguma dificuldade e fala para Gisis:
- Pega aquele ferro... Acerta a cabeça dele... Rápido!!! – Diz Jenny
perdendo as forças pois o walker é um gordo com um macacão de fazendeiro
rasgado e sem metade do rosto.
Gisis age prontamente e antes que de tudo errado Gisis pega um
vergalhão no chão e fura a nuca do walker deixando sair um liquido preto e
malcheiroso.
O outro walker chega pelo lado de Juju que sem perceber vai se afastando
de costas e acaba esbarrando em outro walker que estava por perto. Carol age
rápido e consegue se livrar do primeiro walker com um pedaço grande de vidro
que encontrou no chão enterrando ele bem no olho e depois empurrando para
dentro com um soco. Porém não foi rápido o suficiente pois o outro walker
consegue alcançar o braço de Juju e aplica uma boa mordida em seu braço
enquanto o grupo observa em choque. Gisis é a primeira a gritar:
- NÃÃÃÃÃOOOOOO!!! – Um voz tão alta e vinda do fundo de sua garganta
que mesmo meio a tantos walkers e gritos soa como se fosse um tiro.

“Estou queimando pelo céu, yeah!


Duzentos graus;
É por isso que me chamam de Senhor Fahrenheit;
Estou viajando na velocidade da luz;
Eu quero transformá-la numa mulher supersônica;”

No susto Juju consegue puxar seu braço, mas o walker não desiste e
continua partindo para cima. Lucas age rápido e consegue aplicar um chute bem
no plexo do walker fazendo ele cair no chão e Jenny rapidamente utiliza o
vergalhão para furar o crânio e controlar a situação. Todos olham assustados a
situação e observam Juju que agora segura seu braço direito, mas ela não está
assustada, não está com dor. Ela está com uma expressão de alegria e surpresa.
Quando olham para a boca do walker no chão apenas conseguem ver bastante
pano e papel. A proteção colocada em seu braço funcionou perfeitamente e o
alivio no grupo é unânime.

“Não me pare, não me pare, não me pare;


Hey, hey, hey;
Não me pare, não me pare, ooh, ooh, ooh;
Eu gosto disso;
Não me pare, não me pare;
Se divirta, se divirta;
Não me pare, não me pare;”

O Grito apenas atraiu mais olhares de walkers. Eles estavam começando a


ficar cercados... Agora estão cercados e atraindo a atenção como um sino de
igreja soando durante a silenciosa madrugada. Eles precisam sair daquele lugar
urgentemente pois não importa a quantidade de walkers que eles derrubem, a
impressão que tem é que existem ainda mais. Gisis tenta olhar a situação como
um todo e busca uma solução rápida para algo que a única solução rápida é uma
morte lenta e dolorosa enquanto se é mastigado por uma multidão de walkers
que agora caminham na direção deles.
Como um flash algo chama sua atenção. Ela percebe que eles nunca vão
dar vazão a quantidade de walkers pois alguns metros à frente deles existe um
portão aberto que eles não param de entrar e ao que parece a música cada vez
mais os atrai para dentro. Ao perceber isso ela alerta ao grupo:
- Precisamos fechar aquele portão... Eles ainda estão entrando e se
continuar assim não vamos conseguir. Encontrem algo para se defender, fiquem
juntos e acertem qualquer coisa que se aproximar. – Diz com uma voz firme e que
todos conseguem entender.
Ela é prontamente seguida pelo grupo. Eles vão praticamente abrindo
caminho frente a horda de mortos como desbravadores que adentram uma
floresta desconhecida. No seu caminho deixam uma trilha de corpos temporário
pois esta trilha vai se fechando pouco a pouca conforme eles vão passando. O
caminho vai cada vez ficando mais difícil e denso conforme vão chegando perto
do portão.
Assim que chegam eles põem em prática o que haviam falado e tentam
fechar a passagem. É um portão de correr horizontal grande e pesado. Gisis
rapidamente começa a empurrar. Ela logo é acompanhada por Jenny que também
ajuda. Lucas, Carol e Juju tentam ajudar, mas algo acontece. O portão
simplesmente não anda mais, ele travou e não está se movendo. Quando
observam existem alguns walkers que estão presos ao portão. Gisis e Jenny saem
para pode tentar resolver o problema que parece se agravar a cada segundo pois
além do portão estar travado, parece que ele agora faz força para abrir. Muitos
walkers já estão ao redor deles. Elas facilmente limpam o trilho do portão
removendo os pedaços de corpos. Enquanto isso algo acontece na velocidade de
um piscar. Alguma coisa rápida ataca Carol a segurando e puxando pelos cabelos.
Carol consegue se desvencilhar e mesmo caída aplica um chute no joelho fazendo
aquela figura estranha cair. Ela sobe em cima e rapidamente aplica dois golpes
com uma barra de ferro que havia encontrado bem na cabeça. Ela acha estranho,
mas não tem tempo de processar a informação e volta para poder empurrar o
portão.
Gisis e Jenny estão destruindo vorazmente os walkers que se aproximam e
Lucas, Carol e Juju empurrando o portão com toda força que lhes restam. Carol
com um voz esforçada e quase sem folego fala:
- Tem pessoas... Tem pessoas vivas aqui além de nós!
A fala de Carol parece quase não audível naquela situação, mas as
palavras “pessoas vivas chama atenção” e faz a percepção do grupo aumentar
naquela situação. Enquanto eles lutam pela sua sobrevivência e para fechar
aquele portão, conseguem observar que do outro lado. Existem duas pessoas com
marcações vermelhas nos braços que estão bem em frente ao portão de saída e
parecem estar em situação bem pior do que a deles pois estão em menor
número. A cena a seguir não é agradável a quem olha de fora, mas parece que faz
algumas pessoas da “plateia” feliz pois aquelas duas pessoas estão buscando uma
maneira de abrir o portão que resiste a todo custo. Não demora muito para eles
serem engolidos pela horda de mortos e sumirem.

“Ooh, estou queimando pelo céu, yeah;


Duzentos graus;
É por isso que me chamam de Senhor Fahrenheit;
Estou viajando na velocidade da luz;
Eu quero transformá-lo num homem supersônico;”

A cena anterior afeta o grupo, mas não os deixa para baixo, eles ficam
desesperados e com a percepção do que acontece a sua volta queimando a pele
de tanta adrenalina. Assim que o portão se fecha eles não têm tempo de
comemorar e vão rápido para um setor onde existe um espaço maior entre os
mortos. Tão grande que chega a fazer quase um buraco e isso dá a eles mais
tempo para respirar. Estão tão sobrecarregados de adrenalina que tem a
impressão de ver uma galinha correndo como quem corre pela própria vida e
pendurada nela como um cordão tem uma chave. Juju rapidamente exclama:
- Vocês acabaram de ver o que eu vi?!
- Vocês também viram aquela galinha, não é? – Diz Lucas se tirar os olhos
dos walkers a sua volta.
- Quero que alguém me convença que ela não estava usando a porra um
cordão com uma chave... - Diz Carol tensa com os walkers se aproximando.
- É verdade sim... Tinha um grupo porto do portão da saída e eles estavam
tentando abrir o portão, acho que eles não tinham exatamente esta chave. – Diz
Gisis já arquitetando um plano.
- Que merda! Vamos ter que nos virar para resolver isso... – Diz Jenny já
acertando o primeiro walker que já se aproximava do grupo.
- Vamos fazer assim! Eu, Lucas e Juju vamos liberar o espaço até o portão,
vamos abrir caminho para vocês. Jenny e Carol busquem aquela galinha e peguem
aquela chave o mais rápido que conseguirem.
Assim que eles partem para a ação Lucas corre como uma bola de boliche
derrubando quantos walkers ele consegue pelo caminho até o portão. Gisis e Juju
vão dando cobertura e acertando a cabeça dos walkers que estão no chão com
objetos pontiagudos que encontraram pelo chão. Enquanto isso do outro lado
Jenny e Carol correm entre a multidão de walkers atrás de uma galinha que vale a
vida deles. Naquele momento tanto a galinha quanto as duas parecem lutar por
suas vidas e demonstram isso em sua vontade de correr e se livrar dos walkers.
Ambas parecem incansáveis neste objetivo até que finalmente Carol usa da sua
experiência e buscando ar diz:
- QUE PORRA!!! Não vamos conseguir assim! Não temos armas e ela é
mais rápida!
- Então o que vamos fazer!? – Diz Jenny começando a ficar sem folego.
- Vamos nos separar e cercar ela. – Diz Carol já se afastando de Jenny.
O plano parece funcionar pois Carol busca uma outra rota desviando dos
walkers e Jenny continua correndo atrás da galinha. Carol dá uma volta e percebe
a galinha indo em sua direção, porém mais à frente e bem mais rápida. Jenny dá
um impulso final e tenta alcançar a galinha em seu último folego e não consegue
caindo ao chão e se arrastando meio a terra molhada de sangue escuro. Carol
percebe que ela passará bem a sua frente e toma a atitude de empurrar um
walker na direção dela. O plano funciona... E assim que Carol empurra ele cai bem
em cima da galinha que é esmagada com o peso, porém o plano não contava com
que o walker agora está tentando comer a galinha... Com chave e tudo, porém
Jenny cambaleando chega a tempo de acertar a cabeça do walker com um
martelo velho que encontrou no chão.

“Não me pare agora;


Eu estou me divertindo tanto;
Estou aproveitando pra valer;
Não me pare agora;
Se você quiser se divertir, é só me ligar;
Não me pare agora (porque eu estou me divertindo);
Não me pare agora (sim, eu estou me divertindo);
Eu não quero parar de jeito nenhum.”

Elas já com a chave nas mãos correm até o portão aproveitando um pouco
do espaço aberto por Gisis, Lucas e Juju. Sua passagem pelo meio do corredor de
mortos aberto se assemelha a passagem dos hebreus pelo Mar Vermelho pois a
cada metro atravessado um metro se fecha atrás delas. Gisis, Lucas e Juju tomam
conta da porta como guardas enquanto Carol e Jenny se aproximam com a chave.
Gisis ainda observa que existem pessoas vivas que lutam entre os mortos por suas
vidas... Não muitas pessoas, ela consegue ver no máximo umas cinco e algumas
até com marcas que parecem mordidas.
Assim que Jenny e Carol chegam ao portão Carol já se encaminha para
ficar de guarda enquanto Jenny parte para a fechadura do portão. O grupo tem a
chance de ver o mar de mortos lentamente avançando sobre eles, agora como
uma massa única e uniforme de corpos humanos reanimados. Existem walkers de
todas as maeiras, soldados, fazendeiros, engravatados e todos eles com algo
bastante em comum... Estão mortos e estão com fome.
Jenny posiciona a chave grande na fechadura e tem dificuldade para abrir
a porta. Por ser grande a chave fica muito bamba na fechadura e dificulta a
operação do miolo da fechadura. A medida que a porta demora para abrir a
tensão do grupo não demora para aumentar. Jenny tenta controlar o nervosismo
pois só atrapalha a porta para abrir. Lucas já bem próximo a um walker diz:
- Jenny... Se puder abrir mais rápido tudo bem.
- Vamos Jenny... Vamos rápido! – Diz Gisis suando de nervosa.
- ABRE LOGO ESSA PORRA!!! – Diz Carol gritando.
Os próximos movimentos acontecem quase que simultaneamente. Lucas
se vê cercado e aplica um chute no primeiro walker mais perto. O grupo logo ouve
de trás um barulho específico que soa como uma boia de salvação em uma
tempestade em alto mar. Como mágica a fechadura se abre e Jenny percebe que
nem tinha colocado a chave na fechadura. Jenny gritando diz:
- VAMOS!!! VAMOS RÁPIDO!!!
A situação ajuda muito as pessoas a reduzir suas expectativas, reduzir
seus medos e até mesmo sua avaliação sobre diversas situações. Em um normal
este grupo dificilmente entraria naquele ambiente extremamente escuro que se
apresentou. O desespero é tanto que nem reparam na poeira e no cheiro de mofo
acumulado de um lugar que não é aberto a muito tempo. O grupo entra correndo
e quando a luz fraca do lugar acende eles dão de frente com cinco homens
fortemente armados com fuzis AK’s e M16. Neste momento cada batida do
coração pode ser ouvida por eles, cada segundo se torna séculos e uma voz é
ouvida de trás destes homens. A voz diz com um tom autoritário e forte sem
gritar:
- Se abaixem agora!!!
O grupo sem pensar duas vezes o faz quase que se jogando no chão
rapidamente. Os disparos daqueles cinco quase que iluminam plenamente o
lugar. Eles soltam uma série de disparos concentrados nos mortos que estão a
porta. Abaixo fechando os olhos e ouvidos o grupo se encolhe quando cada
capsula quente toca seus corpos como uma chuva que desce quente, mas
trazendo esperança de vida. Com os mortos caindo aos montes dois homens vão
até o portão e fecham ele impedindo que mais mortos cheguem perto.
A porta se fecha e o ambiente se acalma. O grupo com os ouvidos zunindo
vai lentamente se levantando e recobrando a consciência do que existe a sua
volta. Assim que o grupo volta sua atenção para cima o grupo consegue ver sete
pessoas, cinco homens armados com fuzis, um armado com uma pistola grande e
cromada e o outro é Renan que só olha para baixo e mal consegue encarar o
grupo. Carol ao ver isso tenta partir para cima de Renan:
- SEU FILHO DA PUTA!!! QUERIA NOS MATAR SEU BABACA!?! – Diz aos
gritos, mas é contida por um dos homens armados com fuzil.
Renan olha para o grupo e parece se assustar com alguma coisa. Ele olha
para o sujeito com pistola e diz:
- Eles estão emocionados... Será que eu poderia dar um abraço neles já
que não vamos mais nos ver? – Diz como um cão abandonado sem ao menos
olhar para alguém enquanto fala.
O sujeito responde sem ao menos pensar e logo vira de costas:
- Você é quem sabe... Mas seja rápido. Alexsander está esperando para
falar com eles.
Renan olha para o grupo que demonstra para ele um desprezo e ódio
profundo. Ele tenta quebrar o gelo e brinca:
- Nossa! Olha como vocês estão péssimos! – Nem ele acredita em sua
brincadeira pois nem ele mesmo ri.
Renan chega próximo a Gisis que o encara como se pudesse queimar eles
com um simples olhar. Ele segura em seus ombros e dá um abraço. Gisis não se
meche nem por um momento. Ele diz bem baixinho:
- Fez um ótimo trabalho. Estou orgulhoso...
Ele se encaminha para Jenny que age da mesma maneira. Ao abraçar ele
diz:
- Só mantem esse pessoal vivo...
Ele se encaminha para Carol que assim que ele chega perto e ameaça
abraçar ela diz:
- Não... Nem fodendo!
- É... Gostei... mantem isso aí! – Diz ele já se encaminhando para Lucas.
Renan estende a mão para Lucas e aguarda um pouco, porém Lucas não
dá nenhum sinal que vai estender sua mão, então Renan diz:
- Belo jogo lá fora...
Renan se encaminha para Juju que se controla para não chorar. Só que ao
invés de segurar os ombros para abraçar ele segura nos braços. Juju também o
ignora e não se meche, mas sente algo saindo do seu antebraço. Gisis e Jenny
acabam de perceber que Renan acaba de remover a revista destruída que estava
aparecendo do lado de fora da manga rasgada de seu casaco. Ele diz para ela:
- Mantenha elas... digamos... Saudáveis.
Ele pega a revista e coloca dentro da sua calça discretamente. Ele se vira
para os soldados e diz:
- Parece que terminamos.
O soldado de pistola já sem paciência diz:
- Então está tudo certo... Você por ir. – Diz para Renan. – Estes aqui vão
ficar... O chefe quer falar com eles.

Você também pode gostar