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THE BEST

SERVIDOR
LORE

Participações:
Noobz, Barzini, Civinius, Daniel, Diego, Júlio,
Pedro, Renner, Kevin, Noiro, Ryuk, Marcinho,
Mathias, Nicolas, Duda, Rypoja, Luís Otávio,
Xgames, Sunney, Jão

Uma história canônica do universo TBS. Nada do que é


mostrado aqui é real, somente os personagens
principais
Escrito por RypojaKF

Menção honrosa a Noobz por ajudar com ideias de roteiro.

Primeiro arco:
A Queda de um Colosso
Capítulo 1: Início da Grande Caminhada

"O dever de guardar as fronteiras de nosso reino é seu agora”


Ano 33 d.c
- Ansioso para sua viajem? - Perguntou Petrônio, um senhor
de 64 e amigo de data da família.
- Nem tanto na verdade. Vou sentir saudade daqui –
Respondeu Enzo.
- Isso vai sempre acontecer mas você pode voltar no futuro
quando quiser – O velho retrucou, sorrindo.
- O garoto suspirou e com um pequeno sorriso comentou – É,
eu acho que sim.
O sol das dez horas da manhã já estava lá, então Enzo se
despediu e voltou para casa, estava na hora de partir. Ele já
havia comido um café da manhã cheio para aguentar a viagem.
Pegou suas bagagens e deu uma última olhada na sua casa, o
marrom aconchegante da madeira da parede e a baixa
iluminação das velas que davam um visual para o cenário.
Pisando pra fora o seus pais estavam lá, se abraçaram e se
despediram.
Enzo pega suas coisas, apenas uma bolsa com algumas poucas
roupas que jogou por cima do seu ombro esquerdo, na mão
direita carregava uma sacola de tecido com um pouco de pão
para a viajem e um cantil de água. Seus pais gritaram um
tchau, ele tentou acenar
de volta mas suas mãos lotadas não conseguiram então só
gritou. "Agora sou livre!" Enzo pensou, talvez por um
momento tivesse esquecido dos problemas de sua jornada, o
caminho seria longo e árduo, seriam dois dias e uma noite de
viagem a pé de um pequeno vilarejo próximo a atual cidade de
Beja na península ibérica até Emerita Augusta, a capital da
península, ele havia acabado de completar 16 anos e já era
considerado um maior de idade.
Capítulo 2: O Caminho Fervente
A estrada era de terra e por ser em uma planície não possuía
muitas árvores, o sol de verão sobre sua pele era impiedoso,
Enzo tentava limpar o suor do rosto com as mãos mas não
conseguia porque estavam muito lotadas de sua bagagem
“Quem me dera ter uma estrada de árvores cobrindo os céus"
Ele pensava enquanto caminhava na terra seca.
13h00 / 3 horas de caminhada / 5 dias e 12 horas até o alistamento
“Mas que droga... A água já acabou e eu não sei quando vou
achar um lugar para conseguir mais. Vou ter que continuar e
esperar pelo melhor” A sol era ardente e a água inexistente,
suas roupas já estavam encharcadas de suor. Mas pra sua
felicidade ele vê o marrom de uma pequena casa. 10 minutos
depois Enzo finalmente chega à casa, é bem maior que a sua.
Andando um pouco ele encontra um poço, sem nem pensar
duas vezes ele derruba o balde e o puxa de volta, despeja em
seu cantío e rapidamente deu 3 goles.
- Cansado, viajante? - Enzo pode ouvir isso vindo de de trás
dele, uma voz feminina com um tom gentil e um pouco
rouca.
Ele se vira e vê uma senhora, baixa, aparenta ter 1,50 m de
altura, cabelos brancos como a cera de uma vela e uma pele
bem enrrugada e machada, provavelmente por ficar muito
tempo no sol.
- A senhora mora aqui?
- Mas é claro! Morei aqui minha vida toda – Ela responde
com um grande sorriso no rosto.
- Me desculpe! Eu só queria um pouco de água, a minha
acabou. - Enzo respondeu com vergonha.
- Pegue o quanto quiser, ninguém além de mim usa o poço
mesmo.
- Você mora sozinha aqui?
- Sim, moro sozinha aqui a 24 anos! - Ela responde com um
certo orgulho.
- Quem deixaria uma senhora como você aqui sozinha?
- He he he, não é tão simples assim garoto! - Ela respondeu
rindo – Por que não entra e eu te conto o porque? E quem
sabe até mesmo comer alguma coisa.
- Ah... Por que não?
Os dois vão caminhando até a casa, a senhora tinha passos
curtos e lentos e Enzo vai indo mais devagar pra acompanhar.
A casa era bem velha e a madeira já estava apodrecendo, por
dentro apesar estar com buracos no teto e a madeira já
dobrando com o próprio peso ela era bem cuidada, a senhora
que lá morava parecia ter um carinho com o lugar e o mantinha
bem cuidado.
- A quantos anos essa casa existe? - Enzo perguntou
enquanto olhava ao redor.
- He he he... Ela foi construída pelos meus avós a 98 anos
atrás - Ela responde enquanto anda para a cozinha e ainda sem
tirar o sorriso do rosto.
- 98 anos!?
- Siiiiiim. E eu mantenho ela em pé até os dias de hoje.
- Cuidar de uma casa assim não é muito difícil pra você?
A senhora pega uma bacia de madeira cheia de frutas, laranjas,
uvas, maçãs e morangos. Ela senta em uma cadeira e coloca em
uma mesinha de centro em sua frente, Enzo senta em outra
cadeira logo a frente.
- Bem... Meus irmãos foram trabalhar na cidade e fiquei
aqui para cuidar dos meus pais que já estavam velhos, minha
mãe morreu aos 56 anos e meu pai aos 62 e eu... Fiquei aqui,
tomando conta da casa, dos móveis, das plantas. É uma vida
calma e eu gosto.
- Apesar de aqui parecer ser um lugar difícil de so morar a
senhora é bem feliz.
- He he he... Não posso simplesmente ficar emburrada com
oque a vida me proporciona, temos que aceitar oque temos.
Mas e você? Oque você tem?
- Pra falar a verdade nem eu sei. Minha vida acabou de
mudar por completo, eu sai de casa e agora vou ter que viajar
por dias até chegar a Emerita Augusta e me alistar. Eu não
queria isso mas foi como você disse, é oque a vida me
proporcionou – Enzo fala enquanto pega um morango.
- Tenho certeza que aqueles que você deixou querem que
você prospere na sua nova vida.
- Eu espero que sim...
- Hm hm hm - A senhora da risadas silenciosas – Emerita
Augusta é? É bem longe daqui! Porque não descansa um
pouco?
- Desculpe mas não posso. A viajem é longa e eu tenho que
chegar antes do alistamento começar?
- Então não perca tempo! Pegue essas frutas pra você.
- A senhora tem certeza?
- Sim, sim. Elas não vão me fazer falta, tenho muitas outras
para colher.
Enzo pegou sua sacola de comida, colocou as frutas dentro,
bebeu um pouco de água e já reabasteceu seu cantíl no poço
- Antes de você ir, qual seu nome, viajante?
- Enzo Fajardo
- Enzo... He he he, pode me fazer um último favor?
- Mas é claro! Basta falar oque.
- Eu tenho uma amiga em Emerita Augusta. Seu nome é
Guaraciaba de Paula, diga ela para vir me visitar, ela vai saber
onde é.
- Direi sim. Mas, só uma coisa... Como vou acha-la?
- He he he... Nem eu sei, mas tenho certeza que você
consegue.
Enzo se despediu da senhora e continuou sua jornada, agora
com uma nova missão: Encontrar Guaraciaba e passar a
mensagem da gentíl senhora.
“Pobre senhora, morando naquela casa acabada, sozinha. Eu
nem sequer perguntei o seu nome! Como sou desatento. Como
será que vou achar aquela mulher?”
19h20 / 9 horas de caminhada / 5 dias e 3 horas até o alistamento

Capítulo 3: Corrida pelo Quarto


O sol já estava se pondo, os longos morros das planícies já não eram
mais tão visíveis, e o sol escaldante já não estáva mais lá para o
incomodar. Mas por sorte, Enzo havia chegado a uma vila. “Quem
sabe aqui eu consigo um lugar pra passar a noite. Se eu dormir cedo
vou conseguir acordar de madrugada e não vou precisar enfrentar o
sol” A vila era consideravelmente grande. e Enzo foi andando pelo
local até que achou uma taverna, era um local bem grade, e a única
construção de tijólos em toda a vila, do lado de fora ele podia escutar
muita conversa, o . "Quem sabe eles tenham um quarto para eu
ficar” Ele abriu a porta e entrou, o interior era enorme e tinha 6
mesas redondas feitas de uma madeira escura, cada uma com quatro
cadeiras. Em uma das mesas estava sentado 3 senhores de idade,
eles eram os únicos em todo o estabelecimento, e eram
extremamente barulhentos, riam e conversavam e faziam o som de
10 pessoas com somente 3 “Toda aquela barulheira lá fora pra só 3
senhores?" Enzo pensou consigo mesmo. Ele andou até o balcão e lá
tinha uma mulher, ela era loira com os cabelos todos bagunçados,
extremamente magra e parecia ter pelo menos 45 anos de idade. A
mulher varria o chão atrás do balcão.
- Boa noite!
- Boa noite. Bem vindo a Taverna do Povo, como posso
ajudar? - A mulher respondeu com um tom de tédio e sem
muita emoção.
- Vocês tem algum quarto aqui que eu posso ficar?
- Temos sim... fica 623 denários.
- 623 denários!? Isso é muito caro! - Enzo responde
espantado
- Se não consegue pagar então vai dormir na rua.
- Não existe nada que eu póssa fazer? É só uma noite.
A mulher suspira e responde:
- Tá vendo aqueles três homens ali? - Ela aponta com a
cabeça para os três velhos.
- O que tem eles?
- Nós costumávamos ter muitos clientes aqui, mas aqueles
três ali conseguiram espartar todos. Eles gritam e berram o dia
inteiro e quando ficam bêbados ficam ameaçando as pessoas.
Espante eles daqui e você pode dormir de graça.
- E como é que eu vou fazer isso?
- Você não quer um lugar pra dormir? Então se vira.
Enzo se vira e vai em direção a mesa dos velhos e se senta em
uma das cadeiras.’
- Mas você não sabe de nada! Sempre vai no errado e
depois fica chorando porque perdeu – O único com a barba
raspada falava.
- Você sempre fala isso, mas me deve a 6 meses! - O mais
baixo retrucou com confiança
- Eu já falei que vou pagar. Você é muito impaciente!
A discussão parecia que não iria acabar tão cedo. Enzo não
queria se intrometer, mas sabia que era o único jeito de dormir
com um teto sobre a cabeça, juntou toda sua confiança e foi:
- Qual seria o problema? Rapazes – Enzo se sentou na
cadeira e disse isso de forma bem forçada. Suas habilidades de
socialização não eram as mais aguçadas.
- Acontece que esse canalha aqui não me paga oque deve
a 6 meses!
- Eu vou te pagar. Quantas vezes vou ter que repetir!? -
Os velhos gritavam cada vez mais.
- O que é que ele te deve?
- 250 denários. Ele apostou no cavalo 3 e eu no 8. O meu
cavalo ganhou em primeiro e ao invés de cumprir sua aposta
ele gasta tudo em bebida! - Ele fala enquanto dá 3 goles na sua
cerveja
- Corrida de cavalos? Era esse o problema? - Enzo olhou
para o 3º senhor ele parecia tão bêbado que nem conseguia
piscar
- É, a gente aposta em cavalos a 5 anos.
“Era isso!” Ele havia encontrado a solução
- Vocês gostam de apostar em corridas de cavalo, então.
Eu tenho uma proposta.
- Diga logo antes que eu perca minha paciência - O sem
barba respondeu sem demora.
- Quando sera a próxima corrida?
- Vai ser amanhã ao nascer do sol.
- Perfeito! Eu quero fazer uma aposta: Se o meu cavalo
ganhar vocês nunca mais podem aparecer nesse bar, e me dão
20 denários.
- E se você perder?
- Se eu perder, quem de vocês ganhar pode ficar com
todos os meus pertences.
Os três olharam para as sacolas que Enzo carregava e aceitaram
a proposta.
- Me encontrem amanhã, aqui.
Os três saíram do bar e foram para casa dormir para acordar
cedo e ir até a corrida
- Pronto, os três não voltarão mais aqui
- Você tem certeza? - A mulher respondeu com uma
certa ignorância.
- Absoluta...
A atendente o levou ao seu quarto que ficava aos fundos do
local em um segundo andar com outros quatro quartos. O
jovem viajante se deitou e dormiu.
Enzo abriu os olhos, ainda estava escuro, ele desceu as escadas
e encontrou a mulher limpando o chão do salão.
- Quando vai abrir aqui?
- Quando eu terminar de limpar.
- Eu não perguntei seu nome ainda.
- Então pode continuar assim.
Ele voltou ao seu quarto e sentou-se ne cama. 10 minutos
depois, Enzo pode ouvir a porta sendo aberta, desceu as
escadas e o local já estava aberto para os clientes. Enzo ficou na
porta esperando os três senhores, a chuva parecia ter caido
sobre o local, as ruas antes de terra haviam se tornado poços de
barro que chegavam até a canela. Poucos minutos depois os
três chegaram no local.
- Tá com todas suas malas ai? - O baixo perguntou
- Tudo, sem falta.
- Que bom, porque três contra um é impossível perder!
Eles começaram a andar e Enzo foi seguindo logo atrás. 5
minutos caminhando e os quatro chegaram ao o local. A pista
ficava em um local mais isolado e estava completamente
molhada pela chuva, e la estavam os jóqueis e a plateia, todos
eram pessoas simples e até mesmos os cavalos não estavam nas
melhores condições.
- Quem organiza essas corridas?
- A população. As pessoas pegam sua éguas velhas e
organizam esses eventos, só para ter um entretenimento
mesmo.
Os cavalos não eram condicionados para correr, muito menos
com idade para isso e as condições da pista eram as mais
precárias, eram diversos buracos coberto por água da chuva e a
mesma transformou toda a terra do trajeto em barro, as
arquibancadas não estavam muito diferentes, a madeira ja era
velha e estava entortando. Os quatro tomaram seus assentos na
velha arquibancada e começaram as suas apostas:
- Qual você vai escolher garoto? - O senhor da barba
raspada perguntou.
“Droga. Todos os cavalos parecem igualmente acabados. Qual
escolher?” Enzo sabia que precisava escolher o ganhador e
cumprir a promessa que fez, ele era cristão e mentir era algo
fora de questão.
- Eu escolho o três!
Um cavalo de pelagem negra com uma crina marrom escuro,
seu jóquei não era dos mais velhos, parecia ter 19 anos. Enzo
não sabe porque mas sentiu confiança naquela dupla. Logo que
escutaram a aposta dele os três começaram a brigar e gritar
enquanto escolhiam.
- O 1 de novo!? Aquela égua velha não sai do lugar! - O
baixo começou a gritar.
- Você não sabe do que fala! Aquele cavalo já pagou
meu almoço mais de cinquenta vezes. - O barbudo faloi pela
primeira vez.
- Haaa hahahahahahaha. Se aquele cavalo se quer saír
do lugar eu vendo meus filhos.
- Se você é assim tão inteligente fale logo em qual vai
apostar.
- 10, aquele que é um cavalo de verdade, forte, rápido,
bonito e bem cuidado. Não uma mula com uma sela.
- Então eu fico com o 6! - O velho sem barba terminou.
Os cavalos estavam posicionados na pista, eram dez, todos com
bandeirinhas amarradas a sela com o seu respectivo número. O
primeiro: Um cavalo branco com crinas loiras e todo sujo da
lama que se formou com a chuva, ele parecia sem forças e bem
desnutrido. O segundo: Pelos marrons claros que pequenas
manchas mais escuras por todo o corpo, sua pata esquerda
estava com uma ferida aberta totalmente embarreada. O
terceiro: A escolha de Enzo, seus pelos eram negros e
reluzentes, sua crina era um marrom quase da mesma cor dos
pelos e ele parecia estar relativamente saudável comparado a
concorrência. O quarto: Também branco, porém extremamente
limpo e seu jóquei era um garoto que aparentava ter 8 anos. O
quinto: Marrom escuro com duas grandes manchas brancas e
cascos que pareciam não ser cuidados a anos. O sexto: Branco
com listras pretas verticais somente na parte de cima, nenhuma
peculiaridade. O sétimo: Marrom claro quase branco, ele não
possuia sela, apenas a rédia. O oitavo: Marrom com as patas
pretas, seu rabo havia sido cortado e estava magro. O nono:
Um cavalo baixo, cinza. O décimo: O melhor condicionado de
todos, totalmente branco, bem alimentado, e com todas as
características de um bom cavalo. A pista era cercada por
madeira onde no círculo que formava no centro ficava uma
pequena torre onde um homem ficava.
- Quem é aquele na torre no centro? - Enzo perguntou
- É o árbitro, é ele quem dá a partida e decide quem
ganhou. Serão três voltas onde ganha quer terminar a terceira,
ganha. - O velho sem barba respondeu.
“1, 2, 3, Vai!” O árbitro gritou. O cavalo 1 começou a andar
lentamente, ele não corria, apenas caminhava.
- Vamos cavalinho, eu preciso de você - O velho
barbudo gritou.
O baixo começou a rir muito alto e respondeu:
- Eu não te disse? Esse cavalo mal sai do lugar!
O número 2 tentou correr, mas sua pata machucada não
conseguiu e ele acabou tropeçando e caindo na lama,
derrubando seu jóquei. A classificação estava:
1º Lugar: 10
2º Lugar: 6
3º Lugar: 9
4º Lugar: 7
5º Lugar: 3
6º Lugar: 8
7º Lugar: 4
8º Lugar: 5
“1 e 2 estão desclassificados por invalidez!" O árbitro gritou e
os 2 velhos riram do barbudo. O número 5 tentava correr o
máximo conseguia, porém, seus cascos eram grandes de mais e
não permitiam ele de galopar corretamente e causavam grande
dor, que fazia o cavalo gritar a cada passo, até que ele parou e
se recusou a continuar. O cavalo 4 estava subindo posições
cada vez mais, o garoto parecia experiente. A primeira curva
estava chegando e o 4 começou a cavalgar mais rápido e fez
uma curva totalmente fechada passando o número 8 e
alcançando o 6º lugar, mas não parava por ai, quando estava
terminando a curva ele começou a abrir mais e passou na frente
do 3, assustando o cavalo e o fazendo perder um pouco da
felicidade, oque irritou o jóquei
- Aquele garoto se meteu na frente do meu cavalo! Isso é
permitido? - Enzo perguntou indignado
- Desde de que você não ataque para ferir o outro
competidor, é tudo permitido. - O velho sem barba respondeu
enquanto ria alto.
O jóquei do cavalo 7 estava com dificuldades, a falta de uma
cela começou a lhe afetar quando ele começou a aumentar a
velocidade, e alguns metros depois da curva acabou caindo do
cavalo, fazendo com que o 4 avançasse para o 4º lugar e o 3
logo atrás.
- Droga. Aquele moleque é bom!
- Eu nunca vi ele aqui, nem esse cavalo.
O 7 conseguiu subir de volta no seu cavalo, mas isso lhe custou
muito tempo. Os competidores já estavam na metade do
caminho para a próxima curva, mas ele ainda estava saindo da
primeira.
- O número 5 está desclassificado por invalidez! - O
árbitro anunciou.
- Aquele 5 já estava acabado, os cascos dele estão muito
mal-cuidados para competir. - O senhor sem barba comentou.
O número 7 estava voltando e começou a alcançar o número 8
enquanto todos se aproximavam da próxima curva. O 8 tentava
se manter mais a frente, mas o cavalo já estava magro demais e
não tinha muita energia, o 7 se aproveitou da curva e
conseguiu virar mais rápido e passá-lo.
- Olha só, o 7 está voltando! - Disse o baixo
Os cavalos 10 e 6 haviam feito a primeira volta, 9 estava quase a
completando. O garoto do 4 não parecia querer terminar com
nenhuma posição sem ser a primeira, ele começou a correr cada
vez mais e se aproximar do 9, o 3 estava logo atrás. O 4 estava
lado a lado com o 9 e eles estavam se aproximando da curva, o
4 começou a jogar seu cavalo sobre o 9.
- Hmm... Aquele moleque é inteligente, ele está
aproveitando que o 9 é mais baixo e que o seu cavalo é grande
e jogando o peso sobre ele, não há nada que ele possa fazer
contra um cavalo mais pesado. - O senhor sem barba comentou.
- Mas olhe! Ele está perdendo velocidade.
Eles realmente estava. Enquanto o 4 tentava ganhar em um
jogo de corpo com o 9, distanciando-o do centro da pista, o 3
aproveitou para passar dos dois. Logo que percebeu o 3 deixou
o outro competidor e começou a correr mais para alcançar o 3.
- Aquele 3 é inteligente! Se aproveitou da distração dos
outros dois. - Disse o barbudo.
- Diferente de você que escolheu um cavalo que nem
anda, hahahahahahahahaha. - Respondeu o baixo, rindo muito
alto.
O barbudo se irritou e começou a bater no senhor baixo e eles
começaram a brigar.
A corrida estava dividida em três, os cavalos 10 e 6 disputando
o primeiro lugar, 3 e 4 logo atrás tentando passar uns ao outros
e bem mais ao fundo 7 e 8 não conseguindo acompanhar. O 4
estava conseguindo passar o 3 por alguns centímetros mas
nada que conseguisse lhe dar uma vantagem boa. Já estavam
na metade da segunda volta, o 8 por ser o último ainda estava
finalizando a curva quando o cavalo que já estava magro se
cansou e perdeu o equilíbrio, caindo no chão.
- 8 Desclassificado por invalidez! - O árbitro anunciou
logo que viu o cavalo não conseguindo se levantar.
Alguns dos espectadores pularam na pista para ajudar a tirar o
cavalo do local, assim que conseguiram voltaram as suas
posições para não atrapalhar o resto da corrida. Chegando na
próxima curva os cavalos 3 e 4 conseguiram se aproximar dos
primeiros e a corrida ficou ainda mais acirrada. Todos
completaram a 2ª volta, logo após o 6 começou a alcançar o 10.
- Isso! Vai 6! Passa esse cara e mostra seu potencial – O
senhor sem barba começou a incentivar o jóquei.
- Isso ai foi sorte! Se não estivesse tudo embarreado o
meu já teria ganhado.
Quando Enzo escutou esse comentário ele se tocou “É a lama! É
isso que o 4 estava fazendo para passar os outros com
facilidade! Ele se aproveitava do lugar onde a água não se
acumulou muito e não formou muito barro, assim ele podia
correr mais livremente” Enzo pensou consigo mesmo. Os
cavalos já estavam correndo a bastante tempo e os locais onde
havia muita lama estavam sendo pisoteados e compactados,
voltando a ser um solo mais rígido.
- 3! 3! Use o rastro que os da frente estão deixando!
Você vai conseguir correr mais rápido onde a lama foi
pisoteada!
Enzo estava tentando conseguir a atenção do jóquei, e ele
conseguiu, o corredor 3 olhou para ele e acenou um “sim” Com
a cabeça. Ele começou a seguir os traços dos cavalos que
estavam a frente e ganhou velocidade, o 4 imitou e também
conseguiu acompanhar, mas o 3 por ter começado primeiro
estava um pouco mais a frente, passando a primeira curva e
indo para a reta ambos já estavam logo atrás do 10 e 6, todos
estavam chegando na curva, o 3 começou a acelerar o máximo
possível, era o fim da corrida ele não se importava em cansar o
cavalo, ele fez uma curva fechada enquanto o 4 tentava o
passar e ele jogava o cavalo na frente para tampar a passagem.
Assim que os dois conseguiram finalizar a curva o 4 conseguiu
sair de trás do 3 e ficou ao seu lado, ambos estavam dando o
seu máximo mas chegando perto da linha final o 3 começou a
jogar o cavalo para cima do outro e conseguiu uma vantagem
de poucos centímetros e passaram a linha final, os dois
pararam e logo em seguida os outros dois chegaram
- Está finalizada a corrida. O classificação foi: 3º lugar:
6, 2º lugar: 4 e o ganhador é o número 3!.
- Droga! Como foi que alguém venceu o meu 10?
- Parece que hoje não foi o dia de vocês. - Enzo falou
bem animado.
- Pensei que ia ter algums itens de valor para vender. -
O senhor baixo falou com tristeza.
- Valor? Não tem nada de valor aqui! São só roupas e
comida.
- Você nos enganou! - O barbudo gritou.
- Não enganei ninguém, eu falei que vocês poderiam
ficar com meus pertences, mas vocês nem questionaram o que
tinha dentro.
- Isso é verdade - Respondeu o sem barba – Sendo
assim nós temos que cumprir nossa parte da promessa, nunca
mais vamos a aquele bar.
- Acho que nossos dias de bebidas acabou – O baixo
lamentou.
7h30 / 16:30 horas de caminhada / 4 dias e 16 horas até o
alistamento
Enzo se retirou do lugar e foi em direção a saída, chegando lá
se deparou com o jóquei 3, que foi falar com ele.
- Obrigado pela dica, eu não teria ganhado se não fosse
por isso - Ele parecia ter 20 anos de idade, tinha um cabelo
castanho claro penteado para o lado e uma pele extremamente
branco.
- Eu estava apostando alto em você, não podia perder –
Enzo respondeu dando risada.
- Eu agradeço por isso.
Cada um tomou seu próprio caminho. “Droga! Eu planejava
sair de madrugada para não pegar o sol, mas essa corrida me
atrasou” Enzo sabia que teria que enfrentar o sol ardente de
novo, porém ele não tinha escolha, precisava ir até Emerita
Augusta, então seguiu seu caminho. A paisagem da estrada era
a mesma de antes, as planícies que se estendem até o horizonte
e algumas árvores.
10h45 / 19:45 horas de caminhada / 4 dias e 12 horas até o
alistamento
Enzo havia chegado a uma vila, um pouco menor que a anterior.
Aproveitou os denários que ganhou e pagou um almoço em um
restaurante.
- Sabe algum caminho para Emerita Augusta – Enzo
perguntou a uma mulher que estava sentado na mesa ao lado.
- Claro! É só seguir para lá. - A mulher apontou para o
sudeste - Lá vai haver um rio, mas tem alguns barqueiros que
aceitam te levar para o outro lado.
- Muito obrigado.
Ele comprou um pouco mais de comida, foi a um poço onde
enchei seu cantil de água, descansou por 10 minutos e
continuou sua jornada.
15h00 / 24 horas de caminhada / 4 dias e 7 horas até o alistamento
Capítulo 4: Rio do Destino
Finalmente os pequenos morros e verde da grama se sessaram
e se tornou um azul escuro do rio que a mulher havia falado.
Quando se aproximou Enzo pode ver uma pequena casinha
com um bote amarrado em uma doca. Ele bateu na porta de
madeira três vezes e pode ouvir o som da madeira rangendo
com os passos do morador, a porta foi aberta parcialmente, ela
emperrou no chão, o barqueiro usou um pouco mais de força e
abriu ela de uma vez.
- Pois não? - Ele tinha a mesma idade de Enzo, cabelos
lisos e escuros e uma pele levemente morena que é incomum
para a região.
- Você que é o barqueiro aqui?
- Assim... Tem um barco atracado do lado da minha
casa e só tem eu aqui então eu acho que sou eu sim.
- Quanto você cobra pela viagem?
- Denários ou alguma fruta que eu possa plantar pra
comer, a quantidade depende de onde você quer ir.
- Emerita Augusta.
- Augusta!? Isso aí é longe pra cacete! Mas se bem
que... Seria legal mudar ir visitar o lugar.
- Porque você mora aqui? Com certeza esse rio leva pra
várias cidades onde você pode achar um emprego e morar.
- Meus pais moravam aqui sabe? Eu acabei ficando e
continuando o trabalho. Mas é bem solitário aqui. Quer saber
de uma coisa? Eu vou ir, te levo de graça, não aguento mais
esse lugar no meio do nada, eu quero viver.
- Muito obrigado! Qual seu nome?
- Meu nome é Marcos, mas me chamam de Bagre
porque é a única coisa que tem pra pescar aqui. Vou me
preparar, me espere na doca.
“Ha! Que sorte que eu dei, achei justamente um barqueiro
infeliz com a vida” Enzo havia atingido o jackpot, parecia que
tudo a partir dali daria certo. Poucos minutos depois Bagre
chegou, com somente uma bolsa com toda a comida que ele
tinha.
- Isso aí é tudo? Você vai se mudar e só vai levar isso?
- Eu não tenho nada de valioso, só vou levar o
necessário. E você nem pense em tocar nas minhas coisas!
- Como quiser.
Ambos subiram no bote, Bagre desamarrou a corda que
segurava o bote na doca e começou a remar.
- Você acha que essas nuvens vão dar em chuva? -
Enzo perguntou
- Estamos no verão, chuva é muito raro essa época do
ano.
O rio era extremamente largo e possuia vários braços, porém
Bagre conhecia bem o lugar e sabia exatamente onde ir.
- Vou ser sincero com você, eu conheço bem esse rio,
mas até Augusta eu nunca fui então não tenho certeza se vou
acertar.
Enzo ficou um pouco preocupado ao escutar isso, mas era o
único jeito de ele chegar em seu destino. O rio se separou em
dois e Bagre tomou a direita e continuou seguindo reto.
20h10 / 29:10 horas de caminhada / 4 dias e 2 horas até o
alistamento
- Aí! Eu não estou sendo pago pra isso não, então você
tem que remar também.
- Como quiser.
Já estava escuro e tudo que iluminava o barco era um lampião .
- Você se quer sabe oque tá fazendo? - Bagre disse
rindo.
- É a primeira vez que eu faço isso.
- Ah... Faz oque consegue aí.
Enzo não conseguia ver a costa, por isso perdeu totalmente a
noção de onde estava. Bagre deitou-se e dormiu enquanto Enzo
seguia em frente. A escuridão da noite estava começando a o
afetar, o silêncio calmante e o escuro que tampava sua visão o
deixava a deriva da sorte de acertar o caminho para Emerita
Augusta, ele já remava a horas, seus braços estavam cansados,
a brisa forte batia em seus olhos e mal conseguia os manter
abertos.
Bagre acordou e viu o seu bote engolido pelo cinza das nuvens
de chuva que tampavam o sol e se deparou com Enzo
dormindo com as mãos ainda nos remos.
- Você dormiu enquanto remava!? - Bagre gritou com
um tom de riso
- Oque? Droga, eu caí no sono sem perceber.
- Você se quer sabe onde estamos?
- Mesmo que eu tivesse ficado acordado a noite toda
eu não saberia. Estava muito escuro ontem.
- Você navegou por horas sem nem saber a onde!?
- É você que é o experiente e resolveu dormir!
- Só segue em frente e vamos ver onde paramos.
Enzo pegou os remos e continuou sua jornada, ambos sempre
olhando para os lados em busca de alguém que pudesse ajudar,
mas a costa estava distante.
- Aproxime o barco da costa.
Enzo foi indo para frente e para a costa. A dupla remou por 20
minutos e de repente uma rede é jogada por cima do bote,
prendendo os dois.
- Só faltava essa! Agora roubarão o que não temos. -
Bagre falou em desespero.
- Quem são vocês!? Saiam já da minha rede! - Um
homem alto que parecia estar na casa dos quarenta com um
cabelo preto e pele mais escura por conta do sol.
- Como você pretende que a gente faça isso? É você
quem tem que nos tirar. - Enzo respondeu
- Eu não faço nada de graça, me paguem e eu tiro
vocês daí.
- Você está falando sério?
- Paguem logo antes que vocês estraguem minha
rede.
Enzo pegou um dos remos e passou o cabo por um dos buracos
da rede e a tirou de cima do barco. Ambos desceram e foram
em direção ao senhor.
- Vocês vão ver só! Eu vou chamar o Almáquio e ele
vai fazer vocês me pagarem o que devem.
O homem foi andando de forma irritada e com passos pesados
em direção a algumas casas.
- Que cara louco – Bagre comentou
- Onde será que a gente está? - Enzo perguntou
enquanto ambos andavam em direção as casas.
- Não faço a menor ideia.
Andando mais um pouco eles podem ver o homem voltando
junto com outra pessoa, um jovem de 1.85 m e com braços que
poderiam destruir Enzo com um soco e carregando uma foice
de trabalho.
- Foram vocês que perturbaram o pescador!? - O
gigante percuntou.
- Espera ai! Eu não sei oque esse cara falou pra você
mas quem ficou enchendo o saco foi ele! - Bagre respondeu
com raiva. - Bagre respondeu com raiva.
- Calma Bagre! Não irrita ele mais.
Já era tarde pra se lamentar, o homem não gostou da resposta
de Bagre e foi pra cima da pessoa mais próxima. Enzo, o
lutador correu para cima dele como um touro e trombou nele
com toda sua força, Enzo pode sentir todo o ar de seus pulmões
exalando de uma só vez enquanto o ombro daquele gigante
afundava em seu abdômen, ele foi lançado 3 metros e ao cair no
chão agonizava na tentativa de conseguir respirar novamente
enquanto seu rosto ficava vermelho enquanto sua expressão de
desespero aumentava. Bagre mudou de expressão rapidamente
enquanto encarava seu colega de viagem sendo arremessado. O
guerreiro se virou a ele e começou a ir em sua direção, Bagre
não sabia o que fazer, e enquanto o desespero tampava
qualquer raciocínio que ele pudesse fazer tudo oque pensava
era em fugir, e foi isso que fez. Bagre correu até as pequenas
casas e logo atrás podia escutar os passos pesados como o de
um touro, mas ele era rápido e conseguiu se distanciar do
homem. Bagre entrou na primeira casa que encontrou e se
escondeu dentro dela.
- Cadê você!? - O homem gritou borbulhando como
um cão raivoso.
Ele andou lentamente do lado da casa onde Bagre estava
escondido. Quando o homem passou pela janela ela lentamente
se abriu sem que ele percebesse e Bagre colocou os braços para
fora e segurando uma pá a bateu contra a cabeça do guerreiro e
a parede, ele aproveitou enquanto o homem estava tonto com a
pancada e pulou da janela, largou a pá e correu de volta para o
barco. Bagre estava se aproximando do barco mas não via Enzo
em lugar algum "Merda! Cade ele? Tanto faz, eu preciso sair
daqui antes que esse cara me mate.” Ele entrou na água, suas
pernas afundaram até a canela e impedia seus passos, o
desespero aumentava enquanto a água diminuía sua
velocidade, sua mão se estendeu e segurou no barco, ele
conseguiu! Bagre usou toda sua força para vencer o peso da
água e pulou em cima do pequeno bote. Um grande alívio o
encheu enquanto ele sentia o toque da madeira em suas mãos,
mas aquilo era ilusório, antes de poder dar a primeira remada a
mão do guerreiro da vila segurou seu braço, suas pernas mais
fortes tiveram vantagem para correr na água o que fez ele
alcançar Bagre, depois de segurar firmemente no braço do
jovem barqueiro ele o arremessou para fora do barco de volta
para a terra e foi andando até ele.
- Você não me escapa agora! - Depois de falar isso ele
ouvi uma vóz vindo de trás dele
- Não esquece que eu existo!
Enzo aproveita enquanto ele se distrai com Bagre e joga a rede
de pesca por cima do homem.
- Seu maldito! Quando foi que você pegou isso!? - O
guerreiro se debatia na tentativa se se soltar da rede.
- Depois que você me deu aquela trombada eu fiquei
imobilizado por um tempo, mas chegou longe de me
desacordar. Como você me ignorou o foi pra cima do Bagre eu
consegui me recuperar e peguei a rede do pescador e me
escondi naquela casinha de pesca, só esperando o momento
certo - Enzo respondia isso enquanto ajudava Bagre a se
levantar e ambos correram até o barco – Agora tchau, tenho um
caminho longo pela frente. - Ele falou enquanto começava a
remar.
- Não pense que vai escapar tão fácil!
Ele arremessou sua foice contra Enzo que se enfincou no banco
logo a sua frente e por pouco não o acertou.
- Hahaha você é ruim de mira, hein! - Bagre riu
- Seu desgraçado! Nunca mais pise aqui!
- Pode deixar. - Bagre respondeu enquanto balançava
a mão direita em sinal de tchau.
- Para onde nós vamos? - Enzo perguntou?
- Sei lá, só segue seu coração.
- Você não conhece esse lugar?
- Me parece um pouco familiar, se a gente achar o
caminho certo eu vou saber.
Ambos remaram por meia hora até que acharam duas
pequenas ilhas no meio do rio.
- Aquelas ilhas ali, eu as conheço! Continue indo pra
frente, depois dela vai ter mais uma ilha, passando ela você
vira a direita – Bagre respondeu depois de correr até a ponta do
bote.
- Pode deixar.
Após 10 minutos o bote chegou a outra ilha, onde viraram a
direita e continuaram remando. O local era confuso aos olhos
leigos como os de Enzo, pequenas ilhazinhas que desviam a
atenção, extensões do rio que pareciam o caminho certo, mas
para Bagre aquilo era mais conhecido do que ele conhecia a si
mesmo e guiava o bote por todas as águas confusas.
21h15 / 30 horas de caminhada / 4 dias e 1 horas até o alistamento
- Já está bem escuro. Não quer parar para dormir? -
Enzo perguntou
- Pode dormir ai, eu ainda vou remar mais um pouco
– A esse ponto Bagre já havia tomado os remos.
A noite na Península Ibérica era imperdoável, a escuridão
tomava tudo mas as pupílas de Bagre já haviam se dilatado e
ele podia enxergar um pouco. Quando olhou para cima ele viu
uma silhueta estranha. “Oque é isso? Uma ponte? Desde
quando tem uma ponte aqui? Parece madeira e bem arcaico“
Ele conhecia bem o local, mas não se lembrava de ver nenhuma
ponte. Enquanto tentava desvendar oque era aquele formato
estranho que via sobre sua cabeça ele passou ao lado de uma
pilastra de madeira que era iluminada pelo lampião do bote,
neste momento ele parou em frente ao pilar para analisa-lo
melhor “Essa madeira é nova! Por isso não me lembrava de ter
uma ponte aqui.” Enquanto analisava o pilar, Bagre pode ouvir
o som de algo caindo na água. "Oque foi isso?" Ele pensou, e
pode ouvir mesmo som outras quatro vezes. Então pegou o
lampião que estava na ponta do barco e tentou enxergar o que
era e viu 5 homens cercando o bote.
- Quem são vocês!? - Bagre perguntou tremendo de
medo
- Só queremos seus pertences, nos de eles e ambos
podem sair tranquilamente – o homem mais próximo disse
Todos eles começaram a nadar rapidamente até o bote. neste
momento o único pensamento na cabeça de Bagre era fugir,
rapidamente pegou os remos e quando foi começar a remar,
um dos homens pulou da água e se escorou no barco e segurou
sua perna.
- Solta, seu merda! - Bagre berrou em desespero.
Neste momento ele pegou a foice enfincada no banco e a
retirou rapidamente e em um momento de aflição ele fez um
corte no antebraço do homem, que gritou de dor e soltou o
barco. Após isso ele soltou a foice e lampião e removeu um dos
remos do suporte, e levantou até sua cabeça e bateu com toda
sua força contra a cabeça do homem, que afundou. Após isso,
ele ouviu um som de algo saindo da água e o bote inclinou um
pouco para trás, ele se virou em um susto. Outro dos ladrões
subiu no bote. Em uma ação desesperada, Bagre tentou bater
nas costelas esquerdas do ladrão com um ataque lateral, mas
aquele homem já era mais experiente em combate e com um
movimento suave usou sua mão direito para desacelerar o
remo e o prendeu entre seu braço esquerdo e seu torso,
aproveitando que sua mão direita já estava no remo, ele o
agarrou e puxou em sua direção, trazendo Bagre junto e
disferindo um forte chute em sua barriga, que perdeu todas
suas forças enquanto sentia seu intestino se remexendo com a
pancada, ele caiu de costas no chão e por conta de toda a
adrenalina que circulava em seu organismo ele rapidamente
recobrou suas forças e agarrou a foice que estava caída ao seu
lado então jogou sua mão direita contra o chão e se
impulsionou com as pernas, pulando até o homem que tentou
desviar mas não foi rápido o suficiente, perfurando sua barriga
com a ponta da foice. Cambaleando para trás o ladrão tropeçou
na borda do barco, caindo no rio. Bagre pode respirar um
pouco enquanto procurava os outros três homens que não
estavam em mais nenhum lugar, ele olhava para os lados
freneticamente tentando acha-los, mas tudo que via era a
escuridão da noite.
De repente o barco começou a tremer e foi arremessado para
cima, virando de cabeça para baixo, derrubando Enzo que
ainda estava dormindo e Bagre, nas águas do rio. Enzo abriu os
olhos e se desesperou ao perceber que estava submerso, ele
nadou até a superfície mas acabou saindo embaixo do barco
que ainda tinha uma bolsa de ár, ofegante ele tossia com a água
que havia inalado durante a queda “Oque aconteceu? Cadê o
Bagre?" Ele respirou fundo, fechou os olhos e mergulhou,
nadou um pouco para frente então subiu. Chegando a
superfície, Enzo tirou a água dos olhos e os abriu e pode ver a
sua frente uma enorme ponte e ao seu lado uma mão saindo da
água e se agarrando ao barco, era Bagre, ele se apoiou ao barco
e tirou metade do corpo da água, em sua mão esquerda ele
ainda segurava firmemente na foice, que era sua única forma
de defesa.
- Vai pra margem, rápido! - Bagre gritou a Enzo
- Oque está acontecendo?
- Estão tentando nos matar! Agora vai logo.
Ao ouvir isso Enzo nadou o mais rápido que pode, mas não era
dos mais velozes por sua falta de experiência em nado. "Filhos
da puta. Viraram o barco! Cadê eles agora?” Bagre pensava
desesperadamente sabendo que a qualquer momento eles
poderiam sair da água e o atacar de surpresa. Sem pensar duas
vezes ele largou o barco e começou a nadar em direção a
margem, no momento que fez isso ele pode ouvir os ladrões
subindo a superfície e nadando em direção a ele, quando ouviu
isso ele nadou mais rápido ainda. Enzo chegou ao barco e
tentou subi-lo, com muita dificuldade pois balançava para
todos os lados ele conseguiu ficar em pé no topo enquanto se
equilibrava, quase caindo pra frente e para trás. Quando olhou
pra frente ele viu Bagre fugindo e os três ladrões atrás dele. "Eu
tenho que fazer alguma coisa”, ele não tinha muito tempo para
pensar, um dos três estava logo a sua frente, por isso se ele
fosse fazer algo aquela era a hora. Enzo agachou e se
concentrou como um gato quando vê uma presa, usou toda sua
concentração para se equilibrar perfeitamente no barco e então
pulou, caindo em cima do ladrão que estava mais atrás,
levando ambos para baixo d’água, eles giraram durante a
queda e ficaram de frente um ao outro com apenas alguns
centímetros de distância. Logo que conseguiu se estabilizar,
Enzo deu um gancho no ladrão que o inclinou, aproveitando, o
bandido o chutou no peito, o jogando um pouco para trás. O
ladrão usou o tempo ganho para tentar subir a superfície, mas
Enzo percebeu a tempo a agarrou seus pés e o puxou para
baixo, desesperado assim que foi puxado para baixo ele
começou a balançar as pernas para se soltar, quando conseguiu
ele chutou a barriga de Enzo, oque esvaziou todo o ar que ele
tinha em seus pulmões, fazendo com que ele se afoga-se. Sem
pensar duas vezes, o ladrão começou a nadar para cima até que
chegou a superfície e pode respirar, foi como um copo de água
gelada no verão, ele se sentiu aliviado e ficou parado por
alguns segundos tentando recuperar o fôlego. Enquanto isso,
Enzo começou a nadar para cima e conseguiu sair de baixo
d’água, quando respirou ele se sentiu como se tivesse acabado
de acordar e voltado a realidade. O ladrão vendo que ele estava
distraído, foi para cima e agarrou seu pescoço, apertou com
toda a sua força e o colocou em baixo d’água. Enzo voltou
aquele pesadelo de ficar sem oxigênio e se debatia na tentativa
de se soltar, até que acertou um chute na costela do ladrão, que
o soltou, quando conseguiu se virar pra cima novamente ele
pulou um pouco para cima, tirando sua cintura da água e
aproveitou a energia da queda e socou o topo da cabeça do
homem que afundou levemente e ficou atordoado. Enzo nadou
até até o barco e pegou um dos remos que ali estavam boiando,
segurou bem na ponta e forçou ele contra o bandido, o
impedindo de voltar pra superfície. Quando tentou nadar para
o lado para sair do remo, Enzo forçou-o para baixo mais ainda,
fazendo com que ele afundasse mais. A disputa se manteu por
3 minutos que para ambos parecia anos, enquanto um tentava
sair de baixo do remo, o outro afundava um pouco e forçava
mais ainda o remo. Depois daqueles minutos, Enzo não sentiu
mais o ladrão se mexendo, e soltou o remo. O homem não
voltou mais para a superfície.
Enquanto isso, Bagre fugia dos outros dois, diferente de Enzo
ele era muito experiente em nadar, pois passou sua vida inteira
trabalhando naquele rio, por isso ele conseguiu se distanciar e
chegar a margem. Ele saiu rapidamente da água e os outros
dois logo atrás dele, o primeiro a chegar estava a sua direita,
enquanto ele estava se levantando, Bagre chutou seu rosto de
forma desajeitada, fazendo com que o ladrão caísse de volta na
água, o outro chegou pela esquerda e pegou uma machadinha
que estava amarrada em sua cintura.
- Vem aqui, vem. Eu vou te dar de comida para os
peixes!
Bagre tremia como um galho em um dia de vento, não sabia se
era de medo da morte ou o frio dos ventos gelados da noite
combinados com suas roupas ensopadas. O ladrão gritou e
correu em direção a seu inimigo, tentando cortá-lo com uma
machadada por cima. Bagre pulou para o lado de forma
desajeitada, quase tropeçando nas pedras que ali estavam. O
ladrão virou com ódio e começou a disferir vários cortes, nos
quais Bagre ia desviando e defendendo com sua foice, mas sua
sorte acabou e o ladrão conseguiu fazer um corte em sua coxa
esquerda, oque o fez ajoelhar com a perna cortada.
Aproveitando que seu adversário estava caído o ladrão tentou
enfincar seu machado na cabeça de Bagre, que defendeu com
sua foice e usou o formato curvado para prender o machado e o
jogar para o lado, puxando o bandido em sua direção e o
fazendo ajoelhar também. Aproveitando que o ladrão estava
caindo em sua direção ele chutou seu rosto, aproveitando a
queda para aumentar a força de impacto, o que fez o bandido
cair para trás. Bagre pegou o machado que estava no chão e
rapidamente se levantou e o enfincou no peito do bandido que
ainda estava se levantando, o finalizando. Enquanto ele
respirava, cansado que a luta que travou, o outro ladrão que
havia sido chutado enquanto saia do rio veio correndo,
agarrando Bagre e o jogando no chão, fazendo com que ele
derrubasse a foice. Assim que caíram o ladrão começou a o
socar no rosto diversas vezes, depois do terceiro, Bagre colocou
os braços no rosto para se defender, depois de mais 5 socos ele
chutou o ladrão com suas duas pernas e o jogou para o lado
com as mãos. Bagre virou rapidamente para o lado e pegou a
foice de volta, mas quando tentou atacar o ladrão ele já estava
preparado e agarrou seu pulso com uma mão, se levantou
depressa e puxou de Bagre para cima e colocou seu pé em suas
costas, o travando completamente.
- Me dê tudo que tem e eu te solto.
- Nós não temos nada! Só estamos viajando de barco.
- Até parece que vocês não trariam nenhum denário. -
Quando falou isso o ladrão puxou ainda mais para trás o braço
e colocou mais força no pé.
- Aaaaaargh! - Bagre gritou de dor.
“Bagre! Eu preciso ajudá-lo! Mas seu eu tentar nadar até lá
ainda vai demorar e pode ser que não de tempo" Enzo pensou.
De repente o ladrão sentiu uma forte pancada em sua orelha
esquerda, que estava na direção do rio, que o fez dar dois
passos para o lado e soltar o braço de Bagre. Era um remo
arremessado por Enzo, que usou toda sua força para tentar
salvar seu amigo. Aproveitando que se soltou, Bagre se
levantou e cortou a garganta do ladrão, que caiu no chão
agonizando com o sangue que o afogava.
- Tudo certo ai? - Enzo gritou
- Sim, e você? Se machucou?
- Não! Vou virar o barco.
Bagre fez um “joia” com a mão. Enzo mergulhou e entrou
embaixo do barco, colocou as duas mãos pra cima, segurando
no bote o mais próximo do lado e estendendo totalmente seus
braços e jogando aquele lado do barco para cima e fazendo ele
girar e cair em pé, em seguida Enzo pegou o remo que estava
boiando e subiu ao barco. Cansado, ele se deitou, olhou para
cima e respirou ofegante enquanto o som dos pingos de água
de sua roupa que caiam na madeira do barco soavam em seus
ouvidos. “É... está na hora de voltar pro barco. Mas que noite
caótica!” Logo ao pensar isso, o homem que tinha tido seu
braço cortado no começo da luta saiu da água e foi
cambaleando até a margem.
- Que pancada forte! Cheguei a desmaiar! Pensei que
fosse morrer. - Ele falava enquanto tossia e água saia de seu
nariz.
Quando o ladrão olhou para Bagre parado segurando a foice
completamente ensanguentada com o sangue de seus
companheiros e dois deles caidos no chão com sangue fluindo
pela grama, seus olhos se abriram e ficaram redondos como
uma bola e sua expressão mudou de raiva para terror como se
tivesse visto uma assombração.
- NÃO! NÃO ME MATE POR FAVOR! - Ele gritava
enquanto corria para a escuridão da noite.
- Que bom que ele fugiu, não sei se aguentava mais
uma luta.
- Carona? - Enzo falou chegando com o barco na
margem.
-Valeu. - Bagre falou enquanto subia.
- Oque foi aquilo? Porque eles estavam nos atacando?
- Enzo falou com medo no rosto e com as mãos tremendo
enquanto remava
- Eram ladrões... Eles queriam nos matar.
- A bíblia diz que autodefesa proporcional não é um
pecado, mas eu não gosto disso.
- Você é cristão?
- Sim.
- Eu pensei que isso fosse crime.
- É, mas eu mantenho escondido.
- Eu nunca tive acesso em nenhuma a nenhuma
religião então não tenho nenhuma.
- Eu fui ensinado desde criança a seguir os caminhos
de nosso senhor.
- Quem sabe eu aprendo alguma coisa com você.
- Eu não sei muito sobre o assunto, porque as bíblias
não são traduzidas e missas são proibidas.
- Isso é bem triste. Mas, oque você vai fazer lá em
Emerita Augusta?
- Entrar no exército, é o único jeito de eu viver uma
vida melhor.
- Oque você ganha lá?
- É um trabalho, os soldados são pagos muito bem.
- Hmm... Acha que valeria a pena pra mim?
- Você lutou muito bem com aqueles caras! Tenho
certeza que conseguiria se dar bem.
- Obrigado! Fico feliz em escutar isso, talvez eu entre
junto com você.
A conversa se manteu por bons minutos, mas já estava tarde
então pararam na margem para dormir.
- Como vamos fazer pro barco não ir embora - Enzo
perguntou.
- Puxa ele pra fora.
Ambos juntaram forças e arrastaram o bote pela terra, deixando
um rastro para trás.
- Acho que está bom - Bagre disse
Os dois se deitaram na grama seca pelo verão e dormiram, para
se prepararem para o que viria no próximo dia.
7h00 / 40 horas de caminhada / 3 dias e 14 horas até o alistamento

Enzo foi o primeiro a acordar, o céu estava bem azul, o sol já


não tão forte quanto antes, criava um ambiente calmo e
confortável para os olhos. Ainda um pouco cansado, se
espreguiçou, e ficou sentado encarando o nada enquanto
esperava as forças para levantar-se. Enzo virou seus olhos para
o lado e se deparou com sua bolsas de comida no chão, abertas
e com todas as frutas jogadas no chão e sendo comidas por uma
gazela.
- Aaaaah! Seu maldito! Vai embora! - Enzo se
levantou rapidamente e correu para cima do animal, gritando.
- Oque foi? Oque aconteceu? - Bagre se levantou em
um pulo, assustado com os gritos repentinos.
- Gazela miserável! Comeu toda nossa comida.
- Não acredito nisso! Como não pensamos nisso? -
Bagre disse olhando para as frutas no chão.
- Vamos pegar oque sobrou e ir logo, quanto menos
tempo sem comida menos fome.
Bagre se abaixou e pegou a sacola, ainda havia algumas frutas
que não cairam no chão, não era o suficiente nem para um dia,
mas era o que eles tinham. Ele a jogou em cima do barco e o
empurraram de volta para o rio, por cima do rastro deixado no
dia anterior. Os dois pularam no barco e Enzo tomou os remos
e começou a seguir em frente.
- Tem alguma ideia de onde estamos indo?
- Um pouco. Eu sei que mais pra frente o rio vai ficar
bem fino e não tera mais ramificações.
- Que bom, assim a gente não se perde igual da
última vez.
- Tomara...
11h00 / 44 horas de caminhada / 3 dias e 10 horas até o alistamento
Eles seguiram por mais 4 horas, passando por regiões mais estreitas
do que o início, mas ainda sim muito grandes, havia várias ilhazinhas
pelo caminho, porém Bagre conseguiu guiar o bote por elas.
- Meu conhecimento acaba aqui. - Bagre disse - Não
sei mais nada sobre o rio, mas pelo jeito das coisas o rio vai se
estreitar mais, oque deixa mais fácil.
- Oque acabou foi nossa comida! Não tem mais nem
um morango sequer.
- Oi! Rapazes! Venham aqui.
Os dois ouviram a voz de um homem os chamando, viraram
para ver quem era e viram uma casa média e uma doca com
um senhor magro, barbudo e com um chapéu de camponês na
cabeça, ele acenava energeticamente para o bote, com um
sorriso estampado no rosto.
- Nós vamos até lá? - Enzo perguntou
- Não custa nada.
Enzo virou o bote para a direita e foi em direção ao senhor.
- Obrigado por virem, rapazes. Nem todo mundo está
disposto a ajudar um pobre senhor. - Ele disse entregando uma
corda a Bagre.
Ele pegou a corda e amarrou no banco do bote. Ambos se
levantaram e subiram na doca.
- Com oque podemos ajudar? - Enzo perguntou.
- Venham, venham. Entre aqui e eu explico melhor! -
O senhor foi andando em direção até a casa
Ele abriu a porta, o lugar era muito bem mobiliado com móveis
caros e ornamentos por todo lugar, era extremamente limpo e
arrumado apesar de estar no meio do nada.
- Querem um chá? - O senhor perguntou.
- Quero não, obrigado. - Respondeu Bagre.
- Sim! - Enzo respondeu no exato momento que ouviu
a palavra “café".
- Vou pegar um pouco pra vocês.
O senhor voltou com duas xícaras de café e entregou uma para
cada "Mas eu disse que não queria" Bagre pensou, mas não
queria ser mal-educado e recusar.
- Pois bem... Eu sou um pescador e como podem
perceber pela minha casa, eu ganho bem. E sabe o porquê
disso?
- Porque? - Ambos responderam.
- Bagres! Esse lugar é o favorito deles, e tem uma
imigração das grandes acontecendo. Eles estão por toda parte!
Mas... eu sou apenas um senhorzinho e não tenho mais aquela
força de um jovem.
- A onde quer chegar com isso? - Pergungou Enzo
- Se vocês pescarem 10 desses peixes para mim, eu
irei lhes dar 2!
- Hmmm... O quão grande são esses peixes? -
Perguntou Bagre
- Dos maiores! - O senhor respondeu com entusiamo.
- Tudo bem. Eu irei pescar 15! E em troca você me da
aquele barco atracado na doca – Bagre apontou para um
pequeno barco a vela.
- Tudo bem então! Eu nem uso aquele barco mesmo. -
O senhor saiu de sua cadeira e foi até a parede onde havia um
arpão escourado - Peguem isso, para finalizar os peixes
Bagre pesou, se levantou e foi em foi até a porta, olhou para
trás e disse:
- Vamos, Enzo?
Enzo se levantou e foi atrás, a dupla abriu a porte e foram até o
rio.
- Hahahahaha! Que jovens mais energéticos!
Ambos estavam na beira do rio, com o som da água batendo na
margem e os pássaros no fundo.
- Você tem alguma ideia do que está fazendo? - Enzo
perguntou.
- De onde você acha que eu consegui meu apelido? Eu
sou o melhor catador de bagre que existe!
- Catador?
- Sim! Os bagres costumam cavar buracos em regiões
mais rasas e lamentas, existe um tipo de pesca que se consiste
em colocar a mão dentro de um desses buracos e esperar que o
peixe a morda e então você puxa ele para fora.
- Puxar um peixe daquele tamanho?
- Não é um trabalho fácil. A luta é disputada mas eu
não perco um bagre a 4 anos! Vamos, aquela parte do rio é rasa,
temos que procurar lá.
Eles seguiram para a direita onde havia uma pequena região
com mais lama que o resto.
- Tem certeza que vai ter algo lá? Esse rio é imenso.
- Bagres gostam de lugares mais lamacentos, e ali é
bem isso.
Eles chegaram no lugar, era uma região mais rasa e com muita
lama, a água era mais marrom que o resto do rio. Assim que
chegaram na margem ambos tiraram seus sapatos e entraram
na água.
- Como são esses buracos? - Enzo perguntou
- São bem grandes e ficam bem na margem. Você com
certeza vai saber.
Bagre andou um pouco pela margem, que era bem grande, até
que achou um buraco no meio da lama, ele sabia que era ali
que encontraria um dos peixes que precisava.
- E aqui mesmo! Fique com o arpão. Se eu bater
minha perna você me puxa pra fora.
Sem que Enzo nem pudesse pedir para repetir ele já pulou
dentro do buraco, ficando somente com as pernas para fora.
“Que cara louco” Enzo pensou. Bagre se arrastava pelo túnel
barrento com facilidade, sua prática e habilidade o permitiam
fazer isso com uma velocidade incrível “Cadê esse peixe
maldito?” Ele pensava enquanto se arrestava pelo lugar.
Depois de 1 minuto ele conseguiu.
- Achei! Vou te pegar seu safado! - Ele falava com
uma voz baixa e sem ar, pois seu peito exprimido pelo chão
não o permitia respirar corretamente. Ele estendeu sua mão
levemente inclinada, deixando seu polegar na frente e os outros
dedos abertos.
- Vamos carinha, pega meu dedo. - Ele balançava a
mão, esperando que o peixe tentaria a morder.
O peixe se balançava, com medo do intruso que estava em sua
casa. “Morde logo!” Bagre ficava repetindo para o peixe
enquanto balançava cada vez mais freneticamente sua mão.
Estava ficando cada vez mais difícil de respirar, o chão não
permitia sua caixa toráxica se expandir e puxar o ar e aquele
que ele conseguiu respirar tinha um cheiro horrível de peixe
misturado com a terra molhada. Aquele lugar estava
começando a dar nos nervos de Bagre, que não aguentava mais
aquele cheiro horrível, até que ele decidiu tomar uma
providência, com sua mão esquerda ele se apoiou na parede do
túnel e se jogou levemente para cima do peixe, acertando-o
com seu dedo, oque foi o suficiente para que se assustasse e
mordesse o dedo de Bagre, assim que ele mordeu Bagre
agarrou sua boca com o polegar dentro e os outros quatro em
seu queixo, o peixe balançava para todo o lado, tentando se
soltar, mas Bagre era forte e conseguiu o manter em seu
controle. Enzo estava em pé na margem, encarando o outro
lado do rio que ficava a centenas de metros de distância dele.
Até que ele ouviu algo batendo na água e quando se virou ele
viu Bagre batendo sua perna direita contra água, ele
rapidamente agarrou sua perna e com toda sua força o puxou
para fora.
- Hahaha! Te peguei! - Ele se levantou rapidamente e
erguei o braço, mostrando o peixe para Enzo.
- Eu não esperava que fosse tão grande assim, é quase
do seu tamanho!
- É, Agora pega logo aquele arpão e mata ele porque
tá ficando difícil!
Quando Enzo foi abaixar para pegar o arpão, o peixe começou
a se balançar e acertou uma rabada na cara de Bagre, que o fez
se distrair o soltar o peixe, que saiu nadando a toda velocidade
para o rio
- Droga! Ele vai fugir!
- Vamos ver se minha mira tá em dia.
Enzo se levantou com o arpão na mão, colocou seu pé direito a
frente, jogando seu peso no esquerda, inclinando o corpo
levemente para trás, estendeu seu braço direito para frente o
usando como uma mira e com o arpão na mão esquerda que
estava para trás ele deu um grande passo para frente com o pé
esquerdo e arremessou o arpão. Ele voava pelo ar úmido do rio
e caiu de volta na água, acertando perfeitamente no bagre, que
não havia saido da parte rasa ainda.
- Rápido, vamos ver se acertou! - Bagre falou
enquanto corria até onde o arpão caiu.
Chegando no lugar eles viram o arpão enfincando no chão e
entre os dois estava o bagre, perfeitamente empalado pela
cabeça.
- Que mira é essa, hein? Desse jeito você vai se dar
bem sendo arremessador de arpão no exército.
- Pelo oque parece vai ser isso mesmo. Haha.
- Agora só temos que fazer isso mais 14 vezes.
E assim a dupla continuou até o fim do dia, procurando
buracos, entrando e tirando os bagres de lá. Eles conseguiram
juntar um total de 17 peixes e então voltaram para a casa do
senhor para resgatar sua recompensa.
19h00 / 52 horas de caminhada / 3 dias e 2 horas até o alistamento
A porta se abre, os dois entram e encontram o velho sentado na
mesma cadeira desde que eles sairam de lá.
- Pensei que um bagre tinha comido vocês! Já está
anoitecendo.
- Não é dos trabalhos mais fáceis. - Enzo respondeu
- Tudo bem. Mas e ai? Conseguiram pegar 15?
- Pegamos até 17! - Bagre faloi e jogou a bacia cheia na
mesa
- Hahahahaha! Você é bom mesmo! Podem ficar com
os dois que eu prometi e peguem o barco, ele é todo de vocês.
- Muito obrigado, senhor. - Enzo falou
Bagre pegou os dois peixes e colocou dentro da sacola de
comida.
- Mas... o peixe não vai estragar? - Ele disse
- Hmm, é verdade. Senhor, tudo bem se nós usarmos
sua churrasqueira?
- Façam oque quiserem.
- Obrigado.
Enzo pegou os dois peixes e os colocou em cima da grelha, logo
em seguida acendeu o carvão com a perderneira que estava ali
ao lado.
- Sabe cozinhar? - Bagre perguntou
- Não sou muito bom.
- Então deixa comigo que peixe é minha
especialidade!
19h20 / 52 horas de caminhada / 3 dias e 2 horas até o alistamento
Depois de vinte minutos Bagre terminou de cozinha os dois peixes.
Pescar bagres não era sua única especialidade, cozinhá-los também.
Antes de tirá-los do fogo ele pegou um pequeno saco que estava
amarrado em sua cintura e tirou dele um punhado de sal, colocou
uma quantidade generosa em cada peixe e esperou alguns minutos e
os tirou.
- Isso ai é sal?
- Sim. É pra conservar melhor a comida.
- Não sabia disso.
Ele cologou os peixes de volta na sacola e foram até o senhor.
- Nós vamos ir agora – Enzo disse
- Tudo bem então, vão com segurança e obrigado por
tudo.
Os dois saíram e foram até a doca, lá estava atracado o bote a
vela, eles subiram e desamarraram ele.
- Sabe pilotar um barco a vela? - Enzo perguntou
- Não sei não, mas tenho certeza que consigo.
Bagre estendeu a vela e a virou para o norte, os ventos estavam
favoráveis e o barco começou a se mexer em alta velocidade.
- Isso aqui é bem mais rápido do que o outro! - Bagre
exclamou.
Ele se virou para trás e pode sentir a forte brisa que carregava o
barco, ela era fria e úmida com a água do rio. Depois de alguns
minutos apreciando o vento ele voltou a olhar para frente e viu
uma grande ilha na distância "Aquela ilha é muito grande! Vai
demorar muito para contorná-la. Vou torcer para ter uma
passagem desse lado” Ele pensou então virou o barco
levemente para a esquerda em direção a borda da ilha.
04h20 / 60 horas de caminhada / 2 dias e 18 horas até o alistamento
- Ai! Acorda! Eu quero dormir também.
Enzo se levantou e olhou ao redor antes de responder:
- Quanto que a gente andou?
- Muito! Esse barco é rapido. Mas não se preocupe,
daqui pra frente é só seguir o rio, não tem mais aquelas
ramificações gigantes.
Bagre se deitou e Enzo tomou o controle do barco, ainda um
pouco sonolento.
14h00 / 69 horas de caminhada / 2 dias e 8 horas até o alistamento
Os peixes haviam acabado, apesar de serem gigantes a viagem era
longa. Depois de mais de 10 horas de viagem eles chegaram a uma
pequena cidade.
- Isso é Emerita Augusta?
- Não sei. Deveriamos perguntar para alguém.
O rio cruzava a cidade e de ambos os lados eles viam casas e
estabelecimentos de tijolos e ruas que levavam até onde os
olhos não podiam mais enxergar. Após um minuto velejando
pelo rio da cidade eles viram uma doca com um espaço vazio,
Bagre virou o barco até o ela e atracou o barco e ambos subiram
na doca. O lugar estava bem movimentado e não era atoa, um
barco trazendo mercadorias estava sendo descarregado e
homens as dezenas subiam e desciam com caixas pesadas que
traziam produtos de outras regiões da península.
- De onde será que aquele barco veio? - Enzo
perguntou
- Daqui eu sei que não é. - Bagre respondeu rindo
- Ei você! Que cidade é essa? - Enzo chamou um
homem que estava passando ali.
- Badajoz. - Ele respondeu.
- Fica muito longe de Emerita Augusta?
- Esse barco veio de lá, é só seguir o rio, não é muito
longe.
- Obrigado.
Depois de pegarem essas instruções eles voltaram ao seu novo
barco, retiraram a corda que o prendia a doca e extenderam
novamente a vela, e cautelosamente navegaram pelo rio. Logo
a frente havia uma enorme ponte que atravessava o rio,
conectando os dois lados da cidade. A ponte estava aberta,
haviam cordas e enormes postes com polias. Haviam vários
homens segurando as cordas e abaixando lentamente a ponte,
eles estavam todos suados e faziam isso com muita dificuldade
por conta do peso da estrutura, alguns até mesmo caiam no
chão de exaustão. Enzo e Bagre passaram por baixo da ponte
que se fechava enquanto contemplavam essa maravilha da
engenharia.
- Eu nunca vi nada assim! - Bagre disse surpreso
enquanto olhava para cima com brilho nos olhos.
- Nem eu.
Assim que passaram e a ponte ficou para trás, Bagre continuou
a olhando com encanto e dizia:
- Sera que em Emerita Augusta vai ter mais dessas
tecnologias incríveis assim?
- Muito provável que sim! - Enzo respondeu com um
sorriso no rosto.
00h00 / 79 horas de caminhada / 1 dias e 22 horas até o alistamento
Já batia meia noite, e a escuridão voltava a tomar o ambiente,
Bagre era o único acordado, e de longe ele pode ver, pequenos
pontos brancos no meio de toda aquela escuridão. Ele forçou a
os olhos e enxergou, era Emerita Augusta. A jornada que fazia
4 dias chegava ao seu fim.
- Ei! Enzo! Acorda! - Bagre balançava Enzo
agressivamente e com muita empolgação.
- Oque foi? - Enzo falou com voz de sono.
- A gente chegou!
- Oque!?
Enzo se levantou rapidamente e perdeu totalmente o sono, foi
até a ponta do barco e viu as luzes que agora estavam mais
perto e já permitia enxergar a silhueta das casas.
- Hahaha! A gente chegou, Bagre! - Enzo abraçava
Bagre e pulava de um lado para o outro em felicidade.
- Sim! Depois de quase morrer tantas vezes a gente
finalmente acabou com isso!
A festa estava instaurada no barco, os dois riam alto e se
divertiam enquanto pensavam nas possíveis coisas que fariam
agora que finalmente chegaram ao seu tão desejado destino.
Após 10 minutos eles chegaram na cidade, apreciando cada
detalhe enquanto velejavam pelo rio em busca de um lugar
para parar. Bagre encontrou uma doca vazia e atracou o barco
lá, dobrou a vela e amarrou o barco. Enzo desceu sem demora e
foi andando até a calçada.
- Você não vem?
- Eu acho que essa vai ser a última vez que nos
vemos... Eu aindei pensando sobre entrar no exército e eu
resolve que não para mim. Vou ficar aqui, com o barco, vou
encontrar algum lugar que precise de um navegador ou algo
assim.
- Entendi...
Enzo voltou ao barco e extendeu a mão ao seu agora ex-
companheiro.
- Então boa sorte! Vou rezar para que você consiga
achar um bom lugar para trabalhar – Enzo falou sorrindo.
- Obrigado! Espero que você também consiga oque
deseja – Bagre respondeu e apertou a mão de Enzo.
Eles trocaram olhares por mais algum segundos e Enzo se
virou e foi andando lentamente até a calçada. Agora ele
seguiria seu caminho sozinho, assim como seu ex-
companheiro.

Capítulo 5: Nova Vida


Enzo andava pelas ruas da cidade, iluminado por algumas
casas que ainda estavam com suas velas acesas. Todas as
moradias eram de barro, ele não estava acostumado com isso,
sempre viveu em lugares com casas de moradia, mas aquelas,
eram quadradas com tijolos e revestidas em uma massa a base
de barro que a tornava resistênte e agradável aos olhos, ele
olhava o pavimento das ruas onde passavam os cavalos e
apreciava o trabalho de colocar pedras por tantos caminhos
longos. Ele andou por mais alguns minutos, analisando tudo ao
seus arredores, até que chegou em uma praça, era a principal
da cidade. Havia uma pequena estátue no meio da praça,
cercada por água que contratava com a escultura e tornava o
lugar lindo. Enzo apreciou aquela linda arquitetura e se viu
sentando em um banco de madeira ao lado da estatua, ele
estava cansado, com sono. Enquanto apreciava a estátua e o
descanso de estar sentado em um lugar que não balança de um
lado para o outro, olhava de forma vazia para aquela estátua, e
apagou.
09h00 / 88 horas de caminhada / 1 dias e 18 horas até o alistamento
- Outro vagabundo desses? Oque vamos fazer?
- Acorda ele, vamos meter a porrada nesse cara.
Enzo podia escutar dois homens conversando enquanto
dormia. Até que sentiu algumas batidas na cabeça e acordou,
abriu os olhos lentamente enquanto eles eram bombardeados
pela forte luz do sol, quando conseguiu enxergar alguma coisa
ele viu dois homens vestidos com trajes vermelhos, capacetes
bronzeados e cintos com espadas embainhadas.
- Vamos vagabundo, levanta! - Disse o soldado da
esquerda.
- De-desculpe, eu acabei pegando no sono enquanto
estava sentado aqui.
- Sei sei! Você é só mais um daqueles mendigos que
ficam enchendo o saco da população! - Disse o soldado da
direita.
- Não! Você está confundindo as coisas! Eu cheguei
aqui de viagem e não tinha onde ficar
- Viagem? Da onde você está vindo?
- De uma pequena vila a sudoeste daqui, além do fim
do rio que cruza a cidade.
- E veio fazer o que aqui? - O da esquerda perguntou
sem espera.
- Me alistar no exército.
Os dois soldados começaram a rir muito alto instantaneamente
assim que ouviram oque Enzo disse, as risadas eram tão altas
que os moradores de casas que ficavam ao redor da praça
abriram suas janelas para ver o que estava acontecendo.
- Hahahaha, há...hehe. - O soldado esquerdo foi
terminando de rir e disse limpando as lágrimas: Você? No
exército. - Assim que terminou de falar voltou a rir de forma
alta.
“Esses soldados...” Enzo se levantou e saiu da praça. Os
guardas estavam rindo de mais para notarem o sumiço do
garoto. Ele foi andando pela cidade, procurando um lugar que
ele pudesse pedir informações para ir se alistar. "É verdade! A
carta! Preciso encontrar aquela mulher." Enzo de repente se
lembrou da carta que lhe foi dada pela senhora no início de sua
viagem. Ele puxou rapidamente a bolsa de sua costas e abriu,
olhou dentro e foi tirando os objetos que estavam por cima até
que achou a carta, ela estava em um estado deplorável, as letras
extavam manchadas e algumas palavras ficaram ilegíveis, por
conta da água que entrou na bolsa quando o barco foi virado, a
borda estava rasgada em alguns pontos mas nada que
interferisse na leitura “Que bom. A assinatura ainda está
inteira!” Enzo estava no meio da rua, ajoelhado com a carta na
mão, ele se levantou e guardou novamente suas coisas, jogou a
bolsa nas costas. “Bem, agora preciso ir atrás dessa tal de
Guaraciaba de Paula”. Enzo saiu por toda a cidade
perguntando se alguém conhecia essa tal mulher, mas de nada
adiantava, ninguém a conhecia. Ele corria as ruas e as
construções perguntando a todos, batendo em portas, entrando
em lojas, qualquer lugar que tivesse uma pessoa era o suficiente
para perguntar. Depois de 5 horas procurando ele chegou em
um ferreiro, era uma casa de barro, como todas as outras. Enzo
abriu a porta e entrou, haviam várias ferramentas penduradas
na parede, apenas esperando um dono para elas.
- Bom dia. Como posso ajudar? - Atrás do balcão
havia um homem, parecia ter pouco mais de 30 anos, tinha uma
barba negra e comprida cobrindo todo seu rosto.
- Você conhece uma mulher chama Guaraciaba de
Paula?
- A família de Paula, conheço eles sim. Porque?
- Ah que maravilha! Finalmente! Onde posso
encontra-los? - Enzo abriu um sorriso no seu rosto cansado ao
ouvir isso.
- Eles tem uma fazenda, a norte daqui. Só seguir reto
que uma hora você chega.
- Muito obrigado, senhor! Tenha um bom dia.
- De nada.
Enzo saiu a toda velocidade do estabelecimento e seguiu a
norte para encontrar a fazenda no qual o ferreiro estava
falando. Após longas 2 horas de caminhada ele chegou na tal
fazenda, a cidade era enorme e ele se perdeu várias vezes na
rua, oque o fez demorar mais. Enzo chegou ao uma enorme
planície verde, similar as que encontrou em sua viagem, um
pouco mais a frente havia uma enorme área de terra exposta,
provavelmente uma plantação que já havia sido colhida, e ao
fundo uma casinha, grande o suficiente para abrigar uma
família, mas bem humilde com uma laranjeira plantada na
frente. Sem pensar duas vezes ele foi até a casinha, deu a volta
no trigo pois não queria estragar o esforço daqueles que o
plantaram. Chegando perto da casa ele pode ver mais de perto,
a casa não era das mais nobres, mas era bem cuidada e limpa, a
porta de madeira estava reluzente como se tivessem acabado
de colocar. Enzo bateu na trêz vezes na porta e esperou, poucos
segundos depois a porta se abriu, era uma senhora, mais baixa
que Enzo e com cabelos brancos penteados para traz.
- Com oque posso ajudar? - A senhora perguntou com
um sorriso no rosto.
- A senhora que é Guaraciaba de Paula?
- Sou eu mesmo!
- Eu vim entregar esta carta de uma conhecida sua. Eu
tive alguns problemas no caminho e a carta acabou um pouco
danificada.
Ele entregou a carta, ela estava manchada e rasgada em alguns
lugares, mas mesmo assim a senhora a pegou sem comentar
nada e perguntou a Enzo:
- Não quer entrar para comer algo?
- Claro! Muito obrigado.
Ele entrou na casa, seguido de Guaraciaba. Por dentro não era
muito diferente do exterior, era um lugar simples mas bem
limpo e cuidado pelos moradores.
- Sente-se ai. Vou pegar um café para você.
Em alguns minutos a senhora voltou com a jarra de café, duas
xícaras e uma tijela com alguns pães, colocou-os sobre a mesa
de centro e sentou-se em uma das cadeiras. Depois, pegou a
carta que havia guardado no bolso e disse:
- Coma a vontade! Vamos ver de quem é essa carta.
Enzo não esperou, estava morto de fome pois não comia nada
desde que chegou na cidade, rapidamente serviu uma xícara de
café e pegou um pão, eles eram maiores que sua mão e feitos
com farinha integral, era o tipo mais comum da época. Assim
que tomou um gole de café ele se encantou, nunca havia
tomado uma bebida tão deliciosa antes.
- Oque é isso? - Enzo perguntou com um encanto nos
olhos e empolgação na voz
- É café. Não conhece?
- Não, do que é feito?
- O café é uma planta africana, tem um comerciante
que importa grãos de lá. Eles são pequenos e bem ruinzinhos
de comer, mas se você os deixa torrar no sol, moe eles até ficar
um pó bem fino e colocar em um pano, jogar água quente por
cima ele se torna uma bebida deliciosa.
- Onde posso encontrar esse comerciante?
- Ele tem uma barraca verde na feira no centro da
cidade.
- Vou me certificar de passar lá!
- Hahahaha, então tá! - Ela tirou a carta do envolope e
começou a ler.
- Essa Selene, hein... Ainda está viva! Hahaha
Quantos anos aquela mulher tem? - Guaraciaba respondeu com
felicidade após ler a carta.
- Eu lembro de ela me dizer 98 anos.
- Obrigado pela mensagem, menino. Se não for de
muito encomodo pode me fazer um favor?
- Mas é claro! Só me dizer oque.
- Estou precisando de uma enxada nova, a minha
quebrou a alguns dias e precisamos terminar de plantar o trigo.
Tem um ferreiro na cidade no qual eu sempre compro.
- Eu sei quem é, foi com ele que peguei a localização
da sua fazenda.
- Que bom! Tome, compre uma nova.
A senhora entregou um punhado de moedas a Enzo, elas
totalizavam 20 denários, ele as guardou na bolsinha que tinha e
foi em direção a cidade. Agora que já conhecia o trajeto ele
conseguiu otimizar o caminho que pegou e demorou somente
uma hora.
Assim que chegou na loja ele entrou juntamente a outro garoto
mais ou menos de sua idade, ele tinha cabelos ruivos e uma
pele bem clara, os dois entraram ao mesmo tempo e foram até o
balcão.
- Quanto custa uma enxada? - O menino ruivo
perguntou
- 17 denários. - O homem do balcão respondeu.
- Uma enxada? Haha, eu também preciso de uma.
- Ah! Você de novo. Lamento mas só tenho uma
sobrando, levaria alguns dias até eu fazer mais.
Os dois se olharam e ficaram se encarando por um tempo, até
que Enzo falou:
- Eu pago 20!
- Droga! Eu também só tenho 20! - O ruivo falou
- Vocês vão precisar achar um jeito de decidir quem
vai levar.
- Já sei. Vamos fazer uma disputa de rebater pedra na
água. - O albino disse.
- Como assim?
- Bem simples, a gente vai até a doca e cada um pega
5 pedras, temos que arremesa-las na água do jeito certo para
que batam e fiquem quicando, quem fazer a pedra rebater mais
vezes antes de afundar ganha.
Na vila onde Enzo morava não havia rio, a água era extraida de
um posso, por isso ele nunca tinha ouvido falr desse jogo e não
tinha experiencia nenhuma “Como vou comprar isso? Não
posso só chegar lá de mãos abanando!". Os dois foram até a
doca, antes de entrarem o ruivo pegou 10 pedras que estavam
na calçada e deu 5 a Enzo, em seguida eles foram até a ponta.
- O rio está bem agitado, mas isso não é um problema
para mim – O garoto ruivo falou com confiança.
O rio estava correndo na direção contrário deles, mas não
importava a competição deveria começar.
- Eu vou primeiro! - Falou o ruivo.
Ele posicionou sua perna esquerda a frente e inclinou seu corpo
para a direita, jogou seu braço para trás o máximo que pode,
ele segurava a pedra com seu dedo indicador na parte de trás
dela e o polegar levemente em cima só para equilibrar e seu
dedo do meio sendo o principal ponto de apoio da pedra. Ele
deu um enorme passo a frente com sua perna direita, trazendo
seu corpo para frente novamente juntamente com seu braço,
gerando o máximo de força que conseguia e soltou a pedra, ela
foi rasteira, bem próxima da água, assim que entrou em contato
ela bateu e foi jogada para cima novamente, isso se repetiu
mais duas vezes e na quarta ela afundou no rio.
- 3 vezes. Agora é sua vez!
Enzo pegou uma e colocou em sua mão esquerda, ele tentou
imitar a pose feita pelo garoto ruivo mas não tinha muita
prática e não botou a enfaze necessária para dar o máximo de
impulso, além disso ele segurou a pedra como se faria
normalmente, simplesmente fechando totalmente a mão. Assim
que a arremessou ela bateu no rio e afundou, sem ricochetear
nenhuma vez.
- Isso é muito difícil! - Ele falou
- Daqui a pouco você pega o jeito.
O ruivo tomou sua vez novamente, se preparou novamente a
jogou a pedra mais uma vez, ela ricocheteou duas vezes e então
afundou no rio mais uma vez. Enzo prestou atenção em seus
movimentos para entender oque ele havia feito de errado
quando tentou jogar a pedra na primeira vez. Assim que o
ruivo terminou de jogar sua pedra, Enzo já tomou sua vez. Ele
imitou perfeitamente a posição de seu adversário e dessa vez
sua mão estava na mosição correta, segurando a pedra como
um disco e não como uma pedra, e então arremessou-a. A
rocha bateu na água e se ricocheteou para cima, Enzo nesse
momento se animou pois havia entendido como jogar da forma
correta.
- Muito bem, mais um pouco você consegue.
O ruivo se posicionou e jogou a sua terceira pedra, que quicou
na água 4 vezes até que afundou.
- Isso! - Ele comentou.
“Esse cara é muito bom nisso! Não é atoa que ele me chamou
para jogar esse jogo, ele é profissional! Ele realmente quer
garantir que vai pegar essa enxada. Será que ele também teve a
missão dada a ele? Mas eu preciso ganhar, esse meu próximo
arremesso vai ser melhor!” Pegou mais uma pedra com sua
mão esquerda, se posicionou e a jogou, ela bateu na água 2
vezes, passando seu recorde anterior, na terceira vez ela bateu e
ricocheteou mais uma vez. Ele abriu um sorriso e pensou
“Estou pegando o jeito, na próxima eu passo ele" Quando a
pedra bateu a terceira vez ela foi jogada para cima girando e
bateu na água e como não estava estável ela afundou. Agora o
jogo estava mais rápido, eles queriam um passar a outro a todo
custo e voltar para casa. O menino ruivo pegou sua quarta
pedra e posicionou, jogou a pedra que quicou cinco vezes até
que afundou.
- Na próxima não vai ficar só cinco! - Ele disse.
- Dessa vez eu tenho uma técnica nova!
Enzo se posicionou mais para a ponta da doca e dobrou bem os
joelhos, quase encostando no chão. Quando arremessou a
pedra ele girou a sua mão, fazendo com que a pedra começasse
a girar, criando mais estabilidade. Como estava mais próximo
do chão ela foi bem próxima da água, oque evitava ela pegasse
muita velocidade de queda e afunda-se mais rápido, assim que
a pedra encostou na água ela rebateu e continuou em alta
velocidade, rebateu mais duas vezes, batendo seu recorde
anterior na quarta batida ele perdeu a estabilidade e saiu
girando, batendo várias vezes na água o que criou um risco por
onde a pedra passou.
- Isso conta não conta!? - Enzo perguntou.
- Eu acho que não. Não tem como contar quantas
vezes ela bateu.
- Droga!
- Essa minha jogada de agora vai ser a melhor que
você já viu.
O ruivo fez a mesma coisa que Enzo, ele se abaixou mais ainda
e jogou a pedra com toda sua força, fazendo a pedra ricochetear
6 vezes.
- Acha que consegue passar isso?
Enzo estava claramente preocupado, o suor descia em seu rosto
enquanto ele pensava em como fazer a pedra bater mais vezes.
Até que a preocupação saiu de seu olhar, ele olhou pra sua
última pedra e pensou “Espera um minuto...”
- A regra é que a pedra tem que ser jogada no rio
certo? - Enzo perguntou.
- Sim.
Enzo virou para o outro lado o rio e se posicionou.
- Se a única regra é jogar no rio então isso não me
impede de jogar a favor da correnteza.
- Como eu não pensei nisso?
Enzo arremessou a pedra com toda sua força, assim que bateu
ela foi jogada mais a frente. Antes a correnteza era contrária a
direção da pedra então toda vez que batia a água tirava uma
grande parte de sua velocidade, mas agora a pedra estava a
favor e a perda de energia era menor pois não precisava
combater a correnteza. "Eu sou tão acostumado a jogar naquele
lado que nem me toquei na correnteza” O ruivo pensou. A
pedra ricocheteu quatro vezes como antes, mas dessa vez sem
perder a estabilidade e foi capaz de bater uma quinta vez,
porém ele não jogou forte o suficiente fazendo com que na
sexta batida ela afunda-se.
- Que coisa... Você foi bem, pode ficar com a enxada. -
Enzo disse.
- De qualquer jeito esse foi nosso acordo.
Enzo voltou para a casa, demorou um pouco mais dessa vez
levando uma hora e meia.
13h50 / 1 dias e 14 horas até o alistamento
Chegando na casa ele escutou a senhora conversando com
alguma pessoa, a voz da outra pessoa era familiar mas ainda
não podia identificar exatamente de quem. A porta da frente
estava completamente aberta, e Enzo entrou batendo na porta,
ele foi andando até a casa, seguindo a voz, virou a direita na
sala aonde estava sentado quando foi a primeira vez e depois
virou a esquerda na cozinha onde viu a senhora conversando
com o homem ruivo que ele havia encontrado anteriormente.
- Oque você está fazendo aqui? - O ruivo perguntou
expantato ao ver Enzo.
- Calma, Diego. Eu mandei esse menino comprar a
enxada para a gente mas você também comprou.
- Na verdade eu não consegui comprar porque a
última que tinha ele levou. - Enzo tirou o dinheiro da bolsa e
entregou para a senhora.
- Hahaha, desculpe por todo o encomodo – Ela disse
enquanto pegava o dinheiro.
- Vó, vou ir arando a terra.
- Tudo bem.
O ruivo pegou um casaco de pano que estava jogado sobre uma
cadeira e foi para fora. “Vó?" Enzo pensou, “Mas que grande
coincidência, encontrar o neto da senhora que eu precisava
conhecer. Ainda bem que só tinha uma enxada, se não coitada
da senhora que gastaria o dobro do dinheiro”. Guaraciaba
tomou a fazer massa de pão, o trigo já estava moído ela pegava
água e adicionava a um pote com farinha e amassava com as
próprias mãos. Enzo vendo isso percebeu que não tinha mais
nada a fazer ali dentro, então sai pela porta e foi até a plantação
ver oque o neto da senhora estava fazendo, ele o encontrou
com a enxada em mãos, batendo na terra para prepara-la para
as sementes que seriam plantadas ali.
- Oque vocês plantam? - Enzo perguntou.
O ruivo parou de bater a enxada e olhou para trás e disse:
- Trigo. - E voltou a arar a terra. - E você? Faz o que
aqui?
- Eu não sou dessa cidade, vim aqui para me alistar
no exército, porém no meio do caminho encontrei uma senhora
que me pediu para entregar uma carta a sua vó.
- Exército você disse? - ELe novamente parou de arar
e olhou para Enzo. - Eu também vou me alistar!
- Há! Que legal! Quem sabe a gente acaba indo pro
mesmo esquadrão.
- Imagina! Seria muito bom. Mas eu ainda não
perguntei se nome.
- Enzo Fajardo.
- Eu me chamo Diego.
- Quer trocar turnos com a enxada?
- Pode ser.
O trabalho era cansativo mas Enzo se animava agora que tinha
feito um novo amigo que poderia lhe fazer companhia durante
o alistamento, além disso ele não precisaria mais dormir no
banco da praça, agora ele encontrou essa família no qual
poderia pedir para emprestar um quarto a ele. Depois de
algumas horas arando a terra uma carruagem entrava na
fazenda e se aproximava da plantação.
- Quem é aquele? - Enzo perguntou.
- É meu pai, ele foi a cidade comprar mais sementes
de trigo.
A carruagem parou ao lado dos dois e um homem de cabelos
escuros desceu da carruagem.
- Eu esperava que seu pai fosse ruivo também.
- Incrivelmente eu sou o único. Ué, cadê a mãe?
- Ela ficou lá na cidade, parece que tem um homem
quer fazer um acordo para comprar a nossa colheita. - O pai de
Diego falou.
- Que bom!
O sol estava começando a se pôr, o céu ainda se mantinha bem
azul, eles já havíam arado metade de toda a platanção.
- E quem é o garoto te ajudando?
- Ele veio de uma cidade além do rio que cruza a
nossa, ele veio se alistar no exército e entregar uma carta a vó.
- Tudo bem? - O pai de Diego disse estendendo a mão
para Enzo.
- Sim! - Enzo respondeu apertando sua mão.
O sol já começava a se por, o céu antes azul agora se tornava
um forte laranja e a terra já não estava iluminada o suficiente
para continuar arando. Os dois foram para casa onde estava
toda a família reunida na mesa de jantar, incluindo a mãe de
Diego que já havia voltado da cidade e seu irmão mais novo,
Enzo os cumprimentou e se sentou à mesa.
- Como foi a negociação? - Diego perguntou.
- Deu tudo certo, ele vai comprar ¾ da nossa colheita.
- Que bom.
Na mesa estava servido pão, diferentes frutas e uma jarra com
café, Enzo sem delongas já serviu uma xícara para si mesmo.
Todos jantaram, sobrando somente dois pães e algumas frutas,
a mãe de Diego e seu irmão já estavam se levantando para ir
dormir enquanto os outros ainda ficaram lá.
- Desculpe por todo esse incomodo mas teria como eu
dormir aqui por uma noite?
- Não tem incomodo algum, o único problema é que
não temos quartos nem camas extras.
- Eu durmo no chão então, já dormi em lugares
piores.
E assim se deu, cada um foi aos seus quartos enquanto Enzo
ficou por ali mesmo, deitou-se ao chão e fechou os olhos. Pela
primeira vez ele podia dormir tranquilo com a certeza que não
precisava se preocupar com animais comendo a sua comida,
insetos o picando por toda a noite ou até mesmo guardas da
cidade, ali ele perdeu todo o seu cansaço e pode dormir sua
melhor noite nos últimos 5 dias.
09h00 / 88 horas de caminhada / Dia do alistamento
O sol estava começando a nascer e Enzo acordou, mas não pelo
sol, mas sim pelos sons que viam da cozinha “Já tem gente
acordada essas horas?” Ele se levantou do chão e foi até lá e
encontrou Guaraciaba mexendo com dois jarros de água.
- A senhora já está acordada essas horas?
- Bom dia! Sim, eu estava pegando água no poço.
Enzo voltou a sala de jantar e se sentou a mesa, onde lá ficou
por uma hora até que o resto dos moradores acordassem, nesse
tempo onde ficou sentado ele ficou sozinho com seus
pensamentos, ele pensava como seria o alistamento para o
exército “Sera que é só me inscrever e começa o treinamento ou
vai ter um teste? Se tiver eu vou conseguir passar?” Era oque
mais passava por sua cabeça, a ansiedade batia forte em seu
coração mas ele se acalmava pois sabia que não podia se
desesperar antes do grande momento acontecer “Quem sabe eu
vou ganhar muito dinheiro e construir uma casa de barro e
tijolos com uma cama de lã de ovelha e travesseiros de penas
de ganso. Seria maravilhoso!” O resto das pessoas acordaram e
todos foram a mesa para tomar o lanche da manhã, como era
chamado. Todos deram bom dia uns aos outros e novamente
foram a mesa.
- Como funciona o alistamento? - Enzo jogou essa
pergunta a mesa.
- Eu também não sei, mas por conta da nossa idade eu
imagino que teremos que passar por um teste, se fossemos mais
velhos eles provavelmente aceitariam sem muita resistência.
Por sinal, é hoje após o meio dia que começa o alistamento. -
Diego respondeu.
- Você sabe onde fica o quartel?
- Sim, nós podemos ir lá logo que almoçarmos.
Assim que terminaram de comer, Diego e Enzo voltaram para a
plantação para terminar de ará-la, trocando turnos como no dia
anterior. 4 horas depois eles terminaram e voltaram para casa
reabastecer seus jarros d’água, e então foram novamente a
plantação onde Enzo ia semeando e regando enquanto Diego
tampava com terra. 2 horas depois eles terminaram.
- Acho que acabou. - Enzo disse.
- Finalmente! Não aguentava mais esse sol. Vamos
voltar agora, o almoço deve estar pronto.
E assim fizeram, voltaram para casa e o almoço já estava
servido a mesa. Era um cozido de peixes tirados diretamente
do rio da cidade e alguns pedaços de frango que estavam
assados, juntamente com ovos cozidos e suco de laranja tiradas
do pé que estava plantado na casa. Um almoço comum para a
época. Todos comeram muito bem, Diego e Enzo puderam
recobrar suas energias com este almoço.
- É melhor vocês dois ja irem indo ao quartel, eu vou
precisar da carruagem para fazer um serviço na fazenda
vizinha então vocês vão ter que ir a pé. - Disse o pai de Diego
- Se é assim nós já vamos. - Diego respondeu já
levantando da mesa.
Os jarros de água já estavam cheios, mas Diego não lembrava
de tê-los enchido. Eles os pegaram e foram andando
calmamente até a porta, se despediram de toda a família e
seguiram, pisando para fora ele olhou novamente para sua
casa, ele sabia que talvez não voltasse mais para aquele lugar, o
exército era um lugar árduo e sempre precisavam de seus
soldados. Diego olhou para a laranjeira no qual havia acabado
de desfrutar, a saudade já batia em seu coração, e uma enorme
preocupação o tomou.
- Vamos? Se não vamos nos atrasar. - Enzo falou
colocando a mão no ombro de seu amigo.
- Vamos...
Essa era a última caminhada de Enzo, junto a ela vinha uma
enorme alegria e um sentimento de conquista, a distância que
ele havia caminhado até ali e agora aqueles eram os últimos
metros até o objetivo que ele perseguia desde o início. Seus
passos eram mais rápidos e ele passava a maior parte do
caminho encarando o seu com um sorriso no rosto pensando
em como a sua vida mudaria a partir dali “Oque será que eu
vou poder comprar com o salário? Ouvi dizer que é muito"
Esses pensamentos recorriam em sua cabeça constantemente.
Após uma hora eles podiam ver as paredes do quartel, o lugar
era grande com enormes muralhas que contornavam todo
perímetro, elas eram pintadas de branco, oque era diferente do
restos das casas que tinham somente a cor do material
utilizado. As tintas eram caras e somente os mais nobres
podiam ter acesso a essa luxuosidade. Chegando mais perto
eles puderam ver os portões, eles eram bem grandes e feito de
madeira reforçada com barras de ferro horizontais que
cruzavam em alguns pontos do portão. Haviam dois guardas a
frente, um de cada lado, eles ficavam ali parados sem mexer
um dedo, cada um empunhando uma lança com ornamentos
como plumas tingidas de vermelho atrás da lâmina, quando
Diego e Enzo se aproximaram do portão eles foram barrados
pelos guardas, e o da direita perguntou:
- Oque vocês estão fazendo aqui?
- Viemos nos alistar. - Enzo respondeu
- Espera um minuto... Eu conheço você. Você é aquele
mendigo que estava sentado na praça!
- Eu não sou mendigo coisa nenhuma!
- Porque nós deveríamos deixar um mendigo entrar
no exército?
“Mas que droga! Tem que vir esses caras enxerem o saco!”
Enzo não sabia o que fazer para convencer os guardas a
deixarem ele entrar, até que teve uma ideia.
- Vocês ficam aqui o dia inteiro?
- Sim! Não existe um momento que vocês virão que
nós não vamos estar aqui atentos para expulsa-los.
- Então oque vocês estavam fazendo na praça mais
cedo?
- E-Eh... Eeeh nós - O guarda a esquerda começou a
gaguejar e olhar para seu companheiro com um certo
desespero.
- Entra logo vai! - O da direita desistiu e falou.
Os dois passaram tranquilamente entre os guardas e entraram
dentro do quartel.
- Você conhece aqueles caras? - Diego perguntou.
- Sim... Eles vieram me incomodar ontem de manhã
quando eu dormi na praça.
- Você dormiu na praça?
- Sim.
Eles iam se aproximando do prédio principal, ao lado haviam
várias casinhas em fileiras, todas as construções tinham telhas o
que era bem incomum, chegando a frente da construção
principal eles se depararam com a porta.
- Ué, é pra bater? - Diego perguntou
- Ao que parece...
Diego deu quatro batidas na porta e se distanciou um pouco,
depois de vários segundos que pareciam uma eternidade para
os novatos ansiosos, um soldado abriu parcialmente a porta,
tampando o interior com seu corpo.
- Vieram se alistar? - O soldado perguntou.
- Isso mesmo. - Diego respondeu.
- Virem a direita, aqui. Fiquem na linha junto com os
outros, começaremos em 10 minutos.
- Obrigado.
Os dois seguiram para a direita, passando da construçao
central eles viram uma linha de homens, todos pareciam ter em
média 16 a 20 anos e com roupas de camponeses. Eles estavam
em uma linha que seguia da ponta ao fim da construção
central, de lado uns para os outros e com as mãos para trás do
corpo. Aquele lugar era o local de treino do acampamento,
haviam vários bonecos de palha para os arqueiros treinarem e
cercados para duelos entre soldados. Diego e Enzo entraram na
linha, um do lado do outro e ficaram na mesma posição do
resto dos homens, lá eles ficaram por muito tempo, a noção de
tempo estava perdida, eles não podiam conversar ou se mexer,
talvez nem pensar eles pudessem porém o faziam. Depois de
vários minutos um soldado chegou, suas vestimentas eram
diferente do resto, ele não usava armadura muito pesada e nem
capacete, sua estatura era levemente mais baixa que a média
das pessoas ali, seu cabelo era castanho e curto e sua barba
cheia e mais escura, e junto a eles haviam dois soldados
comuns.
- Boa tarde! - O soldado gritou.
Todos os homens que estavam se alistando responderam,
Diego e Enzo estavam perdidos mas foram acompanhando o
resto.
- Eu sou o Sargento Spicio e hoje vocês estarão sobre o
meu comando! Eu serei responsável por decidir quem aqui é
um homem real ou somente mais um frango interessado por
dinheiro! - o sargento gritava a todo momento e a cada frase
que falava ele olhava para uma ponta da linha, sempre
mexendo as mãos junto a fala.
- E qual sera o meu critério? Vocês estão pensando,
ele é bem simples, o meu olhar! Meus olhos são mais agussados
do que o de qualquer gato! Só de olhar para um homem eu já
sei se ele é digno de segurar uma espada ou somente mais um
que nasceu para puxar enxada no sol quente o dia todo. - Ele
continuava.
O sargento se aproximou de um dos homens do centro da linha
e ficou bem próximo a ele.
- E você soldado? Acha que é digno de ser chamado
assim!?
- S-sim, sargento!
- Você está desenhando um projeto de barco!?
- ...
- Hein!?
- Não senhor!
- Então porque parou para pensar? Isso aqui não é
matemática para você pensar! Eu quero respostas rápidas, sem
enrolação. Eu tenho um milhão de coisas para fazer no dia para
ficar aqui esperando essas mocinhas pensarem no que vão
falar!
- Sargento, perdão.
- Estou piedosos hoje, vou te dar mais uma chance. E
não pense em vacilar!
“Oque sera que ele quer ver em um soldado? Com certeza ele
tem um critério além de achar que sim. Seria uma boa
postura?” Enzo se perguntava, olhando para a cena.
- E você ai?! Tá olhando oque? - O sargento falou
encarando Enzo e foi andando até ele.
- Você acha que você tem permissão para olhar para o
lado!?
Enzo não respondeu.
- Em algum momento eu disse que você podia olhar
para o lado?
- Não, sargento.
- Que bom que você sabe. Agora olhe para frente!
- Sempre, senhor!
“Mas que droga! Agora eu ferrei tudo mesmo. Como não
pensei nisso? Espero que ele ainda me aceite” O sargento foi até
a outra ponta da linha, onde seguiu novamente a ponta onde
Diego estava, encarando cada homem em seu caminho, os
olhando de cima para baixo observando cada detalhe. Assim
que chegou a Diego ele voltou para o centro junto aos seus dois
guardas e falou:
- Minha analise está completa. A partir de agora irei
anunciar aqueles que foram aprovados. Eu passarei por toda a
linha novamente e irei colocar a mão sobre o ombro esquerdo
daqueles que oficialmente se tornaram soldados, os que foram
aprovados devem seguir a o prédio central e formar uma fila
até a mesa onde receberam o seu certificado e junto a ele um
papel que da todos os detalhes do que devem fazer a partir
dali, a medida que eu for colocando a mão sobre o ombro vocês
já devem seguir até a mesa. Já aqueles no qual eu não aprovar
devem esperar até o último ser aprovado e então poderão se
retirar, todos de uma vez.
O sargento foi a outra ponta da linha, longe de Enzo e Diego e
foi encostando no ombro direito de alguns soldados, os que não
eram aceitos não pareciam ter padrão aos olho leigos, ele ia
rapidamente aprovando e rejeitando vários soldados e em 2
minutos ele já estava se aproximando da outra ponta. Ele
chegou a frente de Enzo, eram apenas alguns segundos que ele
ficou mas os pensamentos que passavam sobre sua cabeça
eram vários “Ele brigou comigo antes, porque me aceitaria? Eu
não quero ter feito toda essa viagem a toa, eu cheguei a matar
pessoas, não posso simplesmente ser rejeitado no último
momento" Enquanto ele pensava isso sua visão se desligou, ele
enxergava mas não via ou compreendia aquilo que estava a sua
frente. Os pensamentos eram cada vez mais constantes e a
ansiedade ficava maior até que algo o acordou, um leve toque
sobre seu ombro esquerdo. Enzo estava aprovado! Ele não
esboçava por medo do sargento voltar atrás mas sua felicidade
era imensa, sem demora ele se virou e foi seguindo até o prédio
central onde encontrou a fila dos outros aprovados, eram
pouco mais da metade dos que haviam entrado e um minuto
depois Diego chegou e ficou atrás dele.
- A gente conseguiu! - Enzo sussurrou para Diego
- Sim! Eu nem acredito.
Agora tudo que faltava era conseguir o seu certificado e ele
seria oficialmente um soldado remunerado do exército romano.
Que acontecimentos o esperavam em suas campanhas? Aquele
era o começo de uma nova vida. A jornada foi árdua e muitas
vezes passou por sua cabeça que ele morreria eu que devia
desistir e voltar junto a sua família. A fila andava e ele se
aproximava cada vez mais da mesa. Ele pensava sobre Bagre
“Será que ele conseguiu um emprego?” Ele havia conquistado
aquilo que cobiçava, será que seu colega também havia? Ele
chegou a mesa, nela havia uma mulher mais velha, com os
cabelos começando a branquear, ela entregou a ele uma folha
de papiro com várias escritas e a assinatura do Sgrt. Spicio e ao
fim do papel uma linha. A mulher entregou uma pena com
tinta a Enzo e disse:
- Assine nessa linha.
“Enzo Kappes Fajardo” Ele assinou e pegou o seu certificado
juntamente a outro papel, ele não os leu, foi para fora e lá ficou
a espera de Diego.
- A gente conseguiu! - Diego falou animado assim que
pisou para fora do acampamento. - Qual divisão você pegou?
Enzo pegou o seu certificado e o leu cuidadosamente, haviam
várias parebenisações por entrar no exército e frases e frases de
motivação e no último parágrafo estava escrito "O dever de
guardar as fronteiras de nosso reino é seu agora, você deve
protejer nossas fronteiras com os árabes"
- Eu vou ser da guarda da fronteira com os árabes.
- Eu também!
- Tem esse outro papel ainda.
Enzo pegou o segundo papel que lhe foi entregue e o leu em
voz alta “No porto da cidade ao pôr do sol o barco de
transporte de recrutas o esperara para levá-lo até o seu local de
serviço”
- Parece que a gente vai ficar aqui mais algumas
horas. - Enzo terminou.
- Que bom! Vou poder falar com meus pais.
Ambos voltaram até a casa de Diego onde anunciaram a família
a sua conquista, eles comemoraram felizes. As 18h30 o sol
começou a se pôr, o pai de Diego preparou a carroça e levou os
dois até o porto, chegnado lá eles viram o barco iluminado pela
luz laranja do sol, ele era grande e várias pessoas embarcavam
constantemente. Diego e Enzo desceram da carroça e se
despediram.
- Se cuidem na viajem! - O pai de Diego disse aos
dois.
- Obrigado por tudo – Enzo se despediu
- Adeus, pai.
Eles subiram na rampa e mostraram seus certificados ao
guarda que lá estava e então tomaram o seu lugar dentro da
embarcação. Ali começava uma nova jornada.

Fim do primeiro volume da Lore do TBS


Escrito por Enzo K. Fajardo e auxiliado por Thiago
Arakaki
Participantes desse volume: Rypoja, Shupingóli e
sua família, Bagre.

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