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I. Hellhound on my trail

A mulher olhou o prédio a sua frente e respirou fundo antes de entrar. Assim como

ela, havia muitas pessoas para serem entrevistadas, assim que entrou no Hall uma mulher

com o uniforme padrão à guiou para a sala de espera.

A ansiedade tomava conta, assim como todo o nervosismo de ter que passar por mais

uma entrevista de emprego. Um dos vários pensamentos que passando por sua cabeça, o

principal era o medo de falhar e ter de voltar para casa sem nada novo.

No ônibus de volta para a casa, a mulher pensava em seu pai, mas palavras que

conforto que ele sempre tinha para consolar quando algo dava errado.

A minúscula casa no subúrbio de Aberdeen não parecia tão aconchegante quando

deveria, a Madeira quase podre da escada estralava a cada passo que a mulher dava. A sala

pequena com um papel de parede verde musgo só fazia o lugar parecer mais desconfortável, a

poltrona manchada e a TV de tubo não eram agradáveis.

A mulher atravessou o pequeno corredor e despiu-se colocando uma roupa casual e

sua jaqueta. Em sua carteira havia dois dólares e setenta e cinco cents, tudo o que havia

restado da semana de trabalho no canteiro de obras. Derrotada a mulher respirou fundo

calculando quando daria duas refeições congeladas.

O frio do inverno castigava à todos, a ida ao supermercado foi rápida e agoniada. Se

não encontrasse um emprego logo Lauren não teria como pagar o aluguel e muito menos se

alimentar. O aquecedor da casa estava quebrado, e isso só piorava toda a situação.

A única coisa de mais valioso que havia era seu notebook, mas por estar passando por

tudo isso ela já cogitava vendê-lo. Lauren se levantou para atender as batidas na porta. Ao

abrir a porta a mulher viu o homem alto e barbado segurando um galão que parecia ter

gasolina, um sorriso alegre se formou em seu rosto ao abrir a tela e o abraçar.

Os dois entraram na casa, Lauren fez os dois últimos copos de café e os serviu.

O homem recebeu a xícara de bom grado e sorriu para a mesma que se sentou à sua

frente em uma cadeira velha.

"Como sabia que eu estava aqui ?" Ela indagou.


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"Falei com o velho Joe, ele disse que você estava aqui." O homem respondeu com

uma voz rouca.

"Joe tem me ajudado, não tem sido fácil desde que voltei" Lauren disse cabisbaixa.

"Jag, todos estão na cidade. Eu tenho certeza de que eles ficariam felizes com sua

volta, por que não volta ? Somos sua família e eu tenho certeza que seu pai não aprovaria o

jeito que está vivendo." Disse o homem se aproximando parar segurar as mãos da mulher.

"Eu sei que não, mas não sei se posso voltar."

"Claro que pode! Somos sua família e isso nunca vai mudar. Pensa um pouco nisso

okay ? Ficaremos na cidade no máximo três semanas." O homem tentava ao máximo

convencê-la.

"Eu vou pensar nisso tio Forsythe ."

"Quase que ia me esquecendo." Ele se levantou rindo do próprio esquecimento,

puxando a carteira do bolso traseiro, tirou cinco notas de cem dólares.

"Eu não posso tio" A voz da mulher parecia trêmula e envergonhada.

"Garota, seu pai não deixaria você assim e eu não vou deixar." O homem colocou o

dinheiro na poltrona e à abraçou.

"Você pode ter crescido, mas sempre será minha garota Jag. O que aconteceu não te

faz pior, te faz mais forte, lembre-se sempre que quando você ganha uma cicatriz a mais isso

só mostra  o quão persistente você é." Depois de alguns segundos em silêncio ele a soltou,

sorrindo vibrante ao ver a jaqueta que a mulher vestia.

"Obrigada tio Forsy"

"Garota me respeita! meu nome é FJ"

O homem a repreendeu rindo.

"Obrigada FJ"

Ela ergueu o punho e o homem o tocou.

"Vou deixar a gasolina pra caso queira nos acompanhar"

"Você é o melhor, tio" A mulher o abraçou e pouco tempo depois se despediu do

homem que seguiu em direção ao centro.


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Ao longo da semana Lauren conseguiu quitar a dívida do aluguel, fazer as compras e

por fim teve tempo de pensar na proposta.

Olympus bar

"Seu filho da puta, estava roubando o tempo todo!" O homem de meia idade tatuado

gritou batendo na mesa de sinuca.

"Você ainda não aprendeu a jogar velho Spark"

O garoto respondeu.

O bar era escuro, iluminado por letreiros de neon. No palco Five Fingers Death Punch

tocava com uma multidão ao seu redor. No balcão do bar homens e mulheres se

embebedavam-se.

"Escutem seu merdas!"

Todos olharam para o palco onde Huff um homem alto, forte e tatuado gritava.

"Hoje nós temos mais um motivo para festejar"

Huff puxou a mulher tímida para um abraço.

"Jaguar voltou pro Olympus porra!!" E disse gritando no microfone antes de

continuar. "Mas não só isso, nossa garota vai voltar aos Infernals Gods."

O bar dos motoqueiros começou a gritar em alvoroço, o que era só para ser uma

comemoração casual passou a ser uma festa que durou até o amanhecer do dia.

Uma semana depois os Infernals Gods saíram de Aberdeen e foram em direção à

Portland, passando pela rodovia 84, algumas horas o grupo decidiu parar em La grande -

Oregon. Duas horas depois da pausa eles seguem pela Rodovia 15 e mudam para a 84 e

depois 80 até Rock Spring onde pararam para dormir.

Em Rock Spring, o grupo alugou alguns quartos no motel mais barato da pequena

cidade. Como já era madrugada e quase todos os estabelecimentos estavam fechados, todos

foram para a lanchonete da conveniência do posto que ficava na frente do motel de letreiros

queimados.
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Ao entrarem no lugar todos os olhares foram direcionados a eles, sussurros curiosos e

sorrisos cafajestes podiam ser vistos no lugar. Como Rock Spring ficava em uma rodovia,

alguns caminhoneiros e motoristas faziam sua pausa para descanso ali.

"Então, o que querem ?" A garçonete simpática perguntou na mesa onde estavam

sentados alguns do grupo.

"Seu telefone" Toni respondeu levando um tapa de Fangs.

"Perdoa a mal educação dela, ela parece um animal. Tem alguma sugestão ?" A

garçonete sorriu.

"Tem o Classico, X-Burguer com batata frita"

"Acho que todos vamos querer um desses então" Disse FP.

A garçonete serviu café para todos e saiu.

"Então Jag, como se sente voltando para os Infernals Gods ?"

Fangs perguntou tomando um gole do seu café.

"Tem sido familiar, fazia tempo que eu não sentia isso." A mulher respondeu.

"Ah da um sorriso, você parece sempre triste. Não é tão ruim estar com a gente é ?"

Toni perguntou rindo.

Quando a mulher ia responder, a garçonete voltou com os pedidos, antes de ir

novamente ela entregou um papel com o número para Toni.

"Porra, por que você sendo obra consegue pegar todas ?"

Fangs perguntou com a boca suja de ketchup.

FP sorriu vendo os dois discutindo de uma forma divertida.

"Toni tem razão, você parece sempre estar mal"

O homem disse olhando Lauren.

"Desculpa, só tem muita coisa na minha cabeça agora"

A mesa ficou em silêncio até o fim da refeição.

Assim que terminaram o cada um foi pra seu quarto, Lauren estava dividindo com

Quinby. Ao abrir a porta Lauren viu Quinby nua com dois caras na cama, sem ser vista ela

tranca a porta rapidamente e caminha até o banco mais próximo.


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Com a cabeça baixa Lauren deixou todos seus pensamentos fluírem, assim como o

líquido quente da garrafa de bolso que descia por sua garganta. Horas se passaram até que

Quinby saísse do quarto com Sweet Pea e um homem que Lauren não reconhecia.

"Um Deus sempre volta pro Olimpo"

Sweet Pie disse se dirigindo à Lauren.

"Parece que sim"

A mulher levantou o olhar e deu um sorriso tímido assim que viu quem era.

"Senti sua falta Jaguar"

"Também senti a sua Sweet"

O homem fez menção a um abraço mas a mulher recuou rindo.

"Desculpa mas eu vi o que estavam fazendo, talvez amanhã depois que tomar banho"

Ela disse em tom de brincadeira.

"Você viu ? Devia ter se juntado a nós." Ele respondeu rindo.

"Nem nos seus sonhos Sweet"

O homem se sentou ao lado no banco.

"Por onde esteve esse tempo todo ? Sentimos sua falta. Seu pai sentiu."

A mulher deu um sorriso fraco antes de responder.

"É complicado."

Um silêncio torturante se fez presente por alguns minutos.

"Nós vemos amanhã ? Estou morta de sono e temos que pegar estrada daqui umas

horas" A mulher tentando fugir, falou a primeira desculpa que passou por sua cabeça.

"Claro, até amanhã Jag"

O homem respondeu e foi em direção ao quarto.

Ao clarear do sol todos saíram dos quartos. Depois de um rápido café e mais sete

horas de viagem chegaram a Pueblo, Colorado. A pequena cidade era o centro da história de

todos os Infernals. A maior parte dos membros nasceram ou foram criados ali, Lauren não era

diferente. Infância e grande parte da adolescência Lauren passou ali.


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A maioria dos membros voltaram a cidade para rever as famílias, e para as festas que

sempre tinham em épocas específicas do ano. Reencontro da escola, ação de graças e todas as

datas que não faziam tanto sentido para Lauren. Todos estavam ali para festejar, todos menos

Lauren.

Como todos, a mulher se separou do grupo e seguiu caminho dentro da pequena

cidade, estacionou a moto em frente à casa velha de madeira, seguiu até a porta dando duas

batidas fracas. Ao abrir a porta, uma senhora a olhou da cabeça aos pés com um olhar de nojo

e desprezo antes de fechar a porta na cara da mulher.

"Oi mãe"

Lauren disse em um sussurro.

Sem rumo, a mulher respirou fundo e voltou para sua moto e foi até a casa de uma

velha amiga.

A família de Dinah era acolhedora, faziam questão de fazê-la se sentir em casa.

Depois de alguns minutos de felicidade ao ver a mãe da amiga, Lauren finalmente viu Dinah.

"Mãe, acho que você não me deu os remédios hoje, eu estou vendo a Lauren aqui na

sala."

"Você não tem jeito Dinah"

Lauren correu em direção a amiga e a abraçou, no instante que Lauren a abraçou

Dinah começou a chorar.

"Ei, eu sei que sou feia mas é pra tanto ?"

Lauren disse limpando as lágrimas da amiga.

"Você é ridícula Jag, eu estou tão feliz em te ver que mal posso falar. Você vai ficar

aqui não vai ? Claro que vai."

"Eu vou ficar no hotel, no centro."

"Nada disso, você é nossa convidada de honra. E depois de três meses sem ver você,

você vai ficar aqui mesmo! Gorden vai ficar tão feliz em te ver."

Milika disse animada.

"Não posso dizer não."


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Lauren disse rindo.

A família estava em clima festivo por ter a mulher como hóspede, depois do jantar

Gorden ajudou a filha a subir as escadas até o quarto.

"Bom meninas, acho que vocês têm muito papo para colocar em dia, ainda é assim

que os jovens falam ?" Gorden disse meio atrapalhado.

"Pai, não somos mais crianças"

Dinah disse erguendo o corpo e subindo na cama.

"Pra mim, vocês sempre vão ser aquelas meninas rebeldes de quando eram

adolescentes."

"Pai!" Jane exclamou.

"Okay, Okay, estou indo. Boa noite para vocês garotas, se precisarem se algo

estaremos lá embaixo."

As mulheres esperaram o Sr. Hansen fechar a porta para começarem a falar. A noite

foi passada quase em branco.

No café da manhã da família Hansen, a Sra. Milika não parava de perguntar as coisas

para Lauren.

"Mãe! Deixa ao menos ela comer primeiro"

Dinah disse.

"Não fala de boca cheia Jane !"

Sua mãe a repreendeu.

"Então Lauren, você vai no reencontro que vai ter hoje ?" O homem na mesa

perguntou tomando um gole do seu café.

"Provavelmente não senhor, digamos que a escola não foi uma época de boas

lembranças."

"Ora, por que não ? Você deveria ir e acompanhar Jane e sua namorada."

"É ficar segurando vela ? Dispenso senhor."

Lauren disse rindo olhando a amiga.

"Menina não me chame de senhor, me faz parecer velho" Gorden disse divertido.
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"Então tá bom novinho, nos vamos ao centro"

Disse Dinah saindo da cozinha.

"Você não tem jeito Jane"

Sr. Hansen gritou.

"Com licença."

Lauren saiu da cozinha e seguiu Dinah até o quintal da casa.

"Namorada é ?"

Lauren chegou por trás de Dinah e repousou a mão no seu ombro.

"Esqueci de falar ontem"

"Esqueceu de falar ou não quis ? Qual é Jane, nos conhecemos a mais de vinte anos, o

que houve ?"

Lauren pergunta se sentando no balanço branco.

"Eu Lauren! Porra olha pra mim."

Ela disse frustrada.

"Porra, gostosa pra caralho"

Lauren disse se esquivando do tapa de Dinah.

"Estou falando sério Lauren, olha pra mim. Eu estou nessa merda de cadeira sem as

duas pernas." Dinah disse olhando para suas pernas amputadas.

"E dai ?" A mulher questionou com normalidade.

"Lauren !"

"Dinah !"

"Nós ainda não fizemos nada. Por que eu tenho vergonha, eu não sei se ela realmente

quer algo sério e eu não estou na idade de ficar com joguinhos."

Ela disse cabisbaixa.

"Realmente, você está muito velha"

"Ouch!"

"Seus tapas doem sabia ?"

Lauren diz.
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"É sério Jag, eu não sei se consigo." Dinah disse baixo.

"Ei, ela está com você. Ela já está com você, Okay ? E pelo que sua mãe me disse ela

te ama muito. Dinah, já fazem quatro anos, ela estava com você antes e está agora depois do

acidente. Você ainda tem alguma dúvida que ela te ama ?"

Lauren se aproximou da cadeira e apoiou as suas mãos no apoio da cadeira.

"Se você ajoelhar eu te mato."

Dinah disse seria.

"Eu não ia senhora raivinha. Dinah, ela está com você antes e passou por tudo isso

com você, por que ainda não a pediu em casamento ?"

"Eu comprei o anel" Disse com um sorriso orgulhoso no corpo.

"É qual a desculpa pra você não pedir ?"

"Eu tenho medo."

"De que ?" A morena perguntou.

"Eu não sei Lauren !"

"Pensa um pouco, ela seria louca de não casar com você, e se ela for louca de casar, a

gente festeja." Dinah sorriu com a piada.

"Você é uma completa idiota"

"Parece que algumas coisas não mudam não é ?"

Lauren voltou a se sentar no balanço.

Reencontro da turma de 79'

9:57 da noite.

A festa no ginásio havia apenas começado mas Lauren já parecia entediada. Dinah

havia sumido na multidão com sua namorada, Normani. Lauren estava em um canto qualquer

da quadra onde acontecia a tal festa.

Toda a classe estava lá, todos pareciam ter vencido na vida. O nerd virou empresário,

o Atleta que fazia bullying virou jogador profissional e já estava casado, os fracassados

estavam no palco tocando, as Cheers a maioria estavam casadas, alguns com os namorados

atletas da época, outras com outras cheers e algumas exceções estavam solteiras. Lauren
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observava todos que pareciam se divertir, ao perceber que a bebida em seu copo havia

acabado ela foi até o bar.

"A garrafa por favor" Sua voz ja estava alterada.

"Senhora eu não posso lhe dar a garrafa" 

Lauren tirou uma nota de cem do bolso.

"A garrafa, por favor"

O Barman logo entregou a garrafa de Jack Daniels para a mulher que seguiu em

direção a saída da quadra.

Havia muitos casais se pegando na escadaria do prédio, a mulher passava por eles sem

a menor emoção. Rolando os olhos e bebendo na garrafa.

Quinze minutos de caminhada na direção oposta do ginásio, havia uma passagem para

trens de carga; Lauren costumava ir com Dinah até lá todos os dias antes de se alistarem.

Com a garrafa na mão, já entorpecida ela caminhou e se sentou nos trilhos envolto de uma

grama alta e a floresta logo atras. 

Todos os pensamentos da mulher estavam confusos. Muitos pensamentos passavam

em sua mente. Sua mãe gritando, as surras, o reformatório, o exército, a explosão. Quando se

deu conta, a mulher estava chorando, soluçando e se lamentando pela vida de fracassos.

"Me desculpa pai - - me desculpa"

A mulher gritava para o nada. Repetindo varias vezes.

Virando quase a garrafa inteira a mulher se levantou quando viu ao longe a luz do

trem, os pedregulhos e os trilhos começaram tremer enquanto o trem chegava cada vez mais

perto. A luz começava a cegar seus olhos, e seus sentidos já completamente entorpecidos a

faziam ficar quase surda com o som da buzina. Lauren apenas fechou os olhos com força

soltando um último grito antes de sentir seu corpo ser empurrado com brutalidade para fora

dos trilhos.

O trem passava diante dos seu olhos, pertos dos seus pes quando a garota tentava se

levantar.

"Qual a porra do seu problema?"


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Ela balbucia tentando enxergar o corpo a sua frente.

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