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Os Pecadores

1 - Saltos Altos
Era um sábado lindo, ensolarado e tranquilo. As crianças brincavam pelas ruas com suas roupas
coloridas, suas mães iam ao shopping comprar coisas inúteis e seus pais ao centro para se
encontrarem com suas amantes. Tudo parecia fluir de acordo com o planejado para os mais
desatentos, entretanto, se você olhasse mais de perto, notaria que não está sendo um dia nem um
pouco tranquilo para a pequena população de Peaks.
Bem, visitando o centro da cidade poderíamos ver duas pessoas de nosso interesse.
Primeiramente, Chloe, a menina de pele escura e de longos cabelos negros que balançavam
enquanto ela desfilava pelas ruas da cidade, ela parece perfeita à primeira vista, mas não se
enganem pela marca de seus sapatos. Ao seu lado estava Dave, seu fiel escudeiro, um garoto
que avistado de longe parecia apenas o típico loirinho de classe média, uma visão muito
equivocada, pois se soubessem o que já fez não o considerariam nem um pouco típico. Porém,
essas são histórias para outro dia.
Nesse dia em específico, Chloe e Dave andavam em direção à uma cafeteria que ficava na
esquina de uma larga rua do centro. Chegando lá, fizeram um pequeno sino instalado em cima
da porta badalar anunciando sua chegada e se sentaram no mesmo lugar de sempre, terceira
mesa a direita. Ambos carregavam semblantes tristes e cansados, as notícias que havíam ouvido
na noite anterior não os deixou ter uma boa noite de sonho. Porém, mesmo com toda a tristeza e
cansaço, quando Vlad, o atendente da cafeteria, chegou em sua mesa para anotar seus pedidos,
ambos abriram um grande sorriso.
- Oi, Vlad - Chloe inclinou a cabeça
- Oi - respondeu sorrindo - O que vão querer hoje?
- Dois cafés extra forte, por favor.
- Mas eu quero sorvete - interrompeu Dave
Chloe o fitou com seu olhar julgador.
- Com o que está acontecendo hoje a menor das minhas preocupações é a minha dieta - Disse
Dave com impaciência
Vlad, ouvindo a fala de Dave, entendeu o por que da dupla estar ali depois de tanto tempo sem
se verem.
- Então os boatos são verdadeiros, ele voltou dos mortos, não é?
- Não sabemos ainda - falou Chloe, abaixando o tom de voz
- E eu realmente achei que a paz duraria mais tempo dessa vez - Disse Vlad, em um tom jocoso
se virando e indo em direção ao balcão
Vlad estava certo sobre o que os dois amigos faziam ali, estavam nessa cafeteria para discutir os
boatos que se espalhavam como praga pela cidade desde a noite passada. Boatos, os quais,
ambos não queriam acreditar serem reais, mesmo que no fundo soubessem que eram
verdadeiros. Ele não iria embora tão facilmente, tinham que aceitar que Paul estava de volta e
não era em um caixão.
- Isso não faz sentido - sussurrou Dave, se inclinando na direção de Chloe
- Nada faz sentido aqui - respondeu Chloe acendendo um cigarro - o que a gente precisa saber é
o que ele vai fazer agora que voltou.
- Talvez nada, será que um sequestro não o transformou em uma pessoa melhor? - perguntou
Dave com sua típica ingenuidade
- É o Paul - debochou Chloe, com um leve sorriso - e o que te diz que foi um sequestro?
- É o que estão falando pela cidade.
Chloe deu uma longa tragada em seu cigarro e respondeu não conseguindo disfarçar a
preocupação:
- Você realmente acha que não teve algo haver com o que aconteceu na escada?
- Talvez - disse Dave, olhando distraído em direção a porta
Sarah era quem o distraía, estava em frente a porta de vidro do estabelecimento e parecia
procurar algo em sua bolsa. Lá fora ocorria uma forte ventania que jogava seus cabelos
platinados para todos os lados, mas ela não parecia se importar, apenas pegou um cartão em sua
bolsa, abaixou seus grandes óculos escuros para esconder os olhos inchados pela noite passada
em claro e adentrou o estabelecimento fazendo o pequeno sino em cima da porta badalar.
Ao ver a dupla de amigos Sarah pensou em voltar atrás, entretanto, se sentiu ridícula por pensar
isso, afinal, não fez nada de errado, eles que pararam de falar com ela após o desaparecimento
de Paul. Ela, portanto, passou do lado da mesa da dupla desviando o olhar o máximo possível.
Porém, era impossível não notar os dois acenando com as mãos em sua direção, portanto,
apenas retribuiu com um aceno de cabeça e foi com passos largos em direção ao balcão e não
tentou mais contato que isso.
Nesse clima estranho e desconfortável a cafeteria ficou em silêncio e a única coisa que Sarah
ouviu enquanto esperava por seu café no balcão, foi o barulho dos saltos de Chloe e dos sapatos
de Dave indo em direção à saída.

O barulho repetitivo de saltos batendo no chão sempre lembravam Sarah daquela noite
no hospital, ela ainda conseguia sentir, ao pensar no assunto, o mesmo medo que sentiu
na hora do ocorrido, se lembrava dos passos que a acordaram no hospital e ainda
questionava o que aconteceu naquela noite.

2 – Toc, Toc, Toc


O sol forte queimava a pele escura de Ian que andava em largos passos pelas ruas de
Peaks com uma bolsa carteiro no ombro esquerdo e fones bluetooth pretos em ambos os
ouvidos. Enquanto andava, observava o movimento da cidade, era um sábado à tarde e
as pessoas passeavam de um lado para o outro, andando tranquilamente e as vezes
parando para cumprimentar algum conhecido, um comportamento típico de cidades
pequenas, o qual Ian nunca foi muito fã.
- Oi - disse uma voz atrás de Ian
Ian retirou seus fone, se virou e viu Sarah acenando e andando em sua direção.
- Oi, Como vai? - disse Ian, enquanto passava as mãos por cima dos ombros de Sarah
lhe dando um abraço
- Bem, na medida do possível - respondeu se desenlaçando do abraço - acabei de ver
Chloe e Dave no Café.
Ian fitou o chão, tentando evitar contato visual.
- Eles falaram com você?
- Tentaram, mas acabei evitando - disse Sarah enquanto acariciava o pulso esquerdo.
- Acho que deveríamos nos encontrar - Ian levantou o olhar e fitou os olhos
acinzentados de Sarah - Todos nós.
- Até Paul? - A voz de Sarah saiu mais trêmula do que planejava
- Como assim? - disse rindo - Com uma tábua ouija?
Sarah esboçou um sorriso, mas não pela piada de mau gosto de Ian, mas por uma
satisfação sádica em saber que será a primeira pessoa a falar com Ian sobre Paul.
- Ele voltou - falou com um semblante irônico - ouvi falar que foi sequestrado ou algo
do tipo, mas sei lá.
Ian, pareceu travar por um segundo.
- Uau, eu já tinha dado ele como morto - falou não conseguindo disfarçar o choque.
A bolsa de Sarah começou a apitar.
- Pensei que iria ficar feliz com a notícia? - falou Sarah, retirando o celular de dentro da
bolsa
- Eu fiquei, eu estou - disse de sobressalto - Só é estranho.
Sarah encarou seu celular, semi cerrando os olhos
- Bem, eu tenho que ir, se forem se encontrar me avisem.
Sarah, então saiu andando enquanto digitava algo no celular.
Ian estava incrédulo com o que acabara de ouvir, sentia seu coração bater mais rápido e
suas mãos tremerem. Desde que Paul desapareceu ele havia pensado o pior, afinal,
quando ligou para o amigo na noite do desaparecimento ele apenas ouviu sua respiração
ofegante dando a entender que fugia de alguém, portanto, tudo lhe levava a pensar que a
pessoa o havia alcançado e a única coisa que achariam seria seu cadáver, entretanto, ele
estava de volta.
Ian se sentia culpado por nunca ter contado sobre essa ligação para a polícia, pois a
última coisa que desejava era policiais lhe interrogando sobre aquela noite. A notícia de
que ele estava bem lhe aliviou um pouco, mas não muito.
...
Ao chegar em casa, Ian pegou seu celular e mandou a mesma mensagem para três
pessoas.
Precisamos conversar!! Me encontre na cafeteria as sete.
Após mandar a mensagem, Ian abriu seu instagram e viu uma notícia no perfil de sua
antiga escola que falava sobre o retorno de Paul e abriu o post. Após ler aquele
amontoado de falsas afirmações de felicidades por seu retorno, Ian foi para o site de
notícias da cidade e logo ao abrir a aba, viu uma foto de Paul estampando a primeira
página.
A foto em questão, mostrava Paul em frente a delegacia olhando para as câmeras com
um semblante derrotado e com roupas sujas de terra. Sua aparência foi o que mais
chocou Ian, ele estava totalmente mudado, seus cabelos, antes longos e loiros, estavam
curtos e negros e ele possuía um bigode e um piercing na sombrancelha, características,
as quais, ninguém imaginava em Paul.
Ele realmente deve ter sido sequestrado - pensou Ian em voz alta
Após ler a notícia decidiu desligar o celular e tentar descansar um pouco. A longa
viagem de volta e a notícia recebida logo após sua chegada havia lhe causado uma
enxaqueca.
...
Ian acabou adormecendo e quando acordou pegou seu celular e viu algumas mensagens
não lidas, três delas eram de seu amigos que haviam concordado em encontrá-lo na
cafeteria. Neste momento olhou para as horas e ao ver que já eram seis e cinquenta e
cinco, levantou em um pulo, pegou uma bolsa jogada no canto da sala, enfiou seu
celular, pod e cartão de crédito dentro dela e desceu as escadas de sua casa.
- Vou sair, mãe.
- Tudo bem, filho - respondeu sua mãe em um tom calmo - Mas tome cuidado.
Ian foi a pé em direção a cafeteria e chegou lá com quinze minutos de atraso. Sarah,
Chloe e Dave já estavam sentados e conversando, ele então entrou no estabelecimento,
os cumprimentou e se sentou junto deles.
- Demorou chegar, esqueceu o caminho? - disse Dave brincando
- Dormi a tarde toda, desculpa.
- Tudo bem, Ian - falou Chloe.
O clima estava pesado entre eles, ninguém falou nada por alguns segundos, até que
Sarah quebrou o gelo.
- Bem, vocês viram isso? - peguntou deixando seu celular no centro da mesa com uma
imagem aberta.
Alí estava a foto que Ian havia visto mais cedo no jornal. Todos concordaram terem
visto.
- Isso é muito louco - disse Dave, encarando a foto - Ele está tão mudado, me pergunto
o que aconteceu?
Ficaram em silêncio por mais tempo, o clima era muito estranho, não parecia a amizade
de antes.
- É incrível que mesmo desse jeito ele ainda é bonito, só pode ser pacto - falou Sarah
tentando quebrar o gelo.
Todos da mesa riram.
- Será quando que ele vai sair da delegacia? - perguntou Ian
Dave limpou a garganta.
- Ouvi meus pais falando que provavelmente ele sai amanhã.
- Que bom - disse Ian, em um tom baixo.
Chloe revirou os olhos.
- Eu preferia que ele ficasse onde estava e vocês também, não precisam mentir.
Os três ficar surpresos com a sinceridade de Chloe.
- Ele era um bom amigo. No último ano ele ficou estranho com a gente, mas não dá para
esquecer os bons tempos - falou Ian, enquanto fitava suas mãos que brincavam com um
sachê de açúcar.
Chloe balançou a cabeça em desacordo.
- Ele estava, literalmente, me chantageando, eu não consigo desculpa-lo.
Ian tinha em seu rosto um olhar perplexo e confuso.
- Ele também tinha alguns vídeos meus, tenho um pouco de medo agora que ele voltou.
Dave abriu um sorriso.
- Já que estamos desabafando, ele também tinha algo sobre mim, mas não importa
muito.
Todos encararam Sarah esperando que também revelasse algo, mas ela apenas deu uma
gargalhada e falou:
- Uau, ele era mesmo um doente, ele não tinha nada contra mim, para ser sincera.
Sarah deu uma pequena pausa contemplativa e falou em um tom de voz baixo.
- Todos temos algo contra ele ou não se lembram do que ele fez com a Sra. Hoover?
- Sra. Hoover caiu - disse Ian.
- Você realmente acredita nisso? - indagou Sarah - estávamos lá.
Antes que pudesse responder, o atendente da cafeteria vem em direção a mesa.
- Oi, Vlad - falou Sarah retirando o cabelo platinado do rosto e abrindo um sorriso.
- Oi - respondeu Vlad, sorrindo de volta - Bom ver vocês juntos de novo.
- É - respondeu Sarah.
- Só falta o Paul para ficar completo - disse Vlad apontando para a imagem em cima da
mesa - Agora que ele voltou, vocês podem voltar a ser como antes, não é?
Sarah sorriu.
- Acha isso bom?
Vlad sorriu de volta.
- Tenho que pegar os pedidos de vocês ou vou me encrencar com meu chefe.
Todos fizeram seus pedidos e então, quando Vlad voltou para a bancada, Chloe
reclamou:
- Porque você falou com ele assim?
- Você não gosta dele, né? - interrompeu Dave com um sorriso - Ele é estranho.
- Eu não gosto de homens e vocês sabem bem disso - respondeu Sarah irritada - Eu só
queria conhecer ele melhor.
Chloe, que já parecia entediada, olhou seu celular e disse se levantando.
- Quer saber, eu tenho que ir.
Dave e Sarah concordaram e se levantaram também.
- E os nossos pedidos? - disse Ian franzindo o cenho
- Cancela para a gente, ainda dá tempo - exclamou Chloe acenando com as mãos em
sinal de despedida.
Todos saíram, mas Ian permaneceu na cafeteria. Não havia comido desde a hora que
falou com Sarah, portanto decidiu cancelar os pedidos dos três e esperar pela fatia de
torta que havia solicitado.
Enquanto comia, ficou imerso em seus pensamentos sobre a conversa que tiveram e
depois de um tempo alí sentado avistou Vlad preparando para fechar o estabelecimento
e só então notou ser o único cliente no local.
- Desculpa ficar até tarde, já estou de saída - exclamou Ian, se levantando.
- Pode ficar tranquilo, eu precisava ficar até mais tarde de qualquer jeito.
Ian checou as horas e realmente já tinha passado 10 minutos da hora da cafeteria fechar.
- Nossa, eu não deveria estar me atrasando, minha mãe está muito preocupada comigo
depois daqueles assaltos - comentou com Vlad tentando quebrar o gelo, enquanto
procurava o dinheiro para paga-lo em sua bolsa
- É, tá bem perigoso - falou olhando pela janela - Você veio sem seu carro?
- Sim - Respondeu Ian estranhando a pergunta que daria sequência a uma proposta ainda
mais estranha.
- Eu posso te dar uma carona, vou passar pela sua rua de qualquer jeito.
Ian estranhou a proposta, entretanto, conhecia Vlad fazia um tempo e entre andar
naquelas ruas a noite e entrar no carro daquele branquelo magricela, andar nas ruas
parecia bem mais perigoso. Então, acabou aceitando a carona e após Vlad terminar de
fechar o local, ambos entraram no carro e foram em direção às suas casas.
Durante o percurso eles conversaram sobre o carro de Vlad, assunto o qual, Ian não
compreendia nada. A única coisa que o fazia diferenciar um carro de outro era a cor, o
de Vlad é branco e o seu azul, para que nomes? Apesar disso, estava gostando de ouvir
Vlad falar sobre o assunto. Já perto de casa, o assunto Paul veio a tona.
-É estranho saber que o Paul voltou, não é? - Comentou Ian.
- Muito estranho, mas pelo menos ele está bem, ou aparenta estar.
- Verdade, ele parece estar bem.
Ficaram em silêncio por alguns segundos.
- Será o que aconteceu com ele? - disse Vlad - é estranho alguém desaparecer e depois
voltar do nada.
- É mesmo, mas você deve ter ficado um pouco aliviado, não?
Vlad respirou fundo.
- Não nos dávamos muito bem, mas ele não merecia ser sequestrado.
- E qual a razão de não se darem bem? - perguntou curioso, pois realmente não sabia a
resposta. O que sabia era que Paul odiava Vlad desde que eles se conheceram no ano
passado, mas nunca entendeu o porque.
- A gente se conheceu na época em que eu estagiava no hospital - um semblante triste
invadiu o rosto de Vlad - Lembra que a mãe dele ficava lá? Eu ajudei a arrumar os
papéis dela após o acidente.
- Lembro sim.
- Bem, era difícil trabalhar com ele enchendo o saco - Vlad sorriu para Ian.
Ian, por um momento viu beleza no sorriso envergonhado e carinhoso de Vlad. Ele não
parecia tão estranho afinal de contas. Ian encarou seu sorriso por um tempo até notar
que estava na porta de sua casa, então, agradeceu pela carona, desceu do carro e andou
em direção a enorme porta de sua casa. Após por ela passar, atravessou um grande
corredor e foi em direção à sala, onde encontrou sua mãe deitada no sofá ao lado de seu
gato preto.
- Acabei de pedir comida japonesa - falou sua mãe ainda deitada.
- Tudo bem, só vou tomar um banho e desço para ficar com você - disse Ian indo em
direção a ela e lhe dando um beijo na testa.
Ele então subiu as escadas e foi até seu quarto. Chegando lá, trancou a porta, retirou sua
blusa e encarou, tristemente, no espelho por alguns segundos sua pequena tatuagem na
barriga escrito "dying". A tinta de procedência ruim quase não era notada em sua pele
escura, mas ele sabia que estava ali.
Ian desviou o olhar da tatuagem e começou a desabotoar sua calça, mas antes que
pudesse despir o resto de suas roupas, ele ouviu a campainha tocar e segundos depois
ouviu sua mãe gritar seu nome.
Sua mãe não era uma pessoas que falava alto, então ouvindo seu grito, rapidamente,
colocou sua camisa, abriu a porta do quarto e desceu correndo as escadas.
- O que aconteceu? - exclamou Ian, olhando para sua mãe no final da escada.
- É a polícia eles querem te ver - falou apressadamente enquanto o levava para a porta
da frente - independente do que você fez, não fale nada com eles até eu conseguir um
advogado, ok?
Antes de conseguir entender o que acontecia, Ian sentiu suas mãos sendo algemadas e
notou o olhar arrogante de um policial encontrar o seu e ouviu sair de seus lábios as
seguintes palavras:
- Sr. Coolidge, você está preso pelo assassinato de Carl Owens.
...

3 – Foi Ele?

O sol da manhã brilhava no céu e os pássaros cantavam em uma linda sinfonia. Uma pena que
não eram ouvidos, pois por toda a cidade só se escutava o barulho das sirenes das viaturas que
passavam rapidamente pelas ruas de Peaks se encontrando na February. Toda a vizinhança
saía de suas casas e espiavam os policiais que adentravam a casa retangular e moderna no fim
da rua.

Em meio a tudo isso, um carro vermelho se destaca entre as viaturas, ele vem correndo e
estaciona, porcamente, em frente a casa retangular. De dentro dele desce Sarah que corre em
direção a porta da casa, mas é impedida por um policial.

- Eu posso entrar, eu conheço eles.

- Ninguém pode entrar aqui - respondeu o homem robusto.

- O que aconteceu?

- Eu não posso falar nada.

Sarah, então deu as costas ao homem e foi em direção às pessoas que espiavam,
curiosamente, do outro lado da rua. No meio da multidão avistou Chloe e foi em sua direção.

- O que está acontecendo aqui?

- Eu não faço idéia, estava passando aqui e vi esse caos.

- Já tentou falar com Ian?

- Sim, ele não atendeu nenhuma das ligações - disse Chloe, balançando seu celular.
Sarah passou a mão em seu cabelo e olhou para a casa notando que a porta estava sendo
aberta. Havia dois policiais puxando uma maca e em cima dela havia o que parecia ser um
corpo empacotado.

- Ai meu deus! - Chloe levou a mão na boca

- Será que ele...

Sarah foi interrompida por um toque que sentiu em seus ombros e a assustou, fazendo ela dar
um leve pulo e olhar para trás.

- O que aconteceu? - Disse Dave, com cara de preocupado

- A gente não sabe. - Respondeu Sarah

- Retiraram um corpo - disse Chloe.

- Sério? - seus olhos arregalaram.

Sarah lançou a Chloe um olhar de julgamento.

- Parecia um corpo, mas pode ser qualquer coisa.

- Aham, retirado numa maca e no tamanho de um ser humano - Debochou Chloe

O silêncio prevaleceu por alguns minutos em que os três encararam a grande casa.

- Meus pais saíram correndo de casa a noite, pode ter algo haver com isso - falou Dave
pensativo

- Seus pais não tratam apenas de crimes? - perguntou Sarah, fitando Dave

- É, mas eles saíram sem me falar onde iriam, apenas me mandaram ficar em casa, eles
costumam me contar do que se trata.

Sarah encarou o chão:

- Você acha que ele pode ter sido assassinado.

- Realmente, não sei. Tenho que ir, nem deveria ter saído de casa.

- Tudo bem, então.

- Tchau - disse Sarah impaciente - não adianta ficarmos nos evitando, essa cidade é pequena.

- Não é isso, eu realmente tenho que ir.

Dave, portanto, subiu em sua bicicleta que estava jogada no passeio e se dirigiu à sua casa.
Durante o percurso sua mente estava borbulhando em pensamentos, ele tinha certeza de que
seus pais estavam envolvidos em seja lá o que estava acontecendo com Ian.

Quando chegou em sua garagem notou o carro de sua mãe estacionado, ela estava em casa.

Dave, então, jogou sua bicicleta no passeio ao lado do carro e entrou em casa pela porta da
garagem que dava na cozinha. Ele andou em direção à sala, porém antes de passar pela porta
da sala, conseguiu ouvir seus pais discutindo.

- Você realmente vai fazer isso? - perguntava a voz grave de seu pai.
- Eu consigo defender ele - respondia sua mãe - ele é uma vítima dependendo da perspectiva.

- E o que Dave vai pensar sobre você fazendo isso.

Nesse momento, Dave entrou na sala e a questinou em voz alta.

- Você vai defender um assassino, de novo?

- Como você sabe disso? - perguntou sua mãe.

- Cidade de curiosos - disse seu pai, conformado

- Eu ouvi vocês dois falando.

- Eu achei que você iria gostar, ele é seu amigo não - falou sua mãe botando sua bolsa em cima
da mesa de centro.

Dave estava confuso e não entendia o que estava acontecendo.

- O que? Eu não entendo, o que aconteceu?

Sua mãe então notou que ele não havia ouvido tanto quanto pensava.

- O que você acha que aconteceu?

- Houve algum assassinato na casa dos Coolidge, não? Ian ou sua mãe foram atacados, eu vi o
corpo sendo retirado.

Sua mãe esboçou um sorriso e se sentou em um dos sofás.

- Seu amigo e mãe estão bem, Dave.

- Então o que aconteceu? - Dave já estava impaciente

- Você vai ficar sabendo daqui a pouco, quando a polícia soltar a notícia, até lá você tem que se
satisfazer com o que lhe contei.

- O que foi retirado da casa, então?

- Olha, eu e seu pai vamos sair de novo e você daqui a pouco vai ter respostas.

- Mas...

Liza se levantou, ignorando Dave, e foi em direção a cozinha onde gritou a seu marido que
havia dado a hora . Ambos, então, saíram pela porta da frente e entraram no carro.

Dave tinha muitas dúvidas. Se Ian e sua mãe estavam bem, de quem era o corpo retirado? Por
que eles não atendiam às ligações? Que crime ocorreu para seus pais se envolverem?
Melancólico, por causa do jeito que seus pais o trataram e com raiva por não ter respostas,
Dave pegou uma taça e um vinho na adega de seu pai e mesmo sabendo que ele sentiria falta,
abriu o vinho com uma faca e encheu a taça.

Dave, portanto, se sentou no sofá e quando iria pegar seu celular, notou a bolsa de sua mãe
em cima da mesa de centro. Curioso como era, rapidamente deixou a taça no chão e pegou a
bolsa. O notebook de sua mãe estava ali dentro. Dave rapidamente abriu o notebook,
causando o aparecimento de uma tela inicial com um cadeado no centro e um espaço para
inserir a senha. Dave exalou em desapontamento.
Mas ele não desistiu. Decidido a utilizar seu conhecimento em computação adquiridos pelos
anos em que sua mãe o obrigou a cursar informática para invadir o notebook da mesma. Dave
subiu as escadas e pegou seu próprio notebook e um cabo USB. Ficou um tempo baixando o
programa necessário para quebrar senhas e, ao configura-lo corretamente, conectou um
notebook ao outro e o iniciou.

Depois de uns dez minutos, o notebook havia sido invadido. Dave, muito ansioso, o abriu e foi
nas pastas que se encontravam no desktop. A pasta que abriu continha alguns arquivos e um
deles tinha o nome Ian, ele então o abriu rapidamente.

Dentro dessa pasta havia um arquivo de imagem, um mugshot de Ian datado da noite anterior.
Dave entendeu tudo. Não era Ian que havia sido a vítima.

- Deus.

Dave estava muito intrigado com tudo aquilo e, por mais que soubesse ser errado, não
conseguia parar de vasculhar o notebook de sua mãe. Acessando outros arquivos achou um
vídeo. Pela pequena thumb notou ser uma gravação a noite de alguém em seu quintal. Curioso
como era, a abriu.

Quando o vídeo começou a tocar, ele não acreditou no que via, lá estava Ian carregando o que
parecia ser um corpo embolado em uma lona pelo seu quintal. Ian usava apenas uma cueca
branca e seu corpo estava completamente coberto em sangue. O vídeo tinha a duração de três
minutos e parava quando Ian chegava com o corpo perto de uma parte revirada de seu quintal
e pegava uma pá.

Dave estava em estado de choque, sua cabeça tentava entender o que havia ocorrido a todo
custo, mas ainda lhe faltava algumas informações.

O que mais o intrigava era pensar em quem estava por trás da câmera. Pois a pessoa ficou ali
por um bom tempo. E, também, se perguntava de quando era esse vídeo, já que aquele lugar
com a terra revirada já havia sido replantado a algum tempo.

Decidido, Dave pegou seu celular e ligou para Chloe:

- Pode vir aqui, é urgente.

- Não dá agora - respondeu Chloe, em uma voz cansada.

- É sobre o que aconteceu na casa do Ian.

- Você sabe algo?

- Sim, vem logo e trás a Sarah.

- Ugh, está bem, daqui a pouco estamos aí.

- Tudo bem, te amo, tchau.

Ao desligar seu celular, Dave se arrependeu amargamente de sua última frase dita pela força
do hábito, porém tinha coisas maiores para se preocupar no momento. Dave, então, se
levantou para ir à cozinha e acabou tropeçando na taça de vinho que havia deixado no chão
molhando assim o caro tapete da sala.

- Droga - disse ele, dando um chute no sofá


Dave foi pegar um pano para tentar secar o vinho do tapete, porém ouviu nesse momento
uma batida de porta de carros e ao olhar pela janela achando ser Chloe e Sarah, notou que
eram seus pais voltando, provavelmente, por causa da bolsa.

Após notar que eram seus pais que saiam do carro, Dave correu para o notebook de sua mãe e
como este ainda estava conectado no seu, rapidamente, copiou o vídeo de Ian para o seu,
retirou o cabo que os conectava e fechou o de sua mãe.

- Acabei esquecendo minha bolsa - disse sua mãe, passando pela porta encarando o celular.

- Eu pego para você - respondeu Dave, de sobressalto.

Pegou o notebook de sua mãe na mesa e o colocou rapidamente em sua bolsa e o entregou
para ela que acenou a cabeça para o filho que se virou e foi em direção ao sofá.

- Meus Deus! Eu não posso te deixar um segundo sozinho! - exclamou sua mãe.

O coração de Dave acelerou e suas pernas ficaram bambas por um momento.

- Me desculpa, mãe. É que eu precisava...

- Não, sem desculpas. Esse tapete foi muito caro e você não deveria ficar bebendo ou quer
virar um alcoolatra como seu avô?

Dave exalou em alívio.

- Desculpa, eu vou limpar tudo.

Sua mãe soltou um grunhido de raiva, se virou e saiu pela porta.

A adrenalina que Dave sentiu foi maior que a que sentiu em todas sua outras aventuras, pois a
informação ali poderia ser confidencial, era perigoso. Ele havia acabado de roubar os dados de
sua mãe e algo nisso lhe dava uma certa satisfação.

Ainda tentando limpar o tapete, Dave ouve a campainha tocar e vai em direção a porta e,
agora sim, são Chloe e Sarah.

- Vocês tem que ver isso - diz Dave, imediatamente ao abrir a porta.

As duas garotas entram e ele então fecha a porta atrás delas.

- Ian está bem? - pergunta Sarah, com um olhar melancólico.

- Ele está "bem" - Responde Dave, fazendo aspas com os dedos - pelo menos não está morto e
nem sua mãe.

- Então o que aconteceu? - pergunta Chloe .

- Isso aconteceu, venham aqui.

Dave as levou até a sala onde estava seu notebook, o abriu e entrou no vídeo.

- Olhem isso.

- Esse é o Ian? - Chloe tinha uma expressão de choque no rosto.

Chloe passou a mão em seus cabelos.

- Meu Deus, quem ele matou?


- Eu não sei, provavelmente aquele corpo que acharam no quintal.

- Quem será que gravou isso? - disse Sarah - a filmagem é antiga.

- Como você sabe disso? - Chloe encarou Sarah perplexa.

- A casa ainda está em reforma - disse Sarah, apontando para a casa que aparecia no fundo do
vídeo, faltando algumas janelas no segundo andar.

- É mesmo - Fala Dave se aproximando da tela - igual na época em que Paul desapareceu.

Eles rodaram o vídeo de novo tentando achar algum detalhe que não haviam notado.

- Ele vai preso, não vai? - perguntou Sarah

- Bem, a minha mãe vai defender ele, então, provavelmente, não.

- Eles tem um vídeo, Dave - Chloe aponta para a tela do notebook - Não tem como ele escapar
dessa.

- Talvez tenha - disse Dave, dando de ombros

Chloe o olhou sem entender.

- Como?

- Não sei, mas se minha mãe aceitou o caso é por que tem como.

- A pessoa que ele matou pode ter feito algo ruim - disse Sarah olhando para Chloe - pode ter
sido auto-defesa.

- Eu duvido muito.

Chloe olhou para o relógio, era uma da tarde.

- Tenho que ir dar aula - disse pegando sua bolsa

- Tudo bem - disse Dave - provavelmente até o fim da tarde já vamos saber quem é a pessoa
que ele enterrou.

- A gente pode se encontrar lá em casa hoje, caso saia a notícia - ofereceu Sarah

- Por mim tudo bem - disse Chloe

- Por mim também.

...

A aula havia sido horrível e Chloe estava cansada e desinquieta. Eram três e meia da tarde
quando decidiu que não iria para o treino de natação hoje, então, foi para casa. Chegando lá
viu sua mãe sentada no sofá assistindo o noticiário enquanto trançava o cabelo de sua
irmãzinha.

- Filha, vem ver isso - Disse sua mãe, parecendo preocupada.

Havia na TV uma jornalista que começava a falar sobre algum crime que havia acontecido em
Peaks.
- Hoje um jovem foi preso em Peaks após a polícia local receber um vídeo de uma fonte
anônima onde o adolescente aparece acobertando um assassinato. O corpo visto no vídeo foi
encontrado enterrado no quintal da casa do jovem e pertence a Carl Owens, um professor que
lecionava na prestigiosa escola HSPeaks e foi dado como desaparecido à seis meses.

Chloe ficou espantada com a notícia. Antes de sequer formular um pensamento, Chloe, pegou
seu celular para ligar para Sarah e ao abri-lo viu a mensagem da mesma já a chamando para
sua casa, então se virou para sair. Porém voltou quando notou que a notícia continuava.

- Nesta manhã também nos foi enviado um vídeo no qual Owens e o jovem indiciado trocavam
alguns papéis e depois Owens os guardava em uma gaveta de sua casa. Os policiais estão
providenciando uma busca em sua casa pelos papéis.

- É o Ian, não é? - perguntou sua mãe - Eu te falei para tomar cuidado com suas amizades.

- Depois você faz drama, mãe - disse Chloe, andando para a porta enquanto respondia Sarah
no celular

- Onde você vai?

- Para a escola, esqueci que hoje tenho treino de natação.

Chloe saiu de casa e foi em direção a casa de Sarah. No caminho, ela tentava juntar as peças
mentalmente, mas nada fazia sentido. O que Owens tinha haver com tudo isso? Porque ele o
matou? Ela se sentia horrível, pois gostava muito de Ian e não o queria na cadeia, não se
importava se ele o assassinou por diversão, auto defesa ou ódio, ela apenas queria ver ele
livre.

Após um tempo andando, Chloe chegou na casa de Sarah e, então, devido ao nervosismo,
adentrou sem sequer bater na porta e subiu as escadas.

Chegando no segundo andar e foi até a terceira porta à esquerda, na qual havia um pôster do
bikini kill colado na porta. O quarto de Sarah. Ao abrir a porta notou que Dave já estava lá e
então cumprimentou ambos.

- Você viu as notícias - disse Sarah, deitada entre as pelúcias que ficavam em cima de sua cama

- Sim, e não entendi porra nenhuma.

- É estranho - disse Sarah, encarando as paredes cheias de pôsteres de bandas punk e coisas da
Barbie.

- O que eram aqueles papéis? - perguntou Dave.

- Ele me falou que estava "estudando" com ele, mas as notas dele aumentaram muito rápido. -
disse Dave arrumando seus cabelos no espelho da escrivaninha de Sarah. - Talvez tinham
algum acordo, afinal, a mãe de Ian ainda trabalha na universidade em que ele iria dar aula, se
lembram?

Chloe refletiu por alguns segundos e então falou como se tivesse acabado de ter uma idéia
brilhante.

- Isso faz sentido, provavelmente é por isso que a Liza vai defendê-lo.

Sarah se sentou na cama. Dave permaneceu reflexivo.


- Ele era menor de idade e o Sr. Owens tinha 30 e poucos anos. Se ele estava fazendo acordo
com adolescentes para conseguir uma vaga de emprego, ele não é tão inocente. Pode ser
considerado auto-defesa com uma boa advogada.

- Isso faz sentido - falou Dave, convencido - Você deveria ser advogada.

- Prefiro morrer.

- Owens sempre me pareceu estranho - disse Chloe reflexiva.

Sarah passava a tela do celular em busca da notícia sobre Ian, porém acabou vendo outra
notícia.

- Gente, olha isso - Sarah apontou o celular para os dois - o funeral do Sr. Owens é amanhã.

- e? - perguntou Dave

- A gente deveria ir.

- Por que?

- Por que não? Eu quero ver o que vai acontecer lá.

- Eu topo - disse Chloe - adoro funerais.

Dave a encarou.

- Que foi, eu gosto de usar preto.

Sarah se levantou.

- Então vamos?

- Tá - concordou Dave, ainda relutante.

4–

*página perdida de www.secretdiarys.com"


Autor não identificado

Olá, queridos leitores. Consigo sentir daqui a curiosidade de vocês para descobrir os segredos
mais horríveis de Ian Coolidge e tenho que lhes informar que podem ser piores do que
imaginam. Bem, vamos lá. Ian sempre foi um prodígio, dez em todas as matérias, melhor
jogador de vôlei na época do colégio e super popular, tudo isso conquistado facilmente com o
dinheiro dos pais.

Apesar disso, Ian nunca foi flor que se cheire. No primeiro ano do ensino médio estava afogado
em drogas, tirava notas horríveis e mal conseguia se manter de pé, mas definitivamente
conseguia se manter de joelhos.

Tudo o que sei é que, nosso querido Ian,


um dia reclamando da nota de seu trabalho com o Sr. Owens resolveu propor à ele um acordo.
Sabia que Owens queria passar para a vaga de professor universitário na universidade SanDic,
onde a mãe de Ian trabalhava, então, propôs uma troca. Owens aumentava suas notas e ele o
passava para SanDic. O professor que, como podem notar, não era um grande exemplo de
ética, aceitou o acordo.

A mãe de Ian não poderia saber daquilo. O que ela pensaria de seu filho queridinho fazendo
acordos com professoras que poderiam acabar com a carreira dela e com o futuro do filho?
Bem, ela ainda não sabe.

Ian já tinha um plano. Como sabia que sua mãe era quem arrumava os papéis da escola e
analisava quem estava apto a entrar, ele invadiria seu escritório quando ela saísse e trocaria a
nota de seu professor.

Bem, é aqui que entra meu pecador preferido. Pois, como sempre, é claro que ele descobriria
tudo. Paul, que já estava assombrado pelas atitudes de seus amigos e decidido a destruir
qualquer um que pisasse em seu caminho, certo dia notou que Ian estava nervoso e o viu
conversando com Owens pelos corredores. Logo após, ele perguntou se algo havia acontecido
para Ian estar falando com o Sr. Owens e Ian, que não é idiota, negou.

Ian mentiu, porque na verdade ele estava com as provas de que trocou as notas de Owens em
sua mochila e estava pronto para entregá-las ao professor. O garoto pensou ter enganado
Paul, porém, Independente da resposta de Ian, Paul o conhecia suficientemente para saber
quando algo o incomodava, portanto, decidido a descobrir o que causava a estranheza no
comportamento de seu amigo ele o seguiu após o término das aulas.

Dirigindo atrás de Ian, Paul percebeu que ele não estava indo para casa, mas para o outro lado
da cidade, então, ainda mais curioso, continuou o perseguindo até que o viu estacionar em
frente a uma casa marrom. De longe, Paul o observou descer e ir em direção à porta da casa e
dar três batidas. Depois de um curto período de tempo, Paul conseguiu ver um homem
abrindo aporta. Era Owens.

Paul ficou intrigado com o que via. O que esses dois estariam fazendo juntos? Perplexo, Paul
esceu do carro e em direção à casa marrom. O loiro silenciosamente se esgueirou pela parte
de trás e ao ouvir as vozes mais perto se agachou e ficou embaixo da janela ouvindo os dois
conversarem. Quando notou do que se tratava a conversa, rapidamente, sacou o celular e
começou a gravar tudo o que ouvia e via. Então, voila! Mais uma arma para seu arsenal.

Após esse dia as ameaças começaram. Horrível, não é? Pois fica bem pior.

...

Em uma noite chuvosa Owens chegou a casa de Ian encharcado, seus cabelos negros estavam
grudados ao rosto e suas roupas ao corpo, ele segurava na mão esquerda seu celular e andava
rapidamente em direção a cozinha onde se encontrava Ian.

- Por quê você gravou essa merda? - gritou Owens, levantando o celular

- Do que você está falando? - Ian franziu o cenho enquanto voltava uma panela para o forno.

- Desse vídeo - disse Owens, mostrando alguns segundos de um vídeo dos dois juntos trocando
os documentos na casa de Owens.

- Não tem como eu ter gravado isso, eu estou no vídeo, idiota - retrucou enfurecido pegando o
celular - Aquele viado!

- Ele me falou que você pediu para gravar!


- Quem?

- Eu não sei, porra.

Owens aparentava muita raiva, as veias de seu rosto saltavam e seus punhos se cerravam
enquanto andava na direção de Ian que começou a recuar rumo a um faqueiro, pois já sabia
que Owens não era confiável.

- Olha, sai de perto de mim - sua voz tremia - já falei que não é culpa minha.

- Para de mentir - disse Owens, avançando em direção a Ian que no susto tirou uma faca do
faqueiro.

- Vai me esfaquear agora?

Owens foi com passos fortes em direção a ilha da cozinha, pegou o notebook de Ian que ali se
encontrava e o jogou no chão, querendo apagar os rastros que, supostamente, estavam nele.

Havia coisas muito importantes neste notebook. Portanto, Ian, em um ataque de raiva, largou
a faca e deu um soco no rosto de seu professor, soco, o qual, ele revidou fazendo com que
ambos começassem a brigar pelo chão molhado da cozinha. Owens sibiu por cima de Ian, o
qual estava caído no chão, porém antes que pudesse lhe dar um soco Ian chutou sua barriga e
se levantou. Owens puxou as pernas de Ian causando com que ele caísse de cara no chão e
soltasse um grito de dor. Owens, então, conseguiu ficar em cima de seu aluno novamente e
começou a enforca-lo.

Ian, tinhas as mãos no pescoço tentando afrouxar as mãos de Owens, mas não conseguia. "Ele
não iria o enforcar por muito tempo, não poderia fazer isso?" Pensou Ian "Ou poderia?" Ele
não largou seu pescoço.

O corpo de Ian começava a enfraquecer, ainda havia nele alguma esperança de que Owens o
soltaria, mas, como ele não dava nenhum sinal de que iria larga-lo e Ian conseguia sentir que
estava prestes a desmaiar, quando avistou a faca caída no chão perto de seu braço esquerdo,
ele se esticou, pegou ela e sem pensar duas vezes a cravou na jugular de seu agressor e
professor.

Os olhos do Sr. Owens se arregalaram ao sentir a facada, suas mãos soltaram o pescoço de Ian
e foram em direção ao local da facada na tentativa de reparar o ferimento. Ian, horrorizado e
em choque com o que havia feito, tentou consertar seu erro retirando a faca, entretanto,
quando uniu forças e a puxou o sangue começou a jorrar da jugular do Sr. Owens indo em
direção ao rosto de Ian. Finalmente, o pesado corpo do professor caiu em cima de seu aluno.

Ian, estava em completo choque, sentia o peso do corpo de Carl em cima de si e sentia suas
roupas grudadas ao corpo pelo sangue. Ele levou algum tempo até fazer sua mente voltar a
funcionar, mas, quando voltou, ele, que como já devem saber, não é bobo, empurrou o corpo
de Carl para o lado e se levantou escorregando no sangue de seu querido professor. Sem
sequer parar para pensar foi em direção a garagem buscar os materiais necessários para
limpar aquela bagunça.

Poucos minutos após o ocorrido ele já estava embalando o grande corpo de Owens em uma
lona e o levando ao quintal dos fundos, um lugar grande e em frente a uma floresta. Enquanto
procurava por um local para enterra-lo Ian chorava desesperadamente, não acreditava no que
havia feito. Ian tentou ligar para Paul, seu corpo tremia de ódio do amigo, sabia que ele era a
pessoa que havia enviado e gravado esse vídeo. Porém, quando Paul atendeu só era possível
ouvir uma respiração ofegante como se ele estivesse correndo por um longo período de
tempo.

- Ian? - disse ofegante.

Ao ouvir sua voz Ian percebeu como era idiota a idéia de ligar para Paul nesse momento,
então, não falou nada e desligou o celular.

Ian, após se acalmar, avistou uma parte recém plantada em que ele poderia enterrar o corpo
sem que outras pessoas notassem a terra revirada. Portanto, tirou suas calça e sua camisa,
ambas cheias de sangue e as jogou na maquina de lavar. Sexy, não é mesmo? Depois do
striptease, finalmente, começou a puxar o corpo pelo jardim, o que demorou um bom tempo
graças a seu corpo esquelético.

Chegando no local começou a escavar com uma pá que achou na garagem de seus pais.
Entretanto, enquanto escavava Ian ouviu passos dentro da floresta que o fez parar a escavação
e olhar ao redor em busca da fonte do barulho. Não avistou nada dentro da floresta ou em sua
casa. Portanto, continuou escavando, ainda aos prantos.

Depois de enterrar o corpo, Ian passou 5 horas limpando sua cozinha e escondendo qualquer
rastro do que ali ocorrera. Após isso, deitou-se em sua cama e duas horas depois se levantou e
foi para aula como em um dia ordinário. Mas não ficou lá durante toda a aula, pois foi naquele
dia que Paul foi dado como desaparecido.

...
...
...

Vocês, queridos leitores, devem estar se perguntando como sei de tudo isso e porque posto
nesse site, não é mesmo? Haha, pois saibam que se eu contar para uma pessoa minha real
identidade terei que mata-la, e, bem, eu não sou uma assassina, sou apenas uma pessoa bem
informada.
Xoxo

5–

Sarah estava em seu quarto deitada entre seus vários travesseiros e pelúcias. Ela usava um
vestido preto e um salto alto da mesma cor. Em seu rosto um cuidadoso delineado e um
batom vermelho.

Enquanto deitada, ouviu seu celular tocar, então se levantou e foi até a escrivaninha. Era seu
alarme para ir ao funeral do Sr. Owens, portanto o desligou. Em seguida se olhou no espelho
pela última vez e saiu de seu quarto batendo a porta.

Sarah desceu as escadas sentindo um nó na garganta. Ela sentia que não deveria ir neste
funeral, mas, como foi ela mesma que havia proposto comparecerem ao evento não podeira
desistir agora, portanto seguiu seu caminho até a porta e foi em direção ao carro de sua mãe.
Ela, então, se sentou no banco do carro e ficou refletindo por um tempo no quanto sua vida
estava sendo cansativa ultimamente. Com o fim do ensino médio, Paul tendo desaparecido, os
problemas com sua mãe e amigos, tudo parecia estar um caos. Porém, Sarah engoliu o choro,
respirou profundamente, e ligou o carro.

Chegando na igreja, desceu do carro e esperou por Chloe e Dave na porta. Após um curto
período de tempo ambos chegaram no carro de Chloe.

Dave usava um terno preto, clássico e Chloe um vestido preto que ia até o joelho, seus cabelos
estavam ondulados e o batom amarronzado que usava contrastava muito bem com sua pele
escura.

- Ela tem razão em gostar de usar preto - pensou Sarah, acenando para os dois.

Ambos vieram em sua direção.

- Oi, vocês estão lindos.

- Obrigado - ambos responderam

- Já vamos entrar? - perguntou Dave apontando para a porta.

- Sim, vamos - respondeu Sarah

Os três caminharam lentamente rumo as grandes portas da igreja, mas antes de chegarem
nela avistaram sair de um carro branco que parou em frente a igreja um garoto com cabelos
escuros e corpo esguio usando um terno preto e óculos escuros.

- É ele? - perguntou Sarah, encarando o garoto.

- Em carne e osso - respondeu Chloe

Dave colocou a mão esquerda no bolso e começou a arrumar o cabelo.

- Acho melhor a gente entrar logo.

- Vamos falar com ele - disse Sarah ainda olhando para o garoto que agora atravessava a rua -
Não adianta fugir.

- Na verdade, adianta sim - Dave se virou e foi em direção a igreja em passos longos e Chloe o
seguiu falando desculpa para Sarah apenas com o movimento dos lábios.

Paul atravessou a rua, andando lentamente, e já do outro lado da rua avistou Sarah e foi em
sua direção.

- Oi, Sarah - havia um mix de tristeza e deboche em seu rosto o que causou um estranhamento
em Sarah.

- Oi, então você voltou de vez?

- Sim, é bom estar de volta na cidade.

-E por que estava fora? - Sarah disse sem titubear em um tom ríspido.

- Várias coisas aconteceram - Paul encarou o chão e então levantou o olhar - Eu posso explicar
para vocês depois.

- Espero que não haja depois - Os olhos cinzentos de Sarah se fixaram em Paul.
Paul deixou uma expressão triste tomar conta de seu rosto, mas logo depois recuperou o
sorriso.

- Olha, se você soubesse a verdade não falaria isso.

- Verdade? - Sarah sorriu - Você virou Cristão?

- Não é isso... ugh, vocês são uns idiotas.

Antes que pudesse terminar sua fala alguém esbarrou no corpo de Paul.

- Desculpa - disse Vlad, e continuou seu caminho.

Sarah lançou um olhar de curiosidade a Vlad e o encarou andando em direção a igreja.

- Vlad ainda mora aqui? - falou Paul, também o encarando - pensei que iria embora após o
estágio naquele hospício.

- Vocês se conheciam?

- Ele resolvia os papéis do hospital, você sabe.

- Não se encontravam fora de lá, então? - Sarah lhe lançou um olhar inquisitivo.

Paul deu um passo para trás e olhou profundamente nos olhos da garota:

- Está insinuando algo?

Por um leve instante, Sarah conseguiu ver seu rosto voltar para o semblante maldoso tão
conhecido.

- Eu só achei que se conheciam mais - disse Sarah, desviando o olhar - Me dá licença.

Assim, Sarah se virou em direção a igreja e adentrou o local.

A igreja tinha um tamanho mediano. O sol da tarde refletia através das vidraças e as estátuas
de santos em todos os cantos e portas do salão inspiravam uma sensação de mistério. No altar,
se encontrava uma foto grande de Owens sorrindo e um caixão vazio, pois seu corpo ficaria
por um tempo na autópsia.

Sarah procurou Vlad com os olhos e de longe o avistou perto do altar e foi em sua direção se
esquivando das pessoas em seu caminho.

- Oi, Vlad

- Oi, Chloe

Ele lhe lançou um olhar e então voltou a fitar a grande fotografia.

- Não sabia que conhecia ele - disse Chloe

- Não conhecia muito, era um colega.

- Hum, mas...

As pessoas começaram a se assentar e Sarah então notou que o Padre iria começar a missa,
portanto foi se sentar junto com Chloe e Dave na terceira fileira e observou Vlad se sentando
em um banco atrás de Paul.
...

A missa ocorreu normalmente. Os pais de Owens estavam velhos demais e pobres demais para
vir de outro estado atender a essa cerimônia, portanto apenas uns cinco amigos de Owens que
haviam organizado o evento pareciam realmente se importar com sua morte, a maioria estava
ali, como Dave, Chloe e Sarah, apenas pela fofoca.

Os três saíram da igreja juntos tentando andar rápido para não correrem o risco de ser
resgatar em Paul.

- O que você falou com Paul? - perguntou Chloe, curiosa

- Só perguntei onde ele estava esse tempo todo - respondeu Sarah enquanto jogava para trás o
cabelo - Ele não respondeu a pergunta, mas ele está estranho.

- Estranho - Dave questionou.

- Querem passar em algum restaurante antes de irmos para casa? - perguntou Chloe enquanto
mexia em seu celular

- Por mim está ótimo - respondeu Sarah - minha mãe não está em casa, então eu teria que
cozinhar e eu realmente não estou na vibe.

- Nem eu - confirmou Dave - Vamos onde?

Os três começaram a discutir qual o melhor restaurante e decidiram ir em um italiano, então,


entraram no carro de Chloe e dirigiram rumo ao restaurante.

...

- Meu Deus, que dia horrível - falou Dave enquanto brincava com o macarrão em seu prato.

- Nem me fale - disse Chloe

Sarah parecia pensativa, seus olhos estavam vidrados em seu pulso e sua mente trabalhava a
mil por hora.

- Oi? - disse Chloe avançando as mãos em frente aos olhos de Sarah.

- Desculpa, me perdi em pensamentos.

Chloe repousou sua mão na mão de Sarah.

- Você está assim desde que falou com Paul, o que ele te disse?

- Ele não disse nada, esse é o problema, não dá para saber o que ele está tramando e ainda
tento entender o que o Vlad tem haver com...

Antes de terminar sua frase, ouviu o barulho de notificação de seu celular que estava em cima
da mesa e quando foi levar a mão para ver o que era os celulares de seus dois amigos também
começaram a apitar.

- Estranho - falaram Choe e Dave juntos.

Sarah desbloqueou seu celular e abriu a mensagem não lida:

Agora que eu estou de volta vocês estão ferrados, Ian já se foi, agora só faltam quatro.
P.
.mensagem autodestrutiva.

Sarah, apagou a tela de seu celular e olhou para os amigos que também tinham semblantes de
preocupação.

- Vocês receberam a mesma mensagem?

- Sim - falaram ambos simultaneamente

- Quatro pessoas? Para quem mais ele enviou a mensagem - falou Sarah abrindo rapidamente
o celular e entrando o mais rápido possível na conversa antes dela se auto excluir e viu os três
nomes para quem a mensagem foi enviada.

Chloe, Dave, Sarah e Vlad.

- Vlad - falou Sarah segundos antes da mensagem sumir para os três.

Ambos trocaram olhares em silêncio por alguns segundos até Dave perguntar:

- Será quem mandou essa mensagem?

- Não é óbvio - respondeu Chloe - P é para Paul.

- Vocês acham que foi ele quem mandou o vídeo de Ian para a polícia? - perguntou Sarah.

- Ele falou na cafeteria que Paul tinha algo contra ele, não foi? - disse Chloe pertubada -
provavelmente é isso, e agora é a nossa vez, não é?

- E o que tem o Vlad haver com isso? - perguntou Chloe retoricamente

Sarah pensou se deveria falar o que sabia e decidiu que sim, afinal estavam no fundo do poço.

- Eu vi Paul entrando no carro de Vlad uma noite.

- Como assim? - perguntou Chloe.

- Eu não sei, apenas vi enquanto passava pela rua January - Sarah tampou o rosto com as
mãos, como se soubesse que iria se arrepender do que iria contar - foi na madrugada da noite
em que ele morreu, eu sempre achei que ele era quem havia matado Paul.

- O que? - Dave ficou mais confuso do que já estava - você não estava na capital?

- Eu menti, tá bem, eu estava aqui - Sarah manteve o olhar na mesa - eu estava na cidade
naquela noite, mas eu tive que falar que não, eu ficaria muito suspeita se contasse a verdade.

- Você viu ele na February de madrugada? - questionou Chloe intrigada.

- Sim, por que?

- Ele parecia bem? - questionou Dave - Ou estava estranho ou algo do tipo.

- Sei lá, ele estava todo sujo de terra, mas não parecia estar fora de si.

- Meu Deus - disse Dave, estranhamente aliviado olhando nos olhos de Chloe.

- O que está acontecendo com vocês? - Sarah aumentou o tom de voz.

- Meu Deus, não é nada - falou Chloe - O que realmente importa é o que Vlad estava fazendo
com ele naquela noite.
Sarah olhou para os dois em silêncio.

- Ok, independente do que está acontecendo entre vocês dois, a gente tem que descobrir o
porquê dele ter entrado no carro de Vlad naquela noite.

- Sim - Ambos responderam.

- Mas o que você estava fazendo aqui na cidade naquele dia? - perguntou Chloe - E porque
estava seguindo Paul.

- Vocês não responderam minha pergunta, porque devo responder a de vocês.

- Justo - diz Chloe.

Dave entrelaça os dedos sobre a mesa e propõe:

- Talvez devemos conversar com Vlad, ele pode ser outra vítima desse maluco.

- Ou o sequestrador dele - retruca Sarah.

Antes que pudessem pensar, uma nova mensagem chegou no celular dos três:

Vcs tbm receberam essas mensagens? É o Paul? O que ele quer? Será que a gente pd se ver,
to na cafeteria.

Vlad.

- Deus - exclamou Sarah, expirando o ar - E a gente vai, não vai?

Dave se levantou:

- Claro que sim, o que ele poderia fazer somos três e ele um.

Merda - disse Chloe, se levantando - Espero que ele não tenha uma arma.

...

Chegando na cafeteria os três estavam bastantes receosos.

- Vocês viram as horas? - perguntou Chloe - Porquê que caralhos ele está aqui até agora?

- Ele deve estar arrumando o estoque ou algo do tipo - falou Dave parecendo não confiar
muito em suas próprias palavras.

Sarah, portanto, vai em direção a porta e dá três batidas.

- Vamos logo.

Em seguida, Vlad chegou a porta e a destrancou. Seu rosto parecia mais pálido que o normal,
mas, no mais, aparentava ser o mesmo de sempre.

- Oi, tudo bem? - Disse com um olhar sério - só vou tirar essa roupa que está suja de farinha e
já volto.

Vlad, então, desaparece pela porta atrás do balcão.

- O que vamos perguntar? - sussurra Chloe.

- Não sei, pergunta onde ele estava na noite que o Paul...


- Está maluco - disse Sarah, enfurecida - Ele não pode achar que a gente está desconfiando
del...

Vlad entrou na sala secando as mão em uma toalha.

- Bem, então vocês também receberam aquela mensagem?

- É - falou Sarah, timidamente.

- Porque ele está fazendo isso? - indagou Vlad, inclinando a cabeça - Eu não entendo.

- Como não - disse Dave - Ele não já te odiava, tipo, desde sempre.

- Bem, sim - Vlad parecia nervoso - mas ele tinha dito que ia parar e...

Vlad parou de falar, mas manteve a boca aberta como se não conseguisse expressar o que
queria dizer. Ele, então, lentamente foi em direção as janelas, olhou as ruas e fechou as
cortinas.

Nesse momento, os três amigos se entre olharam e se afastaram dele aos poucos pressagiando
o pior.

- Se eu lhes contar algo prometem guardar segredo? - Disse Vlad, andando na direção dos três.

- Cl-Claro - respondeu Dave, com uma voz mais trêmula do que ele desejava.

- No dia em que Paul "desapareceu" - disse Vlad sinalizando aspas - Eu e ele meio que fizemos
as pazes.

- Como assim? - perguntou Sarah.

- Ele veio até mim e falou que não queria mais brigar e que queria começar uma nova vida e
precisava de uma carona para fora da cidade - Vlad encarou a parede - E eu que, não vou
mentir, não gostava muito da presença dele, o encorajei.

Sarah, Dave e Chloe estavam chocados com a informação e suas mentes se embaralharam
tentando fazer sentido dessa história.

- E porque não contou para a polícia na época dos interrogatórios? - Sarah ficou o olhar em
Vlad.

- Eu pensei que ele estava fazendo o drama de sempre e que acabaria voltando em poucos
dias - Vlad levou a mão na nuca - E, de qualquer jeito, a polícia nunca veio até mim.

- Então qual o sentido dele estar mandando essas mensagens para você? - perguntou Chloe.

- Olha, sinceramente, acho que ele nunca parou de me odiar. Penso que ele só queria alguém
para levá-lo para fora da cidade sem ser visto.

- Como assim? - perguntou Chloe.

- Então você acha que ele está mentindo sobre o sequestro? - Sarah se aproximou de Vlad.

- Não sei - disse Vlad, um pouco assustado.

- E porque ele te odeia? - perguntou Dave, também se aproximando - Ele te odeia de graça?
- Olha, eu não quero falar sobre isso - diz com as mãos levantadas - E não pensei que isso seria
um interrogatório, vocês também devem ter feito algo para ele os odiar, afinal, também
receberam as mensagens.

- Mas porque você para levar ele para fora da cidade e não a gente - perguntou Chloe - Ele
nem era seu amigo.

- E vocês lá eram amigos dele? - indagou Vlad, em um tom alto - estavam sempre brigando,
nossa relação com ele era a mesma.

Os três se sentiram levemente constrangidos.

- Desculpa, Vlad - disse Sarah, balançando as mãos - Acho melhor a gente ir. Caso ele nos
mande outras mensagens do tipo nos avisamos, ok?

- Ok? - respondeu parecendo confuso.

- Ok, tchau.

Os três saíram da cafeteria e foram para o carro de Chloe, que rapidamente o acelerou.

- O que foi isso? - perguntou Dave.

- Eu sei lá? - respondeu Chloe - Vocês acreditam nele?

- Claro que não - respondeu Sarah,porém era notável que estava em dúvida - Sei lá.

- Não podemos negar que faz sentido - disse Chloe - Você mesmo viu.

Sarah retrucou:

- Porque ele contaria isso para a gente?

- Ele quer ajuda, é obvio - falou Dave - Paul definitivamente tem algo contra ele e com essas
mensagens ele sabe que estamos no mesmo barco.

- Se ele não foi sequestrado para onde ele foi?


- perguntou Sarah - e não entendo como ele pode confiar em Vlad com um segredo desses.
Mentir assim é literalmente ilegal.

Chloe para o carro em frente a casa de Sarah.

- Você realmente acha que isso é sobre confiança? - Dave indaga - Vlad está claramente sendo
chantageado, Sarah.

- Então porque ele contou para a gente?

Dave suspirou e disse:

- Ele está com medo, Paul pode facilmente dizer que ele foi quem o sequestrou e se quaisquer
provas saírem de que ele esteve naquele carro naquela noite, ele está fodido.

- E se isso for apenas um modo de nos enganar? - indagou Chloe - Ele pode estar falando isso
para que fiquemos do seu lado caso Paul decida falar.

- Se Paul soubesse que foi Vlad ele já teria contado - disse Sarah.
- Ele alegou não lembrar de nada da noite de seu sequestro- disse Dave - mas não dá para
saber se ele está mentindo.

Sarah abriu a porta do carro.

- Olha, até descobrimos o que está acontecendo evitem o Vlad.

Sarah fechou a porta e o carro acelerou.

5–

Era um começo de tarde tranquilo e sereno. O céu estava limpo e o sol brilhava
fortemente iluminando toda aquela cidade com seus raios. Neste lindo dia, na pequena
universidade de Peaks, Chloe passava em passos largos pela grande porta do
departamento administrativo e andava pelo gramado do campus. Seus cabelos estavam
amarrados em um rabo de cavalo justo e ela usava uma saia justa ao corpo, um pequeno
salto e uma camisa social desabotoada no topo. Como hoje decidiu utilizar seus óculos
conseguia olhar para o horizonte e notar os detalhes das árvores e reconhecer os rostos,
o problema é que, as vezes, não ver alguns rostos lhe era uma dádiva.
Ao caminhar em direção ao seu carro, Chloe, olhou para o outro lado do gramado e
avistou uma figura magra e alta, com cabelos escuros e um cigarro eletrônico em mãos.
Era Paul. Chloe notou que ele olhava para ela e, sem pensar muito, foi em sua direção
enfurecida.
- Oi, Chloe, belos brincos. - disse ele, com um sorriso no rosto.
- Olha, a partir de agora ninguém mais é criança e ninguém liga para os seus joguinhos,
então saiba que se tentar algo ou continuar com as mensagens coisas ruins podem
acontecer com você.
- Do que você está falando? - disse Paul, com uma cara de dúvida, mas com resquícios
de deboche - Eu não quero mais brigar com vocês, entendeu?
- Então porque está mandando essas mensagens babacas? - Chloe apontou para seu
celular - você sabe que se contarmos o que fez com sua mãe ninguém vai ficar do seu
lado.
Paul se assustou e lhe veio ao rosto uma expressão raivosa.
- Ninguém vai falar nada, pois eu também sei coisas...
- Como sobre Ian?
Paul deu um sorriso maldoso ao ouvir a suposição.
- Eu nunca faria isso com Ian. Não sou eu que mandei ninguém para a cadeia, vocês
com certeza devem ter mais inimigos, afinal, nunca foram tão melhores que eu como
fingem ser.
- Olha, só não me inferniza nem mais um segundo, ok?
Chloe, então, se virou e foi em direção ao seu carro ainda mais enfurecida que antes.
Logo após entrar em seu carro e acelerar, Paul se virou e foi andando em direção a rua,
no caminho ligou seu celular, leu uma mensagem e soltou um sorriso malicioso.
- Agora é a vez dele.
...
A casa estava silenciosa e Dave estava sentado em seu sofá com um fone de ouvido
desplugado. Sua mente pensava sem parar sobre Ian e sobre as mensagens que havia
recebido. Temia muito que seu amigo fosse preso, mas temia ainda mais que todos os
seus amigos, e ele incluso, fossem presos. A manhã inteira pensou sobre as
possibilidades de evitar este conflito e nenhuma fazia sentido, chegava a perder a
esperança em se safar de seja lá o que Paul pretendia fazer com ele. Ainda deitado,
Dave, começou a hiper ventilar devido a intensidade de sua ansiedade, entretanto ao
ouvir o som de portas de carro batendo e imediatamente se endireitou, pois sabia que
eram seus pais.
- Oi, filho - disse sua mãe, Liza, com um olhar cansado.
- O que aconteceu? - Dave estava extremamente agitado - me fala logo.
- Calma filho - disse seu pai passando pela porta - Você está muito estressado, tem
tomado seus remédios?
- Droga, fala logo sobre o Ian, o que aconteceu?
Sua mãe suspirou.
- Bem - Liz colocou a bolsa na mesa - Ele vai responder em liberdade e, pelo que tudo
indica, vamos conseguir impedir sua prisão.
- Talvez até consigamos manter seu nome limpo, - falou seu pai indo para a cozinha.
- mas após o tribunal ele deve sair da cidade o mais rápido possível.
Dave se sentou no sofá lentamente com uma expressão reflexiva estampafa no rosto.
Sua mãe, então, se aproximou dele e sentou ao seu lado.
- Olha, o melhor que você pode fazer é se afastar dele por um tempo, ok? Sei que são
amigos, mas o que ele fez é muito grave.
- Tudo bem, a gente já nem se via a um tempo mesmo.
Dave disse isso sem acreditar em sequer uma palavra, ele sabia que na primeira
oportunidade falaria com Ian.
Ele, portanto, subiu ao seu quarto e mandou uma mensagem à Chloe e Sarah.
" Preciso lhes contar algo, ñ pode ser pelo celular"
Segundos depois Chloe lhe respondeu dizendo que poderiam se encontrar na
universidade esta noite às seis, pois ocorreria uma festa em que ela era obrigada a ir e
poderia levar dois convidados. Sarah concordou em ir e também o fez Dave.
Sarah, ao ler as mensagens começou a tentar antecipar o que Dave falaria. Seria sobre
Ian? Vlad? Paul? Talvez uma notícia boa, ou horrível. Ela não sabia. A cada dia Sarah
piorava mentalmente, devido as várias dúvidas em sua vida. Afinal, o que ela realmente
queria era entender o que estava acontecendo. Porquê Paul os ameaçava? será mesmo
Paul? Vlad está mentindo? Sempre se fazia as mesmas perguntas e continuava sem
respostas. Depois de um tempo ruminando estes pensamentos, Sarah, notou que
faltavam poucos minutos para às seis e começou a se arrumar para a festa.
Chegando na universidade, Sarah, nota que errou um pouco na vestimenta com seus
saltos altos e vestido elegante, pois aquilo mais parecia um encontro casual dos
trabalhadores da universidade do que uma festa. Sarah, ainda no gramado do campus,
mandou uma mensagem para Chloe perguntando onde estavam e ambos a mandaram
entrar, porque já estavam la dentro. Portanto, lá foi ela andando com seus saltos altos
pela grama recém regada.
Já dentro, encontrou Dave e Chloe sentados em uma mesa no canto da sala comendo
alguns pequenos aperitivos servidos em pratos de plástico. Chloe sabia para onde vinha
e estava casual com seus cabelos soltos, um óculos prqueno, calça jeans e uma baby tee
preta. Já Dave, usava um terno preto com uma gravata da mesma cor que ele retirava
tentando não se destacar tanto das outras pessoas presentes no local.
- Meu deus! - disse Chloe.
- Cala a boca - sussurrou Sarah envergonhada - você devia ter avisado que isso era um
bingo para idosos.
- Eu falei.
Dave olhou para ela com surpresa.
- Você disse festa com professores, não pensei que seria isso. - apontou ao seu redor.
- Ok, ok, eu deveria ter falado. Mas, afinal, o que você queria nos contar? - disse Chloe,
com um semblante sério e focado.
- Bem - Dave limpou a garganta - É sobre o Ian.
- O que é?
- Ele vai responder em liberdade e, pelo que tudo indica, ele vai conseguir se safar
dessa.
Sarah e Chloe demonstraram um certo alívio com a notícia, mas não se alegraram.
- Quando ele vai sair? - perguntou Sarah.
- Eu ainda não sei ao certo, mas não vai demorar muito, eles não podem deixá-lo lá por
muito mais tempo.
Chloe comeu um doce que estava em um dos pratos em cima da mesa e disse:
- Bem, também tenho algo a falar. - terminou de mastigar - Hoje conversei com Paul.
Dave e Sarah ficaram assustados.
- Eu não falei para evitar ele? - disse Sarah.
- Você falou para evitar o Vlad e não foi minha culpa ele apareceu aqui no campus essa
manhã e eu tive que falar com ele.
- E o que vocês conversaram? - indagou Dave, intrigado.
- Não foi bem uma conversa, foi mais uma ameaça.
Sarah encarou Chloe.
- O que ele falou?
- Bem, na verdade, o que eu falei - corrigiu Chloe, em um tom de voz baixo.
- Meus deus - disse Dave, repousando a testa nas mãos.
- Eu acusei ele de mandar as mensagens e dedurar o Ian para a polícia. - Chloe pegou
outro docinho - Ah! E também falei que se ele continuasse mexendo com a gente algo
de ruim poderia acontecer com ele.
- Deus, e o que ele disse? - perguntou Sarah.
- Ele negou, mas não deixou de me ameaçar quando mencionei a mãe dele.
- Você é muito maluca - Sarah a encarou - Você tem que pensar antes de fazer as coisas.
- Saiba que foi muito bem pensado - retrucou - todo dia penso em fazer algum mal
àquele filho da puta.
Os amigos se silenciaram por alguns minutos e observaram a banda que tocava do outro
lado do salão enquanto se remoíam em pensamentos obsessivos. Sarah, depois de muito
pensar, resolveu falar uma de suas indagações em voz alta.
- E se não for o Paul?
- Como assim? - retrucou Dave - É óbvio que é ele.
- Talvez não. Qual o sentido de fingir estar bem com a gente e depois nos ameaçar por
mensagem?
- Nos deixar malucas, é claro - falou Chloe, revirando os olhos - não é o que ele sempre
fez?
- Eu sei lá - Sarah abaixou a cabeça.
Dave permaneceu em silêncio por mais um intervalo de tempo até que se levantou
bruscamente e falou decidido.
- A gente tem que denunciar ele para a polícia.
- Está maluco. Se nossos vídeos vazam eu estou ferrada.
- A gente nem sabe até onde ele é capaz de ir com isso? - Sarah também se levantou -
Ian está na prisão, ou se esqueceu dele?
- E daí? - falou Dave - O que ele tem contra a gente sequer é tão horrível comparado ao
que ele fez com a Janet.
- Mas ainda assim, o que as pessoas vão pensar da gente? - indagou Chloe.
- Eu não ligo, eu não volto para essa cidade nem para as férias.
- Claro que não liga, seus pais são advogados. - disse Sarah, contrariada - mas e a gente?
- A gente dá um jeito, não dá para continuar assim, vai ser a mesma coisa que semestre
passado.
Dave começou a andar rumo a porta, Sarah o segurou, mas ele tirou seu braço de suas
mãos e continuou em direção a porta. Ao passar pela porta sentiu o ar frio em seu rosto
e colocou de volta seu paletó. Sua bicicleta pintada recentemente de vermelho e azul
estava estacionada ao lado de alguns carros. Dave, portanto, subiu nela e foi em direção
a delegacia.
A essa hora, as ruas já estavam sem nenhum sinal de vida a não ser o barulho dos grilos
e das televisões ligadas dentro das casas. Já no meio do caminho, Dave pedalava
lentamente, pois já não sabia se realmente deveria ir a delegacia, mas mesmo assim
continuava dirigindo em sua direção. No entanto, enquanto pedalava, percebeu um carro
branco virando rapidamente a esquina atrás dele, o carro o ultrapassou rapidamente e,
então, virou outra esquina na sua frente. Dave cogitou ter ocorrido algum acidente para
essa pessoa estar tão desesperada, portanto, seguiu seu caminho pensando no que
poderia ter acontecido. Porém, quando chegou perto da esquina onde o motorista
desenfreado havia virado, o carro apareceu novamente, agora ainda mais rápido e vindo
em sua direção. Dave tentou jogar sua bicicleta para o passeio, mas não deu tempo. O
carro bateu fortemente nele quebrando sua bicicleta em pedaços e o deixando jogado no
chão todo ensanguentado.
Segundos depois, houve se na vizinhança o grito de uma senhora que ao sair assustada
com o barulho vê o corpo de Dave imóvel no chão com sangue escorrendo de sua
cabeça. Rapidamente toda a vizinhança rodeia o corpo como formigas ao ver uma barata
morta.
- Alguém está morto, pai? - gritou um menino para seu pai que observava o corpo
estirado na faixada de sua casa.

6–
Após Dave sair da universidade e ir em direção a delegacia, Chloe e Sarah continuaram
ali por um tempo pensando e conversando sobre as consequências da ação de seu
amigo. Portanto, após um tempo, decidiram sair quando já estavam cansadas daquela
festa e chateadas demais com toda a situação. Se levantaram e se despediram das outras
pessoas ali presente e então saíram do salão. Porém, enquanto andavam pelo gramado
do campus em direção ao estacionamento o celular de Chloe apitou.
Você já sabe o que aconteceu com ele, Chloe?
- Mãe
Anexado a mensagem havia uma foto de Dave jogado no chão com sangue escorrendo
de sua cabeça. Só de ver aquilo Chloe deixou o celular cair no chão e lentamente se
agachou parecendo perder a força do corpo, enquanto sentia as lágrimas escorrerem por
seu rosto.
- O que aconteceu? - perguntou Sarah, assustada com a reação de sua amiga.
Chloe apenas conseguiu pegar o celular com a tela trincada e lhe mostrar a imagem.
Sarah ficou em choque com o que via.
- Ele está bem? Falaram alguma coisa?
- Eu não sei - respondeu Chloe, entre lágrimas.
Sarah, portanto, pegou o celular de Chloe e leu toda a notícia.
- Disseram que ele está no hospital Celsius. Ainda está vivo.
Chloe se levantou imediatamente retomando as forças do corpo.
- Temos que ir até lá! - exclamou indo em direção ao seu carro.
- Claro, mas eu dirijo. - disse Sarah, preocupada com sua segurança.
Após dirigirem por um curto espaço de tempo, chegaram no hospital Celsius. O hospital
era grande e extremamente iluminado dava para ver sua luz do outro lado da cidade. Ao
chegar, Chloe enxugou as lágrimas antes de sair do carro e Sarah se preparou
mentalmente para o pior. Ambas, então, passaram pelas portas eletrônicas da entrada do
hospital e se dirigiram à ala de acidentes. Lá viram os pais de Dave tristonhos em um
canto da sala de espera. A Sra. Rivers chorava desesperadamente enquanto o pai de
Dave a consolava.
- O que aconteceu com ele? - perguntou Chloe, em um tom de voz calmo sem nenhum
sinal de seu verdadeiro desespero.
- Parece que ele foi atropelado por algum filho da puta. - disse Sra. Rivers, aos prantos.
- Meu Deus, a gente pode ver ele? - indagou Sarah - Ele está bem?
O pai de Dave se levantou e chamou ambas para o acompanharem até o outro lado da
sala.
- Olha, meninas, não sabemos ainda se ele vai ficar bem e Liza está muito mal. Acho
que seria melhor se esperassem lá fora e sem muitas perguntas.
- Tudo bem. - disseram as duas em concordância, mesmo que não concordassem
realmente com o que era dito.
Sarah e Chloe se retiraram da sala e se sentaram na recepção do hospital. Chloe voltou a
chorar e Sarah ficou em silêncio ao seu lado também deixando as lágrimas escorrerem
por seu rosto. Ficaram assim por um prolongado período de tempo até que Chloe se
acalmou e disse:
- Foi ele não foi?
- O que? - Sarah tinha uma voz chorosa.
- Paul, foi ele que fez isso.
- Não é isso, ele não seria capaz.
- Foi só ele dizer que iria a delegacia que essa porra aconteceu, Sarah - Chloe parecia
indignada.
- Ele não é telepata, Chloe.
- A gente pode estar sendo grampeadas, ele sabia fazer isso e...
Sarah repousou a mãos nos ombros da amiga e lhe pediu para se acalmar. Chloe então
baixou a guarda e começou a se debulhar em lágrimas novamente.
- Você está paranóica agora - falou Sarah, calmamente - Depois você pensa sobre isso.
Depois de um momento silencioso se ouviu um estrondoso barulho que ressoou por
todo o local. Lá fora havia começado a chover muito forte e com intensas trovoadas. Em
um momento, quando se ouviu um forte trovão a porta do hospital abriu e por ela
passou uma figura magra de pele escura usando uma capa de chuva transparente, com
um guarda chuvas em mãos. Era Ian.
- O que faz aqui? - Perguntou Sarah, sem entender a presença do amigo.
- Me liberaram essa noite e fiquei sabendo sobre o acidente de Ian, o que aconteceu com
ele?
- Ainda não sabemos. - Sarah abaixou a cabeça e suspirou.
Ian fitou Chloe, que continuava sentada na cadeira sem muitas expressões, e também
observou a sala ao seu redor notando uma enfermeira o encarando e murmurando algo
com uma amiga de trabalho sem sequer disfarçar.
- Senta - disse Sarah.
Ian se sentou e ali ficou. Ian havia acabado de chegar em casa quando recebeu a notícia
sobre Dave e sentiu a necessidade de ir ao hospital saber qual o estado do amigo. Estes
últimos dias haviam sido horríveis, não como deviam, mas ainda assim ruins. Ian não
foi para a cadeia de verdade com os outros presos, pois devido aos pedidos de sua mãe e
dos pais de Dave estava ficando em uma cela particular que se assemelhava a um quarto
muito mal higienizado.
Sentado no hospital, ouvindo os murmúrios com seu nome, Ian já havia aceitado sua
situação, pois a esse ponto sabia que não tinha controle do que falavam sobre ele, afinal,
ele realmente fez o que fez.
As meninas não falaram nada com Ian sobre as mensagens, mas o interrogaram sobre
sua prisão por horas. Entretanto, ele não respondeu muito devido ao sigilo necessário
em seu caso. Após um tempo os três adormeceram nas cadeira até que às 5 da manhã o
Sr. Rivers os acordou.
- O que está fazendo aqui Ian, está maluco?
- Eu só queria saber se ele está bem.
- Você não deveria estar aqui, se a Liz te ver ela vai ficar uma fera.
- Eu já vou indo, mas como ele está?
O Sr. Rivers revirou os olhos e exalou forte pelo nariz.
- Ele apenas fraturou um braço e teve um corte na cabeça, por isso tanto sangue -
pausou para respirar - mas parece que tudo ficará bem.
- Graças a Deus - disse Chloe, aliviada.
O Sr. Rivers parou por um instante e olhou para trás como se temesse que alguém
estivesse os espionando e então disse em um tom baixo:
- Vocês podem ir ver ele, caso queiram, é claro. - passou as mãos em seus cabelos
castanhos - Mas não você Ian. É melhor não aparecerem juntos até isso acabar.
- Mas...
- Desculpa.
Ian abriu a boca, mas nada emitiu. Pareceu pensar em contrariar o homem, mas desistiu
logo em seguida e se sentou novamente em uma cadeira.
Logo, Chloe e Sarah seguiram o Sr. Rivers pelos corredores do hospital até o quarto de
Dave. Ao adentrar o quarto o avistaram com a testa e braço esquerdo enfaixado deitado
na cama parecendo dormir. O quarto era individual e possuía uma grande cama para
Dave, também havia uma televisão, uma geladeira, sofá para as visitas e banheiro
particular, tudo graças ao plano de saúde de seus pais. Quando sentiu a presença de
pessoas na sala Dave abriu lentamente suas pálpebras, ainda um pouco grudadas de
remela. Seus olhos, como todo seu rosto, estavam inchados, portanto, mal era possível
notar seus olhos cor de esmeralda.
- Ele vai ficar bem - disse o Sr. Rivers - o inchaço é por causa da anestesia.
- Tiveram que te operar? - perguntou Chloe preocupada.
- Não, é qu...
Antes que Dave finalizasse a resposta com sua voz rouca seu pai interviu.
- Não, é para a dor. Mas ainda vão ver se ele está realmente bem - Rivers olhou para
baixo e novamente passou a mão pelos cabelos - Vão fazer alguns teste para ver se a
batida causou algum coágulo cerebral ou coisa do tipo.
Neste momento, um homem de jaleco branco entra na sala com uma prancheta em
mãos. O homem era um enfermeiro pedindo para Chloe e Sarah assinarem a lista de
visitas. Enquanto ambas assinavam, Rivers começou a tagarelar com o enfermeiro sobre
Dave e quando Chloe e Sarah entregaram a lista de volta para o enfermeiro e ele saiu
com a prancheta, o Sr. Rivers foi junto dele, ainda o interrogando sobre os tratamentos
de Dave.
- Como vai, está bem? - perguntou Sarah, com um olhar de dó para o amigo.
- Óbvio que não, né - respondeu Dave, com um sorriso de canto.
- O que aconteceu, Dave? - Chloe o interrogou - Você se lembra de algo?
- Sim, eu estava indo de bike para a delegacia e um cara passou correndo por mim -
Dave tossiu interrompendo a frase - Eu pensei que era alguma emergência ou algo do
tipo, mas depois o carro virou na minha direção.
Sarah e Chloe se entre olharam.
- Você acha que isso tem algo haver com a mensagem? - pergunta Sarah, em um tom
mais baixo que o habitual.
- Só pode ter sido o Paul. - diz Chloe.
Dave intervém:
- Pode ter sido uma pessoa aleatória, vocês acham mesmo que o Paul faria isso? E como
ele saberia onde eu estava.
Antes que alguém pudesse responder a pergunta os celulares das duas garotas tocaram
juntos. Seus olhos se arregalaram e trocaram olhares entre elas e Dave. Então, Sarah
tirou seu celular do bolso e viu uma mensagem que a fez levar a mão a boca e arregalar
ainda mais seus olhos cinzentos.
Espero que com isso aprendam o que acontece com vadias que não sabem guardar
segredos. Na próxima alguém morre.
P.
.mensagem autodestrutiva.
Anexado ao texto estava uma foto de Dave andando de bicicleta na noite em que foi
atropelado.
Sarah, assustada, passa o celular para Chloe que olha a imagem e tem a mesma reação
da amiga. Desse modo, segura o celular na frente de Dave que olha a mensagem e
automaticamente se desespera.
- Meu Deus - Dave começa a se movimentar na cama e olhar para os lados de modo
paranóico - Eu não posso ficar aqui, o que esse maluco pode fazer?
- Calma, ele não vai fazer nada.
- Como não, ele me atropelou, Sarah.
- Se desesperar não vai ajudar - falou Chloe, sentindo o maior ódio que já sentiu na
vida. - nos temos é que acabar com ele.
- Como, porra? - gritou Dave.
- Sinceramente, devíamos matar esse filho da puta!
No exato momento em que Chloe gritava passa pela porta do quarto Ian e Vlad.
- O que vocês estão fazendo aqui? - fala Sarah, quase gritando - O Rivers não mandou
você não entrar ?
- Que merda de mensagem é essa? - pergunta Vlad, mostrando a tela de seu celular em
suas mãos que tremem de nervosismo.
- Ugh - resmunga Chloe revirando os olhos - eu tinha até me esquecido de você.
- Ele que fez isso com você? - Pergunta Vlad, chegando perto de Dave e lhe mostrando
a imagem no celular - Você se lembra de alguma coisa?
- Meu Deus, ele está machucado, para com isso. - Ian levanta as mãos e balança a
cabeça - E que merda de mensagens são essas?
- Que inferno - Dave resmungou.
- Como você chegou aqui tão rápido? - perguntou Chloe a Vlad.
- Porque rápido? - Vlad parecia confuso. - essa mensagem chegou para mim faz meia
hora.
- Isso é mentira - falou Chloe - Não faz sentido.
Ouviu se então o barulho da porta se abrindo e por ela passou uma mulher baixinha com
cabelos loiros e encaracolados que usava um jaleco branco.
- Que tanto de pessoas são essas? O menino precisa de descanso e não de cinco pessoas
em cima dele.
Todos abaixaram as cabeças envergonhados e se desculparam falando que já estavam de
saída. Dave, então, pediu a médica que deixasse eles ali apenas por mais um tempinho e
ela concordou pedindo à eles que procurassem algum enfermeiro e assinassem a lista de
visitas.
- Foi Paul que fez eu ir preso? - perguntou Ian, após a enfermeira sair do quarto - E ele
que te atropelou?
Ian parecia confuso.
- É óbvio que foi aquele insuportável, quem mais seria tão intrometido? - respondeu
Chloe.
- O que nós vamos fazer em relação a isso? - perguntou Vlad.
- Não tem nós - disse Sarah, impaciente - Nem sabemos quem você é? E se você for
outro maluco igual ao Paul.
Vlad pareceu magoado pela fala, mas logo sua mágoa virou raiva.
- Quer saber vocês são piores que aquele desgraçado - Vlad balançou o braço em
desdém e saiu.
Ian observou aquela cena sem entender o que Vlad tinha haver com tudo aquilo e
também sem entender porque Sarah estava sendo tão rude.
- Porque você fez isso?
- Você não sabe metade então não enche? - falou Sarah, indignada.
- Ugh - Ian jogou os braços para baixo e bateu o pé no chão de modo semelhante a uma
criança e foi em direção a porta.
Enquanto saía, Ian viu Vlad caminhando em direção a porta e foi correndo em sua
direção.
- Ei, desculpa, eles estão desesperados.
- Vocês são tão insuportáveis - disse Vlad, enfurecido - e ela está certa realmente não
tem um nós, o que eu tenho haver com isso?
- Eu não sei é que...
O rosto de Vlad estava tomado pela raiva e suas expressões estavam grosseiras e rudes.
- Corta o papinho, você também é horrível, voce matou seu professor. - disse a última
parte em um quase sussurro.
Ian se assustou com a afirmação que, por mais que real, ainda assim foi muito direta.
- Eu não - Ian interrompeu sua fala pensando nas câmeras do hospital e nas enfermeiras.
- Olha, desculpa, ok? - falou Ian, cansado.
- Tudo bem.
Vlad deixou-se cair sobre uma cadeira da recepção e ficou ali respirando fundo por um
tempo. O ódio estava deixando o rosto de Vlad que voltava lentamente a sua habitual
expressão melancólica.
Vlad, então, se levantou da cadeira pegou seu guarda chuva, o abriu e se virou para a
porta. Em um momento ele olhou para trás e pareceu querer falar algo com Ian, mas
desistiu.
Ian ficou pensando sobre a fala de Vlad enquanto se dirigia ao quarto de Dave
novamente. Ele sabia que era um assassino. Particulamente, a única preocupação de Ian
era a repercussão que isso teria, não se importava em ter matado aquele homem, foi
autodefesa, afinal. Mas e se não fosse? Seria tão ruim ter matado alguém? Há pessoas
que merecem, não? Ian não sabia a resposta.
- Bem - dizia Chloe, quando Ian entrou na sala - Eu não sei como lidar com isso.
- Não têm como, ele é um bárbaro - fala Dave - ele vai acabar matando alguém.
Silêncio na sala.
- Não se ele morrer primeiro - disse Chloe, olhando para o chão.
Ian perguntou:
- O que quer dizer?
- Quero dizer que devemos acabar com ele, entende? - seus olhos escuros se
encontraram com os de Ian.
- Já passou da hora - disse Dave, pensativo.
Ian fica horrorizado com a idéia dos amigos, mas Sarah não parecia se importar.
- Meu Deus, vocês querem matar alguém? - disse Ian, sussurrando a última parte.
- A gente não sabe se é o Paul - fala Sarah, assertivamente - Não existe apenas uma
pessoa com P. como letra inicial.
Dave tosse.
- Mas existe apenas uma tão intrometida.
Todos ficaram em silêncio até que Rivers entrou na sala e falou que havia acabado o
horário de visitas. Quando avistou Ian dentro da sala ficou chocado e com raiva, mas
tentou disfarçar. O criticou cordialmente e o aconselhou a não assinar a lista de visitas.
...
Às dez da noite deste mesmo dia, os pais de Dave foram para casa mesmo após os
pedidos do filho para que ficassem. O Sr. e Sra. Rivers não viam necessidade de dormir
no hospital, já que haviam ali vários profissionais para ajudar Dave em qualquer coisa
que necessitasse. Porém, Dave não queria ajuda e sim proteção. Estava paranóico com
tudo o que aconteceu. Durante o dia havia recebido várias visitas, visitas de pessoas que
sequer lembrava o nome. Mas à noite ninguém veio e a cada momento sozinho criava
mais cenários catastróficos em sua mente.
Já era dez e meia da noite quando ouviu um barulho fora do quarto. Assustado, levantou
a cabeça ainda dolorida para olhar a porta e notou a maçaneta se movendo, sua
respiração ficou ofegante, tentou se levantar, mas as agulhas que estavam em seu corpo
e a dor na cabeça que acentuava com o movimento o impediram. A porta parecia
emperrada e seja quem fosse que tentava entrar começou a empurra-la com força até
que...
Uma homem de cabelo curtos e escuros, um pouco gordinho, usando um jaleco branco
passou pela porta.
- Oi - lançou um sorriso simpático - acho que estava emperrada.
Dave cerrou os olhos para identificá-lo.
- Não deveria ficar assim, pode se deitar novamente - disse apoiando a cabeça de Dave
em seus braços.
Dave então se deu conta, era apenas um enfermeiro.
Agora já aliviado respirou fundo.
- Você me assustou?
- Desculpa, são essas portas horríveis.
Dave analisou o enfermeiro com uma certa indecência. O homem parecia ter a mesma
idade que ele. Ele possuía barba, parecia ter a mesma estatura que Dave e tinha um
olhar atencioso.
- O que você vai fazer comigo? - perguntou Dave, com uma voz mais soprosa do que
esperava.
O enfermeiro deu um leve sorriso.
- Bem - disse animado, esticando o garrote e deixando bater em uma das mãos - eu vou
aplicar alguns medicamentos em você.
- Queria algo diferente - Dave da um sorriso de canto de boca
O homem também sorri e se aproxima de Dave. Em seguida, o enfermeiro apalpa o
rosto de Dave que se excita ao sentir as mãos macias em seu rosto.
- É, você está bem menos inchado, vai ter alta em poucos dias.- lhe dá dois tapinhas no
rosto.
Os dois tapinhas o deixam ainda mais animado com tudo aquilo. Porém, rapidamente
perde o entusiasmo quando o homem lhe diz:
- Os medicamentos que vou lhe aplicar são bem fortes, então provavelmente você vai
apagar.
Por mais que antes de tudo tenha pensado em uma cantada, logo depois se desesperou.
Dormir? E se alguém entrasse em seu quarto. E se alguém o atacasse à noite?
- Eu não posso dormir - disse levantando o tronco.
- Porque não?
- Eu só...
Como explicaria isso, pensou Dave.
- Você está seguro aqui, não precisa ter medo.
Antes que pudesse impedir, o homem já havia lhe aplicado a injeção e sua visão
começado a embaçar, ele, então, começou a se sentir lento.
- Qual seu nome? - perguntou para o homem distorcido pela sua visão.
- Paul.
...
Após isso, Dave apagou por um tempo. Porém, quando o relógio bateu as três da manhã
ele lentamente começou a acordar e viu em sua frente uma figura distorcida, parecia ter
longos cabelos negros e usava um jaleco branco, uma enfermeira, talvez.
- Quem é? - perguntou com a voz fraca.
A pessoa se afastou. Neste momento, a visão de Dave começou a desembaçar e ele
conseguiu notar quem estava em seu quarto, era Paul. Estava vestido como uma
enfermeira e seus cabelos estavam longos como antigamente, mas negros. Com sua mão
direita mexia em seu celular e com o dedo indicador de sua esquerda fazia o sinal de
silêncio. Após clicar em algo no seu próprio celular, o celular de Dave que estava na
escrivaninha piscou três vezes e desligou.
- Ele sempre nos...
Dave não consegui entender bem o que ele dizia, pois nada fazia sentido, a sensação que
tinha era de estar tendo uma viagem de LSD muito forte. Ele sequer sabia se aquilo era
real.
Ao ver que Paul enquanto parecia falar algo estava se aproximando, Dave tentou se
convencer que tudo isso só poderia ser um de seus episódio de paralisia do sono ou,
talvez, um sonho ou alucinação por causa de seus remédio. Porém, por mais que
tentasse acreditar que era tudo fruto de sua mente, Dave se desesperou quando Paul
chegou muito perto de sua cama.
- O que você? - Dave não conseguia se mover ou falar direito, seu corpo parecia
extremamente pesado.
- Eu não queria que isso acontecesse, eu fiz o que eu tinha que fazer, eu juro. - Paul
carregava um semblante triste - Isso acaba logo, eu só preciso de tempo. Mas, por favor,
- sua expressão ficou séria - não tente contar novamente ou alguém vai acabar
morrendo.
Dave começou a tremer na cama. Paul então se aproximou ainda mais, beijou sua testa e
disse:
- Não precisa ter medo, bobinho, eu sou só uma alucinação.

7–

Dave acordou assustado. Seu coração batia forte e podia sentir o suor escorrendo em seu
rosto. Ele olhou ao redor e notou as cortinas abertas e o sol iluminando todo o quarto.
Não havia ninguém com ele. Olhou para o relógio e notou ser oito horas da manhã,
então clicou com o dedo indicador de sua mão funcional em um botão ao lado de sua
cama e esperou pelo barulho da porta.
- Oi, como vai?
Era o mesmo enfermeiro de ontem, ele tinha olhos cansados e parecia mais desanimado
que na noite anterior.
- Estou bem. - falou sorrindo.
- Voce não devia ter se levantado após tomar tantos remédios - disse fechando as
cortinas o suficiente para que o sol não chegasse no rosto de Dave.
- Eu não me levantei, sobre o que você está falando?
- As cortinas estão abertas e você não teve visitantes, então...
- Ninguém entrou aqui?
- Não, só eu e sua médica.
Dave ficou confuso e assustado, mas não queria demonstrar.
- Ah, então você fica aqui a noite toda? - perguntou mudando de assunto.
- Sim, comecei aqui tem pouco tempo - respondeu o homem sorrindo - acho que estão
tentando me fazer desistir.
Dave sorriu.
- Você não viu ninguém mais entrar em meu quarto, viu? - perguntou Dave, tentando
tirar alguma informação do homem.
- Não - O enfermeiro o encarou parecendo tentar entende-lo - se está preocupado com a
cortina saiba que os remédios que anda tomando as vezes geram sonambulismo ou até
alucinações, nem sei porque te receitaram remédios tão fortes.
- hmm - Dave assentiu. - Faz mais sentido
O homem, então, após analisar se estava tudo bem com Dave, retirar as agulhas de seu
corpo e trazer seu café da manhã, se virou para sair.
- Ei, espera.
O homem se virou para Dave novamente.
- Qual seu nome?
- Eu já te falei ontem a noite, é Paul.
O homem se virou e saiu. Dave estava mais calmo agora, pois decidiu aceitar que o que
viu de madrugada foi apenas uma alucinação que sua mente paranóica criou após ouvir
o nome de seu enfermeiro. Entretanto, no fundo, ainda estranhava a cortina aberta, pois
mesmo que hoje se sentisse mais forte com o corpo tão fraco como estava no dia interior
não conseguiria se levantar.
Com tantas coisas para pensar, Dave decidiu parar por um momento e comer seu café.
No momento em que Dave pegou o garfo sua mãe chegou no seu quarto. A Sra.
Rivers, ao entrar, abriu as cortinas e se sentou ao lado do filho folheando uma revista
Vogue que estava jogada em cima da escrivaninha e assim ficou. Até que em um
momento em que Dave balançou seu braço direito para falar algo com a mãe sua mão
bateu no copo de leite e derramou tudo o que estava no recipiente em sua cama.
- Merda! - exclamou sua mãe, indo até a porta - Enfermeira!
Em poucos segundos uma mulher chegou para atender à sua mãe.
- Ele derramou suco em toda a cama, acho que vai precisar trocar os lençois.
- Ok, vou buscar outra roupa de cama e já volto - disse a loira, dando um sorriso e
assentindo com a cabeça.
Dave então se sentou na cama. Já se sentia mais forte, portanto, decidiu se levantar. Sua
mãe o repreendeu, mas, ainda assim, ele desceu da cama e se sentou no sofá ao lado da
Sra. Rivers.
- Na verdade, eu estou bem melhor agora. - disse Dave, sorrindo.
A enfermeira entrou na sala com uma nova roupa de cama e começou a tirar a molhada
e joga-la no chão. Quando a enfermeira foi colocar a outra roupa de cama, ao levantar o
colchão para encaixar o lençol, ela notou um pequeno papel dobrado cair no chão e nele
estava escrito "Dave", portanto, a mulher o pegou e entregou a Dave dizendo:
- Aqui, deve ser de algum dos visitantes.
Sua mãe encarou o papel na mão do filho.
- O que é isso?
- Não sei ainda. - disse Dave, desdobrando o papel.
Ao olhar para o papel desdobrado viu ali digitada a seguinte frase:
"Gostou da minha visitinha?"
P.
Ao ler isso Dave sentiu seu coração pulsar mais rápido e por um segundo pensou que
iria desmaiar, mas precisava fingir. Portanto, deu um leve sorriso para a mãe e falou:
- É só uma mensagem da Tia Rose.
- Ugh - resmungou sua mãe - Ela e suas cartas idiotas.
A enfermeira havia terminado de arrumar a cama quando Paul, o enfermeiro, bateu à
porta do quarto junto a uma mulher que usava roupas formais. Ao ouvir as batidas, a
Sra. Rivers abriu a porta e Dave, que já estava novamente em sua cama, os observou
adentrar o quarto.
- Nós do hospital Celsius viemos nos desculpar ao Sr. Rivers e entes queridos, - A
mulher suspirou com um falso ar de tristeza - pois o medicamento dado ao Sr. Dave
Rivers no dia anterior não foi o apropriado para sua situação.
- O quê? - Indagou sua mãe, arregalando os olhos.
- Parece que houve algum engano, pois a médica que nosso enfermeiro afirma ter lhe
prescrito os remédios não trabalha aqui. Não sabemos quem é essa pessoa.
- Meu Deus! - A Sra Rivers balançava a cabeça em negação - Como vocês podem ser
tão incompetentes ao ponto de deixar uma desconhecida se passar por médica.
- Calma mãe - disse Dave, ainda tentando assimilar o que aquilo significava - Eu estou
bem.
Dave tentou acalma-la, mas a Sra. Rivers não lhe deu atenção e continuou em sua
ladainha:
- E você? - falou enquanto apontava para o enfermeiro que continuava de cabeça baixa -
Como não viu que ela não era uma médica real?
- Ele é novo aqui. - Interrompeu a mulher - Senhora, por favor se acalme, nós vamos lhe
dar todo o dinheiro do tratamento de volta.
- Vocês vão me dar bem mais que isso tenham certeza, agora saiam, já não encheram o
suficiente?
O enfermeiro pareceu querer falar algo, mas apenas se virou e saiu cabisbaixo
acompanhando a mulher.
- Olha - disse sua mãe, caminhando em círculos pela sala enquanto digitava algo em seu
celular - Eu vou falar com seu pai e vamos processar essa porcaria de lugar.
Ela, então, saiu pela porta batendo-a.
Dave agora sozinho com seus pensamentos, chegou a conclusão de que aquilo não foi
uma alucinação, foi real. Paul esteve aqui e poderia ter feito o que quisesse com ele
naquela noite. Nesse momento, uma sensação de vulnerabilidade tomou conta de Dave.
A mistura de ódio e medo fizeram lágrimas caírem de seus olhos verdes e escorrerem
até seus queixos. Ele estava desesperado. A coisa a se fazer agora, pensou Dave, era
chamar as únicas pessoas que poderiam ajudá-lo, Chloe, Sarah e Ian. Portanto, Dave,
pegou seu celular na escrivaninha para mandar uma mensagem aos amigos, porém, ao
tentar ligá-lo, percebeu que ele estava completamente desligado e não queria ligar
novamente. Era isso, Paul realmente havia estado ali.
Enquanto se remoía em pensamentos a porta se abriu e rapidamente por ela passou um
homem que na mesma velocidade a fechou. Era o enfermeiro.
- Olha, me desculpe - disse fitando Dave com seus os olhos tristes - Eu tinha estranhado
a prescrição de coisas tão fortes para você, eu deveria ter...
Dave o interrompeu.
- Está tudo bem. - deu um sorriso falso. - Mas eu preciso saber algo.
- O quê? - disse o homem, se afastando um pouco de Dave.
- Como era essa médica, a que me prescreveu esses remédios?
- Bem, ehh, ela era bem magra e, umm, tinha cabelos negros e estava de jaleco e tudo,
parecia uma médica comum. - disse apressado.
- Você chegou a conversar com ela?
- Bem, não. Ela apenas me entregou a prescrição dos medicamentos e como o
documento parecia oficial e era identifico ao usado pelos médicos, eu não desconfiei.
- Nenhuma câmera gravou essa pessoa?
- Vamos olhar isso agora.
- Obrigado, Paul - Dave não conseguiu conter a expressão de desdém ao falar seu nome.
- Tenho que ir agora, mil desculpas.
O homem saiu pela porta.
...
Chloe dormiu por toda a noite tranquilamente em cima do lençol preto de sua cama. Em
seus sonhos viu a imagem de Paul usando as roupas de quando se conheceram no
parque de diversões, deviam ter uns doze anos. Entretanto, apesar das feições infantis,
ele já tinha os cabelos longos e loiros iguais aos que possuía antes de desaparecer. Em
sua mão direita segurava um balão rosa e lentamente abria um sorriso que se tornava
uma fala:
- Voce ainda me ama?
Um ser gigantesco veio correndo na direção de Paul e pisou nele o esmagando. Chloe,
então, acordou de sobressalto soltando um grito agudo.
Ela se sentou na cama e levou as mãos na cabeça tentando entender o que havia
acontecido. "Foi apenas um sonho" repetia para si mesma igual sua mãe fazia com ela
quando tinha um pesadelo. Após se acalmar, Chloe pegou seu celular que estava na
cama jogado junto a um fone de ouvido e olhou suas mensagens.
Eu estou indo ver o Dave mais tarde. Quer vir comigo?
Sarah
Chloe, sem pestanejar, respondeu dizendo que iria. Neste momento, a preocupação com
Dave voltou à sua mente, "será que ele está bem?" pensou. Além da preocupação com
Dave, Chloe também temia ter que, novamente, viver com medo ser exposta a qualquer
momento por Paul, não sabia se aguentaria aquilo de novo.
Após pensar por alguns minutos, ela se levantou, saiu do quarto e foi ao banheiro da
casa se arrumar para encontrar com Sarah. Ao se olhar no espelho notou seus cabelos
pretos e muito lisos que escorriam por seu rosto. Em seu pescoço usava um colar com
um grande crucifixo prateado que descia até seus seios que se encontravam cobertos por
uma camiseta branca. Por um momento, enquanto se encarava, se sentiu uma farsa, uma
mentirosa que estava enganando todos ao seu redor. Entretanto, ao notar o sentimento
tão familiar Chloe rapidamente o expulsou de sua mente e foi tomar seu banho.
Ao sair do banho Chloe foi se vestir em seu quarto. Se olhando no espelho
experimentou algumas roupas, até que decidiu usar uma saia preta que descia até o
joelho, uma camisa preta que pegou de sua irmã e uma bota com pequenos saltos.
Então, já pronta pegou seu celular e viu a mensagem de Sarah.
Já estou na porta da sua casa.
Sarah
Portanto, Chloe pegou uma bolsa preta que estava em cima de sua cômoda e foi em
direção à porta. Ao lembrar de seus óculos, voltou para pegá-los, os colocou e saiu rumo
ao carro de Sarah.
- Oi - disse Sarah, observando Chloe entrar no carro. - Tudo bem?
- Tudo - disse Chloe, sorrindo e revirando os olhos enquanto colocava os cintos.
Sarah começou a dirigir em direção ao hospital.
- Eu pensei em chamar o Ian, mas não sei se seria uma boa idéia então desisti. - disse
Sarah
- Fez certo - Chloe assentiu - Ele deveria ficar quieto até o julgamento.
- É - disse Sarah com uma voz baixa. - Deus, eu não acredito que ele foi preso!
- E tudo por culpa daquele idiota.
- Ele tem que parar, - Sarah deu um soco no volante - isso está indo longe demais.
- Você agora acredita que é ele?
Sarah pareceu indecisa.
- Eu não sei quem mais poderia ser, mas ainda tenho que lhe dar o beneficio da dúvida.
- Porque? - Chloe apontou as palmas das mãos para cima.
- Somos amigos a muito tempo, Chloe - Sarah parecia incomodada - mais tempo que
você e Dave, ele não era assim... Ele não seria capaz.
Ao entrar no hospital pediram na recepção para ver Dave e como era horário de visitas a
atendente o avisou e mandou as duas subirem até seu quarto.
Ao chegarem em frente à seu quarto, Sarah abriu a porta e entrou no lugar junto de
Chloe. Dave estava sentado na cama assistindo à TV enquanto bebia uma garrafa d'água
e quando ouviu o barulho da porta deu um salto respingando água em sua roupa.
- Desculpa - disse Chloe.
Dave pareceu aliviado.
- Ah, são vocês.
- Seus pais não ficaram aqui com você? - falou Sarah, olhando o quarto vazio.
- Eles agora estão preocupados em processar o hospital.
- O que? - Indagou Chloe - De qualquer jeito porque não mandou nenhuma mensagem?
- Meu celular parou de funcionar - disse olhando para a cômoda com preocupação - algo
horrível aconteceu ontem.
As duas permaneceram em silêncio esperando que Dave terminasse sua fala.
- O Paul esteve aqui.
- O que? - Ambas falaram juntas.
- Eu vi ele - Dave gaguejou - ele pegou meu celular e fez algo com ele para o
desativar... Não me lembro bem.
- Como ele entrou aqui? - perguntou Chloe.
- O que ele fez? - Sarah estava ansiosa seu coração batia acelerado.
- Ele me pediu desculpas pelo atropelamento e mandou eu não contar para ninguém ou
alguém morreria.
- O hospital não viu ele entrando, talvez as câmeras? - Perguntou Chloe.
- Parece que as câmera foram desligadas.
- Como você sabe disso? - Indagou Sarah.
- Meus pais tentaram achar, mas não conseguiram.
Chloe o olhou intrigada.
- Você contou para eles - sussurrou.
- Claro que não - afirmou Dave - Hoje de manhã o hospital viu que a pessoa que
receitou meus medicamentos não era uma médica real e veio se desculpar comigo, pois
estes medicamentos eram muito fortes e poderiam fazer eu alucinar ou coisa pior.
- Espera - disse Sarah, parecendo ficar mais nervosa a cada instante - e o que prova que
não foi apenas uma alucinação? Pode ter sido apenas um sonho.
- Eu achei isso na minha cama de manhã.
Dave mostrou a carta que a enfermeira havia encontrado em sua cama. Chloe estava
horrorizada com aquilo, mas Sarah parecia que estava prestes a desmaiar. Ela suava
muito e respirava de maneira superficial parecendo não conseguir puxar o ar.
- O que foi? - perguntou Dave, se inclinando na direção de Sarah.
- Vai ser tudo de novo - Os olhos de Sarah se encheram de lágrimas - Ele vai vir atrás de
mim de novo.
- Como assim? - perguntou Chloe, levando a amiga até o sofá.
Dave se levantou lentamente e foi para mais perto das duas.
- Ele já fez isso comigo uma vez. Ele invadiu o hospital no qual eu estava naquela
época.
- Qual época? - perguntou Dave, lhe entregando um copo de água.
- Na época em que ele desapareceu, eu não estava na capital.
- Isso já sabemos, afinal, você viu Vlad na noite do desaparecimento. - disse Chloe.
- Eu estava no Harley's naquela época, minha mãe me internou por abuso de drogas.
- Como assim? - perguntou Dave - Você é a mais limpa do grupo e...
-Minha mãe me odiava - continuou, interrompendo Dave - Era para eu ficar lá mais
tempo, mas eu saí na noite em que ele me visitou. Eu não tinha tomado o remédio para
"dormir" e eu o segui após ele sair.
- Espera - falou Dave - me dêem seus celulares.
- Porque? - indagou Chloe contrariada, mas passando seu celular.
- Estamos sendo grampeados.

8–
Olá, queridos leitores. Hoje lhes contarei onde Sarah, nossa querida pecadora, estava na
noite em que Paul desapareceu e porquê ela teme tanto o meu pecador predileto. Porém,
antes de tudo, sinto ser necessário voltar algum tempo com vocês para lhes dar todo o
contexto necessário.
Sarah é a filha única de uma mãe solteira que se mudou de Los Angeles para cá após
seu fracasso ao tentar ser reconhecida por seus roteiros. Na época em que se mudaram
para Peaks Sarah tinha apenas quatro anos. Chegando na cidade, logo foi colocada em
uma creche, já que agora sua mãe retornaria ao trabalho de jornalista e não teria mais
tempo para cuidar de sua filha. Nesta creche ela fez vários amigos graças ao seu gênio
extrovertido e, como já devem ter previsto, uma de suas amizades preferidas era Paul.
Ambos cresceram juntos. A mãe de Paul se tornou amiga da mãe de Sarah, portanto
ambos viviam na casa do outro enquanto crianças. Nessa época, sua amizade era sincera
e tranquila, nada os incomodava.
Ao chegarem na adolescência Paul e Sarah se tornaram populares e conhecidos por
todos da cidade, seja por bem ou por mal. Foi neste período que conheceram Dave,
Chloe e Ian e começaram a dominar as festas da cidade e os corredores da escola devido
seus modos extravagantes e tesão por polêmicas. Tudo corria bem. Entretanto, já devem
ter notado que a paz aqui dura pouco, e, bem, essa durou até o aniversário de 17 anos de
Paul.
Como de costume, Paul fez uma festa enorme em sua casa para comemorar seu
aniversário. As luzes brilhavam, a música era alta, havia drogas, sexo e tudo o que há de
mundano. Os seniors estavam alegres com a festa, pois era um símbolo do começo do
último semestre de ensino médio e, então, finalmente se veriam livres daquela cidade.
Entretanto, Sarah não estava feliz com a festa, afinal, este era o último ano de seus
amigos, mas não o dela, que era um ano mais jovem.
Sarah não sabia como viveria sem seus amigos por perto, sem Paul, eles eram
inseparáveis. Entretanto, sua preocupação durou pouco, pois após os surtos de seu
melhor amigo, Sarah começou a achar uma ótima idéia que ele deixasse a cidade o mais
rápido possível.
Já eram umas cinco horas da manhã e a festa continuava sem diminuir sua energia.
Nesta noite em especial Paul estava esplêndido. Seus cabelos loiros desciam na altura
dos ombros. Seus olhos de cor marrom eram destacados por seus grandes cílios e pelo
vestido branco que sustentava em cima de grandes saltos. Tudo isso em seu corpo
esguio, o que lhe dava a aparência de uma boneca.
Durante grande parte da noite, vez ou outra, era possível ver ele passando em meio as
pessoas enquanto dançava. Entretanto, após as três horas, ninguém mais o viu. E, já às
cinco horas, seus amigos começaram a se preocupar e decidiram procurar por Paul.
Portanto, todos os quatro, vestidos iguais vadias e com mais álcool que sangue no
corpo, começaram a perguntar aos convidados se haviam avistado o loirinho.
- Gente - disse Ian, ajustando sua mini saia enquanto entrava no quarto de Paul onde os
outros estavam - temos que achar ele.
Chloe acariciou seu cabelo afro com a leveza de uma pessoa chapada e disse:
- Eu acho que algo aconteceu, ele tem andado estranho, lembram das perguntas que ele
fez semana passada?
Dave se jogou na cama e retirou os os óculos de lentes amarelas que usava.
- Que droga - sua voz entregava o abuso de substâncias.
Sarah tentou falar algo, mas antes que pudesse formular a frase...
-O que vocês estão fazendo no meu quarto? - Paul gritou - Saiam daqui.
- Calma... - disse Dave, gesticulando com a palma das mãos para baixo. - É só a gente.
- Eu já cansei disso, eu não sei o que caralhos vocês querem de mim, Porra.
- Você está bêbado, Paul? - disse Chloe, se aproximando dele.
- Sai - gritou balançando as mãos. - Saiam daqui!
Os quatros se retiraram cabisbaixos sem entender o porquê de tanta raiva.
Bem, daqui para frente é só para baixo. Paul, então, começou suas ameaças incessantes
aos amigos. Primeiramente, apenas Chloe e Dave eram ameaçados, mas, após um
tempo, descobriu sobre o acordo de Ian com Owens e passou a aterroriza-lo com a idéia
de o expôr.
Porém, Sarah nunca pareceu ser sua principal vítima, ele não parou de tentar sair com
ela como fez com os outros ou a ameaçou, mas ela se afastou. Ela permaneceu vendo a
situação de longe até a noite em que tudo aconteceu.
Certo dia, a mãe de Sarah entrou no quarto de sua filha e encontrou uma pequena
quantidade de maconha. Preocupada como era fez um escândalo e resolveu mandar a
filha para o hospital de reabilitação da cidade, o Harvey's, um lugar ótimo para jogar os
filhos indesejados.
Sarah deveria ficar lá por três semanas, mas as pessoas poderiam comentar, pensou sua
mãe. Portanto, para evitar falatórios a mãe de Sarah mentiu para os conhecidos falando
que a filha iria para a capital visitar alguns familiares. Mentira clássica que já não tem o
mesmo efeito em Peaks, mas ainda assim tem seu lugar e vez.
O que a fez fugir do local antes do esperado foi uma visita inesperada que recebeu no
terceiro dia de sua estadia. Naquele dia, como de praxe, as enfermeiras tentaram lhe
empurrar remédios para dormir e ela, cansada de resistir, aceitou, mas não os tomou,
apenas fingiu engoli-los para dar fim a falação.
A noite caiu e com ela veio o silêncio. Dentro de seu quarto Sarah dormia naturalmente,
um sono leve e tranquilo, até que de repente, um pequeno ruído foi ouvido do outro lado
da porta. Ao escutar o som, Sarah acordou, mas ainda atordoada pelo sono e não
querendo deixar óbvio que não havia tomado os remédios, continuou de olhos fechados
pensando ser apenas uma enfermeira vindo checar como ela estava.
A porta se abriu e ela pode ouvir batidas de saltos no chão atravessando a porta que logo
se fechou em uma batida leve. Ela, ainda de olhos fechados, ouviu uma voz conhecida
falando em um sussurro.
- Eu nunca pensei que você fizesse parte disso, mas eu...- suspirou prolongadamente -
Adeus Sarah.
Notando que não era uma enfermeira, Sarah, abriu os olhos dando de cara com Paul em
sua frente. Seus olhos marrons a encararam sem surpresa e ela os encarou de volta. Paul
continuou a se aproximar de sua cama. O rosto de Paul carregava um semblante triste
que fez Sarah sentir um pouco de pena, mas seu vestido rasgado com manchas
vermelhas e sua pele suja de barro lhe enviou outra mensagem.
- Que merda é essa Paul? - falou Sarah, se sentando na cama de sobressalto.
Paul se assustou ao vê-la se levantando e, então, recuou para trás com os olhos
arregalados.
- Merda - ele gaguejava - você nã-o...
Paul se virou rapidamente, abriu a porta e saiu correndo pelo corredor. Sarah
rapidamente se levantou e foi atrás dele, porém, ao chegar no corredor, já não o avistou
e nem ouviu seus passos.
Ela estava muito assustada com tudo aquilo, seu coração batia acelerado e ela sequer
conseguia respirar propriamente. "O que ele faria se eu não acordasse?" Se perguntava.
Sarah foi de volta ao quarto e abriu a janela na tentativa de respirar melhor e se acalmar.
Porém, lá embaixo ela conseguiu avistar Paul atravessando a rua e sem pensar duas
vezes desceu até a porta do Harvey's e notou que Paul não tinha trancado a porta. Sarah,
então, saiu e avistou Paul entrando na floresta do outro lado da rua e o seguiu.
Paul andava rapidamente pelo matagal e Sarah tentava acompanha-lo a todo custo sem
que ele notasse sua presença. Eles andou atrás dele até ver um carro parado com a luz
acesa na estrada e com medo de ser vista se abaixou. Entretanto Paul continuou andando
em direção ao carro e Sarah, muito curiosa, se aproximou um pouco mais e pôde notar
Vlad dentro de carro.
Sarah não entendeu o que viu, mas, quando Paul entrou no carro que seguiu pela estrada
Sarah decidiu que essa era sua última noite no Harvey's. Portanto, ela voltou ao hospital,
trancou as portas e ficou acordada esperando a luz do sol apontar no céu.
Na manhã seguinte, Sarah, soube do sumiço de Paul e igual todo mundo pensou ser
apenas uma de suas brincadeiras. No mesmo dia ligou para sua mãe implorando para
que ela a tirasse daquele hospital e sua mãe, ainda preocupada, se negou a retirá-la do
instituto. Então, no mesmo dia, quando as luzes se apagaram ela fugiu por uma janela
mal trancada. No segundo dia do desaparecimento as pessoas estavam mais preocupadas
e Chris, o pai de Paul, veio a cidade e contatou a polícia. Sarah foi interrogada naquele
dia e seguindo o que sua mãe lhe mandou fazer, falou que estava na capital visitando
familiares e foi rapidamente deixada de lado. Porém, mais dias se passaram e nada de
Paul. Sarah, agora cogitava que talvez algo sério havia acontecido com seu amigo.
Porém, já havia mentido para a polícia e não queria gerar mais problemas por causa de
algo que poderia ser apenas uma brincadeira de Paul.
Um mês se passou e nada de Paul. Sarah a cada dia se sentia mais culpada por não ter
contado o que viu naquela noite. Portanto, certo dia, ao invés de ir à delegacia, a querida
Sarah decidiu que deveria investigar Vlad para tentar entender o que ele fazia naquele
carro naquela noite.
Ela sabia que Paul e Vlad não se davam bem, mas nunca entendeu bem o porquê. Vlad
estagiava no Harvey's quando Janet, a mãe de Paul, estava internada no lugar. Era ele
que cuidava da papelada de Janet, portanto, estava sempre por perto. No começo, ambos
pareciam indiferentes a presença um do outro. Entretanto, após o "acidente" de Janet as
coisas começaram a ficar estranhas. Paul pareceu lidar bem com a morte da mãe no
começo. Na primeira semana, ele organizou seu velório e compareceu ao evento sem
derramar uma lágrima, mas o luto sempre vem não é mesmo? Já na terceira semana,
Paul pareceu, finalmente, sentir o peso da morte.
A cada dia que passava as crises de Paul se tornavam piores e sua raiva aumentava
exponencialmente. Neste período, como seu pai não morava na cidade, Paul teve que
arrumar por conta própria todos os papéis da mãe recém falecida e como isso era
organizado por Vlad, o coitado virou um saco de pancadas.
Sabendo do background dos dois, Sarah tinha noção de que Vlad provavelmente tinha
motivos para não gostar de seu amigo. Na verdade, muita gente tinha motivos, afinal,
após a morte de sua mãe e o surto em sua festa de aniversário, Paul se tornou o capeta e
transformou a vida de muita gente em um inferno. Mas, voltando a Vlad, Sarah
descobriu seu endereço e número pesquisando em redes sociais, porém, nunca teve
coragem de contata-lo. A única coisa que teve coragem de fazer foi ir ao Harvey's e
perguntar se ele ainda trabalhava ali e receber como resposta que ele havia largado o
emprego e saído em viagem. Não soube de mais nada até o encontro na cafeteria.
...
Vocês já tem informação o suficiente para hoje. Meus olhos estão cansados de olhar
para a tela e minha mente cansada de relembrar essa história. Tenho que ir, mas antes
devo assumir, sinto pena de Sarah.

9–

Sarah contou aos seus amigos tudo o que ocorreu em seu quarto no Harvey's naquela
noite. Ela, agora, se sentia lenta e cansada, nunca pensou que contaria aquilo para
alguém e muito menos pensou que Paul voltaria e faria o mesmo com Dave.
- Isso não pode continuar assim. - Dave parecia decidido
- Temos que inverter o jogo. - Concordou Chloe.
Sarah levantou a cabeça e os fitou com os olhos cheio de lágrimas.
- Temos que matar ele, não é?
Dave e Chloe concordaram com a cabeça, mas ainda com um ar de relutância. Chloe
pareceu ficar perdida em seus pensamentos por alguns segundos.
- E o Ian? Se vamos fazer algo é...
- Ele já está envolvido em muitos problemas, Chloe. - Disse Dave - E ele não aceitaria
fazer nada assim.
Sarah jogou seus cabelos para o lado e olhou a porta do banheiro.
- O que a gente vai fazer com nossos celulares?
Dave havia colocado todos os aparelhos no banheiro ao lado da torneira e a ligou junto
com o chuveiro para que o ruído não permitisse que sua conversa fosse gravada.
- Eu posso arranjar uns que não podem ser hackeados com a Sally - falou Chloe -
lembram dela do ensino médio?
- Claro - respondeu Sarah.
- Vocês tem dinheiro para novos? - Chloe indagou.
- Sim - Concordou Sarah - ainda recebo o dinheiro de minha avó.
- Também, pode comprar.
Todos pararam de falar por um momento para observar um corvo que pousou na janela
como se receassem que ele tivesse sido enviado por Paul.
- A gente precisa de um lugar seguro para conversar... - Chloe falou ainda parecendo
perdida em pensamentos - E decidir o que vamos...
- Podemos ir na cabana da minha mãe. - Sarah encarou Chloe.
- Ah sei, a que fizemos uma festa no primeiro ano. - disse Dave.
- Essa mesma, nem eu e nem minha mãe vamos lá há quase um ano. - Sarah tinha um
semblante nostálgico - É até bom ir dar uma olhada.
- Combinado - Concordou Dave.
- Ok - Chloe arrumou a bolsa em seu ombro - Mas quando?
- Vamos acabar com isso rápido - disse Sarah - Vamos hoje a noite.
- Dave não pode sair daqui.
- Na verdade, já fizeram meus exames e parece que está tudo bem comigo - Dave olhou
para o braço enfaixado - mais ou menos. Mas eu provavelmente sou liberado hoje à
tarde.
- Bem, eu vou ver a Sally é - Chloe olhou para seu relógio enquanto estendia o "é" -
Agora. Querem ir junto?
- Bem, obviamente, não dá para eu ir - disse Dave.
- Eu posso ir - Sarah pegou sua bolsa em cima do sofá - Mas o que vamos fazer com
aqueles celulares?
- Vou jogar no lixo. - Dave olhou para a porta do banheiro.
...
Sarah e Chloe saíram do hospital e se depararam com um céu nublado e uma forte
ventania. Enquanto andavam em direção ao carro de Chloe sentiram gotas de água cair
sobre suas peles, portanto, correram em direção ao carro. Ainda no estacionamento,
Chloe explicou para Sarah que a loja de Sally ficava na capital, a uns 45 minutos dali, e
a perguntou se, mesmo com a demora, toparia ir. Ela aceitou, então, seguiram o
caminho.
A estrada estava tranquila e quanto mais se afastavam de Peaks melhor era o clima. No
caminho, as duas conversaram um pouco sobre o que fizeram nestes três meses em que
não se encontraram e depois ouviram algumas músicas escolhidas por Sarah até
chegarem em seus destino. Já na capital, após dirigir por algumas ruas movimentadas,
Chloe estacionou em frente a uma loja. Era um estabelecimento pequeno, entretanto
chamava a atenção de todos que passavam devido aos eletrônicos de última geração
exibidos na vitrine ao lado de flores e outros tipos de plantas. Uma mistura interessante.
- Isso é cara dela - disse Sarah, descendo do carro e olhando para a loja.
Ao passarem pela porta um pequeno sino badalou anunciando sua chegada. Dentro da
loja era gelado, devido ao ar condicionado, e ao adentra-la se notava um forte cheiro de
incenso de morango e cola quente. Lá dentro se encontrava todo tipo de tecnologia e
uma grande quantidade de flores. Por mais que parecesse pequeno por fora, o local era
fundo e compensava a falta de largura com comprimento.
- Olá, Chloe!
Caminhava lentamente em direção às duas uma mulher magra que tinha os cabelos
roxos presos em um coque e usava uma saia preta que descia até a canela junto com
uma baby t-shirt de alguma banda dos anos 90.
- Oi, Sally! - cumprimentou Chloe, balançando sua mão.
- Sarah? Quase não te reconheço com o cabelo grande. Está linda.
Sarah sorriu timidamente para a mulher.
- Obrigada, você também está ótima e tem uma bela loja.
- O que traz vocês aqui? - perguntou a mulher, curiosa.
- A gente precisa de celulares novos, - falou Chloe - na verdade três. Ou quatro?
Chloe olhou para Sarah, que também não parecia saber a resposta, portanto, continuou:
- Bem, precisamos deles alterados, entende? Como você costumava fazer.
Sally olhou para cima e para o lado apenas com os olhos como se procurasse a resposta
em seu cérebro.
- Vocês querem que eu modifique eles como? Exatamente?
- De um jeito que seja impossível hackear, grampear e coisas do tipo. - Chloe levou a
mão à nuca.
Por uma fração de segundo Sally olhou para as duas com curiosidade, mas continuou:
- Sabem que isso não é necessariamente legal, não é?
- É que precisamos muito disso. - falou Chloe.
- Que crime cometeram para estarem tão precavidas? - Indagou Sally, com um sorriso
malicioso.
Ambas se entre olharam.
- Estou brincando. - disse Sally, dando leves risadas - Vou arrumar para vocês, mas vai
demorar um tempinho. Se importam de esperar?
- Não - Ambas falaram sem muito entusiasmo.
Chloe e Sarah se sentaram em duas cadeiras que ficavam ao lado da bancada onde Sally
modificava os celulares.
- Três celulares? - perguntou Sally.
- Sim...? - falou Chloe incerta, olhando para Sarah na busca de alguma resposta da
amiga.
Quatro - afirmou Sarah.
Sally concordou com a cabeça e continuou a instalar coisas em um dos celulares.
Chloe estava impaciente e por isso movimentava uma perna sem parar e se levantava
algumas vezes para observar a rua.
- Vou comprar café para nós duas, ok - avisou Chloe enquanto saía pela porta.
- Ok, mas sem açucar.
Sarah continuou sentada na cadeira observando Sally digitar no computador e depois
nos celulares. Sally estava olhando, porém não estava prestando atenção, pois estava
perdida em pensamentos.
- Você entende sobre isso?
Sarah acordou do transe ao ouvir a voz de Sally.
- O que?
- Você entende de programação?
- Não - Sarah deu um sorriso de canto de rosto - tentei aprender, porém nunca fui boa.
- É tudo sobre treino.
As duas ficaram em silêncio por um tempo, com a loja vazia só tinham para escutar o
som dos carros passando na rua e a música que tocava bem baixo no estabelecimento.
- O que tem acontecido em Peaks desde que saí? - Indagou Sally - não volto lá tem um
tempo.
- Além de Paul, - Sarah deu de ombros - nada.
- Coitado - Sally balançou a cabeça negativamente - Queria saber o que aconteceu com
ele.
Sarah ficou intrigada com aquela frase. Será que ela não sabia?
- Ele voltou, não está sabendo?
Por uma fração de segundo Sally paralisou, então, parou de digitar e perguntou em uma
voz baixa e com um ar de preocupação:
- Como assim?
- Ele apareceu na cidade esses dias, disse que foi sequestrado, mas conseguiu fugir.
Em um pequeno instante o silêncio reinou no local.
- Meu Deus - sussurrou Sally para si mesma, quase esquecendo a presença de Sarah.
Neste momento, os sinos acima da porta badalaram e por ela passou Chloe com dois
copos de café expresso.
- Bem. - Sally olhou para os celulares na mesa - Eu já terminei, só vou colocá-los na
caixa e marcar no estoque. Um segundo.
A mulher entrou com os celulares para o fundo da loja e após poucos minutos voltou
com quatro caixas de celulares lacradas.
- Aqui - disse entregando os celulares. - Obrigado pela preferência. Foi bom ver vocês
duas.
- Obrigado, Sally. - Falaram ambas.
Chloe pagou com seu cartão e ambas saíram da loja, entraram no carro de Chloe e
decidiram terminar de beber seus cafés antes de irem embora.
- Como você encontrou esse lugar? - perguntou Sarah, entre goles em seu café - Achei
que nunca mais veria a Sally.
- Foi totalmente aleatório, eu precisava concertar meu celular, vi essa loja e entrei.
- A Sally é legal, não sei porque fugiu do nada, sem aviso.
- Ninguém quer ficar preso à Peaks, Sarah. - Chloe deu um gole em seu café - Ela só foi
corajosa o suficiente para assumir... e sumir.
Chloe terminou seu café, pegou a chave em sua bolsa, ligou o carro e, então, ambas
seguiram de volta para Peaks.
...
Ao chegarem na cidade, o sol já estava indo embora e a noite dando as caras. Chloe já
estava cansada de dirigir quando chegou a casa de Sarah.
- Vou até minha casa colocar meus dados no celular novo e então volto para irmos até a
cabana. - falou Chloe pela janela - Agora você dirige.
Sarah, portanto, foi em direção à sua casa, destrancou a porta, retirou seus sapatos e
entrou. Por um tempo, Sarah se sentou no sofá da sala e começou a colocar seus dados
no celular novo. Porém, como notou que uns dos processos iria demorar, Sarah, decidiu
ir tomar um banho enquanto esperava o celular concluir o processo e, também, esperava
por seus amigos.
Enquanto subia as escadas até o banheiro, Sarah, ouviu um barulho na cozinha. Neste
momento, seu corpo estremeceu, pois estava sozinha em casa. Ela ficou paralisada por
um tempo tentando entender o que causou o barulho. Porém, antes que pudesse pensar
claramente, ouviu um estrondoso barulho de metais caindo no chão. Ao ouvir isso,
tendo a certeza de que seria perseguida, Sarah, correu desesperadamente para seu
quarto, trancou a porta atrás de si, se escorou nela e esperou o baque. Porém, por mais
que ela esperasse que alguém tentasse abrir a porta, nenhum barulho foi ouvido após ela
entrar no quarto.
Percebendo o silêncio, Sarah foi em direção à sua bolsa, mas lembrou que estava sem
seu celular o que a fez imediatamente sentir um frio na espinha, pois percebeu que
estava incomunicável. Ela, portanto, se encolheu em um canto do quarto e ficou ali por
alguns segundos tentando se convencer de que os barulhos que ouviu foram causados
pelo vento, mesmo que sua casa estivesse completamente fechada.
Um curto período de tempo se passou e o único barulho que se ouvia naquela casa era
seu coração pulsando fortemente e sua respiração ofegante. Sarah sentia que desmaiaria
se continuasse daquele jeito, portanto, se levantou e abriu a janela para respirar.
Entretanto, ao abri-la, viu em seu quintal uma figura amedontradora. Era uma pessoa
que usava uma máscara de baile e um casaco roxo que cobria todo seu corpo até sua
cabeça com um capuz. Ao notar que Sarah a observava da janela a pessoa mascarada
correu em direção à porta dos fundos que dava na cozinha e entrou na casa.
Neste momento, Sarah soube que teria que lutar, portanto, rapidamente, abriu a porta do
quarto e correu para a porta no fundo do corredor. Enquanto corria, conseguia ouvir os
passos fortes da pessoa mascarada subindo a escada. Ao conseguir entrar no quarto,
Sarah, imediatamente, bateu a porta atrás de si e a trancou. No momento que fechou a
porta sentiu a mascarada dando um forte soco na porta, mas não conseguindo abri-la.
Sarah, então, tentou andar até uma cômoda do outro lado do quarto com a intenção de
arrastar ela e utiliza-la de barreira, porém notou que parte do vestido branco que estava
usando havia ficado preso fora da porta, logo, ao notar que estava imobilizada, Sarah
puxou o vestido com toda força e caiu para trás quando ele, por ser feito de uma renda
fina, rasgou com facilidade. Sem tempo para sentir a dor da queda, Sarah se levantou
rapidamente, foi até a cômoda e a empurrou até a porta para impedir a passagem de
quem a perseguia. A mascarada deu novamente um empurrão na porta, mas não
conseguiu movê-la, deu outro empurrão e, então, não empurrou novamente.
Sarah olhou para a janela e para a gaveta ao lado da cama de sua mãe. Escolheu a
última. Sabia que sua mãe, paranóica como era, guardava uma arma neste quarto só
tinha que acha-la. Olhou a primeira gaveta, a segunda e nada, mas na terceira encontrou
um pequeno revólver. Assim, Sarah o pegou, se abaixou ao lado da cama e vigiou a
porta do quarto e a janela por alguns minutos. E, nesses minuto, não aconteceu nada.
Nenhum barulho.
Ao notar o silêncio, Sarah foi se arrastando até a cômoda que usou para bloquear a porta
e abriu as gavetas até ver um pequeno celular que era usado por sua mãe. Ela tentou
liga-lo, mas estava sem bateria, portanto, ela foi se arrastando de volta para o lado da
cama e com muita dificuldade, devido ao tremor nas mãos e sua recusa a largar a arma,
o conectou no carregador e o ligou. Procurou pelo número de um de seus amigos e o
primeiro a aparecer foi o de Ian, então, ligou para ele e rezou para que atendesse.
- Sarah?
- Eu preciso de ajuda, tem alguém na minha casa, Ian - Sarah murmurou entre lágrimas.
- Meu Deus, eu estou indo.
- Não, não vem. Liga para a polícia.
Neste momento, Sarah ouviu passos pesados e corridos subindo as escadas rapidamente.
- Ela está vindo - sussurrou, largando o celular e pegando a arma com as duas mãos.
- Sarah! - batidas na porta.
Ela reconheceu a voz, era Dave.
- É o Dave, Graças a Deus - falou aliviada.
Sarah se levantou um pouco tonta, abriu a porta e caiu nos braços de Dave e de Chloe,
que estava junto dele.
- Tinha alguém aqui!!
- Meu braço! - gritou Dave, afastando Sarah do braço enfaixado.
- Calma, Sarah. - falou Chloe, tentando tranquilizar a amiga.
Chloe e Dave olharam para o quarto e notaram a grande bagunça e a arma na mão de
Sarah.
- O que aconteceu? - Dave a encarou.
- Alguém entrou aqui - Sarah sentou na cama tremendo. - Ele... Ela estava usando uma
máscara e veio correndo em minha direção e...
- Merda - disse Chloe olhando para o corredor da casa - Você não sabe quem foi?
- Não, é... - Sarah parou por um segundo perdida em pensamentos - Droga, eu pedi o
Ian para ligar para a polícia.
- Isso é bom - afirmou Dave concordando com a cabeça.
Sarah começou a procurar pelo celular da mãe debaixo da cama.
- Não, eu acho que isso tem haver com Paul, não deveríamos involver nem o Ian e nem
a polícia nisso.
Ela pegou o celular que estava jogado no chão, o conectou no carregador e digitou um
número. O celular começou a chamar e após três bips foi possível ouvir a voz
desesperada de Ian:
- Oi. Está tudo bem por aí? O que aconteceu?
- Não precisa mais ligar para a polícia, ok? Foi só um mau entendido.
- Que porra é essa, Sarah! O que está acontecendo aí?
- Era só Paul e Chloe.
- Paul? - Ian perguntou perplexo.
- Não, - Sarah percebeu o erro - é Chloe e Dave. Está tudo bem, não precisa chamar
ninguém.
- Mas eu já liguei para a polícia!
- Diz que foi trote, ou algo do tipo.
Sarah, então, desligou o celular na cara do amigo.
Dave que estava andando de um lado para outro no quarto, olhou para a arma jogada em
cima da cama.
- Você tem uma arma aqui?
- Minha mãe. - disse Sarah, encarando o chão com seu rosto tampado pelos cabelos
embaraçados.
- Droga, vamos embora daqui. - falou Chloe - Ainda vamos à cabana?
- Sim - disse Sarah, enquanto guardava a arma na gaveta.
Os três, portanto, atravessaram a porta do quarto e começaram a descer as escada.
Porém, Sarah, com a desculpa de que iria pegar sua bolsa, voltou ao quarto da mãe,
pegou a arma na gaveta da cômoda e a colocou em sua bolsa.
Descendo até o andar de baixo ela nota que Chloe e Dave estão conversando com
alguém. Chegando na base da escada ela percebe quem está ali. É Ian.
- O que aconteceu? - ele pergunta desviando de Dave e indo rumo à Sarah.
- Nada demais, é...
- Nada demais? - Ian aponta para o vestido rasgado de Sarah e para seus cabelos
bagunçados.
- Droga, Ian! Preciso sair!
- Onde você vai? - Ian olhou para Chloe e Dave - Onde vocês vão?
- A gente só... - Chloe foi interrompida, pois Dave avançou em Ian pegando o celular do
bolso de sua calça.
- O que é isso?! - Gritou Ian, assistindo o amigo pegar seu celular e sair andando.
Dave começou a subir as escadas com o celular em mãos e Ian o acompanhou pedindo
ele de volta, mas Dave não lhe deu atenção. Ele entrou no banheiro, destampou a
privada e jogou o celular de Ian dentro dela com toda sua força.
- Porra, filho da puta!
- Vem logo! - gritou Dave, descendo as escadas - Te explico no carro.
Lá embaixo, Sarah revirou os olhos e tampou o rosto.
- Ele não vai com a gente!
- E quem vai dirigir? - Indagou Dave - Chloe já dirigiu o dia todo, eu não sei dirigir e
você acabou de ser atacada.
Ian ficou surpreso com a palavra "atacada".
- O que?
- Ugh - Chloe resmungou revirando os olhos - Só pega a chave e dirige.
Chloe arremessou a chave de seu carro até Ian, que a pegou no ar. Antes de saírem,
Sarah quis se certificar de que a porta da cozinha estava trancada e, quando foi junto aos
amigos verifica-la, ela viu todas as facas da cozinha jogadas no chão e em uma armário
de madeira estava riscado a letra P.
Ao olhar aquilo Sarah se desesperou e pediu para ser retirada da casa o mais rápido
possível. Seus amigos, então, fecharam a porta da cozinha e foram em direção ao carro
de Chloe.
Já dentro do carro, Ian perguntou com raiva na voz:
- Para onde vamos?
- A cabana dos pais de Sarah - disse Chloe do banco de trás - Ainda sabe o caminho?
- Porquê? - Ian bateu no volante - E porque quebraram meu celular?
- Podemos estar sendo grampeados, Ian. - Falou Dave, como se fosse uma informação
óbvia.
- O que? - Ian pareceu confuso.
Dave contou tudo para seu amigo sobre as mensagens, seu acidente e a visita no
hospital. Ele tentou não contar da visita de Paul à Sarah no Harvey's caso ela não se
sentisse confortável, mas ela mesma contou e explicou mais detalhadamente sobre a
invasão em sua casa.
- Vocês não acham que pode ter escutas nesse carro? - disse Ian - Já que quebraram meu
celular por causa disso.
Sarah e Dave arregalaram os olhos.
- Não - disse Chloe - Esse é o carro do meu pai, está a meses na garagem. Ele só
conseguiria grampea-lo se entrasse dentro da minha casa.
Sarah deu uma risada silenciosa ainda encolhida no canto.
- Tem câmeras, Sarah - afirmou Chloe - ele apareceria.
Ian acariciou o volante e depois passou a mão em seu cabelos.
- E o que planejam fazer?
Todos ficaram em silêncio por alguns segundos.
- Bem, - falou Dave - temos que combate-lo não dá para viver assim.
- Combater como Dave? - o tom de voz de Ian estava mais alto e impaciente.
- Matando esse filho da puta. - falou Chloe em um tom de voz baixo.
- Deus. - Ian levou as mãos ao rosto.
- Não queríamos te envolver nisso - disse Sarah, encolhida no banco de trás segurando o
choro - Você pode ir.
- Não - Ian tirou as mãos do rosto e suspirou - Eu também sou vítima disso e quero
saber qual o plano de vocês, mas não prometo participar disso.
Ian, então, ligou o carro e começou a dirigir pela rua escura de Sarah onde à esquerda
haviam casas e à direita um matagal. Todos os quatro estavam mais calmos por estarem
juntos e se sentiam mais seguros agora por estarem dentro do carro. Porém, antes
mesmo de chegar ao fim da rua, uma pedra voou com força em direção ao carro de
Chloe e bateu no vidro do passageiro, onde Dave estava sentado.
- Que merda! - gritou Chloe - Para o carro!
Chloe, cheia de raiva, abriu a porta do carro e foi olhar o estrago causado pela pedrada
enquanto os amigos se mantinham dentro do carro.
- Não quebrou muito, Chloe - Disse Dave, encarando o vidro arranhado de dentro do
carro.
Enquanto analisava o vidro, Dave notou alguma coisa se movendo no matagal, e, ao
forçar os olhos, percebeu que o que se movia era uma pessoa mascarada a qual parecia o
encarar de volta. Ao notar isso, ele imediatamente gritou:
- Chloe entra no carro!
- Meus deus! - Ian girou a chave, ligando o carro.
- É ela! É ela! - gritava Sarah, enquanto tentava abrir sua bolsa.
Chloe entrou no carro rapidamente e Ian acelerou com tudo.
Enquanto seguiam a rua, olharam para trás e conseguiram ver a pessoa mascarada
acenando para eles.
10 – Possível capitulo!! “Já assistiu Evil Dead?”

A cabana dos pais de Sarah era feita de madeira e tinha um formato triangular. Ela
ficava localizada no lado sul da floresta de Peaks, um local proximo à cidade, mas que
era evitado devido as ruas estreitas e perigosas ao lado de penhascos.
Os quatro chegaram na cabana, após uns dez minutos de viagem e, então, desceram do
carro e adentraram o local. Ao olhar o interior da cabana, puderam notar que a madeira
ainda parecia nova e a energia funcionava perfeitamente, ou seja, o local ainda parecia
aconchegante, menos por alguns detalhes, é claro.
- Estranho, o sofá está fora do lugar. - Disse Sarah, enquanto abria a cortina de uma das
janelas para se certificar de que stavam fechadas.
- Não, isso é estranho. - Ian estava apontando para uma mancha vermelha no chão.
- O que é isso? - perguntou Dave - deve ser tinta, não é?
Sarah ficou sem palavras por alguns segundos.
- Não tínhamos deixado o local desse jeito.
- Gente - disse Chloe em um tom jocoso - é uma cabana de férias é óbvio que alguém
entrou aqui para fazer alguma festa ou algo do tipo e isso deve ser vinho ou ponche, sei
lá.
- Espero que sim - Sarah foi em direção a outra janela para certificar de que estava
trancada, mas ao abri-la notou o vidro quebrado - Meu deus! Alguém esteve aqui.
Os outros três foram olhar a janela. Ela estava quase totalmente quebrada só havia um
pedaço de vidro ainda garrado ao topo.
- Uma pedra não faz isso - disse Dave, passando a mão no vidro.
- Não dá para nós preocuparmos com isso agora - disse Ian - vamos fazer o que viemos
fazer.
- Vamos para o meu quarto. - Sarah foi em direção a porta no fim do corredor.
Todos checaram as janelas do quarto e viram que estavam trancadas, portanto,
começaram a falar sussurrando.
- Porque não chamamos a polícia? - perguntou Ian.
- Eu tentei e você viu o que aconteceu - Dave apontou para o braço enfaixado.
- Ele não tem mais nossos celulares, Dave. - disse Ian - podemos usar o fator surpresa.
Chloe não parecia concordar.
- E se ele resolver contar todos nossos podres?
- Ele não tem provas igual não temos sobre Janet. - falou Ian
- Eu e Chloe derrubamos ele da escada na noite em que ele desapareceu - Dave passou a
mão na nuca - Nós o deixamos lá, pois achamos que ele havia morrido, afinal tinha
sangue e...
- Vocês o que?! - exclamou Ian.
- Mas ele está vivo, Dave. - Sarah afirmou nervosa - Vocês não o mataram, mas ele
matou a Janet.
Todos ficaram em silêncio por alguns segundos ouvindo apenas os assustadores sons da
natureza noturna.
- Tem coisas sobre eu e Dave que é preferível manter em segredo - falou Chloe olhando
para Dave - Não é nada horrível, mas como as pessoas reagiram me deixa apreensiva.
- Se for ele mesmo fazendo isso - Ian balançou a cabeça - ele já falou o que tinha contra
mim e deu errado.
- Podemos tentar contar, talvez? - Sarah encarava o chão.
- Não, isso nunca vai acabar desse jeito - Falou Chloe - Ele não falou que viu o rosto do
sequestrador dele e se ele quiser colocar a culpa em você - apontou para Sarah. - Você
mentiu no para a polícia e ele sabe disso, nós dois também mentimos e ainda por cima
quase matamos ele. O único que pode se safar dessa é Ian e, bem, não acho que ele
esteja no melhor momento para tentar convencer alguém de sua bondade.
- Droga, então o que querem fazer? - perguntou Ian - Realmente matar ele?
- Pode ser - sussurrou Sarah, retirando o revólver de sua bolsa - Eu tenho uma arma e o
país de vocês provavelmente também tem.
- Deus, porque você trouxe essa arma? - perguntou Chloe.
- Ele acabou de entrar na minha casa e tentar me matar, Chloe.
Dave parecia pensativo.
- Falem baixo - sinalizou com as mãos para abaixarem o volume das vozes - deveríamos
chama-lo aqui?
- Como assim? - Ian revirou os olhos, já cansado.
- Mandamos mensagem para Paul e falamos que queremos conversar em um lugar
privado, trazemos ele para cá e fazemos o que tem que ser feito.
- Meu deus - Ian levou às mãos a cabeça.
Chloe e Sarah pareciam assustadas. Ian estava pensativo e Dave com medo. O vento
fora da cabana soprava com força fazendo os galhos das árvores baterem nas janelas.
- Pelo amor de Deus alguém liga a Tv - disse Chloe - Não aguento mais esse barulho.
Sarah ligou a TV que ficou fazendo um barulho de fundo para os quatro, que fizeram
silêncio por um tempo enquanto mexiam em seus celulares. Menos Sarah que havia
deixado o celular em cima da mesa antes da pessoa mascarada entra em sua casa e não o
procurou enquanto saía.
- Se meu celular estiver ainda na mesa mesmo assim não devo usá-lo, não é? - falou
Sarah.
- Aquela pessoa pode ter instalado algo nele, Sarah - disse Chloe, olhando para a TV em
que passava um homem de cabelos grisalhos e terno falando sobre o clima.
- Eu não tenho tanto dinheiro assim para compra um celular novo a cada dia - Sarah
revirou os olhos e expirou pelo nariz.
- É só pedir a Sally para analisar se há algo de errado nele.
- Hmm - Sarah passou a mão em seus cabelos - Preciso tomar um banho.
- Também preciso - disse Ian, se sentindo sujo após ter aquela conversa.
- Espero que não juntos. - disse Sarah se levantando, abrindo seu guarda roupa e
jogando uma toalha para Ian.
- Rude - disse Ian, pegando a toalha - pode ir na frente.
Sarah, portanto, pegou as únicas peças que havia deixado no guarda roupas na sua
última vinda à cabana, uma calça skinny de cintura baixa e uma camisa azul de mangas
longas. Sarah entrou no banheiro e se trancou. Ela então abriu o chuveiro e torceu para
que saísse água quente e saiu. Durante o banho, Sarah, refletiu sobre sua conversa com
os amigos e criou vários cenários onde o plano dava errado. Ela também se lembrou
daquela pessoa mascarada "Quem poderia ser?" Ela se questionava. Suas lágrimas de
medo e ansiedade se misturaram a água que caia em seu rosto, seu cabelo deslizou pela
suas costas e ela conseguia sentir todo seu peso. Era como se carregasse o mundo nas
costas.
Sarah saiu do banheiro após um tempo com uma toalha na cabeça e outra no corpo.Ao
entrar no quarto notou que seus três amigos estavam sentados em sua cama jogando um
jogo de tabuleiro.
- Também quero jogar - disse apenas com a cabeça para fora do biombo enquanto
colocava suas roupas.
- Pode entrar no meu lugar. - Falou Ian, levantando em um pulo e indo em direção ao
banheiro.
Ian entrou no banheiro e, após trancar a porta atrás de si, se olhou no espelho. A pessoa
naquele reflexo era ele e ele se reconhecia naquela imagem, mas não queria que fosse
assim. Ao se olhar percebia que ele realmente era o assassino do qual falavam na TV.
Seu corpo tremia levemente, sempre acontecia quando ele estava nervoso. Ele girou a
torneira para ligar o chuveiro e então começou a se despir. Já nu, entrou debaixo da
água quente, entretanto quando começou a sentir o relaxamento proporcionado a energia
caiu e ele conseguiu ouvir um barulho estrondoso fora da cabana.
- O que aconteceu? - Disse saindo correndo do banheiro em meio a escuridão.
- Merda - gritava Sarah.
- Acho que acabou a energia. - disse Chloe.
- Alguém liga a lanterna do celular, pelo amor de Deus! - Gritou Sarah
Dave e Chloe ligaram as lanternas dos celulares, mas ao iluminar o local notaram algo
inusitado.
- Meu Deus, Ian! - gritou Dave.
- O que foi?
Os três apontaram para baixo e então Ian percebeu que ainda estava sem roupas, mas
não se incomodou muito.
- Ai, não hajam como se isso fosse chocante, você até gostava Dave. - falou rindo.
- Isso não... - Dave ficou vermelho - Foco galera.
Ian foi para dentro do banheiro e colocou sua cueca slip que estava jogada no chão e
pegou seu celular.
- Será que o gerador quebrou? - disse Sarah.
- Droga, vamos sair daqui! - gritou Dave - Eu estou com medo disso.
De repente se ouve um vidro quebrando, todos olham para ver o que o causou e notam
que foi um galho que havia quebrado uma das janelas devido ao balanço causado pelo
vento.
- Eu não fico aqui- disse Ian - pegando o resto de suas roupas no chão e indo em direção
a porta.
Os três seguiram Ian, passaram correndo pela ventania que estava lá fora e entraram
dentro do carro. A estrada, nao muito larga, também não era bem iluminada e a mata
balançava as árvores de um jeito que pareciam poder cair a qualquer momento sobre o
carro.
Depois de um tempo dirigindo chegaram em uma estrada mais calma onde havia carros
passando e quase não ventava. Ian parou o carro na estrada para esse recuperar do
choque.
- Meu Deus, isso foi insano. - Falou Ian.
- Insano é você ainda estar só de cueca. - Dave tinha um sorriso irônico no rosto
- Droga - Ian pegou suas roupas e começou a se vestir.
- Onde vocês vão dormir - perguntou Dave.
- Em casa? - disse Chloe.
Ian não prestou atenção, pois passava a camisa pela cabeça e Sarah não respondeu.
- Durmam na minha casa, eu não quero ficar sozinho e nem vocês.
11 – Para ser reescrito “Fragmentos de um noite”

Em uma noite escura e densa, no meio da vasta floresta da pequena cidade de Peaks,
estava Paul, ele corria entre as árvores usando um vestido branco todo sujo de terra e
segurando dois saltos quebrados nas mãos, seus longos cabelos se emaranhavam em
galhos e folhas, mas ele não parava de correr. A mata ficava mais densa conforme ele
corria, mas ele continuava sem pestenejar, rezando para que a mata se torna-se um
labirinto para quem o seguia, tal qual se tornou para ele.
Depois de muito correr Paul avistou a cabana dos pais de Sarah e foi em direção à sua
porta azulada. Chegando lá, ao tentar abri-la notou que estava trancada, então levantou
uma pedra que ficava na base da pequena escada que levava a varanda e pegou um
molho de chaves que escondiam debaixo dela, com as mãos, magras e trêmulas,
destrancou a porta da cabana e a adentrou.
Após entrar trancou todas as portas, fechou todas as cortinas, virou o sofá vermelho, que
se encontrava no centro da sala, em direção a porta e se sentou olhando vidrado para a
entrada .
Paul se sentia ansioso enquanto esperava no sofá, hoje seria o dia em que ele,
finalmente, teria respostas.
...
Minutos depois, ao ouvir três batidas na porta da cabana, Paul sentiu seu corpo inteiro
estremecer e o medo o dominar, entretanto, não hesitou em atender, levantou-se do sofá,
caminhou lentamente em direção a janela do lado da porta, puxou sua cortina o
suficiente para conseguir ver quem batia a porta e pela pequena fresta notou que se
tratava de S., portanto abriu a porta e após ela adentrar em pessoas largos a cabana, Paul
trancou a novamente.
S., ao entrar, encarou a sujeira de Paul com um semblante de preocupação, mas preferiu
não comentar nada, apenas se sentou no sofá e começou a abrir sua bolsa, à medida em
que retirava um notebook de dentro dela, comentou com Paul:
- Acho que achei algo muito importante.
- Me mostra agora - os olhos de Paul brilharam com a fala de S.
- Primeiro você tem que me contar de quem é esse notebook - disse S. franzindo o
cenho - não quero ir parar na prisão.
Enquanto S. falava isso, Paul notava algo se mexendo atrás do sofá e começando a se
levantar, era uma pessoa de cabelos loiros que usava um sobretudo roxo e uma máscara
de boneca, a figura, já de pé, encarou Paul.
- Corre - gritou Paul, tentando achar a chave certa para abrir a porta.
S. se virou e ao ver a figura atrás de si, levantou-se em um salto e correu para a porta, a
mascarada pulou o sofá e foi correndo rumo aos dois, alcançou ambos e os puxou pelos
braços arremessando Paul no chão e trazendo S. para perto de si à enforcando.
Paul, ao ver a cena, procurou o notebook com os olhos e o avistou no chão ao lado do
sofá. Aproveitando a distração da mascarada, ele se levantou e correu em direção ao
notebook, mas ela, muito atenta, notou sua tentativa de pegar o aparelho, soltou S. e foi
em direção a Paul até alcançar seus braços e, com um movimento brusco, puxou o
notebook de suas mãos esqueléticas e lhe deu um soco no nariz, o derrubando no chão e
lhe causando um grande sangramento.
Com Paul caído no chão a mascarada se levantou e esboçou tirar algo do bolso,
entretanto, antes de conseguir achar o que queria, S. se levantou e lhe deu um chute nas
partes íntimas, o que a fez se contorcer e cair.
Vendo a mascarada no chão, Paul se levantou, ainda tonto pelo soco e tentou pegar o
notebook caído ao lado dela, porém sentiu suas pernas serem puxadas, se desequilibrou
e caiu batendo a cabeça no chão amadeirado.
...
Caído, Paul assistiu a mascarada se levantar, puxar a perna de S., que tentava escapar
pela janela, a derrubar no chão e então pegar o notebook caído ao lado de Paul e quebra-
lo na cabeça dela, causando-lhe um desmaio.
Ao vê-la desacordada no chão, a pessoa mascarada puxou uma faca enorme do bolso de
seu sobretudo e deu três facadas no peito de S.
Paul, caído no chão e sem forças para se levantar, após presenciar essa cena, desistiu de
lutar, estava cansado, sabia que seu corpo frágil e anoréxico não era páreo contra essa
pessoa e até pensou que sua morte poderia ser uma coisa boa, finalmente teria paz.
Ainda caído, Paul observou a mascarada caminhar em sua direção e se preparou para o,
tão temido, encontro com a morte. Entretanto, quando chegou ao lado de Paul, a
mascarada o encarou e disse em uma voz robotizada:
- Sua hora ainda não chegou, vadia.
....

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