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CENTRO UNIVERSITARIO NOSSA SENHORA DO PATROCINIO - CEUNSP

ARQUITETURA E URBANISMO

CASA-ABRIGO PARA MULHERES EM SITUAÇÃO DE


VULNERABILIDADE SOCIAL EM INDAIATUBA

JÉSSICA CANEZIM ROSA


SALTO, 2021
CENTRO UNIVERSITARIO NOSSA SENHORA DO PATROCINIO - CEUNSP
ARQUITETURA E URBANISMO

JÉSSICA CANEZIM ROSA

CASA-ABRIGO PARA MULHERES EM SITUAÇÃO DE


VULNERABILIDADE SOCIAL EM INDAIATUBA

Trabalho de Conclusão de Curso,


apresentado ao Centro Universitário Nossa
Senhora do Patrocínio, sob orientação da
Professora Chayane Galvão.

SALTO
2021
Dedico esse trabalho a todas as mulheres que
persistiram na luta da nossa individualidade. Às
mulheres da minha vida, que me edificam e inspiram.
Por fim, a todas as mulheres que vivem o dilema de
ser.
AGRADECIMENTOS
Primeiramente a Deus, pela graça da
vida e pela providência de tudo que me é
necessário.
Aos professores que participaram da
nossa trajetória ao longo do curso, mas em
especial às professoras Chayane Galvão e
Mariana Baptista, pelas orientações e
dedicação aos alunos durante a elaboração
deste trabalho.
A minha família e companheiro, que
foram compreensivos diante a minha
ausência, deram todo o apoio do qual
precisei e vibram por mim a cada passo
dado.
Aos meus companheiros de trabalhos
– famoso ‘grupão’ - que deixaram o
processo letivo muito mais leve e divertido,
além do imenso compartilhamento de
conhecimentos e experiências que tivemos
ao longo desses cinco anos juntos.
Não te deixes destruir…
Ajuntando novas pedras
e construindo novos poemas.
Recria tua vida, sempre, sempre.
Remove pedras e planta roseiras e faz doces. Recomeça.
Faz de tua vida mesquinha
um poema.
E viverás no coração dos jovens
e na memória das gerações que hão de vir.
Esta fonte é para uso de todos os sedentos.
Toma a tua parte.
Vem a estas páginas
e não entraves seu uso
aos que têm sede.

Aninha e Suas Pedras- Cora Coralina


RESUMO
A trajetória da mulher na história foi marcada pela submissão e
desvalorização, que resultaram em fortes marcas de desigualdade de
gênero que ainda são presenciadas no século XXI. O machismo
estrutural está presente nos lares, nas empresas e nas ruas. Essa
condição submete milhares de mulheres brasileiras à situação de
vulnerabilidade social, que são resultado dos diversos tipos de violência
doméstica e familiar, da situação de rua e do constante risco de ser a
próxima vítima de feminicídio. Nesse contexto foi criada a Lei Maria da
Penha, que garante punição adequada ao agressor e estabelece em lei
diversos mecanismos especializados que devem estar inclusos na rede
de enfrentamento à violência, como é o caso dos locais de abrigamento
e acolhimento. A proposta de uma Casa-Abrigo para Mulheres em
Situação de Vulnerabilidade Social na cidade de Indaiatuba tem como
objetivo a manutenção da segurança e a garantia integridade física e
psicológica das vítimas, atuando no processo de resgate da autoestima
e auxiliando nos quesitos necessários para a mulher seja reinserida na
sociedade livre da situação de vulnerável a qual foi submetida.

PALAVRAS-CHAVE: Vulnerabilidade Social; Casa-Abrigo; Ressocialização;


Violência conta a mulher.
SUMÁRIO
APRESENTAÇÃO ANÁLISES PROJETUAIS

01 Introdução..........................................................................12
Objetivos gerais................................................................13
03 3.1 Abrigo para Mulheres Vítimas de violência no
México.................................................................................39
3.2 Abrigo para Vitimas de violência doméstica em
Objetivos específicos......................................................13
Israel.....................................................................................42
Justificativa.........................................................................14
3.3 Parque Educativo Raíces..........................................45
Metodologia......................................................................15
3.4 Síntese das referências analisadas........................50

02
SOBRE O TEMA
04
VISITA TÉCNICA E
2.1 A mulher na história da sociedade .......................17 DEPOIMENTOS
2.1.1 A mulher no brasil ...................................................19 4.1 A Comunidade Farol.................................................52
2.1.2 A discussão sobre gênero.....................................21 4.2 Comunidade Farol – unidade feminina...............53
2.1.3 A luta da mulher pela igualdade .......................22 4.3 Visita técnica: Comunidade Farol – unidade
2.2 A mulher em situação de vulnerabilidade feminina .............................................................................55

social....................................................................................24 4.4 Depoimento: Mulher atendida pela Comunidade


Farol......................................................................................57
2.2.1 Violência contra a mulher ....................................25
2.2.2 Mulheres em situação de rua .............................30
2.3 Lei maria da penha....................................................31
2.4 Rede de enfrentamento...........................................32
2.4.1 Ligue 180....................................................................33
2.4.2 Abrigamento e acolhimento ..............................34
ANÁLISE DO ENTORNO

05 5.1 O município de Indaiatuba......................................59


5.2 Análise do entorno do terreno...............................61
5.3 Análise do terreno.....................................................65
5.5 Legislações...................................................................70

06
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações finais .......................................................73

07
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
Referências bibliográficas...............................................75
01. APRESENTAÇÃO

11
INTRODUÇÃO
estão nas ruas (ROSA; BRÊTAS, 2015).
A luta da mulher pelo seu espaço e igualdade percorre todos os A Política Nacional em conjunto com o Pacto Nacional pelo
períodos da história, desde o nascer da antiguidade até a idade Enfrentamento à Violência contra as Mulheres e a Lei Maria da Penha
contemporânea, na qual o patriarcado e o capitalismo se uniram de institui mecanismos que previnem e coíbem a violência contra o
modo a deixar a mulher a margem da sociedade, realizando funções gênero feminino e afirmam que toda mulher goza dos direitos
secundárias e cuidando do lar enquanto o homem assumiu o posto de fundamentais inerentes à pessoa humana, para a qual deve ser
idealizador dos grandes feitos. Avançando ao século XXI, ainda é garantida oportunidades e meios para que vivam sem violência,
projetada uma longa trajetória rumo a paridade e igualdade de preservando assim sua saúde mental e física. Estabelece assim as
gênero, luta na qual o Estado se responsabilizou em ir contra o medidas primordiais para que tenham seus direitos preservados é o
machismo estrutural e em proteger a mulher através da criação de leis, acesso a rede de atendimento especializada, desde psicossocial e
delegacias especializadas e casas de acolhimento e abrigo que jurídico até o acolhimento da mulher e seus filhos. A Secretaria de
assegurem que os direitos das mulheres sejam no mínimo respeitados Políticas para as Mulheres estabelece as Diretrizes Nacionais para o
(ALAMBERT, 2004; BRASIL, 2011). abrigamento de mulheres em situação de risco e de violência e coloca
Além de desrespeitados, os direitos das mulheres são também como objetivos do serviço a garantia a integridade física e emocional,
violentados. A violência contra a mulher não está relacionada apenas o resgate da autoestima, auxilio no processo de reorganização da vida
as agressões físicas, mas também abrange a violência psicológica, das mulheres e em casos específicos, a realização de diagnósticos que
moral, patrimonial e sexual. Na maior parte dos casos o agressor é o encaminhem a mulher aos serviços necessários (como é o caso de
parceiro ou marido, o que deixa a mulher vulnerável dentro do seu usuárias de drogas, por exemplo) (BRASIL, 2011).
próprio lar e muitas vezes em frente aos seus filhos, resultando em
O abrigamento, portanto, não se refere somente
danos psicológicos e emocionais (ALMEIDA, 2020). A situação de aos serviços propriamente ditos (albergues, casas-abrigo,
casas-de-passagem, casas de acolhimento provisório de
vulnerabilidade social das mulheres também abrange aquelas que se curta duração, etc), mas também inclui outras medidas de
acolhimento que podem constituir-se em programas e
encontram em situação de rua e que, apesar de serem minoria benefícios (benefício eventual para os casos de
vulnerabilidade temporária) que assegurem o bem-estar
quando comparadas ao homem- cerca de 18%-, a trajetória destas físico, psicológico e social das mulheres em situação de
setorna ainda mais difícil pela perseguição masculina e pelas violência, assim como sua segurança pessoal e familiar
(BRASIL, 2011).
diferentes formas de violência física e sexual que vivem enquanto 12
OBJETIVO GERAL

Implantar na cidade de Indaiatuba- São Paulo uma Casa


Abrigo para Mulheres em Situação de Vulnerabilidade Social,
proporcionando as mesmas – e filhos, se for o caso- um abrigo, que
permita superar os traumas sofridos em segurança enquanto uma
equipe interdisciplinar se responsabiliza em conduzir e orientar a
mulher. Mais do que oferecer um lar, a ideia é que o abrigo seja um
local de bem-estar, aprendizado, empoderamento e ressocialização.

OBJETIVOS ESPECÍFICOS

 Analisar o contexto histórico da desigualdade de gênero;


 Indicar os fatores que submetem a mulher a situação de
vulnerabilidade social;
 Caracterizar os tipos de violência e os meios de enfrentamento;
 Descrever o funcionamento das Casas Abrigo;
 Levantar dados a fim de escolher uma localização estratégica
para a implantação de uma nova Casa Abrigo em Indaiatuba.

13
JUSTIFICATIVA

Especialista em relacionamentos abusivos e violência doméstica A cidade de Indaiatuba se destaca por ser uma das cidades que mais
e psicóloga responsável pela unidade feminina da Comunidade Farol, cresce em quantidade populacional e em expansão urbana -ganhando
Constanzi explica que a mulher demora para ter entendimento perante mais de 50 mil habitantes em nove anos-, motivada pela migração em
a situação que está vivendo, principalmente quando se trata de um busca de emprego, oportunidade e moradia (G1, 2019). Tal fato se
relacionamento onde existe a dependência emocional e a baixa estima. mostra relevante na defesa de uma implantação de uma Casa Abrigo,
Na maior parte das vezes o ato de violência passa por um ciclo, no qual visto que a cidade possui apenas uma unidade de abrigo feminino,
a psicóloga nomeia as fases como de lua-de-mel, tensão e agressão. A que atende toda a população de mulheres em situação de
cada agressão, o ciclo se renova e o parceiro contorna a situação de vulnerabilidade social e que em maio de 2021 já se encontrava quase
modo a parecer inocente para a mulher. O problema é que o espaço lotação máxima (CONSTANZI, 2021).
de tempo entre os ciclos se torna cada vez menor e assim a agressão A escolha do local para implantação da Casa Abrigo foca em
mais recorrente, mas intensa e mais traumática. Muitas vezes, as facilitar o acesso aos equipamentos públicos e institucionais, além
mulheres só recorrem a ajuda quando vêm que estão sofrendo ameaça Hospital Augusto de Oliveira Camargo, que oferece atendimento
de morte (CONSTANZI, 2021). pronto-socorro para sus e está estrategicamente localizado próximo a
No ano de 2020 as centrais de atendimento do Disque 180 e Delegacia da Mulher -o que proporciona mais tranquilidade no quesito
Disque 100 receberam cerca de 105 mil denúncias de violência a segurança. Localizado na região central da cidade, o terreno escolhido
mulher. Destas, 28% estão relacionadas a violação de direitos e 72% tem rápido acesso aos diferentes bairros através de vias arteriais e
denunciaram violência doméstica, o que abrange a parte física, sexual coletoras, facilitando a mobilidade tanto das abrigadas quanto dos
ou psicológica. Esses dados nos levam a entender qual foi o caminho funcionários do abrigo.
percorrido até o resultado das altas taxas de feminicídio registradas no
primeiro semestre de 2020 no Brasil, que teve 648 casos de mulheres
mortas, simplesmente por serem mulheres (BRASIL, 2021).

14
METODOLOGIA

Para o levantamento das informações foi utilizado o método de informações interdisciplinares relacionadas a assistência social e a
pesquisa bibliográfica, tendo como material de apoio o uso de e- psicologia. Uma das atendidas pelo abrigo também concedeu
books, artigos científicos, notícias, leis digitais, blogs, entre outros depoimento, tornando a experiência do estudo de casa ainda mais
recursos disponíveis na internet. Foram estudados temas relacionados completa e esclarecedora.
a mulher na história da antiguidade, a consolidação do capitalismo e A visita técnica à unidade feminina da Comunidade Farol
como este afetou as mulheres e a luta por igualdade social e de permitiu compreender como o espaço do edifício é capaz de
direitos - que possibilitaram compreender o atual cenário da influenciar positivamente ou negativamente nas relações e até mesmo
desigualdade de gênero. Também foram estudados os diferentes nas programações do abrigo, possibilitando um levantamento para o
fatores que colocam a mulher em estado de vulnerabilidade social, futuro programa de necessidades.
como a situação de rua e a violência doméstica, definindo os Por fim, foi realizado o estudo do entorno a fim de justificar a
diferentes tipos de abuso e violência e caracterizando-os para que escolha do terreno e sua localização, pontuando quais são
sejam mais facilmente identificados. Em sequência, foram pontuados equipamentos públicos e institucionais mais próximos e como os
os modos de enfrentamento à violência doméstica e como funcionam acessos as vias podem colaborar para maior autonomia do Abrigo.
as casas abrigo. Também foi feito o estudo sobre as legislações e topografia do
Foi realizado também o estudo de referências projetuais, das terreno.
quais foram analisadas a setorização, circulação, funcionamento,
programa de necessidades e demais itens relacionados a arquitetura,
sendo os projetos dois abrigos para mulheres e um parque educativo.
A partir do depoimento concebido por Constanzi, que é
psicóloga -especialista em relacionamentos abusivos e violência- e
atualmente trabalha na Comunidade Farol, foi possível entender como
acontece a rotina dentro de uma Casa Abrigo e também obter

15
02. SOBRE O
TEMA

16
2. 1 A MULHER NA HISTÓRIA DA SOCIEDADE

No princípio da humanidade, quando ainda não existiam povos herdeiro legitimo e para isso precisaria garantir uma mulher que
e nem Estados e os seres humanos precisavam estar unidos para lutar estivesse sob seu domínio. Nesse cenário, começam a surgir as classes
pela subsistência em um meio hostil, as funções das mulheres eram de dominadores e dominados, dando inicio ao patriarcado e
consideradas essenciais para a manutenção da vida (ALAMBERT, 2004). consequentemente gerando o que chamamos hoje de Estado, que
Diferente do que temos no século XXI, as gerações eram servia de instrumento para conter a rebelião dos dominados
passadas de mães para filhos, e os clãs formados seguindo essa linha (ALAMBERT, 2004).
de sucessão, muitas vezes desconhecendo quem eram os pais das A mulher passou então por um processo social que a fazia
crianças. Enquanto os homens iam a caça de alimentos, as mulheres dependente das decisões do homem, tornando o casamento como um
trabalhavam na terra e eram responsáveis pela domesticação dos fator fundamental para a sua felicidade, pelo qual era determinada a
animais, por cuidar das crianças e idosos e além disso ainda faziam posição social da mesma. Na Inglaterra e na França do século XVII, as
recipientes de barro e preparavam os unguentos para dar aos doentes. mulheres casadas só podiam engajar no comércio porque seus
Dessa forma, a mulher era respeitada por suas atribuições e não havia maridos responderiam juridicamente pelas ações das mesmas. Casar-
tratamento desigual entre homens e mulheres. Além disso, pouco se se com o dono de uma guilda mercantil conferia a mulher os direitos
sabe sobre guerras nesse período e as crenças eram em sua maioria como sócia, permitindo que a mesma fizesse parte da vida religiosa e
representadas por Deusas (ALAMBERT, 2004). social e por isso, mulheres solteiras eram raramente empregadas nas
Esse contexto de igualdade persistiu durante milênios, até que guildas mercantis. Nesse contexto a mulher dominou todas as
em aproximadamente 6000 anos a.C., o homem desenvolve um capacidades necessárias ao comércio, mas teve seu papel limitado as
equipamento para auxilia-lo na agricultura que substitui a enxada atividades de “mulher negociante” (SAFIOTTI, 1976).
primitiva da mulher: o arado. O novo aparato permitiu reservas “Nas economias pré-capitalistas, especificamente no estágio
imediatamente anterior à revolução agrícola e industrial, a
maiores de alimentos, que começaram a ser comercializadas em forma mulher das camadas trabalhadoras era ativa: trabalhava nos
campos e nas manufaturas, nas minas e nas lojas, nos
de troca, gerando um novo modo de vida e o inicio de uma economia. mercados e nas oficinas, tecia e fiava, fermentava a cerveja e
realizava outras tarefas domésticas. Enquanto a família
Assim, inicia-se a desigualdade entre os clãs e a mulher se torna alvo existiu como uma unidade de produção, as mulheres e as
da prepotência masculina, que precisaria passar o seu legado a um crianças desempenharam um papel econômico
fundamental.” (SAFIOTTI, 1976)

17
Embora a mulher tivesse um papel relevante na economia feudal desvalorizada e suas capacidades reduzidas ao pensamento
e dos burgos, esta ainda era considerada inferior ao homem no âmbito supremacista dos homens, estando sempre a beira das funções
político, social e jurídico e, consequentemente, sua atividade de produtivas de menor prestigio. Desse modo o início do novo regime já
trabalho reduzida a cargos secundários e menos apreciados, se inicia com um alvo a ser explorado, colocando a mulher como um
mantendo-as em uma posição ínfera quanto às funções econômicas da empecilho para o desenvolvimento social (que dizia que o sexo
família, visto que o processo de ganho financeiro da mulher era feminino seria marcado por deficiências físicas e mentais em relação ao
extremamente baixo e lento (SAFIOTTI, 1976). homem), quando na verdade, foi a sociedade que impôs limites às
Sob a capa de uma proteção que o homem deveria oferecer realizações profissionais e de integração das mulheres (SAFIOTTI, 1976).
à mulher em virtude da fragilidade desta, aquele obtinha
dela, ao mesmo tempo, a colaboração no trabalho e o Com força física pouco necessária, as máquinas tornam o trabalho
comportamento submisso que as sociedades de família
patriarcal sempre entenderam ser dever da mulher de mulheres e crianças propicio, visto que estes representavam mão de
desenvolver em relação ao chefe da família. (SAFIOTTI, 1976)
obra barata e aumento de lucro aos empreendedores. A submissão da
Ainda na Idade Média, já temos casos de resistências isoladas de mulher a tornou um alvo fácil de exploração, sendo submetida a longas
mulheres quanto às tradições impostas, que resultavam na expulsão da jornadas de trabalho e baixa remuneração. Essa exploração de mão de
posição que as mesmas ocupavam ou até mesmo de seus trabalhos, obra barata resultou inclusive no desemprego de muitos homens, que
levando-as a criarem seu próprio comércio e suas próprias alternativas foram incapazes de compreender o contexto que o gerava, então
para levar adiante suas práticas sociais. Casas conhecidas por protestaram desejando a supressão do trabalho feminino, resumindo a
beguinarias eram locais onde as mulheres viúvas, solteiras ou rurais se mulher ao papel de guardiã do lar (SAFIOTTI, 1976).
reuniam para rezar, fazer poções com ervas (para cura ou para o A posição inferior da mulher em relação ao trabalho remunerado,
aborto), filtros do amor entre outras práticas, criando sua própria educação e familiar não é vivenciado por todas as mulheres da mesma
contracultura. Essas ações eram consideradas heresias e foram maneira. Temos ainda a diferença motivada por questões raciais, no
duramente condenadas pela Igreja, que resultou na perseguição dessas qual estudos indicam que mulheres negras, por exemplo, tem ainda
mulheres durante a Santa Inquisição, sendo queimadas vivas e mais obstáculos rumo a sua inclusão no trabalho, sofrendo com o
enforcadas levando o nome de feiticeiras (ALAMBERT, 2004). preconceito em decorrer da aparência física e muitas vezes limitadas a
Na transição do modo de produção feudal para o capitalismo empregos menos valorizados quando comparado as mulheres brancas
temos um cenário negativo para a mulher: sua mão de obra (ALMEIDA, 2020).
18
2. 1. 1 A MULHER NO BRASIL

Sobre a mulher brasileira na história, é necessário salientar que esta


(como a maioria das mulheres ao longo da história) também foi ocultada
nos relatos escritos feitos pelos homens da elite. Mulheres negras,
escravas, índias e brancas das classes mais baixas foram esquecidas da
história até que com a chegada da corte de Portugal começaram alguns
relatos sobre as mesmas (ALAMBERT, 2004).
Primeiro, as índias foram submetidas a toda carga cultural que os
portugueses trouxeram ao Brasil: desde o catecismo forçado até o
sistema patriarcal que já imperava na Europa. As índias “serviram” de
esposas aos portugueses, que as moldaram a cultura econômica e social
portuguesa. Enquanto as índias assumiram o papel de esposas, servas e
empregadas domésticas, as mulheres brancas seriam as prostitutas,
mães (era necessário manter a hereditariedade dos brancos), depois
donas de casa (apenas comandavam os escravos) e esposas, tinham
pouca instrução e eram totalmente submissas, sem o direito de escolher
seus maridos e muito menos de andarem desacompanhadas na rua. A
mulher negra foi além de escrava doméstica, escrava sexual dos homens
brancos, sendo até mesmo alugada para outros senhores (ALAMBERT,
2004).
As escravas tinham duras jornadas de trabalho, que iam de 12 a 15
horas, e trabalhavam no campo, nos engenhos, auxiliavam na
enfermagem e partos da senzala, serviam de ama de leite para os filhos
dos senhores. . Também criaram um comércio informal, vendendo velas,
19
frutas, verduras e cigarros, e era através deste comércio que juntavam
dinheiro para que pudessem se alforriar (ALAMBERT, 2004).
Nas últimas décadas do século XIX participaram do movimento
abolicionista e essa foi a primeira experiência de militância política
organizada pelas mulheres brasileiras, que eclodiu em vários centros
urbanos. Dessa forma, muitas adentraram na política e ganharam
experiência para lutas pelo sufrágio feminino e contra a carestia no começo
do século XX (ALAMBERT, 2004).
Na primeira república, o Brasil já havia passado pela transição do rural
para urbano e o trabalho assalariado contribuiu para que as cidades
crescessem e também a burguesia enriquecesse sob a exploração dos
operários. Os negros libertados em 1888 foram substituídos pela mão de
obra dos imigrantes europeus e restaram-lhe apenas as tarefas menos
qualificadas e menos remuneradas. O desenvolvimento industrial levou
muitas mulheres a extensas jornadas na produção e baixa remuneração, o
que levou as mesmas a participarem de diversas greves, clamando por
melhor qualidade de vida e conseguiram através destas, a proibição do
trabalho noturno para as mulheres e seus filhos (ALAMBERT, 2004).
Com a instalação do golpe militar em 1964, as organizações de
mulheres perderam suas forças, então passaram a participar através das
militâncias ativas (figura 01). As organizações femininas brasileiras voltaram
a tomar impulso após 1975, quando foi decretado o Ano Internacional da
Mulher pela ONU e persistem lutando até o século atual, para construir
uma história onde a mulher é reconhecida como capaz nos mais diversos
Figura 01: Jornalistas feministas lutam contra repressão da ditadura.
Fonte: Carta Capital, 2020. âmbitos da vida pública e ética (ALAMBERT, 2004).
20
2. 1. 2 A DISCUSSÃO SOBRE GÊNERO

Em seu livro “Gênero, uma categoria útil de análise histórica”, a Almeida (2020) explica o papel da misoginia no fortalecimento das
autora Joan Scott J. (1991, apud BARAGATTI, 1982) afirma que o termo desigualdades de gênero:
não está ligado apenas as características sexuais ou genéticas que Misoginia pode ser entendida como uma palavra, ação ou
comportamento que envolve desconfiança desprezo ou
diferem as mulheres dos homens, mas sim aos papeis sociais que lhes ódio pela mulher ou por qualquer outra questão
relacionada ao feminino. O que conecta as diversas
foram atribuídos ao longo da história. O uso do termo foi a primeira expressões da misoginia é a rejeição da igualdade entre
homens e mulheres mediante a disseminação de ideias
forma de dar justificativa as relações de poder, fundamentando-se nas
depreciativas sobre a mulher e a tolerância com as
diferenças físicas e psicológicas percebidas entre os sexos e utilizando violências físicas e morais praticadas (ALMEIDA, 2020)

os seguintes meios para afirmar a suporta soberania masculina: Na história da humanidade, os poderes soberanos eram sempre
 Símbolos culturais: como por exemplo a comparação de Eva e de identificados como masculinos- como nos regimes autoritários e nas
Maria segundo a tradição cristã, que representam uma imagem mais diversas revoluções-, o que levou a proibição da participação das
contraditória da mulher (BARAGATTI, 1982); mulheres do âmbito político, gerando imposições sobre seus próprios
 Concepções normativas: que limitam a mulher utilizando-se de corpos, desde as vestimentas até o aborto que foi tornado ilegal. O
metáforas, expressando o que cabe ao sexo masculino e o que poder que foi atribuído ao homem e sua ideia de gênero superior
cabe ao feminino, tanto nas doutrinas religiosas quanto no resultaram na dominação deste sobre os seus. Acreditou-se por muito
campo da educação, ciência e política (BARAGATTI, 1982); tempo que o poder patriarcal conferia ao homem o direito de reger a
 Família como fundamento da organização social: na qual conduta das mulheres, das crianças e dos adolescentes, ganhando até
homens e mulheres possuem cada qual suas funções dentro do mesmo tolerância da sociedade para usar a violência como punição
“parentesco definido pelo gênero”, ignorando funções como daquela ação inadequada (BARAGATTI, 1982).
mercado de trabalho, educação ou política (BARAGATTI, 1982);
 Identidade subjetiva: no qual o gênero comanda quem irá
tornar-se protagonista na construção do poder e oferece
oportunidades diferenciadas (BARAGATTI, 1982).

21
2. 1. 3 A LUTA DA MULHER PELA IGUALDADE
A mulher teve seu papel na história reduzido a um objeto de manipulação,
criada para concordar ao que lhe é imposto, abnegar-se pela família e pelo marido,
sofrer e ter paciência. Esporadicamente, permitiam que a mulher alcançasse posições
reconhecíveis e ela tinha sua sexualidade colocada em dúvida, sendo chamada de
“virilóide” ou “sapatão”. Assim, homens de pensamento (poetas, teólogos, escritores,
políticos, artistas, entre outros) iam reduzindo a definição da mulher a características
medíocres, traçando o caminho injusto percorrido pela mulher em meio a sociedade,
tendo seu papel social reduzido nos mais diversos âmbitos da vida (ALAMBERT,
2004).
Ainda na Idade de média, algumas mulheres passaram a fugir de seus
agressores ajudadas por outras mulheres ou até mesmo sozinhas, surgindo assim os
primeiros vestígios do que conhecemos hoje como feminismo, mesmo que apenas
por questão de sobrevivência e não uma reivindicação consciente (ALAMBERT, 2004).
Na década de 1960 aconteceu a revolução cultural-sexual, onde mulheres em
todo o mundo defenderam a autoridade sobre os próprios corpos, levantando a
bandeira com frases baseadas em “O corpo nos pertence” (figura 02). A frase curta
traz uma profunda reflexão sobre o modo como a mulher teve seu corpo e sua vida
apropriada pelo homem, que a oprimiu e dominou, e o resgate do corpo é como se a
mulher abrisse portas ao seu processo de libertação. Essa frase foi resultado de um
processo de reflexão sobre como os estereótipos relacionados ao corpo da mulher
serviram de justificativa para homens coloca-las sempre em posição inferior,
afirmando até mesmo que o corpo da mulher seria fonte de pecado e desgraça ao
homens, sendo uma porta aberta ao inferno (alusão à tese cristã de pecado e Figura 02: Mulher segura o cartaz que diz “meu corpo é meu”, em francês.
Fonte: Agencia Uva, 2018.
sexualidade) (ALAMBERT, 2004).
22
Em 1975 a ONU declarou o Ano da mulher e tornou o dia 08 de
março o Dia Internacional da Mulher, em resposta ao pedido da líder
revolucionária alemã Clara Zetkin no ano de 1910 durante o II
Congresso Internacional da Mulher, que seria uma homenagem as
operárias norte-americanas que lutaram por seus direitos no ano
anterior (figura 03). Após essa data, a luta das mulheres ganhou ainda
mais força, defendendo a liberdade de escolha no âmbito familiar e
igualdade de condições no trabalho. (ALAMBERT, 2004).
Zuleika Alambert faz previsões sobre o futuro da mulher no
século XXI em seu livro A Mulher na História da Mulher, lançado no ano
de 2004, e afirma que esta deve empenhar-se na consolidação de suas
conquistas, buscando sempre os melhores caminhos para isto. A autora
cita como prioridades das mulheres: focar na cultura, a educação e a
construção de uma nova forma de pensar, utilizando-se dos mais
diversos meios para pôr fim aos preconceitos e mitos gerados diante da
imagem da mulher; empenhar-se mais nas ciências e tecnologias,
acompanhando as evoluções do mercado de trabalho; criar meios de
participar de decisões econômicas e financeiras, encontrando apoio em
pequenas empresas e gerando instrumentos de apoio ao
empreendedorismo feminino; adentrar em cargos políticos para que
possa ter parcela de poder diante as decisões a serem tomadas,
exigindo respeito e integração de todos os gêneros diante das macro
políticas (ALAMBERT, 2004).
Figura 03: Operárias norte-americanas protestam por seus direitos.
Fonte: Fala Universidades, 2020.
2322
2. 2 A MULHER EM SITUAÇÃO DE ÁREAS DE PREOCUPAÇÃO SEGUNDO A ONU
VULNERABILIDADE SOCIAL • 1. Mulheres e pobreza;
A mulher é a maior vítima da falta de macro políticas que
A IV Conferência Mundial sobre a Mulher realizada no ano de
reconheçam e compensem a história enraizada da questão de
1995 em Pequim, na China, teve como tema “Ação para a Igualdade,
gênero, da pobreza dentro de suas próprias casas, onde na maior
desenvolvimento e a paz” e listou 12 áreas que pedem ações especificas
parte das vezes as mulheres são chefes da família (ALAMBERT,
de modo a garantir que os direitos das mulheres sejam direitos
2004; BRASIL, 2021).
humanos. Segundo a ONU:
• 2. Educação e Capacitação de Mulheres;
A transformação fundamental em Pequim foi o
reconhecimento da necessidade de mudar o foco da
Dois terços da população analfabeta é composto por mulheres,
mulher para o conceito de gênero, reconhecendo que que ganham menos, encontram barreiras para alcançar cargos
toda a estrutura da sociedade, e todas as relações entre
homens e mulheres dentro dela, tiveram que ser superiores e enfrentam duplas jornadas de trabalho (ALAMBERT,
reavaliados. Só por essa fundamental reestruturação da
sociedade e suas instituições poderiam as mulheres ter 2004; BRASIL, 2021).
plenos poderes para tomar o seu lugar de direito como
parceiros iguais aos dos homens em todos os aspectos da • 3. Mulheres e Saúde;
vida. Essa mudança representou uma reafirmação de que
os direitos das mulheres são direitos humanos e que a
Estão extremamente sujeitas a morte durante a gestação e são as
igualdade de gênero era uma questão de interesse maiores vítimas de doenças sexualmente transmissíveis
universal, beneficiando a todos (BRASIL, 2021).
(ALAMBERT, 2004. BRASIL, 2021).
• 4. Violência contra a Mulher;
Desde violência física a psicológica, as mulheres tem sido
espacadas, torturadas, estupradas e mortas (ALAMBERT, 2004;
BRASIL, 2021).
• 5. Mulheres e Conflitos armados;
Além das consequências resultantes dos conflitos, as mulheres
são ainda torturadas e usadas como troféus de guerra
(ALAMBERT, 2004; BRASIL, 2021).

24
• 6. Mulheres e Economia; Dados divulgados pela Organização Internacional do
Normalmente não tem acesso aos meios de produção e ganham menos que Trabalho (OIT) no ano de 2015, mostram um cenário não muito
os homens, gerando uma participação limitada nas decisões econômicas otimista rumo a igualdade das mulheres: estimou cerca de 71 anos
(ALAMBERT, 2004; BRASIL, 2021). para que o mundo chegasse a um índice de paridade média. O
• 7. Mulheres no Poder e na liderança; relatório constata que mulheres recebem equivalente a
Dificuldade de adentrar nas estruturas de poderes políticos e não costumam aproximadamente 77% do valor salarial comparado aos homens e
exercer funções diplomáticas de nível superior (ALAMBERT, 2004; BRASIL, também denuncia a dupla jornada de trabalho: enquanto elas
2021). dedicam 26 horas semanais aos serviços domésticos, o homem
• 8. Mecanismos institucionais para o Avanço das Mulheres; gasta apenas 9 horas. (CORREIO BRAZILIENSE, 2015)
Embora promovidos por muitos países, falta empenho e recursos financeiros Uma pesquisa elaborada pelo Fórum Econômico Mundial
para alcançar os resultados estabelecidos (ALAMBERT, 2004; BRASIL, 2021). (WEF) no ano de 2019 reuniu dados sobre 153 países e analisou a
• 9. Direitos Humanos das Mulheres; paridade entre os gêneros, reunindo informações acerca da
Visa eliminar todas as formas de discriminação jurídica da mulher (ALAMBERT, educação, saúde, trabalho e política. Os dados colhidos no Brasil
2004; BRASIL, 2021). resultaram na 92º posição no Ranking de Igualdade de Gênero,
• 10. Mulheres e a mídia; disparidade que se deu principalmente pela desigualdade no
A imagem que a mídia passa sobre a mulheres são reflexos das preocupações âmbito trabalhista, alegando “baixa proporção de mulheres em
e valores masculinos (ALAMBERT, 2004; BRASIL, 2021). cargos gerenciais, congelamento dos salários e baixa participação
• 11. Mulheres e Meio Ambiente; na força de trabalho e renda”. Segundo o estudo, a mulher
A responsabilidade das mulheres perante ao meio ambiente deveria ao brasileira tem um déficit de cerca de 40% comparado ao salário
mínimo garantir que estas fossem incluídas preferencialmente nos programas global, e que se permanecer no mesmo ritmo de mudança,
de garantia da qualidade de vida e sustentabilidade (ALAMBERT, 2004; demoraria 257 para alcançar a paridade no âmbito do trabalho. Em
BRASIL, 2021). compensação, o relatório demonstrou que a área da escolaridade
• 12. Direitos das Meninas e da saúde estão muito próximas (ultrapassando 95%) e houve um
Visa proteger as meninas de qualquer crime cometido contra sua moral, aumento significativo de mulheres ingressando na política (G1
garante-lhes os direitos humanos sem discriminações (ALAMBERT, 2004; GLOBO, 2019).
BRASIL, 2021). 25
2. 2. 1 VIOLÊNCIA CONTRA A MULHER

A violência é definida como qualquer constrangimento, físico ou


moral, exercido sobre uma pessoa para obriga-lo a se submeter a
vontade do outro (OXFORD LANGUAGES, 2021). Muitas vezes a
violência é sutil e silenciosa e por isso passa despercebido pelas
pessoas ao redor ou até mesmo a vítima não associa determinada
ação a um ato violento. Desde casos como o citado anteriormente até
casos mais agressivos precisam ser entendidos e conscientizados, de
modo a atentar a população. Simone de Beauvoir (1908-1986) foi uma
das filósofas pioneiras em criticar a hierarquia entre os sexos, dizendo
que se esta fosse considerada natural, seria eterna e por isso não teria
solução (ALMEIDA, 2020).

No dia em que fôr possível à mulher amar em sua


força, não em sua fraqueza, não para fugir de si
mesma mas para se encontrar, não para se demitir
mas para se afirmar, nesse dia o amor tornar-se-á
para ela, como para o homem, fonte de vida e não
perigo mortal. Enquanto isso não acontece, ele
resume sob sua forma mais patética a maldição
que pesa sobre a mulher encerrada no universo
feminino, a mulher mutilada, incapaz de se bastar a
si mesma. As numerosas mártires do amor
testemunharam contra a injustiça de um destino
que lhes propõe, como derradeira salvação, um
inferno estéril (BEAUVOIR, 1967).

26
VIOLÊNCIA PSICOLÓGICA

Normalmente é a primeira a ocorrer e persiste em todo o ciclo que a mesma é inocente. Um exemplo cotidiano de calunia é o ex-
da violência. É regida por condutas que causam danos emocionais, companheiro alegar que a mulher deixa seu filho sozinho para sair,
diminuem a autoestima e prejudicam o desenvolvimento da vítima quando na verdade isso não aconteceu (BRASIL, 2017; ALMEIDA, 2020).
(ALMEIDA, 2020). A difamação é explicada no art. 139 do Código Penal como a
Acontecem por meio de manipulação, vigilância constante, intenção do agressor em causar prejuízos a reputação da vítima,
controle sobre seus comportamentos e crenças, insultos, humilhação, independentemente se a sua afirmação é verdadeira ou não. Um
perseguição, chantagens e quaisquer limitações sobre os direitos de ir exemplo desse tipo de violência é quando o companheiro menospreza
e vir e de fala. Resultam em prejuízos a saúde psicológica. A mulher a condição de trabalho ou educação da mulher (BRASIL, 2017;
que é submetida a tal violência muitas vezes se sente culpada e ALMEIDA, 2020).
impotente, por não conseguir ser ouvida ou se sentir inferior ao seu O art. 140 do Código Penal define que a injuria ocorre quando
parceiro. Muitas vezes acredita que está louca, fora de seu controle se ofende a dignidade do outro, e para que a mesma aconteça, basta
emocional e duvida da sua capacidade de perceber a situação e, dessa que o comentário seja direcionado a mulher com o intuito de ofender,
forma, nega a agressão e absorve a culpa pelas eventuais discussões não necessariamente precisa ser divulgado a outras pessoas. Um
(ALMEIDA, 2020). exemplo disso é quando o parceiro espalha para a comunidade que
sua mulher é promiscua (BRASIL, 2017; ALMEIDA, 2020).
VIOLÊNCIA MORAL
VIOLÊNCIA PATRIMONIAL
A violência moral tem características muito próximas a
psicológica e pode acontecer simultaneamente a mesma, por isso É considerada violência patrimonial qualquer ato que resulte na
torna um pouco difícil a distinção entre as duas. É definida pela Lei retenção, subtração ou destruição de quaisquer objetos, bens ou
Maria da Penha como “qualquer conduta que configure calunia, recursos econômicos sem o consentimento da mulher. Um exemplo
difamação ou injuria” (ALMEIDA, 2020). desse tipo de violência é o parceiro se apropriar da remuneração da
Conforme prescrito no art. 138 do Código Penal, calunia consiste mulher ou então destruir algum bem da mulher, como o carro, por
no ato de acusar uma pessoa de uma ação ou crime, mesmo sabendo exemplo (ALMEIDA, 2020).
27
VIOLÊNCIA SEXUAL VIOLÊNCIA FISICA

A violência sexual pode ser traduzida no ato de obrigar a Podemos descrever violência física como uma ação intencional
mulher a presenciar, participar ou manter relação sexual não desejada, que causa dano a integridade física de uma pessoa, fazendo uso ou
fazendo uso da força, ameaça, manipulação ou coação. Também é não de arma de fogo. Ocorre das mais diversas formas: desde obrigar a
considerada violência sexual a indução a comercializar ou utilizar a sua tomar medicamentos desnecessários e bloquear a passagem da vítima,
sexualidade de qualquer modo. São exemplos de violência sexual: até lesões e ameaças de morte. Dados apontam que mais de 70% dos
constranger a pratica de atos sexuais não desejados, forçar a ver assassinatos de mulheres foram cometidos por parceiros ou ex-
pornografia, obrigar a posar para fotos ou vídeos, agredir fisicamente parceiros, ou seja, 7 em cada 10 mulheres são assassinadas em
durante o ato sexual, estupro (ALMEIDA, 2020). condição de feminicídio e antes disso já tinham histórico de violência
Historicamente, o sexo foi usado como força de demonstração física nos relacionamentos (ALMEIDA, 2020).
de poder para o homem, como por exemplo nas guerras, onde
soldados estupravam as mulheres dos inimigos para atingi-los. O
assédio, prostituição e estupro que ainda acontecem no século XXI são
resultados de uma cultura que afirmou o corpo da mulher como
objeto de prazer do homem, dando naturalidade a determinadas
violências sexuais, onde muitas vezes nem mesmo a mulher tem
consciência sobre o abuso que estão cometendo contra seu corpo
(ALMEIDA, 2020).

28
CICLO DA VIOLÊNCIA

Apenas da violência doméstica acontecer de diversas formas e ser


ocasionada por muitos fatores, a psicóloga americana Lenore Walker
identificou que as agressões no âmbito conjugal costumam seguir um
ciclo que se repete. Ela identificou três fases: o aumento da tensão, o ato
de violência e o arrependimento, como ilustrados na figura 04 (BRASIL,
2018).
• FASE 01: Aumento da Tensão. Nessa fase o agressor demonstra
irritação por coisas insignificantes, humilha a vitima, destrói objetos e
faz ameaças (BRASIL, 2018).
• FASE 02: Ato de violência. A falta de controle do agressor chega ao
limite e leva ao ato violento. Toda a tensão acumulada na primeira
fase se concretiza em violência física, verbal, psicológica, moral ou
patrimonial (BRASIL, 2018).
• FASE 03: Lua de mel. Essa fase é caracterizada pelo arrependimento
do agressor, que passa a ter comportamentos carinhosos e amáveis
para conseguir a reconciliação (BRASIL, 2018).
Por fim, um misto de medo, confusão e até mesmo culpa tomam
conta da mulher. Depois de um período relativamente calmo, a tensão
volta a tona e o ciclo retorna para a fase da tensão. A psicóloga alerta
ainda que é necessário sair do ciclo pois com o tempo os intervalos Figura 04: Ciclo da violência contra a mulher
Fonte: Santa Catarina, 2019.
entre uma fase e outra passam a ser menores, ou seja, a mulher está
cada vez mais vulnerável as agressões. Muitas vezes esse ciclo só se
encerra marcado pelo feminicídio ou graves lesões (BRASIL, 2018).
29
2. 2. 2 MULHERES EM SITUAÇÃO DE RUA A falta de independência financeira, dificuldades em sustentar-se
e sustentar os filhos e a falta de apoio familiar e institucional levou essas
As mulheres estão em menor número nas ruas quando mulheres a ficarem, muitas vezes, por anos sob o domínio de seu
comparadas aos homens, sendo uma parcela de aproximadamente parceiro agressor. Outro fator responsável pela situação de rua foi o uso
18% no cenário brasileiro. A partir de depoimentos coletados na de drogas, situação na qual as mulheres comprometeram seus vínculos
cidade de São Paulo pelos autores Anderson Rosa e Ana Brêtas, foi familiares e de trabalho, deixando-as mais vulneráveis a violência,
possível compreender que as principais causas para as mulheres criminalidade, prostituição e doenças sexualmente transmissíveis (ROSA,
passarem a morar na rua são os atritos nas relações familiares, sendo BRÊTAS, 2015).
um dos principais fatores a violência praticada pelos parceiros. As As mulheres delataram diversas formas de violência física vividas
entrevistadas relataram agressões físicas e/ou sexuais, mas foi possível enquanto pernoitavam nas ruas: grupos de intolerantes praticavam a
identificar diversas formas de violência psicológicas e até mesmo violência sem razão especifica, resultando até mesmo em mortes; brigas
casos de negligência pública (ROSA, BRÊTAS, 2015). e desavenças entre os próprios moradores de rua; violência “higienista”,
na qual policiais ou pessoas aleatórias eram contratados pelos
comerciantes ou moradores locais para “limpar a rua” e expulsar os
moradores dela; e, por último, a violência sexual contra as mulheres,
que eram praticadas por homens que viviam ou não nas ruas (ROSA,
Depoimento de Paula, 41 anos, há dez anos vivendo situação de rua:
BRÊTAS, 2015).
“O que aconteceu foi que ele me deu uma facada embaixo do peito, e eu
fui para o hospital. No hospital depois que me trataram, que eu estava
com os pontos tudo, a assistente social veio conversar comigo e perguntar
como tinha acontecido aquilo. E ai eu conversei com ela, e toda hora ela Depoimento de Vitória, 25 anos, há oito anos vivendo em situação de rua:
falava – mas essa é a sua escolha, depois que você ficar boa vai voltar para
casa? E toda vez que você volta, você volta com um problema. Você vai “A noite dormia na rua, às vezes nem dormia. Às vezes ficava acordada a
bem, depois volta porque ele te bateu, ou volta porque ele te botou para noite inteira com medo. Como já passou várias vezes na televisão, gente,
fora, ou volta porque ele te esfaqueou. Ai eu falei que não ia mais, e mendigo que estava dormindo na calçada e passou as pessoas e botou
realmente não fui mais. Não fui, converso com a minha família normal pelo fogo nele, tudo. Fora outras coisas também que pode, tem homem ou
telefone, mas não fui mais e estou na rua” (ROSA, BRÊTAS, 2015). mulher também que pode te abusar, ou matar por nada” (ROSA, BRÊTAS,
2015).

30
2. 3 LEI MARIA DA PENHA

A Lei Maria da Penha foi sancionada em 07 de agosto de 2006 comunitários, ato que praticamente banalizava a violência de gênero
e é responsável por criar mecanismos que hajam na proibição e (BRASIL, 2018; BRASIL, 2006).
coibição da violência doméstica e familiar contra mulheres, em Além da punição falha ao agressor, o ato de denuncia também
acordo com a Constituição Federal (art. 226, § 8°) e os demais era ineficaz pois a vítima precisava levar a intimação ao agressor, para
tratados já ratificados pelo Estado brasileiro. É considerada pela ONU que ele comparecesse a cadeia. Tal atitude apenas a colocava em
com uma das três leis mais avançadas do mundo, isso porque situação ainda mais vulnerável, na qual teria que optar por encarar seu
abrange não apenas as medidas protetivas a mulher, mas também agressor ou se silenciar (BRASIL, 2018; BRASIL, 2006).
prevê uma ‘rede de enfrentamento’ que se torna indispensável a A lei assume um papel além de sua via jurídica: ela também
efetividade da denúncia: Delegacias Especializadas de atendimento a abraça a função de orientar, estabelece definições sobre o diversos tipos
mulher, Casas-abrigo, Centros de Referência da Mulher, Juizados de de violência doméstica e familiar, insere políticas públicas de prevenção,
violência doméstica e familiar contra a mulher, entre outros. A criação institui as medidas protetivas de urgência e prevê promoção de
desses mecanismos de proteção declara que a violência de gênero é programas educacionais com perspectivas de etnias, raças e gênero.
também uma responsabilidade do Estado brasileiro, e não apenas Todos os mecanismos se unem para intensificar uma rede integrada de
familiar. Mais do que apenas uma alteração na legislação penal, a Lei enfrentamento a violência, garantindo que os direitos humanos sejam
11.340/2006 representa um instrumento legal de proteção aos direitos também direitos das mulheres (BRASIL, 2018; BRASIL, 2006).
humanos das mulheres, para que estas estejam livres da violência
(BRASIL, 2018; BRASIL, 2006).
Antes da LPM entrar em vigor, a violência doméstica e familiar
era considerada crime de menor potencial ofensivo, na qual as penas
eram reduzidas a pagamento de cestas básicas ou trabalhos

31
2. 4 REDE DE ENFRENTAMENTO

1. COMBATE
A Secretaria de Políticas para Mulheres elaborou em 2011 a Ações punitivas e cumprimento da
Política Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, Lei Maria da Penha
que tem como objetivo instituir conceitos, princípios, diretrizes e ações
de prevenção e combate à violência doméstica contra as mulheres,
2. PREVENÇÃO
além de prover assistência e garantia de direito as mesmas, conforme
Ações educativas e culturais que
POLÍTICA
asseguradas pela legislação nacional (BRASIL, 2011). interfiram nos padrões sexistas
NACIONAL DE
O conceito de enfrentamento, adotado pela Política ENFRENTAMENTO
Nacional de Enfrentamento à Violência contra as Mulheres, À VIOLÊNCIA 3. ASSISTÊNCIA
diz respeito à implementação de políticas amplas e
articuladas, que procurem dar conta da complexidade da
CONTRA AS Fortalecimento da Rede de
violência contra as mulheres em todas as suas expressões MULHERES Atendimento e capacitação de agentes
(BRASIL, 2011). públicos.

O enfrentamento deve ser capaz de desconstruir as


4. ACESSO E GARANTIA DE DIREITOS
desigualdades, combatendo as discriminações de gênero e a diversas Cumprimento da legislação nacional/
formas de violência contra as mulheres, garantindo um atendimento internacional e iniciativas para a
autonomia das mulheres
público qualificado e humano às mesmas. Para a manutenção do
combate, também será necessário mudar o cenário de padrões Figura XX: Eixos Estruturantes da Politica Nacional de Enfrentamento à
Violência contra as Mulheres
sexistas e machistas ainda habituais aos brasileiro, além incentivar o
Fonte: Brasil, 2011; alterado pela autora, 2021.
empoderamento feminino. Dessa forma, entende-se que o
enfrentamento requer ações conjuntas e interdisciplinares, entre os É importante salientar que para garantir o funcionamento
setores da saúde, segurança pública, assistência social, justiça, adequado dos quatro eixos estruturantes é necessário que seja feito o
educação, entre outros. Para uma ação eficiente, a PNPM definiu monitoramento das ações de enfrentamento, ou seja, uma avaliação
quatro eixos estruturantes (figura xx) da Política Nacional de sistemática e acompanhamento de todas as iniciativas desenvolvidas
Enfrentamento à Violência contra as mulheres (BRASIL, 2011): (BRASIL, 2011).
32
2. 4. 1 LIGUE 180

A central de atendimento à Mulher é um serviço de


atendimento a mulheres em situação de violência que funciona 24
horas por dia, registrando e encaminhando as mesmas aos órgãos
competentes. A central também dá orientações para as vitimas e instrui
sobre as leis e a rede de atendimento e acolhimento de mulheres em
situação de vulnerabilidade (BRASIL, 2020).
Segundo dados divulgados pelo Ministério da Mulher, da
Família e dos Direitos Humanos (MMFDH), o ano de 2020 teve mais de
105mil denúncias de violência contra a mulher registradas nas
plataformas do Disque 100 e do Ligue 180- cerca de 38mil denuncias a
mais quando comparado ao ano de 2019 (figura 05). Desse número,
28% são referentes a violação de direitos civis – como por exemplo
trafico de pessoas, cárcere privado ou condições análogas a
escravidão. Os outros 72% estão associados a violência doméstica e
familiar contra as mulheres. Dentre as es denuncias que tiveram
informações prestadas sobre idade e cor, prevaleceram como vitimas
mulheres de cor parda, com idade entre 35 a 39 anos. Em relação ao
perfil dos agressores, o mais relatado foi de cor branca, entre 35 e 39
anos.
No ano de 2020 a SPNM destinou cerca de 123 milhões em
ações para capacitação de mulheres em situação de vulnerabilidade,
incentivando o empreendedorismo, o combate ao feminicídio, e Figura 05: Cartaz Campanha Amor não causa dor, 2020
Fonte: Brasil, 2020.
ampliação dos canais de denúncia e rede de enfrentamento.
33
2. 4. 2 ABRIGAMENTO E ACOLHIMENTO
CASA- ABRIGO CASA DE ACOLHIMENTO
A sanção da Lei Maria da Penha institui diversos
NOMENCLATURA NA TIPIFICAÇÃO SÓCIO-ASSISTENCIAL
mecanismos de modo a coibir e prevenir a violência contra as
Serviço de Acolhimento Serviço não incorporado aos
mulheres, da mesma forma que prevê que devem ser asseguradas Institucional para mulheres em serviços sócio-assistenciais.
oportunidades e facilidades para que vivam livres da violência, situação de violência (Resolução
CNAS nº 109/2009).
preservando sua saúde física e mental. Dessa forma, são garantidos
como direitos das mulheres o acesso à rede de atendimento NATUREZA

especializada, que inclui atendimento psicossocial, jurídico e até Serviço público de longa Serviço público de curta
mesmo o abrigamento junto aos seus filhos. Assim, a SPM estabeleceu duração (de 90 a 180 dias) e em duração (até 15 dias) e não-
geral, sigiloso. sigiloso.
Diretrizes Nacionais para Abrigamento para Mulheres em situação de
Risco e Violência, com objetivo de reconhecer a Casa- Abrigo como PÚBLICO ALVO
espaço de segurança, de resgate da autoestima e reconstrução da c Mulheres em situação de
Mulheres em situação de
cidadania das mulheres (BRASIL, 2011). violência doméstica e familiar violência de gênero (em
sob risco de morte especial da doméstica e familiar
Entendida a complexidade dos diversos tipos de violência e vítimas do tráfico de pessoas)
(acompanhadas ou não de seus
contra as mulheres, foi preciso repensar os conceitos de ‘abrigamento’, filhos/as). que não estejam sob risco de
morte (acompanhadas ou não
para que os mecanismos responsáveis fossem capazes de atender aos de seus filhos/as)
diversos tipos de violência contra as mulheres no âmbito doméstico ou
OBJETIVOS DO SERVIÇO
familiar e também em outras interfaces, como por exemplo, a
-Garantir a integridade física e -Garantir a integridade física e
violência urbana - casos de mulheres em situação de violência
emocional das mulheres. emocional das mulheres.
envolvidas com homens associados ao tráfico, entre outros. A SPM cria -Auxiliar no processo de -Realizar diagnóstico da
reorganização da vida das situação da mulher para
também diretrizes para Casas de Acolhimento Provisório, sendo estes
mulheres e no resgate de sua encaminhamentos necessários
serviços de abrigamento de curta duração (até 15 dias) destinados a autoestima.
mulheres que não correm risco iminente de morte (figura 06) (BRASIL,
Figura 06: Diferenças entre Casa- Abrigo e Casas de acolhimento
2011). Fonte: Brasil, 2011; alterado pela autora, 2021.
34
As casas- abrigo são locais seguros para o atendimento às • Acompanhamento pós-abrigamento: a mulher que esteja em
mulheres, no qual poderão permanecer por um período determinado e processo de desabrigamento deverá ser acompanhada pelo Centro
depois deverão reunir condições necessárias para retomar o curso de de Referência ou pelo CREAS mais próximo de sua residência. Nesse
suas vidas. No que se refere as diretrizes gerais para as casas-abrigo, momento, é necessário que a casa-abrigo e os Centros de Referência
temos: elaborem estratégias para garantir acesso à moradia, trabalho e a
• Vinculação: as casas-abrigo deverão estar preferencialmente inclusão em programas sociais e de geração de renda (BRASIL,2011).
vinculadas à assistência social, uma vez que são incorporadas aos A SPM também determina o fluxo de encaminhamento (figura
serviços sócio assistenciais. Essa associação visa garantir maior 07) até o abrigamento ideal, garantindo assim que o processo seja mais
sustentabilidade as casas- abrigo (BRASIL,2011). eficiente e mais qualificado, de modo a evitar que atendimentos
• Institucionalização: as casas-abrigo deverão ser criadas por lei e ter incorretos gerem custos e empenho desnecessários (BRASIL,2011).
parcerias com órgãos gestores através de instrumentos PORTA DE ENTRADA
administrativos legais. A institucionalização garante maior segurança
para as mulheres e profissionais envolvidos (BRASIL,2011). Serviços especializados e não especializados
• Articulação permanente com a Segurança Pública: as casas-abrigo
devem estabelecer parcerias com a Segurança Pública para garantir a CR e CREAS Plantão do CA ou
Horário comercial CREAS
proteção e garantia de direitos das mulheres abrigadas e seus
dependentes (BRASIL,2011).
• Sigilo: a implementação do sigilo é uma das diretrizes que entrou em
Casa do Acolhimento Outras opções de
discussão devido à dificuldade da sua manutenção (como por Casa-Abrigo
Provisório abrigamento
exemplo quando o endereço da casa-abrigo vem a público e é
necessário mudar de localização para que o sigilo seja assegurado),
por isso são sugeridas outras estratégias que proporcionem CR ou CREAS (acompanhamento pós
segurança e proteção aos envolvidos, como a segurança feita por abrigamento)
policiais militares, tecnologia de segurança, entre outros
Figura 07: Fluxo do encaminhamento
(BRASIL,2011). Fonte: Brasil, 2011; alterado pela autora, 2021.
35
No Brasil, a primeira Casa- Abrigo foi implantada em São Paulo
no ano de 1986, denominada de Centro de Convivência para Mulheres
Vítimas de Violência Doméstica (Convida). De acordo com dados da
SPM, até o ano de 2011 existiam 72 casas- abrigo no território brasileiro,
sendo a maior concentração na região Sudeste (BRASIL, 2011).
A SPM alerta que o número de serviços de abrigamento
existentes no pais ainda é reduzido e insuficiente, porém, no âmbito
dos Estado e municípios também existe uma rede alternativa de
atendimento às mulheres, tais como: albergues, pastorais da mulher,
repúblicas, entre outros. A SPM defende o mapeamento dessa rede
“informal” como fundamental para o encaminhamento pelos órgãos
responsáveis especializados (no caso de abrigamento) e também para
estes possam ser divulgados para a comunidade (BRASIL, 2011).

O abrigamento, portanto, não se refere


somente aos serviços propriamente ditos
(albergues, casas-abrigo, casas-de-passagem,
casas de acolhimento provisório de curta duração,
etc), mas também inclui outras medidas de
acolhimento que podem constituir-se em
programas e benefícios (benefício eventual para os
casos de vulnerabilidade temporária) que
assegurem o bem-estar físico, psicológico e social
das mulheres em situação de violência, assim como
sua segurança pessoal e familiar (BRASIL, 2020)

36
03. ANÁLISES
PROJETUAIS

37
O estudo das referências arquitetônicas é um passo essencial A última referência analisada (tópico 4.3) não está diretamente
a ser realizado antes do projeto, pois amplia o campo de visão ligada ao tema, mas sim ao que o autor espera agregar no programa
perante o tema e seu programa de necessidades e também sobre de necessidades do projeto proposto: um espaço de formação
como os espaços podem ser manipulados de formas diferentes profissional que possa ajudar no engajamento das mulheres no
enquanto suprem a necessidade de um mesmo tema: um abrigo mercado de trabalho, por isso a escolha por um parque educativo
para mulheres que se encontram em situação de vulnerabilidade com salas de formação e oficina. Além disso, também chama a
social. atenção o modo como a implantação traz fluidez ao espaço e
Nas referências a seguir foram analisados dois abrigos (tópico conecta os seus visitantes e usuários a natureza através de diversas
4.1 e 4.2) em países e culturas diferentes, mas que ainda assim técnicas arquitetônicas e elementos.
possuem programas de necessidades muito próximos: propiciar
bem-estar psicológico e fornecer abrigo a mulheres em situações de
violência ou extrema pobreza. Ambos possuem um jardim como o
núcleo do edifício, no qual estão os espaços de circulação e as
esquadrias também são voltados para o mesmo, utilizando-se da
natureza e dos espaços abertos para tirar dos abrigados a sensação
de confinamento e propiciar assim uma interação espontânea entre
os mesmos. Os programas de necessidades são muito similares, mas
o contexto social da referência 4.2 (em meio aos grandes índices de
violência a mulher em Israel) torna necessário que o refúgio também
agregue os filhos das mulheres no programa e, dessa forma, também
se torna necessário pensar nos espaços para os mesmos.

38
3. 1 ABRIGO PARA MULHERES VÍTIMAS DE
VIOLÊNCIA NO MÉXICO
• Arquitetos: ORIGIN 19º41’53’’N
• Arquitetos responsáveis: Omar González Pérez Hugo González Pérez
• Local: Uruapan – Estado de Michoacán, México
• Ano: 2017
• Área: 1.226m²

Os arquitetos citam um ambiente que segue conceitos da


espiritualidade ecumênica¹, ou seja, um espaço que une pessoas de
diferentes religiões, diferentes crenças e ideias para um único objetivo.
Utiliza-se da psicologia aliado a elementos arquitetônicos para Figura 08: Hall de entrada do abrigo para mulheres- México. .
Fonte: ArchDaily, 2018.
proporcionar diferentes experiências, como podemos ver no hall de
entrada (figura 08) que se utiliza do contraste entre cor clara e cor
escura e iluminação para propiciar um momento de recolhimento
silencioso, sem nenhuma informação extra que possa captar a atenção
do indivíduo, como um momento de entendimento e reflexão, que leva
o usuário a enxergar “a luz no fim do túnel” (ARCHDAILY, 2018).
A arquitetura é introspectiva, sem excesso de elementos visuais e
voltada ao jardim que fica no núcleo da edificação. O objetivo é que a
discrição privilegie a relação dos usuários com a natureza (figura 09) –
reduzindo o sentimento de isolamento da mulher e dos filhos
(ARCHDAILY, 2018).
___________________________________________________.
Figura 09: pátio interno do abrigo para Mulheres- México.
¹ ECUMÊNICO: que congrega pessoas de diferentes credos ou ideologias. Fonte: ArchDaily, 2018.
OXFORD LANGUAGES, 2021. 39
A arquitetura é minimalista
e agrega materiais aparentes
como é o caso do concreto, que
está presente nas paredes e teto-
sendo possível ver a marcação das
formas e as juntas de dilatação
(figuras 10, 11 e 12)-, piso em
cimento polido, parede de
tijolinho maciço, grandes
aberturas em vidro. Também faz
Figura 10: paredes em concreto aparente, abrigo para Mulheres - México, uso de tons sóbrios como cinza, Figura 12: fachada do abrigo para
Fonte: ArchDaily, 2018. mulheres- México.
preto e mostarda. Fonte: ArchDaily, 2018.

A edificação de apenas um pavimento é composta por 03 vãos


ortogonais e dispostos paralelamente entre si, divididos por um jardim.
Os mesmos são interligados por linhas diagonais também paralelas
entre si, que acompanham o mesmo ângulo do limite da fachada norte
do terreno, como sinalizado na figura 13 em vermelho. Dessa forma, os
volumes se encontram e geram fluidez no espaço, possibilitando
caminhos diferentes e estimulando a interação espontânea entre os
usuários e/ou com a natureza. Os arquitetos citam esse fluxo entre as
diagonais como um “itinerário circulatório que serve de condutor
espiritual para seus habitantes” e mencionam que manter a natureza no

Figura 11: abrigo para Mulheres, paredes de tijolinho e esquadrias em vidro, núcleo da edificação faz com que esta se torne uma moldura do vazio
abrigo para Mulheres- México.
Fonte: ArchDaily, 2018.
e não um espaço de contenção (ARCHDAILY, 2018).

40
LEGENDA
1. Acesso
2. Cabine de segurança
3. Estacionamento
4. Acesso Principal/espaço
sensorial
5. Sanitários
6. Dormitórios
7. Área de banho
8. Espaço para ampliação
9. Uso múltiplo
10. Trabalho social
11. Área de espera
12. Administração
13. Cozinha
14. Consultório médico
15. Consultório psicológico
16. Lavanderia
17. Serviço

Figura 13: Planta baixa, abrigo para Mulheres- México.


Fonte: ArchDaily, 2018. Adaptado pela autora, 2021.

ACESSOS SETORIZAÇÃO CIRCULAÇÃO


Área social e circulação
Consultórios de apoio Circulação interna – funcionários
Pedestre Alojamentos
e abrigados
Administrativo Jardins
Veículos
Serviços Circulação externa- funcionários
Estacionamento
41
3. 2 ABRIGO PARA VITIMAS DE VIOLÊNCIA
DOMÉSTICA EM ISRAEL
• Arquitetos: Amos Goldreich Arquitecture, Jacobs Yaniv
Architects
• Local: Tel Aviv-Yafo, Israel
• Ano: 2018
• Cliente: Not To Violence, grupo internacional liderado pela
pioneira dos direitos humanos Ruth Rasnic.

Segundo estatísticas, 45% das mulheres e crianças que vivem em


Israel sofrerão violência doméstica em algum momento de suas vidas. Figura 14: fachada do abrigo para vitimas- Israel.
Fonte: ArchDaily, 2018.
Por isso, o objetivo do edifício é fornecer refúgio e abrigo para
mulheres e crianças que estão em situação de violência, abuso ou
dificuldades. Quando chega ao abrigo, cada família recebe uma
acomodação que é citada como sua “pequena casa”, com o objetivo de
permitir que as famílias mantenham sua rotina e tarefas cotidianas
(ARCHDAILY, 2018).
O arquiteto faz analogia a uma obra do artista Eduardo Chillida,
no qual ele projeta escavar uma montanha: por fora, pedra rustica; por
dentro, pedra lisa e delicada. Dessa referência surgiu o conceito
principal do edifício: enquanto a uma fachada externa é segura e
protetora (figura 14), temos a fachada interna voltada para o jardim
central, funcionando como o “coração terapêutico do abrigo” (figura
15) (ARCHDAILY, 2018). Figura 15: jardim central do abrigo para vitimas- Israel.
Fonte: ArchDaily, 2018.
42
O pátio interno funciona como ponto de encontro
entre os moradores, além de criar uma circulação aberta que
permite conexões visuais das mães com seus filhos e
também dos funcionários com as famílias, estimulando a
interação entre os mesmos. Na figura 16 podemos observar
as portas dos quartos das famílias, com sofás nos corredores
voltados ao jardim, como se fosse uma “vista para o quintal”
das famílias ali abrigadas (ARCHDAILY, 2018).
A volumetria do edifício é minimalista e conta com
poucas cores e materiais (figuras 17 e 18), entre eles os
tijolinhos a vista brancos, serralheria preta, vidro translúcido e
Figura 16: jardim e espaço de circulação do abrigo para vitimas- Israel.
piso de cimento polido. Aplicações variadas do tijolinho Fonte: ArchDaily, 2018.
maciço criam texturas diferentes na parte externa do edifício.
O refúgio possui 02 pavimentos e é setorizado entre
áreas de acomodações da família e do outro lado, separados
pelo jardim central, estão as áreas comuns que incorporam
salas de uso múltiplo, berçários, copa, consultórios, entre
outros (figura 19). No segundo pavimento, está locada a
parte administrativa do abrigo, como também mostra a
figura 19. Figura 18: aplicação dos
materiais do edifício.
Fonte: ArchDaily, 2018.

Figura 17: volumetria e materiais do abrigo para vitimas- Israel.


Fonte: ArchDaily, 2018. Adaptado pela autora, 2021.
43
LEGENDA
1. Refeitório
2. Área de TV
3. Cozinha
4. Abastecimento/
despensa
5. Cômodo da
família
6. Dormitório
individual
7. Despensa
8. Banheiro
9. Escritório
10. Berçário
11. Parque infantil
12. Sala de aula
13. Conselheiro
14. Pátio
15. Sala de reunião

Figura 19: plantas baixas do pavimento térreo e superior, abrigo para vitimas- Israel.
Fonte: ArchDaily, 2018. Adaptado pela autora, 2021.

ACESSOS SETORIZAÇÃO CIRCULAÇÃO

Abrigados Salas de apoio Área social e circulação Circulação interna – funcionários

Administrativo e abrigados
Cômodo da familia
Funcionários
Serviços Jardins Circulação externa- funcionários
44
44
3. 3 PARQUE EDUCATIVO RAÍCES

• Arquitetos: Taller Piloto Colômbia


• Arquitetos responsáveis: Juan M. B. Arias, Alexandra B. Bejarano, Fabio
A. P. Panameno
• Local: El Peñol- Guatapé, departamento de Antioquia, Colômbia
• Ano: 2015
• Área: 653m²

O objetivo dos arquitetos foi criar um edifício que tivesse


identidade e apropriação, fortalecendo a ideia principal de um espaço
Figura 20: localização Parque Educativo Raíces.
público, construindo a memória e a identidade da comunidade e Fonte: Ambientes Digital, 2021.

remodelando a paisagem do território no qual ele se encontra (figura 20)


(ARCHDAILY, 2017).
A localização do edifício é uma transição entre o espaço urbano e
rural, por isso a paisagem é citada como a “matéria prima da construção
espacial”, demandando vazios que possibilitam aos usuários aproveitarem
o contraste entre luz e sombra, ar e vegetações enquanto usufruem das
atividades oferecidas pelos espaços pedagógicos (ARCHDAILY, 2017).
Os visitantes são recebidos através de uma praça que se torna um
mirante de Guatapé graças a sua topografia elevada, como pode ser
observado na figura 21 (ARCHDAILY, 2017).

Figura 21: vista da praça de recepção, Parque Educativo Raíces.


Fonte: ArchDaily, 2017.
45
Figura 22: Maquete eletrônica, projeto do Parque Educativo Raíces.
Fonte: ArchDaily, 2017. 46
O edifício é dividido em dois blocos que se ligam através dos
espaços livres cobertos e do pátio Jardim, permitindo aos usuários
diferentes trajetos que proporcionam encontros inesperados entre os
usuários do espaço e apreciação da natureza que circunda o local
(figura 23), criando vazios planejados que são de extrema importância
social para espaços públicos, pois além de dar espaço a apropriação
cultural do espaço, também cede lugar a outros serviços que atendem
a comunidade, como é o exemplo da figura 24, onde é possível ver
tendas instaladas para a vacinação de cães e gatos da comunidade
(ARCHDAILY, 2017).
Figura 23: Patio Jardim, Parque Educativo Raíces.
Os dois blocos são setorizados entre espaços públicos- que
Fonte: ArchDaily, 2017.
recebem os visitantes na praça e no pátio jardim-, semiprivados- que
englobam duas salas de formação, uma sala de oficina e um espaço
multiuso- e privados-que englobam a parte de administração e
técnica do edifício.
A fácil circulação entre os espaços permite que a setorização
fique bastante clara ao usuário, guiando-o espontaneamente através
dos espaços públicos e pedagógicos e deixando acessos mais
discretos aos espaços privados, como é possível observar na figura 25.

Figura 24: vacinação de cães e gatos no Parque Educativo Raíces.


Fonte: Disponibilizado em Google Maps por Dial Pase, 2020.
47
LEGENDA
1. Praça
2. Pátio Jardim
3. Salas de
formação
4. Oficina
5. Salas Multiuso
6. Banheiros
7. Salas técnicas
8. Administração

Figura 25: Planta baixa, Parque Educativo Raíces.


Fonte: ArchDaily, 2017. Adaptado pela autora, 2021.

SETORIZAÇÃO CIRCULAÇÃO
Espaços Públicos Espaços Semiprivados Espaços privados
Acesso principal Circulação pública
Jardins Espaços pedagógicos Administrativo
Perímetro do terreno Circulação apenas funcionários
Circulação externa Área social e circulação

48
48
Figura 26: Jardim interno, Parque Educativo Raíces. Figura 27: Fachada voltada a orientação norte, Parque Educativo Raíces.
Fonte: ArchDaily, 2017. Fonte: ArchDaily, 2017.

Além do pátio e da praça, também existem pequenos espaços As fachadas das salas pedagógicas estão voltadas para a
de jardim entre as salas, criando um espaço um pouco mais isolado posição solar norte, por isso foi necessário adotar uma estratégia que
das praças públicas, mas que permite os usuários estarem em diminuísse a incidência solar e proporcionasse maior conforto térmico
contato com a natureza. Os tijolos maciços dispostos de maneiras as mesmas, visto que é a fachada com maior fluxo de luz direta. Para
diferentes de modo a formar um vão entre eles, agregando na isso, foram utilizadas marquises e as paredes avançam lateralmente,
estética das fachadas do edifício, mas principalmente tornando a protegendo as salas da insolação. Também foram instaladas janelas
fachada permeável, o que permite que a luz e a ventilação adentrem mais altas com persianas horizontais que permitem a ventilação
os espaços internos e que o usuário consiga contemplar vislumbres mesmo quando as portas de vidro estão fechadas, contribuindo para o
da paisagem externa. (figura 26). conforto térmico e ventilação natural (figura 27).

49
3. 4 SÍNTESE DAS REFERÊNCIAS ANALISADAS

As referências projetuais colaboraram para o entendimento dos • Uso de materiais aplicados em sua aparência natural: serralheria,
espaços e, destaca-se assim algumas diretrizes que se repetem nos três vidros translúcidos, concreto aparente e tijolos maciços dispostos
projetos estudados: de diversas maneiras de forma a criar texturas diferentes. O pouco
• Arquitetura introspectiva, na qual a fachada volta-se ao interior da contraste entre piso, parede e teto gera sensação de amplitude no
edificação, como é o caso dos jardins setorizados no centro do ambiente e o uso de esquadrias em vidro integra a circulação dos
edifício, garantindo a segurança e a privacidade das abrigadas, além espaços aos jardins, permitindo interações espontâneas e
de diminuir a sensação de “confinamento” a partir da contemplação inesperadas.
da natureza e céu aberto. A permeabilidade visual também aparece Cada referência projetual possui suas particularidades, ainda
nos três projetos estudados, seja por paredes vazadas, seja por que dentro do mesmo tema, como é o caso dos dois abrigos
esquadrias em vidro que permitem ao usuário do espaço maior estudados. Não pode ser ignorado o fato de que em cada projeto os
campo de visão. arquitetos pensaram em propiciar uma melhor experiência dentro da
• Visto que os abrigados podem passar a maior parte do seu dia realidade dos usuários daquele espaço e dos recursos disponíveis,
dentro do espaço, a setorização é fundamental para propiciar a não ficando isentos da cultura e dos hábitos ali existentes, até mesmo
sensação de rotina- como acontece na referencia 4.2, onde o da própria vivência dos autores. Por isso, não foi possível identificar
berçário fica isolado dos cômodos familiares de modo que, por aspectos negativos nos projetos, mas sim o fato de que eles se
exemplo, que a mãe consiga deixar o filho aos seus cuidados e volte complementam e possuem programas de necessidades diferentes. O
ao seu trabalho como aconteceria em uma rotina normal. objetivo de analisar duas referências de abrigos com um parque
Proporcionar bem-estar aos abrigados é essencial para que os educativo é unir diferentes os programas de modo a oferecer um
mesmos não retornem as situações de vulnerabilidade por se programa de necessidades ainda mais completo ao abrigo que será
sentirem desconfortáveis no espaço em que vivem, visto que a proposto a seguir, dentro da realidade vivida pela mulher brasileira
interação com pessoas desconhecidas já não costuma ser algo na cidade de Indaiatuba.
convidativo.

50
04. VISITA TÉCNICA
E DEPOIMENTOS

51
4.1 A COMUNIDADE FAROL

Fundada em 2006, a Comunidade Farol nasceu com o objetivo de As pessoas em situação de rua são abordadas pela equipe do CREAS
resgatar cidadãos em condição de rua, que se encontram em situação e são encaminhadas para o CAPS-AD, onde ficam sob observação e
de vulnerabilidade, abandono e exclusão social. O Programa surgiu com são feitos exames clínicos básicos na prevenção e tratamento de
o propósito de garantir os mínimos sociais, fazendo as intervenções e doenças. Depois da alta médica, a pessoa é encaminhada para a Sede
intermediações necessárias para prover o direito de cidadania e da Comunidade Farol e posteriormente a unidade indicada- devido à
ressocialização. Contando com o apoio de uma rede de colaboradores e complexidade das diferentes realidades vividas por pessoas em
da assistência social do município de Indaiatuba, o acolhimento deu situação de rua a Comunidade decidiu acolher homens e mulheres em
início a um processo de restauração dos valores -comportamentais, espaços separados (FAROL, 2021).
morais e espirituais- adotando como filosofia de atendimento o A Comunidade é composta pelas seguintes unidades:
fortalecimento das relações sociais e familiares (FAROL, 2021).  Unidade Masculina – acolhe apenas homens em situação de rua,
tem capacidade para 84 vagas; (FAROL, 2021)
“A Proposta da comunidade é esta, quando esses
 Unidade Feminina – espaço dedicado a mulheres em situação de
irmãos chegam na casa nosso desejo é oferecer a
vulnerabilidade social, tem capacidade para 12 vagas; (FAROL,
oportunidade de mudança de vida”. ELTON
2021).
LOPES- fundador da Comunidade Farol
 República Comunidade Farol- tem como finalidade a
ressocialização dos acolhidos após sua permanência e
recuperação – não informa o número de vagas (FAROL, 2021).
De acordo com a psicóloga responsável pela unidade feminina, em
maio de 2021 a unidade masculina atendia cerca de 80 homens,
enquanto a unidade feminina abrigava 9 mulheres (CONSTANZI,
2021).

52
4.2 COMUNIDADE FAROL – UNIDADE FEMININA

Cristina Constanzi é psicóloga, tem especialização em anos porque depois já se enquadram em cuidados específicos com
relacionamentos abusivos e violência doméstica e atualmente trabalha idosos. A Comunidade não possui infraestrutura para acolher crianças,
na unidade feminina pelas manhãs. Algumas informações a seguir são por isso, em caso de mulheres com filhos, a mulher é acolhida e
registros do depoimento concebido pela mesma, e foram essenciais encaminhada até a unidade feminina, enquanto o(s) filho(s) é
para melhor entendimento sobre o funcionamento, rotina e até encaminhado para o ABID até que o problema da mulher seja
mesmo sobre as dificuldades enfrentadas no caminho da resolvido, mas nunca com intenção de separar a família (CONSTANZI,
ressocialização das mulheres atendidas pela Comunidade Farol. 2021).
Constanzi explica que a unidade feminina funciona como um Quando questionada sobre os desafios da administração da
dos membros da Comunidade Farol e que age em parceria com o unidade feminina, Constanzi explica que a maior dificuldade que elas
CAPS AD e o CREAS, que são os órgãos responsáveis pelo enfrentam com as atendidas que chegam ao abrigo é relacionado a
encaminhamento das mulheres atendidas até a unidade. Os fundos da saúde: “Porque normalmente elas vêm bastante exaustas da rua, as
Comunidade Farol são provenientes de doações e da parceria com a vezes com doença. Você não conhece a pessoa ainda para saber
Prefeitura de Indaiatuba e os órgãos municipais citados anteriormente. como ela se manifesta em termos de sintomas”. Também possuem
Atualmente a unidade feminina possui 6 funcionárias, sendo duas dificuldade com a parte de alimentação das atendidas- o ideal seria
monitoras que se revezam durante o dia, duas monitoras a noite, a uma nutricionista que fizesse um cardápio ou dieta balanceada para
psicóloga e a assistente social (CONSTANZI, 2021). cada atendida, visto a singularidade do estado de saúde de cada uma.
A partir do ano de 2020, além dos exames clínicos básicos, as Quanto a mobilidade, Constanzi explica o desafio que é ter apenas 02
mulheres também passaram a realizar o teste de COVID antes de “combis” para realizar o transporte de 80 homens (unidade masculina)
serem encaminhadas até a casa que abriga o grupo feminino, pois e das 12 mulheres (unidade feminina) –a distância entre a
quando chegam já ficam em seus alojamentos junto com as outras. As Comunidade Farol masculina e a UPA mais próxima, por exemplo, é
atendidas não possuem um tempo especifico para permanecerem de aproximadamente 15km, o que levaria cerca de 30 minutos apenas
abrigadas, mas só podem permanecer na casa até completarem 60 para levar um dos atendidos. Além disso, conta que as atendidas

53
chegam até o abrigo acanhadas, com medo de contar a verdade pois quando vão até a UBS- mas que estão trabalhando para voltar a essa
normalmente elas possuem um passado muito forte, que já carregam integração aos poucos (CONSTANZI, 2021)
desde a infância – rejeição na família, perca de entes queridos, abusos, A administração da casa entende que a mulher atendida está
drogas, entre outros. Apesar dos traumas que carregam consigo, caminhando rumo a ressocialização quando ela passa a assumir as
Constanzi relata que o convívio social entre as atendidas tem sido responsabilidades e atitudes dela- já que uma das características é
calmo, mas que já passaram por períodos de tensão pois as mulheres sempre colocar a culpa no outro por estar na rua ou por ter usado
com gênios fortes tendem a “acender a fagulha das outras” drogas, por exemplo-, além de se tornarem mais pró ativas com o
(CONSTANZI, 2021). passar do tempo, assumindo algumas tarefas da casa por conta
Enquanto estão na Comunidade farol, as atendidas são própria (CONSTANZI, 2021).
incentivadas a ter maior autonomia nos afazeres da casa: limpar,
cozinhar e arrumar fica por conta delas. A administração estabelece um
cronograma e explica que não é simplesmente “fazer por fazer”, mas
que as atendidas tenham consciência de que um dia serão as únicas
responsáveis por si mesmas, por isso a importância de estabelecer
tarefas. Para que elas consigam viver em sociedade, é necessário
seguir ou pelo menos entender e ter consciência das regras que são
estabelecidas. Antes da pandemia causada pelo COVID (2020), a
unidade feminina abria suas portas aos familiares das atendidas – o
que precisou ser vetado para proteger as abrigadas da contaminação.
Além das visitas, as mulheres também tinham outros eventos como
oficina de artesanato, brechó e dias de beleza (figura 28), onde
voluntários se dispunham a colaborar com a comunidade. Constanzi
relata que os eventos anteriores à pandemia fazem bastante falta as
Figura 28: Dia de beleza na Unidade Feminina da Comunidade Farol
atendidas- que hoje em dia só veem outras pessoas pelo telefone ou Fonte: Facebook Comunidade Farol, 2020

54
4.3 VISITA TÉCNICA: COMUNIDADE FAROL – UNIDADE FEMININA

A partir da visita presencial ao local foi possível entender a


dinâmica e as dificuldades que o espaço proporciona. O local que acolhe
as mulheres era uma casa já existente previamente, na qual foram feitas
apenas pequenas adaptações para atender ao abrigo. Uma das principais
dificuldades percebidas- a qual foi apontada também no depoimento da
psicóloga responsável-, foi o fato de ser uma casa assobradada. Dessa
forma, criou-se uma barreira entre a parte administrativa e a parte social
do abrigo, o que é ruim pois as responsáveis precisam estar sempre
vigilantes com os comportamentos das atendidas e também porque
Figura 29: Pavimento térreo da unidade feminina da Comunidade Farol.
algumas delas apresentam dificuldade na locomoção devido a problemas Fonte: Elaborado pela autora, 2021.
de saúde.
Nas figuras 29 e 30 é possível compreender a setorização da casa
e seus acessos principais em cada um dos pavimentos. No pavimento
térreo, temos em roxo a área de convívio composta pela cozinha, sala de
jantar e sala de tv. Em marrom, temos a lavanderia que tem uma porta
que dá acesso aos fundos do terreno. Em rosa, temos os alojamentos das
atendidas, com 04 camas sendo 01 delas beliche (05 espaços para
dormir) em cada quarto e cada qual com o seu banheiro. No pavimento
superior, temos a parte administrativa destacada em azul sendo a sala da Figura 30: Pavimento superior da unidade feminina da Comunidade Farol.
Fonte: Elaborado pela autora, 2021.
assistente e da psicóloga (que trabalham em horários diferentes no
abrigo), um banheiro e outra sala que acomoda a parte de enfermaria e Área de convívio Alojamentos Acesso e saída
do pavimento
despensa de produtos de higiene, limpeza e peças de roupas Área de serviço Admnistração
provenientes de doação.
55
Figura 31: Unidade Feminina, Comunidade Farol. Figura 32: Fachada da Unidade Feminina, Comunidade Farol.
Fonte: Indaiatuba, 2020 Fonte: Google Maps, 2021

Sobre um abrigo ideal, Constanzi menciona que seria uma casa se exercitar. Fora dos aspectos relacionados a arquitetura, relata que
térrea, com maior número de quartos e cada qual com seu banheiro e seria interessante a possibilidade de abrir a casa para estagiários de
um pequeno espaço para as atendidas guardarem seus pertences. A diversas áreas -como psicologia, nutrição, assistência social, educação
área comum deveria ser maior, de modo que acolhesse todas as física. Também sugeriu que algum especialista cedesse instruções
atendidas para sentar para conversar e assistir TV, por exemplo – o básicas sobre economia doméstica. Constanzi afirma que como
que não acontece com as dimensões atuais da casa. A cozinha e a Indaiatuba ainda é uma cidade relativamente pequena, essa interação
lavanderia deveriam ser mais equipadas e o espaço verde poderia com a sociedade não se torna tão distante e que seria benéfica para
servir como um local para plantar. Ela sugere ainda a aquisição de ambas as partes envolvidas (CONSTANZI, 2021).
alguns equipamentos de ginástica, para que as atendidas pudessem
55
4.4 DEPOIMENTO: MULHER ATENDIDA PELA COMUNIDADE FAROL

Uma das atendidas (que não pode ser identificada) pela em entender e aceitar certos comportamentos que são comuns ao ser
Comunidade Farol aceitou conversar um pouco mais sobre a sua humano. Contou também que estar no abrigo lhe permitiu “evoluir a
experiência no abrigo. Ela relatou que veio até a cidade de Indaiatuba mente”, onde conseguiu começar a criar suas artes a partir do
em busca de emprego, - convidada por um amigo que morava em artesanato e do crochê, o que a permitiu ocupar a cabeça e ter mais
Santos, cidade que até então residia- pois com a pandemia do calma para seguir a vida em companhia as outras atendidas
COVID-19 os quiosques foram fechados e ela ficou sem emprego e, (ATENDIDA, 2021).
além disso, tinha uma convivência difícil morando junto com a sua Quando questionada sobre quais melhorias considera
filha. Porém, quando chegou em Indaiatuba, o amigo não conseguiu importante à unidade feminina, diz que as outras atendidas também
abrigo na casa dos familiares e os dois ficaram dormindo por 04 dias precisam se encontrar em algum trabalho para ocupar a mente delas.
na rua, até que ela soube do CREAS através de outra pessoa em Sugere profissionais de artesanato, corte e costura ou até mesmo
situação de rua e decidiu procurar o órgão para tomar um banho. cursos relacionados a beleza (ATENDIDA, 2021).
No CREAS, questionou sobre algum lugar que pudesse dormir, A partir do depoimentos colhido ficou evidente a importância
pois nunca morou na rua e não conseguia dormir de medo, além de que as unidades de acolhimento e abrigo para pessoas em situação de
ter problemas de saúde relacionados a baixa imunidade. Dessa forma, rua ou vulnerabilidade social exercem sob a sociedade. Como é
foi encaminhada até a unidade feminina da Comunidade Farol, na qual metaforizado pelo Farol, o abrigo se torna uma luz em meio a
relata que foi muito bem acolhida pelas monitoras, mas que ficou com escuridão na qual essas pessoas se encontram antes de serem
medo por ser levada a um local distante do centro urbano (ATENDIDA, acolhidas.
2021).
A atendida se descreve como irritada e impaciente, diz que a
maior dificuldade dela é ela mesma, o sono leve (vulnerável a qualquer
barulho) e explica que precisa de ajuda psiquiátrica para conseguir
lidar com os hábitos das outras pessoas, pois sente muita dificuldade

57
05. SOBRE A
LOCALIZAÇÃO

58
5.1. O MUNICIPIO DE INDAIATUBA

O município de Indaiatuba localiza-se no interior do Estado de


BRASIL
São Paulo e está a uma distância de 103km da capital paulista,
pertencendo a microrregião e Região Administrativa e Metropolitana de
Campinas, como representa a figura 33 (INDAIATUBA, 2019).
Em meados dos anos 80, o arquiteto e Urbanista Ruy Ohtake
propôs um traçado que iria nortear a expansão urbana da cidade a
partir do Parque Ecológico (figura 34), ligando os bairros da zona norte
a zona sul, sendo este a paisagem urbana mais marcante e um dos
principais atrativos de Indaiatuba (INDAIATUBA, 2019).
SÃO PAULO
A cidade tem crescido significativamente nos seus últimos 10
anos, passando de uma população de 201.619 pessoas- segundo dados
do IBGE em 2010- para 256.223 pessoas estimadas no censo de 2020.
Um dos fatores que levam a essa expansão populacional é a
proximidade de Indaiatuba com o Aeroporto Internacional de Viracopos,
REGIÃO METROPOLITANA
ligando-a aos mais importantes centros econômicos. Além disso, a DE CAMPINAS

cidade tem ocupado os primeiros lugares nos principais rankings de


diferentes categorias, se destacando sobre a qualidade de vida,
educação, segurança e também em geração de emprego, o que atrai
ainda mais atenção de investidores e futuros moradores, que migram INDAIATUBA

para a cidade em busca de mais qualidade de vida e emprego


(INDAIATUBA, 2019).

Figura 33: Localização geográfica da cidade de Indaiatuba.


Fonte: Autora, 2021.
59
Figura 34: cidade de Indaiatuba
Fonte: Foto Eliandro Figueira Ric/Divulgação Prefeitura de Indaiatuba

60
5.2 ANÁLISE DO ENTORNO DO TERRENO PONTOS DE INTERESSE
A escolha do terreno teve como diretriz encontrar um ponto
estratégico da cidade, visto que o abrigo pode acolher mulheres que tenham
necessidade de ir até o trabalho, crianças que vão precisar retornar à escola,
ir ao médico, etc. O objetivo é que o abrigo vá aos poucos reinserindo a
mulher e os filhos de volta a sua vida cotidiana, sem deixar de zelar pela
segurança dos mesmos e, por isso, a proximidade com a Delegacia de Polícia
do Município e Delegacia da Mulher-conforme indicado na imagem XX- foi
um fator muito relevante na escolha do terreno, visto que a delegacia será
um dos meios de encaminhar as mulheres ao Abrigo e que será necessário
ao município prover segurança e rondas extras nos arredores do mesmo.
Outros fatores considerados foram: o fácil acesso as vias arteriais que levam
aos principais bairros da cidade; a proximidade com o centro comercial e
seus hospitais e equipamentos públicos. Além disso, a facilidade de acesso
ao transporte público e ciclovias também são fatores importantes visto que
tanto os funcionários do abrigo quanto as abrigadas em processo de
reinserção social poderão usufruir destes meios de transportes.
A interação do abrigo com equipamentos públicos e institucionais –
conforme indicados na figura 35- permite a promoção de atividades extras Figura 35: Localização geográfica da cidade de
Indaiatuba. Fonte: MapsStyle, editado pela autora, 2021.
como por exemplo palestras, passeios culturais, etc. Cada local do entorno
do abrigo exerce papel relevante para a qualidade de vida das mulheres e Terreno Institucional e Equipamentos públicos
sua ressocialização: empregando, cuidando da segurança e da saúde,
Hospital Comércios
fornecendo insumos, entre outros.
Delegacia geral de policia |
Pontos de ônibus Delegacia de defesa da mulher

61
PONTOS DE INTERESSE

As imagens de XX a XX pontuam alguns dos pontos de


interesse mais próximos ao abrigo, reforçando a importância de uma

Figura 37
localização que favoreça o equilíbrio entre os diversos usos –
Figura 36
01. Hospital Augusto de Oliveira comercial, moradia, serviços – e proporcionando assim maior
04. Museu Ferroviário | prédios
Camargo | atendimento preservados de uma antiga qualidade de vida aos envolvidos.
pronto-socorro para sus e estação ferroviária
conveniados

Figura 39 Figura 40 Figura 41


Figura 38

02. Praça Nelson de Almeida 05. Igreja N. Srª da Candelária e 07. Casa da Memória José Luiz 09. Supermercado Dia
Rodrigues | feira noturnas Praça Leonor de B. Camargo | Sigrist | abriga o acervo da antiga
acontecem as sextas-feiras patrimônio histórico da cidade. Biblioteca Municipal Rui Barbosa

Figura 42 Figura 43 Figura 44 Figura 45

03. Centro de Convenções Aydil 06. Caixa Econômica Federal 08. Delegacia Geral de Policia e 10. Shopping Ponto Azul |
Pinesi Bonachella | Espaço Delegacia de Defesa da Mulher espaço de comércio popular,
utilizado para oficinas culturais, composto por 56 “boxes”
reuniões, apresenta-ções e Figuras 36 a 45. Locais do entorno.
Fonte: Google Maps, 2019.
exposições.
62
MAPA DE USO E OCUPAÇÃO DO SOLO MAPA DE GABARITO

Na figura 46 é possível observar que o uso do entorno é bastante Através da figura 47 foi possível observar que edificações com no
variado e agrega praticamente todos os tipos de uso. Predominam máximo 02 pavimentos são predominantes no entorno e também é
comerciais e residenciais. possível mapear alguns lotes ociosos próximos ao terreno escolhido.

200 m 200 m

Figura 46: Uso e ocupação do solo. Figura 47: Mapa de Gabarito.


Fonte: MapsStyle, editado pela autora, 2021. Fonte: MapsStyle, editado pela autora, 2021.

Terreno Residencial Hospital Terreno 02 ou mais


Áreas verdes/praças
pavimentos
Comercial Equipamentos públicos Sem uso Sem uso 01 a 02 pavimentos
e Institucionais
63
ACESSOS E VIAS

Nas imagens 48 e 49 é possível identificar as principais vias


arteriais e coletoras que estão próximas ao terreno escolhido, facilitando
o acesso aos principais eixos de atividades de comércio, serviços e
também industrial, contribuindo dessa forma para a reinserção social dos
abrigados e também servindo de incentivo ao uso do transporte público
tanto destes quanto aos funcionários.

Figura 48: Localização geográfica da cidade de Indaiatuba.


Fonte: MapsStyle, editado pela autora, 2021.

LEGENDA

Via de acesso Centro-terreno Via de acesso terreno-Centro


Figura 49: Hierarquia e sentido das vias.
Via de acesso terreno- Av. Engenheiro Fábio Roberto Barnabé (Parque Fonte: MapsStyle, editado pela autora, 2021.
Ecológico)
Terreno Vias coletoras Sentido da via
Via de acesso terreno – Av. Francisco de Paula Leite; Cecap; Distrito
Industrial; Jardim Morada do Sol Vias locais Vias arteriais
Terreno
64
5.3 ANÁLISE DO TERRENO

O terreno escolhido para o projeto está localizado no bairro


Jardim Pompeia em Indaiatuba-SP. Na figura 50 podemos observar à
direita do terreno a rua Augusto de Oliveira Camargo, que dá acesso
a Rua das Primaveras que, por sua vez, faz a ligação do terreno com
as demais vias de acesso da cidade- como observado anteriormente

290m
na figuras 48 e 49.
Considerando a Rua das primaveras como vista frontal, aos
fundos temos o Museu Ferroviário e à direita temos o Centro de
Convenções Aydil Pinesi Bonachella. Em frente ao terreno, temos a
praça Nelson de Almeida Rodrigues, que serve como espaço para
feirantes e também estacionamento nos dias vagos e também uma
pequena praça com um lago.

Figura 51: levantamento topográfico do terreno e entorno.


Fonte: Global Mapper, editado pela autora, 2021.

O terreno tem cerca de 10.600m2 e topografia levemente


acidentada, somando aproximadamente 11 metros de declive ao longo
de 290m- foi traçada uma linha de referência nas extremidades do
terreno, entre as duas ruas que o circundam, conforme indicado em
vermelho na figura 51. Entre a sua maior curva de nível mais alta e a
sua curva de nível mais baixa, o terreno apresenta uma inclinação
aproximada de 3,79%.
Figura 50: Localização do terreno escolhido.
Fonte: MapsStyle, editado pela autora, 2021.
65
LEVANTAMENTO FOTOGRÁFICO

A partir do estudo no local do terreno foi possível observar o fluxo de


pessoas e veículos no local, arborização e demais vegetações, relações da
topografia e gabarito dos edifícios vizinhos com o terreno e até mesmo a
orientação solar. O terreno nunca teve uso, tem pouca circulação de pedestres
no local e sua via principal tem um fluxo rápido e constante de veículos.
Devido a necessidade de segurança e muros em um abrigo para mulheres que
muitas vezes correm até mesmo perigo de vida, também foi analisado um local
que causasse menor impacto no entorno, visto que as dimensões desse
Figura 52: Terreno. terreno possibilitam recuos maiores e também uso de fachada ativa.
Fonte: Acervo próprio, 2021.

Figura 53: Vista da rua das primaveras. Figura 54: Fundo do terreno. Figura 55: Terreno, vista da Rua Augusto de O. Camargo .
Fonte: Acervo próprio, 2021. Fonte: Acervo próprio, 2021. Fonte: Acervo próprio, 2021.

66
VEGETAÇÃO

O terreno possui árvores de grande, médio e pequeno porte,


entre elas identificadas em sua maioria Magiferas, Bananeiras, uma
palmeira e outras árvores de pequeno porte. As árvores de grande porte
estão localizadas praticamente no perímetro do terreno e as árvores de
menor porte localizadas mais próximas ao perímetro da Rua das
Primaveras. Foi identificada também vegetação rasteira e algumas
trepadeiras no alambrado (figuras 56, 57 e 58).

Figura 56: Vegetações de grande porte ao fundo do terreno, vista da Rua das
Primaveras
Fonte: Google Earth, 2021. Editado pela autora,2021

Figura 58: Mapa de vegetação existente.


Fonte:Google Earth, 2021. Editado pela autora,2021

Árvores de porte grande

Árvores de porte médio

Árvores de porte pequeno


Figura 57: Vegetações de pequeno porte, vista da Rua das Primaveras
Fonte: Google Earth, 2021. Editado pela autora,2021
67
INSOLAÇÃO E VENTILAÇÃO

O estudo da insolação e ventilação são fundamentais para que


sejam estabelecidas premissas e projetuais e arquitetônicas embasadas
em dados do local, visto que um projeto pensado adequadamente torna-
se mais viável financeiramente a curto e longo prazo, proporcionando
maior conforto térmico e até mesmo deixando o ambiente mais salubre
aos que habitam.
Como podemos observar na figura 59, Indaiatuba possui o clima
quente e temperado, com temperatura média de 20,9º, sendo Agosto e
Outubro os meses de maior variação térmica.

Figura 60: Rosa dos Ventos de Indaiatuba


Fonte: Meteoblue, acessado em 10/04/2021.

A partir da análise da Rosa dos Ventos de Indaiatuba (figura 60)


compreende-se que os ventos predominantes da cidade são de
Sudeste para Noroeste, e a escala de cor representa quantas horas por
ano o vento sopra na direção indicada.

“A tarefa da arquitetura é permitir que a humanidade


viva em harmonia com a natureza”
– Frei Otto

Figura 59: Temperatura e precipitações médias.


Fonte: Meteoblue, 2021.
68
Figura 61: orientação solar e ventos predominantes.
Fonte: Acervo próprio, 2021.

O gráfico abaixo (figura 61) gera uma média mensal de dias A orientação solar (figura 63) fica bastante evidente ao final da
ensolarados, parcialmente nublados (até 20% de cobertura de nuvens) e tarde– como podemos observar na figura 61, fotografia tirada por volta
dias nublados. Além disso, cria uma média de dias de precipitação por das 17 horas do dia 03/04/2021.
mês. Meses mais chuvosos acumulam dias mais nublados e meses
menos chuvosos tem dias mais ensolarados.

Sol

Parcialmente
nublado

Nublado

Dias de
precipitação

Figura 63: orientação solar e ventos predominantes.


Figura 62: Céu nublado, sol e dias de precipitação. Fonte: Global Mapper, editado pela autora, 2021.
Fonte: Meteoblue, 2021.
69
5.5 LEGISLAÇÃO

Conforme a Lei Complementar Nº10 de 22 de Outubro de 2010,


que estabelece o uso e ocupação do solo na área urbana de Indaiatuba, a
área adotada para a implementação do projeto está contido na área
denominada como ZC-01 – que abrange a área de Comércio Varejista e
Serviços de Âmbito Local e as seguintes subcategorias: serviços
profissionais e de negócios; serviços pessoais e domiciares; comércio e
serviços de gêneros alimentícios e comércio varejista (figura 64). Quanto
as características de uso, temos as seguintes diretrizes:

• Zona de Uso: ZC- Zona Central


• Categorias de uso permitidas: R1; R2; C1/01/02/03/04;
C2/01/02/03/04/05; C3/01/02/03/05/06/10; E1/01/02/03;
E2/01/02/03/04/06 Figura 64: fragmento do mapa de descrições dos perímetros das zonas
de uso na área urbana. Fonte: LUOS Indaiatuba,
• Características do lote:
Área mínima (m²): 500m² A Lei Complementar Nº 09 de 22 de outubro de 2010, que

Frente mínima (m): 10m dispõe sobre o Plano Diretor do Município de Indaiatuba, Art. 75, uma

• Recuos mínimos: das diretrizes relativas ao bem estar social é a consolidação de

Frente: 5m programas de apoio as crianças, adolescentes, mulheres, idosos,

Lateral: 1,5m deficientes físicos e mentais e também integrar a população de menor

Fundos: não determinado renda ao mercado de trabalho e a educação. Contudo, o plano diretor

• Coeficiente de Aproveitamento: 4 não cita nenhuma estratégia específica que vise a implantação de um

• Taxa de ocupação: 0,70 abrigo ou casa de acolhimento para mulheres e também não faz

• Vagas de garagem/estacionamento: 1 por unidade residencial ou 1 a observações ao tema (INDAIATUBA, 2010).

cada 60m² construídos.


70
Sobre os índices urbanísticos, temos as seguintes áreas aplicadas
ao terreno:
• Área do terreno: 10.879m²;
• Área do terreno considerando os recuos estipulados: 9.308,4m²;
• Taxa de ocupação aplicada: 7.615,3 m² que podem ser construídos no
pavimento térreo (figura 65);
• Coeficiente de Aproveitamento aplicada: totaliza 43.516m² de
construção que poderiam ser distribuídos entre 6 pavimentos para
não ultrapassar a taxa de ocupação estipulada (figura 66).

Figura 66: Aplicação do coeficiente de aproveitamento.


Fonte: Gerado pela autora, 2021.

TAXA DE OCUPAÇÃO = 0,70

RECUOS: 5 metros frontais e 1,5 metros laterais

Devido à demanda de área do programa de necessidades não


ser alta a ponto de ocupar todo o terreno, será estudada a melhor
possibilidade de desmembramento, visto que é uma possibilidade
permitida pela Prefeitura de Indaiatuba desde que siga a área mínima
Figura 65: Aplicação da taxa de ocupação. de 500m² e a frente mínima de 10 metros (INDAIATUBA, 2010).
Fonte: Gerado pela autora, 2021.
71
06.
CONSIDERAÇÕES
FINAIS

72
A partir dos estudos realizados foi possível compreender quão “evolução da mente”, ao mesmo tempo proporcione eventos de modo
enraizada está a desigualdade de gênero na história da nossa a preencher o tempo vago com aprendizados que podem resultar até
sociedade. O patriarcado e o capitalismo reduziram a mulher ao papel mesmo em uma futura escolha profissional.
de dona de casa ou aos serviços secundários e menos valorizados no Infelizmente, o meio de enfrentamento proposto por uma Casa-
âmbito profissional. Em pleno século XXI, o machismo estrutural está Abrigo não se apresenta como uma solução para toda a problemática
presente dentro das empresas, dos lares e nas ruas, onde a mulher que o tema envolve, mas sim como um meio de intervenção e ajuda
constantemente é submetida a violências que vão desde o assédio até que é capaz de prover meios e instruções para a recuperação,
o abuso sexual e feminicídio. profissionalização, construção da independência e ressocialização da
Desde a violência doméstica até a situação de rua, mulheres em mulher, visando que a mesma saia do abrigo empoderada e com a
situação de vulnerabilidade social precisam ser amparadas pelo Estado auto estima recuperada.
ou município. As construções de Casas Abrigo auxiliam de modo a
prover segurança e necessidades básicas para que tenham uma vida
digna enquanto são capazes de se recuperar do trauma vivido.
Constanzi (2021) menciona em seu depoimento a importância de unir a
arquitetura à psicologia de modo que o ambiente transmita alegria e
bem-estar para quem o habita. Nas referências projetuais também foi
possível identificar a maneira como os arquitetos utilizaram a
integração constante com a natureza, os materiais em suas formas
naturais e poucas informações visuais, com o objetivo de criar uma
reconexão do indivíduo com o seu interior e suas crenças. Como
descrito pela atendida da Comunidade Farol em seu depoimento, é
necessário que o local seja acolhedor e abra espaço para uma

73
07. REFERÊNCIAS
BIBLIOGRÁFICAS

74
AMBIENTES DIGITAL. Parque Educativo Raíces, 2021. Disponível em: <https://ambientesdigital.com/parque-educativo-raices-taller-piloto-
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book. Disponível em: < https://livraria.camara.leg.br >. Acessado em 02/04/2021.

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ARCHDAILY. REFUGIO PARA MUJERES VÍCTIMAS DE LA VIOLENCIA / ORIGEN 19º41' 53" N" 03 DIC 2018. Plataforma Arquitectura. Disponível em
<https://www.plataformaarquitectura.cl/cl/907075/refugio-para-mujeres-victimas-de-la-violencia-origen-19o41-53-n> ISSN 0719-8914>.
Acessado em 23/04/2021.

ATENDIDA, não identificada. Depoimento com moradora sobre morar na Comunidade Farol. Depoimento coletado via conversa presencial, no
dia 18 de maio de 2021. Depoimento não disponível para divulgação.

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Campinas, SP. Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de Enfermagem, 2017.

BEAUVOIR, S. O Segundo Sexo Vol 2: A Experiência Vivida, Difusão Européia do Livro, 1967.

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75
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76
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G1 Globo. Indaiatuba tem maior alta populacional de habitantes entre cidades mais populosas de Campinas. Ano de 2019. Disponível em <
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populosas-da-regiao-de-campinas>. Acessado em 20/05/2021.

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Petrópolis, Vozes, 1796.

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