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AO JUÍZO DA _____ VARA DE FAMÍLIA DE BRASÍLIA/DF

IRIENE BEZERRA DOS SANTOS, brasileira, divorciada, secretária, nascida em


4/3/1983, em Brasília/DF, portadora do RG de nº 2.126.430 SSP/DF e inscrita sob o CPF
de nº 003.640.181-19, filha de Antônio Trajano dos Santos e Nazareth Bezerra dos
Santos, residente e domiciliada na Quadra 7, conjunto F, lote 1, unidade 101,
Varjão/Lago Norte – Brasília/DF, CEP 71.540-400, telefone (61) 99161.8711(whatsapp),
e-mail: iriene.dos.santos@gmail.com, vem, por intermédio da Defensoria Pública do
Distrito Federal, por ser economicamente hipossuficiente, requerer a presente

AÇÃO DE MODIFICAÇÃO DE GUARDA

do filho VINICIUS SANTOS DE OLIVEIRA, brasileiro, menor impúbere, nascido em


4/10/2005, atualmente com 17 (dezessete) anos de idade, portador do RG de
nº63.713150-2 SSP/SP, inscrito sob o CPF de nº 533.883.508-84, natural de Barueri/SP,
filho de Orlando Gomes de Oliveira e Iriene dos Santos de Oliveira, assistido neste ato
por sua genitora.

Em face de Orlando Gomes de Oliveira, brasileiro, divorciado, empresário, portador do


RG de nº 33.805.795-X, inscrito sob o CPF de nº desconhecido, filho de Manoel Gomes
de Oliveira e Maria da Conceição Gomes de Oliveira, com o endereço comercial na
Avenida Cesário de Abreu nº 220, loja 6B, Centro, Galeria Novais, Itapevi/SP, telefone
(11) 94985.0528 (whatsapp), e-mail: desconhecido, pelos fatos e fundamentos jurídicos a
seguir exposto.

I - DOS FATOS:

A Requerente é mãe do menor, conforme certidão de nascimento anexa.


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Os genitores do menor mantiveram um relacionamento conjugal por cerca de 10


(dez) anos e estão separados de fato desde o ano de 2011, oportunidade em que a
progenitora, juntamente com seus quatro filhos, passaram a residir no Distrito Federal,
deixando o estado de São Paulo.
Em verdade, desde o momento em que o divórcio fora formalizado, no dia 4 de
junho de 2013, a genitora obteve a guarda unilateral dos filhos oriundos do matrimônio,
restando ao progenitor apenas o direito à visitação, exercido em oportunidades esparsas.
Quanto aos valores relativos aos alimentos dos menores, o progenitor
constantemente se negava a realizar os pagamentos, nos termos da determinação judicial,
cumprindo com sua obrigação conforme seu capricho, sem qualquer respeito às
necessidades de seus filhos.
O referido cenário se manteve até o ano de 2019, momento em que o filho mais
velho do casal, mediante consenso familiar, foi instruído a habitar com o pai, por
acreditar sua mãe que tal oportunidade seria significativa ao adequado desenvolvimento
de seu filho, mantendo-o, dessa forma, afastado de companhias indesejadas. Destarte,
chagaram os pais a um acordo, e por fim, formalizaram a alteração da modalidade da
guarda.
Isto posto, no ano de 2021, ingressou a progenitora com uma Ação de
Modificação de Guarda com pedido de Regulamentação de Vistas, processo de nº
0736376-89.2021.8.07.0016, em face do Sr. Orlando, a fim de regularizar a situação do
menor que já habitava com o pai, bem como o direito de visitas aos demais filhos pelo
requerido.
Com efeito, restou definido que a guarda do menor Vinicius seria compartilhada
entre os genitores, devendo o lar paterno ser eleito como referência.
No entanto, tendo em vista o constante monitoramento por parte do genitor das
tentativas de contato do menor com sua progenitora, não lhe era oportunizado verbalizar
os abusos e sofrimentos a que era submetido em sua antiga residência.
Ora, é de conhecimento geral que o Sr. Orlando, na constância do casamento com
a mãe de seus filhos, ostentava comportamento agressivo e abusivo com sua família, em
especial com sua esposa. Isto porque, nos moldes do padrão comportamental de
relacionamentos dessa natureza, submeteu seus familiares a diversos episódios de
agressão verbal, desrespeito e ameaças, subjugando-os.

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Com efeito, o supracitado padrão de comportamento não se alterou ao longo dos


anos, uma vez que até a presente data, em cada oportunidade em que a progenitora tenta
estabelecer contato com o pai de seus filhos, a fim de regularizarem as questões
referentes aos menores, encontra dificuldade em estabelecer um diálogo, pois é
constrangida e desrespeitada reiteradamente.
Contudo, apesar do histórico desequilibrado e agressivo do genitor, a progenitora
jamais imaginara que as circunstâncias se agravariam do modo como os fatos se deram,
pois acreditava que diante da necessidade do menor, o pai o acolheria devidamente. Não
obstante, com o transcorrer dos anos, foi revelado à mãe os abusos psicológicos e físicos
aos quais seu filho era submetido, como ameaças de que seria abandonado ao um abrigo
qualquer na cidade de São Paulo, sem qualquer amparo familiar, bem como agressões
físicas.
Isto posto, para sua surpresa, na data do último dia 31 de agosto, recebeu a
progenitora, para sua surpresa, uma ligação de uma mulher desconhecida, mãe de um
colega de escola do menor, informando que seu filho havia sido vítima de agressão física
por parte do pai, tendo sido acolhido por essa família, recebendo abrigo e cuidados.
Ademais, foi informada de que seu filho estava bastante machucado, pois havia
levado socos no estômago, rins e barriga, arranhões no rosto e pescoço, todos decorrentes
da ação paterna.
Diante desse cenário de horror, intentou a mãe estabelecer contato telefônico com
o genitor de seu filho, solicitando o retorno imediato do adolescente ao Distrito Federal,
bem como a restituição da guarda. O que lhe foi negado, recebendo como resposta que
procurasse auxílio judiciário, pois inexistia possibilidade de acordo.
Destarte, em medida desesperada, contatou a genitora diretamente seu filho,
enviando as instruções necessárias, juntamente com o bilhete de passagem, o orientando
a retornar à Brasília, com o único objetivo de resguardar sua integridade física e mental.
Ato contínuo, tão logo desembarcou na Capital, foi o menor, acompanhado por
sua genitora, a 9ª Delegacia de Polícia, localizada na QI 3/5, Área Especial - Lago Norte,
formalizar sua denúncia, registrando boletim de ocorrência de nº 1299/2022 com a
descrição das agressões sofridas.
Outrossim, importa salientar que desde o retorno do menor ao convívio materno,
não lhe foi oportunizado frequentar uma instituição de ensino, ainda que consista em um
direito básico, pois seu genitor se nega a disponibilizar o histórico escolar do adolescente,

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o que obsta a efetiva matrícula em qualquer escola sediada no Distrito Federal, uma vez
que se trata de um requisito indispensável.
Em verdade, tanto a potencial nova escola do menor, quanto sua progenitora, já
tentaram estabelecer contato com o Sr. Orlando, por inúmeras vezes, sem qualquer
sucesso, visto que o pai se nega em colaborar com o devido desenvolvimento de seu
filho.
Isto posto, mediante os fatos acima narrados, a Autora procura obter a guarda
unilateral do filho, pois ostenta melhores condições para cuidar e proteger o menor,
formalizando, desse modo, a situação fática existente.
Por fim, importa ressaltar que, no ano de 2021 ingressou a Sra. Iriene Bezerra dos
Santos em face do Sr. Orlando Gomes de Oliveira com ação de modificação de guarda do
filho Vinicius, bem como de regulamentação de visitas relativa aos demais menores.

II - DA GUARDA:

Em vista dos fatos narrados, e em decorrência dos evidentes conflitos dos


genitores, em especial decorrentes do tratamento imposto pelo pai ao filho menor, a
Autora pleiteia pela guarda na modalidade UNILATERAL, com o único objetivo de
garantir a qualidade de vida e de subsistência do adolescente, em condições minimamente
dignas.
Além do mais, importa ressaltar, que o menor já se encontra sob a supervisão
materna, habitando com sua mãe e irmãos. Destarte, a presente demanda objetiva a
regulamentação da situação fática existente e consolidada.

III – DA REGULAMENTAÇÃO DE VISITAS/TEMPO DE CONVIVÊNCIA


PATERNO:

A Autora deseja que a visita seja regulamentada da seguinte forma:


1) O genitor poderá ter o filho, aos finais de semana, em que estiver na cidade de
Brasília, pegando-o às sextas-feiras a partir das 18h e devolvendo-o aos domingos
até às 18h, na casa de sua progenitora; e
2) Nos anos pares, na primeira metade das férias escolares de fim de ano passará o
menor na companhia paterna (apenas enquanto o genitor estiver no Distrito

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Federal, não lhe conferindo poderes de se deslocar, juntamente com o menor, a


qualquer outro Município e/ou Estado) sendo o restante na companhia materna,
nos anos ímpares, alternando a ordem nos anos subsequentes;

IV - DO DIREITO:

É salutar para toda criança conviver em um ambiente familiar harmônico e


saudável, devendo ser resguardada de qualquer exposição incompatível com a infância,
bem como de todo o tipo de risco e exploração, sendo mandamento constitucional a
seguridade pela família, pelo Estado e pela sociedade da dignidade, do respeito e da
proteção contra qualquer forma de negligência, discriminação, exploração, violência,
crueldade e opressão.
Destarte, o artigo 227 da Constituição Federal dispõe a respeito de direitos da
criança e do adolescente que devem preservados e observados:

Art. 227. É dever da família, da sociedade e do Estado assegurar


à criança e ao adolescente, com absoluta prioridade, o direito à
vida, à saúde, à alimentação, à educação, ao lazer, à
profissionalização, à cultura, à dignidade, ao respeito, à
liberdade e à convivência familiar e comunitária, além de
colocá-los a salvo de toda forma de negligência, discriminação,
exploração, violência, crueldade e opressão.

Com efeito, consiste em mandamento fundamental e indiscutível a garantia à


criança e ao adolescente de condições dignas de sobrevivência, em um ambiente familiar
equilibrado, o seu pleno e consentâneo desenvolvimento, suficiente a oferecer um
presente e futuro íntegros a formação humana.
Nesta esteira, disciplina a Lei de nº 8.069/90, Estatuto da Criança e do
Adolescente que:

Art. 15. A criança e o adolescente têm direito à liberdade, ao


respeito e à dignidade como pessoas humanas em processo de
desenvolvimento e como sujeitos de direitos civis, humanos e
sociais garantidos na Constituição e nas leis.

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Por conseguinte a criança e adolescente ostentam direitos humanos básicos,


previstos em lei, que lhes garantem a salvaguarda de prerrogativas que asseverem o seu
crescimento e desenvolvimento de forma a proporcionar a estes, benesses mínimas,
compatíveis a condição humana, como liberdade, educação e saúde.
É incontestável, ademais, que tais garantias subsistam em um ambiente em que
impera a violência, a estupidez e a insensatez. Ora, não há como o desenvolvimento do
menor, minimamente nos termos da lei, ser garantido em uma conjuntura de selvageria e
desrespeito no núcleo familiar, exatamente onde a criança e o adolescente deveriam se
sentir seguros e suportados.
Neste sentido, dispõe o ECA que:

Art. 17. O direito ao respeito consiste na inviolabilidade da


integridade física, psíquica e moral da criança e do adolescente,
abrangendo a preservação da imagem, da identidade, da
autonomia, dos valores, ideias e crenças, dos espaços e dos
objetos pessoais.

Sem dúvidas, para que um ambiente de respeito e de valorização dos indivíduos


que compõem o núcleo familiar subsista, é essencial um papel colaborativo, consciente e
respeitoso do progenitor, indivíduo garantidor da preservação dos princípios legais, não
sendo razoável que colabore para a construção de um cenário de tristeza, sofrimento e
dor.
O ECA, mais uma vez, em seu artigo 18, afirma que se trata de um dever de
todos, como sociedade, velar pela garantia da dignidade da criança e do adolescente. In
verbis:

Art. 18. É dever de todos velar pela dignidade da criança e do


adolescente, pondo-os a salvo de qualquer tratamento desumano,
violento, aterrorizante, vexatório ou constrangedor.

Com efeito, é incontestável o direito do menor de ser educado e cuidado com a


devida valorização e preservação de sua dignidade como indivíduo.

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Art. 18-A. A criança e o adolescente têm o direito de ser


educados e cuidados sem o uso de castigo físico ou de tratamento
cruel ou degradante, como formas de correção, disciplina,
educação ou qualquer outro pretexto, pelos pais, pelos
integrantes da família ampliada, pelos responsáveis, pelos
agentes públicos executores de medidas socioeducativas ou por
qualquer pessoas encarregada de cuidar deles, tratá-los, educá-
los ou protegê-los.
Parágrafo único. Para os fins desta Lei, considera-se:
I - castigo físico; ação de natureza disciplinar ou punitiva
aplicada com o uso da força física sobre a criança e o
adolescente que resulte em:
a) sofrimento físico; ou
b) lesão;
II – tratamento cruel ou degradante: conduta ou forma cruel de
tratamento em relação à criança ou o adolescente que:
a) humilhe; ou
b) ameace gravemente; ou
c) ridicularize.

Ademais, em alusão ao Código Civil, em especial ao seu artigo 1.584,


conjuntamente com o ECA em seu artigo 35, encontramos a menção de que a guarda do
menor deverá ser concedida a quem revelar melhores condições para exercê-la:

Art. 1584. A guarda, unilateral ou compartilhada, poderá ser:


§5º. Se o juiz verificar que o filho não deve permanecer sob a
guarda do pai ou da mãe, deferirá a guarda a pessoa que revele
compatibilidade com a natureza da medida, considerados, de
preferência, o grau de parentesco e as relações de afinidade e
afetividade.

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Art.35. A guarda poderá ser revogada a qualquer tempo,


mediante ato judicial fundamentado, ouvido o Ministério
Público.

É indiscutível, portanto, o direito da progenitora, ainda que em desfavor ao


genitor, de proteger o menor dos abusos a que tem sido submetido, a fim de lhe garantir
um crescimento e desenvolvimento adequado, mediante o instrumento da guarda na
modalidade Unilateral.
Nestes termos, conforme entendimento jusrisprudencial:

CIVIL. FAMÍLIA. AÇÃO DE GUARDA E


RESPONSABILIDADE. GUARDA UNILATERAL COM A
GENITORA. AMBIENTE FAVORÁVEL AO
DESENVOLVIMENTO DO INFANTE. PRINCÍPIO DO
MELHOR INTERESSE DA CRIANÇA ATENDIDO. 1. A
guarda dos filhos poderá ser unilateral, se atribuída a um só
dos genitores ou a alguém que o substitua, ou compartilhada,
quando se imputa a ambos os pais a responsabilização
conjunta e o exercício dos direitos e deveres concernentes ao
poder familiar. A escolha por uma ou outra, seja por ato
consensual, seja por determinação judicial, observará o
melhor interesse do menor. 2. Consoante as provas
carreadas nos autos, verifica-se que a criança está com a
genitora, possui vínculo afetivo com ela e cresce em
ambiente favorável ao seu desenvolvimento intelectual,
moral, material e afetivo. 3. Guarda unilateral concedida à
mãe da criança. 4. Recurso conhecido e desprovido.
Sentença mantida.
(TJ-DF 20140910264275 - Segredo de Justiça 0026008-
30.2014.8.07.0009, Relator: SILVA LEMOS, Data de
Julgamento: 30/11/2016, 5ª TURMA CÍVEL, Data de
Publicação: Publicado no DJE : 01/02/2017 . Pág.: 617/624)
DIREITO CIVIL. AÇÃO DE MODIFICAÇÃO DE GUARDA.
CRIANÇA E ADOLESCENTE. ALIENAÇÃO PARENTAL.
AUSÊNCIA. GENITORA COM MELHORES
CONDIÇÕES. PROTEÇÃO INTEGRAL. GUARDA
UNILATERAL. DIREITO DE INTERESSE SUPERIOR
DA MENOR. I. A guarda unilateral será atribuída ao
genitor que revelar melhores condições para exercê-la e
mais aptidão para propiciar afeto, saúde, segurança e
educação (Art. 1.583, § 2º, do Código Civil), levando-se em
conta a proteção integral e o interesse superior da criança
ou do adolescente. II. Uma vez decretada, a guarda pode ser
revista a qualquer tempo. Contudo, a modificação da

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situação fática na vida dos menores deve ser medida


excepcional, sendo possível apenas quando plenamente
comprovados motivos relevantes. III. Não caracterizada a
síndrome de alienação parental e demonstrada a convivência
harmoniosa da filha com a genitora há mais de nove anos,
bem como a existência de outras condições favoráveis,
recomenda-se a manutenção da guarda unilateral exercida
pela apelada, por representar medida que melhor atende ao
interesse da menor. IV. Negou-se provimento ao recurso.
(TJ-DF - APC: 20111110057218, Relator: JOSÉ DIVINO
DE OLIVEIRA, Data de Julgamento: 04/02/2015, 6ª Turma
Cível, Data de Publicação: Publicado no DJE : 10/02/2015 .
Pág.: 287)

RECLAMAÇÃO CRIMINAL RECEBIDA COMO AGRAVO


DE INSTRUMENTO. FUNGIBILIDADE RECURSAL.
MEDIDAS PROTETIVAS. CARÁTER CÍVEL. PERDA
PARCIAL DO OBJETO. AUSÊNCIA DE INTERESSE.
CONTEXTO DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA E FAMILIAR
CONTRA A MULHER. COMPETÊNCIA DO JUIZADO
ESPECIALIZADO. MÉRITO. GUARDA UNILATERAL.
CABIMENTO. DECISÃO MANTIDA. 1. Diante da discussão
doutrinária e jurisprudencial acerca do instrumento
processual cabível para impugnar decisões proferidas pelo
Juizado Especial de Violência Doméstica e Familiar contra a
Mulher ao deferir medidas protetivas com caráter cível, é o
caso de aplicação do Princípio da Fungibilidade para
conhecimento da Reclamação Criminal nesta Turma Cível
como recurso de Agravo de Instrumento, após declinação da
Turma Criminal respectiva. 2. Diante do caráter
multifacetado das relações humanas e considerando o
imbricado de relações jurídicas afetadas pela situação de
violência, é inconteste que o Juizado Especializado de
Violência Doméstica e Familiar contra Mulher possui
competência híbrida: tanto criminal, quanto cível, inclusive
para discutir questões afetas à prole quando presente o
contexto de violência familiar contra a genitora. 3. Seguindo
a diretriz estampada no artigo 227 da Constituição Federal,
todo e qualquer litígio envolvendo a guarda de filho menor
ou incapaz deve ser solucionado sempre no interesse deste,
sendo imperioso lhe assegurar um convívio social digno e
favorável ao seu desenvolvimento. 3.1 Além do contexto
familiar de violência contra a genitora dos menores, resta
evidentemente ausente o requisito da convivência
harmônica entre os genitores, fato que inviabiliza o diálogo
saudável esperado no cotidiano das guardas
compartilhadas, sendo o caso de fixação da guarda
unilateral provisória em face da genitora. 4. Reclamação

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Criminal recebida como Agravo de Instrumento. Recurso


parcialmente conhecido e, na parte conhecida, não provido.
(TJ-DF 07208908320198070000 DF 0720890-
83.2019.8.07.0000, Relator: EUSTÁQUIO DE CASTRO,
Data de Julgamento: 29/10/2020, 8ª Turma Cível, Data de
Publicação: Publicado no PJe : 13/11/2020 . Pág.: Sem
Página Cadastrada.)

Em verdade, não há que se falar em garantias de qualquer natureza,


concedidas aos genitores, para a prática da agressão dos mesmos contra os filhos,
sob o pretexto de correção.

CONFLITO NEGATIVO DE COMPETÊNCIA. VIOLÊNCIA


DOMÉSTICA. MAUS-TRATOS. AGRESSÃO DE PAI
CONTRA FILHO. A lesão corporal praticada por mãe e
padrasto contra filho, na intenção de educar e corrigir a
desobediência, se amolda à descrição do delito de maus-
tratos, previsto no art. 136, caput, do Código Penal, e não
ao tipo penal de violência doméstica previsto no artigo 129,
§ 9º do mesmo diploma legal. CONFLITO DE
COMPETÊNCIA JULGADO IMPROCEDENTE.
(TJ-GO - CC: 899673220118090006 ANAPOLIS, Relator:
DES. ITANEY FRANCISCO CAMPOS, Data de Julgamento:
06/11/2013, SECAO CRIMINAL, Data de Publicação: DJ
1436 de 28/11/2013)

Com efeito, o que se pretende por meio desta é única e exclusivamente

garantir ao menor um desenvolvimento físico e mental saudável, com o devido respeito a

sua individualidade bem como aos seus direitos, garantidos por lei, que resguardam seu

crescimento em um ambiente familiar propício e digno.

V - DA TUTELA DE URGÊNCIA:

A tutela de urgência será concedida quando houver elementos que

evidenciem a probabilidade do direito e o perigo de dano ou o risco ao resultado útil

do processo, nos termos do artigo 300 do CPC.

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A concessão da tutela de urgência para deferimento da GUARDA

PROVISÓRIA do menor na MODALIDADE UNILATERAL, se revela essencial

levando em consideração os fatos narrados, tendo em vista que o menor, até a presente

data, se encontra impossibilitado de frequentar as aulas, restando prejudicado em seu

desenvolvimento de forma irracional por seu genitor.

VI - DOS PEDIDOS:

Ante o exposto, requer a Autora:

a) o benefício da justiça gratuita, nos termos do artigo 98 do CPC;


b) a intimação do Ilustre membro do Ministério Público;
c) a concessão da tutela de urgência, modificando a modalidade de guarda atual e
conferindo a autora a guarda judicial do menor, na modalidade unilateral, com
regulamentação de visitas paternas, na acima proposta;
d) a citação do Réu, para apresentar defesa no prazo legal, sob pena de revelia;
e) a procedência do pedido de modificação da guarda, concedendo-se guarda judicial
do menor, na modalidade unilateral, com regulamentação de visitas paternas,
da forma acima proposta, confirmando-se a tutela de urgência;
f) a condenação do Réu ao pagamento das custas processuais e honorários
advocatícios a serem revertidos em favor do Fundo de Apoio ao Aparelhamento
da Defensoria Pública do Distrito Federal – PRODEF – (art. 3º, da Lei
Complementar Distrital nº 908/2016), que deverão ser depositados no Banco do
Brasil S.A., Agência 4200-5, Conta 6830-6, PRODEF, CNPJ 09.396.049/0001-
80.

Protesta por provar o alegado por todos os meios de prova em direito admitidos,
notadamente pelo depoimento pessoal da requerente.

Dá-se a causa o valor de R$ 1.212,00 (um mil duzentos e doze reais).

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Nestes termos, pede deferimento.

Brasília, 11 de outubro de 2022.

_____________________________________________
VINICIUS SANTOS DE OLIVEIRA
Requerente

_____________________________________________
IRIENE BEZERRA DOS SANTOS
Genitora

_____________________________________________
STÉFANO BORGES PEDROSO
Defensor Público do Distrito Federal

_____________________________________________
CAROLLINE NAYARA RODRIGUES MATOS
Advogada Colaboradora DPDF

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