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A Casa Da Baratinha

Vivia a Baratinha numa casa muito pequenina, no canto de uma sala de uma casa muito
grande. A casinha era muito lindinha. Não havia separação tudo
estava no mesmo espaço.
Por exemplo, a caminha dela estava num cantinho, era uma tampa
de vidro toda forradinha de folhinhas de papel, que às vezes ela
mordiscava a noite toda e, pela manhã, não tinha mais papel na
caminha.
Tinha uma mesinha que era feita de uma caixinha de fósforo e em
cima dela havia um vasinho de danoninho.
O tapetinho do chão era um pedacinho de pano todo pintadinho. A
cozinha era muito limpinha. Não tinha fogão, pois a mamãe da
Baratinha tinha lhe ensinado que era perigoso ter fogo por perto e mexer em fogão, então, nem
pensar. Explicou sobre um tal gás que sai e que ela morreria sem ar.
Sendo assim tinha um armário para guardar sua comida. Este armário foi feito com palitos
de sorvetes e tinha boas prateleiras. O banheiro era todo forrado de jornal.
A Baratinha era muito vaidosa e estava querendo um guarda-roupa para colocar em seu
quarto e guardar suas roupas. Sendo assim, todo dia saia em busca de alguma coisa para sua
casinha. Um dia viu os brinquedos guardados no porão e pensou:
- Ah, é lá que vou achar meu guarda-roupa.
Andou por tudo e finalmente encontrou o que procurava. Ficou muito contente com seu
achado, um armário que tinha sido de uma bonequinha. Voltou para casa, pois já estava
ficando tarde, tinha ficado muito tempo fora.
Na manhã seguinte, resolveu ir buscar o tal armário. Saiu devargazinho de sua casa como
sempre fazia, pois tinha medo de ser vista e pega.
Conseguiu chegar até o porão e foi até o seu achado. Resolveu que iria abri-lo, pois não o
tinha visto muito bem no dia anterior. Assim o fez. Que surpresa! Estava cheio de roupinhas
lindas.
Era mais do que esperava, ficou mais contente ainda. Resolveu que levaria uma a uma para
sua casa e por último o armário. Ah, o armário! Como faria? Era pesado!
- Não vou pensar nisto agora. – disse.
E levou todas as roupinhas para sua casa. Depois de todo este trabalho faltava ainda o
armário. Tentou de todas as maneiras, mas percebeu que sozinha não conseguiria levá-lo. Que
fazer agora?
- Preciso de ajuda ou ficarei sem o armário.
Assim sendo ficou muitos dias sem saber o que fazer. Sentada em sua casinha, muito
pensativa, viu quando a vizinha dela, dona Formiga, passou várias vezes carregando alguma
coisa.
- É um trabalho cansativo – pensou.
Mas devagar e sempre ela vai levando tudo para sua toca. Levantou-se e foi até o porão.
Olhou bem para o armário de todos os lados, e finalmente teve uma idéia.
Tirou as gavetas, uma por uma, e foi levando-as devagar. Voltou e deitou o armário que
ficou mais leve sem as gavetas e sem as tabuas de dentro, todo dia arrastava um pouquinho
mais.
Ficava tão cansada que às vezes dormia no chão mesmo. Finalmente conseguiu levá-lo
todo. Montou e arrumou todas as suas roupinhas dentro dele. Suspirou feliz porque conseguiu
fazer o que queria resolvendo tudo sem se aborrecer e por ela mesma.
- É assim mesmo - pensava já sentadinha em seu quarto -, quando você quer alguma coisa
tem que lutar por ela, ter paciência e devagar vai conseguindo tudo.
A pressa e a falta de paciência impede você de pensar e achar um meio de resolver o que
está a sua frente. Devagar e sempre se chega aonde se quer. Podemos receber ajuda, mas
nem sempre as pessoas estão disponíveis, pois cada uma tem a sua casinha para cuidar.
Que tal, vamos dar uma volta na casa da Baratinha para ver como ficou?

( Marlene B. Cerviglieri )
O Casamento da Vassoura

Ali guardadinha estava a vassoura num cantinho do armário.


Às vezes a tiravam do lugar e dançava muito pela casa ou quintal, ficando até tonta de tanto ir
pra lá e pra cá.
Mas depois ficava no cantinho até tristonha mesmo.
Um dia, porém, ouviu uma vozinha que a chamava: dona Vassoura
 Oh dona vassoura esta me ouvindo?
Sou eu a dona Pazinha aqui do outro lado.
Sim estou ouvindo, disse a Vassoura até meio assustada!
Tenho um recado para a senhora do senhor Rodo.
De quem?
É do senhor Rodo.
Ele mandou lhe dizer que gostaria de casar com a senhora!
- O que devo responder a ele?Disse a Vassoura, pega de surpresa.
Eu casar com o senhor Rodo?
É sim, pense e depois me dê à resposta, é só me chamar.
Dona Vassoura ficou inquieta, pensou...
Sozinha aqui. Pelo menos vou ter um companheiro, nada tenho a perder, até que ele é bem
simpático, pois já o vi algumas vezes brincando na água.
Mais tarde, a noitinha, dona Vassoura chamou dona Pazinha e disse-lhe:
Bem diga a ele que aceito, mas como será? O que amos fazer?
Não se preocupe nos vamos arranjar tudo para o casamento.
E assim foi.

Fizeram primeiro a lista dos padrinhos e convidados.


Ouça dona Vassoura, os padrinhos de seu casamento serão: o senhor Balde e eu, as
daminhas serão as Flanelinhas que estão todas felizes pelo evento.
-O senhor papel higiênico ficou de enfeitá-la e fará uma grinalda bem linda, ele prometeu.
-O ambiente será todo perfumado, pois os Senhores Desinfetantes se incubirão de fazê-lo. No
mais, todos os outros moradores deste armário vão contribuir; os senhores Panos de Chão os
Tapetes, até o Sr Desentupidor irá colaborar.
-Pelo jeito já esta tudo combinado, não é mesmo dona Pazinha?
-É sim, vamos marcar para a próxima noite, certo?
-Sim, combinado.
A noite veio e o casamento foi realizado com muita simplicidade, dona vassoura toda enfeitada
e o noivo Senhor Rodo, com a ajuda do Senhor Pano de Chão estava muito bem enrolado.
Os convidados estavam felizes e a festa foi até de madrugada.
No dia seguinte, quando foi aberto o armário,ele estava tão diferente!
-O que aconteceu aqui? Pensou a dona da casa...
A vassoura toda enfeitada de papel higiênico, o rodo fora do lugar...
Fechou a porta do armário e esqueceu o assunto, mas que era estranho era...
Lá dentro os convidados começavam acordar da festa de ontem, ou seja, do casamento da
Vassoura...

MBC
revisada
Marlene Cerviglieri

Brincadeiras de Ontem

Brincadeiras de Ontem

    Marlene B. Cerviglieri

Cresci brincando em quintais muito grandes e mesmo na rua que sempre era em frente de
nossas casas.
Digo nossas casas, pois meus amigos partilhavam desta brincadeira toda.
Naquele tempo se podia empinar pipa no campinho, não havia fios elétricos para enroscarmos
a linha.
O tal de Cerol nem se ouvia falar.
Eram brincadeiras divertidas e inocentes.
Também jogávamos saquinho na calçada.
Eram mesmo saquinhos de panos recheados de milho ou feijão.
Como nos divertíamos coma figurinhas jogando a bafo.
O que era bafo? Bater nelas com a mão em forma de concha, quem ganhava era aquele que
conseguia vira-las ao contrario.
No meio da rua se jogava barrabol e muitas vezes vôlei também.
Sem rede sem nada.
Já muitas meninas preferiam brincar de casinha.
Tinham tudo que precisava o fogãozinho as panelinhas e os bebes que eram as bonecas com
suas caminhas.
Lembro-me que havia até um joguinho de chã, com xícaras e pires eram uma gracinha mesmo.
Saladas mil se faziam com as plantas dos jardins, montavam-se tijolos formando salas e
cadeiras, tampas de pasta de dente eram vasinhos...
Bem, agora é que começa a pequena historinha que tenho para vocês!
-Certa tarde as meninas se reuniram no jardim da casa de uma delas.
Iam brincar com todas as panelinhas e fogãozinhos que tinham.
Montaram as casinhas separando-as com blocos de tijolo, aqueles bem vermelhinhos não os
de cimento.
Foi quando Zequinha chamou os amigos e disse:
-Ei amigos vamos dar um susto nas meninas?
É claro que todos concordaram...
E assim foi.
Foram para o campinho em frente lá na rua, e começaram a procurar por tatus.
Sabe, tatu bolinha, aquele bicho que quando você encosta ele vira uma bolinha!
É, faz isto para se proteger.
Outros cavaram a procura de minhocas
Colocaram tudo num pedaço de jornal e lá se foram para o lado das meninas.
-Oi, gostaríamos de brincar com vocês também.
Elas aceitaram e eles sentaram no chão junto a elas.
Disse Zeca:
Vamos ajudá-las com o almoço, podemos?
Ah não sei não pensou Renatinha meio desconfiada.
Porque não jogam saquinhos disse ela.
Mesmo assim os meninos continuaram sentados lá.
No primeiro descuido delas colocaram os tatuzinhos na panelinha...
Mais um pouco puseram as minhocas no caldeirão...
Não precisou muito tempo para que uma delas abrisse a panelinha.
E, quando viu as bolinhas, foi um grito para se ouvir no quarteirão todo.
-O que é isso?
Azeitonas disseram!
Não deu tempo viram a minhoca querendo sair do caldeirão...
E isto também.
Macarrão disse o Zeca e todos riam para valer...
Não ia ficar assim não pensou Renatinha.
E enquanto eles riam muito, virou a panelinha na boca de um deles!
Foi um engasgo geral.
Mas espera ai, pegaram as minhocas e quando iam jogar neles...
Saíram todos gritando, pois um enxame de abelhas chegara pronto para picá-los.
Foi um corre corre danado.
A vovó que ouviu muito barulho foi para lá.
Todos queriam falar ao mesmo tempo.
No final riram juntos e foram para o meio da rua jogar barrabol.
É a vida era outra, simples brincadeira, no meio de tatus minhocas e até vaga-lumes pegos a
noite. Subir nas arvores e colher fruta.
E ai voltaram para suas casas sujos rindo e alegres. Fazendo guerra com mamonas
O jantar cheirava na casa toda.
Era o caldo do feijão a batatinha frita a noite caindo e prometendo mais brincadeiras só que
agora dentro de casa.
Leitura, jogos, quebra cabeças e muita contação de historia.
Foi assim que cresci, com cães e gatos, muita chupetinha de pirulito, puxa puxa bolo de fubá e
doce de abobora, e fruta no pé.
Tentem imaginar todas estas brincadeiras e quem sabe brincar de verdade.
Abraço.
A CONVERSA DAS MOCHILAS -

No  cantinho do quarto ela estava encostada e parecia bem triste.


Vamos ouvir seus pensamentos:

“Eu era uma mochila linda, toda enfeitada, sempre com mil selinhos
brilhando, brilhando... Agora estou aqui encostada, sabe lá o que vão fazer
comigo! Ajudei tanto, andei nas costas de meu amiguinho, levei alguns chutes de
outros malcriados da sala, mas eu era feliz.”

Assim estava pensando a pobre mochila ali no cantinho. Na outra parte da casa, no
escritório dos pais de Pedrinho, a mãe já preparava o material escolar para o ano que se iniciaria em
poucos dias.

__Pedrinho meu filho, você escolheu a mochila certa; ela é bem grande e dá para colocar no
carrinho; você não precisará por nas costas!

__Sim mamãe, também gostei, mas tenho muito carinho pela minha velha mochila. Foram
dois ou mais anos juntos e ela não pesava tanto assim. Dizendo isto voltou para seu quarto e pegou a
mochila.

__Minha querida amiga, eu sei que você não fala,  que é um objeto, mas estou triste de ter
que encostar você...  Sabe, preciso de mais espaço, tenho mais livros e cadernos a cada ano que passa.
Ah, minha amiga,  o que farei com você, não quero que fique aqui sem fazer nada!

Sentou-se em sua cama e adormeceu. Estava sonhando que estava em uma escola pequena
cheia de crianças e a maioria não tinha nem cadernos para escrever... Livros então, era coisa rara!
Andou pelas salas de aula e os lápis eram emprestados dia a dia! Escreviam em folhas que as
professoras davam! Chegou a hora do lanche e o que iriam comer? Assustado, acordou de repente. Foi
então que a ideia veio.  “Já sei o que vou fazer”. Abriu todas as gavetas e foi retirando tudo que tinha
em dobro e o que não precisaria também. No Natal havia ganhado lápis de cores, canetas, alguns livros
de histórias, cadernos grandes e bonitos, enfim, muita coisa. Foi até o escritório e disse à mãe que
gostaria de dar todo material extra que tinha para alguma escola que precisasse.

__Que ideia maravilhosa, disse a mãe, que era uma pessoa de muito bom coração também.
Faça isso meu filho; você tem tanto e se precisar de mais poderemos comprar, já as escolas não podem
estar oferecendo de tudo para as crianças.

Assim foi, voltou para seu quarto e pegou tudo: até aquele tênis que estava no
gaveteiro guardado.  Chegou a hora da mochila. Pegou-a e levou até o escritório.

__Veja minha velha amiga, aqui está a que vai me ajudar daqui para frente.
Encostou uma mochila na outra e foi atender a campainha da porta, onde houve então a
conversa entre as mochilas.

__ Oi, você é muito bonita,  toda colorida e bem grande!

__ Você também ainda está muito bem. Sabe,  que bom que estamos juntas, preciso de uns
conselhos teus.

__ Meus?
__É. Quero saber como vai ser minha vida de agora em diante e você já sabe, já passou por
isso.

A velha mochila ficou toda contente e foi logo respondendo:

__Bem, você será a amiga número um de Pedrinho, fique sempre junto dele, é um menino
cuidadoso e vai cuidar de você direitinho como cuidou de mim. Andei muito nas costas dele, mas você já
ganhou um carrinho assim o peso não será tanto para ele.

__ Ah, muito obrigado pelas palavras gentis.

Eis que Pedrinho volta,  dirige-se para a velha mochila e diz:

__ Pronto minha velha mochila,  você vai ajudar outra pessoa agora, é uma menina muito
boazinha que precisa muito de você. Entre Laurinha e veja,  aqui está  sua mochila agora.

A menina abraçou a mochilinha e saiu toda contente. E assim se alegraram três


corações:  de Pedrinho, de Laurinha e da mochilinha também.

Você pensa que ela não ficou contente! Ficou sim, que tal seguir o exemplo e ajudar
os que estão precisando das coisinhas que você tem até demais!

Você não sabe, mas na fila das mochilas há muita conversa...

                                                                  Marlene B. Cerviglieri


A árvore bolinha 
Era época das flores. Estação que chamamos de Primavera. Não é prima de ninguém,
apenas este é o seu nome.  Nesta época as flores estão muito lindas, os pássaros estão
fazendo seus ninhos. Parece até que a vida esta se renovando. 
Sendo assim fui para um lugar de nome Jardim Encantado, comprar algumas mudinhas
de plantas para meu pequeno jardim. 
Estava cheio de gente, todos rindo felizes em ver as mais variadas formas de plantas e
cores das flores. Que coisa linda de se ver! 
Fiquei parada perto de um canteiro muito grande, onde havia sido montado um
jardinzinho cheio de pedras e lindas árvores. Esperando minha vez de ser atendida, sem
querer ouvi a conversa das plantas. Foi mais ou menos assim; 
Dizia a planta do Fícus que se torna uma árvore alta bem comprida, 
_Não vejo a hora que alguém me leve para seu jardim, sei que vou crescer e ficar muito lindo. 
Bem eu estou aqui no chão, sei que sou grama e cresço, mas não muito, mas todo
jardim precisa de mim. 
O arbusto de jasmins já com algumas flores abertas, suspirava todo prosa; 
_Eu tenho certeza que me levam, pois além de enfeitar também exalo um perfume adorável! 
Dona Bigonha vermelha que estava bem rechonchuda no seu vaso disse também; _No
meu caso alegro o ambiente, tudo verde e eu sou vermelha... Ai então me chamou a atenção
uma arvorezinha bem pequena. 
Estava tristonha e consegui ouvir o que dizia apesar de ser bem baixinho quase
chorando. _E eu? -Ninguém vai querer me levar. Sou pequenina, e
me transformaram em uma bolinha? 
_Porque, porque sou diferente das outras árvores? 
E tristonha parecia até estar encolhida no vaso. Foi então que
apareceu ali perto de mim, uma família. 
O papai a mamãe e uma menina muito lindinha cheia de
cachinhos nos cabelos. 
_Veja mamãe que lindo jardinzinho? É uma amostra filhinha._Vamos
escolher umas plantas? Disse a mamãe. A menina logo se dirigiu para a pequena arvorezinha
bolinha! _Veja mamãe que coisa lindinha! 
_Posso levá-la prometo que eu mesma cuidarei dela. 
_Bem se você assim o fizer esta tudo bem. Será a tua árvore bolinha, certo? 
Fizeram as escolhas depois de mim, mas não fui embora. Fiquei para ver o que haviam
resolvido. A menina não saiu de perto da arvorezinha e dizia para ela; 
_Seremos boas amigas, vou cuidar bem de você, pois também sou especial. 
Ali perto do caixa esperando passar minhas plantas pensei; _Especiais!!! Todos nós
somos de alguma forma. Ninguém sabe o porquê das diferenças. Existem tantas explicações... 
Se não entendemos porque não cuidarmos com amor e carinho? 
Mesmo plantas nascem diferentes, animais também. A vida nos reserva surpresas que muitas
vezes não estamos preparados para recebê-las, assim como bênçãos para aprendermos
melhor. 
Guardei as plantas no meu carro e fui feliz para casa. Por ter visto um gesto tão bonito
numa pequenina menina que já cedo sabia o que era dar amor. 
Cresça feliz respeite o outro, tenha carinho e amor! 
Marlene B. Cerviglier
AS ESTRELAS DO CÉU

Assim tão de repente, ela viu a porta do quarto ser fechada. Sentou-se na cama e vagarosamente começou a
vestir a linda camisolinha, toda cheia de babados.
Seus cabelos loiros reluziam a luz do luar que entrava através da janela entreaberta. Pôs os chinelinhos foi até a
cadeirinha a na frente da cômoda, e pegou seu lindo urso. Abraçada a ele, sentou-se na cadeirinha e então começou a
conversar;
- Oi Eric, ainda não estou com sono, e você?
-Também não. - respondeu o urso feliz de estar colo da Nana. Assim a chamavam carinhosamente todos da família.
- Fico pensando que as estrelas são lâmpadas do céu.
- E a Lua o que é? Perguntou Eric.
- Bem a Lua eu acho que deve ser a lâmpada maior na rua onde Jesus mora.
- Mas por que na rua onde Jesus mora a lâmpada é maior? perguntou Eric.
- Ora, se todos nós vamos morar com ele uma dia, a casa dele é muito grande e precisa de lâmpada grande!
- É, pode ser mesmo. - concordou Eric.
Ainda olhando para o céu, Nana diz:
- As nuvens são os carrinhos que levam a gente. São tão diferentes...
- Veja Eric, como as lâmpadas estão piscando e parece que uma caiu.
- Veja, a Lua está pela metade.
- Chii, não estou acreditando na tua estória não...
Disse Eric arregalando os olhos para o céu.
- Pode ser que tenha estragado a luz, ora, até aqui em casa isso acontece!
- Sabe de uma coisa Eric, vamos ficar na janela, quem sabe poderemos dar um passeio até lá e ver de pertinho todo o
céu!
Olhando firme para o céu, Nana disse:
- Veja Eric, são tantas as luzinhas, gostaria de ter uma só para nós.
Nisto, descendo rapidamente do céu, a estrelinha chegou até Nana e Eric, no parapeito da janela.
- Veja, Veja! Disse Eric entusiasmado. Nana imediatamente estendeu a mãozinha e pegou a luzinha que piscava muito.
Foi para a cama e sentou-se no meio dela. Antes colocou o Urso sentado no travesseiro pois assim ele ficaria mais alto.
- Veja Eric como brilha!
De repente parou de piscar.
Um clarão encheu a cama de Nana e, de uma portinha da estrela, saltou uma menina bem pequenina.
- Puxa é menor do que eu. - pensou Eric.
- Minha Nossa! Exclamou Nana assustada.
- Não se assustem - disse o ser pequenino.
- Meu nome é Érica, você me chamou - disse olhando para Nana - Eu vim!
- Mas você não é lampadinha? perguntou Nana.
- Não sou lampadinha. - disse Érica.
- Você mora no céu? perguntou Eric
- Isso mesmo, lá em cima.
- Ah então conte pra gente como é lá em cima.
- Bem, agora a noite todos estão dormindo como vocês deveriam estar.
- E as estrelinhas são lampadinhas das ruas como pensei? Perguntou Nana aflita por querer saber tudo.
- São. - disse Érica. Nossas ruas são todas iluminadas e muito limpinhas.
- Eu não disse, Eu não disse. - repetia Nana toda contente.
- Me diga uma coisa. - Disse Nana muito séria.
- Por que às vezes faz um barulho grande e chove bastante?
- Porque lá em cima e tudo muito limpo, e todos lavam as ruas. Jogam água nas flores, na grama e, às vezes, cai um
pouco aqui também.
- Mas e o barulho? - perguntou Nana,
- É, e o barulho? repetiu Eric.
- São trombadas. Vocês nunca ouviram o barulho de uma trombada?
- Sim. - disseram os dois.
- Pois então, bate uma nuvem na outra e, às vezes, a trombada é tão forte que sai faísca.
- Érica, e a casa de Jesus, você conhece?
- Não, não conheço.
- Ora não é a maior de lá? Perguntou Eric espantado.
-Ouçam bem vocês dois. - respondeu Érica.
- Jesus não mora no céu.
- Não!? Disseram os dois ao mesmo tempo.
- Não. - repetiu Érica.
- ELE mora dentro de nós e está com a gente o tempo todo em nossos corações.
- Você quer dizer que Jesus mora dentro de nós, Érica? Onde? - perguntou olhando para si mesma surpresa.
- Já disse, no seu coração. - repetiu Érica.
- No meu coração. - disse Nana levando a mão ao peito.
- É isso mesmo, vejo que entenderam.
- Agora vou voltar que já é tarde.Vamos dormir, outro dia voltarei e contarei mais.
A porta do quarto foi aberta bem devagar. Era a mamãe que vinha para dar boa noite a Nana.
- Vejam só dormindo com a janela aberta!
- Veja só, o Eric sentado na janela!
Colocou o urso na cadeira, beijou a menina que dormia e saiu de mansinho.
Eric se ajeitou na cadeira e pensou;
- Quem sabe amanhã Érica volta e nos conta mais coisas do céu.
Colocou a mãozinha no coração, fechou os olhos e pensou:
- Vou cuidar para que eu mereça que ELE sempre more em mim...

Marlene B. Cerviglieri
Nascida em Santo André, São Paulo, Brasil.
Pedagoga, Psicóloga, Escritora de contos, poesias e livros infanto-juvenis.
Dedica-se até hoje a estudar as crianças e suas emoções.
Tem proferido palestras com temas atuais, acompanhadas, de dinâmica de grupo e relaxamento. Na cidade de Santo
André atuou como Conselheira de Cultura da Prefeitura e Presidente do grupo de escritores GESA.
Seus trabalhos são divulgados em diversos sites.
Site infantil:http://www.contos.poesias.nom.br/historiasinfantis/historiasinfantis.htm
E-mail: mcerviglieri@yahoo.com.br

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Brincar e chorar tem tempo

Brincar e chorar tem tempo

        Marlene B. Cerviglieri

Fazia um lindo dia e a sala de aula estava completa.

Dona Dora era uma professora muito alegre e simpática, todos os alunos gostavam muito dela

e tinham muito respeito.

Aquele dia ela estava explicando exercícios do livro, porém passava-os para a lousa para

explicar melhor.

Todos atentos e copiando em silêncio ouvindo a explicação da professora.

Dora, no entanto estava percebendo a falta de interesse de Robertinho chamado por RO pelos

colegas.

Pensava consigo mesmo o que será que estava acontecendo, pois ele sempre fora um ótimo

aluno. Estava quieto e distraído.

Comportado alegre e bom aluno que ele sempre foi!

Enquanto os alunos faziam a tarefa ela dirigiu-se a ele.


Com delicadeza colocou a mão sobre sua cabecinha.

-E aí RO!

Notou que ele não havia feito quase nada e algumas falhas também.

RO ficou meio que sem graça e não disse nada.

Dora achou estranho e ajudou-o na tarefa.

O que será que esta acontecendo pensava.

No intervalo na sala dos professores aproveitou à presença de dona Helena a psicóloga da

escola e pediu que observasse o aluno.

Isto foi feito e Helena resolveu chamar os pais, embora já quase que sabia o que estava

acontecendo.

A reunião foi feita e RO estava presente.

Tudo estava a favor do aluno, pois sempre se comportou bem e era ativo e um dos primeiros

na classe.

Foi até uma surpresa agradável quando se soube que o problema era fácil de resolver.

Ah, pois bem RO simplesmente não estava conseguindo ler o que estava escrito na lousa.

Toda vez que a professora escrevia ele não lia.

Portanto fazia o exercício escrito muitas vezes diferente!

Levado ao Oftalmologista medico da visão tudo foi resolvido.

Hoje usa óculos para poder ver de longe.

Com isto amiguinho, quero dizer a vocês que muitas vezes as pessoas mudam seu

comportamento e nós não compreendemos o motivo.

Temos que ser delicados, observar e nunca julgar ou pensar coisas piores.

Buscar ajuda com os pais ou mesmo as professoras que sempre estarão ali para ajudá-los.
Aqui foi simples, mas podem existir coisas piores, e vocês não terem culpa de nada.

Por isso fale busque ajuda e não fiquem calados sofrendo sozinhos.

Terá sempre alguém que vai te apoiar

Portanto não se cale.

Um abraço.

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A teimosia do Galinho

A teimosia do Galinho

A briga tinha começado lá fora.


Em frente da casa os meninos se agrediam e falavam mal.
Uma coisa muito feia de se ver e ouvir.
Foi quando dona Filó resolveu interferir e chamá-los para dentro de sua casa.
Depois de aquietá-los em sua sala, trouxe limonada e bolo para todos.
-Bem agora me contem o porquê de tanta falação.
Todos começaram a falar junto.
-Novamente dona Filó ajeitou a situação.
-Meninos, um por vez para falar.
Assim foi e quem começou foi o Pedrinho.
Um menino gorduchinho de cabelo ruivo muito engraçado.
-Sabem eles queriam ir nadar lá atrás do Verdão.
-Meus pais sempre me dizem para não ir para aqueles lados.
-É perigoso, pois é só mato e pode ter bichos além de que a água não se sabe se é boa para
nadar.
Levantando a mão outro menino pediu para falar.
-Ele é um medroso, tem mato sim, mas o riacho é limpinho.
Dona Filó percebeu que aquela conversa iria longe muito longe.
-Bem meus meninos, fiquem quietinhos que eu quero falar agora.
E assim a bondosa dona Filé começou;
 -Primeiro quero dizer que o Pedrinho, esta certo em ouvir o que seus pais lhe disseram.
Sempre se obedece aos pais e mesmo pessoas mais velhas.
Elas têm mais idade já viram muita coisa e sabem o que estão falando.
Quando eu era menina de uns catorze anos mais ou menos, meus pais tinham no fundo do
quintal um grande galinheiro.
Era de terra o chão e havia muitas aves que ali ficavam em segurança o dia e a noite toda.
Sempre havia comida e água para todos.
Um dia meu pai trouxe para casa um Galinho todo crespo muito engraçadinho.
Todos gostaram dele de imediato.
As aves do galinheiro não iam para o outro lado do galinheiro, que era um terreno vazio muito
grande e com mato alto.
Tinham tudo que precisavam ali dentro não era preciso sair.
Porem o Galinho que se mostrava muito teimoso, tentou passar pela cerca que era de arame
varias vezes.
Daí que um dia conseguiu.
Feliz que estava ciscava o chão e chamava as galinhas para vir comer o petisco que quase
sempre era uma minhoca.
Meu pai consertava a cerca, porém o danadinho tentava e conseguia sair.
Até que um dia ouvimos o barulho das galinhas alvoroçadas lá no galinheiro.
Fomos todos e que surpresa!
Lá estava o Galinho do outro lado com uma minhoca enorme presa em seu bico!
Meu pai foi do outro lado e com muito cuidado tirou do bico dele a tal minhoca.
Coitadinho do Galinho, não era uma minhoca, mas sim um filhotinho de cobra, vermelha muito
perigosa.
Imediatamente minha mãe colocou goela abaixo algum liquido que eu não sei dizer o que era.
O Galinho saiu andando tropeçando até que pum... Caiu no chão!
Meu pai nos disse depois que o veneno era muito forte,
Viram porque não quero que passem para o terreno?
Nunca se sabe onde esta o perigo disse meu pai.
Assim como foi o teimoso Galinho, poderia ter sido um de vocês!
Vou providenciar com o dono do terreno para que limpe corte o mato assim os ratos vão
embora e não haverá mais cobrinhas.
-Quantas vezes eu me escondia lá no mato, nunca mais fui.
E vocês com tanta brincadeira para se fazer, porque procurar o perigo.
Ouçam seus amigos seus pais e pensem bem antes de fazer alguma coisa que sabem ser
errada, mesmo que só um pouquinho trará conseqüências mais tarde.
Desobediência anda junto com maldade.
E agora vão todos brincar, já refrescou dá até para jogar uma pelada.
Saíram todos e agradeceram dona Filó.
E se lá no riacho tiver água contaminada com lixo, ou mesmo bichos pensavam baixinho.
Voltaram a brincar e aprenderam uma boa lição.
Quem desobedece muitas vezes adoece!
Um abraço meus amiguinhos.
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A Maldade existe
A Maldade existe

    Marlene B. Cerviglieri

Todo dia Lurdinha chegava da escola muito alegre.

Gostava de contar tudo que fazia e aprendia e também às brincadeiras da hora do recreio.

Mas ultimamente voltava tão quietinha guardava sua mochila e não contava nada.

Todos em casa notavam sua tristeza, porém ela não falava nada.

Seu rendimento escolar começou a cair a ponto dos pais serem chamados na escola.

Quando voltaram sua mãe chorava e seu pai estava muito nervoso.

Sentaram no sofá da sala e começaram a discutir o que fazer.

A professora havia dito que não sabia de nada apenas que notou seu rendimento de repente

cair!

Estava sempre dispersa e muito tristonha

Foi quando resolveram chamar Lurdinha e com ela conversaram muito tempo

Ouvindo a menina ficaram mais nervosos ainda.

Como uma coisa dessas poderia acontecer no meio de tantas crianças inocentes?

Choraram junto com Lurdinha e disseram que iriam tomar uma providencia ou talvez mesmo

mudá-la de escola.

Lurdinha voltou para seu quarto onde Dita a auxiliar da casa estava fazendo uma limpeza.

É claro que havia ouvido tudo que se passou na sala.

Virou-se para Lurdinha e disse:


-Vão arder no inferno tenho certeza.

Lurdinha não entendeu nada e voltou as suas atividades escolares.

Naquela tarde sua vovó veio visitá-los.

Foi quando Lurdinha perguntou a ela o que queria dizer arder no inferno.

-Ora minha querida isso é uma coisa muito feia de se dizer.

Já sabendo o que acontecia na escola continuou.

-Uma vez quando eu era menina como você, aconteceu algo muito estranho em minha escola.

Era igual a sua de hoje atividades e também brincadeiras.

Tínhamos uma coleguinha que era muito magrinha e delicada, mas ótima aluna.

Eu pessoalmente gostava muito dela.

Mas sempre na hora das brincadeiras havia três meninas que não a deixavam brincar. Era

colocada de lado sempre.

Gritavam com ela chamando-a de magricela e outras coisas

Na sala de aula sempre que podiam tiravam o lápis e quebravam a ponta, escondiam a

borracha, era maldade em cima de maldade.

O rendimento dela foi caindo e sua tristeza muito grande.

Chegou num ponto que ela não foi mais para a escola.

Fiquei sabendo que estava de cama muito doente.

Felizmente depois de quase um mês ela voltou.

Estava mais corada e não triste.

Foi então que aconteceu algo surpreendente!

No horário das brincadeiras saímos todas por um corredor muito longo para ir brincar no pátio.

Aquelas três meninas que sempre eram malvadas, já estavam pensando no que fazer para a
pequenina que caminhava um pouco a frente.

Conversavam tão alto que pude ouvir

Não deu tempo nem de chegar ao pátio, as três levaram um tombo tão grande que ficaram de

cara no chão gritando.

Os funcionários acudiram rapidamente os professores saíram das salas. Ficaram tão

machucadas que precisou vir socorro de fora.

Quando voltaram para a escola depois de umas duas semanas usavam tipóia no braço e

caminhavam com ajuda.

Isto quer dizer arder no inferno receberam o castigo que mereciam por serem tão malvadas

com tantos pensamentos maus.

Nem sempre as professoras podem ver tudo, pois são muito ocupadas é preciso falar com elas

contar o que esta se passando.

Só assim elas poderão resolver os problemas até chamando alguém para ajudar a observar.

-Vovó eu não quero que aconteça nada para as meninas.

-Bem sei disso porque você é uma criatura boa e com muito amor no seu coraçãozinho.

Apenas quis te informar que tudo de mal que fazemos vamos receber um dia também de

alguma forma.

Aqui se faz aqui se paga.

Melhor mesmo é praticar a bondade e ser educado com todos.

-Mas vovó o que será que a Dita quis dizer?

-O mesmo que eu te disse só que de outro jeito.

Dê-me um abraço e não deixe ninguém nunca machucar você.

Pense com amor e bondade que o mal se afastará.


E assim Lurdinha depois de ouvir sua avó ficou mais corajosa e voltou a estudar com o mesmo

entusiasmo de antes.

É meu amiguinho preste atenção, pois você é muito especial.

Não permita que maltratem você, procure sempre ajuda com seus pais e com seus

professores.

Abraço.

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O SAPO E A FLOR...

Marlene B. Cerviglieri 

Numa floresta muito grande e cheia de bichos, habitavam várias famílias de animais.
Desde insetos e até mesmos leões com suas leoas e filhotes.Todos cuidavam de suas vidas e
da comida também. Os macacos eram os mais alegres, pois estavam sempre brincando e
pulando de galho em galho, como se fosse uma festa.Os pássaros regiam a orquestra, pois
entre tantos gritinhos, urros e barulhos dos bichos parecia mesmo uma grande orquestra.
Estava um dia o sapo tomando seu banho de sol, quando ouviu que lhe dirigiam a palavra.Logo
abriu seus olhinhos procurando quem com ele estaria falando!
Eis que vê uma linda flor cor-de-rosa cheia de pintinhas...
Assim estava dizendo ela: - Nossa que coisa mais feia! Nunca vi um bicho tão feio!
- Que boca tão grande, que pele tão grossa...
- Parece até uma pedra, aí parada, sem valor nenhum.
- Ainda bem que sou formosa, colorida e até perfumada.
- Que triste seria ser um sapo!!!
O sapo que tudo ouvia ficou muito triste, pois sempre que via a flor, pensava:
- Que linda flor, tão perfumada, que cores lindas, alegra a floresta!
Mas a flor agora havia se mostrado dizendo tudo aquilo do sapo.
De repente surge o gafanhoto saltitante e vê a flor, mas não o sapo.
A flor, quando o percebeu, ficou tremendo em seu frágil caule.
- Meu Deus, que faço agora?
Vocês sabem que o gafanhoto gosta de comer as pétalas de qualquer flor que encontre, e ela
seria assim sua sobremesa...
O sapo, quietinho, quietinho, não se mexeu, e quando o gafanhoto se aproximou da flor, nhac...
o alcançou com sua língua.
A flor que já se havia fechado, pensando que iria morrer, abriu-se novamente não acreditando
no que havia acontecido.
Mas dona árvore que desde o início a tudo assistia, falou muito energicamente e brava lá do
seu canto:
- Pois é dona flor, veja como as aparências enganam.Tenho certeza que a senhora gostaria
mais do elegante e magrinho gafanhoto. No entanto, veja como ele teria sido tão mau com a
senhora!
Às vezes pensamos e dizemos coisas sobre nossos semelhantes que não são verdadeiras.
Precisamos tomar muito cuidado com o que falamos, sabe por que?
- Não - dizia a flor ainda tremendo de susto. 
- Todos nos somos diferentes, de formas diferentes, e até pensamos diferente.
- Você sabe que existem também outras formas de se falar?
- Não. Não sabia - disse a flor espantada com a sabedoria da árvore.
- Pois então minha pequena, da próxima vez que for falar de alguém, pense antes, pois este
alguém poderia ser você.
- Agora agradeça ao seu amigo sapo o favor que ele lhe fez, e também conte aos outros o que
aprendeu aqui hoje.
Com sua vozinha fraca a flor disse ao sapo:
- Meu amigo, você é, realmente, amigo. Agradeço-lhe ter me salvado do gafanhoto e prometo
que nunca mais falarei de ninguém.
- Aprendi a lição e dona árvore me ensinou também.
Todos os bichos que estavam assistindo bateram palmas.
E assim amiguinhos, aqui fica a lição: somos todos iguais. Existem bons e maus, mas podemos
escolher de que lado vamos ficar.....

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O Docinho da Formiga

Marlene B. Cerviglieri

Num dia muito lindo, de sol e céu azul o formigueiro todo trabalhava avidamente, pois logo
chegariam o inverno e tempos difíceis. A mamãe formiga trabalhava e cuidava também de suas
formiguinhas, tinha muitas delas, mas uma era muito danadinha. Sempre se metia em
encrenca e confusão, pois se afastava do formigueiro, de tanto que gostava de tudo saber.
Todos sabemos que é muito bom saber das coisas, mas quando somos pequenos devemos
sempre ouvir os mais velhos, principalmente a mamãe, o papai, a vovó e o vovô.
- Por que?
- Ora, eles sabem das coisas! Já aprenderam antes e naturalmente vão passar para os
menores.
- Bem, voltando à formiguinha Bibica, era assim seu nome,gostava muito de mexer em tudo e,
às vezes, tentava carregar folhas bem maiores que ela, e conseguia, porque a formiga tem
muita força.
Até ai a mamãe dela não se preocupava,mas sim com o que ela comia. Sempre estava
dizendo para Bibica comer menos açúcar. Era demais como gostava de docinhos, coisas
doces como dizia.
Uma tarde viu no chão umas bolinhas, comeu uma e gostou muito. Eram docinhos e foi
comendo, comendo, comendo... De repente não viu mais nada, só ouvia sua mamãe
chamando muito longe... Ficou assim por muito tempo. Quando finalmente conseguiu acordar
já havia passado um dia inteiro.
- Bibica, disse a mamãe, que te sirva de lição formiguinha danada! Nem tudo que é docinho se
pode comer! Você precisa aprender a ver e saber o que põe na boca, formiguinha danada.Não
sabe o trabalho que deu, pois comeu remédio de humano. Sempre que for comer alguma coisa
precisa saber o que é. Às vezes os humanos jogam remédio para nós comermos e aí é o fim!
Aprenda Bibica, só coma aqui no formigueiro que é a sua casa.
Ouvindo a história toda, Luisa arregalou os olhos e disse:
- Mamãe eu só vou comer aqui em casa e nunca vou querer o docinho da formiga.
- Isso mesmo filhinha, também para comer tem que se aprender.
Agora vamos descansar um pouquinho, e não pensar no docinho da formiga.
Com histórias simples se pode evitar muitos acidentes!
................................
O TATU BOLINHA

Marlene B. Cerviglieri

Hoje gostaria de contar uma história que aconteceu no jardim de minha avó.
Ela tinha muitas flores e o pouco que entendo de flores devo as lições que ela me dava.
Mas nada me impressionou tanto como a história do tatuzinho.
Estava ela regando as plantas quando eu vi um bichinho sair correndo e se enfiar na terra num
minúsculo buraquinho.
Corri para minha avó e contei o que havia visto toda surpresa, pois como o bichinho iria
respirar em baixo da terra!
- Calma minha linda - disse a vovó - vamos ver o que você realmente viu.
E assim começou a me falar das minhocas, formigas e outros nomes de bichinhos que vem na
terra.
- Por isso - disse ela - é que uso luvas e sempre peço a você que lave as mãos com sabão
depois de brincar na terra.
- Ela esconde muitas coisas que ainda nem sabemos o que é, mas que nos fazem mal.
- Como fazem mal vovó?
- Sem querer, é claro, às vezes estão apenas se defendendo, pois aquele é o mundo deles.
- Sempre que vir algo diferente fique a distância e não ponha o dedo ou a mão.
- Eles mordem?
- Não, mas pelo que sei picam e sei que vai doer muito, e é preciso depois ir ao médico para se
cuidar.
- Vovó, veja o bichinho está saindo do buraquinho!
- Sei, estou vendo. Veja o que ele vai virar!
Espantada vi o bichinho virar uma bolinha!
Fiquei de boca aberta e puxando seu avental gritava para saber o que acontecera?
- Minha querida, assim como uma bolinha ele está se escondendo de nós.
- Daqui a pouco ele volta a andar e correr novamente, mas se você tocar nele, imediatamente
ele se transforma em bolinha.
- Incrível vovó, nunca vi uma coisa assim! - disse eu extasiada.
Aí então veio a lição da vovó que nunca vou esquecer.
- Ouça o que a vovó tem para te dizer:
- Na vida, às vezes, temos situações quase iguais a do bichinho.
- Estamos em nossos lugares e de repente vem alguém e tenta nos ferir ou até fere, e o que
fazemos?
- Nós nos escondemos de tais situações com medo de ser ferido como o bichinho, mas está
errado.
- Devemos, sim, enfrentar nossos medos com cautela e resolvê-los para que não necessitemos
virar bolinha.
- Você entendeu o que eu quis te dizer?
- Mais ou menos vovó.
- Quando eu tiver medo ou um problema não devo me esconder, pois ele continuará ali.
- Devo sim tentar resolvê-lo não é mesmo?
- Isso minha menina esperta, e agora pegue um vidro que vamos colher as minhocas para o
seu avô ir pescar.
- Mas vovó, coitadinhas!
- Querida cada um destes bichinhos tem o seu propósito, e nós temos o nosso, mas este é um
assunto para uma outra hora.
- Vamos então a nossa tarefa.
E hoje muitas vezes tento não ser o tatu bolinha...

ÁRVORE DEITADA

Marlene B. Cerviglieri

Ali no meio do parque estava a arvore deitada. Seu tronco era imenso e seus galhos pareciam
ganchos esparramados ao seu redor. Mesmo assim despertava um fascínio em todos os que
por ali passavam. Ninguém sabia, no entanto, que aquela mesma árvore, de mais de cem
anos, tinha sido um dia frondosa cheia de folhas e de muita sombra. Sofreu por muito tempo ali
deitada, não deixando transparecer que estava muito triste.
- Sou uma árvore careca. Pensava.
Realmente não tinha mais nenhuma folha em seus galhos. No dia que foi derrubada pela
ventania muito forte, mas muito forte mesmo, perdeu toda as suas folhas. Ali deitada com a raiz
a mostra permanecia como que calada esperando que algo mais acontecesse.
- Que será de mim agora? - pensava quietinha deitada no chão. Os pássaros não vão mais
querer fazer os seus ninhos, não há mais segurança, pois estou toda sem folhas.
Quanto mais pensava mais triste ia ficando. Daí que uma manhã surgiu no parque um bando
de meninos e meninas vindos de uma escola, para lá passarem algumas horas. Normalmente
isto sempre acontecia. Porém naquele dia aconteceu um fato muito bonito. Interessante como
diria minha professora.
As crianças depois de andarem em todos os brinquedos existentes, e de fazerem muito barulho
estavam cansados demais. Que fazer? Os bancos eram de cimento e duros. Surgiu então a
grande idéia.
- Veja - disse um deles - ali está uma enorme árvore!
- E deitada. - disse o outro. Parece uma cama enorme, vamos até lá.
Assim sendo subiram com facilidade na arvore deitada. Encaixaram-se tão bem em seus
galhos, e lá descansaram. Quando voltaram para a escola tiveram que relatar o passeio. É
claro que o assunto imediato foi a árvore deitada. Como falaram tanto dela a outra classe pediu
também para ir vê-la.
Hoje a árvore deitada é procurada por muitos jovens que se sentem bem a vontade para subir
nela, sentar lá em cima e descansarem. Às vezes pensamos que tudo está perdido, não terá
mais solução. Engano nosso, para tudo tem jeito, é uma questão de sabermos esperar e ter
paciência. Os fatos mudam nada é para sempre.
Do medo de ir para a fogueira que tinha a árvore, pois achava que não servia para mais nada.
Tornou-se o lugar mais procurado do parque. Quando estiveres achando que nada mais vai dar
certo, espere e verás que o conserto logo virá. Existem mil formas de ser, não
necessariamente precisam ser sempre as mesmas. O difícil é aceitar as diferentes, pois as
conhecidas são fáceis. No tombo mesmo permanecendo deitado, existe a transformação.
Sejamos como a árvore e pensemos positivo para enfim podermos ajudar e sermos ajudados.

Marlene B. Cerviglieri
A LAGARTIXA E A BORBOLETA 

Marlene B. Cerviglieri

Viviam no beiral de uma casa, dna Lagartixa e sua enorme família. Ali abrigadas se reuniam
em torno de seus filhotinhos, só saiam para procurar comida. Eram muito ligeiras e apesar de
seus rabinhos longos, corriam bem depressa. Certa manhã a mamãe Lagartixa saiu para
procurar comida, mas avisou suas lagartixinhas que ficassem bem quietinhas, nada de dar
passeio pelas janelas ou nas paredes. Lá foi a mamãe pensando que iria ser atendida por suas
filhinhas. Qual nada. Assim que ela saiu, as lagartixinhas olharam umas para as outras e
disseram:
- O que vamos fazer se não podemos sair daqui?
- Ora, ora vamos dar uma voltinha na janela, ver se achamos algum mosquitinho!
Seus olhinhos brilhavam só em pensar de achar um mosquitinho na janela. Uniram-se e foram.
Nesta mesma manhã a Borboleta que voava no jardim, beijando todas as flores que via,
resolveu dar uma paradinha no batente da janela!
Ficava pousada no vidro. Às vezes, voava para o jardim ou ficava pousada no batente da
janela. As lagartixinhas, que nunca haviam visto uma Borboleta, estavam encantadas com seu
vestuário e sua agilidade.
- Veja ela tem quatro cores, e os olhinhos brilham, e como vai de um lugar para outro!
- Ela está voando - disse uma delas.
- O que é voar? Perguntaram as outras.
- Ora é andar sem pôr os pés no chão...
- Ouvi dizer que os pássaros também fazem isso É mesmo?
- Pois eu acho que nós devíamos voar também!
- Você está louca! - respondeu a irmãzinha já ficando preocupada.
De nada adiantou pedir e até implorar para que ficassem quietas ali. Afinal já haviam
desobedecido a mamãe. E agora ? Tentou mais uma vez falar com elas mas nada.
Sendo assim ficou num cantinho do beiral observando para ver o que elas iriam fazer. Não
tinham como se apoiar e o rabinho até atrapalhava, mesmo assim se colocaram em posição
quase de pé e se atiraram para o jardim. Claro que aconteceu o que se esperava, caíram
pesadamente no chão. Todas doloridas, faltando pedacinho de rabo em uma, e agora? Foi
quando a irmã, que não as acompanhou nesta loucura, gritou para elas:
- Esperem, vou buscar ajuda.
Assim o fez e veio com a mamãe Lagartixa. Depois de levá-las para casa e cuidar dos
ferimentos, a mamãe tinha uma lição para ensinar:
- Primeiro vocês me desobedeceram, só de sair sem conhecer lá fora já foi um perigo grande.
Agora vocês inventam de querer voar também?
- Mas mamãe, vimos a dna Borboleta ela faz tudo tão devagar não parecia perigoso.
- Muito bem minhas filhinhas, a dona Borboleta já nasceu para voar!
- Como assim mamãe?
- Alguns animais nascem sabendo o que fazer, é da raça dela.
- Vocês não poderiam sair por ai voando nunca, só se alguém as atirasse!
- Imaginem o Totó voando? Ou o Burrico?
- Por isso digo que cada um deve ficar no seu canto com os seus encantos.
- Encantos mamãe?
- Sim todos nós temos os nossos encantos, não precisamos copiar ninguém, pois não será a
mesma coisa. Entenderam o que a mamãe disse?
Rindo responderam:
- Sim mamãe. Mas que seria muito gozado ver o elefante voando, ah seria...
Rindo apreenderam a lição e até hoje o rabinho delas ainda está crescendo. É porque as
lagartixas se perdem um pedacinho, volta a crescer.
- Interessante não é?
Cada uma com os seus dons, cada um dentro de sua raça, com seus encantos.
- E você já sabe quais são os seus?

Marlene B. Cerviglieri

Saltitante como Grilo


Marlene B. Cerviglieri

Saltitante como um grilo


Atrás da bola fui correr
Não vendo a vassoura
Toda a tremer

Com um golpe de mestre


A cabeça desviei
Mas não vi a bola
E mais ninguém

Acordei em minha cama


Será que sonhei?
Mas quando tentei levantar
Ui, Ui...
O galo se pôs a cantar!

Marlene B. Cerviglieri

DE TÃO FORTE QUE CHEIROU


Marlene B. Cerviglieri

De tão forte que cheirou


O nariz arrepiou
A picada não foi grande
Mas a abelha picou

Corre, corre é pior


Todas se juntaram
Atrás do menor

Que até hoje não se sabe


Se está vive, ou foi para a melhor! 

Marlene B. Cerviglieri
Texto Infantil
A cidade dos vaga-lumes

Marlene B. Cerviglieri

A cidade era muito pequena, porem seus habitantes muito unidos. Todos sabiam de tudo. O
que acontecia durante o dia, era assunto para o jantar. Viviam do cultivo de suas plantações, e
em geral a colheita era sempre muito boa. Havia os que plantavam laranjas, outros café e
milho e mesmo cana. Alem desta plantação todos tinham sua horta particular para o sustento
da família.
Ao redor das casas viam-se arvores de frutas como goiabas, maças pêras e até parreiras de
uva. Sempre ao final da colheita faziam uma grande festa na rua principal. Chegou finalmente o
grande dia, e as senhoras estavam muito ocupadas com tantos pratos especiais para serem
feitos. A rua estava toda enfeitada, com espigas de milho e abóboras. Usavam para enfeitar
tudo que haviam colhido, ficava muito interessante de se ver. A agitação corria solta, as
crianças estavam alegres pulando de um lado para o outro. Creio que toda a cidade estava
presente nesta festa que acontecia o dia inteiro. A noite foi chegando e a festa continuava.
Começou a escurecer e as luzes não se acendiam! Alegres que estavam não deram muita
importância ao fato. Foi escurecendo mais, e ai então ficaram preocupados. Vamos ver o que
esta acontecendo... Mexeram, lidaram com os fusíveis e nada de se acenderem as lâmpadas.
Acabaram ficando no escuro... Foi então que começaram a ver as luzinhas piscando em todo
lugar! Mas o que é isso? Estavam sem saber o que era aquilo. Devagar tudo foi ficando quase
iluminado, não era como as lâmpadas mas iluminavam! Foi quando alguém gritou bem alto;
- Os vaga-lumes...
Eram vaga-lumes pulando para todo lado, participando da festa também! Riram a vontade,
continuaram a festa, pois os vaga-lumes se incumbiam de iluminar um pouco. Depois disto
ficou tradição na cidade, no dia da festa nada de lâmpadas. Esperavam anoitecer para ver os
vaga-lumes fazerem seu trabalho. Não acreditam? Pois vão conferir.
Onde? Na cidade dos vaga-lumes....

Marlene B. Cerviglieri
O COELHINHO ESPERTO

Marlene B. Cerviglieri

Havia uma fazenda muito grande e linda. Todos que a visitavam ficavam encantados com
tantos animais. Cada raça tinha seu próprio lar, quero dizer suas casinhas e ficavam juntos.
Assim os porquinhos estavam sempre comendo e dormindo junto da mamãe porca. As vacas,
que eram a maioria, ficavam num pasto muito amplo e criavam seus bezerrinhos. Bem
afastado destes animais maiores, havia o galinheiro onde as galinhas botavam seus ovos e
criavam seus pintinhos. Os patos também ficavam por perto, pois gostavam muito de dar uns
mergulhos no lago próximo.
Bem lá embaixo numa descida ficavam os coelhinhos. Era uma coisa linda de se, ver as
gaiolas grandes, e dentro todo o parquinho para eles brincarem.
Havia também a água corrente, muita verdura ali era colocada para que comessem. Vocês
sabem que verdura é muito bom e devemos comer todo dia, assim o fazem os coelhinhos.
Vejam como são espertos e saltitantes e têm muita força também. Bebem muita água e comem
muita verdura e legumes. Bem, estou aqui para contar a história do coelhinho esperto não é
mesmo?
Pois aqui vai: Uma manhã depois de se fartar de tanta verdura o coelhinho rajadinho, assim era
chamado, pois era todo branco com algumas manchas pretas, resolveu sair da gaiola. Ah,
pensou ele: quero dar uma voltinha par aprender alguma coisa mais. Saiu saltitante como são
os coelhos, e foi parar bem no meio da floresta que havia na fazenda.
- Puxa que coisa maravilhosa! Quanta árvore e vegetação!
Ficou muito encantado mesmo, foi entrando cada vez mais. De repente surgiu um tatu... O
coelhinho, que não conhecia nenhum outro bicho, levou um susto.
- Quem é você?
- Ora, sou o tatu! Respondeu.
O coelhinho chegou até perto, meio com medo e colocou o nariz no tatu.
- Coelhos são assim cheiram tudo.
- Puxa como você é duro!
- E você é mole. Respondeu o outro.
O tatu que era muito esperto e conhecia muitos bichos, riu do coelho.
- Veja, coelhinho, existe duro e mole...
- O quê? Perguntou o coelhinho.
- É, meu amigo, duro sou eu e mole é você.
- Ah, entendi. Quer dizer que existe diferença entre duro e mole.
- Sim, e você sente isto.
- Veja aqui outra diferença: Nós estamos embaixo da árvore, certo?
- Sim.
- E o nosso amigo lá, o passarinho, está em cima da árvore. Entendeu?
- Sim. Embaixo e Em cima.
Ficou feliz de aprender, disse adeus ao tatu e voltou pulando para sua casa.
- Meus irmãos - disse quando chegou -, aprendi muito hoje, sei agora o que é duro e o que é
mole!
- Vejam - e foi dando instruções para seus irmãos -, coisas simples de se aprender.
- E você já sabe estas diferenças?
Se não souber leia novamente e o tatu irá explicar. Seja um coelhinho esperto!

Marlene B. Cerviglieri

O Tapete Mágico

Marlene B. Cerviglieri

Na casa não havia ninguém. Fui entrando meio assustado quase que na ponta do pé. O que
teria acontecido, todos se foram? Tentei soltar um olá, mas ficou preso na minha garganta.
Pensei: Não estou com medo apenas surpreso pois esperava encontrar todos ali. Sentei-me na
soleira de uma das portas, e com as mãos amparando meu queixo comecei a pensar no que
fazer...
Quietinho ali e sozinho, comecei a ouvir os ruídos da casa também. Não sabia que casas têm
tanto barulho mesmo sem ninguém. Vinha do teto, do chão e não sei de onde mais. Prestando
bem atenção deixando o medo de lado, pois ele só atrapalha, consegui perceber que eram os
encanamentos que faziam o tal barulho. E o outro tipo vinha do telhado que rangia.Lembrei-me
que meu avô sempre me dizia, nunca sintas o medo.Vai ver onde ele esta.
E assim vasculhei cada cantinho da casa e pude saber de onde todos os barulhos vinham.
Cansado que estava e já com uma pontinha de fome, deitei-me no chão em cima de um velho
tapete que ali estava. Olhando o teto, via uns lampejos de luz. Adormeci. Voei para bem longe
dali num campo muito verde embaixo de um céu muito azul.
Nossa como era bom voar assim. Sentia o vento em meu rosto e podia ver tudo lá em baixo.
Corri por vários parques, brinquei em muitos lugares, senti chuva vi o sol e me sentia muito
contente. Voando assim pelo céu, encontrei um dragão muito grande que me perguntou de
onde eu era. Lá de baixo, respondi com um pouco de dificuldade para falar.
- E você, dragão?
- Das cavernas aqui de cima. - respondeu.
- Estou com um pouco de fome. - disse eu. Será que há alguma coisa que eu possa comer?
- Sim. - disse ele.
E me trouxe uns ovos enormes que não cabiam em minhas mãos. 
- Como vou comê-los? Perguntei.
- Ora menino, comendo! - e se foi.
Tentei abocanhar o grande ovo, mas nada. Continuei tentando e a fome aumentando. De
repente...Bum, caí do tapete e comecei a ir em direção ao chão lá embaixo.
- Alguém me acuda! - gritava eu.
Quando senti uma mão no meu ombro estava no chão...E no chão da casa de meu avô, e ao
meu redor todos riam.
- O que aconteceu? - perguntaram.
Eu, eu estava no tapete mágico. - disse. O que aconteceu realmente?
- Bem, adormeci em cima do tapete e ele voou comigo para bem longe.
O dragão era o bichano que me encontrou dormindo no seu tapete. Todos riram e eu fui comer,
pois a fome era tanta, adivinhe o quê? Ovos é claro!
O Fio do Novelo

Ficava no cesto das lãs todo enroladinho no meio de agulhas e óculos. Era um novelinho de lã
azul cor do céu muito lindo, mas muito triste também. O que acontecia com o novelinho de lã?
Vou contar para vocês. Toda vez que o gatinho Joli podia entrar onde o cesto de lãs estava,
era um estrago. Dava patadas no novelinho quase estraçalhando tudo. 
Será que queria brincar? Quando ia embora o novelinho estava todo enrolado parecendo um
pom pom. Pom pom é uma bolinha que se faz com lã. Ali ficava o novelinho esperando que
alguém viesse e o enrolasse novamente. Isto não é vida pensava o novelinho. Preciso
encontrar um jeito de não mais passar por isso.
Não faço nada para ele, gostaria apenas de brincar com ele! Assim foi passando o tempo
quando um dia dona agulha que era muito esperta ,e já havia visto a brincadeira nada cordial
do gatinho Joli, disse ao novelinho:
Gostaria de dar uma idéia para você.
Claro, claro diga dona agulha.
-Bem, porque você não se prepara para enfrentar o gatinho?
-Mas como deverei fazer dona agulha?
-Simples meu caro.
Desenrole um bom pedaço do seu fio de lã, deixe uma pontinha para fora do cesto.
Sim, sim disse o novelinho e aí?
Deixe que o Joli chegue e comece a brincar só com esta ponta.
-Mas ele vai querer me tirar do cesto também!
Não vai não se você der a ele o fio para brincar e enfrenta-lo dando um basta!
Mas como farei isto dona agulha?
-Quando ele avançar para você, mostre a ele o fio que você já lhe deu.
Converse com ele com bondade mostrando que não é para maltratar e sim brincar.
Será que dá certo dona agulha?
Tenho certeza caro novelinho.
Nunca deixe ninguém maltrata-lo e se tentarem faze-lo, mostre a eles tua bondade e carinho,
assim sendo você terá o respeito deles.
Não permita que ninguém abuse de você fazendo o que te fere ou mesmo agredindo você.
Se não conseguir com boas maneiras e palavras, então leve ao conhecimento de alguém que
possa te ajudar.
Entendeu novelinho?
Sim dona agulha vou tentar.
E o novelinho fez o que aprendeu, e para seu espanto o gatinho Joli somente brincou com o fio
estendido.
Mas o novelinho estava preparado para o que viesse.
E você sabe se defender?
Acho que aprendeu não é mesmo?Não permita que ninguém maltrate você.
Não deixe que te façam mal algum, fique sempre alerta, mas procure ser amigo e cordial, nada
de violência certo?
Ninguém poderá ferir você, nem você mesmo.
Até a próxima!

Marlene B. Cerviglieri
A Terra dos Anões.
Marlene B. Cerviglieri

Existe num lugar muito distante, a terra dos anões. Gostaria que você me acompanhasse para
juntos chegarmos até lá. Feche os olhos suavemente sem apertá-los como se você fosse
dormir. Procure deixar a boca meio entreaberta para ajudar na sua respiração.E agora vamos
lá! Veja uma enorme floresta de árvores frondosas cheias de plantas tudo muito verde.
Ao redor disto tudo a neblina vai chegando. Sua cor é lilás, muito suave quase azul. Os raios
do sol insistem em filtrar esta neblina, estendendo-se até o chão... Isto tudo junto nos dá a
sensação de muita paz e muito silencio. Ouça os pássaros o rufar das folhas das árvores!
Ouça o silencio que vai invadindo tudo. Assim relaxado você vai ouvir a história da terra dos
anões.
Sentadinho embaixo de uma das árvores estava um anãozinho todo enroladinho, pois sentia
frio embaixo de toda aquela neblina. Havia dormido algumas horas e quando despertou até
assustou-se. Quanto tempo estaria ali? Mas o sol ainda estava teimando com a neblina, então
não seria tão tarde assim. Seu nome era Igor e era ainda um menino. Muito pequenino, ainda
iria crescer mais um pouco. Gostava de dar estes passeios no meio da floresta, embora às
vezes sentisse um pouco de medo.
Levantou-se e com uma varinha na mão começou a vasculhar ali por perto. A vegetação era
bem fechada, mas dava para se ver o chão. Raspa aqui e acolá, olha para as árvores tão altas
para ele, até que de repente sua varinha bate numa coisa muito dura no chão... Deu um salto,
e com cautela foi chegando para ver o que havia ali. No chão como que plantada havia uma
espécie de tabua.
Ora, ora, que seria aquilo?
Muito curioso e cheio de idéias achou uma maneira de levantar a tal tabua. Força e mais força
e nada da tampa sair... Resolveu cavoucar ao redor da tabua. E foi assim depois de muito
tempo, que percebeu que havia resolvido o problema.
E agora tiro ou não?
O que será que está ai dentro?
Cheio de curiosidade e com um pouco de medo também, resolveu remove-la. Foi puxando de
lado um de cada vez, puxando...
Pronto saiu toda!
Era um buraco!
E agora entro nele?
Mas está escuro lá no fundo...
Ficou sentadinho na beira do buraco, quando então começou a ouvir um barulho que vinha do
fundo. Prestou bastante atenção e concluiu;
É o mar? Mas dentro de um buraco!
Estava tão curioso que entrou buraco adentro escorregando até o final... E, caindo numa
enorme poça de água. Estava em outro lugar. Havia muitas caixas pedras diferentes parecia
um depósito.
Vasculhou tudo que podia, pois o lugar era escuro. Conseguiu ver o conteúdo de algumas
caixas... Estava deveras alarmado muito surpreso. Nada era como em sua terra, tudo era muito
grande! 
Onde estaria então? Na terra dos gigantes, seria?
Muito assustado voltou com dificuldade para a floresta. Colocou a tábua quase que no lugar,
pois era pesada. Iria contar para seus pais o achado e com ajuda poderiam ver melhor tanta
coisa que havia lá em baixo. Voltou para casa sujo e estava cansado. Sua casa era como as
outras pequeninas de acordo com o tamanho e as necessidade deles. Contou ao pai o que
havia acontecido. Para sua surpresa o pai não se alarmou.
Diga meu filho, você esta precisando de alguma coisa?
Não meu pai.
Você foi mexer onde não devia.
Há muitos anos atrás, existia ali uma comunicação com a terra dos gigantes. Foi penoso para
nós, vivermos sempre nos escondendo sem termos o nosso chão. Hoje vivemos aqui e temos
tudo que precisamos. Aquela terra foi soterrada pela natureza, nem sabemos se os gigantes
ainda vivem. Só que eles não poderão subir pelo buraco que é muito estreito, e nós não
devemos descer, pois não poderíamos trazer nada para cá, e nem precisamos!
Colocamos aquela tabua como um marco, para lembrar-nos que existiu o perigo um dia. E
assim a paz voltou ao coração de Igor que já estava imaginando mil coisas sobre o tal buraco.
Como é bom poder dormir embaixo da árvore, ver o sol brincar com a neblina... Para que
procurarmos aventuras que depois irão nos tirar o sossego!
Chamou os amiguinhos e formaram uma turma bem grande, iria para a floresta procurar os
ninhos dos pássaros e frutas silvestres, acender uma fogueira e brincar muito, muito mesmo e
com muita paz. Continue relaxado, não entre no buraco não... Volte para a floresta e apanhe
uns raios do sol, veja a turma de Igor brincando. Brinque também, afinal você está na terra dos
anões...

BARATA E A VASSOURA

Maria Hilda de J. Alão.

Uma barata atrevida entrou, por uma janela, na casa limpíssima de uma senhora. Vendo a
intrusa andando apressada pela cozinha, a senhora muniu-se de uma vassoura e passou a
perseguir a barata dando vassouradas a fim de colocar para fora o asqueroso inseto. Mas a
bichinha, rápida como ela só, conseguiu escapar e foi se esconder na área de serviço numa
saliência da máquina de lavar.

Exausta e sem ver onde a barata se escondeu, a mulher pendurou a vassoura com o firme
propósito de, no dia seguinte, continuar com a perseguição.
Anoiteceu. A barata continuava lá no seu esconderijo bem quietinha, porém o seu estômago
roncava de tanta fome. O medo a fazia agüentar. Pensava:

- Seu sair agora a mulher me pega... o melhor é esperar...

E quando o silêncio se fez na casa, ela foi saindo devagar, silenciosamente. Caminhou um
pouquinho. Olhou ao seu redor. Não havia ninguém. Avançou mais um pouco e, de repente,
ouviu aquele barulho de cerdas duras raspando o chão: chap, chap, chap. 
Olhou assustada e viu que era a vassoura, pendurada num prego, que fazia movimentos para
atingi-la. Sabendo que a vassoura não podia sair dali sem ajuda, a barata partiu para a cozinha
a procura de comida. Subiu pelo pé da mesa e chegou até o cesto de pães coberto com uma
toalhinha branca. Infiltrou-se por baixo da toalhinha e roeu, roeu cada pão com gosto. Era um
sabor indescritível. 

Satisfeita, ela desceu pelo mesmo lugar que subiu. Andou, no escuro, pela casa toda deixando
o seu cheiro e as fezes, em forma de bolinhas, por todos os lugares. Voltou para a área de
serviço e parando diante da vassoura disse:

- Sofreste tanto para me expulsar e aqui estou eu de barriga cheia, enquanto tu, escrava, estás
aí pendurada. Nada podes fazer. – e pondo as patinhas na cintura ela fez caretas para a
vassoura cantando:
- nhã, nhã, nhã, nhã...

A vassoura ficou nervosa, rebolava, rebolava, mas do prego ela não saía.

- Mas que barata atrevida... e eu sem poder fazer nada...

E antes que amanhecesse e a dona da casa se levantasse e desse de cara com ela, a barata
subiu pela parede da área de serviço, na direção de uma fresta do vitrô e, antes de sair e ainda
rindo da vassoura, despediu-se:
- Adeus! Espero que a tua dor de cabeça sare logo... foram tantas as pancadas para me
atingir... nhã, nhã, nhã, nhã...
E saiu descendo pela parede exterior do prédio rumo ao seu ninho num lugar que só ela sabe.

A BONECA ZAROLHA

Maria Hilda de J. Alão.

Era uma vez, numa loja de brinquedos, uma boneca que nasceu zarolha. Ficava exposta na
mais alta prateleira, nenhuma menina a queria. Vivia triste. Via as outras bonecas serem
escolhidas e levadas para casa em lindos pacotes enfeitados.
Um dia, uma boneca de cabelos louros disse:
- Sabe por que ninguém quer você? Por causa dos seus olhos. Eles são feios demais. Veja os
meus – disse a convencida – são azuis, perfeitos, lindos de morrer. Logo serei levada por uma
menina.
A pobre zarolhinha chorou. Queria tanto ser escolhida, levada por alguém para fazer a
felicidade de uma menina. Mas, não saía da prateleira. 
Um dia, já estava perto do Natal, o dono da loja resolveu colocar a boneca zarolha na vitrine
repleta de outras bonecas. A loja encheu-se de crianças. Todos os brinquedos foram vendidos.
Das bonecas sobraram duas: a pobrezinha da zarolha e a convencida de olhos azuis.
O dono da loja pensou:
- A outra tem chance de ser vendida, mas a zarolha não tem jeito, vou jogá-la no lixo. Ninguém
quer esta boneca.
Enquanto pensava no destino que daria à boneca, reparou num homem que parara diante da
vitrine, empurrando uma cadeira de rodas onde estava sentada uma pequena menina. Ela
apontava para a vitrine. O homem entrou, empurrando a cadeira e pediu:
- Posso ver aquela boneca que está na vitrine?
- Pois não, senhor. Qual das duas?
- A que está à esquerda.
Admirou-se, porém não disse nada. Abriu a vitrine e entregou a zarolha nas mãos do homem
que a passou para a menina. Esta, emocionada disse:
- Papai, ela é tão linda! Veja a graça dos cabelos, os braços roliços... as mãozinhas... Veja os
pés... são tão mimosos! O vestido é uma beleza! A carinha é rosada, perfeita. Compra ela pra
mim, papai.
E o homem comprou, pagou e saiu empurrando a cadeira onde estava sentada a criança,
levando um belo pacote no colo e, dentro dele, feliz estava a boneca zarolha.
Moral: Os olhos da alma são capazes de ver a beleza que os olhos da cara não vêem.
A DISCUSSÃO DOS TALHERES

Maria Hilda de J. Alão.

Garfo, faca e colher estavam numa gaveta discutindo um assunto sério: quem era o melhor e o
mais útil no mundo dos homens. A faca, vaidosa, dizia:
- Eu facilito a vida do homem. Corto coisas enormes que ele jamais poderia utilizar ou comer
sem a minha ajuda.
O garfo, muito metido, disse com empáfia:
- Sem mim os homens teriam de usar os dedos para levarem os alimentos à boca, e como
esquecem de lavar as mãos engoliriam tanta bactéria que teriam indigestão bacteriana.
- Você sabe por que o homem comia com os dedos?
- Não. – disse o garfo.
- Porque achavam que o alimento era sagrado e por isso devia ser comido com os dedos.
- Mas sem lavar as mãos, não é dona faca? Eu continuo dizendo que sou a ferramenta
indispensável na mesa dos humanos. 
A faca, nervosa, retrucou:
- Deixa de ser burro, garfo tonto. Garfo sem faca é o mesmo que relógio sem ponteiro, um não
funciona sem o outro. Eu sou talher mais antigo da história! Fui feita de pedra e servia para a
caça e defesa. Depois passei a ser feita de bronze, isso numa outra época. 
- Eu sei, seu bobo enxerido, que o homem oriental usava pauzinho a guisa de garfo, feito de
bambu e tinha um nome engraçado, hashi. Isso você não sabia. Sabia? Sei, também, que
apesar de você ser antigo só chegou ao mundo ocidental no século XI, na Itália. Você foi criado
pelos gregos e adotado no século VII pelo Império Bizantino. Na Inglaterra, até o início do
século XVII você era considerado utensílio efeminado.
- Não fale assim de mim, dona faca. – choramingou o garfo - Eu não sou efeminado. Eu nasci
para facilitar, não para complicar. Eu sei tudo isso que você falou. Sei que ainda hoje, entre os
orientais, permanece o uso dos pauzinhos. Com os pauzinhos o homem demorava muito
tempo para comer. Cada vez que ele pegava uma porção para levar à boca, caía tudo de volta
para o prato. Comigo não. Ele me enche de comida e eu entafulho a sua boca.
- Você, seu garfo, é malvado porque incita o homem a comer demais e muito rápido. O
costume de comer muito e rápido é prejudicial à saúde. Os pauzinhos são uma forma de
disciplinar a alimentação. Aos poucos e devagar. Com eles não se pode pegar um bolão de
comida.
- Não adianta, dona faca, sem esse garfinho aqui o homem é nada vezes nada.
- Ora, não seja convencido! - exclamou a faca – às vezes você machuca a boca das pessoas.
- Ah, é!? E você que corta os dedos das crianças.
- Só das crianças desobedientes. Eu ouço sempre as mães dizendo:
- Crianças não brinquem com facas...
E o garfo exultante acrescentou:
- Viu, viu como eu sou mais útil do que você? Eu nunca ouvi uma mãe dizer: - Não peguem o
garfo, crianças! Ah, ah, ah, eu sou bom demais!!!
- Pode rir seu bobo. – disse a faca amuada – o seu deboche não me atinge, porque eu sei que
você também é perigoso nas mãos das crianças. 
E a discussão continuou. A colher, que estava quietinha lá no seu cantinho, numa das divisões
do porta-talher, interferiu:
- Dá licença!
- Pois não, dona colher – disse o garfo.
- Vocês estão nessa discussão boba de quem é melhor, quem é mais útil sem pensar que
somos um conjunto. Deus permitiu que o homem tivesse a inspiração para nos criar e fazer de
nós o pai, o filho e o espírito santo das cozinhas. Somos a tríade que facilita o trabalho de
preparar e ingerir os alimentos. A minha história é meio nebulosa. Foram encontrados, em
escavações, objetos semelhantes a mim, provavelmente, com mais de vinte mil anos. Sei que
os gregos antigos utilizavam a colher de pau para preparar e comer os alimentos. Como vocês
podem ver a minha história não é tão interessante quanto as suas. O que tenho certeza é que
já fomos objetos rústicos, hoje somos mais modernos. Somos feitos de metal, plástico e
madeira. Somos até jóias feitas em ouro e prata. Mas a nossa função é a mesma, desde que
surgimos na civilização: ajudar o homem na sua alimentação. 
Nós somos a união, e a união faz a força. Lembrem-se que um é complemento do outro. E se é
para se gabar de utilidade, eu quero fazer uma pergunta:
- Diante de um fumegante prato de sopa, quem é o mais útil? Ah, ah, ah, ah, peguei vocês.
A DOR DE DENTE DO URSO

Maria Hilda de J. Alão.


Ai. Eu tenho um espinho no dente
Ai. Quem puder retirar qu’entre de sola
Ai. De frutos darei uma sacola,
Ai. Pra quem curar esta dor de dente.

Era assim que gemia um enorme urso marrom no meio da floresta. Os outros bichos tinham
pena, porém não se arriscavam.
- Coitado! Queria muito ajudar, mas eu tenho medo porque sou tão pequeno e para alcançar o
espinho preciso entrar em sua boca. – dizia um coelho branco.
- Eu também tenho medo, - disse uma anta – nunca se sabe o que pode um urso fazer. Ele já
não come há dias. Sinto muito, mas não posso ajudar.
- Acho que desse jeito ele não vai parar de gemer. É certo não fazermos nada? – perguntou a
raposa vermelha.
- Será que somos tão covardes? Como saber se o urso atacará quem o aliviar da torturante
dor? – perguntou o leão de juba negra.
- Pelo sim ou pelo não, é melhor não arriscar. Se fosse você faria o quê? – perguntou a
prudente coruja. 
O leão não respondeu. O urso continuava a gemer com sua forte dor, quando chegou um
caçador. Ao ver o urso, ele preparou a arma para atirar, mas percebeu que o animal gemia e
não esboçou nenhum movimento de ataque. Alguma coisa estava fazendo aquele urso sofrer
muito. 
O urso, deitado no chão, parecia não ter notado a presença do homem. Gemia e se contorcia
muito. O caçador se aproximou medroso, e oculto por um tronco, olhou, e viu espetado na
gengiva do urso um grande espinho. Saiu do seu esconderijo e chegando mais perto arriscou:
ele pôs a mão na cabeça do urso. Nenhuma reação brusca. Neste instante um macaco
exclamou:
- Meu Deus! – e cobriu os olhos com uma das mãos para não ver o urso atacar o homem.
Silêncio total na mata. O caçador, devagar, mesmo tremendo abriu a boca do urso e com uma
ferramenta, puxando de uma só vez, arrancou o espinho que causava tanta dor ao bicho. 
O animal soltou um urro que se ouviu muito além da floresta. Ficou ali, deitado, aliviado. Já não
havia mais dor. O caçador, ainda receoso, acariciava a cabeça do urso. Em dado momento o
urso se levantou. Ouviu-se, em uníssono, um “oh” de preocupação pela vida do homem. 
O vento parou e todos os bichos fecharam os olhos para não ver. Quando abriram, a cena era
inusitada. Aquele enorme urso lambia, agradecido, o rosto do caçador. Depois, afastou-se
silencioso para o meio da floresta. Então a bicharada explodiu em aplausos para o caçador,
exaltando a sua coragem, a sua humanidade, a sua sabedoria e a sua fé. O caçador partiu
emocionado, e depois desse acontecimento nunca mais caçou animal algum.
AS DUAS CARTAS

Maria Hilda de J. Alão.

Faltavam duas semanas para o encerramento das aulas e as crianças do Grupo Escolar Cristo
Rei tinham aulas de recreação. Todos estavam aprovados para o ano seguinte e, como disse a
professora, agora era só brincadeira. Num desses dias, a professora começou a falar sobre a
festa de Natal, presentes, igrejas e tudo mais que envolve esta bela data. Séria, ela perguntou
aos alunos se eles já haviam escolhido seus presentes. Foi uma agitação total. Todos falavam
ao mesmo tempo e ninguém entendia nada. A professora então disse:
- Calma, crianças! Falem um de cada vez para que todos possam ouvir e entender.
A ordem foi estabelecida. A primeira a falar foi a Aninha. Ela pediu uma boneca e uma bicicleta,
o Arnaldo, uma bola oficial de futebol, o Marcelo queria jogos de armar, o Carlinhos, o menino
com cara de intelectual, queria livros porque ler era o seu passatempo predileto. Todos estes
pedidos foram enviados, através de carta, ao Papai Noel. A professora percebeu que o
Pedrinho não dissera uma palavra.
- Então Pedrinho, você não pediu nada? – perguntou ela.
- Não. Este ano eu é que vou dar presente. – respondeu a criança.
- Para quem? 
- Para o aniversariante! 
- Pedrinho, o aniversariante é Jesus de Nazaré. Como você entregará o presente para ele. 
- Ora, professora, isso é comigo e o Papai Noel. Eu escrevi pra ele e pedi pra ele entregar. 
A professora ficou pensativa. Claro que a criança tinha razão, no Natal são poucas as pessoas
que se lembram do aniversariante.
Enquanto isso, lá no Pólo Norte, o correio chegava com milhões e milhões de cartas de
crianças pedindo de tudo. Os ajudantes do Papai Noel estavam deveras atarefados, sem
tempo nem para comer. Eles precisavam abrir aquela correspondência toda antes do dia vinte
e cinco de dezembro para não atrasar a entrega dos presentes. Já estavam quase no fim
quando um dos ajudantes disse:
- Engraçado, aqui tem duas cartas da mesma pessoa; uma é para o Papai Noel e a outra é
para... Jesus de Nazaré... e tem um pacote também endereçado a ele. – disse o ajudante de
olhos arregalados porque nunca havia acontecido um fato deste.
O Papai Noel ouvindo aquilo deu a ordem:
- Abra a carta endereçada a mim.
O ajudante abriu e leu:
“Querido Papai Noel. Este ano eu não quero presentes. Tenho todos e tudo que pedi. Por isso
eu só peço uma coisa: dá pro senhor entregar a outra carta e o pacotinho para o filho de Deus?
Eu sei que o senhor está mais perto dele, portanto fica mais fácil. Obrigado. Feliz Natal e um
beijo do Pedrinho.”
O Papai Noel ficou comovido e se apressou em atender a solicitação da criança. Entregou tudo
nas mãos de Jesus Cristo. Jesus abriu a missiva e começou a ler em voz alta.
“ Senhor Jesus.
Dia vinte e cinco de dezembro é o dia do seu aniversário. Aqui na Terra todos comemoram
com festas e presentes, só que eu nunca vi ninguém dar um presente pro senhor. Então eu
resolvi que este ano eu vou lhe dar um. Não é uma bicicleta porque o senhor não saberia andar
nas nuvens com ela, nem bola, acho que não saberia jogar, nem carrinho, nem pipa ou pião,
nada dessas coisas. São as minhas ações praticadas. A obediência e o respeito, a
solidariedade, o amor aos semelhantes e a fé em Deus e no senhor. Sei que não é muito
porque ainda sou pequeno, mas saiba que tudo é de coração. Eu embrulhei o presente com
papel de oração para que não se perca pelo caminho. 
Desejo-lhe um feliz aniversário, ao lado dos seus pais e dos zilhões de amigos que o senhor
tem. Ah! Não se esqueça de, quando apagar a velinha, fazer um pedido.
Um beijo do seu amigo.
Pedrinho.”

Jesus terminou a leitura. Abriu o pacotinho e lá estavam as boas ações do Pedrinho todas
arrumadinhas com muito capricho. Levantou-se e foi até a janela da sua morada e olhando
para baixo, deixou que as duas lágrimas que bailavam nos seus olhos caíssem sobre a Terra
abençoando tudo e todos no dia do seu aniversário.
- Vovó, eu também posso mandar um presente pra Jesus?
- Pode sim. Todo o bem que você fizer, faça em nome Dele que ele irá juntando tudo e
guardando no armário que cada um de nós tem no céu. Este é o melhor presente que podemos
ofertar a Jesus em todos os dias da nossa existência.
AS DUAS VAQUINHAS

Maria Hilda de J. Alão.


Uma camponesa tinha um galinheiro com muitas galinhas de boa raça, algumas cabras e
carneiros, um boi e duas lindas vaquinhas. Bem tratadas, as vaquinhas davam muito leite o
que provocava a inveja do seu vizinho, um homem de maus bofes. Um dia, ao se levantar pela
manhã, a camponesa não viu as vaquinhas no pasto. 

Ficou desesperada. Saiu procurando por todos os lugares e não as encontrou. Já estava sem
esperança de achar os animais quando topou com o moleque Quincas que lhe disse:
- As vacas estão com o Bastião, o homem sem coração.

E como ele sabia disso? Perguntou a camponesa com os olhos brilhando de alegria. É que na
última invasão de Quincas ao pomar do Bastião, para apanhar as goiabas maduras ele viu,
escondidas no fundo do curral, as duas vacas. A mulher foi falar com Bastião. 
Pediu a devolução das vacas e o homem, grosseiramente, lhe disse que para devolver as
vacas ela teria de “untar” a sua mão com o que ela escondia no armário da cozinha. A pobre
mulher, analfabeta, não sabia o significado de “untar”, então ela foi perguntar ao juiz que lhe
disse:

- Untar é passar substância gordurosa em algo ou alguém...

A camponesa voltou para sua casa e mandou avisar ao Bastião que ela iria, no dia seguinte,
buscar as duas vacas. Assim fez. Chegou trazendo um caldeirão bem tampado. O homem foi
logo perguntando, de olho no caldeirão:

- Vai “untar” a minha mão com aquilo que você guarda no armário da cozinha?

Ela não respondeu. Aproximou-se. O homem estendeu a mão. Ela tirou a tampa do caldeirão,
meteu a mão e sacou um punhado de banha passando na mão do espertalhão dizendo:

- Pronto, já untei a sua mão! Agora quero as minhas vacas.

- Nada disso! Quando eu disse “untar” eu quis dizer “pagar” com aquilo que você guarda no
armário da cozinha. – disse nervoso o Bastião.

- Acontece que “pagar” é com dinheiro, e dinheiro eu guardo no colchão e não no armário da
cozinha. Eu cumpri a minha parte direitinho: “untei” a sua mão conforme o seu pedido, agora
você cumpra a sua devolvendo as minhas vacas ou eu levo o caso ao conhecimento do senhor
juiz.

Vendo a besteira que fizera, Bastião, que temia a severidade do juiz, devolveu as duas
vaquinhas e aprendeu que aquele que se julga muito esperto é sempre o mais tolo. 
A FADA E O SAPO

Maria Hilda de J. Alão.

Todas as noites uma fada ficava um tempão olhando para o céu. Sentada numa árvore ela
contava as estrelas, observava as constelações, a estrela polar, o cruzeiro do sul e todas as
estrelas que seus olhos mágicos podiam ver. Ficava maravilhada. Como é lindo! O espaço,
para ela, era como um imenso veludo negro bordado com faiscantes diamantes. Um sonho. 
Desejava poder viajar por este espaço levando a varinha de condão para fazer suas mágicas:
saltar de estrela para estrela do jeito que se pula a amarelinha; unir estrelas com um traço para
formar variados desenhos; fazer aparecer uma ponte ligando a Terra à Lua e levar sua casinha
de vitória-régia para passar férias. Mas na Lua não existe água! Não tem importância, com a
varinha mágica ela riscaria o solo e nasceria um belo rio. Estava concentrada nesses
pensamentos quando uma vozinha a despertou:
- Sonhar é bom; com o possível é melhor ainda...
Era o velho sapo que vivia na margem do rio, e que, há muito tempo, vinha observando a fada
sonhadora.
- Tens razão, mas sonhos possíveis e impossíveis fazem parte de mim. Por acaso não
conheces as histórias de fadas, gnomos e outros seres imaginários? – perguntou ela.
- Conheço. Nesta minha longa vida eu já vi de tudo, mas o que eu quero dizer é que não se
deve olhar só para cima. Experimente olhar para baixo, a beleza lá do alto está refletida aqui
de forma diferente. Já prestou atenção no beija-flor; na orquídea; na vitória-régia onde você
mora; no rio que serpenteia o verde da mata? Você não precisa viajar para o espaço a fim de
realizar seu sonho. Veja as águas plácidas do rio!
A fadinha olhou e viu refletido, no espelho da água, o céu com toda a sua maravilha. Bateu
suas asinhas de libélula e voou sobre a água ouvindo o sapo que dizia:
- Vamos menina, faça a sua mágica. Use a varinha de condão para viajar da forma que
sonhou. Você tem aí o universo a sua disposição. Voe, salte, corra...
Ela voava e cantava, pulando de estrela para estrela sem tocar a água. Era o seu jogo da
amarelinha. Fazia traços no ar, com a varinha, como se estivesse unindo as estrelas. A ela se
juntaram todos os pirilampos e o rio tornou-se encantado com a magia das luzes do céu e da
terra. 
A alegria da fada e a luz dos pirilampos despertaram os bichos que se propuseram a divinizar a
viagem da fadinha pelo universo que corria com as águas. Formou-se um afinado coral
entoando a sinfonia da natureza. As árvores emocionadas choravam lágrimas de sereno que
caiam no rio formando pequenos círculos, e os peixes não nadavam para não quebrar o
encanto da cena. O canto prosseguia e cada nota emitida era uma nave espacial levando os
sonhos da fadinha e de todos os viventes que, de uma forma ou de outra, passam algum
tempo com os olhos pregados no céu tentando decifrar o mistério das estrelas. 

A FESTA DA GRAMÁTICA

Maria Hilda de J. Alão.

Um dia dona Gramática resolveu dar uma grande festa. Queria reunir todos os membros da
Língua Portuguesa. Convite feito, convite aceito. No dia marcado foram chegando os
componentes da Fonética, da Morfologia, da Semântica, da Sintaxe e da Estilística e já foram
formando seus grupos. Todos vestidos a caráter. Dona Gramática estava feliz com o evento.
Como é bom ver os filhos reunidos em concordância. 
O baile estava animadíssimo. O Ditongo dançava com a Divisão Silábica muito disputada pelo
Tritongo e pelo Hiato. O Radical conversava com a Raiz enquanto observavam o animado jogo
de palavras entre o Sinônimo e o Antônimo. A Conjunção, que havia bebido um pouco, não
sabia se era coordenativa ou subordinativa, foi preciso a intervenção da Interjeição para acabar
com a dúvida. O grupo das Vogais desafiava o das Consoantes.
O Substantivo estava numa dura queda de braço com Adjetivo, tudo num clima de amizade. O
Artigo Masculino namorava, lá no cantinho escuro, com o Artigo Feminino que determina a
palavra Felicidade para que ela seja eterna. A Derivação batia um papo com a Composição.
Falavam das suas formações. A Derivação se acha importante porque é formada por
sufixação, prefixação, parassíntese e derivação regressiva. A Composição também tem seu
orgulho ora ela é justaposta, ora é aglutinada. A Oração Sem Sujeito fofocava com Oração
Reduzida, o Objeto Direto deu uma rasteira no Agente da Passiva e saiu com a Regência
Nominal em clima de Prosódia e Ortoépia. A Onomatopéia rodopiava pelo salão. O Eufemismo
tentava suavizar as palavras para dizer à Hipérbole o quanto ela dança mal. O Pleonasmo dizia
à Antítese que só acreditava naquela festa porque estava vendo com “seus próprios olhos”. A
Reticência dava uma de cantora, mas era tão desafinada que o Cacófato veio correndo para
calar “a boca dela”.
Lá pelas tantas, a Gramática ouviu um rumor parecido com uma discussão. Correu para o
canto de onde vinha o alarido e chegou a tempo de ver e ouvir o Verbo gritando:
- Eu vou falar, eu quero falar. 
A Gramática interferiu.
- Meu filho qual é o problema?
Nesse momento já havia parado a música e todos estavam aglomerados em torno da
Gramática e do Verbo.
- Desde que eu cheguei nesta festa que ouço vocês contando vantagem. Um é isso, outro é
aquilo. Porque um é melhor e o outro pior. Droga! Nós somos uma família. Pertencemos ao
mesmo idioma, sendo assim um não pode ser melhor que o outro. Nenhum brilha mais que o
outro.
Foi nesse momento que o Verbo Auxiliar aplaudiu:
- Bravo companheiro. É isso aí. Onde já se viu uma coisa dessas. Já pensou se cada elemento
de um idioma começasse a dizer que é o tal? Seria uma Babel. 
Todos ficaram calados. E o Verbo, muito nervoso, continuou a falar com sua potente voz:
- Senhores, nós somos um exército composto por soldados talhados na forma de palavras.
Lutamos numa guerra eterna para não perder a nossa identidade, para não deixar o invasor
nos assimilar e implantar o seu idioma. Apesar da nossa vigilância vem a infame influência e
planta uma palavrinha aqui, outra ali e quando abrirmos os olhos já não haverá um idioma,
somente um dialeto. É preciso ensinar as crianças, desde cedo, a amar a língua. Como fazer?
Ensinando-as a falar e escrever corretamente.
- Vejam os erros de concordância nas redações, isso é só uma parte, sem contar a
incompreensão de textos e outras coisas mais. Tudo isso por conta do mau ensino. E vocês
ficam aí discutindo bagatelas.
O verbo sentou e chorou. Dona Gramática, pensativa, admitia o erro no ensino da língua.
A festa que começara animada voltou aos “tempos primitivos” e foi preciso um “Imperativo” na
tentativa de restaurar a alegria. A orquestra de letrinhas, que parara de tocar, começou a
recolher os instrumentos que estavam no chão. E para que não houvesse mais confusão o
Sujeito subiu numa cadeira e gritou.
- Aí pessoal, vamos agitar porque essa festa não está mais “manera”, parece um cemitério, pô.
Os “manos” vieram aqui dançar e levar um “lero” legal.
- Vejam que falei gírias, também uso a forma culta, isso foi só para mostrar como é belo esse
idioma que tem palavras para designar qualquer coisa. Procurem por aí a palavra saudade,
ninguém tem, só nós. Tem mais pessoal, na festa da dona Gramática não há lugar para se
discutir problema de ensino, aqui é o lugar da união de todos para formarmos um só corpo.
Discutir ensino de gramática, isso é lá com “seu” Ministro.
Todos concordaram e o Sujeito saiu balançando o esqueleto pelo salão à procura de uma
Flexão Adjetiva para um giro numa folha de caderno. 
A FESTA DO FOLCLORE

Maria Hilda de J. Alão.

No mundo das lendas e dos mitos do Brasil havia um grande alvoroço. Estava chegando o dia
de festejar o Folclore brasileiro. A preparação estava acelerada. A Mula-sem-cabeça, agitada,
preparava as bandeirinhas coloridas, o Saci-pererê, que havia prometido ajudar, fazia suas
peraltices trançando as crinas dos cavalos das fazendas, o que deixava os fazendeiros
furiosos. Quando se lembrou da promessa, correu para ajudar a Mula a enfeitar o terreiro. Com
seu cachimbo vermelho, soltando grandes baforadas, ele dizia:

- Cumade Mula-sem-cabeça, eu num sei si vai chegá muita gente pra essa cumemoraçãu. Hoji
tá tudo tão isquisito! - A Mula-sem-cabeça, cortando as bandeirinhas, perguntou:

- Pur causa di quê, cumpadi?

- Minina, tu num sabi não? U pessoar dessi país anda inventandu umas festanças qui eu num
sabia qui inxistia. Um tar de Dia das Bruxas. Ocê cunhece, aqui nu Brasir, essa tar de Bruxa?

- Nunca ouvi falá di tar sinhora. – respondeu a Mula-sem-cabeça.


Foi neste momento que chegou o Boitatá com seus grandes olhos de fogo e ouviu boa parte da
conversa.

- Mi disse u meu amigu lubisome, qui é dama da terra dus gringus. Eli tamem num sabi pruque
insinam as crianças a festejá um custume qui nãu é du povu brasilero.

Estavam nesta conversa animada quando chegou o Curupira. Como ele é o protetor das matas
e da caça, trazia a carne para o churrasco que não deve faltar em qualquer festa. Chegou o
Lobisomem avisando que antes do sol nascer ele teria de voltar para casa. Uns minutos
depois, tocou uma corneta no meio do rio: era a Mãe d’água, a Uiara, que vinha numa canoa
enfeitada com muitas flores brancas para participar da festa. O Negrinho do Pastoreio veio lá
do Rio Grande do Sul montado num cavalo baio.

E prepararam tudo para a festa do Folclore no dia 22 de agosto. O terreiro estava lindo. O
trabalho dos personagens folclóricos ficou perfeito. Faltava a luz para iluminar tudo, pois
chegariam muitas crianças. A Mãe d’água deu a ordem:

- Dona Mula-sem-cabeça, acenda as tochas com o seu fogo!

- Sim, rainha das águas. – Ela obedeceu. O terreiro ficou claro como o dia. E começou a
chegar a meninada. As crianças foram sentando e, curiosas, perguntavam, umas às outras,
como seria o saci, o boitatá, o lobisomem. Elas nunca viram nenhum deles. Os acompanhantes
das crianças organizam filas, dividiam-nas por idade e tamanho antes de abrir a cortina do
palco. Todo mundo sentado, abriu-se a cortina e o Saci apareceu. As crianças bateram palmas
e diziam: - Ele é igualzinho como nos livrinhos de histórias. – Vejam, o gorro vermelho e o
cachimbo. É tudo igualzinho.
O Saci se curvou para agradecer e disse em voz alta: 
- Mininada, vai cumeçá a festa du folclore! Pra iniciá, vem aí a Mãe d’água! – e estendeu o
braço apontando para a Uiara, com seu vestido branco e azul, bordado com estrelas brilhantes.
Ela cantou, lindamente, a canção de amor que enfeitiça os pescadores, levando-os para o
fundo das águas onde ela mora. Depois foi a vez do Boitatá, grande cobra de fogo. 

Ele é o gênio protetor dos campos e carrega consigo o orgulho de ter sido citado pelo padre
José de Anchieta, como personagem de mito indígena. Foi aplaudidíssimo. 

O Curupira, com seus pés para trás, sentou no chão do palco e narrou as suas aventuras em
defesa das matas e dos animais. - Muito bem! Gritavam as crianças. O mesmo fez o
Lobisomem com relação a sua história. Era o oitavo filho de mãe que teve sete filhas, por isso
ele virava lobisomem nas noites de lua cheia. As crianças ficaram com peninha dele. –
Coitadinho! Murmuravam. Depois foi a vez do Negrinho do Pastoreio. A história dele é muito
bonita, pois Nossa Senhora o salvou dos maus tratos que ele sofria na fazenda. Os olhos da
garotada ficaram cheios de lágrimas de tanta emoção. – Ainda bem que Nossa Senhora cuida
das criancinhas! – disse uma delas enxugando os olhos com a manga da blusa.
Conhecida a lenda de todos, imediatamente, o Saci anunciou a segunda parte da festa. Era o
momento das cantigas e das danças. E como foi bonito ver as crianças, vestidas com roupas
alusivas à data, cantando e dançando, mostrando a riqueza do folclore do Brasil.
A FLORESTA DE CHOCOLATE

Maria Hilda de J. Alão.

- Vovó, isto que você está fazendo é o meu bolo de chocolate? – perguntou o menino de cinco
anos, que entrou correndo na cozinha.
- É, meu querido! Seu gostoso bolo de chocolate. – respondeu a senhora.
- Você me deixa lamber a tigela? – perguntou ele já sentido a água crescer em sua boca.
- Só se não sujar a cara nem a roupa porque sua mãe fica brava comigo. – respondeu a vovó
colocando o bolo no forno. Entregou a tigela para o menino, sentou-se em frente dele e disse:
- Enquanto você lambe o resto de massa de bolo, que ficou na tigela, eu vou contar a história
da floresta de chocolate.
- Que legal! Oba! Existe floresta de chocolate, vovó?
- Não. Só nesta história que vou lhe contar. – e a vovó começou a sua narrativa.
- Num tempo que já vai longe demais, havia um reino governado por um rei muito triste. O seu
palácio era pintado com tinta cinza, o manto real era de seda cinza, o céu, que ficava acima do
palácio real, era coberto de nuvens cinzentas. O rei tinha fechado o seu reino e o seu coração
para a alegria não entrar. Ele não deixava as crianças brincarem. Elas não podiam cantar, nem
dançar, nem correr, tinham de ficar caladas andando nas pontas dos pés para não incomodar o
rei. 
O rei proibiu que fabricassem doces, balas, bolos e todas as guloseimas que as crianças
adoram. Ele dizia que as crianças fazem algazarra quando comem doces e ele não suportava
isso. Ficava na janela do palácio, horas e horas, olhando as crianças sentadas no chão da
praça conversando bem baixinho para não perturbar o seu sossego. Depois se recolhia no
quarto real com os olhos vermelhos como se tivesse chorado.
Era neste reino que morava a menina Lisandra com sua cadelinha Lilica. Toda manhã a
menina levava a cadelinha para passear pelas ruas do reino e quando estavam chegando perto
do castelo do rei, ela dizia:
- Lilica, não pode latir correndo atrás dos passarinhos, ouviu!
A cadelinha balançava a cabeça, dando sinal de que entendera a recomendação. Que lugar
silencioso! Parecia um imenso deserto. Um dia, já cansada disso, Lisandra foi conversar com a
fada Lilás que era sua amiga. Ela queria saber o motivo da tristeza do rei. A fada Lilás contou a
história. O rei estava casado há muito tempo e não tinha filhos. O seu sonho era ter seus filhos
correndo pelo castelo, muita risada, muita brincadeira, mas esta alegria a vida não lhe deu, e,
assim sendo, ele resolveu decretar a lei do silêncio para as crianças. Então era isto.
Foi de Lisandra a idéia. Já que não podiam brincar no reino que tal brincar em outro lugar bem
longe. De repente as crianças desapareceram. Durante as manhãs e as tardes de verão não se
via mais elas andando silenciosamente pelas ruas. O rei ficou intrigado. Chamou seu primeiro-
ministro e perguntou:
- Onde estão as crianças? 
- Majestade, ninguém sabe. Elas, simplesmente, sumiram. – respondeu o primeiro-ministro
temeroso, pensando nos seus cinco filhos que também sumiam e voltavam só a noitinha,
sérios e compenetrados, sem dizer onde estiveram.
- Então mande apurar. Eu quero saber o que está acontecendo. – ordenou o rei.
E assim foi feito. O primeiro-ministro foi à presença do rei com a resposta:
- Majestade, as crianças, todas incluindo os meus filhos, depois das aulas e de cumpridas as
tarefas, elas vão, sorrateiras, para a floresta.
O rei ouviu calado. Levantou-se do trono, e disse ao primeiro-ministro:
- Amanhã eu quero ir até a floresta. Preciso ver o que está acontecendo.
Assim foi feito. Quando o rei chegou ficou admirado. Dentro da floresta verdadeira havia uma
outra toda de chocolate. As árvores, as frutas, as flores, os pássaros, os bichos, os rios,
córregos e riachos, tudo era de chocolate. As pedras eram feitas de torrão de açúcar mascavo
com gotas de chocolate, assim como os morros e as montanhas. Foi a fada Lilás quem fez a
mágica. O rei ficou parado vendo a alegria das crianças. Elas corriam, riam alto e comiam os
frutos de chocolate. Para beber era só se agachar, e com um canudinho, sugar o chocolate
quentinho do rio. Depois foram brincar de roda. Cantaram uma canção que fez cair lágrimas
dos olhos do rei.
“Onde eu moro tem um rei
Que impôs a solidão
Proibindo as brincadeiras
Ele é um bicho-papão.”

Neste momento elas ouviram uma voz forte, era o primeiro-ministro:


- Sua majestade, o Rei. – e bateu com a ponta do bastão furando o chão de chocolate da
floresta. As crianças ficaram em silêncio. O rei se aproximou, ainda tinha uma lágrima no canto
do olho, e disse:
- Continuem, continuem... é muito bonita a canção.
Lisandra, com todo o respeito, chegou perto do rei e com o seu lencinho de seda na mão
pediu:
- Senhor rei, posso secar esta lágrima que está no canto do seu olho?
- Pode sim, menina.
E Lisandra secou a lágrima real. Depois, tomando o rei pela mão, o levou para conhecer a
floresta de chocolate. O rei subiu e desceu morros, bebeu chocolate do rio, subiu na goiabeira
e saboreou uma gostosa goiaba de chocolate branco. Correu atrás de uma borboleta de jujuba
com os olhinhos de chocolate. Descobriu, no meio do capim açucarado, um leão de chocolate
com a juba de creme de amêndoas; uma cobra listrada de chocolate marrom e branco; um
coelho branquinho, de açúcar, com olhos de amendoim com cobertura de chocolate. A guarda
do rei estava preocupada. Ele mudou. Já não estava triste. Pela primeira vez eles viram um
sorriso no rosto do monarca. Quando cansou de tanta brincadeira, o rei pediu silêncio, ele ia
falar.
- Crianças, a partir deste momento, eu devolvo a vocês o direito de brincar, sorrir e cantar
muito. Quero muita alegria, quero fazer parte do mundo infantil, embora eu seja um rei um
tanto velho. 
As crianças bateram palmas, e fizeram uma roda em torno do rei cantando uma nova canção.

“Chegou a hora da folia


Nosso rei restaurou a alegria
Xô tristeza, vá embora,
Neste reino só felicidade mora.”

E, a partir daquele momento, o rei abriu as portas do palácio para as crianças do seu reino que
lhe deram a felicidade que ele desejava.

- Sabe vovó, eu queria morar num lugar assim.


- Por quê? Não está feliz aqui com o papai, a mamãe e a vovó?
- Estou sim, era só pra comer toda a floresta de chocolate. – disse o menino rindo muito.
- Ah! Seu malandrinho. Vamos lavar esta cara toda lambuzada antes que sua mãe chegue.

A LEBRE

Maria Hilda de J. Alão.


Corre e pula a branca lebre
Fugindo do esporte que é febre.
Não é olimpíada de bicho,
É do homem um capricho

Caçar tão indefeso bichinho.


Às vezes escapa porque ele não acompanha
A sua corrida que mais parece
Vôo rasante e desaparece
Entre o capim que floresce.

Mas a lebre não foge da sanha,


Da bocarra que a abocanha,
Do tigre que vem com manha
Fazer dela a sua picanha.
A MAMÃE GALINHA

Maria Hilda de J. Alão.

Vivia, num grande galinheiro, uma galinha e sua ninhada de pintinhos. Eram doze lindos
pintinhos amarelos e brancos. A mamãe galinha cuidava de todos com muito amor. Levava a
ninhada para tomar banho no tacho que servia de bebedouro, espojar-se na terra para acabar
com os piolhinhos que se escondem sob as penugens e penas das aves, e deitar ao sol para
se aquecer até o momento de comer. Ah, neste momento a mamãe galinha dizia:
- Crianças, hora de comer! - E lá vinham todos correndo e piando alegremente liderados pelo
pintinho que saiu primeiro da casca do ovo, o irmão mais velho. Avançavam na comida que o
fazendeiro preparava diariamente para servir às aves, mas a mamãe galinha, sempre atenta,
levava a prole para o cantinho onde o homem colocava o milho bem picadinho, acompanhado
de verdura cortada bem fininha. Eles ainda não podiam comer a comida das aves adultas, pois
se engasgariam com os grãos de milho. Depois de comer iam descansar sob as asas
quentinhas da mamãe galinha.
Assim eles foram crescendo. Já estavam empenados, sabiam ciscar o chão com força
procurando bichinhos e pedrinhas para um rápido lanche enquanto não chegava a hora da
próxima refeição. Um belo dia a mamãe galinha chamou os pintinhos. Eles correm para ela.
Então ela contou: um, dois, três, quatro...onze. Huuum! Está faltando o mais velho. A mamãe
galinha ficou desesperada e começou a chamar:
- Có, có, có, có... - O pintinho não apareceu. Ela percorreu o imenso galinheiro, não encontrou
o filhinho. Foi então que viu um buraco na rede de arame que cercava o galinheiro. Entendeu
tudo. O pintinho saiu por ali. E agora, fazer o quê? Ela não podia deixar os outros filhos
desprotegidos. Se saísse na certa os outros pintinhos escapariam pelo buraco da cerca e se
perderiam. Ficou ali, diante do buraco, esperando. Os onze pintinhos estavam tristes, não
tinham mais o irmão para liderar as brincadeiras. De vez em quando, ouvia-se o chamado da
mamãe galinha. Era um có, có, triste, cheio de preocupação de uma mãe que espera o filho.
À tarde começou a chover, e o vento forte balançava a rede do galinheiro. A mamãe galinha se
recolheu junto com os pintinhos na casinhola que era seu ninho. Agachou-se sobre as palhas,
abriu as asas e recolheu todos os filhos. As outras galinhas e os galos perceberam a tristeza
da mãe. A galinha carijó, que dormia no poleiro em frente à casinhola, disse:
- Comadre, não fique triste... ele saiu para conhecer o terreiro da fazenda e como é muito
extenso demora um pouco. Logo estará de volta.
- Sei não, carijó. Com esse tempo, esse vento forte... Penso que o vento pode levar meu filho
para longe, e ele, tão pequeno, não saberá voltar para casa.
Enquanto as duas conversavam o dono fazenda, todo encapotado por causa do aguaceiro que
caía do céu, abriu a porta do galinheiro e tirou de dentro da sua capa o pintinho desaparecido.
Colocou-o no chão e ele correu gritando:
- Mamãe, mamãe, eu tive tanto medo da chuva...
Foi um alvoroço na casinhola. Os irmãos piavam de alegria. A mamãe cantava de felicidade
pela volta do filho são e salvo. Abriu as asas para aquecer o fujão que estava todo molhado. O
pintinho prometeu que nunca mais escaparia por aquele buraco por maior que fosse a sua
curiosidade, porque amor e proteção de mãe ele só tinha ali no galinheiro. E a mamãe galinha,
num gesto de carinho, abria com o bico as penas molhadas do pintinho para limpar e ajudar a
secar mais rápido.
- Puxa! Terminou a história, vovó? – perguntou o netinho.
- Claro, meu filho! 
- Amor de mãe serve pra qualquer espécie, não é vovó!
- Sim, meu neto, qualquer espécie, até as cobras amam seus filhotes porque amor de mãe é o
sentimento mais puro, mais sagrado que existe. Tudo pode passar, tudo pode desmoronar,
mas o amor de mãe fica pairando sobre o mundo, sobre as pessoas através de séculos e
milênios, é eterno meu querido neto. 
- Agora me diga vovó, onde fica essa fazenda que tem uma galinha que fala?
- No país da minha imaginação...uai – respondeu a vovó, rindo.

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